Mark Neugebauer
De judeu ortodoxo a judeu
messiânico, logo evangélico e agora
católico por Teresa de Ávila e Stein
Actualizado 31 Janeiro 2013
P. J. Ginés / ReL
Mark Neugebauer educou-se como judeu ortodoxo; em certo momento da sua vida,
convenceu-se de que Jesus era o Messias prometido e fez-se judeu messiânico;
mais à frente deu o passo completo ao cristianismo evangélico do tipo carismático e
em 2009 entrou na Igreja católica, movido pelo exemplo de outros judeus católicos e com
leituras de Edith Stein (Santa Teresa Benedita da Cruz), São João da Cruz e de Santa
Teresa de Ávila.
Neugebauer explica que ele nunca deixou de ser judeu, nem messiânico, nem evangélico:
para ele, o caminho foi de crescer em plenitude, de "adição e multiplicação, não de divisão
e subtracção. A minha conversão ao Senhor é diária". E como católico, disfruta de tudo
o que encontra na Igreja: a tradição, a história, a cultura, o Papa, a pessoa real de Cristo
na missa... E poder partilhar com muita gente as raízes judaicas da fé.
Perseguidos na Rússia e Alemanha
Esta viagem começou muito longe, numa família judia ortodoxa muito magoada pela
recordação das perseguições. "O meu pai é um sobrevivente do Holocausto de
Auschwitz e a família da minha mãe sobreviveu aos pogroms na Rússia. Ambos instalaramse no Canadá e criaram-nos, a minha irmã e eu num ambiente judaico, na língua
yiddish, onde todos os nossos amigos eram judeus. Eu ia à sinagoga aos sábados e
nas festas importantes. Era um lar judeu conservador em Toronto. O cristianismo era uma
religião estrangeira, a fé dos anti-semitas e os que odiavam os judeus, o credo dos
cruzados, os inquisidores, os perseguidores e os nazis. Mas ainda assim a minha mãe
recordava-me que Jesus foi um judeu".
O livro yiddish que falava de Jesus
Um dia, o jovem Mark leu um livro do escritor em yiddish Sholem Asch, intitulado O
Nazareno. Ele não sabia os problemas que havia tido Asch quando publicou este livro em
1939, um libro judeu que falava muito bem de Jesus, e que iniciava uma trilogia, junto com
outro sobre a Virgem e outro sobre os apóstolos. O diário nova-iorquino em yiddish, "The
Forward", com mais de 170.000 exemplares de tiragem nessa época, prescindiu dos serviços
de Asch acusando-o de fomentar o cristianismo.
O certo é que o Jesus de Asch cativou Mark. Depois viu o filme "Jesus de Nazaré",
e reforçou-se a sua atracção por Ele.
E todos os anos escutava no Natal "O Messias", de Händel, e lia o libreto: "pelas
nossas transgressões foi ferido, magoado pelas nossas iniquidades; nas suas feridas
nos temos curado". Ele pensava que era um fragmento do Novo Testamento sobre Jesus...
Até que descobriu que era um texto da Bíblia hebreia, de Isaías (capítulo 53).
Jesus é de verdade o Messias!
Resultou que no seu coro musical havia dois jovens judeus com uma paz especial. "Pergunteilhes o que os ajudava e disseram-me: Jesus". Eram judeus messiânicos, judeus que
acreditavam que Jesus cumpria as profecias bíblicas a Israel, mas ainda que as expusessem,
ele não se convenceu por isso. "O que eu ouvi foi ao Senhor falando ao meu coração
e dizendo: Jesus é o messias, Ele é Senhor". E entrou na congregação judaica
messiânica de Toronto.
Levou para casa um Novo Testamento em hebreu, estudou-o, rezava com ele. Entre
fúria e lágrimas, rezava para que a sua família se converte-se e aceitasse Yeshúa como
Messias, e entretanto "o Senhor confortava-me com o mais doce amor e com a sua
intimidade".
Estudou hebreu e grego e os Padres da Igreja. O seu professor de grego na Universidade
de Toronto era um católico devoto com quem teve boa amizade. Mark especializou-se em
estudos helenísticos do Próximo Oriente: quer dizer, os textos em grego de autores
judaicos, helenísticos... O que incluía o Novo Testamento.
Adquiriu responsabilidades na congregação judio-messiânica, conheceu ali Susan, a sua
esposa, casaram-se e educaram os seus dois filhos como judio-messiânicos.
Rezávamos e trabalhávamos pela salvação dos judeus, e servíamos aos que se uniam
à fé", recorda.
A estranha beleza da liturgia católica
Com 29 anos, num curso de docência, fez umas práticas sobre religião católica numa
escola católica, e ainda que ele não era católico, dirigia algumas orações dos meninos e
ensinava-lhes o Catecismo. "Isto é surpreendente porque então eu era fortemente
anticatólico", ainda que se dava conta de que o atraía de forma estranha a liturgia e a beleza
da Igreja Católica.
Ao fim de alguns anos, Mark e a sua família ingressaram numa igreja evangélica
carismática. Não era tão distinta a sua congregação judio-messiânica, ainda que Mark
dissesse que aprendeu muito sobre oração e como escutar a Deus, dirigindo um grupo
masculino e responsabilizando-se da oração de intercessão pelos demais. Mantinham laços
com o mundo messiânico e organizavam muitos encontros de oração por Israel, rezando
por judeus e árabes.
Cristianismo apaixonado na EWTN
Então sucedeu que alguns amigos de Mark, antigos católicos em ambientes evangélicos,
voltaram à fé católica. Animaram-no a ver a EWTN, o canal de TV da Madre Angélica, e
ficou assombrado: "descobri um cristianismo apaixonado, formoso e cheio de fé. Não
havia visto nada assim. Pese os problemas doutrinais - Maria, os santos, o purgatório – o meu
coração sentia-se atraído de formas inesperadas. Quando escutei que judeus católicos
partilhavam os seus testemunhos, soube que tinha que investigar mais".
Por um lado, os 2.000 anos da relação entre a Igreja e o povo judeu incluíram muitos
capítulos tristes, mas a Mark reconciliava-lhe "Nostra Aetate" e o ensinamento do Vaticano II
sobre o povo de Israel, assim como os passos de fraternidade dados por João Paulo II.
"Senti a necessidade profunda de perdoar à Igreja e arrependi-me também dos meus
próprios juízos. Ser judeu e explorar o catolicismo era algo seguro", considerou.
Um sonho até Espanha
Mark sonhou nesses dias com "homens vestidos de castanho". Uns
recomendaram-lhe conhecer a oração contemplativa e o s seus grandes
carmelitas, espanhóis: Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz.
sobrecarregado por uma presença de Jesus que nunca tinha experimentado
determinado a procurar mais".
amigos
mestres
"Estava
antes e
Em 2007 morreu a sua irmã em circunstâncias trágicas. Ele era ainda evangélico, mas ia
a uma paróquia católica procurando um espaço silencioso de oração. No meio da dor,
procurava graça e contemplação. Notava uma presença especial na igreja. Em 2008 ele e a
sua esposa prepararam-se para um encontro da Quaresma na paróquia, centrado no livro de
Ralph Martin "Cumprimento de todo o desejo". A partir daí começou a sentir o desejo de
comungar: "agora eu experimentava a Presença Real de Cristo na Eucaristia; queria
comungar mas não podia".
Continuaram indo a actividades paroquiais: um "rally" de oração, uma adoração eucarística,
uma oração da Divina Misericórdia... Encontrou mais testemunhos de judeus actuais,
chegados ao catolicismo, como Roy Schoeman. Começou a escrever-lhes, a conhecer as
suas experiências como judeus católicos, e a ler webs como a da Associação de Hebreus
Católicos (www.hebrewcatholic.org).
A Bíblia e o Catecismo, "uma delícia"
Os seus amigos recomendaram-lhe inscrever-se nas aulas paroquiais de "Iniciação cristã
para adultos", só por interesse. Mas na paróquia deram-lhe aulas privadas só para ele
porque na prática era um especialista na Bíblia com 30 anos de experiência pastoral.
Estudava com uns questionários de pergunta resposta, com a Bíblia e o Catecismo como
únicos livros de texto. "Era uma delícia", explica. E o Senhor, afirma, convencia-o dos pontos
doutrinais mais complicados para ele.
Mark começou a rezar perguntando a Deus se devia fazer-se católico, ele, que era judeu. Além
disso, rezava, "não sou digno de receber-te". Leu a biografia de Edith Stein e pediu a Deus
que lhe enviasse alguns hebreus católicos que lhe confirmassem que era correcto
que um judio-messiânico se fizesse católico. E sentiu que Deus lhe respondia: "já te enviei
um, que mais queres?" Referia-se a Edith Stein, e sentiu a intercessão desta santa
carmelita e da sua antecessora, que com os seus escritos causou a conversão de Stein,
Teresa de Ávila.
Plenamente perdoado
Passados 32 anos desde o seu baptismo como judio-messiânico (trinitário e válido desde o
ponto de vista católico), Mark confessou-se "e pela primeira vez desde o meu baptismo sentime plenamente apresentado e livre de culpa". Pouco depois, na Vigília da Páscoa de
2009, com 51 anos, recebia a Confirmação e ingressava plenamente na Igreja.
Contou o seu testemunho em "The Hebrew Catholic", em "The New Evangelist" e em alguns
programas de TV.
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