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tendencias
Manuais escolares
Todos os livros
no TableT
Duas turmas de uma escola alentejana vão
fazer todo o ano letivo sem livros impressos.
Será desta que os tablets substituem os
manuais escolares? por Hugo Séneca
o contrário do que sucede todos os anos e em todas as turmas, as mochilas dos alunos do 7º ano da Escola Básica Fialho de Almeida (EBFA), em Cuba, vão ficar mais leves no
regresso às aulas. Em vez de manuais impressos em papel,
mais de 40 adolescentes da escola alentejana vão passar a transportar
tablets que dão acesso a todos os livros escolares em formato eletrónico. Caso as avaliações intercalares sejam favoráveis, os tablets deverão
acompanhar as duas turmas até ao 9º ano. Para os jovens alunos, a entrega dos tablets não será propriamente uma estreia tecnológica. «Sim,
é a mesma geração que recebeu os Magalhães, mas este projeto é diferente. Tenho a sensação de que a maioria dos professores não usava os
Magalhães», explica Germano Bagão, diretor da EBFA.
As aulas poderiam passar a ser dadas apenas e só com manuais eletrónicos? A legislação é omissa quanto ao assunto. Por tradição, são adotados manuais impressos – mas não há restrição para o uso de recursos
a
didáticos noutros suportes. O que significa, que no
limite, os manuais de papel podem mesmo ser substituídos, na totalidade, por versões eletrónicas. O
que coloca desafios que nem sempre são notórios
com os "livros de papel". «Este é um meio pequeno... e pode haver alunos que não têm acesso à Net
em casa. E por isso foi necessário garantir a participação de um operador de telecomunicações neste
projeto», explica Germano Bagão.
O diretor da EBFA admite que a introdução de
manuais escolares eletrónicos pode alterar a forma
como decorrem as aulas, mas acredita que os professores não terão dificuldade em adaptar-se, uma
vez que têm recebido formação e «estão à vontade com o uso das tecnologias». No que toca aos
alunos, o prognóstico é igualmente otimista: «O
manual eletrónico contém mais recursos que um
livro. Tem ligações para as várias matérias e dispõe de sistemas de pesquisa. E pode ter vantagens
ao nível motivacional», explica Germano Bagão.
Além do operador de telecomunicações, o projeto piloto conta com a participação da Fujitsu,
que cede os tablets; da Porto Editora, que cede os
acessos à plataforma onde estão alojados os manuais escolares; da Promethean, que disponibiliza
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Setembro 2013 exame informática
© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 1431570 - [email protected] - 85.138.121.172 (29-08-13 07:28)
o que diz a lei
Além dos links e das pesquisas, os manuais
eletrónicos podem ter um efeito motivador
para os alunos, recorda Germano Bagão
o software que permite a gestão de atividades escolares; e da Novabit que assegura
a manutenção e a integração dos sistemas.
Também vai ser feito um seguro para cobrir
eventuais avarias ou extravios.
Ao contrário das versões de papel, os
manuais eletrónicos exigem a cooperação
entre múltiplas entidades. O que não significa que as aulas do 7º ano da EBFA vão
representar um corte radical com o passado: «Não vamos deixar de usar caneta
e papel. Os alunos vão continuar a fazer a
fichas de papel», atenta Germano Bagão.
Só para algunS
A legislação atual não aplica qualquer limitação ao uso de
manuais escolares em suporte eletrónico. A Lei n.º 47/2006
contempla o uso de recursos alternativos aos manuais impressos,
«independentemente da forma de que se revistam, do suporte em
que são disponibilizados e dos fins para que foram concebidos,
apresentados de forma inequivocamente autónoma em relação aos
manuais escolares».
Ana Luísa Neves, responsável pelo Departamento de Manuais
Escolares na Direção Geral de Educação (DGE), recorda que, tal
como está, a lei atual apenas incide nos conteúdos que deverão
ser lecionados e não sobre o suporte que é usado. «No caso de se
enveredar pelo suporte eletrónico, subentende-se a existência de
computadores... e é possível que nem todas as famílias portuguesas
tenham um. O manual deve dar autonomia ao aluno, quando está em
casa. Não pode tornar-se um fator de discriminação entre quem tem
e quem não tem computador», frisa a responsável da DGE.
Uma eventual migração generalizada para os manuais eletrónicos
dependerá sempre de um estudo e respetivas conclusões que
permitam sopesar prós e contras. O que não invalida alguns
projetos pioneiros para alunos com necessidades especiais. Em
outubro de 2012, a DGE, a Fundação Vodafone e a Porto Editora
relançaram um projeto de produção de audiolivros para alunos
do 5º ao 12 anos, que sofram de limitações visuais ou dislexia.
O programa, conhecido como Daisy 2012, implica o uso de
tecnologia EasyReader, que "lê" textos para os alunos, sempre que
necessário. No final do ano letivo passado, foram abrangidos pelo
projeto 500 alunos e, pela primeira vez, os Exame Nacionais foram
disponibilizados com tecnologia compatível.
«É uma ferramenta muito importante e os alunos reagiram muito
bem, porque cresceram com as tecnologias. É uma solução que traz
mais-valias para alunos com necessidades especiais, mas acredito
que as soluções que são boas para estes alunos acabam por
também revelar-se úteis para os alunos em geral», conclui Filomena
Pereira, responsável pelos Serviços de Educação Especial da DGE.
Hoje, não há um plano nacional para o uso
dos manuais eletrónicos nas salas de aula –
até porque, no mercado nacional, a oferta é
escassa e resume-se aos materiais complementares disponibilizados pelas plataformas da Porto Editora ou da Texto Editora.
O acesso a estas plataformas não é universal: nalguns casos são estabelecidos
acordos entre editoras e escolas (maioritariamente privadas) para garantir o acesso aos recursos digitais; e noutros casos são os encarregados de educação que, por iniciativa própria,
desembolsam o valor necessário. O Ministério da Educação e Ciência
(MEC) ainda não definiu a estratégia a seguir no que toca a modelos de
acesso e ao financiamento dos manuais eletrónicos – e é improvável
que tome uma decisão antes de se conhecerem os resultados dos primeiros projetos-piloto.
Qualquer decisão que venha a ser tomada terá de ter sempre em conta
o contexto escolar. «Houve escolas que compraram acessos para estas
plataformas de recursos eletrónicos, mas que depois se depararam com
um novo tipo de problema: as redes Wi-Fi não estavam dimensionadas para tantos utilizadores simultâneo», explica António Domingos,
professor do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCTUNL).
Entre 2007 e 2011, António Domingos liderou um estudo da Unidade de
Investigação, Educação e Desenvolvimento (UIED) sobre o uso as tecnologias no ensino da matemática. No estudo participaram mais de 100 professores e 700 alunos do ensino básico e secundário, de 20 escolas do País.
Entre as muitas conclusões, o docente da FCTUNL destaca uma: é necessário formar os professores para que possam tirar partido das novas fer-
ramentas que ajudam «o aluno a explorar e a construir o seu conhecimento».
«Ainda não se pode substituir todos os manuais
impressos por manuais eletrónicos, porque as escolas não estão preparadas. Há situações em que a
versão eletrónica permite que alunos que não têm
manuais acompanhem as aulas. É uma tendência natural, mas essa substituição terá de ser feita
gradualmente», acrescenta António Domingos.
Mas não são só os professores e alunos que terão de aprender a dominar as novas ferramentas.
António Ramos, presidente da Associação Nacional de Professores de Informática (ANPRI), lembra
que também as editoras terão de rever estratégias:
«Há editoras que só vendem versões eletrónicas
em CD a quem compra a versão em papel. Nas aulas de TIC, a versão eletrónica é suficiente e tem a
vantagem de poder ser atualizada. O que é importante, se tivermos em conta que as escolas adotam
os mesmos manuais durante três anos».
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