UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM “Pai rico, filho nobre e neto pobre”, como resolver o problema da sucessão na gestão das empresas familiares? Por: Andréa Fernanda M. T. da Costa Orientador Prof. Aleksandra Sliwowska Rio de Janeiro 2011 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM “Pai rico, filho nobre e neto pobre”, como resolver o problema da sucessão na gestão das empresas familiares? Apresentação Candido de Mendes monografia como à requisito Universidade parcial para obtenção do grau de especialista em Gestão Empresarial. Por: Andréa Fernanda M. T. da Costa 3 AGRADECIMENTOS ....aos amigos, família, professores do curso de pós-graduação, etc...... 4 DEDICATÓRIA .....dedica-se ao pai, mãe, irmãs, amigos, e principalmente ao cônjuge e querido filho,....... “Deixo às próximas gerações o que pude de melhor aprender para que aprendam também com seus erros e acertos. Às gerações passadas, deixo o meu respeito e questionamento ao que poderia ter sido mudado e não foi feito por ignorância. Pois a luz da ignorância é o conhecimento, que busco incansavelmente.” 5 RESUMO Há anos tem se estudado sobre o problema da sucessão na gestão das empresas familiares. A questão crucial é: por que menos de 1/3 das empresas de propriedade da família sobrevivem até a segunda geração? A sobrevivência delas, de fato, está ligada a uma necessária mudança na gestão e sucessão destas empresas. O estudo das relações familiares se fez necessário, assim como o processo da escolha de sucessores e a importância da comunicação nesta relação tão delicada entre fundadores e sucessores, entre a primeira, segunda e terceira geração. Identificar os problemas que ameaçam a sucessão foi essencial, como a falta de integração, de planejamento, de organização, de união e compromisso entre líderes e sucessores. Soluções e ações preventivas foram encontradas para resolver o enfraquecimento e a falta de compartilhamento do conhecimento e da aprendizagem. Problemas que prejudicam o processo sucessório e que levaram muitas empresas ao declínio, como o caso das Casas Pernambucanas, que perderam espaço para a concorrência. Ou para tomar como exemplo, a história de empresas como a Magazine Luiza, uma caso de empresa familiar que não pára de crescer , um caso de expansão e sucesso. Há, sem dúvida, vantagens e desvantagens em ser sucessor. E para que o processo dê certo o principal é que o sucessor esteja disposto e queira, de fato, assumir este papel que não é nada fácil, nem para ele, nem para o fundador que terá de ter a sensibilidade de passar o bastão no momento certo e de forma integrada. O título do trabalho: “Pai rico, filho nobre, neto pobre” é um ditado que deve servir de reflexão para solução de boa parte dos conflitos na sucessão da gestão das empresas familiares e que resume assim toda a problemática, pois a economia de um país precisa da sobrevivência dessas empresas que representam em 90% o mercado nacional. 6 METODOLOGIA Os métodos de pesquisa utilizados para resolver o problema proposto na monografia foram: leitura de livros e Internet.... e a resposta foi encontrada após pesquisa, estudo e análise dos assuntos abordados através de pesquisa bibliográfica e do estudo dos casos abordados pesquisados na Internet. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I A família e a empresa 09 O conceito CAPÍTULO II Os problemas que ameaçam 19 a empresa familiar CAPÍTULO III Estudo de dois casos 29 CONCLUSÃO 42 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44 BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional) 46 ÍNDICE 47 FOLHA DE AVALIAÇÃO 49 8 INTRODUÇÃO Por que menos de 1/3 das empresas de propriedade da família sobrevivem até a segunda geração?Seria necessário uma mudança na gestão e sucessão destas empresas? Como acabar com o estigma de “pai rico, filho nobre e neto pobre”? As empresas familiares precisam vencer as dificuldades que emergem de uma relação delicada entre laços afetivos e profissionais. É preciso entender que a família tem seus valores, crenças e a empresas suas regras. Primeiramente, deve-se entender o significado de família e sua origem assim como da empresa, ou seja, da propriedade. Verificar os problemas que levam à sua sobrevivência no mercado, tão importante para a economia nacional, pois são responsáveis por 90% do desenvolvimento interno. Identificar as soluções e ações preventivas para que todas as partes envolvidas participem e contribuam para o processo de sucessão e gestão evitando boa parte dos conflitos e a morte de muitas empresas. Assim, é necessário enfatizar a prática de integração, planejamento, comprometimento e organização que deve ser contínuo de geração à geração, compartilhando conhecimento e aprendizagem. E na briga entre herdeiros, faltou respeito, admiração e participação junto a primeira geração? Ou foi esta que não soube respeitar, integrar e compartilhar com a segunda? E o que restou à terceira geração: sucesso ou fracasso? Empresas como a Magazine Luisa e as Casa Pernambucanas vivenciaram respectivamente nesta ordem estes casos de sucesso e fracasso. O estudo sobre empresa familiar é recente, mas analisando a família e a empresa em separado, conclui-se que o problema é antigo e deve ser tratado com importância frente a perspectiva da economia de um país nos próximos anos. 9 CAPÍTULO I A Família e a Empresa O CONCEITO ...Deus criou primeiro a família, depois veio a empresa. Pode-se dar inúmeras definições para família. Uma delas, de Luiz Kignel & René Werner (... E Deus criou a empresa familiar, 2007), é a seguinte: “Família é uma entidade que possui uma dinâmica construída ao longo de sua existência, fruto de experiências únicas que não se reproduzem da mesma maneira para seus sucessores. Mas cada geração contribui para sedimentar e solidificar os pilares de sustentação de uma empresa familiar. Uma família se solidifica pelos acertos, mas considera que os erros fazem parte do processo e não podem ser esquecidos” (p.22 e 23). Assim, uma família é constituída por várias gerações, onde cada pessoa contribui com seus valores, crenças, experiências e essa aprendizagem passa de pai para filho. Portanto, um dos segredos da empresa familiar é cada geração aprender com os acertos bem como com os erros. Kignel & Werner cita o livro Gênesis como o início de tudo, em que Adão e Eva se tornam personagens centrais da criação, do surgimento da família à sua volta. Assim Deus criou a família (com suas crenças, valores e sentimentos) e por outro lado a empresa, o material (propriedades da família), os negócios e suas relações entre si. Sobre o livro Gênesis, Kignel e Werner comentam: “O Gênesis relata várias experiências familiares e recorrentemente aponta os erros e acertos de cada uma das gerações. Surge-nos a compreensão de que as respostas de uma família não se transformam obrigatoriamente em paradigmas para as gerações vindouras e, portanto, são, em sua essência, apenas formas de compreender a dinâmica individual de um grupo de 10 seres, interligados por uma origem comum, e que partilham valores tangíveis e intangíveis. Em suma: compartilham seu patrimônio e suas crenças. O livro do Gênesis, assim encarado, não tem nenhuma conotação fundada em credo religioso, trazendo riqueza para o debate e o conhecimento dos aspectos emocionais e materiais das empresas familiares.” (KIGNEL & WERNER, ...E Deus criou a empresa familiar, 2007,p.22). No Gênesis, certamente, há histórias com exemplos de famílias que aprenderam ao longo das gerações errando e acertando, com características, valores mensuráveis e imensuráveis. Estas famílias vivenciaram entre si aspectos emotivos e matérias que fazem o leitor do Gênesis entender a causa de problemas enfrentados hoje, nas empresas familiares. 1.1 – Relações Familiares De acordo com Kignel & Werner (...E Deus criou a empresa familiar,2007), a própria história de cada família e o seu desenvolvimento ao longo das gerações é a base de sustentação das relações familiares. Deve-se contar a história de sua família, suas etapas, os erros e não só as conquistas. Pois quando se fala de empresas familiares, não se trata apenas de relações meramente comerciais (em que o que interessa é apenas o resultado final), está se falando mais do que isso, de valores, de crenças, de conhecimento sólido passado aos filhos, os maiores interessados. Caso contrário, é comum ouvir algumas frases: “Meus filhos não reconhecem o que já foi feito” ou “Eles pensam que a empresa caiu do céu, não sabem como foi duro chegar até aqui!”. Será que os filhos são ingratos ou, talvez quem sabe, lhes faltou informação ou comprometimento com o negócio familiar? Não se recomenda dar aos filhos toda a comodidade que o destino não permitiu que seus pais tivessem na infância, tão pouco recomenda-se a avareza, é necessário compartilhar as lições de fracassos e conquistas ao longo do desenvolvimento de cada história familiar, com todas a etapas 11 gerando o comprometimento entre as gerações. Os herdeiros devem se conscientizar que ao serem agraciados com a fartura, recebem os encargos da responsabilidade do negócio familiar. Porém a convivência harmoniosa do presente não garante o futuro, cada família deve ter um projeto de vida baseado em regras de convívio que respeitem as diferenças naturais de cada pessoa, desde que dentro dos princípios de razoabilidade.Nossos filhos devem conhecer sua história familiar para saber de onde vieram, devem ter a oportunidade de viver a sua própria história e devem ter visão de futuro para que seus sucessores possam dar continuidade ao projeto familiar. 1.1. 1 – Ensinamentos para a vida toda Internet, telefones celulares, computadores de última geração, um mundo diferente daquele vivido pela geração passada. A globalização está levando as novas gerações à novas idéias que certamente levarão ao choque de gerações quando os novos executivos ingressarem na empresas familiares. Porém existem ensinamentos que são para a vida toda, e não se deve esquecer que alguém esteve lá antes cuidando de tudo. Reconhecimento e respeito se fundem, e as divergências e diferenças naturais entre familiares devem ser tratadas corretamente e de forma flexível na condução dos interesses da empresa. Cada etapa deve ser construída sem subestimar ou minimizar a geração anterior. Aprender a planejar através de diálogos entre todos envolvidos da família, ter um projeto que não seja mais só um sonho dos fundadores, mas aceitável por seus descendentes, com abertura para modificações que situações inesperadas possam exigir. Luiz Kignel & René Werner no livro ...E Deus criou a empresa familiar recorrem a um trecho do texto bíblico Os Dez Mandamentos, em que o primeiro mandamento determina amar a Deus, enquanto o quinto determina honrar os pais, ele dizem(2007,p.40): 12 “O amor é um ato incondicional e surge de uma relação de crer no que nos é ensinado; honrar, todavia, é um ato consequente baseado em uma ação clara de vontade. E é isso que deve ser construído na relação de gerações em uma empresa familiar. Cabe ressaltar que o mandamento de honrar os pais deve ser entendido como uma via de duas mãos, pois os filhos também devem ser honrados por seus ascendentes. É o que ocorre nos relacionamentos fundados no respeito mútuo entre gerações. Quando tal respeito parte apenas de um lado para o outro e de forma unilateral, as rachaduras invariavelmente surgirão na família, mais cedo ou mais tarde”. Mais uma vez fica explícito a importância dos valores, dos ensinamentos compartilhados entre pais e filhos. Desta relação, surge o despertar , o amor, pelos negócios do fundador da empresa e a atitude do sucessor de assumir o compromisso de administrar uma empresa e assim torna-se um processo natural e contínuo. E é assim que deve ser, com respeito mútuo. Ensinamentos antigos que toda empresa familiar hoje e sempre deveria seguir, mesmo diante de todas novas teorias de gestão empresarial.” O mundo mudou, primeiro foi a revolução Industrial que no decorrer do século XVIII gerou novas oportunidades e novos negócios e fortunas. Depois no século XX, centenas de famílias saíram do negócio de fundo de quintal para grandes corporações. Quantas famílias não se orgulham de seu avô que virou um grande comerciante ou um homem de agribusiness e commodities? Porém com as mudanças ao longo do século XX e agora no século XXI surge uma tendência natural: a família fica cada vez mais dependente do negócio familiar já existente, por causa da dificuldade de gerar novas riquezas e novos negócios. É difícil se lançar no mercado, achar nichos seguros de novos negócios dentro de orçamentos viáveis. Assim, ingressam na empresa familiar não apenas os que detêm vocação mas os que não têm alternativa para alçar vôo próprio. 13 Os filhos devem ter oportunidades iguais, em direito e formação, os filhos devem estar juntos do empreendedor por vontade própria. E ao aceitar as gerações mais novas na empresa, o patriarca deve estar pronto para novos conceitos e novas formas de ver o próprio negócio. Isto não se trata apenas de um processo sucessório, e sim de um processo de transição. Logo ter conhecimento não significa ter sempre razão em uma discussão, mas aprender a analisar certas situações com uma margem de compreensão maior. Com o conhecimento, vem a sabedoria, o momento em que o empreendedor identifica o tempo de descansar sem se ausentar por definitivo. Logo, o momento mais difícil para o patriarca, afastado do comando, podendo opinar mais construtivamente e sem pressões do cotidiano do trabalho. Um encaixe entre as gerações sempre vai acontecer, o que não significa não perderem todos o pilar da própria existência. 1.1. 2- A escolha de sucessores Ter herdeiros não completa o ciclo da empresa familiar, portanto não devem esquecer-se de que ainda terão muito que viver e contribuir. A escolha do sucessor não deve ser de cima para baixo e sim resultado de um diálogo entre as partes interessadas. Os herdeiros são “sócios por necessidade” e não por vontade própria, pois não escolheram seus parceiros. Sobre esse aspecto, tem-se os sócios que trabalham porque querem e outros que apenas somam dividendos, se a operação for lucrativa. Assim, se o processo de sucessão for imposto, certamente acontecerá a dissolução da sociedade no momento seguinte ao falecimento do patriarca. Afastando-se tal hipótese, na medida em que cada qual tem espaço para sua escolha individual. O grande legado de um empreendedor não é obrigatoriamente uma família grande – embora isso seja muito bonito, desde que todos se dêem bem. Para ser conhecido, é necessário deixar qualidades e não apenas quantidade. A afirmação está registrada no Gênesis: “Este é Noé. Noé era um homem justo e perfeito em suas gerações, e Noé andava com Deus. E Noé 14 gerou três filhos:Sem, Ham e Jafet.” (Gênesis. 6:9-10). Assim, Noé buscava os ensinamentos de Deus, “seu pai”, para compartilhar com seus filhos, fazê-los sucessores de valores que ultrapassem gerações da família. É preciso ser coerente, não dá para ser uma pessoa na empresa e outra completamente diferente na família, se o que se quer é que os filhos, herdeiros sejam iguais a seus pais e empreendedores. Como ter o reconhecimento de todos familiares, se nos negócios são um exemplo: ativos, organizados, eficientes, preocupados, justos e perfeitos, e assumindo um papel contrário na família sendo: omissos, ausentes e despreparados para enfrentar os dilemas da vida familiar (sentimentos), que são muitas vezes mais complexos do que os da empresa (números). O fato é que os pais não têm “poder” sobre os filhos e sim o dever e, o dever para com os filhos começa com o próprio exemplo. E os pais reclamam como é difícil impor disciplina a seus filhos. Mas a disciplina segundo o professor Içami Tiba diz é essencial: “A disciplina entra como qualidade de vida pessoal e social. Quem tem disciplina dentro de si, comparado a quem não tem, é: Mais competente, porque produz mais, gastando menos recurso e tempo. Mais ético, porque explora menos outras pessoas, atribuindolhes seu real valor. Mais cidadão progressivo, porque preserva o planeta evitando destruição e desperdícios. Mais livre, porque tem sua autonomia ideológica e sua própria independência financeira. Mais feliz, porque sabe compartilhar, amar e receber amor num relacionamento digno entre as pessoas.” (TIBA, Içami. Disciplina – Limite na medida certa. São Paulo: Integrare Editora, 2006,p.57) É fato que num relacionamento pessoal ou na empresa, deve-se ter sempre respeito, cultivar bons valores. Mas sem disciplina, perde-se tempo, 15 foco no objetivo e bons resultados. A disciplina é essencial não só nas relações familiares como nas empresariais. Logo, escolher o sucessor não é tarefa fácil. Mas a família deve aprender a conviver com as diferenças de seus membros. E o patriarca deve, sem dúvida ser mestre na arte da mediação de conflitos entre seus membros familiares, tendo equilíbrio entre a razão e emoção, compreensão, boa comunicação, confiabilidade, persuasão em vez de coação e aceitando sempre as diferenças. E o empreendedor atual deve ter visão de futuro, habilidade, auto-sacrifício, agilidade para conviver com riscos, busca contínua do progresso, persistência, otimismo, competitividade e capacidade para gerenciar não apenas o negócio mas também e especialmente os familiares que nele se envolvem. E, para executar todos esses mecanismos, a paciência é a mãe do sucesso. Virtude que suporta dores, incômodos e infortúnios, preservando a convivência familiar. É na administração da empresa familiar, que o fundador deixa claros quais valores ele quer que sejam perpetuados e preservados. Assim, valores formam a base que norteia a atuação da família; exprimem o senso de justiça, respeito, ética e moralidade. Portanto, “missão dada é missão cumprida”, é a realização de que a empresa está para si como provedora de apoio material e emocional. Mais uma vez, o mundo mudou, e o patriarca não tem mais como missão indelegável preparar herdeiros e sucessores como no passado. Eles podem contar coma ajuda de consultorias de desenvolvimento societário e sucessório, que dentro das mais modernas práticas de gestão empresarial familiar integrarão não apenas a família dentro da estrutura da empresa e do seu patrimônio, mas também cada um de seus membros de forma distinta, desenvolvendo uma solução individual em benefício coletivo, identificando valores, mecanismos e missão. O consultor vai conduzir o diálogo entre os familiares, assegurar que todos possam brilhar em conjunto, sem perder a individualidade. O profissional precisa compreender o motivo pelo qual a família pede sua ajuda. 16 A palavra–chave para candidatar-se à vaga de sucessor, sem dúvida, é Competência. E qualificar-se é um processo que une preparo acadêmico e a experiência.Para que a sucessão seja plena é primordial que o sucessor se identifique com o negócio. Os sucessores devem ter diversas responsabilidades do negócio e não olhar de longe as etapas do processo e áreas da empresa. Envolvimento é essencial. O desafio da primeira geração é quando assumir o momento em que deve “passar o bastão”. È difícil, penoso, pois à medida que o tempo passa, o fim está mais próximo. O fim, para o empreendedor, não é somente sua morte física, mas a sua aposentadoria, o encerramento do processo produtivo. Ele deverá saber quando concretizar a sucessão. Preparar os sucessores é um desafio tão grande quanto a construção do patrimônio familiar. Logo, suceder é uma oportunidade de consolidar o negócio e os valores de uma família. Quando a sucessão é feita sem cuidados, por força das regras da legislação vigente, o poder de comando e o projeto familiar unificado se perdem. O sonho transforma-se no pior dos pesadelos, que é para o fundadorempreendedor ver a família desunida, e ver seu negócio afundar nas mãos dos próprios filhos. Em muitos casos, este momento de crise significa a hora de recomeçar. O empreendedor-fundador sente o dissabor do fracasso na transmissão dos valores intangíveis e retoma as rédeas do negócio para reestruturá-lo. O fracasso da segunda geração pode estar associado ao fato de os herdeiros não serem empreendedores ou por não terem tais características, ou tendo crescido nas barras das calças dos pais. Outras vezes, a segunda geração é sacrificada pelas próprias circunstâncias: a primeira geração é formada pelos empreendedores, a segunda é formada por aqueles que devem manter o negócio familiar funcionando e apenas na terceira geração encontrase novamente pessoas voltadas ao crescimento do negócio. A segunda geração não é a menos capaz, Mas, por força das circunstâncias, ela se torna uma ponte entre duas gerações empreendedoras, enquanto ela mesma fica confinada nos limites do próprio negócio. 17 Cada membro da família tem a sua importância no contexto da sucessão: O cônjugue, podendo ser chamado de “sócio silencioso”, o que melhor conhece o empreendedor e que normalmente acompanhou a construção do patrimônio e da empresa, podendo se tornar um importante conselheiro no processo de transição. Os filhos, como já foi falado anteriormente sobre sua importância, é o sonho dos pais querem ver em seus filhos cópias melhoradas do que eles próprios são. Familiares por opção: genros, noras e sogros, primos, sobrinhos, agregados, que podem representar em alguns casos, focos de conflitos e desunião, mas em contrapartida pode também enriquecer a experiência familiar. Netos, um investimento a longo prazo com um retorno mais que esperado.A terceira geração, representando a concretização da continuidade do patrimônio e, em muitos casos, são os sucessores diretos dos empreendedores. E para que um velho ditado não se realize: “Pai rico, filho nobre e neto pobre”, é necessária uma estratégia segura para que não se percam os netos. Afinal, todo negócio estará formatado para recebê-los. Se a geração do meio tiver uma gestão mais reduzida, em compensação será o elo fundamental que conecta as duas pontas, garantindo a continuidade do negócio. 1.1. 3- A importância da Comunicação Não há relação que sobreviva sem que haja diálogo. Se na empresa, se preserva o negócio, em casa se preserva a família. Cada um tem seu espaço, seu conteúdo e sua forma de comunicação. É importante diferenciar “comunicação” de “ informação” . Não se pode supor que uma questão empresarial tenha sido discutida em um evento familiar, muitas vezes com a presença de pessoas que nada têm a ver com o assunto. Assim como, não será na empresa, que se discutirá questões que interessam apenas à família. 18 A linguagem, o discurso deve ser único e é essencial para que metas, desejos e objetivos sejam concretizados. A comunicação é peça fundamental na gestão e sucessão, sua função é viabilizar o processo de integração e comunicação de regras e desejos pessoais. Para que uma família tenha uma convivência longa e duradoura na vida empresarial, deve-se buscar conceitos convergentes de sustentabilidade nessas relações. Sendo assim, surge o conselho de família, que além de possuir um patrimônio comum, compartilha uma missão única, analisando os problemas que cercam tanto a família como a empresa. A criação de um conselho de administração também é bem vindo, pois é o instrumento utilizado para exercer a propriedade, e assim, participar dos processos de gestão. Separando a individualidade e valorizando os aspectos comuns da sociedade na preservação e no crescimento do patrimônio comum da família. Um código de ética também pode ser usado para que as regras sejam seguidas e para que todos os envolvidos se guiem em diferentes situações do relacionamento da família com a empresa, quanto aos interesses do grupo, mantendo boas relações, manter o respeito à hierarquia, e o profissionalismo. Sem dúvida, mecanismos de comunicação são e devem ser criados para manter sempre claro e objetivo os propósitos do empreendedor, para que as suas decisões sejam absorvidas da maneira como o patriarca a transmitiu. Abrindo espaço para que seus próprios conceitos sejam revisados, garantindo a perpetuidade. Assim, comunicação e perpetuidade não se faz com uma única geração, mas com o comprometimento da primeira com a sucessora e assim por diante. A busca da perenidade é um fim em si mesmo que se renova a cada geração. 19 CAPÍTULO II Os problemas que ameaçam a empresa familiar As empresas familiares são o alicerce do desenvolvimento econômico e muitas delas alcançam posições de liderança nos setores que atuam. Assim, se faz necessário, identificar as principais causas dos problemas de sucessão e gestão destas empresas que ameaçam sua continuidade nas gerações futuras. Um dos problemas baseia-se no fato da empresa não ter sabido identificar a tempo os dois papéis que os diversos membros da família devem exercer em suas relações com a empresa e que, ao não identificar o que se tem a oferecer à empresa familiar e o que se pode esperar dela, fica muito difícil fazer com que sejam mantidos a união entre os que formam a empresa e o compromisso de dedicação para conseguir sua função social. União e compromisso são, assim, as principais forças das boas empresas familiares. Desde a década de 80, a maioria das empresas familiares está enfrentando difíceis mudanças. Grande parte está em processo de transição, de uma primeira geração dos seus fundadores para uma segunda geração, constituída pelos filhos geralmente. Enquanto a primeira geração tem excelente visão comercial para identificar as necessidades do mercado e uma notável capacidade empreendedora de arriscar e construir uma organização, os membros da segunda geração, além de possuírem perfis mais profissionalizados do que os pais e que dificilmente se encaixam com o perfil da organização que herdaram, não têm autonomia para realizar as mudanças estratégicas e organizacionais que alterariam essa situação. Igualmente, com a internacionalização e evolução tecnológica que a sociedade ocidental vivenciou nas últimas décadas, as empresas familiares tradicionais e de caráter mais local têm dificuldades ainda maiores que muitas das não-familiares para seguir competindo tanto com empresas multinacionais como com empresas internacionais. 20 Em geral, as empresas familiares apresentam excessiva resistência para enfrentar a necessidade de profissionalizar a gestão, bem como para incorporar dirigentes profissionais alheios à família para desenvolver as habilidades das suas equipes ou para ter uma perspectiva maior, voltada para o mercado externo, que permita a manutenção e a melhora da sua posição competitiva como, e principalmente, sua internacionalização. Não resolvendo os problemas citados, na maioria dos casos faz essas empresas familiares caírem em grandes armadilhas. E então as empresas têm de superar se quiserem garantir a continuidade, lançando mão das suas forças, do estabelecimento de uma cultura sólida, capaz de perdurar no tempo. 2.1- Principais ameaças A sobreposição entre família e empresa implica em exercer os mesmos papéis simultaneamente (familiar, proprietário, funcionário, diretor) e depender economicamente da família. Essa situação faz com que não haja uma clara separação entre o âmbito familiar e o da empresa. A pessoa é ao mesmo tempo pai, gerente, diretor geral, principal acionista/cotista e presidente do conselho de administração. Assim a história familiar, os valores e as regras de comportamento, e a relação interpessoal da família, passam a ser os fatores predominantes na empresa. A transferência de valores da família, como “somos todos irmãos”, “todos temos os mesmos direitos” para o mundo empresarial não corresponde às linhas de autoridade com as que essa empresa deve ser dirigida. Na empresa, cada indivíduo é único, tem sua própria habilidade, vocação, experiência, existe uma hierarquia que deve ser respeitada e por tanto cada um com direitos e deveres diferentes, não podem ser tratados como irmãos de uma mesma família. Assim como na família, um pai não pode se comportar como o empresário, tem que se saber separar os papéis. Uma elevada participação da família na gestão da empresa pode levar ao desenvolvimento de favoritismo, desconfiança, resistência à necessária profissionalização e renovação estratégica. Entre outros, podem surgir 21 diferenças até na hora de dividir dividendos e benefícios. Havendo maior probabilidade de conflitos e tensões, quebra da harmonia e união dessa família. Com a ausência de regras, surgem rivalidades e insatisfações estruturais. Outra ameaça é a dificuldade para enfrentar a internacionalização das sua atividades, a incorporação de novas tecnologias de processo e a adaptação e renovação dos seus produtos. Assim, as empresas familiares passam a atuar apenas em mercados de caráter local ou nacional, com limitadas operações internacionais, e têm maior presença em setores mais tradicionais e de menor capacidade tecnológica. A empresa familiar tem graves dificuldades para encarar e aceitar a necessidade de renovação organizacional de seu pessoal, da sua cultura, e dos seus sistemas. Muitos líderes passam a adotar um estilo de administração muito centralizado e voltado para uma gestão personalista. Gerando dificuldades para enfrentar a profissionalização do seu pessoal, atrasando a sucessão como o desenvolvimento dos instrumentos de direção necessários para facilitar essa mudança, o que promoveria melhoria no planejamento estratégico, planos de marketing, gestão financeira, recursos humanos e planos de qualidade. Muitos empreendedores têm dificuldade para planejar antecipadamente a sucessão da propriedade e da gestão, talvez decorrentes da resistência dos familiares em abrirem mão do poder, ou pela rivalidade entre pais e filhos, irmãos e/ou entre outros familiares, acionistas, assim como pela ansiedade causada por essa situação nos diferentes grupos envolvidos, clientes, fornecedores. A falta de gestão do patrimônio familiar e a ineficácia dos órgãos de governança da empresa, principalmente do conselho administrativo também são uma ameaça no processo sucessório. E quando falta solidariedade na família? Pais que obrigam seus filhos a abandonarem suas reais vocações para assumirem posições que futuramente 22 acabam causando o abandono da empresa ou a recusa dos que nela estão ou que são considerados mais capacitados a nela entrarem. Outra ameaça são os problemas na comunicação, conforme já citado no capítulo anterior, onde a falta do diálogo ou de um canal eficaz que impede o empreendedor de manter uma relação pessoal adequada com sua família e/ou com sua empresa. Considerar-se imune é uma das piores armadilhas que a maioria das empresas familiares enfrentam. É a que leva o dirigente à queda a qualquer momento e sem se dar conta das ameaças já mencionadas, com a consciência de que “sou inatingível”. Ou seja, as pessoas pensam que não cometerão nenhum erro porque possuem os conhecimentos adequados e/ou porque têm atitudes apropriadas. A disputa entre ramos diferentes da família pode ser destrutiva. Essa situação dificulta a existência de um autêntico líder familiar e empresarial depois da segunda geração. Desse líder, se houver, será exigida uma personalidade de destaque para que sua liderança seja reconhecida pelos demais. Daí vem o ditado: ”o pai cria e a faz lucrativa, o filho a aproveita e a explora, e o neto a consome e a vende.” E para que isso não aconteça, é necessário o esforço e o empenho de toda família para que a empresa sobreviva após a segunda ou terceira geração. É importante estar convencido de que na empresa familiar não existe uma “vacina” imunizante que impeça as pessoas de caírem em armadilhas durante um período de tempo prolongado. Os problemas de cada empresa familiar, por estarem relacionados com os do seu meio e os das pessoas da família proprietária, são muitos e variados, mudando na forma e na essência, conforme o tempo passa, de maneira que chegam a se manifestar como se fossem problemas radicalmente novos. “O desafio consiste em ajudar as empresas familiares para que, apoiando-se decididamente nas forças de união e compromisso e evitando cair nas armadilhas que lhes são próprias, se desenvolvem com êxito, passando este sucesso para as gerações seguintes e alcançando posições de liderança em seus mercados.”(Casillas, Vásquez, Días, Gestão da Empresa Familiar 23 2007, p.41). União e compromisso, essas são as qualidades essenciais que uma família deve cultivar e colocar em prática nos negócios para poder enfrentar as ameaças que surgirem ao longo dos tempos. 2.2- Vantagens e desvantagens na sucessão Na profissionalização da empresa familiar, observam-se algumas vantagens e desvantagens em fazer parte da sucessão da gestão das empresas, listadas por Casillas, Vásquez e Díaz no livro Gestão da Empresa Familiar. Segundo eles são vantagens: “um familiar é mais suscetível de ter maior noção da responsabilidade de seu trabalho; se adapta mais facilmente que um não-familiar; um familiar é suscetível de ter maior interesse pela empresa que um não-familiar; quando o parente de um executivo passa a fazer parte da direção e demonstra ser capacitado, o espírito de equipe de direção é estimulado; o parente de um executivo é suscetível de ser mais leal e responsável; membros da família na direção ajudam a assegurar a continuidade e a efetividade da aplicação das políticas coorporativas; por não ter de se esforçar para estar à altura do seu chefe, o executivo júnior, parente de um executivo, pode respeitar o próprio ritmo e desenvolver melhor suas capacidades.” Porém existem desvantagens: “Se um familiar é contratado como executivo e demonstra ser incompetente, não se pode despedi-lo ou transferi-lo com a mesma facilidade que os demais; o nepotismo tende a desanimar os que não fazem parte da família e que buscam trabalho na empresa; o nepotismo costuma criar inveja e ressentimentos entre os funcionários; é impossível para os diretores serem objetivos em relação às qualificações dos seus familiares ou às de outros executivos; nas equipes de dirigentes com influência dos membros de uma família, os interesses familiares tendem a 24 ter maior prioridade que os coorporativos; o nepotismo tende a gerar falta de consideração em relação ao senso comum, à integridade e à objetividade da alta direção.” (2007, p.80). Assim como tudo tem seu lado positivo e negativo, um sucessor encontra facilidades e dificuldades nos negócios por pertencer a mesma família que o fundador. Basta saber identificar e trabalhar de forma positiva ambos os aspectos. 2.3- Soluções e Ações preventivas Para resolver o problema da sucessão e acabar com as ameaças que dificultam este processo nas empresas familiares, existem soluções e ações preventivas. E para que isto aconteça, os filhos devem se questionar antes de aceitarem ou não serem sucessores de seus pais: Poderei atender às expectativas do meu pai ou do meu avô (o fundador da empresa familiar)? Estarei em condições de conseguir minha independência e liberdade para atuar ou estarei sempre trabalhando à sombra dele? Vamos nos dar bem quando tivermos de trabalhar juntos diariamente? Poderei ter uma relação de trabalho com meus irmãos, primos, tios e o restante da família e, outros membros da empresa familiar, ou haverá conflitos? Serei respeitado pelos funcionários alheios à família? E lembre-se é uma escolha livre e, muitas vezes para a vida toda, onde na maioria das vezes o sucessor será culpado pelo fracasso ou vitória da empresa. Para facilitar essa relação entre sucessores e fundadores, deve-se verificar se suas relações com o fundador da empresa restringem-se principalmente a negócios, tentar cultivar vínculos pessoais, procurar conhecêlo melhor: passar mais tempo com ele, mostrar interesse pelos seus assuntos. E ter atitudes preventivas faz o processo de sucessão ser mais ágil. Por outro lado, nunca é tarde para resolver alguns problemas. Assim, seguem algumas ações ou dicas que vão favorecer o relacionamento entre sucessor e fundador: 25 a) o sucessor tem que entender o que significa o afastamento para o fundador. Estimular o patriarca a falar de seus medos e esperanças faz parte do processo de sucessão; b) o sucessor deve ajudar o fundador a elaborar e executar um plano detalhado da sucessão e ser compreensivo. Trabalhar com o fundador lidando abertamente com suas principais inquietações e reconheçer a importância das suas conquistas; c) se o que preocupa o fundador é deixar de ser útil quando se afastar, é imprescindível dizer-lhe que o apoio orientação e experiência à frente da empresa é indispensável; d) o sucessor deve procurar encontrar uma maneira do fundador continuar comprometido com a empresa depois de se afastar, mesmo quando já não controla as responsabilidades operacionais. Nesse caso, ele pode ser o presidente de honra... e) o sucessor deve buscar ter um relacionamento com o fundador que se fundamente na comunicação e no compartilhamento de problemas, construindo uma relação com o patriarca que suporte os conflitos emocionais do processo sucessório, garantindo que a todo momento o objetivo principal desse processo esteja ativo: a continuidade da empresa ao longo do tempo. Ao herdeiro, surgem mais indagações de coro íntimo, que são as seguintes: a) antes de trabalhar na empresa familiar, analisar seu propósito com o fundador; b) se o sucessor se incorporar à empresa, tenha certeza de que é por estar comprometido com ela e não por que é o que esperam do herdeiro ou por que essa é a opção mais fácil; c) obter experiência profissional prévia fora da empresa. Isso ajuda a desenvolver um ponto de vista objetivo sobre seu próprio talento e habilidades; d) quando começar a trabalhar na empresa familiar, planejar um programa de treinamento que abranja todos os aspectos dela; e) demonstrar que está disposto a trabalhar intensamente e evidencie esse seu forte compromisso; 26 f) saber ganhar o respeito dos funcionários, por meio da sua conduta e dedicação, e recusar privilégios especiais; Quanto à transição, o sucessor tem que conversar com o fundador da empresa sobre suas preocupações e ajudá-lo a preparar um plano de sucessão. Transição em que ele não precisará se afastar, nem se aposentar. Pois, este processo, ao contrário, do que as pessoas pensam, não deve ser quando o fundador se afasta da empresa, e sim quando os sucessores em potencial ainda são crianças. É durante esse período que os pais ensinam aos filhos atitudes importantes sobre as pessoas, o trabalho, o dinheiro, a concorrência, a ética no trabalho e o equilíbrio entre a vida e os compromissos. Dessa forma, os pais vão preparando o cenário para uma transição tranqüila, ajudando os filhos a se tornarem indivíduos capazes e futuros líderes, elaborando planos e documentos que permitam à empresa familiar superar fases de turbulência e crise. O recomendável é ter paciência, o momento da sucessão deve ser quando o processo de preparação tenha sido concluído e, com relação à empresa, quando as condições internas e externas perante o mercado sejam mais favoráveis. É necessária a adequação de um planejamento, organização de acordo com a empresa familiar, que não é padrão, não é única, mas sim dinâmica, complexa e diferente. Assim, não só os dirigentes não executivos, como também consultores ou assessores, alheios à família, podem trazer grandes benefícios para a empresa familiar, aconselhando e contribuindo significativamente para a profissionalização e o sucesso da empresa familiar. Quanto à primeira geração resta a tarefa mais difícil que é não se deixar dominar pelos sentimentos, não se deixar planejar com o coração e sim com a cabeça.Deve-se obter um plano objetivo, formulando claramente os objetivos e estabelecer prioridades e linha de ação para alcançá-los, além de elaborar e seguir um cronograma. Se questionando da seguinte forma: Quais serão as necessidades da empresa sob a administração da geração seguinte? Como essas necessidades podem ser satisfeitas? Quando? 27 Deve-se planejar de forma realista e estrategicamente. Mesmo assim, geram dúvidas, que podem ser superadas se todos os membros da família que serão atingidos tiverem a oportunidade de expressar suas opiniões e preocupações sobre os objetivos determinados no plano sucessório. Esse plano não deve ser imutável. Pelo contrário, será enriquecido e modificado conforme for posto em prática. As pessoas mudam de idéia, os acontecimentos tomam rumos imprevistos e o empresário que implementa a sucessão deve estar preparado para se desviar do rumo que traçara previamente. E como agir se o sucessor não estiver preparado? Pela exigência de uma dedicação integral para levar a empresa adiante, por terem pensado tarde demais na sucessão, por problemas entre os cônjugues ou por acidentes, como o falecimento do sucessor, algumas vezes os antecessores acabam atrasando o processo de transição. Porém, “nunca é tarde demais” e “para tudo há remédio” , menos para a morte. Há diferença em se dispor de pouco tempo e atuar equivocadamente. Um dos principais equívocos é presentear o sucessor com a inclusão na equipe da alta diretoria da empresa, simplesmente por causa de seu sobrenome. Todos sabem que essa inclusão deve ser embasada na formação do indivíduo, capacitação... e não associado ao sobrenome. O que acaba causando uma série de problemas causados em razão de o sucessor não apresentar essas qualidades. Assim, a solução mais viável para atingir o objetivo pretendido pela sucessão, ou seja, a continuidade da empresa familiar, é preparar o processo da transição mais rapidamente. Agindo mais depressa, os sucessores devem se esforçar mais para compreenderem logo os negócios da empresa, dedicando-lhe mais tempo, passar por vários cargos diretivos,... Aprendendo antes como ser um profissional de diretoria, ser mais prudente na hora de aceitar as possíveis retificações e ser capaz de assumir logo um compromisso pessoal com toda a organização. Logo, todos os sucessores, enfrentam um desafio, o de gerar mudanças, respeitando a tradição. “Mantenha os valores do passado vivos na 28 organização, mas reconheça que nossas práticas precisarão evoluir para garantir o sucesso no futuro. A força dos valores vem da sua durabilidade. As práticas precisam mudar com os tempos.” (Schuman, Stutz, Ward, A Empresa familiar como paradoxo, 2011, p. 59). Os autores aconselham os sucessores a manterem um diálogo flexível com os fundadores da empresa e vice-versa, pois os valores do passado sempre esbarram nas novas idéias. Ambos têm que se respeitar, um questão de equilibrar as decisões para que a empresa familiar sempre saia ganhando e da concorrência. Porém nada é mais forte do que a união e o compromisso, na empresa familiar, forças que são essenciais e diferenciais para todo tipo de atividade empresarial. Essas duas forças surgem do fato de existir uma família que deseja continuar como tal e prosseguem por meio de vínculo de união cultural, já comentado anteriormente. Assim, as famílias bem organizadas são uma escola de virtudes e cada pessoa é de extraordinária importância para a empresa. É de grande importância reconhecer e cultivar Essas qualidades, é esse compromisso que move o processo de sucessão de geração à geração para que o ditado “ Pai rico, filho nobre e neto pobre” não se transforme em realidade. 29 CAPÍTULO III Estudo de Dois Casos 3.1 -Duas empresas familiares, dois destinos diferentes O varejo brasileiro surgiu na segunda metade do século XIX. Antes disso, as vendas eram feitas por comerciantes individuais que percorriam localidades, negociando produtos diferenciados, de forma rudimentar. Os primeiros estabelecimentos comerciais instalaram-se no país no final do século XIX, comercializando artigos importados para a aristocracia local, como a Casa Masson, estabelecida no Rio de Janeiro em 1871, as Casas Pernambucanas em 1906 (com outro nome de fundação), como exemplos dos pioneiros do varejo no Brasil. Ambos estabelecimentos, e mais a Mesbla No Rio de Janeiro em 1912 e o Mappin Store em 1913 em São Paulo, inovaram o comércio nacional, introduzindo novos métodos de vendas e exposição de mercadorias que muito se parecia com o modelo de lojas americanas e européias. Neste período, o varejo brasileiro não tinha identidade própria, recebia total influência externa. Foi a partir da década de 50, quando o Brasil viveu uma explosão no crescimento urbano,que o varejo nacional apresentou grandes modificações. Os primeiros inovadores foram as lojas Sears que contavam com lojas novas, layout revolucionário, gôndolas de separação de mercadorias dispostas em seções sinalizadas. O setor varejista começou a sofrer intensas modificações, com o auxílio da tecnologia, da modernidade (trazida pela televisão), do conhecimento, de pesquisas e constantes inovações, criando sua própria identidade, suas previsões baseadas nas potencialidades locais, instaurando seu caráter empregatício e também provedor de desenvolvimento. O Varejo é um setor de grande importância para a economia brasileira, Como características destacam-se: o contato direto com o consumidor, captando com maior sensibilidade as necessidades e tendências do mercado; assumiu uma postura de liderança e coordenação nas negociações; 30 investimento em tecnologias, otimizando recursos e ativos com o objetivo de melhorar a eficácia de suas atividades e desempenho. O Varejo vem se consolidando em ritmo acelerado. E a globalização provocou uma série de mudanças no cenário nacional, com a forte participação de grupos empresariais estrangeiros, através de compras e associação de grupos. Os anos 90 trouxeram várias mudanças que impactaram o setor, com a liberação das importações e o aumento da concorrência interna, impondo a necessidade de profundas transformações para a maior parte das empresas. As medidas de restrição à demanda adotada pelo governo logo após o crescimento do consumo, desencadeado pelo Plano Real, e o aumento da inadimplência, afetaram as dificuldades em razão de empresas varejistas que já enfrentavam inadequações operacionais e administrativas expondo o setor em se adaptar rapidamente e inserir-se no novo padrão de competitividade. Algumas empresas passaram a apresentar desequilíbrios financeiros (Mappin), registrando-se a falência e concordatas de grandes empresas, como as Casas Pernambucanas e a Mesbla. Para empresas que já estavam se reestruturando, a estabilidade da moeda representou uma poderosa alavancagem do faturamento, como é o caso da Casas Bahia e Magazine Luiza. A evolução do setor fez com que os empresários do setor construíssem depósitos próprios, conhecidos como CD – Centro de Distribuição, diminuindo o caminho percorrido pelo produto do fornecedor ao consumidor final. Observa-se também uma expansão do varejo sem lojas (programas de venda pela TV, catálogos, Internet etc) e do varejo virtual. Hoje, é possível afirmar, que o desempenho dos diversos segmentos do comércio varejista encontra-se entre os primeiros e mais importantes sinais de aumento ou redução das atividades econômicas de um país. Segundo a Folha.com, as maiores empresas de varejo do Brasil, entre elas, a Magazine Luiza, aumentaram em 12,5% seu faturamento real na comparação de 2009 para 2010. No mesmo período, o varejo teve expansão de 7%, já descontada a inflação. Levando-se em consideração fusões e 31 aquisições no setor. Assim como, a expansão do Magazine Luiza, que comprou em 2010 a rede paraibana de eletrodomésticos Lojas Maia. (Claudia Rolli, São Paulo, 14/12/2010–08h36min, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/845371-aumentaconcentracao-de-redes-do-varejo-no-brasil.shtml) Hoje, a Magazine Luiza está na terceira posição entre as maiores varejistas do seu setor. Sendo o primeiro lugar pertencente ao Pão de Açúcar e em segundo lugar encontra-se a Ricardo Eletro. O aumento de concentração de redes do Varejo fica evidente. O crescimento se dá em função principalmente do uso de tecnologias mais eficientes e dos investimentos em logística. A Internacionalização do setor é uma das tendências que vem se acentuando no Brasil. E não é difícil prever as tendências para o futuro do setor: aumento da concorrência, avanço da tecnologia de informação, definição e reformulação do mix, gerenciamento do marketing, maior automação comercial,diferenciação baseada em qualidade e criatividade nos serviços e atendimento ao consumidor, ênfase em melhor gestão e treinamento de recursos humanos, e o aumento do grau de exigência do consumidor. Devido a importância do Varejo e do seu crescimento no país e de sua importância para a economia brasileira, foram escolhidos dois casos, de duas empresas familiares, uma em crescente expansão e outra em declínio, empresas que tiveram seus destinos definidos por seus familiares, com rumos diferentes. 3.1 1- Estudo de caso das Casas Pernambucanas As Casas Pernambucanas é uma das mais tradicionais redes do varejo brasileiro, fundada em 1908 por Frederico João, Alberto, Arthur Lundgren e irmãos (segunda geração). A empresa nasceu para escoar a produção da Companhia Paulista de Tecidos, comprada pelo patriarca e imigrante sueco Herman Lundgren em Pernambuco alguns anos antes. O sueco, que fazia 32 parte da primeira geração da empresa, era um pioneiro, qualidade de um fundador. Antes de adquirir, em 1904, a fábrica de tecidos que daria origem às Casas Pernambucanas, ainda trabalhou como importador de diversos produtos e foi proprietário de um fábrica de pólvora, a Pernambuco Powder Factory. Herman, foi responsável por introduzir no comércio brasileiro uma série de novidades, uma estratégia de Marketing inovadora: preço fixo em um mercado regido pela barganha, lançamento de marcas próprias e apostou na propaganda, onde os gerentes das lojas recebiam uma manual em que eram instruídos a providenciar reclames em cinemas e circos, além de divulgar o nome da loja em postes, porteiras, cercas, pedras e afins, numa época em que o próprio conceito de Marketing ainda não existia como tal. Por muitos anos, as Pernambucanas foi uma das maiores redes de venda de tecidos do Brasil. Veja, que as estratégias do fundador foram tão bem sucedidas e aumentaram de tal forma a demanda que a rede criou uma marca de tecidos chamada “Olho”. Assim, em 1924, foi inaugurada a Fábrica de Tecidos Rio Tinto, na Paraíba, já pelas mãos da segunda geração, Frederico Lundgren, herdeiro de Herman Theodor, aí era só dar continuidade ao progresso e expansão da empresa. A rede prosperou e chegou a contar, entre os anos 1960 e 70, com cerca de 800 lojas em todo o Brasil. Seus comerciais são inesquecíveis, ficaram conhecidos, pois agradavam a toda a família. Em 1960 ficou famoso o filme de propaganda: “Quem bate? É o frio. Não adianta bater, eu não deixo você entrar”. Entretanto, nessa mesma época, as Pernambucanas sofreram com a disputa entre herdeiros (primos, tios, sobrinhos, pais e filhos), um problema comum em empresas familiares. Talvez, Herman falecido em 1907, não tenha tido tempo suficiente para dar a atenção necessária ao processo de sucessão, ou talvez ele desconhecesse a importância que deveria ter sido dada à transição, preocupado com o progresso presente da empresa. Talvez, seus familiares se sentiram na obrigação de manter os negócios, sem comprometimento e união necessários. O fato, é que apesar de ainda se chamar “Pernambucanas” referindo-se ao estado onde o imigrante sueco se 33 estabeleceu ao chegar ao país e onde ainda moram muitos de seus descendentes, a rede não possui mais lojas em Pernambuco desde a década de 1980. As operações foram separadas geograficamente, com razões sociais distintas, mas apenas o braço de São Paulo, a Arthur Lundgren Tecidos S.A., manteve-se vivo e relevante, prosperou e hoje compete com as outras empresas de varejo do país. Os negócios no Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará não vingaram, desapareceram e ou foram à falência. No ápice do conflito familiar, em 2002 a direção da empresa recorreu a um headhunter para buscar um profissional capaz de reverter o prejuízo histórico registrado no ano anterior de aproximadamente US$ 4 milhões. Assim, Marcelo Silva, veterano de duas décadas da rede de supermercados Bompreço, foi escolhido para comandar a recuperação e levou as Pernambucanas a uma espetacular virada – em 2007, com um lucro líquido de US$ 55,1 milhões. Essa decisão tomada pela direção da empresa aconteceu, pela falta de um sucessor, um líder, e nestes casos, a única saída é buscar alguém no mercado. Porém, nesse mesmo ano, Marcelo Silva foi para a Magazine Luiza, e a superintendência da rede passou para o executivo Dílson Santos. Destaca-se aí, a saída de Marcelo das Casas Pernambucanas, pela falta de existência de laços familiares, pela falta de comprometimento em manter os negócios vivos de geração para geração, pois o objetivo do Marcelo era meramente profissional, ele não fazia parte da família e por isso saiu em busca de ofertas melhores profissionais. E foi na Magazine Luiza, em franca expansão hoje no mercado, que Marcelo encontrou uma melhor oferta profissional, empresa que foi escolhida como estudo de caso de empresa familiar a ser discutido no próximo tópico. Hoje, as Casas Pernambucanas, administradas por Anita Louise Regina Harley, neta de Arthur, e Frederico Axel Lundgren, neto de Alberto (terceira geração), contam com cerca de 260 lojas em alguns Estados brasileiros, e ainda mantem-se viva, no mercado têxtil, de vestuário e eletro, mas não mais com a força e expressão que possuía antes do episódio de desentendimentos entre familiares na empresa que fez com que o grupo perdesse mercado para a concorrência. Até 2009, as Pernambucanas mantinham um site de e- 34 commerce, onde vendia todos os produtos das categorias atendidas pela rede. Em julho de 2009, o e-commerce foi tirado do ar. Não foi dada explicação oficial para essa situação e o mercado estranhou esta atitude, já que o site era bem-sucedido, competindo com forças contra sites como compra fácil e amercinanas.com. Com o fim do e-commerce das Pernambucanas, o responsável pelo site, Jonas Antonio Ferreira, foi contratado pelo Carrefour, que lançaria seu ecommerce em março do ano seguinte, 8 meses depois. Hoje, o site das Casas Pernambucanas serve apenas como catálogo e para divulgação de campanhas de Marketing e promoções. Não há mais venda de nenhum produto online, apenas nas lojas físicas. Não há nenhum registro sob sua atuação presente no mercado, nem perspectivas futuras. Só dados históricos, o que restou. O que demonstra que a terceira geração ainda não tomou as rédeas da gestão da empresa. Está perdida, parece não haver concordância na tomada de decisões internas, pois senão não tirariam do ar um projeto que estava dando certo, abrindo espaço mais uma vez para a concorrência. Conclui-se que a sobrevivência e o sucesso de uma empresa familiar está associado ao sucesso do processo sucessório, ou seja, da eficiência na transferência de poder e capital de uma geração para outra. Assim, a melhor forma de minimizar a maioria dos problemas e dificuldades familiares que ocorreram na empresa citada, seria o planejamento formal da sucessão com a devida antecedência para que todas as partes envolvidas participassem e contribuíssem para a transição. Dessa forma, com união e comprometimento, teria sido possível evitar boa parte dos conflitos e o declínio das Casas Pernambucanas, uma empresa centenária e de tradição. 3.1 2- Estudo de Caso da Magazine Luiza – De Luiza para Luiza A Magazine Luiza é uma das empresas brasileiras mais identificadas como familiar. Para começar, a rede leva o nome da fundadora – Luiza Trajano Donato, que em 1957, com o marido Pelegrino José Donato, adquiriu uma pequena loja de presentes em Franca chamada “A Cristaleira”. 35 Posteriormente, eles decidiram convidar outros parentes para o negócio e, logo depois abriram filiais. Ao final de duas décadas, mudaram o nome para Magazine Luiza e já somavam 30 lojas. Desde o início, a empresa apostava na interatividade e proximidade com o consumidor. Nesse meio tempo, entre os familiares envolvidos no negócio, Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues, ganhou lugar de destaque por seus próprios méritos, reconhecidos, inclusive, internamente por funcionários, diretoria e familiares da empresa. Durante décadas, a rede foi um sucesso no interior paulista. Durante os seus 50 anos, já teve muitas conquistas até se tornar a terceira maior do varejo brasileiro. A empresa cresceu ainda mais a partir de 1992, quando se tornou uma holding, dirigida pela sobrinha dos fundadores, Luiza Helena Trajano. Na década de 90, enquanto o varejo passava por uma crise, e desapareciam do mercado nomes como Mappin e Mesbla, o faturamento do Magazine Luiza aumentou cerca de 415%, Apesar de ter se tornado uma gigante do varejo, com atitudes ousadas e comercialmente agressivas, a aquisição de outras redes é a chave para a multiplicação do número de lojas da Magazine Luiza. Foi pioneira na abertura de lojas virtuais e é conhecida nacionalmente por campanhas promocionais que levam multidões às lojas. O Magazine Luiza preza pelos mesmos valores dos velhos Trajano Donato: a cordialidade e a proximidade com a clientela. O sucesso da sucessão é facilmente notado e explicado: Luiza conseguiu unir inovação e tradição, irradiou compromisso e espírito de equipe em seus funcionários e diretoria, com diálogo, respeito. É, sem dúvida, uma líder que busca além de dar continuidade aos negócios da família, realizar o sonho de seus fundadores. O fundamental na trajetória de explosão da rede foi o tino empresarial e o carisma de Luiza Helena. Ela começou a trabalhar na loja dos tios aos 12 anos de idade, como balconista, durante suas férias escolares. Depois de ingressar oficialmente no grupo, trabalhou em diversos departamentos, da cobrança à gerência, passando por vendas e direção comercial, antes de chegar à superintendência. Sempre a par do negócio como um todo, Luiza Helena (que se tornou literalmente a cara do Magazine Luiza), estrelando diversas peças publicitárias, pôde conceber e executar alguns projetos que 36 ajudaram a rede a se firmar no mercado, como a criação das Lojas Eletrônicas Luiza e a arrasadora abertura simultânea de meia centena de lojas na cidade de São Paulo, sonho da tia Luiza. Como outras empresas, o Magazine Luiza deu um passo em direção a profissionalização. Em 2009, contratou o executivo Marcelo Silva para assumir a cadeira de superintendente e Luiza Helena Trajano passou a ocupar o recém criado cargo de presidente. Marcelo que esteve à frente das Casas Pernambucanas por seis anos, terá a missão de preparar a empresa para sua oferta pública de ações. Muitos analistas acreditam que outra missão dele será preparar o jovem Frederico Trajano, um dos filhos de Luiza e atual diretorexecutivo de Marketing e vendas, para assumir a empresa em um futuro breve. Mas claro, sem afastar a sua mãe das decisões da empresa. O segredo do sucesso da empresa é o profissionalismo, velocidade, qualidade e agilidade, tendo o cliente como centro do negócio e nunca perdendo de vista a responsabilidade social. Hoje, a rede atende mais de 5 milhões de clientes e mantém o carisma e marca do atendimento próximo. Valores deixados pelos fundadores, que a sobrinha Luiza soube valorizar e manter vivos na sua gestão empresarial. Em 1999, foi a vez de revolucionar o e-commerce com a criação do site magazineluiza.com. Entre as redes de varejo, o Magazine Luiza foi a que mais aproveitou o potencial da Internet. A experiência adquirida nas lojas virtuais foi levada para a web e ampliada em um site totalmente seguro, com mais de cinco mil produtos, fácil de navegar e com banco de imagens próprio. O site é o único do varejo on-line que conta com uma vendedora virtual, A Tia Luiza, que facilita a compra através do atendimento on-line e conteúdos prontos. As ações de Marketing também são fortes diferenciais, construiu uma marca sólida e inovadora. Parte do prestígio alcançado pelo Magazine Luiza é fruto de ações mercadológicas diferenciadas, como: a Liquidação Fantástica, o Cliente Ouro; o Dia da Melhor Idade; o Dia da Mulher; doação de parte das vendas de dezembro para o Unicef; política de contratação de pessoas com deficiência física e da terceira idade. 37 Em 2004, comprou a rede Arno, no Rio Grande do Sul, com 51 lojas. Em 2005 outras três redes foram adquiridas no estado de Santa Catarina, levando a empresa a contar com 350 lojas no total. Todas essas conquistas sempre foram realizadas com um profundo respeito às pessoas e aos funcionários da empresa por toda diretoria. Mais uma vez, ressalta-se a continuação de valores, passados de gerações anteriores para futuras por um processo de sucessão que tem dado certo. A empresa investe na profissionalização, comunicação clara e objetiva com planejamento estratégico e direcionado ao crescimento do negócio e de seus funcionários. Para ficar mais próxima de seus funcionários, Luiza manda mensagem aos funcionários através da TV corporativa, a TV Luiza., o que faz parte de um processo de fortalecimento dos valores da empresa. A rede realiza uma série de programas que visam dar qualidade de vida, capacitação técnica e evolução pessoal. Investiu fortemente na estruturação dos veículos de comunicação corporativa, utilizados para garantir o acesso às informações e diretrizes estratégicas e também para o treinamento dos colaboradores. O empenho dos funcionários é reconhecido por meio de bolsas de estudos, ajuda às mães, participação nos lucros e campanhas que rendem viagens internacionais aos melhores vendedores. A empresária, hoje, ousou nas mudanças internas: derrubou paredes e fez um enxugamento hierárquico, com uma política salarial em que todos os funcionários (do faxineiro a gerentes), têm participação nos lucros. A inovadora forma de administrar, outra qualidade no sucessor que ao mesmo tempo sabe respeitar os valores deixados pelo fundador, já ganhou fama internacional, a história da empresa é estudada pelos alunos de Harvard, nos EUA, uma das mais importantes instituições de ensino do mundo. Tudo isso porque a rede consegui atingir de forma eficiente as classes C,D e E com uma imagem de confiança, credibilidade. O foco atual da Magazine Luiza é conquistar maior liderança de mercado junto à rival Casas Bahia. Para isso, vem buscando se expandir por novas regiões, na aquisição de novas lojas pelo Brasil. 38 Mais o grande desafio de Luiza parece ser: fazer a sucessão na organização para a terceira geração. Acredita-se que para ela, a sucessão poderá não ser um dos maiores problemas, pois um de seus filhos já trabalha na empresa. Enquanto as outras duas filhas, são de áreas distintas, uma publicitária e a outra é chefe de cozinha. Luiza parece estar sempre aberta a aprender à todo momento , aberta à novos negócios e oportunidades, e a formar pessoas, equipes. Luiza costuma dizer sempre em todas as entrevistas que no processo de sucessão podem surgir várias Luizas, além de um “Luiz”, (Frederico, 28 anos, seu filho). O que não obriga seus filhos a assumirem a transição com obrigação e sim por vontade própria, valorizando as habilidades de cada um. Seu objetivo é continuar crescendo. Assim como criou seus filhos, procura ter a mesma atitude na empresa, ter responsabilidade, gostar de fazer o que faz, não necessariamente para ser a primeira ou segunda profissionalmente, porém a mais competente possível e empreendedora. O casal Donato (primeira geração e fundadores da empresa), que não teve filhos, está atualmente aposentado, embora continue ajudando a gerenciar o grupo. Isso quer dizer, que não se afastaram dos negócios, continuam acompanhando de perto o progresso de sua empresa e participando também das decisões, aconselhando. Uma das curiosidades, é que toda vez que a rede quer abrir uma unidade, envia antes a tia Luiza, a fundadora, para sondar o mercado local e que teria a palavra final sobre a inauguração ou não da loja. Luiza há treze anos atrás, sacudiu a estrutura gerencial familiar para garantir a sobrevivência de longo prazo da companhia. Ela criou um holding para administrar os bens do grupo e uma comissão diretora para gerenciar as operações diárias da rede de lojas. Também simplificou o processo de tomada de decisões dando a gerentes e representantes de vendas experientes a autoridade para estabelecer preços e fornecer crédito. Isto significa encontrar formas de crescer enquanto ao mesmo tempo continha as despesas. O Magazine Luiza além de continuar se expandindo, abrindo novas lojas e fazendo aquisições, pretende abrir seu capital ainda este ano, levantando 39 recursos para sustentar seus planos de investimentos nos próximos anos. E não duvide disso!!!!!!!!!!!! 3.1 3- Comentários para refletir Existem ensinamentos que não estão escritos nos livros de administração. São relatos de experiências, princípios vividos por profissionais de sucesso, comentários que têm seu valor porque sintetizam a sabedoria prática do mundo dos negócios. É chegado o momento de parar, ler e refletir e se possível colocar em prática. Os comentários foram selecionados porque falam da importância da sucessão para bem-sucedidos executivos: “Nunca se desespere por causa de um dia ruim e nunca tome decisões embalado por um dia bom. Esse é um dos melhores conselhos que recebi. Foi meu pai quem me deu e sempre é muito valioso tanto em momentos de desespero quanto nos de euforia. É comum que o ânimo caia quando os resultados vão mal e também é comum que, com a melhor das intenções, você tenha um impulso irresistível para aproveitar uma grande oportunidade de negócio. Todo dia chega ao fim, para o bem e para o mal. Se está tudo dando errado, calma. Amanhã pode ser diferente. Se tiver tranqüilidade, você dorme e levanta com nova energia para resolver as coisas. Em momentos de euforia, você pode tomar uma decisão apressadamente cuidadosamente. Com e cair no abismo. Em vez disso, pense exceção de casos excepcionais, jamais tome uma decisão sob ansiedade.” (David Feffer – 48 anos- presidente da Suzano Holding, por Cristiane Mano, Exame, 13.02.2006) “ Tenha sempre em vista o seu sucessor. É fundamental que a sucessão dos líderes seja uma preocupação constante. Uma maneira de encaminhar a sucessão é identificar quais profissionais, dentre os principais talentos na empresa, podem se transformar em sócios. É fundamental que eles gostem da empresa,sintam prazer de trabalhar 40 nela e queiram fazê-la crescer. Um processo bem realizado de seleção de talentos garante continuidade à empresa e a manutenção dos seus princípios e da sua cultura.” (Jorge Paulo Lemann-66 anos-acionista da INBEV e das Lojas Americanas, por Cristiane Mano, Exame, 13.02.2006) “Não se tranque no escritório. Aprendi essa regra com meu pai a partir da observação de como ele sempre agiu em casa ou no escritório. Principalmente no nosso negócio, ser humilde é fundamental. Não existe o momento em que você já sabe o bastante para ficar trancado no escritório. Estamos o tempo todo aprendendo. Todos os funcionários da empresa , dos vendedores aos diretores, têm de se colocar na pele do cliente. Por isso mantenho uma rotina de visita às lojas, escuto os vendedores e os clientes. A idéia da campanha “Quer pagar quanto?” veio do discurso que os vendedores já usavam na loja. Ouvi numa dessas andanças e achei excelente para usar. (Michael Klein, 55 anos, presidente das Casas Bahia, por Cristiane Mano, Exame, 13.02.2006) “Nunca falo que não posso, não quero, não vou fazer. Aprendi com minha mãe. Quando era criança, eu adorava dar presentes. Minha mãe nunca dizia que não era possível. Ela simplesmente dizia: ”Quer dar? Então vá lá, trabalhe e compre.” Quando perguntam para minha tia, a fundadora do Magazine Luiza, se ela está interessada em comprar mais uma rede de lojas, sua resposta imediata nunca é não. Mesmo que saiba que o negócio naquele momento não é possível, ela pede para marcar uma almoço e discutir a proposta. Não se paga nada para pensar. Então, para que pensar pequeno?” (Luiza Helena Trajano, 54 anos, presidente da Magazine Luiza, por Cristiane Mano, Exame,13.02.2006) Logo, sempre se está aprendendo o tempo todo, com valores, princípios, crenças ensinados por gerações anteriores. A sabedoria está 41 em propagar estes ensinamentos para gerações futuras seja na empresa ou na família para assegurar sua sobrevivência e crescimento, e estando sempre aberto a aprender, se renovando sempre. 42 CONCLUSAO Menos de 1/3 das empresas familiares, de fato, sobrevive até a segunda geração, isto porque durante o processo sucessório falta planejamento, organização e integração entre líderes e sucessores. A falta de compartilhamento de valores, crenças entre eles enfraquece o relacionamento e a comunicação entre as gerações. A união e o compromisso são forças que não podem deixar de existir num processo sucessório, é a certeza de um provável sucesso na transição. Os problemas que ocorrem na sucessão devem ser resolvidos o quanto antes na gestão de uma empresa familiar para que esta não perca para a concorrência e vá à falência. Já que a economia nacional precisa da sobrevivência destas empresas que representam 90% do mercado interno. Para resolver o problema da sucessão na gestão das empresas familiares, o sucessor e o fundador devem estar interligados e ligados sempre por um mesmo objetivo: trabalhar com o compromisso de manter vivos e prósperos os negócios da família por várias gerações, Cultivando um relacionamento de compreensão, flexibilidade, respeito à tradição, mas também às novas idéias. A sucessão não começa com a saída do fundador da empresa, é necessário acabar com este conceito. Ela começa ainda durante a formação da cultura e valores do sucessor, e nunca acaba. O fundador sempre deve estar presente, mesmo que, como conselheiro, ele nunca se aposenta. Não há um sucessor ideal, mas existem características que podem facilitar e determinar o sucesso de um herdeiro no comando da empresa familiar: ter paixão pelo negócios (a falta de identificação com a empresa é o motivo mais comum de fracasso), ter competência técnica (formação, estudos e conhecimento de todas as áreas da empresa), ter experiência externa (ganha-se mais autoconfiança e respeito perante outros familiares), ter vontade de deixar sua marca para as próximas gerações e ter habilidade política para contornar prováveis conflitos internos. Características jamais encontradas em 43 profissionais encontrados no mercado. Mas se estas características não forem encontradas na família, é melhor entregar a gestão a alguém com sobrenome diferente que condenar um império ao naufrágio. Porém, recomeçando sempre um novo processo de sucessão, pois com amor, união e compromisso sempre compartilhados em família, um dia surgirá na terceira ou quarta geração um sucessor que segure as rédeas do negócio. 44 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA KIGNEL, Luiz & WERNER, René. aE Deus criou a empresa familiar. São Paulo: Editora Integrare, 2007. SCHUMAN, Amy; STACY, Stutz; WARD, John L. A empresa familiar como paradoxo. Porto Alegre: Bookman,2011. CASILLAS, José Carlos; VÁZQUEZ, Adolfo; DÍAZ, Carmen. Gestão da empresa familiar – conceitos, casos e soluções. São Paulo: Thomson, 2007. MELO, Marcelo; MENEZES, Paulo Lucena de. Acontece nas melhores famílias. São Paulo: Editora Saraiva, 2008. ROLLI, Claudia. Aumenta a concentração de redes do varejo no Brasil. http://www1.folha.uol.com.br/mercado/845371-aumenta-concentração-deredes-do-varejo-no-brasil.shtml. São Paulo, 14/12/2010, 08h36min. MELO, Mariana. 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São Paulo: Thomson, 2007. 6 – ROLLI, Claudia. Aumenta a concentração de redes do varejo no Brasil. http://www1.folha.uol.com.br/mercado/845371-aumenta-concentração-deredes-do-varejo-no-brasil.shtml. São Paulo, 14/12/2010, 08h36min. 7_ MANO, Cristiane. A regra de ouro de 20 empresários de sucesso.WWW.visaorecursoshumanos.com.br/artigos/minha_regra_de_ou ro.pdf. Revista Exame, 13/02/2006. 47 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I A família e a empresa - O conceito 09 1.1 – Relações familiares 10 1.2. 1- Ensinamentos para a vida toda 11 1.2. 2-A escolha de sucessores 13 1.2. 3- A importância da comunicação 17 CAPÍTULO II Os problemas que ameaçam a empresa familiar 19 2.1- Principais ameaças 20 2.2- Vantagens e desvantagens na sucessão 23 2.3- Soluções e ações preventivas 24 CAPÍTULO III Estudo de dois casos 29 3.1- Duas empresas familiares, dois destinos diferentes 29 3.1 1- Estudo de Caso das Casas Pernambucanas 31 48 3.1 2- Estudo de caso da Magazine Luiza – De Luiza para Luiza 3.1 3- Comentários para refletir 34 39 CONCLUSÃO 42 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44 BIBLIOGRAFIA CITADA 46 ÍNDICE 47