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Maria Helena Ochi FLEXOR
propriedades, fatalmente, cairiam em suas mãos e chamava a atenção do Rei para
alguma providência42.
Cabrinha ou cabra era a designação dos descendentes de negro e índio43. Servia
para identificar homens e mulheres. E já se falava em mestiços que, em 1794,
designavam a mesma mistura de índio e negro (INVENTÁRIOS, 04/1596/2065/09).
Cabra, portanto, era designação específica, pois cafusos, caribocos ou ariboco ou
caboclos designavam os descendentes da mistura de branco e índio, portanto, sem
relação com os africanos.
Não foi constatada dominância de nenhuma das nações nos diversos ofícios.
O comum era a presença de várias nações, de acordo com a chegada de novos
contingentes.
Em qualquer ocupação, o domínio e habilidade dos escravos se dava em vários
níveis. A classificação mais genérica, dividia-os em ladinos, ou os que já dominavam
a língua e costumes locais, e os boçais, que não tinham essa capacidade. Além disso,
podiam ter apenas princípios de conhecimento, ser aprendiz, ter luz de ofício ou ser
oficial completo ou, ainda, oficial perito, oficial pouco perito, mas jamais mestre.
Os ofícios mecânicos representavam 25% do total de ocupações declaradas mais
as não declaradas. Foram contados, entre os ofícios mecânicos, os carregadores de
cadeira de arruar que concentrava o maior número de escravos (22%), por contar
entre eles aprendizes, que se aperfeiçoavam no ofício, como os artesãos. Eram seguidos
pelos oficiais de polieiros (15%), ganhadores de rua (8%), carapinas (8%), sapateiros
(6%), barbeiros e sangradores (5%), carpinteiros (4%), e mais calafates, tanoeiros,
cabeleireiros, cavoqueiros, padeiros, caldeireiros e alfaiates (todos com 3%) e, ainda,
ferreiros, cerieiros, oleiros (todos estes com 1%)44. Foram apenas esses os ofícios
mecânicos apontados entre os escravos, nos Inventários e Testamentos consultados,
não ocorrendo o que Lima (1999) classifica como ofícios mais valorizados ou ofícios
menos valorizados. Existiam sim, os escravos boçais, meio boçais, meio desasizados,
meio oficial até 4 negras sem profissão, sarnentas e talabardeiras (INVENTÁRIOS,
04/1710/2180/06).
O autor incluiu, como ocupação dos artífices, atividades que eram sub-ocupações
de um outro ofício por ele indicado, como cortumador, que é atividade de corrieiro;
ferrador e malhador de ferro atividades de ferreiro, etc. Apontou outras que não eram
ofícios mecânicos, como entalhador45 ou pintor e colocou, como ofícios considerados
pouco qualificados, as principais ocupações dos escravos na Bahia: alfaiate, barbeiro,
42 VILHENA,
1969: 135-137.
43 Esse uso de identificar os escravos, e mesmo os brancos, pela raça, pode causar enganos históricos como o acontecido
com o escultor Francisco das Chagas, autor do Cristo Morto, da Ordem 3.ª do Carmo, de Salvador, cujo qualificativo
de mestiçagem transformou-se em apelido. Inclusive, mesmo portando esse apelido, alguns historiadores e guias
turísticos insistem em afirmar que Francisco das Chagas era um negro.
44 Subtraíram-se os falecidos (11%) e com profissões ilegíveis (3%).
45 Eventualmente os entalhadores registravam seus documentos na Câmara, especialmente porque alguns deles
conjugavam essa atividade com a de marceneiro, cuja atividade devia, obrigatoriamente, ter licença, registrar carta
de exame, pagar fiança, esmola ao santo protetor, etc. (FLEXOR, 1974: 43).
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