CONTEXTO SINÓTICO DO COMPLEXO CONVECTIVO DE MESOESCALA QUE
PASSOU PELO RIO GRANDE DO SUL EM 11/07/2006
Diego Simões Fernandes 1 , Paulo Roberto Pelufo Foster 2
RESUMO - O estudo de Sistemas Convectivos de Mesoescala é de fundamental importância para a
prevenção de catástrofes como inundações, tornados e granizo. Muitos são os estudos para tentar
prever este fenômeno meteorológico que tem grande atuação no sul do Brasil, geralmente tendo sua
formação na região norte da Argentina, Paraguai e oeste do Rio Grande do Sul. O presente estudo
tem como objetivo relatar o contexto sinótico do Complexo Convectivo de Mesoescala que se
formou no centro sul do Paraguai e deslocou-se em direção o Estado do Rio Grande do Sul no dia
11/06/2006. Foi observado que o CCM se formou devido a um cavado que se formou no centro do
Paraguai no dia 10/06/2006 e que deu sustentação para a formação do sistema. O ciclo de vida do
CCM estudado foi de 13 horas, o que geralmente é observado nos estudos de CCMs.
Abstract - The study of Systems Convectivos Mesoescala is of fundamental importance for the
prevention of catastrophes as floods, tornados and hail. Many are the studies to try to foresee this
meteorological phenomenon that he great performance in the south of Brazil, usually tends his
formation in the north area of Argentina, Paraguay and west of Rio Grande do Sul. The present
study has as objective tells the context sinoptico of the Complexo Convectivo of Mesoescala that
was formed in the south center of Paraguay and he moved in direction the State of Rio Grande do
Sul on the 11/06/2006. It was observed that CCM was formed due to a dug that he was formed in
the center of Paraguay on the 10/06/2006 and that he gave sustentation for the formation of the
system. The cycle of life of studied CCM was of 13 hours, what is usually observed in the studies of
CCMs.
Palavras-chave: Sistemas Convectivos de Mesoescala, análise sinótica, Complexos Convectivos de
Mesoescala
1
Aluno do curso de Bacharelado em Meteorologia – Universidade Federal de Pelotas – Campus Universitário s/nº –
Caixa Postal 354, Pelotas, RS – 96010-900 – 53 3223-2449 – e-mail: [email protected]
2
Professor Doutor do Departamento de Meteorologia – Universidade Federal de Pelotas– Campus Universitário s/nº –
Caixa Postal 354, Pelotas, RS – 96010-900 – 53 3275-7328 – e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
Muitos estudos têm sido feitos, pois ainda se encontra muitas dificuldades em prever no curto
prazo (12 a 48 horas) a formação de sistemas convectivos de mesoescala (SCM), categoria meso α,
segundo a classificação de ORLANSKI (1975). A formação de SCM se dá rapidamente,
dificultando uma previsão mais detalhada da intensidade e da área de abrangência. Diversos autores
(MACHADO et al, 1994; NICOLINI et al, 2002 e VILA, 2004) tem analisado vários SCM com o
objetivo de determinar o seu tamanho médio e o seu horário preferencial de formação e maturação.
Uma classe particular do SCM são os Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM).
VELASCO e FRITSH (1987) mostraram que na América do Sul, existe um local preferido de
formação do CCM, o qual se localiza sobre a área norte da Argentina, Bolívia, Paraguai e Sul do
Brasil.
Certos elementos característicos dos CCM são verificados como o tempo local de formação
tempo de máxima extensão, apresenta de jatos de baixos níveis, convergência de umidade e
variação na temperatura, alem do formato aproximadamente circular. Outra característica observada
é com relação a trajetória dos SCM que se originam a leste da Cordilheira dos Andes, que segundo
alguns autores (GUEDES, 1985; FIGUEIREDO e SCOBAR, 1996 e TORRES, 2003) tem a
tendência de se deslocarem para leste entre 25º e 40º.
O objetivo deste trabalho foi o de identificar um CCM, descrevendo as condições
atmosféricas que favoreceram sua formação e manutenção, fazendo uma análise sinótica e
observando seu ciclo de vida.
MATERIAIS E METODOLOGIA
Neste trabalho foram analisadas as imagens de satélite, no canal infravermelho realçadas do
satélite GOES-12, de 30 em 30 minutos a partir da 07:00 TMG do dia 11/07/2006 ate as 03:00
TMG do dia 12/07/2006 e, dados do modelo ETA das 00 e 12 TMG, para os dias 11 e 12/07/2006,
disponibilizados pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE
www.cptec.inpe.br).
Foram utilizados imagens de radar meteorológico das cidades de Santiago – RS e Canguçu –
RS, disponibilizadas pela Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica (REDEMET –
www.redemet.aer.mil.br). As imagens do radar meteorológico Doppler utilizadas foram a
MAXCAPPI (Max Constant Plan Position Indicator) que fornecem valores máximos de
refletividade observados durante uma varredura volumétrica, com alcance de 400km.
A analise sinótica do CCM foi feito utilizando as imagens de satélite e os campos de pressão
ao nível médio do mar, vento, umidade relativa e temperatura. Através das imagens de radar
podemos observar a atividade convectiva e desenvolvimento vertical do CCM. O método utilizado
para identificação de células convectivas por meio dos produtos fornecidos por radares foi o mesmo
utilizado por Pascual (2004), que é baseado na determinação de freqüências relativas diurnas de
refletividade do radar. A principal característica deste método é que todos os pontos de um pixel
que estão compreendidos entre 45 e 40dBZ são considerados como pontos de convecção. A partir
destes valores de refletividade (acima de Z+45dBZ) já é considerado ponto de forte convecção.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Pela análise das imagens de satélite, podemos observar que o SCM se forma no sul e sudeste
do Paraguai as 06:30 TMG do dia 11/07/2006 (Figura 1a). As 11:00 TMG (Figura 1b) observa-se
um conglomerado de nuvens Cumuloninbus e o SCM se encontra no sul do Paraguai e nordeste da
Argentina. Na imagem de satélite das 13:30 TMG o sistema começa a ter a forma de um Complexo
Convectivo de Mesoescala, e já esta à oeste do Rio Grande do Sul. As 16:00 TMG o CCM já está
mais intenso e cobre a metade centro-oeste do estado e, as 19:00 TMG (Figura 1c) cobre quase todo
o estado, excluindo somente a parte norte do Rio Grande do Sul. O CCM atinge seu maior
desenvolvimento as 23:00 TMG do dia 11/07/2006 (Figura 1d) e segue a trajetória de sudeste até se
fundir com um Sistema Frontal as 03:30 TMG do dia 12/07/2006, que passava ao sul da América
do Sul.
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 1 – Imagens de Satélite. a) início das células do sistema, b) conglomerado de nuvens, c) o
CCM está mais intenso e cobre quase todo o RS, d) estágio de maior desenvolvimento do CCM.
O radar meteorológico de Santiago – RS começa a captar o CCM 09:00 TMG (Figura 2a) do
dia 11/07/2006 com pequenas células isoladas. As 12:30 TMG do dia 11/07/2006 (Figura 2b) foi
observado pela imagem de radar alguns pontos de convecção muito forte acima de 65 dBZ. Quando
o CCM atinge seu maior desenvolvimento, a convecção esta fraca na maior parte do CCM com
apenas alguns focos de convecção forte, como pode ser visto na imagem do radar de Canguçu – RS
(Figura 2c).
(a)
(b)
(c)
Figura 2 – Imagens de Radar. a) o radar começa a capturar o CCM, b) pontos com convecção muito
forte, c) máximo desenvolvimento do CCM.
Analisando os campos de pressão do modelo ETA, podemos observar que no dia 11/07/2006
as 00:00 TMG (Figura 3a), havia um cavado na região centro sul do Paraguai, onde o SCM se
formaria mais tarde. No dia 11/07/2006 as 12:00 TMG encontrava-se um centro de baixa pressão na
Argentina, com pressão ao nível médio do mar de 1012 hPa na região onde o SCM estava atuando.
No dia 11/07/2006 as 12:00 TMG (Figura 3b), foi observado temperaturas de 20ºC à 850 hPa
sobre a região de atuação do SCM, no dia 12/07/2006 as 00:00 TMG as temperaturas no Estado do
Rio Grande do Sul estavam variando de 14 a 20ºC no nível de 850 hPa (Figura 3c) e o SCM estava
na região sul e sudeste do Estado. Na análise do campo de temperatura no nível de 200 hPa (Figura
3d), observou-se que no dia 11/07/2006 as 12:00 TMG as temperaturas estavam variando de -56 a 60ºC na região em que estava passando o CCM.
O campo de umidade relativa em 850 hPa, mostra que no dia 11/07/2006 as 12:00 TMG
(Figura 3e) a umidade estava em torno de 70 e 80% na área onde o CCM se encontrava e essa
umidade se manteve onde o sistema passou. No nível de 200 hPa, a umidade relativa registrou
valores de 40 e 50% na região em que o CCM passou.
Foi observado um jato de baixos níveis no dia 11/07/2006 as 12:00 TMG (Figura 3f), no
campo de vento a 850 hPa, com velocidade variando de 16 a 18 m/s. No dia 12/07/2006 o jato se
intensificou sobre o Rio Grande do Sul, passando de 20 m/s. No nível de 200 hPa (Figura 4),
observou-se ao sul do CCM um jato de alto nível com velocidade de aproximadamente 36 m/s.
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
Figura 3 – Campos do Modelo ETA. a) Pressão ao Nível Médio do Mar, dia 11/07/2006, 00 TMG,
b) Temperatura no nível de 850 hPa do dia 11/07/2006, 12 TMG, c) Temperatura no nível de 850
hPa do dia 12/07/2006, 00 TMG, d) Temperatura no nível de 200 hPa do dia 11/07/2006, 12 TMG,
e) Umidade Relativa no nível de 850 hPa do dia 11/07/2006, 12 TMG, f) Velocidade do Vento e
Magnitude no nível de 850 hPa do dia 11/07/2006, 12 TMG.
Figura 4 - Velocidade do Vento e Magnitude no nível de 200 hPa do dia 12/07/2006, 00 TMG.
CONCLUSÕES
O Ciclo de vida do CCM foi claramente acompanhada pelas imagens de satélite do dia
11/06/2006 e 12/06/2006, e sua forma característica foi observada na imagem do dia 11/06/2006 as
16:00 TMG e seu ápice se deu as 19:00 TMG do mesmo dia.
A formação e evolução do sistema se deram devido a uma baixa pressão em superfície na
argentina associado a um cavado na região onde o CCM se formou, junto com temperaturas e
umidade elevadas em 850 hPa e baixas no nível 200 hPa.
O ciclo de vida do CCM foi de 13 horas, período característico da maioria dos fenômenos
desta escala.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ORLANSKI, I., 1975: A rational subdivision of scales for atmosferic processes. Bulletim American
Meteorological Society, 56, 527-530.
FIGUEIREDo, J.C. e SCOBAr, J., Estudo da trajetória dos sistemas convectivos de mesoescala na
América do Sul. VII Congresso Argentino de Meteorologia e VII Congresso Latino Americano e
Ibérico de Meteorologia, Buenos Aires, Argentina, 1996, 165-166.
GUEDES, R.L., Condições de grande escala associadas a sistemas convectivos de mesoescala na
região central da América do Sul. Dissertação de Mestrado, IAG/USP, 89pp.
MACHADO, L.A.T., GUEDES, R.L., SILVEIRA, J.MB., WALTZ, R.C., E ALVES, M.A.S., Ciclo
de Vida de Sistemas Convectivos. VIII Congresso Brasileiro de Meteorologia, SBMET, Anais,
Vol.2, p.323-326.
NICOLINI, M., SAULO, A.C., TORRES, J.C. E SALIO, P. Enhaced precipitation over
Southeastern South America related to strong low-level jet events during austral warm season.
Meteorologica, Special Issue for South American Monsoon System, 27, 59-69, 2002.
TORRES, J.C., Sistemas Convectivos em Mesoescala Altamente Precipitantes em el Norte y Centro
de Argentina. Tese de doutorado. FCEyN-UBA, 2003.
VELASCO, I, FRITSCH, J.M., 1987. Mesoescala Convective Complexes in the Américas. Journal
Geophysics., Vol 92, p.9591-9613.
VILA, D. A., Sistemas Concevtivos Precipitantes de Mesoescala sobre Sudamerica: Ciclos de vida
e circulación em gran escala asociada. Tese de doutorado. FCEyN-UBA, 2004.
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Diego Simões Fernandes, Paulo Roberto Pelufo Foster