i Universidade Camilo Castelo Branco Instituto de Engenharia Biomédica, Campus São José dos Campos VALTER LUIS PEREIRA JUNIOR VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA NA DOENÇA ATEROSCLERÓTICA EXTRACRANIANA São José dos Campos, SP 2012 ii Valter Luis Pereira Junior VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA NA DOENÇA ATEROSCLERÓTICA EXTRACRANIANA Orientador: Prof. Dr. Ovidiu Constantin Baltatu Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Bioengenharia da Universidade Camilo Castelo Branco, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Bioengenharia. São José dos Campos, SP 2012 iii iv v Dedico este trabalho, com muito amor: Aos meus pais Valter Luís Pereira e Maria de Lourdes Giacomini Pereira que não tiveram oportunidade para prosseguir os estudos, mas que nunca mediram esforços na minha educação e formação. À minha companheira Luciana por entender minhas ausências e me apoiar em todos os momentos. Às minhas irmãs Flávia e Cláudia pelo apoio de sempre. DEDICATÓRIA ESPECIAL À minha filha Luna, meu amor maior, que me ensinou que a vida vale a pena, e apesar da pouca idade, sempre me incentivou, mesmo que por vezes privada de minha companhia ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Aos meus avós Felício, Carmélia, Carlos e Antônia (in memoriam), meus eternos amores, exemplos de vida. vi AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por me apoiar nos momentos aflitivos e por iluminar esse meu longo caminho com a luz da persistência. Ao meu orientador, Prof. Dr. Ovidiu Constantin Baltatu, por tudo, minha eterna gratidão. À Prof. Dra. Luciana A. Campos Baltatu, pela atenção, apoio e valiosas sugestões. Às minhas amigas e colaboradoras Ana Paula do Prado Cardoso e Selma Costa de Andrade, por me apoiarem em todos os momentos, especialmente nos árduos, ao longo destes anos. A toda a equipe do Instituto Avançado do Coração da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis (IACOR), pelo empenho e dedicação ao paciente, que Deus esteja sempre com vocês. À Universidade Camilo Castelo Branco por tornar possível a realização deste trabalho. Ao Centro de Engenharia Biomédica e Pós-graduação da UNICASTELO, sem os quais esta pesquisa não se realizaria. Ao Prof. Dr. Moacir Fernandes de Godoy da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), pela contribuição no desenvolvimento deste trabalho. Ao meu amigo e professor de inglês, Jaire Aparecido Alves Martins, pelo grande apoio e incentivo ao meu crescimento profissional e pessoal. Aos meus colegas da pós-graduação por ter aprendido tanto com vocês; saudades. E, por fim, agradeço ao paciente, pilar maior da medicina, justificativa para o meu aprender e saber. vii “Na verdade só sabemos quão pouco sabemos – com o saber cresce a dúvida” Goethe (1826) viii Variabilidade da frequência cardíaca na doença aterosclerótica extracraniana RESUMO A doença aterosclerótica extracraniana que atinge a artéria carótida e artéria subclávia é caracterizada por espessamento da camada médio-intimal e presença de placa na parede vascular. A artéria carótida (bulbo) e emergência da artéria subclávia direita são sítios de barorreceptores e locais preferenciais para formação de lesão aterosclerótica. Nossa hipótese foi que as lesões ateroscleróticas carotídeas e subclávias estão associadas com alteração do sistema nervoso autônomo (SNA), tendo em vista que o SNA pode ser avaliado por meio da variabilidade da frequência cardíaca (VFC). Assim, propomos investigar a associação entre doença aterosclerótica das artérias carótidas ou subclávia direita detectada por meio da ultrassonografia e variabilidade da frequência cardíaca detectada pela eletrocardiografia. Trata-se de estudo transversal envolvendo 30 sujeitos assintomáticos com idade ≥ 18 anos. A VFC foi avaliada no domínio da frequência por meio da transformada rápida de Fourier (FFT): banda de baixa frequência (LF [ms2]: 0,04-0,15 Hz, sensibilidade barorreflexa), banda de alta frequência (HF [ms2]: 0,15-0,40 Hz, tônus vagal), espectro total (TP [ms2]: 0,00-0,40 Hz, flutuações do tônus autonômico), índice LF/HF (nível do tônus autonômico). A identificação de espessura médio-intimal carotídea aumentada (EMI ≥ 0,8mm) associou-se a significativa redução do índice LF, refletindo a sensibilidade barorreflexa (LF [ms2] 53% menor, de 236 para 111, p = 0,01). Além disso, EMI aumentada na artéria subclávia direita foi associada à acentuada redução da sensibilidade barorreflexa. Correlação negativa significativa foi identificada entre EMI da artéria carótida e índices de VFC que refletem a sensibilidade barorreflexa e as flutuações do tônus autonômico: LF (ms2), coeficiente de correlação de Spearman (ρ) = -0,52, p = 0,003; TP (ms2), ρ = -0,53, p = 0,002. Correlação negativa significativa foi encontrada entre EMI da artéria subclávia direita e os mesmos índices: LF (ms2), ρ = -0,60, p = 0,0004; TP (ms2), ρ = -0,58, p = 0,0008. A curva ROC para LF (ms2), para a presença de placa aterosclerótica na artéria carótida, valor de corte foi 148 ms2, apresentou sensibilidade, especificidade e área sob a curva respectivamente, 0,75, 0,78 e 0,78. Nossos resultados sugerem que a doença ix aterosclerótica extracraniana carotídea e subclávia direita estão associadas com alteração da modulação autonômica cardíaca e diminuição da sensibilidade barorreflexa. O índice LF (ms2) pode ser um biomarcador funcional de risco para eventos cerebrovasculares agudos e um indicador adicional para avaliação ecográfica das artérias carótidas e subclávia direita. Palavras-chave: variabilidade da frequência cardíaca, aterosclerose, artéria carótida, artéria subclávia. x Heart rate variability in the extracranial atherosclerotic disease ABSTRACT Atherosclerotic disease of extracranial carotid arteries and the subclavian artery is characterized by presence of plaque in the vessel wall and intima-media thickening (IMT). The atherosclerotic plaque is situated at the bifurcation of carotid artery and the emergence of the right subclavian artery where baroreceptors are located, which are involved in the autonomic regulation of heart rate. We have therefore hypothesized that the carotid and subclavian atherosclerotic lesions might be associated with alteration of the autonomic nervous system (ANS) considering that the ANS can be assessed by heart rate variability (HRV). We investigated the association between atherosclerotic disease of the carotid arteries or the right subclavian detected by ultrasonography and heart rate variability detected by electrocardiography. It was a cross-sectional study involving 30 asymptomatic subjects aged ≥ 18 years. HRV was evaluated in the frequency domain by fast Fourier transform (FFT): low frequency band (LF [ms2]: 0.04 to 0.15 Hz, baroreflex sensitivity), the high frequency band (HF [ms2]: 0.15 to 0.40 Hz, vagal tone), total spectrum (TP [ms2]: 0.00 to 0.40 Hz, fluctuations in autonomic tone), index LF/HF (level of autonomic tone). The identification of carotid disease (IMT increased more than 0.8 mm) was associated with significant reduction of the LF, reflecting baroreflex sensitivity (LF [ms2] lower 53%, from 236 to 111, p = 0.01). Moreover, an IMT increase at right subclavian artery was associated with significant reduction of baroreflex sensitivity. A significant negative correlation was identified between the carotid artery IMT and HRV indices that reflect baroreflex sensitivity and autonomic tone fluctuations: LF (ms2), Spearman correlation coefficient (ρ) = -0.52, p = 0.003; TP (ms2), ρ = -0.53, p = 0.002. A significant negative correlation was found between the right subclavian artery IMT and the same indexes: LF (ms2), ρ = -0.60, p = 0.0004; TP (ms2), ρ = -0.58, p = 0.0008. The ROC curve for LF (ms2) reported to the presence of atherosclerotic plaque in the carotid artery, the cutoff was 148 ms2 and had a sensitivity, specificity, and area under the curve of 0.75, 0.78 and 0.78, respectively. Our results suggest that atherosclerotic extracranial carotid and right subclavian artery diseases are associated with impaired cardiac autonomic modulation and decreased baroreflex sensitivity. The index LF (ms2) could be a xi functional biomarker of risk for acute cerebrovascular events, and an additional indicator for ultrasound evaluation of the carotid arteries and the right subclavian artery. Keywords: heart rate variability, atherosclerosis, carotid artery, subclavian artery. xii LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Bifurcação da artéria carótida: local preferencial para formação de placa aterosclerótica extracraniana. Na presença de placa aterosclerótica causando estenose significativa (redução do diâmetro da artéria ≥ 60%) pode ocorrer diminuição do fluxo de sangue para o cérebro.................................................................................................... 28 Figura 2: Progressão da aterosclerose. A: artéria normal, sem espessamento de parede ou placa aterosclerótica. B: espessamento da camada médiointimal da artéria, denominado placa a partir de 1,5 mm. C: placa complicada por ruptura ou ulceração; a agregação plaquetária faz parte do processo de formação do coágulo ou trombo. D: formação de trombo no local da ruptura causando oclusão da artéria..................................... 29 Figura 3: Localização e inervação dos barorreceptores........................................ 38 Figura 4: Barorreceptores localizados na adventícia do bulbo, local de lesão aterosclerótica severamente estenótica, e os circuitos barorreflexos. A espessura da lesão ateromatosa carotídea impediria a transmissão da pressão intraluminal, comprometendo a distensibilidade ou estiramento, e, por conseguinte, a sensibilidade barorreflexa. ICA: artéria carótida interna; CCA: artéria carótida comum..................................................... 40 Figura 5: Posição do paciente segundo recomendações da American Society of Echocardiography.................................................................................... 47 Figura 6: Diagrama dos três métodos de mensuração comumente empregados para o cálculo da estenose carotídea no bulbo. No estudo em questão optou-se pelo método ECST................................................................... 50 Figura 7: Ondas e intervalos de um ECG normal.................................................. 51 xiii Figura 8: Intervalos RR sucessivos em um registro de ECG (RR1, RR2...RR5). Os índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) são obtidos pela análise dos intervalos entre as ondas R. O intervalo de tempo entre duas ondas R sucessivas ou período (T) equivale a um ciclo cardíaco................................................................................................... 53 Figura 9: Gráfico da correlação entre o índice HFnu do Polar e do ECG (HFnu, r = 0,98, p<0,0001). HFnu: potência na banda de alta frequência (HF) em unidades normalizadas............................................................................ 55 Figura 10: Análise da VFC no domínio da frequência. Após representação gráfica dos intervalos RR em relação ao tempo (tacograma), o sinal eletrocardiográfico é decomposto em seus diferentes componentes de frequência por meio do algoritmo matemático FFT (transformação rápida de Fourier)............................................................................................... 57 Figura 11: Três ritmos distintos: alta frequência (seta verde: 15 ciclos/min ou 0,25 Hz), baixa frequência (seta azul: 6 ciclos/min ou 0,1 Hz) e muito baixa frequência (seta vermelha: 1 ciclo/min ou 0,016 Hz)........................................................................................................... 59 Figura 12: Sinal complexo resultante da combinação dos 3 fenômenos ondulatórios representados na figura 11 (equivalente ao tacograma de RR).......................................................................................................... 59 Figura 13: Resultado da análise espectral realizada no sinal representado na figura 12, com identificação das 3 faixas de frequência: 0,016 Hz (seta vermelha), 0,1 Hz (seta azul) e 0,25 Hz (seta verde)...................................................................................................... 60 xiv Figura 14: Análise espectral da VFC em indivíduo saudável, em repouso e durante “Tilt Teste” (inclinação de 90°). O gráfico “pizza” mostra a distribuição relativa dos componentes LF e HF em unidades normalizadas de potência. No exemplo, a potência absoluta do componente LF estava discretamente aumentada durante o “Tilt Teste”, enquanto em unidades normalizadas o LF apresentou-se substancialmente aumentado............................................................................................... 64 Figura 15: Características clínicas da amostra. LDL > 160 mg/dL é considerado alto independente do número de fatores de risco ou da estimativa de risco para eventos em 10 anos pelos critérios de Framingham............................................................................................ 67 Figura 16: Prevalência da EMI carotídea média ≥ 0.8mm: 53,5%........................... 68 Figura 17: Distribuição dos pacientes de acordo com a gravidade da aterosclerose carotídea (escore total). Escore 0: sem estenose; escore 1: estenose < 50%; escore 2: estenose entre 50 e 70%; escore 3: estenose > 70%. O escore total (eixo x) é a soma dos escores das carótidas direita e esquerda.................................................................................................. 69 Figura 18: Gráfico demonstrando a prevalência de indivíduos com espessura médiointimal da artéria subclávia direita (EMI ASD) ≥ 0,8 mm (81%)....................................................................................................... 69 Figura 19: Ecografia modo B em corte longitudinal. Avaliação da espessura médiointimal (EMI) pelo Software Q-LAB PHILIPS ao nível da carótida comum distal (seta), distância média entre as linhas tracejadas em azul, em um paciente com EMI normal (0,45 mm); CCE: carótida comum esquerda.................................................................................................. 70 xv Figura 20: Ecografia modo B de carótida em corte longitudinal. Avaliação da espessura médio-intimal (EMI) pelo Software Q-LAB PHILIPS ao nível da carótida comum distal (seta), distância média entre as linhas tracejadas em azul, em um paciente com EMI aumentada (0,9 mm)......................................................................................................... 71 Figura 21: Ecografia modo B de carótida em corte longitudinal. Avaliação da espessura médio-intimal (EMI) pelo Software Q-LAB PHILIPS ao nível da carótida comum distal (seta), distância média entre as linhas tracejadas em azul, em um paciente com EMI aumentada (1,2 mm); CCD: carótida comum direita......................................................................................... 71 Figura 22: Ecografia modo B de carótida em corte longitudinal. EMI > 1,5 mm, caracterizando placa no bulbo carotídeo (seta), ecoluscente, tipo 1 de Gray-Weale, levando à estenose em torno de 70%; ACCD: artéria carótida comum direita; ACID: artéria carótida interna direita; ACED: artéria carótida externa direita................................................................. 72 Figura 23: Ecografia Modo B e Color Doppler evidenciando placa aterosclerótica ecogênica tipo 4, localizada na porção proximal da carótida interna (seta), apresentando aceleração do fluxo no local da placa (mosaico de cores). Estenose hemodinamicamente significativa (≥60%)..................................................................................................... 72 Figura 24: Ecografia Modo B e Color Power Angio (CPA) evidenciando placa aterosclerótica ecoluscente tipo 1, localizada na porção proximal da carótida interna ou bulbo (seta). Estenose significativa, em torno de 70%......................................................................................................... 73 Figura 25: Ecografia duplex de carótida, modo B e Color Power Angio (CPA), evidenciando ausência de placa aterosclerótica na porção proximal da carótida interna (seta).............................................................................. 73 xvi Figura 26: Ecografia duplex de carótida, modo B e Color Power Angio (CPA), evidenciando placa ecoluscente tipo 2 de Gray-Weale, causando estenose de aproximadamente 60% pelos critérios ECST (seta), localizada na porção proximal da carótida interna.................................. 74 Figura 27: Ecografia duplex de carótida, modo B e Color Power Angio (CPA), evidenciando estenose grave, acima de 80% (seta), localizada na porção proximal da carótida interna, causada por placa ecogênica calcificada tipo 4/5 de Gray-Weale.................................................................................. 74 Figura 28: Ecografia tríplex de carótida (modo B + color Doppler + Doppler pulsado), demonstrando velocidades aumentadas ao Doppler pulsado (seta) no local da placa aterosclerótica, localizada no bulbo (estenose > 80%, mesmo paciente da figura 27)..................................................................75 Figura 29: Ecografia duplex (modo B + color Doppler) ao nível da emergência da artéria subclávia direita (seta), evidenciando espessamento da camada médio-intimal subclávia (espessura médio-intimal [EMI] = distância entre as linhas tracejadas em amarelo = 1,4 mm no exemplo).................................................................................................. 75 Figura 30: Índices no domínio da frequência, 1000 batimentos consecutivos em repouso, resultados foram mediana e intervalo interquartil: TP (ms2), 683 [312-937] **p < 0,0001; VLF (ms2), 434 [165-599] **p < 0,0001; LF (ms2), 148 [67-267] **p < 0,0001; HF (ms2), 83 [52-127] **p < 0,0001. O valor de p refere-se ao teste de normalidade (D'Agostino & Pearson omnibus normality test) e menor que 0,05 significa que não passou o teste. TP = potência total........................................................................................... 77 xvii Figura 31: Representação gráfica dos intervalos RR em relação ao tempo (tacograma) de um sujeito normal, sem espessamento médio-intimal carotídeo ou subclávio, com ausência de placa de ateroma. A decomposição em seus diferentes componentes de frequência (FFT) evidenciou: potência na banda LF = 1457 ms2; potência na banda HF = 2024 ms2 e potência total (TP) = 6815 ms2............................................. 78 Figura 32: Representação gráfica dos intervalos RR em relação ao tempo (tacograma) de um sujeito apresentando aterosclerose grave, com estenose carotídea bilateral, maior à direita (80%). A decomposição em seus diferentes componentes de frequência (FFT) evidenciou índices acentuadamente reduzidos: potência na banda LF = 7 ms2; potência na banda HF = 9 ms2 e potência total (TP) = 220 ms2. RR (s): intervalos RR em segundos. FFT: fast Fourier transform.............................................. 78 Figura 33: Correlação de Spearman (ρ) negativa significativa entre espessura médio-intimal (EMI) da artéria carótida ou subclávia e a potência na banda LF (ms2) (sensibilidade barorreflexa). ** p < 0.01: altamente significante............................................................................................... 84 Figura 34: Correlação de Spearman (ρ) entre espessura médio-intimal e tônus autonômico (índice LF/HF) ou tônus vagal (índice HF). Não houve correlação significativa (NS: não significante)......................................... 85 Figura 35: Teste U de Mann-Whitney, * p < 0,05. Gráfico box-and-whisker evidenciando redução do índice LF (ms2) quando da presença de espessura médio-intimal (EMI) carotídea média aumentada (≥0,8mm); LF (ms2), 236 [133-895] vs. 111 [52-162], 53% menor, * p = 0,01. Resultados foram valores de mediana e intervalo interquartil. EMICarNL: espessura médio-intimal carotídea média normal (<0,8mm). EMICar≥0,8: EMI carotídea média ≥ 0,8 mm....................................................................... 86 xviii Figura 36: Teste U de Mann-Whitney, ** p < 0,01. Gráfico box-and-whisker evidenciando redução do índice LF (ms2) quando da presença de placa na artéria carótida (EstCar +); LF (ms2), 282 [133-895] vs. 111 [52-162], 60% menor, ** p = 0,009. EstCar (-): ausência de estenose. Resultados foram valores de mediana e intervalo interquartil.................................... 87 Figura 37: Teste U de Mann-Whitney, * p < 0,05. Gráfico box-and-whisker evidenciando redução significativa do índice LF (ms2) quando da presença de espessura médio-intimal (EMI) subclávia aumentada (≥0,8mm); LF (ms2), 332 [155-1274] vs. 160 [53-192], 52% menor, * p = 0,04. Resultados foram valores de mediana e intervalo interquartil. EMI ASD: espessura médio-intimal da artéria subclávia direita..................... 88 Figura 38: Teste U de Mann-Whitney, ** p < 0,01. Gráfico box-and-whisker evidenciando redução significativa do índice LF (ms2) quando da presença de placa na artéria subclávia direita (ASD); LF (ms2), 311 [1481015] vs. 108 [45-183], 65% menor, ** p = 0,004. Resultados foram mediana e intervalo interquartil.............................................................. 88 Figura 39: Curva ROC para LF (ms2), valor de corte 148 ms2, repouso, 1000 batimentos. Valores abaixo de 148 ms2, tem sensibilidade, especificidade e área sob a curva, 0,75, 0,78 e 0,78 respectivamente (área sob a curva [ASC], ** p = 0,009), para a presença de placa na artéria carótida.................................................................................................... 89 Figura 40: Curva ROC para LF (ms2), valor de corte 143 ms2, repouso, 1000 batimentos. Valores abaixo de 143 ms2, tem sensibilidade, especificidade e área sob a curva, respectivamente, 0,71, 0,85 e 0,80 para a presença de placa aterosclerótica na artéria subclávia direita (área sob a curva [ASC], ** p = 0,004)................................................................................. 90 xix LISTA DE TABELAS Tabela 1: Parâmetros utilizados na avaliação das artérias carótidas e artéria subclávia direita......................................................................................... 49 Tabela 2: Comparação dos dados obtidos do ECG e Polar S810i usados simultaneamente em 15 sujeitos em repouso............................................55 Tabela 3: Parâmetros da VFC no domínio da frequência com respectivos sistemas associados e modulação autonômica....................................................... 61 Tabela 4: Parâmetros da variabilidade da freqüência cardíaca no domínio da frequência com respectivas unidades, descrições e bandas de frequência em análise de registros em 5 minutos (min) conforme Task Force of the European Society of Cardiology and the North American Society of Pacing and Electrophysiology (1996).................................................................... 63 Tabela 5: Características demográficas e clínicas da amostra (n = 30)................... 66 Tabela 6: Características clínicas da amostra (n = 30)............................................. 67 Tabela 7: Estatística descritiva dos índices no domínio da frequência: 1000 batimentos consecutivos em repouso (n = 30). O valor de P refere-se ao teste de normalidade................................................................................. 76 xx Tabela 8: Correlação não paramétrica de Spearman (ρ): espessura médio-intimal (EMI) da carótida comum esquerda versus VFC no domínio da frequência (1000 batimentos consecutivos em repouso)............................................ 80 Tabela 9: Correlação não paramétrica de Spearman (ρ): espessura médio-intimal (EMI) da artéria subclávia direita versus VFC no domínio da frequência (1000 batimentos consecutivos em repouso)............................................ 83 xxi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AC aterosclerose carotídea CEP Comitê de Ética em Pesquisa cm centímetros DCV doenças cardiovasculares DP desvio padrão ECST European Carotid Surgery Trial EP erro padrão ETE ecocardiograma transesofágico EMI espessura da camada médio-intimal et al. e outros FA fibrilação atrial FC frequência cardíaca FE fração de ejeção FFT fast Fourier-transform Hz Hertz HF high frequency IM infarto do miocárdio IACOR Instituto Avançado do Coração IC intervalo de confiança IMC índice de massa corpórea intervalo RR intervalo de tempo entre duas ondas R consecutivas LF low frequency máx. valor máximo Min valor mínimo xxii min minutos mm milímetros ms milissegundos N número de indivíduos NASCET North American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial ns não significativa p nível de significância ρ coeficiente de correlação de Spearman ROC receiver operating characteristic SD dispersão dos pontos SNA sistema nervoso autônomo SNS sistema nervoso simpático SP São Paulo TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TP potência total VFC variabilidade da frequência cardíaca VLF very low frequency xxiii LISTA DE SÍMBOLOS ° graus °C graus Celsius % porcentagem > maior < menor ≤ menor ou igual ≥ maior ou igual xxiv SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 26 1.1. Objetivos gerais.................................................................................................. 32 1.2. Objetivos específicos.......................................................................................... 32 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................. 34 2.1. Aspectos fisiológicos e clínicos da variabilidade da frequência cardíaca na doença aterosclerótica..................................................................................... 34 2.2. Aspectos quantitativos da variabilidade da frequência cardíaca na doença aterosclerótica.................................................................................................. 41 3. MATERIAL E MÉTODOS...................................................................................... 45 3.1. Avaliação das artérias carótidas e artéria subclávia direita................................ 46 3.2. Avaliação da variabilidade da frequência cardíaca............................................ 51 3.3. Índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência......................................................................................................... 56 3.4. Análise estatística............................................................................................... 65 4. RESULTADOS...................................................................................................... 66 4.1. Dados clínicos.................................................................................................... 66 4.2. Avaliação das artérias carótidas e subclávia direita........................................... 68 4.3. Avaliação da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência......................................................................................................... 76 4.4. Correlação entre variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência e parâmetros das artérias carótidas.......................................... 79 xxv 4.5. Correlação entre variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência e parâmetros da artéria subclávia direita................................... 82 4.6. Variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência e parâmetros clínicos.......................................................................................... 85 4.7. Comparação dos parâmetros fast Fourier-transform (FFT) entre controles e portadores de doença aterosclerótica extracraniana....................................... 86 4.8. Curva ROC................................................................................................ 89 5. DISCUSSÃO......................................................................................................... 91 6. CONCLUSÕES..................................................................................................... 96 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 97 APÊNDICE..................................................................................................... 103 ANEXOS......................................................................................................... 106 26 1.INTRODUÇÃO A doença aterosclerótica extracraniana carotídea ou subclávia é caracterizada por presença de placa (ateroma) na parede arterial e espessamento da camada médiointimal. Inicia-se a partir de dano endotelial de origem multifatorial, sendo um processo evolutivo, que pode estabilizar-se, mas dificilmente regride (STEIN et al., 2008). As artérias carótidas, juntamente com as artérias vertebrais que são ramos das artérias subclávias, fornecem o fluxo sanguíneo para o cérebro. A doença cerebrovascular extracraniana aterosclerótica afeta artérias que suprem o cérebro e é importante causa de acidente vascular cerebral (AVC) e de ataque isquêmico cerebral transitório (AIT) (BROTT et al., 2011a). Quando considerado separadamente de outras doenças cardiovasculares (DCV), o acidente vascular cerebral (AVC) é a terceira causa de morte nos países industrializados e a principal responsável por incapacidade permanente (BROTT et al., 2011a). Apesar da carência de dados epidemiológicos acerca do AVC, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de 5 milhões de pessoas morrem todos os anos devido ao acidente vascular cerebral. No Brasil, esse número é de aproximadamente 100 mil, de acordo com o Ministério da Saúde (MS). Desconhecida é a incidência de infarto cerebral silencioso (subclínico), que somente nos EUA em 1998 estimou-se em 13 milhões de eventos. Os custos diretos e indiretos referentes a cuidados agudos e convalescentes com vítimas de AVC nos EUA foram estimados em 68,9 bilhões de dólares em 2009 (BROTT et al., 2011b). Ataque isquêmico cerebral transitório (AIT) é convencionalmente definido como uma síndrome de disfunção neurológica aguda relacionada ao território de distribuição de uma única artéria cerebral e caracterizada por sintomas que duram menos que 24 horas. Em pacientes com acidente vascular cerebral isquêmico agudo, os sintomas e sinais de déficit neurológico persistem por mais de 24 horas (BROTT et al., 2011b). Os sintomas e sinais resultantes de isquemia ou infarto cerebral dependem do território acometido, diretamente relacionado à distribuição da artéria carótida interna ou artéria cerebral média envolvida, incluem, mas não estão limitados a: fraqueza ou diminuição da força muscular em um dos membros (braço, perna) ou face, distúrbios visuais (perda aguda da visão ou amaurose fugaz), perda sensitiva (parestesia), afasia (dificuldades na fala) e convulsões. 27 Aproximadamente 88% dos acidentes vasculares cerebrais são isquêmicos, 9% hemorrágicos intracerebrais e 3% são hemorrágicos subaracnóideos (CHAMBLESS et al., 2000). A doença cerebrovascular extracraniana aterosclerótica é responsável por aproximadamente 15 a 20% de todos os acidentes vasculares cerebrais isquêmicos (SACCO et al., 1995; WITYK et al., 1996). A fisiopatologia da aterosclerose das artérias carótidas (Figura 1) é semelhante a de outras artérias, iniciando-se com a formação de estria gordurosa pelo acúmulo de lipoproteínas, que sofrem modificação oxidativa na íntima do vaso, atraindo macrófagos que posteriormente constituem-se nas células espumosas repletas de partículas lipoproteicas (foam cells). Além disso, há migração de células musculares lisas da camada média para a íntima, as quais elaboram matriz extracelular para formação da cápsula fibrótica da placa. A placa aterosclerótica cresce e na sua evolução pode ocorrer ruptura da cápsula com formação de trombo contribuindo para o estreitamento progressivo do vaso e para eventos clínicos (Figura 2). Preferencialmente, essas placas são formadas em locais de divisão de fluxo (bifurcações), onde há turbilhonamento, mudanças das forças de cisalhamento e estresse parietal, como na emergência da artéria subclávia direita e bifurcação da artéria carótida comum. Acidente vascular cerebral (AVC) e isquemia cerebral transitória (AIT) podem advir como consequência de vários mecanismos envolvendo as artérias extracranianas, incluindo: 1) embolismo de artéria para artéria de trombo formado sobre a placa aterosclerótica, 2) ateroembolismo de cristais de colesterol ou outros debris ateroscleróticos, 3) oclusão trombótica aguda de uma artéria extracraniana resultante de ruptura de placa, 4) desintegração estrutural da parede arterial resultante de dissecção ou hematoma subintimal, e 5) perfusão cerebral reduzida resultante de estenose crítica ou oclusão causada pelo crescimento progressivo da placa (BROTT et al., 2011b). 28 Artéria Carótida Estenose Fluxo normal Figura 1: Bifurcação da artéria carótida: local preferencial para formação de placa aterosclerótica extracraniana. Na presença de placa aterosclerótica causando estenose significativa (redução do diâmetro da artéria ≥ 60%) pode ocorrer diminuição do fluxo de sangue para o cérebro. Fonte: http://my.clevelandclinic.org/disorders/carotid_artery_disease/hic_carotid_artery_disease.aspx 29 espessamento da camada médio-intimal (≥ 0,8 mm) corte longitudinal camada intima camada média camada adventícia A corte transversal B placa aterosclerótica espessamento ≥ 1,5 mm ruptura da placa C agregação plaquetária D formação de trombo (coágulo) na luz do vaso oclusão da artéria = ausência de fluxo Figura 2: Progressão da aterosclerose. A: artéria normal, sem espessamento de parede ou placa aterosclerótica. B: espessamento da camada médio-intimal da artéria, denominado placa a partir de 1,5 mm. C: placa complicada por ruptura ou ulceração; a agregação plaquetária faz parte do processo de formação do coágulo ou trombo. D: formação de trombo no local da ruptura causando oclusão da artéria. Fonte: http://www.medmovie.com/pages/media.html 30 A aterosclerose é uma doença sistêmica e pacientes com doença cerebrovascular extracraniana estão sob risco para outros eventos cardiovasculares indesejáveis, incluindo infarto do miocárdio, doença arterial periférica e morte. Assim, muitos pacientes com estenose de carótida enfrentam um risco maior de morte causada por infarto do miocárdio (IM) do que por acidente vascular cerebral (BOTS et al., 1997; FISHER, 1951; HODIS et al., 1998; NORRIS et al., 1991; RUNDEK et al., 2008; SABETI et al., 2007; WIEBERS et al., 1990). A espessura aumentada da camada médio-intimal da parede da artéria carótida, uma medida obtida pela ultrassonografia, é um marcador de aterosclerose sistêmica. O espessamento médio-intimal das carótidas é um marcador de risco para eventos coronarianos e acidente vascular cerebral em pacientes sem doença cardiovascular clínica (ARNOLD et al., 2005; KULLER et al., 2006). Para melhorar a sobrevivência, os resultados funcionais e neurológicos, a qualidade de vida, estratégias preventivas e terapêuticas devem ser dirigidas tanto para o risco cerebral quanto para o sistêmico (BROTT et al., 2011b). Evidenciou-se uma correlação clara entre o grau de estenose de carótida e o risco de acidente vascular cerebral em pacientes sintomáticos no estudo NASCET (NORTH AMERICAN SYMPTOMATIC CAROTID ENDARTERECTOMY TRIAL (NASCET) INVESTIGATORS, 1991), contudo, a associação entre o risco de acidente vascular cerebral e gravidade de estenose carotídea em pacientes assintomáticos foi menos clara em outros estudos. Desde o advento do primeiro angiograma de carótida em 1927 por Moniz, o angiograma tem sido considerado o “padrão ouro” no diagnóstico de doença carotídea. A angiografia é um exame invasivo não isento de complicações, inclusive acidente vascular cerebral (AVC). O diagnóstico de aterosclerose em assintomáticos por meio do exame clínico é tarefa difícil. A ausculta das artérias cervicais (carótidas e subclávias) para detectar sopros é parte padrão do exame físico em adultos na prática clínica, porém a detecção de um sopro correlaciona-se mais com aterosclerose sistêmica do que com estenose de carótida significante (PICKETT et al., 2008). A ecografia vascular com Doppler colorido (EVDC) ou ultrassonografia duplex (UD) para a detecção de aterosclerose das artérias carótidas tem a vantagem de ser um exame não invasivo, de fácil realização, acessível, tendo como desvantagem ser operador dependente. Segundo as diretrizes ASA/ACCF/AHA/AANN/AANS/ACR/ASNR/CNS/SAIP/SCAI/SIR/SNIS/SVM/SVS da 31 para o tratamento de pacientes com doença cerebrovascular extracraniana (BROTT et al., 2011b), a ultrassonografia duplex deve ser realizada em pacientes assintomáticos com estenose carotídea conhecida ou suspeitada (recomendação classe I; nível de evidência: C); é recomendada a realização de ultrassonografia duplex em pacientes assintomáticos com sopro cervical (classe IIa; nível de evidência: C); a ultrassonografia duplex pode ser considerada para detectar estenose de carótida em assintomáticos sem evidência clínica de aterosclerose, os quais tenham 2 ou mais dos seguintes fatores de risco: hipertensão, hiperlipidemia, tabagismo, história familiar em primeiro-grau de aterosclerose manifestada antes da idade de 60 anos, ou história familiar de acidente vascular cerebral isquêmico (classe IIb; nível de evidência: C); a ultrassonografia duplex de carótida não é recomendada para triagem de rotina de pacientes assintomáticos que não tenham manifestação clínica de, ou fatores de risco para aterosclerose (Classe III; nível de evidência: C). Embora, haja evidência de estudos randomizados de que pacientes assintomáticos com estenose carotídea hemodinamicamente significativa se beneficiem da intervenção terapêutica, nenhum programa de triagem demonstrou que a identificação de pessoas com estenose de carótida assintomática efetivamente implica na redução do risco de acidente vascular cerebral. Portanto, não há consenso sobre quais pacientes devem ser submetidos à triagem para detecção de doença de carótida. Muitos outros fatores podem ser mais importantes do que o grau de estenose carotídea na determinação do risco de ataque isquêmico transitório (AIT) e acidente vascular cerebral (AVC). Características morfológicas das placas por exemplo, como ulceração, ecoluscência e hemorragia intraplaca foram associadas a eventos cerebrais isquêmicos clínicos em alguns estudos (FISHER et al., 2005; LAL et al., 2002). O grau de estenose estimado pela ultrassonografia permanece como o principal determinante de gravidade na doença carotídea aterosclerótica e é a base para a maioria das decisões clínicas. Devido a correlação imperfeita entre gravidade de estenose de carótida e eventos isquêmicos, outras características devem ser exploradas como potenciais marcadores de complicações das placas e risco de acidente vascular cerebral. O sistema nervoso autônomo (SNA) é de fundamental importância na manutenção da homeostase cardiovascular. Vários estudos têm demonstrado que 32 alterações do sistema nervoso autônomo estão associadas à morbimortalidade em diversos processos patológicos (VANDERLEI et al., 2009). Evidências de que flutuações da frequência cardíaca batimento-a-batimento refletem a interação do sistema simpático e parassimpático veio a apresentar uma promissora janela para o estudo do sistema nervoso autônomo a partir da interpretação da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) (AKSELROD et al., 1985). Para prevenir morbidade e morte provenientes das doenças cardiovasculares há grande interesse em identificar pacientes assintomáticos de alto risco, para os quais, estratégias mais agressivas podem reduzir o risco cardiovascular. Por isso, propomos avaliar a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) na doença aterosclerótica extracraniana carotídea, incluindo a emergência da artéria subclávia direita por ser um sítio de surgimento precoce de lesão aterosclerótica, por abrigar barorreceptores e ser de fácil acesso à ultrassonografia, e explorar outras características que possam estar associadas ao risco de doenças cardiovasculares (DCV), especialmente acidente vascular cerebral. 1.1. Objetivos gerais Investigar alterações do sistema nervoso autônomo, via análise da variabilidade da frequência cardíaca, na doença aterosclerótica extracraniana que acomete as artérias carótidas e a artéria subclávia direita. 1.2. Objetivos específicos • Investigar possível associação entre índices de variabilidade da frequência cardíaca no domínio da frequência e parâmetros ultrassonográficos das artérias carótidas; • Investigar possível associação entre índices de variabilidade da frequência cardíaca no domínio da frequência e parâmetros ultrassonográficos da artéria subclávia direita; • Verificar se na doença aterosclerótica extracraniana carotídea ou subclávia direita existem alterações significativas dos parâmetros fast Fourier transform da variabilidade da frequência cardíaca; 33 • Propor um biomarcador funcional para a doença aterosclerótica extracraniana carotídea e subclávia direita a partir da variabilidade da frequência cardíaca. 34 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Aspectos fisiológicos e clínicos da variabilidade da frequência cardíaca na doença aterosclerótica A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é uma medida da função autonômica cardíaca (COLHOUN et al., 2001). O sistema nervoso autônomo (SNA) desempenha importante papel na manutenção da homeostase cardiovascular e na fisiopatologia de uma ampla variedade de doenças. O sistema constitui-se do componente vagal colinérgico e do componente simpático noradrenérgico que controlam o coração e arteríolas, as quais são o maior determinante da resistência vascular periférica ao fluxo sanguíneo e, por conseguinte, da pressão arterial. Há quase um século o renomado cardiologista holandês Karel Frederik Wenckebach, o bloqueio cardíaco de segundo grau também levaria o seu nome, escreveu que a frequência de pulso variável poderia ser um sinal de coração saudável (WENCKEBACH apud GOLDSTEIN et al., 2011). Desde então, muitos estudos têm relacionado taquicardia e diminuição da VFC a pior prognóstico em diversos contextos de doença (GOLDSTEIN et al., 2011). A importância clínica da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) foi também observada em 1965, quando Hon e Lee notaram que o sofrimento fetal era precedido por alterações nos intervalos interbatimentos antes de qualquer alteração da frequência cardíaca propriamente dita. Nos anos 70, Wolf et al. evidenciaram risco mais alto de mortalidade pós-infarto com VFC reduzida, e Ewing et al. desenvolveram um teste simples à beira-do-leito para usar as diferenças dos intervalos RR a curto-prazo como um método de detecção de neuropatia autonômica em diabéticos. Em 1981, Akselrod et al. introduziram a análise da potência espectral das flutuações da frequência cardíaca para avaliar quantitativamente batimento a batimento o controle cardiovascular - análise da variabilidade da frequência cardíaca no domínio da frequência. As normas de mensuração, interpretação fisiológica e uso clínico da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) foram bem estudados na década de 90 pela Task Force of the European Society of Cardiology and the North American Society of Pacing and Electrophysiology (1996). Mais recentemente, a VFC alterada tem sido associada a outras condições patológicas, tais como, doença 35 arterial coronariana, hipertensão arterial, miocardiopatia, doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência renal, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, doença de Alzheimer, leucemia, apneia do sono, epilepsia, enxaqueca, choque hemorrágico, choque séptico, entre outras (VANDERLEI et al., 2009). Em uma recente meta-análise os autores demonstraram que a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) estava diminuída após uma elevação da exposição às partículas de poluição do ar. A meta-análise indicou uma relação inversa entre VFC e as partículas de poluição do ar (PIETERS et al., 2012). Rajendra Acharya et al. (2006) observaram que a variabilidade da frequência cardíaca também diminui com o envelhecimento. A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) tem sido aceita, via consenso internacional, como um preditor independente de mortalidade após infarto do miocárdio e como um marcador precoce de prognóstico desfavorável na neuropatia diabética (KAPA; SOMERS, 2008). O desequilíbrio do tônus autonômico tem sido sugerido como o principal mecanismo subjacente relacionado à suscetibilidade de morte súbita (EMPANA et al., 2011). O sistema nervoso simpático está envolvido na regulação de vários parâmetros cardiovasculares incluindo a frequência cardíaca (FC) e a VFC. Uma expressão aumentada do sistema nervoso simpático (SNS) pode resultar em FC elevada ou diminuição da VFC, e ambos são fatores de risco independentes para o desenvolvimento de doença cardiovascular, incluindo insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e hipertensão. Estudos epidemiológicos têm estabelecido que a modulação autonômica diminuída da frequência cardíaca está associada a aumento da morbidade e mortalidade cardiovascular (FELDMAN et al., 2010). O sistema cardiovascular humano é um sistema adaptativo altamente complexo, e a complexidade do seu funcionamento permite ampla variedade de respostas adaptativas. Nas duas últimas décadas tem sido crescente o interesse em se estudar as variações dos intervalos batimento-a-batimento do coração, conhecido como variabilidade da frequência cardíaca (VFC) ou variações dos intervalos RR (intervalos entre duas ondas R sucessivas no eletrocardiograma). A depressão de parâmetros clínicos do paciente fortemente associa-se com mortalidade e pode ser vista através da diminuição da VFC. A frequência cardíaca (FC) é influenciada pelas atividades simpática e parassimpática do sistema nervoso autônomo. A modulação simpática acelera a FC enquanto a atividade parassimpática desacelera a frequência cardíaca. A resultante da modulação de ambos os ramos do sistema nervoso 36 autônomo, conhecida como tônus ou balanço simpatovagal, pode ser refletida na variabilidade da frequência cardíaca (VFC), a qual é uma medida não invasiva da atividade do sistema nervoso autônomo (BUCCELLETTI et al., 2009; CHELLADURAI; KUMARAVEL, 2011; FELDMAN et al., 2010). O coração transplantado mostra uma frequência mais alta do que um coração inervado. Injetando-se drogas bloqueadoras da atividade vagal (i.e. atropina) reproduz-se o mesmo efeito, aumentando a frequência cardíaca (FC). Por outro lado, a inibição dos nervos simpáticos promove diminuição da FC ou bradicardia. Estes dois efeitos opostos são determinantes para o conceito de balanço simpatovagal. Atuando-se sobre um ramo do sistema, ou no outro, não somente se afeta a frequência cardíaca propriamente dita, mas também sua variação no tempo, e por fim sua distribuição e propriedades estatísticas. Além disso, os sistemas simpático e vagal interagem um com o outro, um fenômeno chamado “antagonismo acentuado”. Este termo refere-se à observação de que um estímulo agindo no lado simpático também causa resposta vagal a qual parcialmente atenua o efeito primário (BUCCELLETTI et al., 2009). A frequência cardíaca (FC) aumentada em pacientes com aterosclerose pode diminuir a estabilidade das placas ateroscleróticas devido a oscilações da pressão arterial, as quais induzem o estresse mecânico. A frequência cardíaca aumentada (FC > 80 batimentos/minuto) está associada com mais ruptura de placa comparada com FC mais baixa em pacientes com doença arterial coronariana (ABILDSTROM et al., 2003). As frequências cardíacas em pacientes com infarto do miocárdio (IM) são mais altas do que naqueles que não experimentaram um evento agudo. Consequentemente, a FC tem sido identificada como um fator de risco para o desenvolvimento de ruptura da placa. A frequência cardíaca (FC) foi identificada como um indicador prognóstico de mortalidade independente em um estudo de 366 pacientes após infarto do miocárdio (IM), p < 0,001 (ABILDSTROM et al., 2003). Todavia, em estudo subsequente registrou-se que a variabilidade da frequência cardíaca diminuída após infarto do miocárdio é um fator de risco independente para mortalidade neste grupo de pacientes (STEIN et al., 2005). A doença aterosclerótica inicia-se na infância e evolui por décadas. Eventos clínicos sintomáticos de doença cardiovascular ocorrem quando a aterosclerose progride para doença limitante do fluxo sanguíneo que causa isquemia, ou quando um trombo forma-se sobre uma placa aterosclerótica existente, como resultado de 37 ruptura ou erosão. Medir a espessura do complexo médio-intimal das artérias carótidas e identificar placa carotídea pelo ultrassom é útil para refinar a avaliação do risco cardiovascular em pacientes assintomáticos. Esta abordagem não invasiva pode detectar doença aterosclerótica subclínica e ajudar identificar pacientes de risco aumentado para doenças cardiovasculares (STEIN et al., 2008). A aterosclerose carotídea tem uma alta prevalência em adultos com fatores de risco cardiovasculares, tais como, hipertensão arterial, tabagismo, diabetes mellitus e hiperlipidemia, dentre outros (STEIN et al., 2008). No início do século passado, nos idos de 1920, Hering descreveu diminuições reflexas da frequência cardíaca e pressão arterial por meio da estimulação do nervo glossofaríngeo próximo à bifurcação carotídea ou após estiramento do seio carotídeo (HERING apud GOLDSTEIN et al., 2011). Estudos posteriores das respostas reflexas de aumentos ou diminuições da pressão arterial no seio carotídeo (barorreflexo) e das respostas à hipóxia e hipercapnia ao nível dos corpos carotídeos (quimiorreflexos) renderam o Prêmio Nobel a Corneille Heymans em 1938 (GOLDSTEIN et al., 2011). A artéria carótida, mais especificamente a porção proximal da carótida interna, abriga barorreceptores localizados na adventícia do bulbo, e o corpo carotídeo encerra quimiorreceptores (corpo carotídeo é o componente periférico, com o componente central localizando-se no tronco cerebral), os quais são importantes determinantes da pressão arterial e regulação ventilatória, respectivamente (KAPA; SOMERS, 2008). Os quimiorreceptores são moduladores da ativação simpática e também desempenham um importante papel no controle autonômico cardiovascular. A hipoxemia ou hipercapnia resulta em hiperventilação e ativação simpática vascular (RUPPRECHT et al., 2010). A ativação barorreflexa, por exemplo, tem influência inibitória sobre os quimiorreceptores periféricos principalmente (GOLDSTEIN et al., 2011). Várias condições clínicas evidenciam a inter-relação entre barorreceptores e quimiorreceptores, por exemplo, a sensibilidade aumentada dos quimiorreceptores à hipoxemia na apneia obstrutiva do sono pode ser revertida pelo uso de oxigênio a 100%, com a qual reduções na pressão arterial, frequência cardíaca e tônus simpático podem ser vistas (KAPA; SOMERS, 2008). A origem da artéria subclávia direita também abriga barorreceptores em sua adventícia (ROBERTSON; BIAGGIONI, 2012), conforme figura 3. 38 Figura 3: Localização e inervação dos barorreceptores. Fonte: modificado de Robertson e Biaggioni (2012) 39 Lesões carotídeas têm sido associadas à alteração da sensibilidade barorreflexa (SBR), bem como à perturbação da atividade do sistema nervoso autônomo (MANGIN et al., 2011). O barorreflexo arterial é o mais importante mecanismo regulatório a curto-prazo da pressão arterial e da frequência cardíaca. É sabido que a sensibilidade barorreflexa é um marcador composto da integridade geral do sistema nervoso autônomo, e é determinada pelas propriedades mecânicas tanto das carótidas como da artéria subclávia direita e parede aórtica (ROBERTSON; BIAGGIONI, 2012). Em estudo bem conduzido, demonstrou-se que placas carotídeas ecogênicas estão associadas com significante redução da sensibilidade barorreflexa comparadas àquelas ecoluscentes. A disfunção barorreflexa potencialmente poderia explicar parte da morbidade e mortalidade cardiovascular neste grupo de pacientes, tendo em vista que a sensibilidade barorreflexa diminuída está fortemente associada com o desenvolvimento de arritmias cardíacas potencialmente fatais e atividade simpática aumentada, resultando em aumento da vasoconstrição coronariana, agregação plaquetária aumentada e remodelamento ventricular diminuído (TSEKOURAS et al., 2011). Em outro estudo se evidenciou a associação de aterosclerose carotídea bilateral com diminuição da sensibilidade barorreflexa (SBR) e desvio do balanço simpatovagal, indicando diminuição relativa do componente parassimpático da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência (banda HF e HF/TP correlacionaram-se positivamente com SBR), e não houve correlação entre ateroma aórtico detectado ao ecocardiograma transesofágico (ETE) e sensibilidade barorreflexa, suportando a ideia de predominância do componente carotídeo no barorreflexo (NASR; PAVY-LE TRAON; LARRUE, 2005). O bulbo carotídeo ou porção proximal da carótida interna é local preferencial para formação de placa aterosclerótica extracraniana. A espessura e rigidez da placa aterosclerótica impediriam a transmissão da pressão intraluminal à adventícia onde se localizam barorreceptores (KITAGAWA, 2010). A Figura 4 mostra uma placa ecoluscente ao ultrassom localizada no bulbo carotídeo e os barorreceptores na adventícia do vaso. 40 Figura 4: Barorreceptores localizados na adventícia do bulbo, local de lesão aterosclerótica severamente estenótica, e os circuitos barorreflexos. A espessura e rigidez da lesão ateromatosa carotídea impediria a transmissão da pressão intraluminal, comprometendo a distensibilidade ou estiramento, e, por conseguinte, a sensibilidade barorreflexa. ICA: artéria carótida interna; CCA: artéria carótida comum. Fonte: modificado de Kitagawa, 2010 41 Do ponto de vista tradicional a estratificação de risco da estenose carotídea foca na hipoperfusão cerebral e/ou tromboembolismo. No entanto, há crescente evidência de que alteração no balanço autonômico devido à má-adaptação dos sensores carotídeos ou barorreceptores, contribua para eventos cerebrovasculares e cardiovasculares agudos (ROBERTSON; BIAGGIONI, 2012). Concordantemente, a estenose de carótida está associada com diminuição da sensibilidade barorreflexa e variabilidade da frequência cardíaca diminuída, os quais estão associados com mortalidade cardiovascular e cerebrovascular aumentadas após infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral (RUPPRECHT et al., 2010). Embora, a relação entre os sistemas simpático e vagal pareça simples, pesquisas evidenciam um funcionamento muito mais complexo. A dinâmica da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é o resultado de múltiplos sistemas de controle agindo em diferentes escalas de tempo, interagindo um com o outro, e também diferentes em natureza. É possível, não obstante, estudar um sistema tão complexo através da VFC, com a ideia de que qualquer evento afetando significantemente o sistema regulatório cardíaco, romperá e alterará a fisiologia da VFC. Esta hipótese interessante e verdadeira guiou a pesquisa clínica sobre variabilidade da frequência cardíaca nas diversas doenças (BUCCELLETTI et al., 2009). Vários algoritmos foram criados e aplicados, nenhum deles mostrou superioridade em relação aos outros, e principalmente, nenhum provou ser o padrão ouro para ser usado na prática clínica. 2.2. Aspectos quantitativos da variabilidade da frequência cardíaca na doença aterosclerótica A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é um marcador não invasivo para o sistema nervoso autônomo, o qual controla a função cardíaca via fibras eferentes para a vasculatura, nó sinoatrial e miocárdio. As fibras aferentes contribuem para os sistemas de “feedback”, tais como, o barorreflexo, mecanorreceptores sensíveis a estiramento localizados nos seios carotídeos, arco aórtico e artéria subclávia direita (KOTECHA et al., 2012). Há evidências de que o grau de distensão da artéria carótida, mais precisamente a potência na banda de baixa frequência (LF) da VFC, é a melhor estimativa não invasiva do componente neural do barorreflexo (EMPANA et al., 2011). Kamath et al. (1987) já haviam observado que a potência na banda de 42 baixa frequência (LF) está associada a flutuações sincrônicas na pressão arterial e atividade barorreflexa. Outros estudos foram sugestivos de que o índice LF (ms2) da VFC reflete a atividade vasomotora indiretamente, mediada pelas vias eferentes vagais ao coração, e poderia ser visto como melhor refletindo o balanço simpatovagal (AKSELROD et al., 1985; POMERANZ et al., 1985). Vários estudos têm relacionado doença cardiovascular à variabilidade da frequência cardíaca alterada (FELDMAN et al., 2010). Em um registro recente, o índice LF reduzido foi um forte e independente preditor de doença coronariana angiograficamente obstrutiva (KOTECHA et al., 2012), em outros registros, reduções na potência total (TP), da potência na banda LF e banda HF foram associadas à doença cardiovascular (KLEIGER; STEIN; BIGGER, 2005; STEIN, 1994). Os índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) têm despertado grande interesse entre pesquisadores e clínicos, todavia, persistem controvérsias, principalmente quanto à origem e significado clínico. Alguns estudos têm suposto que a potência na banda de baixa frequência (LF), quando ajustada para a banda HF, potência total ou respiração, é um índice do tônus simpático cardíaco e a razão LF/HF indica balanço simpatovagal. Outros, entretanto, contestam a validade da potência na banda LF, com ou sem ajuste para HF ou potência total, como um índice do eferente simpático ao coração (GOLDSTEIN et al., 2011). Em recente revisão da literatura, Goldstein et al. (2011) apontaram algumas linhas de evidência que argumentam contrariamente à validade da potência na banda LF, com ou sem ajuste para HF ou potência total, como um índice do eferente ou tônus simpático cardíaco: (1) a taxa de entrada do neurotransmissor simpático, noradrenalina, na circulação venosa cardíaca (“cardiac noradrenaline spillover”), é o índice “padrão ouro” do eferente simpático cardíaco. Valores individuais do índice LF e LF/HF não se correlacionam com “cardiac noradrenaline spillover” (KINGWELL et al., 1994; ALVARENGA et al., 2006; MOAK et al., 2007; BAUMERT et al., 2009 apud (GOLDSTEIN et al., 2011); (2) em pacientes com insuficiência cardíaca, o eferente simpático, conhecido por estar bastante aumentado (EISENHOFER et al., 1996 apud GOLDSTEIN et al., 2011), também tais pacientes têm a potência na banda LF muito baixa (ADAMOPOULOS et al., 1992; CREAGER, 1992; GUZZETTI et al., 1995; VESALAINEN et al., 1999 apud GOLDSTEIN et al., 2011); (3) drogas que aumentam a liberação de noradrenalina proveniente de nervos simpáticos cardíacos (ex: tiramina), aumentam a potência na banda LF mesmo em pacientes com 43 evidências de neuroimagem de denervação simpática cardíaca (MOAK et al., 2007 apud GOLDSTEIN et al., 2011); (4) com o envelhecimento, a descarga de noradrenalina corporal total e cardíaca, e o eferente simpático musculoesquelético aumentam. Isto é, a liberação de noradrenalina aos seus receptores aumenta com a idade. Em contraste, a potência na banda LF diminui, e a razão LF/HF permanece inalterada (LIPSITZ et al., 1990; RYAN et al., 1992; PICCIRILLO et al., 1995; KARAS et al., 2008 apud GOLDSTEIN et al., 2011); (5) a estimulação ß-adrenérgica cardíaca com isoprenalina, a qual aumenta a frequência cardíaca (FC) e os níveis de noradrenalina plasmática (GOLDSTEIN et al., 1986 apud GOLDSTEIN et al., 2011), diminui a potência na banda LF (AHMED et al., 1994 apud GOLDSTEIN et al., 2011). Goldstein et al. (2011) encontraram várias linhas de evidência que apoiam que a potência na banda de baixa frequência (LF) está associada à modulação barorreflexa do eferente autonômico. Em um dos estudos (SLEIGHT et al., 1995 apud GOLDSTEIN et al., 2011), os autores demonstraram que a estimulação do seio carotídeo aumenta a potência na banda LF somente em indivíduos com função barorreflexa normal e não naqueles com sensibilidade barorreflexa diminuída. Finalmente, os autores sugerem que, com ou sem ajuste para a potência na banda de alta frequência (HF), potência total ou respiração, a potência na banda LF parece fornecer um índice não do tônus simpático cardíaco, mas da função barorreflexa (GOLDSTEIN et al., 2011). No estudo de Nasr et al. (2005) evidenciou-se redução da sensibilidade barorreflexa (SBR) e sugestivo desvio do balanço simpatovagal em direção à relativa diminuição do componente parassimpático da VFC em pacientes com aterosclerose carotídea bilateral (estenose bilateral). Nesse estudo o índice HF correlacionou-se negativamente com aterosclerose carotídea bilateral e o índice LF correlacionou-se positivamente com sensibilidade barorreflexa (SBR). A SBR diminuída tem sido associada à variabilidade aumentada da pressão arterial sistólica, a qual é um fator de risco independente para acidente vascular cerebral em hipertensos (PRINGLE et al., 2003). Além disso, pacientes com atividade parassimpática baixa, definida como variabilidade da frequência cardíaca diminuída, têm risco aumentado para morte súbita (NASR et al., 2005). Outras evidências relacionaram hiperatividade simpática e espessura médio-intimal (EMI) carotídea aumentada (GIANAROS et al., 2002; JENNINGS et al., 2004; KAMARCK et al., 1997). 44 Em outro interessante estudo os autores evidenciaram que placas carotídeas ecogênicas estão associadas a função barorreflexa reduzida comparadas àquelas ecoluscentes (TSEKOURAS et al., 2011). Rupprecht et al. (2010) indicaram uma disfunção autonômica na síndrome de apneia do sono central em pacientes com estenose da carótida interna assintomática, e intentaram para a disfunção barorreflexa e de quimiorreceptores na presença de estenose de carótida interna extracraniana. A estenose da carótida interna extracraniana poderia induzir isquemia do corpo carotídeo, causando aumento da sensibilidade quimiorreflexa periférica, que por sua vez, provocaria hiperatividade simpática. Paralelamente, a diminuição do estiramento do bulbo carotídeo provocada pela presença da placa levaria à redução da sensibilidade barorreflexa contribuindo à hiperatividade simpática (RUPPRECHT et al., 2010). Por fim, Rahman et al. demonstraram que a potência na banda LF fornece um índice não do tônus simpático cardíaco, mas da função barorreflexa (RAHMAN et al., 2011). Acerca da associação entre doença aterosclerótica carotídea e da artéria subclávia direita, Engelhorn et al. (2006) observaram correlação positiva significativa com relação ao espessamento médio-intimal, e o espessamento da origem da subclávia direita sugere-se que possa ser um marcador mais precoce de risco cardiovascular. Uma possível explicação para o aparecimento mais precoce de espessamento médio-intimal na artéria subclávia direita seria a presença de maior angulação do vaso observada na origem dessa artéria em relação à bifurcação carotídea. A maior velocidade existente junto à borda interna das curvaturas, como observada na origem da artéria subclávia direita, é responsável por aumentar o estresse da superfície endotelial e as forças de cisalhamento aí existentes. O estresse na parede arterial e a consequente maior força de cisalhamento contribuiriam para o desenvolvimento de espessamento médio-intimal e posteriormente de placa aterosclerótica (LOPES, 2002 apud ENGELHORN et al., 2006). Na literatura não identificamos trabalhos relacionados ao estudo da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) na doença aterosclerótica que ocorre na artéria subclávia direita. 45 3. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de estudo transversal envolvendo 30 indivíduos assintomáticos com idade ≥ 18 anos, conduzido no Instituto Avançado do Coração da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis (IACOR), situado à Av. Afonso Cáfaro 2630, Fernandópolis-SP. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi obtido de todos os pacientes (Apêndice A). O protocolo de estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Camilo Castelo Branco (Anexo F) e a coleta de dados realizada após a autorização do CEP, de abril a maio de 2012. Foram incluídos no estudo indivíduos assintomáticos, com idade ≥ 18 anos, que concordaram em participar voluntariamente do protocolo de pesquisa assinando o TCLE. Os anexos A a E referem-se à autorização para levantamento de dados no Laboratório de Ecografia Vascular, para uso desse laboratório e equipamentos, o termo de compromisso do pesquisador, solicitações de permissão para uso do Laboratório de Ecografia Vascular e para levantamento de dados nesse laboratório. A partir dos critérios de exclusão, não participaram do estudo indivíduos com distúrbios do ritmo cardíaco, ritmo de marca-passo, insuficiência cardíaca, fração de ejeção (FE) ≤ 0,45, insuficiência renal crônica em hemodiálise, insuficiência hepática grave, infarto do miocárdio, endarteréctomia, angioplastia de carótida, endoprótese de carótida (“stent”), dissecção da carótida e oclusão carotídea. Medicamentos conhecidos por interferir na função autonômica, como betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da enzima conversora de angiotensina, vasodilatadores, estatinas, neurolépticos e vasoconstritores nasais foram suspensos por 24 horas antes dos exames. Todos os indivíduos foram submetidos a ecocardiograma transtorácico previamente, com o único objetivo de se medir a fração de ejeção (FE) do ventrículo esquerdo. Características clínicas como diabetes mellitus (DM), hipertensão arterial, obesidade, tabagismo, foram descritas e o perfil lipídico foi obtido com dosagens sanguíneas de colesterol total, triglicerídeos, partículas LDL (lipoproteína de baixa densidade) e HDL (lipoproteína de alta densidade). 46 3.1. Avaliação das artérias carótidas e artéria subclávia direita Os sujeitos foram submetidos à avaliação das artérias carótidas bilateralmente e artérias subclávias direitas pela Ecografia Vascular com Doppler Colorido (EVDC), realizada pelo pesquisador. O ecógrafo usado foi da marca Philips, modelo HD11, de alta resolução, equipado com tecnologia SonoCT, XRES, Modo B, Doppler pulsado, Color Doppler (CD), Color Power Angio (CPA), High Q Doppler (High Quantification Doppler - quantificação automática de velocidades), transdutor linear multifrequencial de 3 a 12 MHz, harmônica e disponibilidade de software de quantificação QLAB-Philips (medida automática da espessura médio-intimal). As imagens foram documentadas por meio da mídia Digital Imaging and Communication in Medicine (DICOM). Os indivíduos permaneceram em repouso, decúbito supino, com temperatura ambiente entre 20° e 25°C. A ecografia vascular foi realizada após o registro da frequência cardíaca. A técnica empregada na avaliação ecográfica das carótidas baseou-se nas recomendações do consenso da ASE (AMERICAN SOCIETY OF ECHOCARDIOGRAPHY CAROTID INTIMA-MEDIA THICKNESS TASK FORCE, 2008). A figura 5 ilustra a posição do paciente para o estudo ultrassonográfico das artérias carótidas, segundo o consenso da ASE, e que também foi empregada na avaliação da artéria subclávia direita. 47 Figura 5: Posição do paciente segundo recomendações da American Society of Echocardiography (STEIN et al, 2008). 48 A avaliação da presença ou ausência de placa em conjunto com a medida da espessura médio-intimal (EMI) das artérias carótidas oferecem uma melhor representação da doença aterosclerótica subclínica e do risco de doença cardiovascular (DCV). Placa de carótida foi definida como a presença de região focal com espessura médio-intimal (EMI) ≥ 1,5 mm, considerada apenas na bifurcação carotídea e carótida interna proximal, em ultrassonografia bidimensional (modo B). Considerou-se como padrão de referência no diagnóstico de espessura médiointimal (EMI) aumentada valores ≥ 0,8 mm e < 1,5 mm, medidos 1-2 cm proximal à bifurcação carotídea e na porção proximal da carótida interna (bulbo), a uma profundidade de 4 cm, em ultrassonografia bidimensional (modo B). Para a variável EMI de carótida foram consideradas medidas de espessura médio-intimal (EMI) em local de ausência de placa, em seção longitudinal, na parede anterior ou posterior da artéria, na distância entre duas linhas ecogênicas representadas pelas interfaces lúmen-íntima e média-adventícia da parede arterial. Foram considerados para análise os valores de EMI das artérias carótidas comuns e carótidas internas proximais bilaterais, a maior EMI medida e a média de cada indivíduo. Placa na artéria subclávia direita foi definida como a presença de espessura médio-intimal (EMI) ≥ 1,5 mm, considerada apenas na emergência (origem), em corte longitudinal, em ultrassonografia bidimensional (modo B). Considerou-se como padrão de referência no diagnóstico de espessura médio-intimal (EMI) subclávia aumentada valores ≥ 0,8 mm e < 1,5 mm, medidos a uma profundidade de 4 cm, na emergência do vaso, em modo bidimensional. Para a variável EMI subclávia foram consideradas medidas de espessura médio-intimal (EMI) em local de ausência de placa, em seção longitudinal, na parede posterior da artéria (modo B). A artéria subclávia direita pode ser avaliada com facilidade por localizar-se mais superficialmente que a subclávia contralateral. A artéria subclávia esquerda não foi incluída no estudo. A tabela 1 apresenta os parâmetros utilizados na avaliação das artérias carótidas e artéria subclávia direita. Para a caracterização morfológica das placas utilizou-se a classificação de Gray-Weale modificada por Gerouslakos em 1993 (GEROULAKOS et al., 1993; GRAY-WEALE et al., 1988). 49 Tabela 1: Parâmetros utilizados na avaliação das artérias carótidas e artéria subclávia direita. Parâmetros 1- Espessura médio-intimal (EMI) da carótida: comum e interna proximal (bulbo) 2- Placa de carótida (local): considerada somente na bifurcação carotídea e carótida interna proximal (bulbo) 3- Estenose carotídea* Escore ausente 0 < 50% 1 50-70% 2 > 70% 3 4- Estenose unilateral estenose bilateral escore 0 de um lado e > 0 no contralateral escore > 0 em ambos os lados 5- Características morfológicas das placas (Gray-Weale,1988) Tipo uniformemente ecoluscentes 1 predominantemente ecoluscentes (< 50% de área ecogênica) 2 predominantemente ecogênicas (< 50% de área ecoluscente) 3 uniformemente ecogênicas 4 não classificada devido à calcificação intensa e sombra acústica 5 6- Diâmetros: artéria carótida comum, bulbo e porção distal da carótida interna 7- Velocidades (Doppler): sistólica de pico e diastólica final** carótida comum carótida interna carótida externa 8- Índice de resistência dos vasos (IR normal: < 0,75) 9- Avaliação da origem da artéria subclávia direita: EMI e placa * 3- Estenose carotídea segundo critérios do European Carotid Surgery Trial (ECST) ** 7- Obtidas com a amostra de volume Doppler paralela ao fluxo e correção do ângulo para 60 graus 50 Na estimativa da estenose carotídea optou-se pelos critérios do estudo ECST (European Carotid Surgery Trial), que estabelece para o cálculo da estenose a razão dos diâmetros no local da placa (ROTHWELL et al., 1994). A figura 6 demonstra os critérios baseados no European Carotid Surgery Trial (ECST) usados para a avaliação do grau de estenose carotídea. As velocidades também foram consideradas como critérios de estenose quando esta foi hemodinamicamente significativa, ou seja, ≥ 60% (velocidade sistólica de pico ≥ 120 cm/s e velocidade diastólica final ≥ 40 cm/s sugerem estenose ≥ 60%), já que estenoses abaixo de 60% geralmente não causam distúrbios de fluxo. Em pacientes com lesões tipo placas bilaterais, a classificação ecogênica versus ecoluscente foi realizada de acordo com a ecogenicidade da placa causando a maior estenose (TSEKOURAS et al., 2011). A soma dos escores direito e esquerdo (escore total) foi usada para medir a gravidade da aterosclerose carotídea - AC (NASR et al., 2005). Empregou-se o mesmo escore para medir a gravidade da aterosclerose na artéria subclávia direita. Figura 6: Diagrama dos três métodos de mensuração comumente empregados para o cálculo da estenose carotídea no bulbo. No estudo em questão optou-se pelo método ECST. Fonte: modificado de Rothwell et al. (1994) 51 3.2. Avaliação da variabilidade da frequência cardíaca Frequência cardíaca pode ser definida como o número de ciclos cardíacos por unidade de tempo. Ciclo cardíaco refere-se ao período de relaxamento (diástole) e contração (sístole) do coração, entendendo-se por período o tempo necessário para que um determinado evento volte a se repetir. Por exemplo, o intervalo de tempo entre duas ondas R sucessivas no eletrocardiograma (período) equivale a um ciclo cardíaco. A frequência cardíaca pode ser medida via registro dos potenciais elétricos gerados pela atividade elétrica do coração. O registro dos potenciais elétricos produzidos pelo músculo cardíaco é denominado eletrocardiograma (ECG). A frequência (ƒ) é o inverso do período (Τ), assim, ƒ = 1 ⁄ Τ. A figura 7 apresenta as ondas e intervalos de um ECG normal. Figura 7: Ondas e intervalos de um ECG normal. Fonte: modificado de Libby; Braunwald (2008) No coração normal, a atividade elétrica promove a atividade mecânica de bombeamento (acoplamento eletromecânico). A excitação cardíaca inicia-se com um impulso elétrico gerado no nó sinusal, o qual é propagado pelos átrios, resultando na despolarização ou ativação atrial, que é representada no eletrocardiograma (ECG) pela onda P. A despolarização atrial dispara a contração atrial; em seguida o impulso alcança o nó atrioventricular, onde sofre um atraso que possibilita o enchimento ventricular, e então, é conduzido aos ventrículos e distribuído pelas 52 fibras de Purkinje, resultando na despolarização ou ativação dos ventrículos, representada pelas ondas Q, R e S no ECG, formando o complexo QRS, que por sua vez promove a contração ventricular (sístole ventricular). A repolarização ventricular é representada pela onda T do ECG, e indica o retorno do músculo ventricular estimulado ao estado de repouso (LIBBY; BRAUNWALD, 2008). Variabilidade da frequência cardíaca é a propriedade que a frequência cardíaca tem em variar, mais especificamente, a variação entre intervalos RR sucessivos. Os índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) são obtidos pela análise dos intervalos entre as ondas R, as quais podem ser captadas por instrumentos como eletrocardiógrafos, conversores analógicos digitais e os cardiofrequencímetros, a partir de eletrodos de superfície colocados em pontos específicos do corpo (RAJENDRA ACHARYA et al., 2006). Utilizou-se nos registros da frequência cardíaca o comercialmente disponível cardiofrequencímetro monitor POLAR RS800CX (Polar Electro Oy, FIN-90440 Kempele, Finlândia). O dispositivo dispõe de cinta com eletrodos, que foi posicionada no tórax dos indivíduos para a captura dos batimentos cardíacos, os quais são transmitidos por campo eletromagnético ao monitor. Posteriormente os registros foram transferidos ao software Polar ProTrainer 5 através de interface “infra-red”. Os registros foram realizados antes dos exames das carótidas, em ambiente calmo, temperatura entre 20° e 25°C, à meia-luz. A VFC foi avaliada com registros de 20 minutos. Foi adotada a posição de decúbito supino por 20 minutos. Os pacientes foram orientados a não falar durante os registros, não fumar e não tomar café dentro de 1 hora precedente. A figura 8 apresenta exemplos de intervalos RR sucessivos em um registro de ECG. Para análise dos índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) utilizou-se o software KUBIOS HRV 2.0 desenvolvido pelo Grupo de Análise de Biosinais e Imagem Médica (BSAMIG) do Departamento de Física da Universidade de Kuopio, Kuopio, Finlândia. O software “HRV analysis” teve validação demonstrada por Niskanen et al. (NISKANEN et al., 2004). A variabilidade da frequência cardíaca foi avaliada no domínio da frequência. 53 período (T) Figura 8: Intervalos RR sucessivos em um registro de ECG (RR1,RR2...RR5). Os índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) são obtidos pela análise dos intervalos entre as ondas R. O intervalo de tempo entre duas ondas R sucessivas ou período (T) equivale a um ciclo cardíaco. 54 Conforme realizado por Godoy, Takakura e Correa (2005), subsequente à coleta dos intervalos RR e inclusão destes no software ProTrainer 5, realizou-se filtragem em duas etapas, uma digital por meio do próprio software do equipamento e outra manual por meio do aplicativo Microsoft Office Excel 2007, assinalada pela inspeção visual dos valores correspondentes aos intervalos RR e exclusão dos “outliers”. Somente séries com mais de 95% de batimentos normais foram incluídas no estudo. Foram utilizados 1000 batimentos consecutivos iniciais captados em repouso. Para análise dos índices de VFC por meio de métodos lineares os registros podem ser obtidos em curtos períodos (2, 5, 15 minutos) ou em longos períodos de 24 horas (TASK FORCE OF THE EUROPEAN SOCIETY OF CARDIOLOGY AND THE NORTH AMERICAN SOCIETY OF PACING AND ELECTROPHYSIOLOGY, 1996), sendo que um mínimo de 256 intervalos RR é recomendado para tal (CATAI et al., 2002). Um dos conversores analógicos digitais disponíveis é o Powerlab, um instrumento usado para monitoração multimodal de biosinais, considerado o padrãoouro para mensuração de ECG de alta fidelidade, cujos sinais captados são transferidos para um computador, salvos e analisados após filtragem (RADESPIELTROGER et al., 2003). Monitores cardíacos, tal como o cardiofrequencímetro POLAR, têm sido usados nos registros da variabilidade da frequência cardíaca (VFC). Vanderlei et al. (2008) demonstraram alta correlação entre o dispositivo POLAR e o ECG padrão para análise da VFC, em repouso e durante exercícios: potência na banda LF em unidades normalizadas (LFnu), coeficiente de correlação (r) = 0,98, p<0,0001; potência na banda HF em unidades normalizadas (HFnu), r = 0,98, p<0,0001; razão LF/HF r = 0,98, p<0,0001 (VANDERLEI et al., 2008). O gráfico da figura 9 ilustra a correlação entre o Polar e ECG em relação ao índice HFnu. 55 Figura 9: Gráfico da correlação entre o índice HFnu do Polar e do ECG (HFnu, r = 0,98, p<0,0001). HFnu: potência na banda de alta frequência (HF) em unidades normalizadas. Fonte: retirado de Vanderlei et al. (2008) A tabela 2, modificada de Vanderlei et al. (2008), apresenta a comparação dos dados obtidos do ECG padrão e Polar S810i em repouso. Tabela 2: Comparação dos dados obtidos do ECG e Polar S810i usados simultaneamente em 15 sujeitos em repouso (Modificado de Vanderlei et al., 2008). Repouso Batimentos cardíacos analisados LFnu HFnu LF/HF ECG Polar S810i 401.70 ± 16.14 (367.04–436.29) 60.53 ± 3.82 (52.35–68.71) 39.47 ± 3.82 (31.28–47.65) 1.87 ± 0.27 (1.29–2.44) 401.10 ± 16.10 (366.54–435.60) 61.67 ± 3.61 (53.93–69.40) 38.33 ± 3.61 (30.59–46.06) 1.94 ± 0.27 (1.35–2.52) LFnu = potência na banda de baixa frequência (LF) em unidades normalizadas HFnu = potência na banda de alta frequência (HF) em unidades normalizadas Kingsley et al. (2005) demonstraram uma boa acurácia nos registros em exercícios de baixa intensidade, quando comparado aos do eletrocardiograma ambulatorial (KINGSLEY; LEWIS; MARSON, 2005), o que foi também observado por Gamelin et al. (2008) tanto em situações de exercício quanto de repouso (GAMELIN et al., 2008; GAMELIN; BERTHOIN; BOSQUET, 2006). 56 3.3. Índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência Dados fisiológicos coletados como uma série em tempo podem ser considerados uma soma de oscilações sinusoidais com diferentes frequências. A conversão da análise no domínio do tempo para o domínio da frequência é possível com uma transformação matemática desenvolvida há quase dois séculos atrás (1807) por um matemático francês chamado Jean-Babtiste-Joseph Fourier (1768-1830). Pelo fato da frequência cardíaca apresentar flutuações, que em grande parte são periódicas, o registro contínuo do eletrocardiograma durante períodos curtos ou prolongados (24h) e a subsequente representação gráfica dos intervalos RR normais em relação ao tempo (tacograma), dá origem a um fenômeno ondulatório complexo, que pode ser decomposto em ondas mais simples, por meio de algoritmos matemáticos, como a transformação rápida de Fourier (RASSI, 2012). Este processo, denominado análise espectral, permite decompor o sinal eletrocardiográfico oriundo da série temporal (tacograma) em seus diferentes componentes de frequência, ou seja, nas chamadas bandas de frequências. Vale ressaltar que frequência refere-se ao número de vezes que um determinado fenômeno (p. ex. onda sonora, corrente elétrica ou qualquer forma de onda cíclica) ocorre em relação ao tempo. Habitualmente, a unidade de frequência utilizada é o Hertz (Hz), que equivale a um ciclo por segundo (figura 10) (STEIN et al.,1994; RASSI, 2012). 57 Intervalos RR R ECG LF HF FFT Figura 10: Análise da VFC no domínio da frequência. Após representação gráfica dos intervalos RR em relação ao tempo (tacograma), o sinal eletrocardiográfico é decomposto em seus diferentes componentes de frequência por meio do algoritmo matemático FFT (transformação rápida de Fourier). LF: low frequence; HF: high frequence. ECG: eletrocardiograma. Fonte: http://www.cardios.com.br/jornais/jornal-20/metodos%20diagnosticos.htm (RASSI, 2012) 58 As figuras 11, 12 e 13 representam uma análise hipotética no domínio da frequência. Neste exemplo extremamente simplificado, a variabilidade total resulta tão somente de três fenômenos ondulatórios distintos (figura 11): um componente de alta frequência, equivalente a 0,25 Hz (15 ciclos/min = 15 ciclos/60seg = 0,25 ciclos/seg. = 0,25 Hz), um componente de baixa frequência, equivalente a 0,1 Hz (6 ciclos/min) e um componente de muito baixa frequência, de 0,016 Hz (1 ciclo/min). A combinação destas três ondas senoidais gera um sinal ondulatório complexo que pode muito bem ser comparado ao sinal que se obtém quando a frequência cardíaca é expressa em um gráfico temporal (tacograma), respeitando-se, obviamente, a simplicidade do exemplo em questão (figura 12). Finalmente, a figura 13 mostra o resultado da análise espectral realizada no sinal representado na figura 12, ou seja, como uma eventual série temporal determinada por ciclos cardíacos sucessivos pode ser decomposta em seus componentes periódicos e como cada uma das frequências que compõem a análise espectral pode ser quantificada em sua amplitude (magnitude). Ademais, o cálculo da área compreendida por cada faixa de frequência (que é proporcional ao quadrado da amplitude do sinal original e, portanto, neste caso, expresso em ms2), permite separar a quantidade de variância (potência) atribuída a cada frequência (STEIN et al., 1994). 59 amplitude relativa Figura 11: Três ritmos distintos: alta frequência (seta verde: 15 ciclos/min ou 0,25 Hz), baixa frequência (seta azul: 6 ciclos/min ou 0,1 Hz) e muito baixa frequência (seta vermelha: 1 ciclo/min ou 0,016 Hz). Fonte: modificado de Stein et al. (1994) tempo (s) Figura 12: Sinal complexo resultante da combinação dos 3 fenômenos ondulatórios representados na figura 11 (equivalente ao tacograma de RR). Fonte: modificado de Stein et al. (1994) amplitude relativa 60 frequência (Hz) Figura 13: Resultado da análise espectral realizada no sinal representado na figura 12, com identificação das 3 faixas de frequência: 0,016 Hz (seta vermelha), 0,1 Hz (seta azul) e 0,25 Hz (seta verde). Fonte: modificado de Stein et al. (1994) A análise espectral da frequência cardíaca é usada para avaliar a contribuição do sistema nervoso autônomo à variabilidade da frequência cardíaca (NOTARIUS et al., 1999), um método sensível, quantitativo e não invasivo para estimar o sistema modulador cardiovascular. Desta maneira, a participação individual de cada uma das divisões do sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático) em diferentes situações fisiológicas e patológicas, assim como sua relação com os principais sistemas que interferem com a variabilidade da frequência cardíaca (sistemas respiratório, vasomotor, termorregulador, da renina-angiotensina e sistema nervoso central), podem ser melhor estudadas. Esta é, por sinal, a principal diferença da análise espectral em relação à análise no domínio do tempo, com esta última não conseguindo, de modo geral, diferenciar quais os ritmos ou oscilações dominantes que conferem à frequência cardíaca sua variabilidade (STEIN et al., 1994). 61 Em registros contínuos durante períodos curtos, a potência total se decompõe em três bandas distintas: 1) banda de alta frequência (HF), oscilando a uma frequência de 0,15 a 0,40 Hz, ou seja, 9-24 ciclos/min e correspondendo às variações da frequência cardíaca relacionadas com o ciclo respiratório, a chamada arritmia sinusal respiratória. São tipicamente moduladas pelo parassimpático; 2) banda de baixa frequência ou LF (0,04 a 0,15 Hz ou 2,4 a 9 ciclos/min), modulada tanto pelo simpático quanto pelo parassimpático, com predominância simpática em algumas situações específicas, e que reflete as oscilações do sistema barorreceptor; 3) banda de muito baixa frequência ou VLF (0,003 a 0,04 Hz ou 0,2 a 2,4 ciclos/min), dependente dos mecanismos termorreguladores e do sistema reninaangiotensina, cuja regulação também é efetuada pelo simpático e parassimpático. A tabela 3 associa as bandas aos seus respectivos sistemas e modulação autonômica. Tabela 3: Parâmetros da VFC no domínio da frequência com respectivos sistemas associados e modulação autonômica. Parâmetro Sistema Modulação Banda VLF (0,2 a 2,4 ciclos/min) termorregulação e sra simpático e parassimpático Banda LF (2,4 a 9 ciclos/min) barorreflexo simpático e parassimpático Banda HF (9 a 24 ciclos/min) arritmia sinusal respiratória parassimpático SRA = sistema renina-angiotensina; VLF = very low frequence; LF = low frequence; HF = high frequence 62 A medida dos componentes espectrais habitualmente é feita em valores absolutos de potência (ms2). Entretanto, os valores de HF e LF podem também ser expressos em unidades normalizadas (nu), representando o valor de cada um destes componentes em relação à potência total (TP) menos o componente de VLF. São calculados por meio das seguintes fórmulas: HF(nu) = HF/(TP – VLF) x100 e LF(nu) = LF/(TP – VLF) x100. Com isto, os efeitos das alterações na faixa de VLF sobre as outras duas de frequências mais rápidas (LF e HF) são minimizados. A representação de LF e HF em unidades normalizadas enfatiza a modulação balanceada e controlada dos dois componentes do sistema nervoso autônomo. Outra medida muito utilizada é a relação LF/HF, a qual pode fornecer informações úteis sobre balanço entre os sistemas simpático e parassimpático (RASSI, 2012; STEIN et al., 1994). A tabela 4 apresenta as variáveis da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência com suas respectivas descrições, unidades e bandas de frequência. 63 Tabela 4: Parâmetros da variabilidade da frequência cardíaca no domínio da frequência com respectivas unidades, descrições e bandas de frequência em análise de registros em 5 minutos (min) conforme Task Force of the European Society of Cardiology and the North American Society of Pacing and Electrophysiology (1996). Parâmetro potência em 5 min Unidade total Frequência (Hz) Descrição ms2 variância de intervalos RR durante o segmento temporal VLF ms2 potência na banda VLF (termorregulação e SRA) LF ms2 potência na (barorreflexo) LF normalizada nu HF ms2 HF normalizada nu LF/HF banda ≈ ≤ 0,4 0,003 - 0,04 LF 0,04 - 0,15 potência de LF em unidades normalizadas LF / (potência total - VLF) x 100 potência na banda HF (ciclo respiratório) potência de HF em unidades normalizadas HF / (potência total - VLF) x 100 LF [ms2] / HF [ms2] (nível do tônus autonômico) SRA = sistema renina-angiotensina 0,15 - 0,40 64 A figura 14 evidencia o procedimento de normalização das potências nas bandas LF e HF de acordo com Task Force of the European Society of Cardiology and the North American Society of Pacing and Electrophysiology (1996). Banda de baixa frequência (LF): 0,04 a 0,15 Hz (barorreflexo = simpático e parassimpático) Banda de alta frequência (HF): 0,15 a 0,40 Hz (ciclo respiratório = parassimpático) REPOUSO TILT Teste Figura 14: Análise espectral da VFC em indivíduo saudável, em repouso e durante “Tilt Teste” (inclinação de 90°). O gráfico “pizza” mostra a distribuição relativa dos componentes LF e HF em unidades normalizadas de potência. No exemplo, a potência absoluta do componente LF estava discretamente aumentada durante o “Tilt Teste”, enquanto em unidades normalizadas o LF apresentou-se substancialmente aumentado. Fonte: retirado de Task Force of the European Society of Cardiology and the North American Society of Pacing and Electrophysiology (1996) 65 3.4. Análise estatística Desde que os dados por grupo de estudo não passaram no teste de normalidade, D'Agostino & Pearson omnibus normality test (valor de p < 0,05 significou que não passou no teste), cada grupo foi analisado por distribuição não Gaussiana e os resultados foram expressos em mediana e intervalo interquartil. Nós utilizamos testes não paramétricos, coeficiente de correlação de postos de Spearman (ρ) e teste U de Mann-Whitney, para estudar a relação entre os índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) e as seguintes variáveis: espessura médio-intimal (EMI) carotídea, placa carotídea bilateral, placa carotídea unilateral, placa carotídea ecogênica, placa carotídea ecoluscente, grau de aterosclerose carotídea (escore), espessura médio-intimal (EMI) da artéria subclávia direita, placa subclávia direita, idade, sexo, hipertensão, IMC, LDL-colesterol e diabetes mellitus. Utilizamos a curva ROC (“receiver operating characteristic”) para avaliar o desempenho diagnóstico (sensibilidade, especificidade e acurácia) dos índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) em comparação com parâmetros ultrassonográficos das artérias carótidas e artéria subclávia direita. (*) Valor de p < 0,05 foi considerado significante; (**) p < 0,01 resultados altamente significantes; NS: não significante. Os procedimentos estatísticos foram realizados utilizando-se o software GraphPad PRISM versão 6.0a. Foi utilizada estatística descritiva para apresentar os dados. 66 4. RESULTADOS 4.1. Dados clínicos Foram recrutados 32 indivíduos, dos quais 2 foram excluídos do estudo, um devido a presença de fibrilação atrial (FA) e outro por apresentar FA e fração de ejeção (FE) < 45%. Foram avaliados 30 pacientes, 15 (50%) do sexo masculino e 15 (50%) do feminino, com média de 57 anos (23 a 87 anos), dos quais 14 (46,6%) eram hipertensos, 9 (30%) obesos, 7 (23,3%) diabéticos, 5 (16,6%) apresentavam colesterol LDL > 160 mg/dL e 4 (13,3%) eram fumantes. Todos os sujeitos incluídos no estudo apresentaram fração de ejeção (FE) do ventrículo esquerdo normal ao ecocardiograma transtorácico (FE NL > 0,58). As tabelas 5 e 6 apresentam as características demográficas e clínicas da amostra. Tabela 5: Características demográficas e clínicas da amostra (n = 30). Características Média DP 57 17,8 IMC (Kg/m ) 27 5 Colesterol total (mg/dL) 188 54 Colesterol LDL (mg/dL) 113 50 Colesterol HDL (mg/dL) 46 7,4 Triglicerídeos (mg/dL) 144 88 FE do ventrículo esquerdo 0,66 0,04 EMI carotídea média (mm) 0,83 0,22 EMI carótida comum direita (mm) 0,86 0,28 EMI carótida comum esquerda (mm) 0,87 0,37 EMI da artéria subclávia direita (mm) 0,89 0,23 Idade (anos) 2 Parâmetros das artérias carótidas e subclávia direita DP - desvio padrão; IMC - índice de massa corpórea; LDL - low-density lipoprotein; HDL - high-density lipoprotein; FE - fração de ejeção; EMI - espessura da camada médio-intimal 67 Tabela 6: Características clínicas da amostra (n = 30). Característica N % Prevalência EMI carotídea média ≥ 0,8 mm 16 53,5 Prevalência de estenose carotídea 16 53,5 Estenose carotídea unilateral 2 6,8 Estenose carotídea bilateral 14 46,7 Placa carotídea ecogênica 12 40,0 Placa carotídea ecoluscente 4 13,5 Prevalência EMI da artéria subclávia direita ≥ 0,8 mm 24 81,0 Prevalência de estenose da artéria subclávia direita 17 56,5 N - número de indivíduos; EMI - espessura da camada médio-intimal As principais características clínicas da amostra estão apresentadas conforme gráfico da figura 15. 50 40 % 30 20 10 s H ip er O be te n so so s os ic D ia bé t > Lc LD Fu m an te 16 0 s 0 Figura 15: Características clínicas da amostra. LDLc > 160 mg/dL é considerado alto independente do número de fatores de risco ou da estimativa de risco para eventos em 10 anos pelos critérios de Framingham. LDL colesterol: lipoproteína de baixa densidade. 68 4.2. Avaliação das artérias carótidas e subclávia direita Placa de carótida ou subclávia foi definida como a presença de região focal com espessura médio-intimal (EMI) ≥ 1,5 mm. Para a variável EMI de carótida ou subclávia foram consideradas as medidas de espessura médio-intimal em local de ausência de placa, considerando-se como padrão de referência no diagnóstico de EMI aumentada valores ≥ 0,8 mm e < 1,5 mm. A espessura médio-intimal carotídea ≥ 0,8 mm (0,83±0,22) foi encontrada em 16 pacientes (53,5%), sendo < 0,8 mm em 14 indivíduos (46,5%), conforme ilustrado na figura 16. A variável espessura médio-intimal (EMI) da carótida comum esquerda (0,87±0,37) foi ligeiramente maior em comparação ao lado direito (0,86±0,28). A prevalência de estenose carotídea ao nível do bulbo foi de 53,5% (16 sujeitos), sendo 46,7% de estenoses bilaterais (14 indivíduos), 6,8% de estenoses unilaterais (2 sujeitos), e ausência de estenose em 14 indivíduos (46,5%). Placas carotídeas ecogênicas foram observadas em 12 sujeitos (40%), e placas ecoluscentes em 4 indivíduos (13,5%). A distribuição dos pacientes de acordo com o escore total de aterosclerose carotídea (AC), usado para estimar a gravidade da AC, 0 a 6 somando-se os dois lados, pode ser observada na figura 17. No nosso estudo todos os pacientes com escore total maior que 1 apresentaram estenose carotídea bilateral. EMI ≥ 0.8mm EMI < 0.8mm Total=30 Figura 16: Prevalência da EMI carotídea média ≥ 0.8mm: 53,5%. 69 n° sujeitos 15 46,5% 10 16,7% 5 13,4% 10% 6,7% 6,7% 0 0 1 2 3 4 5 6 escore Figura 17: Distribuição dos pacientes de acordo com a gravidade da aterosclerose carotídea (escore total). Escore 0: sem estenose; escore 1: estenose < 50%; escore 2: estenose entre 50 e 70%; escore 3: estenose > 70%. O escore total (eixo x) é a soma dos escores das carótidas direita e esquerda. A artéria subclávia direita apresentou espessura médio-intimal (EMI) 0,89±0,23, computadas as medidas abaixo de 1,5 mm, desconsiderando-se as medidas ≥ 1,5 mm, classificadas separadamente como estenose da artéria subclávia (escore > 0). A prevalência de EMI ≥ 0,8 mm na artéria subclávia direita foi de 81% (24 indivíduos; figura 18). Estenose da artéria subclávia direita foi observada em 17 sujeitos (56,5%). EMI ASD ≥ 0.8mm EMI ASD < 0.8mm Total=30 Figura 18: Gráfico demonstrando a prevalência de indivíduos com espessura médio-intimal da artéria subclávia direita (EMI ASD) ≥ 0,8 mm (81%). 70 Uma correlação positiva significativa foi encontrada entre a espessura médiointimal das artérias carótidas e da artéria subclávia direita: coeficiente de correlação de Spearman ρ = 0,73, IC 95% (0,50 a 0,86), ** p < 0,0001. A presença de placa carotídea correlacionou-se positiva e significativamente com placa na artéria subclávia direita: ρ = 0,66, IC 95% (0,39 a 0,83), ** p = 0,0001. Do total de portadores de placas ateroscleróticas (19), 3 indivíduos apresentavam placas exclusivamente nas artérias subclávias direitas, e 2 sujeitos apresentavam placas nas artérias carótidas exclusivamente; os demais sujeitos apresentavam placas concomitantemente em carótidas e subclávia direita (14 sujeitos). As figuras 19 a 29, ilustram exemplos de exames de ecografia das artérias carótidas e da artéria subclávia direita do estudo, evidenciando imagens em modo B, medida automática da espessura médio-intimal (EMI) por meio do Software Q-LAB, a metodologia de estratificação das estenoses, modo duplex, modo tríplex (modo B + color Doppler + Doppler pulsado), Color Doppler e Color Power Angio. Figura 19: Ecografia modo B em corte longitudinal. Avaliação da espessura médio-intimal (EMI) pelo Software Q-LAB PHILIPS ao nível da carótida comum distal (seta), distância média entre as linhas tracejadas em azul, em um paciente com EMI normal (0,45 mm); CCE: carótida comum esquerda. 71 Figura 20: Ecografia modo B de carótida em corte longitudinal. Avaliação da espessura médio-intimal (EMI) pelo Software Q-LAB PHILIPS ao nível da carótida comum distal (seta), distância média entre as linhas tracejadas em azul, em um paciente com EMI aumentada (0,9 mm). Figura 21: Ecografia modo B de carótida em corte longitudinal. Avaliação da espessura médio-intimal (EMI) pelo Software Q-LAB PHILIPS ao nível da carótida comum distal (seta), distância média entre as linhas tracejadas em azul, em um paciente com EMI aumentada (1,2 mm); CCD: carótida comum direita. 72 Figura 22: Ecografia modo B de carótida em corte longitudinal. EMI > 1,5 mm, caracterizando placa no bulbo carotídeo (seta), ecoluscente, tipo 1 de Gray-Weale, levando à estenose em torno de 70%; ACCD: artéria carótida comum direita; ACID: artéria carótida interna direita; ACED: artéria carótida externa direita. Figura 23: Ecografia Modo B e Color Doppler evidenciando placa aterosclerótica ecogênica tipo 4, localizada na porção proximal da carótida interna (seta), apresentando aceleração do fluxo no local da placa (mosaico de cores). Estenose hemodinamicamente significativa (≥60%). 73 Figura 24: Ecografia Modo B e Color Power Angio (CPA) evidenciando placa aterosclerótica ecoluscente tipo 1, localizada na porção proximal da carótida interna ou bulbo (seta). Estenose significativa, em torno de 70%. Figura 25: Ecografia duplex de carótida, modo B e Color Power Angio (CPA), evidenciando ausência de placa aterosclerótica na porção proximal da carótida interna (seta). 74 Figura 26: Ecografia duplex de carótida, modo B e Color Power Angio (CPA), evidenciando placa ecoluscente tipo 2 de Gray-Weale, causando estenose de aproximadamente 60% pelos critérios ECST (seta), localizada na porção proximal da carótida interna. Figura 27: Ecografia duplex de carótida, modo B e Color Power Angio (CPA), evidenciando estenose grave, acima de 80% (seta), localizada na porção proximal da carótida interna, causada por placa ecogênica calcificada tipo 4/5 de Gray-Weale. 75 Figura 28: Ecografia tríplex de carótida (modo B + color Doppler + Doppler pulsado), demonstrando velocidades aumentadas ao Doppler pulsado (seta) no local da placa aterosclerótica, localizada no bulbo (estenose > 80%, mesmo paciente da figura 27). Figura 29: Ecografia duplex (modo B + color Doppler) ao nível da emergência da artéria subclávia direita (seta), evidenciando espessamento da camada médio-intimal subclávia (espessura médiointimal [EMI] = distância entre as linhas tracejadas em amarelo = 1,4 mm no exemplo). 76 4.3. Avaliação da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) foi avaliada no domínio da frequência. A VFC no domínio da frequência em curtos períodos apresenta três bandas dominantes: frequência muito baixa (VLF) 0,003 - 0,04 Hz, baixa frequência (LF) entre 0,04 - 0,15 Hz e alta frequência (HF) entre 0,15 - 0,40 Hz. Na amostra estudada optamos pelos resultados das respectivas variáveis no domínio da frequência analisados pelo método não paramétrico Fast Fourier Transform (FFT). A tabela 7 apresenta a estatística descritiva dos índices no domínio da frequência em repouso, 1000 intervalos RR consecutivos. Tabela 7: Estatística descritiva dos índices no domínio da frequência: 1000 batimentos consecutivos em repouso (n = 30). O valor de P refere-se ao teste de normalidade. Colunas1 Min Q1 Mediana VLF (ms2) 49 165,3 Max Média P Soma 434,5 599,3 1962 473,6 417,3 76,2 <0,0001 14207 21,9 43,6 53,1 68,5 94,8 56,0 17,1 3,2 0,7393 1623 LF (ms2) 13 67,5 148,5 267,5 1437 280,1 383,1 69,9 <0,0001 8402 LF (%) 4,4 20,5 26,1 31,7 48,5 25,5 9,7 1,8 0,8637 766,2 LF nu 26,2 48,9 67 73,0 90,4 62,3 17,1 3,1 0,4662 1870 2 52,5 83,5 127 1520 180,5 330,1 60,3 <0,0001 5414 HF (%) 0,8 7,9 13,5 28,0 45,4 18,0 12,8 2,3 0,1684 539,6 HF nu 9,6 27,1 33 51,1 73,8 37,7 17,1 3,1 0,4662 1130 TP 138 312,3 683,5 937,8 4387 934 1021 186,5 <0,0001 28021 LF/HF 0,4 1,0 2,01 VLF% HF (ms2) Q3 2,7 9,4 2,4 DP 2,2 EP 0,4 <0,0001 73,1 Min - valor mínimo; Q1 - primeiro quartil; Q3 - terceiro quartil; Max - valor máximo; DP - desvio padrão; EP - erro padrão; TP - potência total. Desde que os dados por grupo de estudo não passaram no teste de normalidade (D'Agostino & Pearson omnibus normality test), os resultados foram expressos em mediana e intervalo interquartil. Em evidência os seguintes índices no 77 domínio da frequência, resultados foram mediana e intervalo interquartil: TP (ms2), 683 [312-937] ** p < 0,0001; VLF (ms2), 434 [165-599] ** p < 0,0001; LF (ms2), 148 [67-267] ** p < 0,0001; HF (ms2), 83 [52-127] ** p < 0,0001; LF/HF, 2,0 [0,97-2,7] ** p < 0,0001. A figura 30 apresenta gráfico das principais variáveis no domínio da frequência, dados calculados a partir de 1000 batimentos consecutivos em repouso. ** P < 0,0001 5000 ms2 4000 3000 2000 1000 0 TP VLF (ms2 ) LF (ms 2 ) HF (ms2 ) Figura 30: Índices no domínio da frequência, 1000 batimentos consecutivos em repouso, resultados 2 2 foram mediana e intervalo interquartil: TP (ms ), 683 [312-937] **p < 0,0001; VLF (ms ), 434 [1652 2 599] **p < 0,0001; LF (ms ), 148 [67-267] **p < 0,0001; HF (ms ), 83 [52-127] **p < 0,0001. O valor de p refere-se ao teste de normalidade (D'Agostino & Pearson omnibus normality test) e menor que 0,05 significa que não passou o teste. TP - potência total. As representações gráficas dos intervalos RR em relação ao tempo (tacograma) de dois sujeitos do estudo são apresentadas nas figuras 31 e 32. 78 RR (s) Tempo (h:min:s) Figura 31: Representação gráfica dos intervalos RR em relação ao tempo (tacograma) de um sujeito normal, sem espessamento médio-intimal carotídeo ou subclávio, com ausência de placa de ateroma. A decomposição em seus diferentes componentes de frequência (FFT) evidenciou: potência na 2 2 2 banda LF = 1457 ms ; potência na banda HF = 2024 ms e potência total (TP) = 6815 ms . RR (s) Tempo (h:min:s) Figura 32: Representação gráfica dos intervalos RR em relação ao tempo (tacograma) de um sujeito apresentando aterosclerose grave, com estenose carotídea bilateral, maior à direita (80%). A decomposição em seus diferentes componentes de frequência (FFT) evidenciou índices 2 2 acentuadamente reduzidos: potência na banda LF = 7 ms ; potência na banda HF = 9 ms e potência 2 total (TP) = 220 ms . RR (s): intervalos RR em segundos. FFT: fast Fourier transform. 79 4.4. Correlação entre variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência e parâmetros das artérias carótidas Utilizamos teste não paramétrico, coeficiente de correlação de postos de Spearman (ρ), para estudar a correlação entre os índices no domínio da frequência e as variáveis: espessura médio-intimal (EMI) da artéria carótida comum direita, EMI da artéria carótida comum esquerda, EMI média das artérias carótidas comuns, EMI carotídea média, maior EMI das artérias carótidas comuns, placa carotídea, placa carotídea ecogênica, placa carotídea ecoluscente, placa carotídea unilateral, placa carotídea bilateral e escore total de estenose carotídea. (*) Valor de p < 0,05 foi considerado significante; (**) p < 0,01 resultados altamente significantes; NS: não significante. Os resultados da correlação de Spearman entre espessura médio-intimal (EMI) da artéria carótida comum esquerda e índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência são apresentados na tabela 8. 80 Tabela 8: Correlação não paramétrica de Spearman (ρ): espessura médio-intimal (EMI) da carótida comum esquerda versus VFC no domínio da frequência (1000 batimentos consecutivos em repouso). Parâmetro P Números pares XY Spearman ρ IC 95% P (bicaudal) VLFHz 30 0,04 -0,33 a 0,40 0,8351 VLF (ms2) 30 -0,52 -0,75 a -0,19 0,0028 * VLF (%) 30 0,13 -0,26 a 0,48 0,504 LF (Hz) 30 -0,30 -0,60 a 0,08 0,1085 LF (ms2) 30 -0,52 -0,75 a -0,18 0,0032 * LF (%) 30 -0,43 -0,69 a -0,08 0,016 * LF nu 30 -0,24 -0,56 a 0,14 0,2019 HF (Hz) 30 0,09 -0,28 a 0,45 0,6126 HF (ms2) 30 -0,28 -0,59 a 0,09 0,1298 HF (%) 30 0,08 -0,29 a 0,43 0,6745 HF nu 30 0,24 -0,14 a 0,56 0,2019 TP 30 -0,53 -0,75 a -0,20 0,0025 * LF/HF 30 -0,25 -0,57 a 0,13 0,1789 * correlação significativa Correlação negativa significativa foi identificada entre espessura médio-intimal (EMI) da artéria carótida comum esquerda e índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) que refletem o barorreflexo e as flutuações da modulação autonômica: LF (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,52, IC 95% (0,75 a -0,19), ** p = 0,003; LF (%), ρ = -0,43, IC 95% ( -0,69 a -0,07), * p = 0,01; TP (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,53, IC 95% (-0,75 a -0,20), ** p = 0,002; VLF (ms2), ρ = -0,52, IC 95% (-0,75 a -0,19), ** p = 0,003. Nenhuma correlação significativa foi encontrada referente a HF (ms2) (NS p = 0,12) e LF/HF (NS p = 0,17). Uma correlação negativa mais fraca foi encontrada entre EMI da artéria carótida comum direita e VFC no domínio da frequência: LF (ms2), ρ = -0,41, 81 IC 95% (-0,68 a -0,05), * p = 0,02; TP (ms2), ρ = -0,38, IC 95% (-0,65 a -0,01), * p = 0,04. Uma correlação negativa significativa foi identificada entre a maior espessura médio-intimal (EMI) das artérias carótidas comuns e índices de VFC que refletem o barorreflexo e as flutuações da modulação autonômica: LF (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,51, IC 95% (-0,74 a -0,17), ** p = 0,004; LF (%), ρ = -0,49, IC 95% (-0,73 a -0,15), ** p = 0,005; TP (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,48, IC 95% (-0,72 a -0,13), ** p = 0,006; VLF (ms2), ρ = -0,43, IC 95% (-0,69 a -0,07), * p = 0,02. Nenhuma correlação significativa foi encontrada referente a HF (ms2) (NS p = 0,24) e LF/HF (NS p = 0,12). Uma correlação negativa significativa foi encontrada entre espessura médiointimal (EMI) média das artérias carótidas comuns e VFC no domínio da frequência: TP (ms2), ρ = -0,46, IC 95% (-0,71 a -0,11), ** p= 0,001; LF (ms2), ρ = -0,48, IC 95% (-0,72 a -0,14), ** p= 0,006; LF (%), ρ = -0,47, IC 95% (-0,72 a -0,13), ** p= 0,007. Nenhuma correlação significativa foi encontrada referente a HF (ms2) (NS p = 0,09) e LF/HF (NS p = 0,32). Correlação negativa significativa foi encontrada entre espessura médio-intimal (EMI) carotídea média e os índices de VFC no domínio da frequência: TP (ms2), ρ = -0,48, IC 95% (-0,72 a -0,13), ** p = 0,007; LF (ms2), ρ = -0,47, IC 95% (-0,71 a 0,12), ** p= 0,007; LF (%), ρ = -0,40, IC 95% (-0,67 a -0,04), * p= 0,02; VLF (ms2), ρ = -0,44, IC 95% (-0,69 a -0,08), * p = 0,01. Nenhuma correlação significativa foi encontrada referente a HF (ms2) (NS p = 0,39) e LF/HF (NS p = 0,10). A presença de placa carotídea, independentemente do grau de estenose ou lateralidade, correlacionou-se negativamente com os seguintes índices de VFC no domínio da frequência: LF (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,48, IC 95% (-0,72 a -0,14), ** p = 0,006; LF (%), ρ = -0,40, IC 95% (-0,67 a -0,04), * p = 0,02; TP (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,49, IC 95% (-0,73 a 0,15), ** p = 0,005; VLF (ms2), ρ = -0,41, IC 95% (-0,68 a -0,05), * p = 0,02. Nenhuma correlação significativa foi encontrada referente a HF (ms2) (NS p = 0,22) e LF/HF (NS p = 0,11). A correlação da variável estenose carotídea bilateral versus variabilidade da frequência cardíaca (VFC), domínio da frequência, evidenciou: LF (ms2), ρ = -0,45, IC 95% (-0,70 a 0,09), * p= 0,01; LF (%), ρ = -0,40, IC 95% (-0,67 a -0,04), * p= 0,02; TP (ms2), ρ = -0,42, IC 95% (-0,68 a -0,06), * p = 0,01. Nenhuma correlação 82 significativa foi encontrada referente a VLF (ms2) (NS p = 0,05), HF (ms2) (NS p = 0,41) e LF/HF (NS p = 0,09). Ao contrário, não se evidenciou correlação significativa entre a variável placa carotídea unilateral e VFC no domínio da frequência: LF (ms2) NS p = 0,71; LF (%) NS p = 1,00; HF (ms2) NS p = 0 ,43; TP (ms2) NS p = 0,46; VLF (ms2) NS p = 0,56; LF/HF NS p = 0,80. A correlação identificada entre a variável “escore total” de estenose carotídea (estimativa da gravidade da AC) e variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência: LF (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,43, IC 95% (-0,69 a -0,07), * p = 0,01; TP (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,44, IC 95% (-0,69 a -0,08), * p = 0,01; VLF (ms2), ρ = -0,39, IC 95% (-0,66 a 0,02), * p = 0,03. Nenhuma correlação significativa foi encontrada referente a HF (ms2) (NS p = 0,63) e LF/HF (NS p = 0,056). A correlação da variável placa carotídea ecogênica versus variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência mostrou: LF (ms2), ρ = -0,51, IC 95% (-0,74 a -0,17), ** p = 0,004; LF (%), ρ = -0,42, IC 95% (-0,68 a -0,06), * p = 0,02; TP (ms2), ρ = -0,43, IC 95% (-0,69 a -0,07), * p = 0,01; VLF (ms2), ρ = -0,40, IC 95% (-0,67 a -0,04), * p = 0,02; LF/HF, ρ = -0,44, IC 95% (-0,69 a -0,08), * p = 0,01. Nenhuma correlação significativa foi encontrada relativo a HF (ms2) (NS p = 0,80). Ao contrário, não detectou-se correlação significativa entre a variável placa carotídea ecoluscente e VFC no domínio da frequência: LF (ms2) NS p = 0,90; LF (%) NS p = 0,95; HF (ms2) NS p = 0,15; TP (ms2) NS p = 0,59; VLF (ms2) NS p = 0,90; LF/HF NS p = 0,27. 4.5. Correlação entre variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência e parâmetros da artéria subclávia direita Empregamos teste não paramétrico, coeficiente de correlação de postos de Spearman (ρ), para estudar a associação entre os índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência e as variáveis: espessura médio-intimal (EMI) subclávia e placa da artéria subclávia direita. (*) Valor de p < 0,05 foi considerado significante; (**) p < 0,01 resultados altamente significantes; NS: não significante. 83 Os resultados da correlação de Spearman entre espessura médio-intimal (EMI) da artéria subclávia direita e índices de VFC no domínio da frequência são apresentados na tabela 9. Tabela 9: Correlação não paramétrica de Spearman (ρ): espessura médio-intimal (EMI) da artéria subclávia direita versus VFC no domínio da frequência (1000 batimentos consecutivos em repouso). Colunas1 Números pares XY Spearman ρ IC 95% P (bicaudal) VLF (Hz) 30 -0,10 -0,45 a 0,27 0,5938 VLF (ms2) 30 -0,45 -0,70 a -0,10 0,0119 * VLF (%) 30 0,29 -0,09 a 0,60 0,1242 LF (Hz) 30 -0,51 -0,74 a -0,17 0,0038 * LF (ms2) 30 -0,60 -0,79 a -0,30 0,0004 * LF (%) 30 -0,49 -0,73 a -0,15 0,0051 * LF nu 30 -0,16 -0,50 a 0,21 0,3743 HF (Hz) 30 -0,12 -0,47 a 0,26 0,5215 HF (ms2) 30 -0,39 -0,66 a -0,02 0,0318 * HF (%) 30 -0,02 -0,39 a 0,34 0,8788 HF nu 30 0,16 -0,21 a 0,50 0,3743 TP 30 -0,58 -0,78 a -0,26 0,0008 * LF/HF 30 -0,18 -0,51 a 0,20 0,3401 * correlação significativa Uma correlação negativa significativa foi encontrada entre espessura médiointimal (EMI) da artéria subclávia direita e índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência: LF (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,60, IC 95% (-0,79 a -0,30), ** p = 0,0004; LF (%), ρ = -0,49, IC 95% (-0,73 a -0,15), ** p = 0,005; TP (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,58, IC 95% (-0,78 a -0,26), ** p = 0,0008; HF (ms2), ρ = -0,39, IC 95% (-0,66 a 84 -0,02), * p = 0,03; VLF (ms2), ρ = -0,45, IC 95% (-0,70 a -0,10), * p = 0,01. Nenhuma correlação significativa foi encontrada relativo a LF/HF (NS p = 0,34). Uma correlação negativa significativa foi encontrada entre a presença de placa na artéria subclávia direita e índices de variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência: LF (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,52, IC 95% (-0,75 a -0,19), ** p = 0,002; LF (%), ρ = -0,44, IC 95% (-0,69 a 0,08), * p = 0,01; TP (ms2), coeficiente de correlação de Spearman ρ = -0,54, IC 95% (-0,75 a -0,21), ** p = 0,002; HF (ms2), ρ = -0,40, IC 95% (-0,67 a -0,04), * p = 0,02; VLF (ms2), ρ = -0,42, IC 95% (-0,68 a -0,06), * p = 0,02. Nenhuma correlação significativa foi encontrada relativo à razão LF/HF (NS p = 0,69). Os gráficos das figuras 33 e 34 apresentam os valores das correlações entre espessura médio-intimal (EMI) da artéria carótida ou artéria subclávia direita e os índices de variabilidade da frequência cardíaca: potência na banda de baixa frequência (LF) ms2, HF (ms2) ou LF/HF. Figura 33: Correlação de Spearman (ρ) negativa significativa entre espessura médio-intimal (EMI) da 2 artéria carótida ou subclávia direita e a potência na banda LF (ms ) (sensibilidade barorreflexa). ** p < 0.01: altamente significante. 85 Figura 34: Correlação de Spearman (ρ) entre espessura médio-intimal e tônus autonômico (índice LF/HF) ou tônus vagal (índice HF). Não houve correlação significativa (NS: não significativo). 4.6. Variabilidade da frequência cardíaca (VFC) no domínio da frequência e parâmetros clínicos Utilizamos coeficiente de correlação de postos de Spearman (ρ), para estudar a relação entre os índices de VFC no domínio da frequência e as variáveis: idade, hipertensão arterial sistêmica, LDL-colesterol, IMC e diabetes mellitus. Identificou-se correlação negativa significativa entre VFC no domínio da frequência e a idade: LF (ms2), coeficiente de correlação ρ = -0,72, IC 95% (-0,86 a 0,48), ** p < 0,0001; LF (%), ρ = -0,69, IC 95% (-0,84 a -0,43), ** p < 0,0001; TP (ms2), coeficiente de correlação ρ = -0,61, IC 95% (-0,80 a -0,32), ** p = 0,0003; HF (ms2), coeficiente de correlação ρ = -0,48, IC 95% (-0,72 a -0,14), ** p = 0,006. A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) foi menor no sexo feminino, todavia sem significância estatística em nosso estudo para as variáveis avaliadas (NS p > 0,05): LF (ms2), 86 vs. 155; valores são medianas. No presente estudo não se detectou correlação significativa entre hipertensão arterial e os índices de VFC no domínio da frequência: LF (ms2) (NS p = 0,08), HF (ms2) (NS p = 0,18), TP (ms2) (NS p = 0,16) e LF/HF (NS p = 0,29). A comparação dos parâmetros de VFC entre normotensos e hipertensos não foi estatisticamente significativa para as variáveis no domínio da frequência (NS p > 0,05). Não detectamos correlação significativa entre os índices de VFC no domínio da frequência e a presença de Diabetes Mellitus. A comparação dos parâmetros FFT 86 de VFC entre diabéticos e não-diabéticos não teve significância estatística para as variáveis avaliadas (NS p > 0,05). Não se evidenciou correlação significativa entre índice de massa corporal (IMC) e VFC no domínio da frequência: LF (ms2) NS p = 0,09; HF (ms2) NS p = 0,99; TP (ms2) NS p = 0,15; LF/HF NS p = 0,42. No nosso estudo, nenhuma correlação significativa foi detectada entre a variável LDL-colesterol e VFC no domínio da frequência: LF (ms2) NS p = 0,40; HF (ms2) NS p = 0,24; TP (ms2) NS p = 0,37; LF/HF NS p = 0,74. 4.7. Comparação dos parâmetros fast Fourier transform (FFT) entre controles e portadores de doença aterosclerótica extracraniana Utilizamos teste U de Mann-Whitney, para comparar os parâmetros FFT entre grupo controle e portadores de aterosclerose. A identificação de espessura médio-intimal carotídea aumentada (média ≥ 0,8 mm) associou-se à redução da potência na banda LF (ms2) (236 [133-895] vs. 111 [52-162], 53% menor, * p = 0,01), resultados foram valores de mediana e intervalo interquartil. Conforme gráfico box-and-whisker da figura 35. 236 vs. 111 : 53% menor, * p = 0,01 2000 LF ms2 1500 1000 500 0 EMICarNL EMICar≥0,8 Figura 35: Teste U de Mann-Whitney, * p < 0,05. Gráfico box-and-whisker evidenciando redução do 2 índice LF (ms ) quando da presença de espessura médio-intimal (EMI) carotídea média aumentada 2 (≥ 0,8mm); LF (ms ), 236 [133-895] vs. 111 [52-162], 53% menor, * p = 0,01. Resultados foram valores de mediana e intervalo interquartil. EMICarNL: espessura médio-intimal carotídea média normal (< 0,8mm). EMICar ≥ 0,8: EMI carotídea média ≥ 0,8 mm. 87 A identificação de placa aterosclerótica na artéria carótida (EMI ≥ 1,5 mm) associou-se à redução da potência na banda LF (ms2) (282 [133-895] vs. 111 [52162], 60% menor, ** p = 0,009), resultados foram valores de mediana e intervalo interquartil. Conforme gráfico box-and-whisker da figura 36. 282 vs. 111 : 60% menor, ** p = 0,009 2000 LF ms2 1500 1000 500 0 EstCar (-) EstCar (+) Figura 36: Teste U de Mann-Whitney, ** p < 0,01. Gráfico box-and-whisker evidenciando redução do 2 2 índice LF (ms ) quando da presença de placa na artéria carótida (EstCar +); LF (ms ), 282 [133-895] vs. 111 [52-162], 60% menor, ** p = 0,009. EstCar (-): ausência de estenose. Resultados foram valores de mediana e intervalo interquartil. A identificação de espessura médio-intimal da artéria subclávia direita aumentada (≥ 0,8 mm) associou-se à significativa redução da potência na banda LF (ms2) (332 [155-1274] vs. 160 [53-192], 52% menor, * p = 0,04), resultados foram valores de mediana e intervalo interquartil. Conforme gráfico box-and-whisker da figura 37. 88 332 vs. 160 : 52% menor, * p = 0,04 2000 LF ms2 1500 1000 500 0 EMI ASD <0,8 EMI ASD ≥0,8 Figura 37: Teste U de Mann-Whitney, * p < 0,05. Gráfico box-and-whisker evidenciando redução 2 significativa do índice LF (ms ) quando da presença de espessura médio-intimal (EMI) subclávia 2 aumentada (≥ 0,8mm); LF (ms ), 332 [155-1274] vs. 160 [53-192], 52% menor, * p = 0,04. Resultados foram valores de mediana e intervalo interquartil. EMI ASD: espessura médio-intimal da artéria subclávia direita. A identificação de placa aterosclerótica na artéria subclávia direita (EMI ≥ 1,5 mm) associou-se à drástica redução da potência na banda LF (ms2) (311 [148-1015] vs. 108 [45-183], 65% menor, ** p = 0,004); resultados foram valores de mediana e intervalo interquartil, conforme gráfico box-and-whisker da Figura 38. 311 vs. 108 : 65% menor, ** p = 0,004 2000 LF ms2 1500 1000 500 0 ASD sem Placa ASD com Placa Figura 38: Teste U de Mann-Whitney, ** p < 0,01. Gráfico box-and-whisker evidenciando redução 2 significativa do índice LF (ms ) quando da presença de placa na artéria subclávia direita (ASD); LF 2 (ms ), 311 [148-1015] vs. 108 [45-183], 65% menor, ** p = 0,004. Resultados foram mediana e intervalo interquartil. 89 4.8. Curva ROC A Curva ROC - Receiver Operating Characteristic - é um gráfico de sensibilidade ou taxa de verdadeiros positivos versus 1-especificidade ou taxa de falsos positivos, sendo ferramenta para medir e especificar o desempenho diagnóstico por permitir estudar a variação da sensibilidade e especificidade para diferentes valores de corte. A curva ROC permite evidenciar os valores para os quais existe maior otimização da sensibilidade em função da especificidade, que corresponde ao ponto que se encontra mais próximo do canto superior esquerdo do diagrama, uma vez que o índice de positivos verdadeiros é 1 e o de falsos positivos é zero. A curva ROC para LF (ms2), para a presença de placa aterosclerótica na artéria carótida, valor de corte foi 148 ms2, a sensibilidade, especificidade e área sob a curva foram, respectivamente, 0,75, 0,78 e 0,78 (área sob a curva [ASC], ** p = 0,009) (Figura 39). ASC ** p = 0,009 100 Sensibilidade% 80 LF 148 ms2 60 40 20 10 0 80 60 40 20 0 0 100% - Especificidade% 2 2 Figura 39: Curva ROC para LF (ms ), valor de corte 148 ms , repouso, 1000 batimentos. Valores 2 abaixo de 148 ms , tem sensibilidade, especificidade e área sob a curva, 0,75, 0,78 e 0,78 respectivamente (área sob a curva [ASC], ** p = 0,009), para a presença de placa na artéria carótida. 90 O índice LF (ms2) para a presença de placa aterosclerótica na artéria subclávia direita (EMI ≥ 1,5 mm), valor de corte foi 143 ms2, a sensibilidade, especificidade e área sob a curva foram, respectivamente, 0,71, 0,85 e 0,80 (área sob a curva [ASC], ** p = 0,004) (Figura 40). ASC ** p = 0,004 100 Sensibilidade% 80 LF 143 ms2 60 40 20 10 0 80 60 40 20 0 0 100% - Especificidade% 2 2 Figura 40: Curva ROC para LF (ms ), valor de corte 143 ms , repouso, 1000 batimentos. Valores 2 abaixo de 143 ms , tem sensibilidade, especificidade e área sob a curva, respectivamente, 0,71, 0,85 e 0,80 para a presença de placa aterosclerótica na artéria subclávia direita (área sob a curva [ASC], ** p = 0,004). 91 5. DISCUSSÃO O principal resultado do presente estudo é que o espessamento da camada médiointimal das artérias carótidas associou-se com significativa redução dos índices LF [ms2] (sensibilidade barorreflexa) e TP [ms2] (flutuações da modulação autonômica) da VFC. Este estudo é o primeiro a demonstrar que o índice LF (ms2), tradutor de sensibilidade barorreflexa (SBR), está significativamente reduzido na presença de aumento da espessura médio-intimal (EMI) carotídea. Concordantemente, EMI da artéria subclávia direita aumentada foi associada a acentuada redução dos mesmos índices, sendo o primeiro registro a demonstrar que a VFC traduzida por estes índices está diminuída na aterosclerose da artéria subclávia direita. Estas alterações da VFC podem ser causadas por diminuição da sensibilidade dos barorreceptores em suas adventícias (ROBERTSON; BIAGGIONI, 2012), que tem implicações na regulação autonômica e pode ter sido determinante para os nossos resultados. Nossos resultados indicaram que a presença de placa de ateroma em carótida (bulbo) ou na emergência da subclávia direita, significativamente associados com redução dos mesmos índices tradutores de sensibilidade barorreflexa (LF) e das flutuações da modulação autonômica (TP), não acompanhou-se de deterioração significativa desses índices em comparação com espessura médio-intimal (valores de mediana e intervalo interquartil). Estes achados não correspondem bem aos de Nasr et al. (2005), que relataram redução significativa da sensibilidade barorreflexa (SBR) exclusivamente na estenose carotídea bilateral, sem diminuição da SBR na estenose unilateral e na ausência de estenose. No mesmo estudo, apenas o componente HF da VFC, tradutor da arritmia sinusal respiratória e dependente da atividade vagal, demonstrou-se reduzido exclusivamente na presença de placa carotídea bilateral. Em nosso estudo o índice LF, tradutor de sensibilidade barorreflexa (GOLDSTEIN et al., 2011), e não HF, foi significativamente reduzido já na espessura médio-intimal aumentada (aterosclerose discreta), e manteve-se diminuído na presença da placa aterosclerótica carotídea constituída, independentemente da lateralidade, e na presença de placa da artéria subclávia direita. Nossos achados indicam sugestivo comprometimento da sensibilidade barorreflexa nesses pacientes, desde os estágios iniciais da doença aterosclerótica (EMI). Este resultado é consistente com o estudo anterior de 92 Gianaros et al. (2002) que relataram que a sensibilidade barorreflexa (SBR) já estava comprometida em pacientes com aumento da espessura da médio-íntima no bulbo carotídeo. A sensibilidade barorreflexa baixa pode ser causada pelo impacto da distensibilidade arterial diminuída sobre os barorreceptores. A aterosclerose pode contribuir para a SBR diminuída já nos estágios iniciais da aterosclerose carotídea (AC). O espessamento do complexo médio-intimal pode ser entendido como um fator que compromete a distensibilidade do vaso e, por conseguinte, a sensibilidade barorreflexa, principalmente se levarmos em conta a delgada camada muscular que constitui a parede da artéria carótida e artéria subclávia, se comparada à camada média de outras artérias. A disfunção barorreflexa pode explicar a VFC alterada nesses pacientes. Heistad et al. (1995) encontraram evidências de que a aterosclerose acarreta alterações estruturais nos vasos que significativamente altera os reflexos periféricos influenciando a pressão arterial e a regulação da frequência cardíaca (FC). É importante destacar que, investigações anteriores foram dirigidas ao estudo primariamente da sensibilidade barorreflexa na aterosclerose carotídea relativo a placas, cujo objetivo principal não era testar os índices de VFC. Ficaram claras as evidências de que a sensibilidade barorreflexa (SBR) acompanha o desenvolvimento e progressão das doenças cardiovasculares (DCV), mas devemos ressaltar que as técnicas utilizadas na avaliação da SBR são de valor limitado para uso na prática clínica, de alto custo e muitas invasivas. O índice LF da variabilidade da frequência cardíaca pode ser uma estimativa da SBR, de baixo custo e fácil obtenção. Nossos resultados apontaram para uma correlação negativa significativa entre espessura médio-intimal das artérias carótidas ou subclávia direita e índices de VFC que refletem o barorreflexo (LF) e as flutuações da modulação autonômica (TP). Esses mesmos índices foram significativamente correlacionados com placa carotídea ou subclávia, independentemente da gravidade da aterosclerose (escore). Esses achados indicam uma associação inversa entre atividade barorreflexa, dependente dos mecanorreceptores sensíveis a estiramento da parede do vaso, e aterosclerose precoce, traduzida pelo espessamento médio-intimal. Identificamos uma correlação negativa significativa entre placa carotídea ecogênica (maior rigidez) e os mesmos índices de VFC no domínio da frequência, e este achado é consistente, obviamente sob o ponto de vista da VFC, com o de Tsekouras et al. (2011), que estudaram 45 pacientes, e demonstraram que a estenose de carótida 93 ecogênica foi associada com significativa redução da sensibilidade barorreflexa (SBR), embora participaram do estudo somente pacientes com estenoses graves (70 a 99%). Em nosso estudo, aterosclerose carotídea bilateral, caracterizada por placas em ambas as carótidas, associou-se negativamente com os índices LF (ms2) e TP (ms2), o que não corresponde bem com o estudo de Nasr et al. (2005), que encontraram correlação negativa significativa entre HF e placas carotídeas bilaterais, e não LF. Embora, o LF tenha sido positivamente associado com SBR nesse estudo. Em contraste, não detectamos correlação significativa entre o índice HF, com ou sem ajuste para a potência total, ou a razão LF/HF e os parâmetros avaliados das artérias carótidas e subclávia direita, o que nos parece estar em acordo com a literatura atual (GOLDSTEIN et al., 2011), onde o índice HF refletiria a influência vagal no coração dependente da respiração. Acerca da razão LF/HF e balanço simpatovagal, as evidências por nós encontradas sugerem que o índice LF (ms2), por representar a alça barorreflexa e refletir tanto o componente simpático como o componente vagal, poderia traduzir o tônus autonômico, pois, quando diminuído indicaria hiperatividade simpática ou diminuição da atividade vagal (predomínio do tônus simpático), quando aumentado significaria hiperatividade vagal ou diminuição da atividade simpática (predomínio do tônus vagal). Portanto, nossos achados são sugestivos de desvio do tônus autonômico com predomínio do componente simpático. Em contraste, no presente estudo não evidenciamos correlação significativa entre variabilidade da frequência cardíaca (VFC) e presença de placa carotídea ecoluscente ou placa unilateral. O pequeno número de pacientes com essas características em nosso estudo pode ser a razão para os nossos resultados. No presente estudo concluímos por meio da curva ROC (Receiver Operating Characteristic) que o índice LF (ms2), é sensível, específico e tem boa acurácia (ASC p = 0,009 ) no diagnóstico de placa aterosclerótica da artéria carótida, valor de corte 148 ms2, em comparação com a ecografia vascular. Achado semelhante foi demonstrado para a artéria subclávia direita (corte 143 ms2; ASC p = 0,004). Tal evidência apoiou a ideia de se propor o índice LF (ms2) como um indicador adicional para avaliação ultrassonográfica das artérias carótidas e artéria subclávia direita em pacientes assintomáticos. A ultrassonografia duplex é uma técnica não invasiva, sensível, reprodutível, para identificar e quantificar as doenças vasculares, em particular a aterosclerótica, tendo como desvantagem ser operador dependente 94 (STEIN et al., 2008). Contudo, segundo consenso de várias sociedades (BROTT et al., 2011), a ultrassonografia duplex de carótida não é recomendada para triagem de rotina em pacientes assintomáticos que não tenham manifestação clínica de, ou fatores de risco para aterosclerose (Classe III; nível de evidência: C). Em nosso estudo concluímos que a avaliação ultrassonográfica da porção proximal da artéria subclávia direita, complementar ao exame das carótidas, é factível, e pode ser realizada com facilidade por localizar-se mais superficialmente que a artéria subclávia esquerda. A origem da artéria subclávia direita, por abrigar barorreceptores em sua adventícia (ROBERTSON; BIAGGIONI, 2012) e ser local preferencial para formação de placa aterosclerótica, potencialmente pode contribuir para disfunção barorreflexa, portanto, sua avaliação pode fornecer informação valiosa nesse sentido. Além disso, a forte associação entre aterosclerose das artérias carótidas e subclávia direita tem potenciais implicações quanto à modulação autonômica dependente da atividade barorreflexa. Em nosso trabalho, conforme realizado por Godoy et al. (2005), dedicamos atenção especial ao método de filtragem na análise da variabilidade da frequência cardíaca (VFC). A presença de batimentos ectópicos prematuros ou artefatos interfere na análise da VFC, comprometendo a confiabilidade dos índices obtidos, se eles não forem removidos. Assim, somente séries com mais de 95% de batimentos normais (sinusais) foram incluídas no estudo. Acreditamos que este seja um ponto importante com relação à análise da VFC, que pode influenciar os resultados. A maioria dos trabalhos selecionados não aborda com detalhes os procedimentos adotados para filtragem. Ainda, com relação a metodologia, os registros foram efetuados antes dos exames ultrassonográficos das artérias carótidas e subclávia, evitando-se assim a influência barorreflexa causada por compressão do seio carotídeo pelo transdutor no momento do exame, o que poderia interferir na análise da VFC. Embora nossos resultados tenham sido estatisticamente significativos relativo a associação entre aterosclerose carotídea ou da artéria subclávia direita, diminuição da sensibilidade barorreflexa (LF), diminuição das flutuações da modulação autonômica (TP) e desvio do balanço simpatovagal (essas alterações já estão presentes quando a aterosclerose é apenas discreta), nosso estudo populacional pode ter sido muito pequeno para detectar outras correlações clínicas relevantes. 95 Ainda que, nosso estudo não tenha sido desenhado para avaliar o significado clínico da modulação autonômica alterada associada com aterosclerose carotídea e subclávia, estas descobertas têm potenciais implicações clínicas. Existem evidências em nosso estudo que apontam para risco aumentado de eventos cardiovasculares agudos em portadores de doença cerebrovascular extracraniana aterosclerótica, independentemente do grau de estenose carotídea. A sugestiva sensibilidade barorreflexa (SBR) diminuída tem sido associada com variabilidade aumentada da pressão arterial sistólica, a qual é um fator de risco independente para acidente vascular cerebral (PRINGLE et al., 2003). Além disso, o sugestivo predomínio do tônus simpático (VFC diminuída na banda LF) poderia causar aumento da agregação plaquetária (TSEKOURAS et al., 2011), aumentar a frequência cardíaca, e assim elevar o risco de complicações como acidente vascular cerebral e outras doenças cardiovasculares (DCV), inclusive arritmias e morte. A medida desses índices de VFC, uma abordagem não invasiva, poderia ajudar a identificar pacientes com risco aumentado para eventos cerebrovasculares agudos. 96 6. CONCLUSÕES Nossos resultados sugerem que a doença aterosclerótica extracraniana carotídea e subclávia direita, desde os estágios iniciais (EMI), estão associadas com alteração da modulação autonômica cardíaca e diminuição da sensibilidade barorreflexa. O índice LF (ms2) pode ser um biomarcador funcional de risco para eventos cerebrovasculares agudos e um indicador adicional para avaliação ecográfica das artérias carótidas e subclávia direita. 97 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABILDSTROM, S.Z.; JENSEN, B.T.; AGNER, E. et al. Heart rate versus heart rate variability in risk prediction after myocardial infarction. J. Cardiovasc. Electrophysiol. 14(2):168-173, 2003. AKSELROD, S.; GORDON, D.; MADWED, J.B. et al. Hemodynamic regulation: investigation by spectral analysis. Am. J. Physiol., 249(4 Pt2):867-875, 1985. ARNOLD, A. M.; PSATY, B.M.; KULLER, L. H. et al. Incidence of cardiovascular disease in older Americans: the cardiovascular health study. J. Am. Geriatr. Soc. 53(2):211-218, 2005. BOTS, M. L.; HOES A. W.; KOUDSTAAL, P. J. et al. Common carotid intima-media thickness and risk of stroke and myocardial infarction: the Rotterdam Study. Circulation 96(5):1432-1437, 1997. BROTT, T. G.; HALPERIN, J. 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Eu, Dr. Luiz Flávio Franqueiro, diretor assistente do IACOR, médico CRM 44037, venho por meio do presente autorizar o mestrando em Bioengenharia da Universidade Camilo Castelo Branco, Valter Luis Pereira Júnior, médico ecocardiografista desta instituição CRM 61758, a realizar levantamento de dados junto ao Laboratório de Ecocardiografia e Ecografia Vascular, para o desenvolvimento da pesquisa científica intitulada Biomarcador Funcional para Doença Carotídea: a variabilidade da frequência cardíaca , sob a orientação do Prof. Dr. Ovidiu Constantin Baltatu, cujo resultado contribuirá para enriquecer os conhecimentos nas áreas de medicina e bioengenharia. Sem mais, Fernandópolis, 06 de fevereiro de 2012. Flavio Franqueiro Diretor Assistente do IACOR CRM 44037 107 ANEXO B - Autorização para uso do Laboratório de Ecografia Vascular AUTORIZAÇÃO PARA USO DO LABORATÓRIO DE ECOGRAFIA VASCULAR Ref.: Permissão para uso das dependências e equipamentos do Laboratório de Ecografia Vascular do IACOR. Eu, Dr. Luiz Flávio Franqueiro, diretor assistente do IACOR, médico CRM 44037, venho por meio do presente autorizar o mestrando em Bioengenharia da Universidade Camilo Castelo Branco, Valter Luis Pereira Júnior, médico ecocardiografista desta instituição, CRM 61758, a utilizar as dependências, equipamentos, inclusive o Ecógrafo modelo HD11 da marca PHILIPS, bem como os softwares relacionados, para o desenvolvimento da pesquisa científica intitulada Biomarcador Funcional para Doença Carotídea : a variabilidade da frequência cardíaca, sob a orientação do Prof. Dr. Ovidiu Constantin Baltatu, cujo resultado contribuirá para conhecimentos nas áreas de medicina e bioengenharia. Sem mais, Fernandópolis, 06 de fevereiro de 2012. Dr. Luiz Flávio Franqueiro RG: M2678899 - Médico Diretor Assistente do IACOR CRM 44037 enriquecer os 108 ANEXO C - Termo de Compromisso do Pesquisador TERMO DE COMPROMISSO DO PESQUISADOR Eu, Valter Luis Pereira Júnior, RG 9926213, médico, CRM 61758, pesquisador responsável pelo projeto intitulado Biomarcador Funcional para Doença Carotídea: a variabilidade da frequência cardíaca, sob a orientação do Prof. Dr. Ovidiu Constantin Baltatu, declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Resolução CNS 196/96 e suas complementares. Comprometo-me a utilizar os materiais e dados coletados exclusivamente para os fins previstos no protocolo e a publicar os resultados sejam eles favoráveis ou não. Aceito as responsabilidades pela condução científica do deste projeto. Tenho ciência que esse termo será anexado ao projeto devidamente assinado por todos os responsáveis e fará parte integrante da documentação do mesmo. Fernandópolis, 06 de fevereiro de 2012. Junior dico CRM 61758 RG: 9926213 / 109 ANEXO D - Solicitação de Permissão para uso do Laboratório de Ecografia Vascular do IACOR SOLICITAÇÃO DE PERMISSÃO PARA USO DO LABORATÓRIO DE ECOGRAFIA VASCULAR DO IACOR Fernandópolis, 06 de fevereiro de 2012. Ao Dr. Luiz Flávio Franqueiro Médico - Diretor Assistente do IACOR Ref.: Permissão para utilizar as dependências, equipamentos, inclusive o Ecógrafo modelo HD11 da marca PHILIPS, bem como softwares relacionados do Laboratório de Ecografia Vascular do IACOR. Tem o presente a finalidade de solicitar à V. Sª. permissão para o médico Valter Luis Pereira Júnior CRM 61758, membro do corpo clínico desta instituição denominada IACOR, mestrando em Bioengenharia da Universidade Camilo Castelo Branco, utilizar as dependências, equipamentos, inclusive o Ecógrafo modelo HD11 da marca PHILIPS, bem como softwares relacionados do Laboratório de Ecografia Vascular, para o desenvolvimento da pesquisa científica intitulada Biomarcador Funcional para Doença Carotídea: a variabilidade da frequência cardíaca, cujo resultado contribuirá para enriquecer os conhecimentos nas áreas de medicina e bioengenharia. Sem mais, e contando com vossa antecipadamente. presteza, agradeço 110 ANEXO E - Solicitação de Permissão para levantamento de dados no Laboratório de Ecografia Vascular do IACOR SOLICITAÇÃO DE PERMISSÃO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS NO LABORATÓRIO DE ECOGRAFIA VASCULAR DO IACOR Fernandópolis, 06 de fevereiro de 2012. Ao Dr. Luiz Flávio Franqueiro Médico - Diretor Assistente do IACOR Ref.: Permissão para realização de levantamento de dados junto ao Laboratório de Ecocardiografia e Ecografia Vascular do IACOR. Tem o presente a finalidade de solicitar à V. Sª permissão para o médico Valter Luis Pereira Júnior CRM 61758, membro do corpo clínico desta instituição denominada IACOR, mestrando em Bioengenharia da Universidade Camilo Castelo Branco, realizar levantamento de dados junto ao Laboratório de Ecocardiografia e Ecografia Vascular do IACOR, para o desenvolvimento da pesquisa científica intitulada Biomarcador Funcional para Doença Carotídea: a variabilidade da frequência cardíaca, cujo resultado contribuirá para enriquecer os conhecimentos nas áreas de medicina e bioengenharia. Sem mais, e contando com vossa presteza, agradeço antecipadamente. 111 ANEXO F - Termo de Aprovação do projeto pelo Comitê de Ética 112 ANEXO F - Termo de Aprovação do projeto pelo Comitê de Ética (cont.)