INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO Universidade Técnica de Lisboa ANÁLISE DA INTERFACE ENTRE ELEMENTOS DE PAREDE E CAMADAS DE REVESTIMENTO Sara Maria Garcia Gaspar Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Doutor Jorge Manuel Calico Lopes de Brito Orientador: Doutora Maria Cristina de Oliveira Matos Silva Orientador: Doutora Inês dos Santos Flores Barbosa Colen Vogal: Doutora Maria Paulina Santos Forte de Faria Rodrigues Outubro 2011 II ANÁLISE DA INTERFACE ENTRE ELEMENTOS DE PAREDE E CAMADAS DE REVESTIMENTO RESUMO A perda de aderência é uma das anomalias mais comuns nos rebocos das fachadas dos edifícios. Esta anomalia conduz ao destacamento do reboco do paramento, o que pode originar situações de perigo para quem circula na área. Por outro lado, sem o reboco, o paramento fica directamente exposto à acção dos agentes atmosféricos e, consequentemente, a sua degradação é acelerada. Assim, a aderência ao suporte é uma das propriedades que os revestimentos exteriores devem possuir para que as exigências de segurança na utilização e durabilidade dos edifícios, sejam cumpridas. Ao longo do tempo, têm sido levadas a cabo campanhas laboratoriais que visam aprofundar o conhecimento do mecanismo responsável pela aderência entre uma argamassa e um suporte poroso, e dos factores que o influenciam. Nestas campanhas recorre-se a análises microscópicas da interface entre a argamassa e o suporte, e/ou a ensaios experimentais de quantificação da aderência, como o ensaio pull-off, em ambiente de laboratório ou in-situ. Em laboratório não é possível simular todas as condições que afectam a aderência do reboco ao seu suporte e os ensaios in-situ são ou expeditos ou destrutivos. As ferramentas numéricas podem auxiliar o estudo da aderência, pois permitem introduzir factores que a afectam, num sistema parede/reboco em serviço. A presente dissertação tem como objectivo a identificação, com base numa recolha bibliográfica, dos factores que têm influência na aderência dos rebocos e a criação de um modelo numérico de um sistema reboco/parede que permita a introdução dos mesmos e a avaliação da sua influência na interface do referido sistema. O modelo numérico desenvolvido é competitivo dado que permite chegar às conclusões esperadas e simular todos os factores identificados. Estes podem ser introduzidos através da manipulação da malha de elementos finitos – caso da existência de fissuras no reboco e suporte – ou através da alteração de parâmetros numéricos referentes a uma camada de interface e que emula numericamente propriedades da aderência. Palavras-chave Aderência; Rebocos; Interface; Modelação numérica. III ANALYSES OF THE INTERFACE BETWEEN WALL ELEMENTS AND RENDER LAYERS ABSTRACT Adhesion loss is one of the most frequent defects of external renders. This defect cannot be neglected, because it leads to the detachment of render parts, which can cause hazardous situations to passersby; furthermore, the renders become directly exposed to the effects of atmospheric agents and, as a consequence, its degradation is accelerated. Therefore, adhesion strength is one of the mandatory properties of renders, so that construction works in which they are applied can meet the requirements of safety in use and durability. There have been several experimental studies to extend the knowledge of the adhesion mechanism between a mortar and its substrate and determine which factors can change that render property. In these studies, researchers often perform microscopic analyses of the interface of the system substrate/mortar and measure the strength of the interfacial bond, with pull-off tests performed in laboratory or in-situ – although its performance is limited due to the test destructive nature. In service there are many factors that can have an impact on the adhesive strength developed between the background and the mortar, its study is expensive and hardly executable; numerical analysis can be a useful tool for these types of studies. The present dissertation intends to identify factors that might have an impact in the adhesion property of renders; and to build a numerical model of a mortar rendered wall in which is possible to introduce those factors, as well analyze their impact in the model interface. The developed numerical model was found to be competitive, as it behaves according to what was expectable; and allows the introduction of all the factors that affect the render adhesion to its substrate. There are two ways in which these factors can be incorporated in the numerical model; the first way is through the manipulation of the model finite elements – for instance, render cracks can be introduced by deleting some finite elements; the other way is by changing the interface (created between the background and its render, and that simulates the adhesion loss mechanism) parameters and which are connected to the render adhesion properties; for instance, by increasing interface strength, one can be adding roughness in the background, as this property is associated with the increment of mortar adhesive strength. Keywords Adhesion; Mortars; Interface; Numerical model. IV AGRADECIMENTOS Pretendo manifestar o meu sincero obrigado a todos aqueles que me apoiaram no decorrer desta tese e que contribuíram para que a sua realização fosse possível: Às minhas orientadoras, Professora Maria Cristina Matos Silva, do IST, e Professora Inês Flores-Colen, do IST, pela orientação, fornecimento de bibliografia e revisão do texto e sobretudo pela disponibilidade, empenho e confiança. Ao meu colega António Soares pelo apoio e prontidão em partilhar conhecimento. A todos os que me apoiaram e incentivaram de uma forma ou de outra. Um especial obrigado à minha mãe pela revisão do texto e principalmente pelo incentivo. Ao meu pai, avós e irmã pelo carinho. Às minhas amigas Ana Isabel, Isabel, Carolina Raquel e Guilhermina por todo o apoio e conselhos. V Índice Resumo….................................................................................................................... III Abstract……………………………………………………….………………………………..IV Agradecimentos ............................................................................................................V Índice de figuras ..........................................................................................................IX Índice de quadros ......................................................................................................XIII 1 2 Introdução ............................................................................................................. 1 1.1 Enquadramento da temática ........................................................................... 1 1.2 Interesse e objectivos do trabalho ................................................................... 2 1.3 Organização da dissertação ............................................................................ 2 A aderência argamassa-suporte ............................................................................ 5 2.1 Considerações gerais ..................................................................................... 5 2.2 O mecanismo de aderência ............................................................................ 5 2.3 Factores que influenciam a aderência ............................................................. 6 2.4 2.5 2.6 3 2.3.1 Generalidades ..................................................................................... 6 2.3.2 Factores inerentes ao reboco .............................................................. 7 2.3.3 Factores inerentes ao suporte ........................................................... 13 2.3.4 Factores externos ao sistema suporte/revestimento .......................... 16 A Perda de aderência ................................................................................... 18 2.4.1 Causas .............................................................................................. 18 2.4.2 Anomalias .......................................................................................... 18 A Avaliação das propriedades da aderência ................................................. 19 2.5.1 Generalidades ................................................................................... 19 2.5.2 Ensaios de resistência ao arrancamento por tracção ......................... 21 2.5.3 Ensaio de aderência ao corte ............................................................ 23 2.5.4 Envelhecimento artificial acelerado .................................................... 25 2.5.5 Requisitos de aderência .................................................................... 26 Conclusões do capítulo ................................................................................. 26 Simulação numérica e programa ANSYS ............................................................ 29 3.1 Considerações iniciais................................................................................... 29 3.2 O programa ANSYS ...................................................................................... 29 3.3 Simulações numéricas existentes na área das argamassas ......................... 33 3.3.1 Generalidades ................................................................................... 33 VI 3.3.2 Modelação do ensaio de pull-off ........................................................ 34 3.3.3 Modelação do reboco de uma fachada .............................................. 35 3.4 Modelação da interface de um sistema suporte/reboco no ANSYS Multiphysics 11.0 ..................................................................................................... 39 3.5 3.6 4 Generalidades ................................................................................... 39 3.4.2 Elementos finitos de interface ............................................................ 39 3.4.3 O Modelo da Zona Coesiva ............................................................... 43 Modelação das componentes argamassa e o suporte do sistema ................ 48 3.5.1 Elementos finitos estruturais .............................................................. 48 3.5.2 Modelo do material ............................................................................ 49 Inputs da modelação do sistema suporte/reboco .......................................... 50 3.6.1 Inputs da interface ............................................................................. 50 3.6.2 Inputs das componentes: suporte e reboco ....................................... 51 3.7 Outputs da modelação do sistema suporte/reboco........................................ 51 3.8 Conclusões do capítulo ................................................................................. 53 Modelo numérico suporte/reboco ........................................................................ 55 4.1 Considerações iniciais................................................................................... 55 4.2 Modelo do sistema suporte/revestimento ...................................................... 55 4.3 4.4 4.5 5 3.4.1 4.2.1 Elementos finitos ............................................................................... 55 4.2.2 Relações constitutivas ....................................................................... 56 4.2.3 Acções nos revestimentos ................................................................. 56 Análise paramétrica da interface ................................................................... 59 4.3.1 Os parâmetros da interface σmax, δn e δt ............................................ 59 4.3.2 Metodologia da análise paramétrica .................................................. 61 4.3.3 Interface muito rígida ou muito deformável ........................................ 63 4.3.4 Discussão dos resultados da análise paramétrica ............................. 66 Factores que influenciam a aderência ........................................................... 72 4.4.1 Considerações gerais ........................................................................ 72 4.4.2 Tipo de argamassa ............................................................................ 73 4.4.3 Consistência ...................................................................................... 74 4.4.4 Modo de aplicação da argamassa ..................................................... 76 4.4.5 Fissuração devido a problemas da alvenaria ..................................... 78 4.4.6 Camadas de revestimento ................................................................. 80 Conclusões do capítulo ................................................................................. 82 Conclusões finais ................................................................................................ 85 5.1 Conclusão ..................................................................................................... 85 VII 5.2 6 Desenvolvimentos futuros ............................................................................. 86 Bibliografia........................................................................................................... 87 Anexos…………………………………………………………………………………………91 VIII ÍNDICE DE FIGURAS Figura 2.1 - Esquema do mecanismo físico de aderência dos revestimentos ao suporte.......................................................................................................................... 6 Figura 2.2 - Descolamento do reboco devido à retracção . ......................................... 11 Figura 2.3 - Vista da superfície de blocos de alvenaria com ampliação de 50 vezes; à esquerda, bloco tijolo cerâmico; à direita, bloco de betão normal. ................ 13 Figura 2.4 - Relação entre a taxa inicial de absorção de água (IRA) e a resistência de aderência à tracção (fu). ....................................................................... 15 Figura 2.5 - Criação de rugosidades no betão com jacto de água a elevada pressão. ...................................................................................................................... 16 Figura 2.6 - Relação entre a aderência da argamassa e a altura de lançamento. ....... 17 Figura 2.7 - À esquerda, exemplo de empolamento; à direita, exemplo de desprendimento de reboco de um suporte de betão armado. ..................................... 19 Figura 2.8 - Esquema do ensaio de pull-off................................................................. 21 Figura 2.9 - Tipologias de rotura definidas pela norma EN 1015-12............................ 22 Figura 2.10 - Exemplos de área de teste e pastilhas quadradas para realização do ensaio pull-off . ...................................................................................................... 22 Figura 2.11 - Esquema do ensaio de resistência aderência tangencial por aplicação de corte....................................................................................................... 23 Figura 2.12 - Mecanismo do ensaio de resistência de aderência ao corte por aplicação de torção . ................................................................................................... 24 Figura 3.1 - À esquerda, segway PT modelo i2; à direita, distribuição da carga pela na roda sujeita a uso regular . ............................................................................. 30 Figura 3.2 - Modelação de uma ponte com o ANSYS e CivilFEM . ............................. 30 Figura 3.3 - Treliça sujeita a um determinado carregamento . .................................... 31 Figura 3.4 - Modelação da treliça da Figura 3.3 em 2D no ANSYS Multiphysics 11.0. ........................................................................................................................... 31 Figura 3.5 - Deformada da treliça da Figura 3.3, calculada no ANSYS Multiphysics. ............................................................................................................... 31 Figura 3.6 - Tensões axiais (MPa) calculada no ANSYS Multiphysics para os elementos da treliça da Figura 3.3. ............................................................................. 32 Figura 3.7 - Viga cujas dimensões H e W da secção se pretende optimizar quando L1, L2 e F já estão determinados . ................................................................. 32 Figura 3.8 - Resultado do cálculo de tensões nas paredes de uma artéria no ANSYS CFD, devido à circulação sanguínea ............................................................. 33 IX Figura 3.9 - Modelo base: provete e pastilha circulares com 50 mm de diâmetro, camada de cola de 5 mm . .......................................................................... 34 Figura 3.10 - Modelo para estudar o efeito da excentricidade da carga parafuso fora do centro. .............................................................................................. 35 Figura 3.11 - Distribuição de tensões na interface suporte-argamassa para provetes circulares e quadrados . ............................................................................... 35 Figura 3.12 - Geometria do modelo do sistema parede/reboco sujeito a um gradiente térmico; a dimensão L e a espessura do reboco são variáveis.................... 36 Figura 3.13 - Esquema da variação da dimensão da malha, condições de apoio e acção térmica do modelo sem a inclusão de macro-defeitos na zona de ligação parede/reboco. ............................................................................................... 37 Figura 3.14 - Identificação da região onde as tensões na zona de ligação parede/reboco são mais significativas. ....................................................................... 38 Figura 3.15 - Modelação de um macro-defeito na zona de ligação a 4 cm do bordo livre. .................................................................................................................. 38 Figura 3.16 - Máxima tensão normal na zona de ligação parede/reboco, quando nesta existem diferentes taxas de macro-defeitos, tendo em conta rebocos de várias espessuras . ..................................................................................................... 38 Figura 3.17 - Impacto da distância do macro-defeito ao bordo livre na tensão normal na zona de ligação parede/reboco, tendo em consideração várias dimensões do macro-defeito, quando o revestimento tem um módulo de elasticidade de 15 GPa . ............................................................................................. 39 Figura 3.18 - À direita, geometria do elemento INTER203; à esquerda, geometria do elemento INTER202 . ............................................................................ 40 Figura 3.19 - À esquerda, geometria do elemento INTER202 na configuração não deformada; à direita elemento INTER202 sujeito a uma deformação genérica na direcção normal e tangencial . ................................................................. 41 Figura 3.20 - À esquerda, sistema de eixos do elemento quando um dos eixos é paralelo ao lado I-J; à direita, sistema de eixos local paralelo ao sistema de eixos global. ................................................................................................................ 41 Figura 3.21 - Geometrias do sistema suporte/revestimento a modelar. ...................... 42 Figura 3.22 - À esquerda, 5/6 de um cilindro oco gerado pela rotação da secção transversal em torno do eixo, alvo de uma análise numérica; à direita secção transversal do cilindro que é modelada com axissimetria e reproduz os mesmos resultados que uma análise do cilindro. ...................................................................... 43 Figura 3.23 - Relações endurecimento-amolecimento entre tensão (σ) e separação (Δ): à esquerda, relação linear definida por troços; à direita, relação exponencial. ............................................................................................................... 44 Figura 3.24 - À esquerda, Modo I de rotura da interface; à direita, de rotura da interface. ..................................................................................................................... 44 Figura 3.25 - Relação normalizada Tn - δn quando δt = 0 .......................................... 47 X Figura 3.26 - Relação normalizada Tt - Δt quando δn = 0 . ........................................ 47 Figura 3.27 - Geometria do elemento PLANE182 (ANSYS, 2007). ............................. 49 Figura 3.28 - Modelos de materiais. ............................................................................ 50 Figura 3.29 - Modelo simulado com valores genéricos dos inputs do suporte, interface e argamassa com e deformada resultante face às acções. .......................... 52 Figura 3.30 - Exemplo genérico de um output gráfico das várias componentes do sistema suporte/reboco semelhante ao da Figura 3.29. ......................................... 53 Figura 4.1 - Modelo de uma parede com um revestimento monocamada. .................. 56 Figura 4.2 – Experimento para medir a separação (Δ) numa interface entre um metal e um material polimérico. .................................................................................. 60 Figura 4.3 - Curva com os valores experimentais de Tn e Δn obtidos, o valor máximo de Tn é igual a σmax, o seu valor correspondente de separação (Δn) é igual a δn e curva do modelo exponencial de Xu e Needleman na direcção normal definida pelos parâmetros σmax e δn, obtidos pela curva anterior. .................... 60 Figura 4.4 – À esquerda, cristais de hidratação do ligante após o desenvolvimento de aderência; à direita, cristais de hidratação do ligante, responsáveis pela aderência, após a argamassa ter sido submetida a uma força de tracção F, no instante imediatamente antes da sua rotura. ........................... 61 Figura 4.5 - Representação esquemática da análise paramétrica. .............................. 62 Figura 4.6 - Modelo de uma viga bi-encastrada e respectivos diagramas de momento flector e esforço transverso. ........................................................................ 64 Figura 4.7 – Distribuição de tensões na face exterior de uma viga modelada em 2D no ANSYS, quando esta apresenta as propriedades do suporte do Quadro 4.3 e está sob a acção do peso próprio e de uma acção p = 1000 Pa. ....................... 64 Figura 4.8 - Distribuição da tensão σxx na zona adjacente à interface, num modelo com uma ligação perfeita entre o suporte e o reboco e um modelo com uma interface muito rígida........................................................................................... 65 Figura 4.9 - Distribuição da tensão normal (Tn) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa com diferentes relações δn/δt; no modelo actua a força gravítica e uma carga p =1000 Pa. ........................................................ 67 Figura 4.10 - Distribuição logaritmica da separação normal (Δn) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e para diferentes relações δn/δt; no modelo actua a força gravítica e uma carga p = 1000 Pa. .............. 68 Figura 4.11 - Distribuição da tensão tangencial (Tt) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e para diferentes relações δn/δt; no modelo actua a força gravítica e uma carga p = 1000 Pa. ............................. 70 Figura 4.12 - Distribuição logaritmica da separação tangencial (Δt) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e para diferentes relações δn/δt; no modelo actua a força gravítica e uma carga p =1000 Pa. ................................................................................................................ 71 XI Figura 4.13 - Tensão normal na interface das argamassas do Quadro 4.8; deformada ampliada 20000%. .................................................................................... 75 Figura 4.14 - Separação normal na interface das argamassas do Quadro 4.8; deformada ampliada 200000%. .................................................................................. 75 Figura 4.15 -- Tensão e separação normal em interfaces com macro-defeitos; reboco com as características da argamassa B do Quadro 4.8; deformada ampliada 20000%. ...................................................................................................... 76 Figura 4.16 – Pormenores das zonas envolvidas pelo perímetro rectangular da Figura 4.15. ................................................................................................................ 77 Figura 4.17 – Representação gráfica da distribuição da tensão de aderência em altura. ......................................................................................................................... 77 Figura 4.18 – Distribuição de tensão normal (Tn) em interfaces heterogéneas e homogéneas; reboco com as características da argamassa B do Quadro 4.8, excepto fu; deformada ampliada 200000%. ................................................................. 78 Figura 4.19 - Tensão normal na interface em modelos com distintos padrões de fissuração; reboco com as características da argamassa B do Quadro 4.8; deformada ampliada 20000%. .................................................................................... 80 Figura 4.20 – À esquerda: tensão normal na interface salpico/parede; reboco com as características da argamassa B do Quadro 4.8; deformada ampliada 20000%. À direita: pormenor do modelo. .................................................................... 81 XII ÍNDICE DE QUADROS Quadro 2.1 - Ciclos de envelhecimento acelerado preconizados pela EN 1015-21. ............................................................................................................... 25 Quadro 2.2 - Requisitos do valor de resistência de aderência obtido no ensaio pull-off . ....................................................................................................................... 26 Quadro 2.3 - Factores relativos à composição da argamassa que influem na aderência. ................................................................................................................... 27 Quadro 2.4 - Factores relativos a propriedades do reboco que influem na aderência. ................................................................................................................... 27 Quadro 2.5 - Factores relativos ao suporte que influem na aderência. ....................... 28 Quadro 2.6 - Factores externos que influenciam a aderência. .................................... 28 Quadro 3.1 - Elementos de interface do ANSYS Multiphysics 11.0 ............................ 40 Quadro 3.2 - Diferença no cálculo de p (kN/m) no estado plano de tensão/estado plano de deformação e no estado plano de tensão com espessura. ........................... 43 Quadro 3.3 - Opções “chave” escolhidas. ................................................................... 49 Quadro 3.4 - Elementos finitos para modelar um sistema suporte/reboco, e respectivos sistemas de eixos. ................................................................................... 54 Quadro 4.1 - Modelos constitutivos adoptados. .......................................................... 57 Quadro 4.2 - Valores da pressão aerodinâmica do vento e da sucção exercida sobre uma parede....................................................................................................... 58 Quadro 4.3 - Propriedades da argamassa e do suporte.............................................. 61 Quadro 4.4 - Valores analisados dos parâmetros. ...................................................... 62 Quadro 4.5 - Dimensão dos elementos finitos da malha. ............................................ 63 Quadro 4.6 - Propriedades do suporte ........................................................................ 73 Quadro 4.7 - Argamassas de revestimento analisadas. .............................................. 74 Quadro 4.8 - Tensão máxima que a interface pode suportar em função da altura da fiada . ..................................................................................................................... 77 Quadro 4.9 - Propriedades das camadas de reboco. .................................................. 81 Quadro 4.10 - Factores que podem ser modelados através da alteração de características............................................................................................................. 83 XIII SIMBOLOGIA ALFABETO LATINO Ed - módulo de elasticidade dinâmico do material determinado experimentalmente E - módulo de elasticidade do material fu - tensão de aderência ou de resistência ao arrancamento no ensaio de tracção pull-off pp - peso próprio do material p - carga uniformemente distribuída aplicada na superfície exterior de um revestimento na direcção perpendicular à interface com sentido do interior para o exterior Rc - resistência à compressão em provetes normalizados Tn - tensão normal instalada na interface Tt - tensão tangencial instalada na interface Map - massa volúmica aparente do material ALFABETO GREGO Δn - separação normal na interface Δt - separação tangencial na interface σ - tensão normal σ1 -tensão de Von Mises máxima que o material pode suportar ε - extensão σ max -tensão normal máxima que a interface consegue suportar τmax - tensão tangencial máxima que a interface consegue suportar δn - comprimento característico da interface na direcção normal δt - comprimento característico da interface na direcção tangencial ϕn - trabalho de separação na direcção normal ϕt - trabalho de separação na direcção tangencial 𝜈 - coeficiente de Poisson XIV Introdução 1 INTRODUÇÃO 1.1 ENQUADRAMENTO DA TEMÁTICA De acordo com a norma americana ASTM D 907 (2008), a aderência entre duas superfícies genéricas é definida como o estado em que estas estão ligadas por intermédio de forças interfaciais. No contexto desta dissertação, o termo aderência é utilizado para referir a união na interface entre uma argamassa e um suporte, caracterizada pela sua resistência e extensão. A resistência de aderência representa a capacidade da argamassa de se manter colada ao suporte face à actuação de tensões na interface entre ambos; a extensão de aderência é a razão entre a área de contacto efectivo da argamassa ao seu suporte e a área da interface - área total em que é possível que ocorra o contacto (Carasek et al., 2001). Na norma brasileira, a aderência é definida como a propriedade do revestimento de resistir a tensões normais ou tangenciais na superfície de interface com o suporte ou com a base sem descolar (Prudêncio et al., 1999). A importância da aderência dos revestimentos ao seu suporte é realçada pela Directiva dos Produtos de Construção (Directiva 89/106/CEE); de acordo com esta directiva, os edifícios devem satisfazer um conjunto de exigências nomeadamente segurança na utilização durante um período de vida útil economicamente viável. Para tal, os produtos incorporados de forma permanente nos edifícios, como os revestimentos, devem estar aptos ao uso a que se destinam. Assim, a aderência dos revestimentos ao suporte torna-se uma condição essencial para garantir as exigências acima referidas pois, com a perda de aderência do seu revestimento os paramentos ficam directamente expostos à acção dos agentes atmosféricos; para além de que a queda de fragmentos oriundos do revestimento pode causar acidentes pessoais. Atendendo à importância da aderência, a norma americana ASTM E 2270 (2005) recomenda em inspecções pormenorizadas de fachadas a realização de ensaios de pull-off para qualifica-la. Com o objectivo de expandir o conhecimento do mecanismo que proporciona a aderência entre uma argamassa e um suporte, têm sido levadas a cabo variadas campanhas experimentais. Autores como Carasek (1996) e Reda e Shrive (1999) recorreram a análises da microscopia da interface entre um reboco e uma argamassa para identificar os compostos que propiciam a aderência. Noutro tipo de estudos autores procuram identificar factores, inerentes ao reboco, ao suporte ou externos ao sistema, que propiciam maior resistência ou extensão de aderência, que podem ser quantificadas por intermédio de ensaios e técnicas. O ensaio de pull-off, que mede a resistência de aderência à tracção, é o mais utilizado por ser o único que se encontra normalizado. A maioria destes estudos é realizada em laboratório e sem ter em conta as condições em serviço a que o reboco estará sujeito (Carasek, 1997; Miranda, 2004). Estudos com a realização de ensaios de pull-off in-situ são menos frequentes (Quintela, 2006). 1 Capítulo 1 1.2 INTERESSE E OBJECTIVOS DO TRABALHO O estudo de factores que podem influenciar a aderência em condições de serviço implica a realização de ensaios de pull-off in-situ; estes têm um carácter destrutivo e requerem posterior reparação do revestimento e exigem mais meios que os ensaios em laboratório. Este tipo de ensaios foi realizado por Flores-Colen et al. (2009) e Carasek e Cascudo (2007), em várias fachadas, com o objectivo de quantificar a aderência dos revestimentos nos edifícios em questão e identificar as causas que resultam na deficiência de aderência. Devido às limitações que existem no estudo prático da aderência em serviço, a modelação numérica torna-se numa ferramenta útil para tal. Os modelos numéricos permitem conjugar uma grande quantidade de factores a que os revestimentos e suportes estão sujeitos em serviço, permitindo identificar que situações conduzem a maiores problemas de aderência. Face ao referido, os objectivos da presente dissertação são os seguintes: • identificar os factores que têm influência directa na aderência de rebocos a suportes e quais os métodos de ensaio que permitem estudá-los; • criar um modelo numérico de um sistema parede/reboco que permita estudar a influência dos factores identificados na aderência dos rebocos aplicados, em situações de serviço. 1.3 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO A presente dissertação encontra-se estruturada em 5 capítulos e anexos. No presente capítulo - Capítulo 1 - é introduzido o tema e são referidos os objectivos da dissertação. O capítulo 2 é dedicado ao estado-da-arte do mecanismo de aderência das argamassas a suportes porosos. Com base na bibliografia existente, é explicado o processo que resulta na ligação da argamassa ao seu suporte, são identificados os factores que afectam as propriedades da aderência (resistência à tracção, resistência ao corte e extensão) e quais os métodos disponíveis que permitem avaliar tais propriedades. O capítulo 3 incide sobre as bases teóricas da modelação numérica de um sistema suporte/revestimento no ANSYS Multiphysics 11.0, nomeadamente, quais os elementos finitos indicados, qual o modelo constitutivo de cada componente do sistema, que parâmetros o caracterizam e que resultados se podem obter com a modelação. No início do capítulo, é feita uma introdução ao software ANSYS e são mencionadas modelações realizadas pelo método de elementos finitos na área dos revestimentos de argamassa, realçando assim, a importância deste método no desenvolvimento do conhecimento e tecnologia das argamassas. No capítulo 4, é simulado um sistema parede/reboco com uma camada de interface; inicialmente, é efectuada uma análise paramétrica para aferir a influência dos parâmetros da camada de interface. Posteriormente são alteradas propriedades e/ou características do suporte, da interface e do revestimento, de forma a simular 2 Introdução factores, como o tipo de argamassa ou a espessura do reboco, e é analisada a sua influência no comportamento da interface. No capítulo 5, são realizadas as conclusões da dissertação e são apresentadas propostas de desenvolvimento futuro. Por fim, é apresentada a bibliografia consultada e os Anexos relativos ao desenvolvido no capítulo 4. 3 Capítulo 1 4 A aderência argamassa-suporte 2 A ADERÊNCIA ARGAMASSA-SUPORTE 2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS Neste capítulo, são abordados aspectos do mecanismo de aderência entre uma argamassa e um suporte poroso, nomeadamente, como se processa e que factores contribuem para o seu desenvolvimento. Posteriormente, são apresentadas as anomalias que se manifestam nos rebocos com a perda de aderência e quais os métodos de ensaio disponíveis para avaliar a aderência de rebocos, quer em laboratório quer in-situ. Assim, os objectivos do presente capítulo são os seguintes: • expor o procedimento através do qual se desenvolve o mecanismo de aderência de uma argamassa a um suporte poroso; • identificar, com base na bibliografia existente, os factores que contribuem para o estabelecimento da aderência entre a argamassa e o suporte; bem como as anomalias que ocorrem nos revestimentos devido à sua perda; • caracterizar os métodos de ensaio que permitem avaliar as propriedades da aderência de rebocos. 2.2 O MECANISMO DE ADERÊNCIA A aderência entre uma argamassa e um suporte poroso processa-se devido à penetração da calda da argamassa (água de amassadura com partículas finas de ligante) e da própria argamassa nos poros e entre as rugosidades do suporte. No interior destes poros e rugosidades ocorre a cristalização dos produtos de hidratação do ligante presente na argamassa. Os cristais resultantes exercem uma acção de ancoragem da argamassa ao suporte (Figura 2.1). Este processo, que também ocorre entre várias camadas de argamassa de um reboco tradicional multi-camada, é responsável pela parcela mecânica da aderência (Lucas, 1990; Faria, 1993; Carasek et al., 2001; Quintela, 2006). A aderência possui ainda uma componente química devido à existência de forças covalentes e forças de Van der Waals desenvolvidas entre o suporte e os produtos de hidratação do ligante (Taha e Shrive, 2001; Branco et al., 2010). A aderência química pode ser aumentada com recurso a aditivos a incorporar nos rebocos ou com a aplicação de primários de aderência nos suportes (Santos, 2008). Reda e Shrive (1999), citados por Rodrigues (2004), Sugo et al. (2001) e Carvalho et al. (2005) sustentam a teoria da existência da aderência mecânica. Os referidos autores, através de análises da microestrutura da interface entre argamassas, de cimento e bastardas, e um suporte de blocos cerâmicos, concluíram que a aderência ocorria devido ao intertravamento de cristais resultantes da hidratação do ligante no interior dos poros do suporte. Os cristais de hidratação do ligante são compostos ricos em cálcio e enxofre; de acordo com as análises realizadas, estes dois 5 Capítulo 2 elementos químicos (cálcio e enxofre) são os que penetram em maior quantidade no interior do suporte. Os autores verificaram ainda que um melhor desempenho em termos de aderência está mais associado a uma maior concentração relativa do elemento cálcio nos primeiros 500 μm de profundidade no bloco cerâmico do que com a profundidade de penetração da calda. De acordo com Carasek et al. (2001) e Miranda (2004), autores como Farran et al. (1970), Dupin et al. (1988) e Carasek (1996) concordam com esta teoria. Figura 2.1 - Esquema do mecanismo físico de aderência dos revestimentos ao suporte (Quintela, 2006). Detriché et al. (1985) e Dupin et al. (1988), referidos por Carasek et al. (2001) e Miranda (2004), desenvolveram uma teoria para explicar a interacção que ocorre entre a argamassa, seja ela de revestimento ou assentamento, e um suporte poroso que é responsável pela fase mecânica da aderência. Segundo os referidos autores, no momento de aplicação das argamassas, os suportes porosos apresentam capilares não saturados e de raio médio, em geral inferior ao raio médio dos capilares da argamassa. Assim, por sucção capilar, a calda movimenta-se para o interior dos poros e rugosidades do suporte. Esta sucção prossegue enquanto o suporte apresentar capilares não saturados de raio inferior aos capilares da argamassa, podendo demorar algumas horas. A sucção exercida pelo suporte conduz à diminuição da relação água/cimento na argamassa e consequentemente a um aperto mecânico das suas partículas sólidas. Consequentemente, ocorre uma retracção quase imediata da argamassa e uma aceleração na cristalização dos produtos de hidratação, devido ao aumento da concentração de iões dissolvidos; estes fenómenos, mais intensos na zona próxima do suporte, conduzem a uma diminuição do raio médio dos capilares da argamassa. De facto, resultados de porosimetria por intrusão de mercúrio mostram que na região da interface argamassa/suporte os poros da argamassa curada apresentam menor diâmetro do que os das zonas intermédias do revestimento (Paes et al., 2005). 2.3 FACTORES QUE INFLUENCIAM A ADERÊNCIA 2.3.1 Generalidades Vários investigadores têm realizado campanhas experimentais para identificar factores que exercem influência na resistência de aderência à tracção de revestimento 6 A aderência argamassa-suporte de argamassa; a quantificação desta propriedade na ligação entre a argamassa e o suporte encontra-se bastante generalizada, existindo diversas normas e documentos técnicos que definem ensaios para tal. Em alguns trabalhos também é estudada a alteração que alguns factores induzem na resistência de aderência tangencial e/ou na extensão de aderência (Carasek, 1997; Carasek et al., 2001; Miranda, 2004; Pereira, 2005). O mecanismo de aderência entre uma argamassa e um suporte poroso é complexo e é influenciado por inúmeros factores que se relacionam entre si. Propriedades e características intrínsecas do suporte e do sistema de revestimento têm influência na aderência (Carasek, 1997), assim como factores externos, nomeadamente, o modo de aplicação da argamassa, condições atmosféricas durante a aplicação e cuidados na cura (Lucas, 1990; Veiga, 1998). 2.3.2 Factores inerentes ao reboco 2.3.2.1 Composição da argamassa As argamassas de reboco são constituídas por ligante 1, areia, água e ainda podem incluir adjuvantes e adições. As características físicas e químicas dos constituintes e as suas dosagens afectam directamente a aderência da argamassa ao suporte. De facto, a composição das argamassas de revestimento influencia significativamente a aderência ao suporte (Carasek, 1997). De seguida, apresenta-se como esses constituintes influem nas propriedades da aderência 2. Cimento Em argamassas de traços ponderais correntes, à medida que se aumenta o teor e a finura do cimento, há um aumento da resistência de aderência à tracção. No entanto, misturas muito ricas em cimento resultam em revestimentos rígidos, que tendem a fissurar e, consequentemente, perder resistência de aderência ao longo do tempo (Carasek, 1997; Pereira et al., 1999; Angelim, 2003; Lima, 2009). Em relação à razão água/ligante, Lima (2009) afirma que para rebocos cimentícios aplicadas sobre tijolos cerâmicos parece existir uma tendência da resistência de aderência à tracção para diminuir com o aumento daquela razão; pelo contrário Pereira et al. (1999) não encontraram uma correlação entre a resistência de aderência à tracção e a razão água/ligante. De acordo com Carasek (1997), o teor de cimento da argamassa de revestimento é o factor individual que maior influência tem na resistência de aderência à tracção. A autora modelou a variação desta propriedade em função do teor de cimento das argamassas através de equações exponenciais, tendo em conta várias condições de humidade inicial do suporte; o menor coeficiente de correlação R2 entre as duas variáveis (teor de cimento e resistência de aderência à tracção) foi de 0,965. Ainda em relação ao teor de cimento, Dubaj (2000) afirma que a resistência de aderência tangencial, à semelhança da normal, também é proporcional ao teor de cimento das argamassas. 1 As argamassas podem ter na sua composição um só tipo de ligante (cimento, cal hidráulica ou cal aérea hidratada) ou uma mistura de ligantes. 2 Como propriedades de aderência entende-se a resistência de aderência à tracção, resistência de aderência tangencial ou ao corte e extensão de aderência. 7 Capítulo 2 Cal A cal possui importantes propriedades plastificantes e de retenção de água. As argamassas bastardas de cal e cimento preenchem mais facilmente e de maneira mais completa toda a superfície do suporte, propiciando assim o aumento da área em que se dá a aderência, e são mais flexíveis, permitindo acomodar pequenas deformações sem rompimento da ligação, apresentando portanto maior durabilidade de aderência (Carasek, 1997; Pereira et al., 1999). Segundo Carasek (1996) e Sugo et al. (2001), referidos por Carasek et al. (2001), melhorias na resistência de aderência à tracção, bem como aumentos na área de contacto efectivo entre o suporte e a argamassa podem ser obtidas pela adição de pequenas porções 3 de cal aérea hidratada às argamassas de cimento; a primeira autora verificou que obtinha claramente um maior espalhamento da argamassa no suporte, o que aumenta a extensão de aderência, com argamassas de traço em volume 1:1/4:3 (cimento:cal:areia) em relação a argamassas de traço em volume 1:3 (cimento:areia). De acordo com os estudos de Guimarães e Cincotto (1985) e Siqueira (1995), referidos em Carasek et al. (2001), uma maior percentagem de hidróxido de magnésio na composição da cal aérea hidratada conduz a um aumento da resistência de aderência à tracção da argamassa, pois este composto aumenta a capacidade de retenção de água nestas argamassas, o que conduz à formação de macro-cristais de carbonato de cálcio, favorável ao desenvolvimento da aderência. Areia A resistência de aderência à tracção depende dos teores e características da areia usada na produção das argamassas, como granulometria, natureza e forma, (Carasek et al., 2001; Miranda, 2004). Segundo Goodwin e West (1980), referidos por Carasek et al. 2001, em suportes com baixa taxa de sucção de água, a aderência é reduzida à medida que se aumenta o teor de areia em relação ao teor de ligante; ao contrário, com tijolos de alta sucção, a aderência pode ser maior com o aumento da relação areia/ligante. Segundo Joisel (1965), referido por Miranda (2004), para a obtenção de bons resultados de aderência, a areia deve possuir uma distribuição granulométrica contínua e com uma percentagem de finos razoável; se por um lado, a finura da areia é condição importante para se obter uma boa trabalhabilidade, propriedade essencial à aderência ao suporte; por outro, a presença de demasiados finos dificulta a sucção da calda da argamassa para o interior dos poros do suporte. Angelim (2003) obteve maiores resistências de aderência à tracção em argamassas bastardas executadas com areia classificada como “fina” (módulo de finura = 2,32) em comparação com as executadas com areia “muito fina” (módulo de finura = 1,75). O autor constatou, no entanto, que a influência do teor de cimento era mais significativa do que a da distribuição granulométrica da areia. Cruz (2008) conseguiu melhores resultados de resistência de aderência à tracção com uma argamassa produzida com uma mistura de agregados com 2/3 de areia amarela (módulo de finura = 3,0) e 1/3 de uma areia 3 Os traços em volume recomendados são 1:1/4:3 (cimento:cal:areia) ou 1:0,5:4,5 (cimento:cal:areia) (Carasek et al. 2001). 8 A aderência argamassa-suporte mais fina (módulo de finura 1,5), comparativamente com argamassas produzidas somente com areia amarela. A natureza da areia empregue pode igualmente influenciar a resistência à tracção da aderência, sendo esta maior com areias mais argilosas (Veiga, 1998). Em relação à forma, areias de grãos mais angulosos aumentam o coeficiente de atrito na interface suporte/argamassa, provocando um aumento de resistência de aderência ao corte (Valdehita Roselo, 1976, citada por Carasek et al., 2001). Adições As adições são materiais inorgânicos finamente divididos que são adicionados à argamassa, em pequenas quantidades, com o objectivo de obter ou melhorar propriedades específicas desta (EMO, 2001). Sílica activa, fibra de vidro e pó de tijolo cerâmico são alguns exemplos de adições. Silva et al. (2007) obtiveram um aumento de 30% na resistência de aderência à tracção de uma argamassa cimentícia de traço volumétrico 1:4 (cimento:areia), aplicada sobre tijolos cerâmicos ao substituir 10% do volume de areia por pó de tijolo cerâmico. Jung (1988), referido por Carasek et al. (2001), constatou experimentalmente que numa argamassa com traço em volume de 1:0,1:4 (cimento:cal:areia) a substituição de 10% da massa de cimento por sílica activa conduzia a um aumento da resistência de aderência ao corte e à tracção. Segundo Veiga (1998), as fibras de vidro destinam-se principalmente a aumentar a resistência à tracção, a ductilidade e a coesão da argamassa. A autora constatou em condições de laboratório, em provetes reduzidos e após envelhecimento natural em painéis de alvenaria, que os rebocos com a camada de base contendo fibras de vidro tinham maior resistência de aderência à tracção mesmo quando a rotura era adesiva na interface salpico/camada de base. Adjuvantes Os adjuvantes são materiais orgânicos que reagem com os restantes constituintes da argamassa e são adicionados em pequenas quantidades com o objectivo de modificar as propriedades da argamassa fresca ou endurecida (EMO, 2001). Adjuvantes como retentores de água, retardadores de presa e retardadores de endurecimento trazem benefícios à aderência das argamassas (Carasek et al., 2001); pelo contrário, introdutores de ar, hidrófugos de massa e aceleradores de presa podem prejudicá-la; existem ainda adjuvantes promotores de aderência que visam melhorar a aderência de rebocos sobre superfícies de suporte que se apresentam lisas e com baixa ou elevada sucção capilar através do desenvolvimento de uma ligação de natureza química (Veiga, 1998). 2.3.2.2 Resistência intrínseca da argamassa Em argamassas de cimento e bastardas, aplicadas sobre diferentes suportes, Carasek (1997) verificou que quanto maior as resistências à compressão e à tracção das argamassas, maior a sua resistência de aderência à tracção. Flores-Colen (2009) constatou também a existência de relações lineares, com elevado coeficiente de 9 Capítulo 2 correlação (R2=0,81), entre a tensão de arrancamento à tracção de rebocos pré-doseados e tradicionais, quer de cimento, quer bastardos, aplicados sobre tijolos cerâmicos, e as suas resistências à compressão. 2.3.2.3 Consistência Ao estudar a aderência de argamassas de cimento com diferentes traços sobre blocos cerâmicos, Pereira et al. (1999) verificaram uma influência da consistência das argamassas nas resistências de aderência; a consistência está intimamente ligada com a trabalhabilidade da argamassa. Os autores determinaram o índice de consistência pela penetração do cone, segundo a ASTM C780 (1996), para as várias argamassas e concluiram que com índices de consistência baixos, isto é argamassas secas e pouco trabalháveis, obtinham valores de resistência de aderência mais baixos do que com argamassas mais fluidas. A deficiente trabalhabilidade da argamassa conduz a baixas extensões de aderência da mesma, particularmente quando os suportes apresentam reentrâncias; pois, a argamassa não consegue penetrar adequadamente nas mesmas, deixando vazios na interface suporte/argamassa. A trabalhabilidade da argamassa pode ser melhorada com o incremento do seu teor de água, o que altera a sua reologia, tornando-a menos viscosa e facilitando assim o espalhamento da argamassa ao suporte e aumentando a área de contacto entre estes, favorecendo a aderência; porém o aumento do teor de água conduz à diminuição da resistência intrínseca da argamassa (Costa et al., 2010). O processo mais adequado para melhorar a trabalhabilidade é a incorporação de cal ou de adjuvantes apropriados, como os superplastificantes (Veiga, 1998). 2.3.2.4 Retenção de água A retenção de água caracteriza a capacidade que a argamassa tem de conservar a água de amassadura sobre o efeito da sucção do suporte, o que lhe permitirá garantir a quantidade de água necessária para a completa hidratação do ligante, o que aumenta a aderência (Faria, 1993). A retenção de água da argamassa depende de vários factores, entre os quais se destaca a proporção dos materiais na mistura, a relação água/cimento e o tipo de cimento utilizado (Reddy e Gupta, 2007, citado por Martins, 2008). Em relação a esta propriedade, os rebocos pré-doseados, como os monocamada, apresentam geralmente uma retenção de água superior à dos rebocos tradicionais devido à existência de retentores de água (Quintela, 2006). 2.3.2.5 Espessura do revestimento Revestimentos muito espessos podem ver comprometida a sua aderência. Quanto maior a espessura do revestimento maior são as tensões de tracção na argamassa quando ocorre a sua retracção (Carasek e Cascudo, 2007). No processo de retracção, o reboco, retido pelas forças de aderência, fica sujeito a tensões que podem dar origem a fissuração. Se relativamente à resistência à tracção do material, a aderência é fraca, o reboco descola-se (Figura 2.2) (Quintela, 2006). Por outro lado, em condições de serviço, um revestimento espesso e constituído por uma argamassa de traço rico em cimento (muito rígido) não pode acompanhar a movimentação da 10 A aderência argamassa-suporte estrutura, agravando-se o descolamento. Revestimentos mais espessos solicitam mais a interface devido ao seu elevado peso próprio (Carasek e Cascudo, 2007). Figura 2.2 - Descolamento do reboco devido à retracção (Quintela, 2006). Em condições de laboratório, Prudêncio et al. (1999) chegaram à conclusão que para argamassas industriais aplicadas sobre uma base de alvenaria de blocos de betão normal seco, o aumento de espessura diminuía a resistência de aderência. Os investigadores obtiveram os melhores resultados para uma espessura de 0,5 cm em detrimento de uma espessura de 1 cm, concluindo que este tipo de revestimento era uma boa solução em paredes interiores. Com o humedecimento do suporte antes da aplicação das argamassas, esta tendência deixou de ser evidente. Segundo os autores, no caso de aplicação de argamassas industriais como revestimento interno de alvenaria de blocos de betão normal as espessuras de 0,5 e 1 cm são usuais na região onde foi realizado o estudo. 2.3.2.6 Camadas de revestimento O reboco tradicional preconizado pelo LNEC, dentro da arte de bem-fazer, deve possuir três camadas: salpico de traço 1:2 (cimento:areia) com 5 mm de espessura; camada de base de traço 1:4 (cimento:areia) com 12 mm de espessura e uma camada de acabamento com um traço de 1:4,5 (cimento:areia) com 8 mm de espessura (LNEC, 1968). As camadas respeitam a regra da degressividade do teor de ligante. No entanto, a resistência de aderência não é influenciada pela execução do reboco a três camadas quando são respeitados os seus tempos de secagem (Gomes et al., 2005). A execução da camada de salpico tem o objectivo de aumentar a rugosidade superficial do suporte e reduzir/uniformizar a sua absorção de água, propiciando assim melhor aderência à camada de base (Veiga, 1998; Scartezini et al., 2001; Silva e Libório, 2005). O salpico quando aplicado sobre alvenaria de blocos cerâmicos contribui para o aumento da resistência de aderência do revestimento, sendo que a rotura mais comum verifica-se na interface salpico/camada de base ou uma rotura coesiva no seio da camada de base. Neste tipo de suporte, constata-se uma maior absorção de água na zona da junta, o que aumenta a resistência de aderência nesta. A presença do salpico consegue uniformizar parcialmente a absorção de água do 11 Capítulo 2 suporte (Scartezini et al., 2001; Angelim et al., 2003; Scartezini e Carasek, 2003; Mota et al., 2009). O salpico tradicional é constituído por uma argamassa fortemente doseada em cimento, com proporção volumétrica em geral 1:2 (cimento:areia), e bastante fluida, que é aplicada numa camada irregular com espessura de 3 a 5 mm antes da camada de base (Lucas, 1990). O salpico tradicional pode ser ainda melhorado com promotor de aderência ou com cimento-cola (Miranda, 2004). Idealmente o salpico deve ter uma cura húmida no mínimo de três dias (Duailibe et al. 2005). O salpico é também classificado como um tratamento superficial do suporte com vista a prepará-lo para receber o revestimento - camada de base (Carasek et al., 2001; Silva e Liborio, 2005; Mota et al., 2009). Em substituição dos tradicionais, têm sido usados rebocos pré-doseados, nomeadamente os monocamada. Os revestimentos monocamada são formulados de tal modo que podem, com uma única camada, desempenhar as funções de um reboco multi-camada (Veiga, 1998). De acordo com Gomes et al. (2005), os rebocos monocamada, quando comparados com os tradicionais, apresentam um bom comportamento face à aderência e com menores cuidados de cura. Os rebocos monocamada apresentam melhores resistências de aderência do que os tradicionais quando os tempos de secagem e cura destes são descuidados. Em relação à durabilidade deste revestimento, Quintela (2006) verificou que após diferentes graus de envelhecimento acelerado, os rebocos monocamada satisfaziam as exigências de resistência de aderência. 2.3.2.7 Idade do revestimento De acordo com Carasek e Scartezini (1999), a idade do reboco exerce influência na resistência de aderência. Os autores estudaram a evolução da resistência de aderência de revestimento de argamassa bastarda sobre alvenaria de blocos cerâmicos ao longo do tempo. Para tal realizaram ensaios de arrancamento aos 2,7,14 e 23 dias e aos 4,8 e 12 meses. Verificaram a ocorrência de picos de resistência logo nas primeiras idades, entre 7 a 14 dias, ocorrendo depois uma queda na resistência até ao valor obtido aos 23 dias, valor este que posteriormente se manteve aproximadamente constante com o decorrer do tempo. Segundo os autores, este comportamento pode ser explicado pela retracção da argamassa de revestimento, que ao ocorrer no seu máximo pode ter gerado tensões na interface prejudicando a ligação então existente e provocando a referida redução da resistência de aderência. No mesmo estudo, verificou-se nas primeiras idades, entre 2 a 7 dias, uma maior incidência de rotura coesiva da argamassa de revestimento, indicando uma fraca resistência intrínseca da argamassa nestas idades. Nas idades mais avançadas passa a predominar a rotura adesiva pela interface. Uma das explicações considerada pelos autores para este último facto é a possibilidade da existência de movimentos diferenciais entre o revestimento e o suporte que podem ocorrer com o tempo, gerando tensões que enfraquecem a ligação da interface. Miranda (2004) sugere que outra razão para a predominância da rotura pela interface é o aumento da resistência à tracção da argamassa com a idade, que pode superar a resistência da interface. De acordo com Scartezini (2002), referido por Miranda (2004), o comportamento da resistência de aderência ao longo do tempo é influenciado pela 12 A aderência argamassa-suporte cura húmida das argamassas e é diferente consoante estas são aplicadas sobre suportes de alvenaria de blocos cerâmicos ou de blocos de betão normal, também designados por blocos de cimento. No seu estudo, o autor verificou, à semelhança dos resultados apresentados no parágrafo anterior, que nas alvenarias de blocos cerâmicos, a resistência de aderência crescia nas primeiras idades, contudo obteve picos de aderência aos 28 dias, seguindo-se uma queda de resistência e mantendo-se o último valor nas idades seguintes. Para a argamassa sobre alvenaria de blocos de betão normal, geralmente a resistência de aderência mantinha-se inalterada nas primeiras idades, até aproximadamente aos 20 dias, e sofria pequenos acréscimos ao longo do tempo; como os blocos de betão normal propiciam maior ancoragem ao revestimento, a retracção que eventualmente ocorre na argamassa não irá influenciar negativamente a resistência de aderência à tracção. 2.3.3 Factores inerentes ao suporte 2.3.3.8 Textura superficial A textura superficial do suporte é uma característica muito importante na promoção de aderência (Ioppi et al. 1995). De acordo com Carasek (1997), Scartezini e Carasek (2003), Paes et al. (2005), revestimentos aplicados sobre alvenaria de blocos de betão normal apresentam maior aderência em detrimento dos aplicados em alvenaria de blocos cerâmicos. Os dois tipos de blocos apresentam uma estrutura superficial distinta. O bloco cerâmico apresenta uma superfície mais compacta e lisa (Figura 2.3, à esquerda); o bloco de betão possui uma maior rugosidade superficial e uma textura diferenciada (Figura 2.3, à direita) que favorece o intertravamento dos produtos de hidratação, pois permite uma melhor penetração da calda no interior dos poros do bloco, propiciando a ancoragem. Suportes com maior rugosidade superficial apresentam uma maior área de contacto entre estes e a argamassa, o que pode levar a um maior transporte de água da argamassa fresca para o interior dos poros do suporte. Em Portugal, excepto nas ilhas, a execução de alvenarias de blocos de betão normal encontra-se em desuso em detrimento das alvenarias de blocos cerâmicos, no Brasil, onde estes estudos foram realizados, a construção com alvenarias de blocos de betão normal é muito mais frequente [w1]. Figura 2.3 - Vista da superfície de blocos de alvenaria com ampliação de 50 vezes (Scartezini e Carasek, 2003): à esquerda, bloco tijolo cerâmico; à direita, bloco de betão normal. Se o suporte for muito liso e compacto há dificuldade de penetração da calda nos seus poros, não se desenvolvendo o mecanismo normal de aderência (Veiga, 13 Capítulo 2 2003); suportes nestas condições, como os de betão armado moldado in-situ, devem ter tratamentos adicionais antes da aplicação do reboco. 2.3.3.9 Porosidade e absorção inicial A sucção capilar exercida pelo suporte é fundamental para que se desenvolva o mecanismo de aderência. A força capilar de um suporte e a quantidade de água que este pode absorver depende da sua porosidade - quantidade de vazios - e porometria - dimensão e distribuição dos poros (Ioppi et al., 1995). Nem todos os poros do suporte contribuem para a sucção capilar. Os poros da argamassa variam de 0,001 μm até aproximadamente 5 μm; poros do suporte com diâmetros superiores a 5 μm são inoperantes, pois não têm força capilar suficiente para vencer os poros da argamassa (Carasek et al., 2001). Por outro lado, poros com diâmetro muito pequeno, embora com elevada força de sucção, retiram uma menor quantidade de água da argamassa nos instantes iniciais, o que prejudica o desenvolvimento da aderência (Paes et al., 2005). Ainda em relação à dimensão dos poros, de acordo com Carasek (1996), citada por Miranda (2004), a resistência de aderência é influenciada pelo nível de preenchimento dos poros capilares do suporte com cristais de hidratação ou carbonatação do ligante. Por um lado, a resistência de aderência é baixa quando os poros do suporte apresentam dimensões aproximadamente iguais às dos referidos cristais. Pelo contrário, quando os poros capilares do suporte são maiores, os cristais penetram em grande quantidade para o interior dos mesmos, aumentando assim a resistência de aderência. Para que ocorra uma boa aderência mecânica dos rebocos aos suportes, estes devem ter uma sucção média e uniforme. Demasiada capacidade de absorção pode ser desfavorável por tender a dessecar rapidamente o revestimento, impedindo a hidratação dos seus constituintes e favorecendo a formação de uma interface pulverulenta. Uma sucção reduzida do suporte dificulta a penetração da calda e da própria argamassa entre os poros e rugosidades deste; consequentemente, na interface forma-se uma estrutura porosa, ocorrendo roturas adesivas (Veiga, 1998). De acordo com Carasek (2001) é frequente avaliar a sucção de água dos blocos do suporte de alvenaria através da sua taxa inicial de absorção de água, denominada pela sigla IRA (Inicial Rate Absortion), obtida de acordo com o método de ensaio americano ASTM C67 (1990). Neste ensaio mede-se a massa de água absorvida por um bloco após estar um minuto em contacto com uma lâmina de água com 3,2 mm de altura. Autores como Han e Kishitani (1984) e Groot e Larbi (1999) obtiveram uma relação entre a resistência de aderência à tracção e a taxa inicial de absorção de água (IRA) dada por uma parábola, existindo um valor óptimo desta taxa que garante a maior resistência de aderência (Figura 2.4). Por exemplo, Groot e Larbi (1999), referidos por Carasek (2001), recomendam um valor do IRA de tijolos cerâmicos, determinado pelo método de ensaio referido, entre 30 a 50g/200cm2/min, com vista à obtenção da máxima aderência. Ribar e Dubovoy (1988) e Gallegos (1995), citados por Mota (2006), contestam a influência do IRA na aderência de argamassas, pois segundo os autores, o ensaio mede a absorção de água livre e não da água restringida da argamassa; para além 14 A aderência argamassa-suporte disso mede a sucção durante apenas 1 minuto, o que não caracteriza as forças capilares ao longo do tempo. Por outro lado, poros de grandes diâmetros que retiram grande quantidade de água livre das argamassas durante o ensaio de determinação do IRA são inoperantes frentes aos poros no interior da argamassa no estado fresco. fu IRA Figura 2.4 - Relação entre a taxa inicial de absorção de água (IRA) e a resistência de aderência à tracção (fu) (Carasek, 2001). 2.3.3.10 Teor de humidade do suporte Em cada tipo de suporte, o teor de humidade antes da aplicação da argamassa tem uma influência na resistência de aderência. A humidificação prévia do suporte tem por objectivo evitar uma dessecação prematura dos rebocos, que por sua vez pode conduzir a uma diminuição da aderência, o que pode ocorrer quando os suportes possuem elevada absorção de água ou os revestimentos são aplicados em tempo quente e seco (Carasek, 1997; Miranda, 2004). No entanto, este procedimento deve ser efectuado com precaução, pois uma humidificação em excesso pode levar a uma queda da resistência de aderência devida à redução excessiva da sucção do suporte (Carasek et al., 2001). Em obra, os suportes de alvenaria, em geral, necessitam de ser humedecidos antes da aplicação da primeira camada de revestimento para que a água de amassadura não seja rapidamente absorvida; no entanto, em suportes lisos e pouco absorventes não é aconselhável o humedecimento (Lucas, 1990); por outro lado, a humidificação facilita o contacto entre a argamassa e o suporte, pois um material completamente seco apresenta maior dificuldade em absorver de início alguma água do que um material já ligeiramente humidificado (Faria, 1993). Em condições laboratoriais, Scartezini e Carasek (2003) verificaram que o humedecimento de blocos de betão normal (7% em relação à absorção total) melhorava a aderência pela diminuição da sucção de água do suporte, o que pode ter resultado numa diminuição dos efeitos de retracção da argamassa. 2.3.3.11 Limpeza do suporte Toda a sujidade existente sobre a base (pulverulências, óleo descofrante, eflorescências) reduz o valor médio da resistência de aderência à tracção. As sujidades formam uma barreira impedindo a migração da calda para os poros da base (Carvalho et al., 2005). Se a superfície estiver impregnada de óleo, este exerce uma acção hidrofugante, impedindo a penetração da calda e da própria argamassa para o interior da camada superficial da base (Carasek et al., 2005). 15 Capítulo 2 Uma das principais preocupações antes da aplicação do revestimento deve ser a limpeza do suporte. Carasek e Cascudo (2007) observaram em nove obras o destacamento da camada de salpico do suporte de betão devido precisamente à não remoção de óleo descofrante. Flores-Colen et al. (2009) verificaram igualmente que a falta de limpeza do suporte de betão antes da aplicação do salpico reduz os valores da tensão de aderência. 2.3.3.12 Tratamentos do suporte Os tratamentos do suporte podem actuar ao nível da aderência química ou ao nível da aderência mecânica. Ao nível das soluções que visam desenvolver a aderência química destaca-se a aplicação de promotores de aderência na superfície do suporte ou a aplicação de cimento cola. Um dos tratamentos mecânicos mais vulgares é o salpico; no entanto, pode ser ineficiente em suportes demasiado lisos. Nos suportes de betão armado, a forma mais eficaz de melhorar a aderência mecânica é a criação de rugosidades através de técnicas de desgaste superficial, como escova de aço, jacto de água de elevada pressão (Figura 2.5) ou jacto de areia seca (Miranda, 2004). Figura 2.5 - Criação de rugosidades no betão com jacto de água a elevada pressão [w2]. 2.3.4 Factores externos ao sistema suporte/revestimento 2.3.4.13 Modo de aplicação da argamassa Segundo Gonçalves e Bauer (2005), as várias camadas de revestimento podem ser aplicadas por projecção, com equipamento mecânico, ou lançadas e pressionadas manualmente por um pedreiro. Quando a aplicação do revestimento de argamassa é feita de forma manual numa parede, a resistência de aderência à tracção varia com a altura de aplicação, o que demonstra que a ergonomia do pedreiro que aplica a argamassa influencia fortemente a aderência. Os autores no seu estudo obtiveram uma média da resistência de aderência mais elevada na altura próxima a 1,30 m (Figura 2.6), posição em que o pedreiro aplica a argamassa com o corpo erecto, permitindo uma maior libertação de energia de aplicação. De acordo com Duailibe et al. (2005) e Costa et al. (2010), nas aplicações por projecção, os revestimentos apresentam maior resistência de aderência e menor permeabilidade à água. A argamassa, quando lançada por projecção mecânica, tem possibilidades de ter uma extensão de aderência maior, uma vez que a pressão 16 A aderência argamassa-suporte Fu (MPa) utilizada para o lançamento é maior do que a conferida pelo lançamento manual; o aumento da energia de impacto diminui os vazios e defeitos na interface. No lançamento por projecção, a pressão é controlada por um manómetro, existindo assim um maior controlo na aplicação. Altura das fiadas (m) Figura 2.6 - Relação entre a aderência da argamassa e a altura de lançamento (Gonçalves e Bauer, 2005). 2.3.4.14 Cura húmida Pereira et al. (1999) verificaram que os revestimentos constituídos por uma camada de argamassa de cimento de 2 cm aplicados sobre blocos cerâmicos, quando curados em câmara húmida até aos 28 dias, apresentavam resistências de aderência cerca de 3,5 vezes superiores aos não curados. A cura húmida das camadas de revestimento nas primeiras idades (3 a 7 dias) contribui para o desenvolvimento da resistência de aderência. Tal influência pode estar associada com a diminuição dos efeitos da retracção da argamassa nestas idades, bem como da melhoria das condições de hidratação do cimento (Pereira et al., 1999; Scartezini e Carasek, 2003; Gomes et al., 2005). Em obra, a cura húmida é importante, sobretudo em tempo quente e seco, pois evita que as camadas de revestimento sequem demasiado depressa agravando a sua dessecação e retracção, fenómenos prejudiciais à aderência. A humidificação deve ser realizada por aspersão, com jacto muito fino, de preferência pela manhã e ao fim da tarde para não provocar choque térmico (Lucas, 1990). 2.3.4.15 Condições atmosféricas durante a aplicação A aplicação das argamassas não deve ser efectuada sob condições atmosféricas que possam pôr em risco as suas condições de hidratação fazendo com que a aderência fique prejudicada (Quintela, 2006). Assim, deve ser evitada a aplicação destes revestimentos nos seguintes casos: • temperatura ambiente inferior a 5ºC ou superior a 35ºC; • vento forte, seco e quente; • exposição dos paramentos à acção directa dos raios solares, em tempo quente. 17 Capítulo 2 Precisamente, em condições de tempo quente e vento forte e seco, a retracção nas argamassas contendo cimento é maior, podendo conduzir à ocorrência de descolamentos (Carasek e Cascudo, 2007). Os rebocos não devem ser aplicados quando estiver a chover, nem antes de decorridas 48 horas da última chuva (Quintela, 2006); a água da chuva pode conduzir à saturação total do paramento ou à formação de uma película na sua superfície, impedindo a ancoragem mecânica da argamassa (Miranda, 2004). 2.4 A PERDA DE ADERÊNCIA 2.4.1 Causas A aderência inicialmente estabelecida aquando da aplicação do reboco pode ser destruída ao longo do tempo sob as condições de serviço, uma vez que os revestimentos exteriores estão sujeitos a um conjunto de mecanismos de degradação relacionados com o meio onde estão inseridos (Quintela, 2006). A aderência dos revestimentos tem que ser suficiente para fazer face às acções externas como (Vieira, 2009): • sucção provocada pela acção do vento; • variações dimensionais provocadas por gradientes de temperatura e pela radiação solar, tanto ao nível do suporte como do revestimento; • acção da chuva incidente (acção conjunta da chuva e do vento). As variações dimensionais nos rebocos e nos suportes geram movimentos diferenciais entre ambos, estes movimentos conduzem por sua vez a tensões de tracção e de corte na interface reboco/suporte, as quais quando são superiores à resistência de aderência, respectivamente, ao corte e à tracção na interface provocam uma rotura adesiva. De facto, a retracção da argamassa, que origina a rotura por corte em relação ao suporte, é uma das principais causas da perda de aderência. A deficiente cura dos rebocos bem como uma excessiva espessura são factores que conduzem a uma elevada retracção. As tensões na interface podem ser igualmente introduzidas por outras solicitações do suporte a que os revestimentos são obrigados a responder, como deformações por fluência ou movimentos devido a uma acção sísmica (Veiga, 1998; Miranda, 2004; Gaspar et al., 2007). As deficiências de aderência em serviço podem também dever-se à cristalização de sais na interface entre o revestimento e o suporte (criptoflorescências), e à permanência prolongada de humidade (Gaspar et al., 2007). Este problema pode ser agravado se o revestimento for pouco permeável ao vapor de água, pois a água infiltrada, cuja saída para o exterior é dificultada, exerce pressão sobre o revestimento (Veiga, 2003). 2.4.2 Anomalias As anomalias relacionadas com a perda de aderência entre as argamassas e o suporte (paramento ou camada adjacente) podem decorrer de situações de destacamento entre as duas superfícies ou por perda de coesão da argamassa que, 18 A aderência argamassa-suporte deste modo, se solta da fachada. No primeiro caso, quando a argamassa perde a sua capacidade de aderência ao suporte, dá-se, numa primeira fase, o seu descolamento, em relação ao suporte, geralmente seguido por empolamento do reboco (Figura 2.7, à esquerda) até atingir a fase de desprendimento, isto é, a separação definitiva da argamassa ao seu suporte (Figura 2.7, à direita). O descolamento resulta apenas do afastamento do reboco em relação ao suporte, enquanto que o empolamento envolve variação da geometria do reboco, geralmente pela formação de convexidades para o exterior (abaulamentos) ou para o interior (esmagamento) (Veiga, 2003; Gaspar et al., 2007). No segundo caso, a perda de coesão corresponde à desunião ou desagregação dos componentes da argamassa, seguida pela perda das partículas que a compõe; este fenómeno é mais frequente em argamassas cujo ligante é a cal aérea ou com baixo teor de cimento e/ou baixa compacidade (Gaspar et al., 2007; FloresColen, 2009). Figura 2.7 - À esquerda, exemplo de empolamento (Gaspar et al., 2007); à direita, exemplo de desprendimento de reboco de um suporte de betão armado (Carasek e Cascudo, 2007). Por outro lado, uma menor resistência de aderência ao corte conduz a maiores aberturas de fissuras no revestimento (Joisel, 1981, citado por Veiga, 1998). Uma boa aderência entre o reboco e a base de assentamento permite controlar a ocorrência de fendilhação, uma vez que as tensões internas que se geram durante a retracção são distribuídas de forma equilibrada por toda a argamassa (Flores-Colen, 2009). 2.5 A AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES DA ADERÊNCIA 2.5.1 Generalidades No estudo da aderência das argamassas e dos factores que a influenciam, os ensaios de arrancamento por tracção (pull-off) têm sido preponderantes. Nestes, a resistência de aderência do reboco ao suporte é determinada como a tensão de tracção máxima aplicada por uma carga perpendicular à superfície do reboco (CEN, 2000). Este tipo de ensaios tem sido descrito em normas e outros documentos, nomeadamente na norma europeia EN 1015-12 (CEN, 2000), na recomendação RILEM MR21 (1994) e na ficha de ensaio LNEC FE Pa36 (1986). A resistência de aderência tangencial dos revestimentos de argamassas pode ser determinada pelos métodos MR14 (1982) e MR 20 (1982), sendo no primeiro por aplicação de corte e no segundo por torção. Em relação à extensão de aderência, análises microscópicas da 19 Capítulo 2 interface com fotografia permitem (Temache-Esquivel et al., 2007). fazer uma avaliação desta propriedade Nos edifícios, a avaliação in-situ da aderência é importante na fase de execução, no âmbito do controlo de qualidade (Flores-Colen, 2009); na fase de pós-ocupação, deve ser realizada periodicamente durante as condições em serviço, permitindo detectar atempadamente potenciais problemas de descolamentos e desprendimentos (Gaspar et al., 2007; Flores-Colen et al., 2009). Nesta matéria, a norma americana ASTM E 2270 (2005) recomenda a realização de inspecções em fachadas, em geral, com periocidade de 5 anos; estas inspecções devem incluir uma inspecção detalhada em 25% da área da fachada que inclui a percussão de um martelo no paramento e detecção do som emitido (um som cavo permite detectar zonas não aderentes) e a realização de 3 ensaios de pull-off (Flores-Colen, 2009). A precursão do martelo é a técnica mais expedita de verificação da aderência, mas apenas os ensaios de arrancamento permitem avaliar quantitativamente esta característica de desempenho; o carácter destrutivo destes constitui a sua principal desvantagem. Mais recentemente, têm sido introduzidas outras técnicas não-destrutivas com a finalidade de avaliar qualitativamente a aderência nas fachadas, nomeadamente os ultra-sons e o registo, através de sonómetros, de um sinal acústico gerado pela percussão na superfície conjugado com a termografia, que permite identificar zonas não aderentes devido à humidade; em relação à primeira técnica, apesar dos vários estudos já realizados ainda não foi estabelecida uma relação entre o resultado obtidos no ensaio e a aderência. A durabilidade da aderência é também um parâmetro importante de ser avaliado. Os revestimentos face à acção dos agentes de degradação do ambiente onde se inserem podem perder a sua capacidade de aderência. A avaliação da durabilidade da aderência pode ser efectuada através de ensaios de arrancamento in-situ sob condições de envelhecimento natural. No entanto, a forma mais rápida de analisar a durabilidade de aderência é submeter provetes a ensaios de envelhecimento artificial acelerado (Quintela, 2006). Frequentemente, por falta de dados não é possível relacionar a evolução da resistência de aderência obtida nestes ensaios, com o revestimento a ser sujeito a um determinado número de ciclos de envelhecimento, com a evolução desta propriedade ao longo do tempo nas condições de serviço (Freitas et al., 2008). Em Portugal, Quintela (2006) procurou estabelecer uma evolução entre a resistência de aderência à tracção e o tempo de envelhecimento acelerado, contudo concluiu que não era possível pois existiam muitos factores que condicionavam a aderência para além da exposição a agressões ambientais. A avaliação da durabilidade da aderência é sobretudo importante em revestimentos cuja aplicação ainda é recente, como é o caso dos rebocos prédoseados; a norma europeia EN 998-1 (CEN, 2003) especifica como um dos requisitos para este tipo de revestimento, que tem que ser declarado pelo fabricante, o valor da resistência de aderência realizada de acordo com a EN 1015-12 (CEN, 2000) após ciclos de envelhecimento preconizados na norma EN 1015-21 (CEN, 2002). 20 A aderência argamassa-suporte 2.5.2 Ensaios de resistência ao arrancamento por tracção Em Portugal a norma EN 1015-12 (CEN, 2000) é o documento de referência para a realização de ensaios de arrancamento por tracção (Figura 2.8), em laboratório. A técnica de ensaio consiste na extracção, com máquina pull-off, de uma pastilha metálica previamente colada ao revestimento com resina na área de ensaio. As áreas de ensaio devem ser circulares com aproximadamente 50 mm de diâmetro. A norma considera duas possibilidades para a limitação da área circular a ensaiar: • com o reboco no estado fresco, através da introdução de um anel de 50 mm de diâmetro interior, de modo a cortar em círculo toda a espessura do revestimento; • com o reboco no estado endurecido, usando uma caroteadora; o rasgo deve ter a profundidade do revestimento mais 2 mm do suporte. Assim, garante-se que o arrancamento ocorra apenas sobre a área da pastilha. A distância mínima entre cortes individuais, ou entre estes e os bordos livres do suporte, não deve ser inferior a 50 mm. Durante o período de cura (28 dias), os rebocos devem ser armazenados num saco de polietileno estanque ao ar e selado a uma temperatura de 20ºC ± 2 ºC durante 7 dias. Após este período, devem ser removidos do saco e conservados à mesma temperatura e a uma humidade relativa de 65% ± 5 % nos restantes 21 dias. Fu 1 - Pastilha (acessório para arrancamento) 2 - Camada adesiva (cola) 3 - Reboco * 3 - Reboco, área de ensaio 4 - Suporte Fu - Força de rotura Figura 2.8 - Esquema do ensaio de pull-off (Quintela, 2006). O ensaio deve ser realizado aos 28 dias com o revestimento seco sob as referidas condições padronizadas. Durante o ensaio, com o equipamento de pull-off, aplica-se uma força perpendicular à pastilha, sem choque e com uma taxa uniforme de forma que a rotura ocorra entre os 20 e os 60 segundos. A tensão de aderência (fu) é obtida como o quociente entre a força de rotura (Fu) e a área de ensaio (A): fu = Fu A A norma define três tipologias de rotura no ensaio de arrancamento: rotura tipo a, tipo b e tipo c (Figura 2.9). A primeira é também designada de rotura adesiva e ocorre por perda de aderência na interface. As roturas tipo b e c são coesivas, e acontecem, respectivamente, no seio da camada de reboco e no suporte. Se ocorrer uma rotura do tipo a, o resultado do ensaio é igual à tensão de aderência. Quando 21 Capítulo 2 ocorrem roturas do tipo b e c, o resultado do ensaio é considerado um limite inferior da tensão de aderência, sendo utilizado no cálculo da sua média. Quando a rotura ocorre pela cola entre a argamassa e a pastilha, o resultado do ensaio é nulo e por consequente é rejeitado. A norma prevê a realização de cinco ensaios de arrancamento por revestimento. Rotura adesiva tipo a Rotura coesiva tipo b Rotura adesiva tipo c Figura 2.9 - Tipologias de rotura definidas pela norma EN 1015-12 (Quintela, 2006). A recomendação RILEM MDT.D.3 (2004) introduz alterações à norma EN 1015-12 com vista à sua aplicação in-situ. Este documento considera a possibilidade de áreas de ensaio com secção quadrada - utilizando-se neste caso pastilhas metálicas quadradas (Figura 2.10). Este formato permite a utilização de uma rebarbadora e conduz a menos interferências da execução dos rasgos no reboco aplicado. A localização dos ensaios deve ser tal que constitua uma amostra representativa de toda a fachada. Por outro lado, verifica-se que a parede corrente e a zona inferior às platibandas são as zonas da fachada com maiores problemas de aderência, seguindo o soco. Neste sentido, se não forem verificadas condições específicas que justifiquem a realização dos ensaios de pull-off noutras zonas, estes devem ser efectuados nas áreas referidas acima e de forma aleatória (Flores-Colen, 2009). Figura 2.10 - Exemplos de área de teste e pastilhas quadradas para realização do ensaio pulloff (Flores-Colen, 2009). Devido à heterogeneidade dos paramentos, principalmente quando se trata de alvenarias, os resultados dos ensaios de arrancamento apresentam elevada variabilidade. Diversos autores como Scartezini e Carasek (1999), Scartezini et al. (2001) e Costa et al. (2009), citado por Vieira (2009), ao estudar a aderência de rebocos em alvenarias, obtiveram sempre valores de resistência de aderência sobre as juntas de assentamento maiores do que os obtidos sobre os blocos. É necessário ter sempre presente que os ensaios pull-off são destrutivos e afectam a integridade do 22 A aderência argamassa-suporte revestimento, pelo que serão necessários trabalhos de reparação posteriores (FloresColen et al., 2009). Num ensaio de arrancamento, a rotura pode ser adesiva, se ocorrer perda de aderência entre o reboco e o suporte, ou coesiva, se ocorrer no seio do revestimento ou no seio do suporte (CEN, 2000). 2.5.3 Ensaio de aderência ao corte As tensões de corte que são geradas na interface desempenham um papel na perda de aderência pelo que a sua avaliação também é importante; actualmente não existem normas de ensaios para quantificar a resistência de aderência de argamassas, no entanto a RILEM propõe dois métodos para determinar a aderência tangencial de argamassas, um por aplicação de corte - MR14 (1982) e um por aplicação de torção - MR20 (1982). Na prática, estes ensaios de avaliação da aderência tangencial não são frequentemente aplicados, devido, entre outros motivos, à elevada dispersão dos resultados obtidos (Sabbatini, 1990. A avaliação da aderência tangencial por aplicação de torção é mais aplicada, no Brasil têm sido realizados ensaios para avaliar esta propriedade, estes têm por base o método MR20 da RILEM com algumas alterações (Ioppi et al. 1995; Dubaj, 2000). 2.5.3.16 Ensaio de aderência tangencial por aplicação de corte A RILEM através do método MR 14 propõe uma avaliação da resistência de aderência tangencial entre uma argamassa e um suporte por aplicação de corte directo. Para a realização do ensaio são necessários dois blocos de suporte, cujas dimensões recomendadas são 40x65x160 mm, revestidos em ambos os lados; duas chapas de aço coladas ao revestimento (uma de cada lado) garantem a transmissão de esforços entre os dois blocos (Figura 2.11). A força é aplicada como se mostra no esquema da Figura 2.11 e a resistência de aderência tangencial da interface é dada por: 𝜏 = F 2b∙2a (2.1) b Corte B-B 2 1 - amostra de suporte 1 2 - revestimento 3 - chapa metálica a 2 a 1 3 Figura 2.11 - Esquema do ensaio de resistência aderência tangencial por aplicação de corte. 23 Capítulo 2 2.5.3.17 Ensaio de aderência tangencial por aplicação de torção O documento MR20 da RILEM (1982) preconiza um ensaio de aderência ao corte por aplicação de torção; o ensaio consiste em aplicar uma força de torção no revestimento que gera tensões de corte na interface entre este e o suporte (Figura 2.12). 1 - Anel metálico [mm] ½F 2 3 2 - Barra de aço 3 - Peça de ligação anel/barra 4 - Reboco a 1 150 4*- Reboco, área de ensaio 5 - Suporte a A força provoca a rotação do anel até se atingir a resistência ao corte ½F 2 Corte B-B 1 4* 4 Figura 2.12 - Mecanismo do ensaio de resistência de aderência ao corte por aplicação de torção (RILEM, 1982). As áreas de teste têm a forma de anel com diâmetro interior de 50 mm e diâmetro exterior de 150 mm, a sua delimitação é executada por intermédio de um rasgo circular no revestimento com diâmetro igual ao diâmetro exterior da área de teste, sendo posteriormente removido todo o revestimento num raio de 25 mm do centro da área delimitada pelo rasgo em questão; após delimitada a área de teste do revestimento sobre esta é colado um anel metálico com as mesmas dimensões. A força é aplicada numa barra de aço ligada ao anel metálico, gerando torção neste, até que haja a rotura do sistema, que se espera que seja na interface. A resistência de aderência ao corte é então dada por: em que: 𝜏= 1⁄2 F ∙ 2a A∙r (2.2) F - força aplicada; 24 A aderência argamassa-suporte a - braço da força (Figura 2.12) A - área do anel; r - raio médio do anel. No caso de a rotura ocorrer pelo suporte ou pela argamassa o resultado do ensaio constitui um limite mínimo do valor da resistência de aderência. De acordo com a recomendação, o ensaio deve ser realizado para três provetes e com o revestimento na horizontal. 2.5.4 Envelhecimento artificial acelerado O envelhecimento artificial acelerado consiste na exposição acelerada dos revestimentos em laboratório, onde os agentes de degradação são controlados de maneira a simular o mais possível o ambiente natural (Quintela, 2006). A norma EN 1015-21 (CEN, 2002) define um procedimento de envelhecimento acelerado. O procedimento consiste em submeter uns provetes constituídos por um suporte e revestimento a uma série de quatro ciclos de aquecimento/congelação e a uma série de quatro ciclos de humidificação/congelação, os quais estão especificados no Quadro 2.1. Entre as duas séries os provetes devem ser acondicionados em ambiente com temperatura a 20ºC ± 2ºC e humidade relativa a 65% ± 5%, durante 48 h. Após os provetes serem sujeitos a envelhecimento artificial acelerado são realizados ensaios de permeabilidade à água e posteriormente ensaios de arrancamento segundo o procedimento descrito na norma EN 1015-12 (2000). Quadro 2.1 - Ciclos de envelhecimento acelerado preconizados pela EN 1015-21 (CEN, 2002). Fase 1 2 3 4 Fase 1 2 3 4 Ciclo aquecimento/congelação Ambiente Descrição - provetes sujeitos a: Temp. Hr Aquecimento por radiação de 60ºC ± 2ºC n/a infra-vermelhos Colocação em ambiente 20ºC ± 2ºC 65% ± 5% normalizado Armazenamento em arca -15ºC ± 1ºC n/a frigorífica Colocação em ambiente 20ºC ± 2ºC 65% ± 5% normalizado Ciclo humidificação/congelação Ambiente Descrição - provetes sujeitos a: Temp. Hr Colocação em água, com o lado 20ºC ± 1ºC (temp. revestido imerso n/a da água) aproximadamente 5 mm Colocação em ambiente 20ºC ± 2ºC 65% ± 5% normalizado Armazenamento em arca -15ºC ± 1ºC n/a frigorífica Colocação em ambiente 20ºC ± 2ºC 65% ± 5% normalizado Duração 8h ± 15 min 30 min ± 2 min 15 h ± 15 min 30 min ± 2 min Duração 8h ± 15 min 30 min ± 2 min 15 h ± 15 min 30 min ± 2 min Temp - temperatura; Hr - humidade relativa do ar; n/a - não aplicável 25 Capítulo 2 2.5.5 Requisitos de aderência Algumas normas e documentos técnicos estabelecem valores limites para a resistência de aderência obtida no ensaio pull-off, os quais estão indicados no Quadro 2.2 (Quintela, 2006; Flores-Colen, 2009; Galvão, 2009). Quadro 2.2 - Requisitos do valor de resistência de aderência obtido no ensaio pull-off (Quintela, 2006; Flores-Colen, 2009; Galvão, 2009). Requisito fu ≥ 0,3 MPa ou rotura coesiva fu ≥ VD (valor declarado pelo fabricante) fu ≥ 0,3 MPa, não devendo nenhum resultado individual ser inferior a 0,2 MPa (excepto no caso dos revestimentos com base em cal aérea) fu ≥ 0,3 MPa para rebocos com pintura ou cerâmicos Referência Relatório 427/05 (LNEC, 2005) EN 998 - 1 (CEN, 2003) NF P 15-201 (CSTB, 2004) NBR 13749 (ABNT, 1996) 2.6 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO Neste capítulo foi feita uma caracterização do mecanismo de aderência, foram identificados os factores que a influenciam, quais as anomalias que resultam da perda de aderência e quais os ensaios que são utilizados na quantificação das propriedades da aderência (resistência de aderência normal, resistência de aderência tangencial e extensão de aderência). A aderência entre um reboco e uma base porosa é um fenómeno mecânico que resulta da penetração da calda nos poros e entre as rugosidades do suporte. A sucção capilar do suporte é fundamental para que se dê este processo. A qualidade aderência de uma argamassa ao suporte pode ser avaliada pela resistência de aderência à tracção através de ensaios pull-off, existem ainda ensaios para a determinação da resistência de aderência tangencial, mas só o pull-off está normalizado. A durabilidade dos revestimentos pode ser avaliada submetendo provetes a envelhecimento artificial acelerado após o qual se efectuam ensaios de arrancamento. As propriedades da aderência são influenciadas por inúmeros factores, nos Quadros 2.3 a 2.6 são listados os factores, que de acordo com a bibliografia existente, alteram estas propriedades; para os factores controláveis é referida uma orientação de como estes podem melhorar a aderência em geral. O objectivo final será a introdução destes factores num modelo numérico de um sistema suporte/reboco, o capítulo 3 incide na teoria que serve de base à criação do modelo. 26 A aderência argamassa-suporte Quadro 2.3 - Factores relativos à composição da argamassa que influem na aderência. Factores relativos à composição das argamassas Orientação para melhorar a aderência Teor de cimento Aumentar o teor de cimento. Finura do cimento e adição de outros finos Incorporar cimento com maior finura; substituir 5 ou 10% do teor de areia por pó de tijolo cerâmico; substituir 10% da massa de cimento por sílica de fumo Angelim (2003); Lima (2009). Carasek et al. (2001); Jung (1988); Veiga, (1998). Teor de cal Incorporar pequenas % de cal aérea hidratada nas argamassas de cimento; por exemplo traço volumétrico 1:1/4:3 (cimento:cal:areia). Carasek et al. (1996) ; Sugo et al. ( 2001). Composição da cal Incorporar cal com maior % de hidóxido de magnésio. Guimarães e Cincotto (1985); Siqueira (1995). Teor de areia Suportes com baixa sucção de água: Diminuir o teor de areia. Suportes com elevada sucção de água: Aumentar o teor de areia. Granulometria da areia Utilizar uma mistura de areias com módulos de finura distintos com maior percentagem da areia com maior módulo de finura (cerca de 2/3). Natureza da areia Referência Goodwin e West (1980). Cruz (2008). Incorporar areia com maior teor de argila. Veiga (1998). Forma dos grãos de areia Utilizar a areia com grãos mais angulosos. Valdehita Roselo (1976). Outras adições Incorporar fibras de vidro. Silva et al. (2007). Adjuvantes Reduzir a utilização de introdutores de ar, hidrofugos de massa, aceleradores de presa; adicionar de promotores de aderência. Carasek et al. (2001); Veiga (1998). Quadro 2.4 - Factores relativos a propriedades do reboco que influem na aderência. Factores relativos a propriedades do reboco Orientação para melhorar a aderência Resistência intrínseca Utilizar argamassas mais resistentes. Consistência Recorrer a argamassas mais fluidas, isto é, mais trabalháveis. Retenção de água Utilizar rebocos com maior capacidade de retenção de água. Camadas de revestimento Aplicar o reboco com pelo menos duas camadas: salpico e camada base. Espessura do revestimento Evitar aplicação de rebocos muito mais espessos que 2,5 cm. Idade do revestimento Nas idades iniciais a rotura coesiva é maior que a adesiva pelo que se deve realizar cura húmida de forma a evitar a fissuração Referência Carasek, (1997); Flores-Colen (2009). Pereira et al. (1999); Costa et al. (2010). Faria (1993); Reddy e Gupta (2007). Mota et al. (2009). Quintela (2006); Carasek e Cascudo, (2007). Carasek e Scartezini (1999); Scartezini (2002). 27 Capítulo 2 Quadro 2.5 - Factores relativos ao suporte que influem na aderência. Factores inerentes ao suporte Orientação para melhorar a aderência Referência Textura superficial Utilizar suportes mais rugosos. Scartezini e Carasek (2003); Costa et al. (2010). Porosidade e absorção inicial Utilizar suportes com sucção média e uniforme e com o valor do IRA dentro do intervalo óptimo recomendado. Veiga (1998); Groot e Larbi (1999). Teor de humidade inicial Humidificar previamente o suporte, no caso do suporte ser de tijolo cerâmico. Limpeza Remover todas as sujidades do suporte antes da aplicação do reboco. Tratamentos da superfície Aplicar aditivo de aderência antes do reboco; criar rugosidades no caso de suportes lisos Lucas (1990); Scartezini e Carasek (2003). Flores-Colen et al. (2009). Miranda (2004); Carvalho et al. (2005). Quadro 2.6 - Factores externos que influenciam a aderência. Factores externos Orientação para melhorar a aderência Modo de aplicação da argamassa Projecção mecânica Cura húmida Condições atmosféricas Cura húmida nas primeiras idades - 3 a 7 dias Evitar aplicação do reboco com tempo muito seco e quente ou muito húmido Referência Gonçalves e Bauer (2005); Costa et al. (2010). Gomes et al. (2005). Quintela (2006). 28 Simulação numérica e programa ANSYS 3 SIMULAÇÃO NUMÉRICA E PROGRAMA ANSYS 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A modelação pelo método de elementos finitos da interface entre um suporte e uma argamassa como uma camada com características distintas das restantes, proposta deste trabalho, pode contribuir para um melhor entendimento dos factores que influenciam a aderência. Para a modelação da interface será utilizado o software ANSYS Multiphysics 11.0. Assim, os objectivos deste capítulo são: • identificar as potencialidades do ANSYS na resolução de problemas de diversas áreas; • caracterizar simulações numéricas já realizadas que se relacionam com a temática dos rebocos; • caracterizar um método para simular um sistema suporte/reboco com uma camada de interface, no ANSYS Multiphysics 11.0. 3.2 O PROGRAMA ANSYS Diversos problemas da Engenharia podem ser descritos em termos de equações diferenciais e condições de fronteira; as primeiras definem um campo de uma variável, como o deslocamento, a tensão ou a temperatura. Com excepção de alguns casos particulares, não é possível obter uma solução analítica exacta para estes problemas; contudo, uma solução aproximada pode ser obtida pelo método dos elementos finitos. O método consiste em dividir um domínio num número finito de pequenos subdomínios e em cada subdomínio aproximar as componentes do campo da variável a uma função polinomial - função de interpolação (Huebner et al., 2001). Em análises estáticas de estruturas é utilizada a formulação convencional de elementos finitos de deslocamentos compatíveis, para determinar o campo de deslocamentos. Esta formulação consiste em dividir um domínio em subdomínios, para os quais se conhece a matriz de rigidez, e utilizar uma função polinomial separada em cada um deles para aproximar cada componente do campo dos deslocamentos, garantindo a continuidade de deslocamentos nos nós adjacentes dos elementos (Turner et. al, 1956). O ANSYS Multiphysics é um software de modelação pelo método de elementos finitos de âmbito geral utilizado em diversas áreas da Engenharia; sobretudo mecânica, aeroespacial e civil. Foi desenvolvido para resolver numericamente uma ampla variedade de problemas. Estes podem incluir análises estruturais estáticas e dinâmicas (lineares como não lineares), transferência de calor, mecânica de fluidos, acústica e electromagnetismo. O ANSYS é frequentemente utilizado em engenharia mecânica no cálculo de tensões a que as peças estarão sujeitas nas condições de serviço [w3]. Por exemplo, o ANSYS Multiphysics foi utilizado no desenvolvimento do 29 Capítulo 3 Segway Personal Transporter (Segway PT) (Figura 3.1); os engenheiros recorreram ao software para prever os pontos críticos de tensão após fadiga em várias partes da estrutura do Segway PT e quais as zonas das suas rodas mais solicitadas durante o uso regular (Figura 3.1). Os resultados obtidos foram verificados sob testes físicos num equipamento de teste de fadiga desenvolvido especialmente para tal (ANSYS, 2002; w4). Figura 3.1 - À esquerda, segway PT modelo i2 [w4]; à direita, distribuição da carga pela na roda sujeita a uso regular (ANSYS, 2002). Na área da engenharia civil, o ANSYS Multiphysics pode ser aplicado desde os casos mais simples de análises estáticas de componentes de uma estrutura, com comportamento elástico linear; aos casos mais complexos de modelação numérica de pontes (Figura 3.2), quando neste é incorporado o software CivilFEM, que vem amplificar as potencialidades e ferramentas do primeiro na área da modelação das estruturas (Salete et al., 2006; [w5]). O CivilFEM é um pacote de software, instalado separadamente, que complementa o ANSYS Multiphysics com a introdução de mais tipos de elementos finitos, mais opções para modelar materiais, nomeadamente betão pré-esforçado; apresenta igualmente funções específicas para a modelação de pontes. Figura 3.2 - Modelação de uma ponte com o ANSYS e CivilFEM (Salete et al.,2006). Um exemplo simples de aplicação, que ilustra algumas das capacidades do ANSYS no cálculo estrutural é a resolução de uma treliça simplesmente apoiada 30 Simulação numérica e programa ANSYS sujeita a um determinado carregamento, como apresentado na Figura 3.3. Após a modelação em 2D no ANSYS o modelo da treliça tem o aspecto que mostra a Figura 3.4 [w3]. A solução em análises estruturais inclui tensões, deformações e deslocamentos nos nós e elementos da treliça; a representação destas grandezas nos diferentes nós ou elementos da estrutura é feita na configuração deformada, através de uma escala colorida com intervalos de valores; é ainda indicado o elemento onde o resultado da grandeza é máximo - através da sigla MX, e mínimo - sigla MN. Figura 3.3 - Treliça sujeita a um determinado carregamento [w3]. Figura 3.4 - Modelação da treliça da Figura 3.3 em 2D no ANSYS Multiphysics 11.0. Voltando ao exemplo, com base nos deslocamentos calculados o software exibe a configuração deformada do modelo para o correspondente carregamento (Figura 3.5); é possível observar que, face ao carregamento aplicado, os nós livres da treliça sofrem uma translação vertical, no sentido de cima para baixo, superior à horizontal. Figura 3.5 - Deformada da treliça da Figura 3.3, calculada no ANSYS Multiphysics. Na Figura 3.6 é apresentada a representação gráfica da distribuição de tensões axiais pelos elementos da treliça, obtida no ANSYS Multiphysics, como seria de esperar, face ao carregamento, os elementos ou tramos superiores da treliça estão em compressão e os inferiores estão em tracção. 31 Capítulo 3 σxx (MPa) Figura 3.6 - Tensões axiais (MPa) calculada no ANSYS Multiphysics para os elementos da treliça da Figura 3.3. Outra aplicação bastante comum do ANSYS Multiphysics é a optimização do dimensionamento de secções de elementos estruturais, nomeadamente, a optimização das dimensões da secção transversal de uma viga, com um determinado vão e sujeita a determinadas acções. O objectivo é que a viga tenha a menor área de secção possível (e consequentemente menor peso próprio) com vista a uma maior economia na sua execução; mas sem que a tensão em nenhum ponto da viga exceda um determinado valor, que em geral é igual à tensão de cedência do material que constitui a viga [w3]. Por exemplo, para a viga da Figura 3.7, conhecendo o valor de L1, L2 e F, o ANSYS realiza iterações com diferentes valores de H e W até encontrar os valores que minimizam a área da secção (e o volume da viga), sem que a tensão exceda o valor limite pretendido. L2 F W H L1 Figura 3.7 - Viga cujas dimensões H e W da secção se pretende optimizar quando L1, L2 e F já estão determinados [w3]. Para além do ANSYS Multiphysics, existem outros softwares ANSYS com funções e opções específicas para simular materiais com determinado tipo de comportamento como fluidos, condutores eléctricos ou matérias com propriedades magnéticas. O ANSYS Computational fluid Dynamics (CFD), especializado na simulação da mecânica de fluidos, tem sido bastante utilizado na área da medicina, no estudo de doenças cardiovasculares. Na Figura 3.8, é representado um exemplo de aplicação do cálculo das tensões Von Mises, nas paredes de uma artéria, causadas 32 Simulação numérica e programa ANSYS pela circulação sanguínea, cuja velocidade de circulação é conhecida com recurso ao ANSYS CFD (ANSYS, 2009). Tensões Von Mises (Pa) Figura 3.8 - Resultado do cálculo de tensões nas paredes de uma artéria no ANSYS CFD, devido à circulação sanguínea (ANSYS, 2009). 3.3 SIMULAÇÕES NUMÉRICAS EXISTENTES NA ÁREA DAS ARGAMASSAS 3.3.1 Generalidades Têm sido analisados pelo método de elementos finitos alguns modelos de suportes revestidos por argamassas, mas sem a inclusão da camada de interface entre os dois materiais, o que constitui a sua principal diferença face à presente investigação (Giordano et al., 2002; Temache-Esquivel et al., 2007; Costa et al., 2007). Nas secções seguintes serão apresentados dois casos de simulações numéricas que envolvem argamassas de revestimento aplicadas em suportes porosos desenvolvidos respectivamente por Temache-Esquivel et al.,2007 e Costa et al., 2007. Optou-se por analisar estes exemplos com mais detalhe por mostrarem como as ferramentas numéricas podem contribuir para o desenvolvimento na área das argamassas constituindo assim uma alternativa às campanhas laboratoriais. Em relação à modelação numérica de interfaces, esta tem sido frequentemente aplicada em modelos numéricos de vigas de betão reforçadas com elementos de FRP (Fiber Reinforced Polymer) para analisar o mecanismo de desunião entre o elemento de FRP e o suporte (Lorenzis e Zavarise, 2009); ou para estudar o processo de delaminagem, isto é, a descoesão na interface, entre as camadas dos materiais compósitos (Chandra et al., 2000). Por exemplo, nos metais com revestimentos poliméricos há o problema da delaminagem da camada polimérica, que assim deixa de proteger o metal. Neste tipo de problemas, simulações numéricas desempenham um papel importante para prever a ocorrência da delaminagem; o modelo da zona coesiva é actualmente o mais correcto para descrever este processo de falha da interface (Bosch et al., 2005). A modelação da interface também já foi aplicada em modelos numéricos de ferramentas diamantadas, como os discos diamantados utilizados no corte de peças 33 Capítulo 3 de betão e rochas ornamentais, constituindo uma camada entre o revestimento diamantado e a base metal. Com a inclusão da interface verifica-se uma distribuição de tensões mais realista face ao que ocorria na prática durante o uso - a camada diamantada solta-se da base de metal (Hu et al, 2008). 3.3.2 Modelação do ensaio de pull-off Costa et al. (2007) estudaram através da análise pelo método de elementos finitos a influência da geometria e dimensão dos provetes, a espessura e o tipo de cola empregue nos resultados dos ensaios de pull-off com base na norma brasileira NBR 13528 (ABNT, 1996). Os factores referidos são alguns dos que podem diferir de ensaio para ensaio mesmo sendo realizados segundo os padrões da referida norma. Paralelamente, realizaram uma campanha experimental de forma a comparar resultados. A modelação pelo método de elementos finitos dos ensaios, com as diferentes variáveis a estudar, foi realizada em 3 dimensões no ANSYS. O modelo computacional base construído pretende simular um suporte de betão sobre o qual está aderente um provete de argamassa, com cerca de 25 mm de espessura, com geometria circular de 50 mm de diâmetro, e sobre o qual é colada uma pastilha de alumínio, também circular; a camada de cola tem 5 mm (Figura 3.9). Figura 3.9 - Modelo base: provete e pastilha circulares com 50 mm de diâmetro, camada de cola de 5mm (Costa et al., 2007). Tendo como referência este modelo os autores fazem variar em cada iteração um dos factores que querem estudar: espessura da camada de cola, propriedades da camada de cola e geometria do provete. No estudo da influência da geometria do provete não é introduzida a camada de cola; como alternativa ao do modelo base, testaram um provete quadrado com 100 mm de lado. Os autores não modelaram a interface entre a argamassa e o suporte e consideraram as diferentes camadas, com propriedades diferentes, completamente aderentes. A influência dos factores é analisada através da comparação entre as tensões normais que se instalam na argamassa na transição com o suporte, quando se aplica uma carga uniformemente distribuída na pastilha de 0,20 MPa. Os modelos em que as tensões instaladas são maiores à partida têm menor valor de resistência de aderência no ensaio de pull-off. 34 Simulação numérica e programa ANSYS Para além dos factores já referidos os autores analisaram também a influência do modo de aplicação da carga (com e sem excentricidade), para tal acrescentaram ao modelo base o que designaram de parafuso e sobre o qual é aplicada a carga de forma distribuída. Foi comparada a distribuição de tensões normais para dois posicionamentos do parafuso: no centro da pastilha e com excentricidade (Figura 3.10). Figura 3.10 - Modelo para estudar o efeito da excentricidade da carga - parafuso fora do centro (Costa et al., 2007). Deste estudo, concluíram que nos provetes quadrados de 100 mm existia uma maior concentração de tensões nas extremidades, como se pode ver na Figura 3.11; que experimentalmente se traduz numa menor resistência de aderência no ensaio pull-off. Figura 3.11 - Distribuição de tensões na interface suporte-argamassa para provetes circulares e quadrados (Costa et al., 2007). Os autores concluíram igualmente que a espessura de cola aplicada tinha influência nos resultados, sendo mais favorável a aplicação de uma espessura de 5 mm em detrimento de espessuras de 7, 10 e 12 mm. Por fim, verificaram que com a carga aplicada fora do centro da pastilha (Figura 3.10) havia um efeito de flexão que elevava as tensões na parte superior do provete cuja tendência é diminuir a resistência de aderência do sistema. 3.3.3 Modelação do reboco de uma fachada Temache-Esquivel et al. (2007) estudaram no ANSYS os efeitos mecânicos (tensões e deformações) da variação de temperatura num revestimento de argamassa 35 Capítulo 3 cimentícia, aplicada sobre um suporte de betão. Os autores modelaram, em duas dimensões, um painel de suporte com uma camada de reboco, representando parte de uma fachada (Figura 3.12); consideraram ambos os materiais com comportamento elástico linear e isotrópico, mas com propriedades mecânicas (módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson e densidade) e propriedades térmicas (condutividade, calor específico e coeficiente de expansão térmica) diferentes. O objectivo era verificar de que forma a espessura, o módulo de elasticidade 4 do revestimento (2 GPa ou 15 GPa) e a taxa de macro-defeitos na zona de ligação parede/reboco influenciava o valor das tensões nesta zona, face à acção de um gradiente térmico. Os autores consideraram a zona de ligação parede/reboco como a camada de reboco que está até 0,1 cm do suporte; é nesta região que se desenvolve a aderência; não foi simulada como uma interface, com propriedades específicas. Os macro-defeitos são áreas na zona de ligação parede/reboco em que não existe contacto efectivo entre estes e que diminuem a extensão de aderência. Quando os rebocos sofrem uma variação de temperatura, em geral assimétrica ao longo da sua espessura, tendem a variar de dimensão, o que resulta em tensões, devido à restrição da movimentação dada pela aderência à base. Figura 3.12 - Geometria do modelo do sistema parede/reboco sujeito a um gradiente térmico adoptado de Temache-Esquivel et al., 2007; a dimensão L e a espessura do reboco são variáveis. Neste caso, a geometria do modelo parede/reboco é simétrica, o que permite considerar apenas metade do modelo (Figura 3.13), reduzindo-se o número de elementos finitos e, consequentemente, o tempo computacional. Numa primeira fase, os autores efectuaram análises estáticas das tensões induzidas pelo gradiente térmico, sem a incorporação de macro-defeitos na interface, e fizeram variar o módulo de elasticidade, a espessura do revestimento e a dimensão (L) do modelo indicado na Figura 3.12. Desta análise, concluíram que os valores mais significativos das tensões no revestimento, quer normais quer tangenciais, actuam numa faixa até 20 cm dos bordos livres (Figura 3.14), independentemente do módulo de elasticidade, da espessura do reboco e das dimensões laterais do modelo. Numa fachada, os bordos podem ser contornos de vãos (portas e janelas) ou fissuras existentes no revestimento. Outra conclusão importante é a de que as tensões são 4 Neste caso é indiferente se tratar do módulo de elasticidade estático ou dinâmico, os autores pretendem realizar uma comparação com revestimentos com valores teóricos de módulo de elasticidade distintos. 36 Simulação numérica e programa ANSYS maiores no revestimento com maior módulo de elasticidade; o que faz sentido pois com o coeficiente de dilatação térmica (α) igual, as deformações de origem térmica são semelhantes em ambos os revestimentos, independentemente do módulo de elasticidade, o que implica que no revestimento em que este é maior as tensões sejam maiores devido ao comportamento elástico linear assumido para o material. T = 70º C T = 20º C Legenda: A - Reboco B - Zona de ligação parede/reboco C – parede Apoio simples (impede translações verticais) Apoio simples (impede translações verticais) Figura 3.13 - Esquema da variação da dimensão da malha, condições de apoio e acção térmica do modelo sem a inclusão de macro-defeitos na zona de ligação parede/reboco construído por Temache-Esquivel et al., (2007). Numa parte considerável dos modelos estudados, introduziram macro-defeitos na interface. Para gerar os macro-defeitos nesta última zona os autores eliminam alguns dos elementos finitos nela existente, e assim no espaço ocupado previamente pelo elemento finito deixa de existir contacto entre a argamassa e o suporte (Figura 3.15). Nas análises efectuadas, foram consideradas várias taxas de macro-defeitos (7%, 14%, 21%, 28%, 35% e 42%), que no modelo se traduz pela percentagem de elementos finitos em falta na zona de ligação face ao número de elementos finitos de uma zona de ligação sem macro-defeitos. Os investigadores criaram modelos com apenas um macro-defeito na zona de ligação suporte/revestimento com vista a estudar o efeito, na distribuição de tensões, da dimensão deste e da sua localização em relação ao bordo livre, na Figura 3.15 está representado um macro-defeito localizado a 4 cm do bordo livre. 37 Capítulo 3 Legenda: Região da zona de ligação onde as tensões são mais significativas Figura 3.14 - Identificação da região onde as tensões na zona de ligação parede/reboco são mais significativas. 1 - Reboco 2 - Zona de ligação parede/reboco 3 - Parede 4 cm Macro-defeito Figura 3.15 - Modelação de um macro-defeito na zona de ligação a 4 cm do bordo livre, de acordo com Temache-Esquivel et al. (2007). Com as análises realizadas, os autores puderam concluir que a inclusão de macro-defeitos, mesmo que em pequena taxa (7%), promove o aumento significativo dos valores das máximas tensões; na Figura 3.16 este apontamento é exemplificado para as tensões normais da zona de ligação do revestimento com maior módulo de elasticidade σyy (MPa) Espessura do revestimento Módulo de elasticidade do revestimento: 15 GPa % macro-defeitos Figura 3.16 - Máxima tensão normal na zona de ligação parede/reboco, quando nesta existem diferentes taxas de macro-defeitos, tendo em conta rebocos de várias espessuras (Temache-Esquivel et al., 2007). Por fim, os autores verificaram que a proximidade do macro-defeito à extremidade do modelo possui impacto no aumento da máxima tensão na zona de 38 Simulação numérica e programa ANSYS ligação parede/reboco que é mais importante que a dimensão do macro-defeito; mais uma vez, exemplifica-se com a tensão normal máxima na zona de ligação (Figura 3.17), sendo que a variação da máxima tensão de corte é semelhante. Estas conclusões realçam a importância do cuidado que é necessário ter na altura da aplicação dos revestimentos junto aos vãos de portas e janelas. 3.4 MODELAÇÃO DA MULTIPHYSICS 11.0 INTERFACE DE UM SISTEMA SUPORTE/REBOCO NO ANSYS 3.4.1 Generalidades σyy (MPa) Uma interface é criada sempre que existam dois materiais unidos. Com recurso aos elementos finitos de interface do programa ANSYS, que se regem por uma lei de zona coesiva, é possível simular a interface entre dois materiais, o seu mecanismo de rotura e consequente perda de aderência que ocorre nesta (ANSYS, 2007). A escolha deste tipo de ferramenta numérica para modelar a perda de aderência entre um suporte e uma camada de argamassa é adequada já que o processo de perda de aderência conduz ao descolamento da argamassa de acordo com um mecanismo de fractura que envolve uma certa dissipação de energia na separação das duas superfícies referidas. Esta foi a opção tomada nas simulações do capítulo 4. Distância do macro-defeito ao bordo livre (mm) Figura 3.17 - Impacto da distância do macro-defeito ao bordo livre na tensão normal na zona de ligação parede/reboco, tendo em consideração várias dimensões do macro-defeito, quando o revestimento tem um módulo de elasticidade de 15 GPa (Temache-Esquivel et al., 2007). 3.4.2 Elementos finitos de interface No ANSYS Multiphysics 11.0 é fácil simular a interface entre dois materiais, pois este software disponibiliza na sua biblioteca quatro tipos de elementos finitos de interface (Quadro 3.1). Existem elementos que permitem modelar interfaces com duas e três dimensões; também estão disponíveis elementos quadráticos como o da Figura 3.18 (direita) para modelar interfaces com formas mais curvas. Os elementos de interface são gerados entre os elementos estruturais indicados no Quadro 3.1; estes últimos têm a capacidade de simular as propriedades dos materiais que contactam na 39 Capítulo 3 interface, como é o caso da argamassa e de um suporte cerâmico ou de betão (ANSYS 2007). I, J I, J K, L K, L Figura 3.18 - À direita, geometria do elemento INTER203; à esquerda, geometria do elemento INTER202 (ANSYS, 2007). Quadro 3.1 - Elementos de interface do ANSYS Multiphysics 11.0 (ANSYS, 2007). Elemento de Interface Características Nº de Nós Elementos estruturais compatíveis INTER 202 2D, linear 4 PLANE42, VISCO106, PLANE182 INTER 203 2D, quadrático 6 PLANE82, VISCO88, PLANE183 INTER 204 3D, quadrático 16 INTER 205 2D, linear 8 SOLID92, SOLID95, SOLID186, SOLID187 SOLID45, SOLID46, SOLID65, SOLID185, SOLSH190 Um elemento finito de interface é constituído por uma face superior e uma face inferior, no início da simulação, isto é, quando as tensões a actuar no modelo são nulas, estes elementos não têm espessura e as faces são coincidentes (Figura 3.19, à esquerda). Com a actuação das forças no modelo, os nós afastam-se e o elemento ganha espessura, que ocorre porque a face superior do elemento tem um deslocamento diferente da inferior; a diferença entre esses deslocamentos é igual à separação/descolamento (Δ) que ocorre na interface. A separação das faces da interface tem unidades de comprimento e pode ser decomposta na sua componente normal (Δn) e tangencial (Δt); estas direcções têm por bases o sistema de eixos do elemento (Figura 3.19, à direita). Na modelação de interfaces ao longo deste trabalho irão ser utilizados os sistemas de eixos cartesianos do ANSYS; o sistema de eixos cartesiano global (X, Y, Z) constitui a referência das coordenadas que definem a geometria do modelo e definem a orientação e o sentido de aplicação das forças e dos deslocamentos impostos. Para além do sistema de eixos global, a cada elemento finito está associado um sistema de eixos - sistema de eixos do elemento; é com base no sistema de eixos do elemento que se define a orientação e sentido das tensões e deformações; também é com base no sistema de eixos do elemento que se define as direcções segundo as quais uma material responde de maneira quando é isotrópico. Na maioria dos elementos finitos estruturais o sistema de eixos do elemento é paralelo ao sistema de eixos global, alguns elementos permitem ainda definir um sistema de eixos do 40 Simulação numérica e programa ANSYS elemento em que um dos eixos é paralelo a um dos lados do elemento na configuração não deformada (Figura 3.20) (ANSYS, 2007). L Y n n t t X K K,L pf J pi Δn I,J I pi Legenda: I, J, K, L - nós do elemento; Pi - posição inicial do ponto p (antes da deformação do elemento); Pf - posição final do ponto p (após deformação do elemento); n,t - sistema de eixos do elemento; X,Y - sistema de eixos global; Δn - separação na direcção normal sofrida pelo ponto p; Δt - separação na direcção tangencial sofrida pelo ponto p. Figura 3.19 - À esquerda, geometria do elemento INTER202 na configuração não deformada; à direita elemento INTER202 sujeito a uma deformação genérica na direcção normal e tangencial (ANSYS, 2007). No caso dos elementos de interface existe um eixo paralelo à interface inicial (isto é, antes de ocorrer deformação) e outro perpendicular; para que estes eixos sejam paralelos ao sistema de eixos global a direcção da interface tem que coincidir com a direcção de um dos eixos deste. K K L Y y X L y x x I I J J Figura 3.20 - À esquerda, sistema de eixos do elemento quando um dos eixos é paralelo ao lado I-J; à direita, sistema de eixos local paralelo ao sistema de eixos global. 3.4.2.18 Escolha do elemento de interface Nos capítulos seguintes os modelos suporte/revestimento a simular serão uma fachada - sistema parede/revestimento cuja geometria estão representadas na Figura 3.21. Nestes modelos o objectivo é analisar a distribuição de tensões e separações ao longo do comprimento da interface, tendo em conta que a secção do plano nos dois modelos apresentados na Figura 3.21 se repete ao longo de toda dimensão perpendicular ao plano (direcção Z), nestas condições uma simulação em 2 41 Capítulo 3 dimensões é mais conveniente, pois não exige tanto tempo e esforço computacional em relação a uma modelação em 3 dimensões. Por outro lado, as interfaces são rectilíneas o que justifica a escolha do elemento de 4 nós INTER202. 3.4.2.19 Opções “chave” do elemento INTER202 As únicas opções “chave” do elemento INTER202, são relativas ao comportamento do elemento, e são as seguintes (ANSYS, 2007): • estado plano de tensão; • estado plano de deformação; • axissimetria; • estado plano de tensão com espessura. O estado plano de tensão distingue-se do estado plano de deformação porque no primeiro as tensões perpendiculares ao plano são consideradas nulas e no segundo são as deformações na direcção perpendicular que são consideradas nulas. No estado plano de tensão e estado plano de deformação considera-se que o modelo no plano é representativo de cada metro na direcção perpendicular ao plano, enquanto no estado plano de tensão com espessura a dimensão segundo a direcção perpendicular ao plano tem que ser especificada. No Quadro 3.2 apresenta-se, a título de exemplo, a diferença no cálculo da carga que actua no modelo, a partir do output da tensão, quando se considera estes diferentes estados. Reboco Interface Suporte Figura 3.21 - Geometrias do sistema suporte-revestimento a modelar. 42 Simulação numérica e programa ANSYS Quadro 3.2 - Diferença no cálculo de p (kN/m) no estado plano de tensão/estado plano de deformação e no estado plano de tensão com espessura. p Tensão aplicada na face superior 2 da viga (kN/m ) - output P (kN/m) 1 1 (kN/m ) x1 (m) 1 1 (kN/m ) x espessura (m) Estado plano de tensão/estado plano de deformação Estado plano de tensão com espessura 2 2 A modelação de axissimetria é uma função que permite poupar tempo e esforço computacional numa análise de um sólido gerado pela rotação de uma secção em torno de um eixo (Figura 3.22) é substituída pela modelação e análise no plano da secção. As análises que serão apresentadas nos capítulos seguintes serão efectuadas com um estado plano de tensão. Figura 3.22 - À esquerda, 5/6 de um cilindro oco gerado pela rotação da secção transversal em torno do eixo, alvo de uma análise numérica; à direita secção transversal do cilindro que é modelada com axissimetria e reproduz os mesmos resultados que uma análise do cilindro. 3.4.3 O Modelo da Zona Coesiva 3.4.3.20 Generalidades Apenas é possível associar aos elementos de interface do ANSYS Multiphysics 11.0 um comportamento de zona coesiva. O modelo constitutivo da zona coesiva, proposto originalmente por Borenblatt em 1959, adopta uma relação de endurecimento-amolecimento entre as tensões instaladas na interface e a separação que ocorre entre as superfícies que a constituem; na Figura 3.23 são apresentadas, para exemplificar, duas formas de relações de endurecimento-amolecimento entre tensão e separação. De acordo com Chandra et al. (2000), Volokh et al. (2004), Bosch et al. (2005) e Alfano (2006) existe uma grande diversidade de modelos de relações constitutivas 43 Capítulo 3 para modelar as zonas coesivas, nomeadamente: polinomiais (Tvergaard, 1990), exponenciais (Xu e Needleman, 1993) lineares definidas por troços (Tvergaard e Hutchison, 1992; Geubelle e Baylor, 1998) e rígido-lineares (Camacho e Ortiz, 1996) consoante o tipo de equação que define a relação de endurecimento-amolecimento. Figura 3.23 - Relações endurecimento-amolecimento entre tensão (σ) e separação (Δ): à esquerda, relação linear definida por troços; à direita, relação exponencial. No ANSYS Multiphysics 11.0, é apenas possível recorrer ao modelo exponencial da zona coesiva, desenvolvido por Xu e Needlman em 1993, para reger o comportamento dos elementos de interface (ANSYS, 2007). 3.4.3.21 Modos de rotura da interface A rotura pela interface é um fenómeno que implica um movimento relativo entre as superfícies. Dependendo do tipo de movimento, que difere consoante a direcção da força significativa actuante, distinguem-se dois modos de rotura ou de solicitação (Figura 3.24) (Hutchinson, J. (1989), Bosch et al. 2005; w1): • Modo I - modo de abertura ou de tensão normal - ocorre quando a interface está solicitada sobretudo por tensão normal (a tensão tangencial ou de corte é pouco significativa); • Modo II - modo de deslizamento ou de corte - ocorre quando a interface está sujeita sobretudo a tensão de corte (a tensão normal é pouco significativa); Figura 3.24 - À esquerda, Modo I de rotura da interface; à direita, de rotura da interface [w1]. Na realidade a maioria das interfaces estão sujeitas a tensões normais e tangenciais importantes, isto é, são solicitadas com uma conjugação do Modo I e Modo II, que é designado de Modo Misto. No entanto, as interfaces no ensaio pull-off apenas estão sujeitas ao modo I. 44 Simulação numérica e programa ANSYS 3.4.3.22 A forma exponencial do modelo da zona coesiva O modelo exponencial de Xu e Needleman (1993), referido por Chandra et al. (2000), Bosch et al. (2005) e ANSYS (2007), recorre a um potencial (ϕ) para definir as tensões (T) actuantes na interface em função da separação relativa (Δ) entre as faces que nela contactam: T = ∂ ϕ(Δ) ∂∆ (3.1) As componentes normal (n) e tangencial (t) são dadas pelas expressões (3.2) e (3.3): Tn = Tt = ∂ ϕ(Δ) ∂ ∆n (3.2) ∂ ϕ(Δ) ∂ ∆t (3.3) O potencial representa a energia dissipada para que ocorra um dado deslocamento relativo (Δ) entre os dois meios adjacentes da interface. De acordo com Xu e Needleman (1993), citado por Chandra et al. (2000), na sua forma original, o potencial é dado por: ϕ (Δn ,Δt ) = ϕn + ϕn exp (− em que: Δn Δn 1 − q r − q Δn Δ2t ) ��1 − r + �� � − �q + � exp(− 2 )� δn δn r − 1 r − 1 δn δt (3.4) ϕn - trabalho de separação na direcção normal; Δn - valor da separação normal na interface; δn - comprimento característico da interface na direcção normal; corresponde ao valor da separação normal na interface correspondente à tensão normal máxima quando δt = 0 ; Δt - valor da separação tangencial na interface; δt - comprimento característico da interface na direcção tangencial; corresponde ao √2 valor da separação tangencial para o qual com δt se obtém a tensão tangencial 2 máxima ( τmax ) que pode estar instalada na interface (Figura 3.26); q - relação entre o trabalho de separação na direcção normal (ϕn ) e o trabalho de separação na direcção tangencial (ϕt ) ( q = ϕn ⁄ϕt ); r - relação entre o valor da separação normal (Δn ) após ocorrer a completa separação tangencial da interface (Δt → ∞) provocada somente por tensões tangenciais, e δn ; exp - exponencial do valor. O trabalho de separação na direcção normal (ϕn) representa a energia necessária dissipar para causar a completa separação da interface na direcção normal quando δt = 0, por sua vez, o trabalho de separação na direcção tangencial (ϕt ) representa a energia necessária dissipar para causar a completa separação da 45 Capítulo 3 interface na direcção tangencial quando δn = 0; as expressões para o cálculo do trabalho na direcção normal e tangencial são as seguintes (Xu e Needleman, 1993, citados por Chandra et al., 2000): ϕn = exp (1) σmax δn em que: exp (1) ϕt = � 𝜏max δt 2 (3.5) (3.6) σmax - máxima tensão normal que se pode instalar na interface; τmax - máxima tensão tangencial que se pode instalar na interface. Os parâmetros q e r introduzidos na expressão (3.4) - expressão do potencial são designados de parâmetros de acoplamento; o seu papel é conjugar o comportamento da interface nas duas direcções e considerar o modo misto de solicitação da interface. Com o acoplamento, a tensão normal que se desenvolve na interface é função da separação normal e da separação tangencial assim como a tensão tangencial. O que na prática se pretende assegurar com a introdução destes parâmetros é que se a interface romper por corte, a sua capacidade de suportar cargas na direcção normal seja nula e vice-versa (Xu e Needleman, 1993, citados por Bosch et al., 2005). De acordo com Bosch et al., (2005) é prática comum por falta de informação em contrário considerar q = 1, ou seja, considerar que ϕn = ϕt. Quando se assume q = 1 a expressão (3.4) é simplificada: ϕ (δ) = ϕn �1 − �1 + Δn Δn Δ2t � exp ( − ) exp ( − 2 )� δn δn δt (3.7) No ANSYS Multiphysics 11.0 o cálculo das tensões já tem em conta a suposição q = 1. Tendo em conta as expressões (3.2) e (3.3) a tensão normal (Tn) e de corte (Tt) actuantes na interface são dadas respectivamente pelas expressões (3.8) e (3.9) (ANSYS, 2007): Tn = exp (1) σmax Tt = 2 exp (1) σmax Δn Δn Δ2t exp (− ) exp (− 2 ) δn δn δt δn ∆𝑡 Δn Δn Δ2t �1 + � exp (− ) exp (− 2 ) δt δt δn δn δt (3.8) (3.9) As expressões (3.8) e (3.9) constituem as relações constitutivas tensãoseparação da interface modelada no ANSYS Multiphysics 11.0. Dado que tanto a tensão normal como a tangencial dependem ambas das separações normal e tangencial a representação gráfica das relações constitutivas é mais complexa que uma representação no plano, pois requer três eixos: (Tn, Δn, Δt) para a relação (3.8) e (Tt, Δn, Δt) para a relação constitutiva (3.9). Os autores Xu e Needleman (1993) 46 Simulação numérica e programa ANSYS referidos por Chandra et al. (2000) e Chandra (2002) optam por apresentar graficamente as relações constitutivas (3.8) e (3.9) para a situação mais simples que corresponde a assumir, respectivamente, a separação tangencial nula e a separação normal nula. Assim, a relação constitutiva (3.8) é uma relação entre tensão normal (Tn) e separação normal (Δn) e a relação constitutiva (3.9) uma relação entre tensão tangencial (Tt) e separação tangencial (Δt); nas representações gráficas é corrente normalizar primeira em relação à tensão normal máxima (σmax) e ao comprimento característico na direcção normal (δn) (Figura 3.25) e a segunda em relação à tensão tangencial máxima (𝜏max) e ao comprimento característico na direcção tangencial (δn). Como se pode ver pelas Figura 3.25 e Figura 3.26, neste modelo exponencial, inicialmente com o aumento da separação das faces da interface, a tensão ao longo da interface aumenta até atingir um máximo, após o qual começa a diminuir até eventualmente ser nula, permitindo assim a completa separação (que em teoria ocorre quando Δ→ ∞ ) (Chandra et. al, 2000). Tn/σmax 1,0 0,5 1 2 3 4 Δn/δn 5 Figura 3.25 - Relação normalizada Tn - δn quando δt = 0 (Chandra et. al, 2000). Tt/𝜏max 1,0 0,5 √2 2 1 2 Δt/δt Figura 3.26 - Relação normalizada Tt - Δt quando δn = 0 (Chandra et. al, 2000). A tensão tangencial máxima que a interface pode suportar é função de σmax, δn e δt e é dada pela expressão: τmax = �2exp (1) δn σ δt max (3.10) 47 Capítulo 3 De acordo com Bosch et al. (2005), a lei exponencial tem a grande vantagem das tensões e suas derivadas serem contínuas, o que é atractivo do ponto de vista da implementação numérica computacional, o que não acontece em qualquer modelo de fractura onde a malha de elementos finitos tem que ser reajustada ao longo do processo. A grande vantagem de modelar a interface no software em questão é o facto de ele disponibilizar na sua biblioteca os elementos de interface e o modelo de zona coesiva; noutros programas do género, para poder simular zonas coesivas, como é o caso das interfaces, é necessário introduzir através de uma subrotina no programa elementos definidos pelo utilizador com o modelo de material de zona coesiva, isto implica o conhecimento de linguagem de programação (Chandra et al., 2000; ANSYS, 2007). 3.5 MODELAÇÃO DAS COMPONENTES ARGAMASSA E O SUPORTE DO SISTEMA 3.5.1 Elementos finitos estruturais Com a interface a ser modelada pelos elementos finitos INTER202 a argamassa e o suporte que contactam nesta só podem ser modelados pelos elementos finitos PLANE42, PLANE182 e VISCO 106, sendo o último específico para modelar materiais com comportamento viscoplástico, o que não é o caso. O elemento PLANE182 (Figura 3.27) possui mais potencialidades do que o PLANE42, pois comporta mais modelos de comportamentos diferentes e permite contornar de fora mais eficaz o problema do shear locking (ANSYS, 2007), pelo que será o tipo de elemento escolhido nas simulações, com a opção de se comportar num estado plano de tensão. O shear locking é um problema numérico do Método de Elementos Finitos que ocorre nos elementos sólidos lineares quando a tecnologia do elemento escolhida para a resolução do problema é a integração total, e resulta numa excessiva rigidez de flexão nos elementos (Sun, 2006). Na simulação do modelo da fachada, este problema revela-se importante pois a aplicação de uma carga no revestimento gera flexão. Com o elemento PLANE182, é possível recorrer à tecnologia Formulação de Deformação Melhorada (Enhanced strain) que previne o problema do shear locking (ANSYS, 2007). 3.5.1.23 Opções “chave” do elemento PLANE182 No caso do elemento PLANE182 existem opções “chave” relativas a (ANSYS, 2007): • tecnologia do elemento; • comportamento do elemento; • formulação do elemento; • opção de impor carga através de uma subrotina. 48 Simulação numérica e programa ANSYS Figura 3.27 - Geometria do elemento PLANE182 (ANSYS, 2007). As opções “chave” escolhidas e que serão utilizadas em todas as simulações, são as apresentadas no Quadro 3.3. Quadro 3.3 - Opções “chave” escolhidas. Designação Opção relativa a: Opção “chave” escolhia K1 Tecnologia do elemento “Enhanced strain” K3 Comportamento do elemento “Plane stress” K6 Formulação do elemento “Pure displacement” K10 Carregamento definido por subrotina “No USTRES routn” A escolha de estado plano de tensão para o comportamento do elemento limita as opções da tecnologia e da formulação do elemento. Assim, para um estado plano de tensão, apenas é possível escolher a formulação do elemento “Pure displacement” isto implica que o problema será resolvido pela formulação convencional de Deslocamentos Compatíveis do Método de Elementos Finitos, em relação à tecnologia do elemento, a opção “Enhanced Strain” é a recomendada no estado plano de tensão. A opção de impor carga através de uma subrotina é útil em problemas mais complexos; uma subrotina é um programa escrito em linguagem de programação FORTRAN e permite por exemplo, escrever uma função do carregamento do tipo p = f(x,y), em que a carga (p) depende das coordenadas, e que depois é lida pelo ANSYS. No caso particular do presente trabalho a carga aplicada não dependerá das coordenadas pelo que a opção escolhida foi “No USTRES routn”, não sendo permitida a aplicação de carregamento por intermédio de uma subrotina (ANSYS, 2007). 3.5.2 Modelo do material Vários modelos de material podem ser adoptados na modelação do suporte e da argamassa, como o modelo multilinear elástico (Figura 3.28) ou o modelo multilinear isotrópico com endurecimento (Figura 3.28). No primeiro modelo, apesar de existir endurecimento, quando é descarregado o material volta ao estado inicial, não existindo deformações plásticas. No segundo modelo, o material ao ser descarregado não retorna à posição inicial, ocorrendo deformações plásticas. Estes modelos não permitem simular comportamentos do material diferente em tensão e compressão, no 49 Capítulo 3 presente trabalho esta limitação não é relevante porque nos modelos estudados não existem forças de compressão importantes e não há necessidade de definir a resistência à compressão nem do reboco nem do suporte, mas sim a resistência à tracção (ANSYS, 2007). Os dois modelos são coincidentes quando se define apenas uma tensão de cedência, tendo somente um troço elástico linear (com declive igual ao módulo de elasticidade do material) e uma tensão máxima, a partir da qual o material começa a ceder. O modelo a utilizar em simulações nos capítulos que se seguem será o modelo isotrópico multilinear, considerando apenas o troço elástico linear, com uma tensão máxima (𝜎1 ) (Figura 3.28) dado que o elemento PLANE182 não suporta o modelo elástico multilinear. No modelo isotrópico multilinear, o endurecimento ocorre quando as tensões de Von Mises do material excedem as tensões de cedência. No modelo com um só troço, quando as tensões de Von Mises instaladas nos nós da estrutura a simular atingem o valor de 𝜎1 , estes não conseguem suportar mais tensão; os nós adjacentes continuam a ser carregados até atingirem a tensão máxima; quando os nós não conseguem absorver mais carga, a solução deixa de convergir, simulando a rotura do material. Modelo elástico multilinear Modelo multilinear isotrópico com endurecimento Modelo adoptado para modelar o reboco e o suporte σ σ σ ε ε ε pl ε Legenda: σ1 - 1ª tensão de cedência ou tensão de rotura no modelo de um só tramo σ2 - 2ª tensão de cedência σ3 - 3ª tensão de cedência pl ε - deformação plástica Figura 3.28 - Modelos de materiais (adoptado de ANSYS, 2007). 3.6 INPUTS DA MODELAÇÃO DO SISTEMA SUPORTE/REBOCO 3.6.1 Inputs da interface Em suma, no ANSYS Multiphysics 11.0, as interfaces são modeladas por zonas coesivas que se regem por uma relação constitutiva exponencial e para tal são disponibilizados elementos finitos específicos - os elementos de interface. Para caracterizar a relação constitutiva da interface, têm que ser especificados os seguintes parâmetros (ANSYS, 2007): 50 Simulação numérica e programa ANSYS • σmax- tensão máxima que a interface pode suportar na direcção normal; • δn - comprimento característico da interface na direcção normal; • δt - comprimento característico na direcção tangencial. Estes parâmetros constituem os inputs do material de zona coesiva da interface. A determinação dos três parâmetros que definem a lei exponencial da zona coesiva é a maior dificuldade que os diversos autores enfrentam, dado que não existem ensaios experimentais directos para medir todos os parâmetros (Chandra et al., 2000; Bosch et al., 2005; Hu et al., 2008; Yan e Shang, 2009). Alguns autores como Chandra et al. (2000) e Yan e Shang (2009) definem os parâmetros da interface por ajuste de curvas Força-Deslocamento, num dado ponto do modelo, obtidas experimentalmente com as obtidas através da modelação numérica. Neste trabalho não é possível dado que não existem ensaios experimentais disponíveis que ofereçam informação directa sobre as curvas Força-Deslocamento durante o arrancamento do revestimento. 3.6.2 Inputs das componentes: suporte e reboco Para definir o modelo de material da argamassa e do suporte, é necessário especificar, de acordo com o material em questão, as seguintes propriedades: • módulo de elasticidade (E); • coeficiente de Poisson; • massa volúmica; • tensão de Von Mises máxima (σ1) • extensão máxima = σ1/E Os valores a introduzir para cada uma destas propriedades estão limitados aos resultados obtidos experimentalmente; no estudo de argamassas é mais frequente a determinação do módulo de elasticidade dinâmico enquanto no estudo de alvenarias é determinado o módulo de elasticidade estático. Em relação à massa volúmica é utilizada a massa volúmica aparente e a massa volúmica real, respectivamente, para as argamassas de reboco e as alvenarias O coeficiente de Poisson é a propriedade que menor variabilidade tem; é comum em betão, argamassa e alvenaria de blocos cerâmico considerar o coeficiente de Poisson = 0,2. 3.7 OUTPUTS DA MODELAÇÃO DO SISTEMA SUPORTE/REBOCO Os outputs dos elementos de interface consistem nas tensões normais (Tn) e tangenciais (Tt) a actuar nos nós dos elementos finitos de interface; estas são respectivamente as tensões segundo o eixo n e t do sistema de eixos do elemento (Figura 3.19), e os comprimentos que o revestimento descolou em relação ao suporte naquelas direcções (Δn e Δt) (ANSYS, 2007). Os outputs gráficos das tensões e separações da interface são feitos através de uma escala de cores que é representada na configuração deformada do modelo, em que cada cor representa um intervalo de 51 Capítulo 3 valores; para que seja perceptível, a deformada pode ser ampliada. Os outputs dos elementos estruturais que modelam o suporte e a argamassa são: forças deslocamentos, tensões e deformações nos nós, segundo as várias direcções, bem como tensões e deformações equivalentes, nomeadamente de Von Mises (ANSYS, 2007). Neste trabalho, as tensões e deformações calculadas são as correspondentes ao estado plano de deformação, dado que foi a opção escolhida mais as de Von Mises. As tensões de Von Mises revelam-se importantes, dado que a tensão de rotura definida no modelo do material é uma tensão de Von Mises. Na Figura 3.29 é apresentado um modelo de um sistema suporte/reboco, sujeito a um determinado carregamento; a deformada resultante, ampliada 20000%, também é apresentada. Na Figura 3.30 apresenta-se um exemplo para ilustrar a escala de cores do output gráfico de uma variável. No caso de falha de convergência da solução numérica, que representa o estado a partir do qual o sistema não consegue absorver mais tensão, um output importante é a tensão máxima exterior que actua neste, bem como a identificação de qual das componentes (suporte, interface ou argamassa) provoca a falha na convergência. Deformada ampliada 20000% Legenda: apoio simples - impede translações verticais apoio simples - impede translações horizontais força gravítica carga aplicada suporte interface argamassa Figura 3.29 - Modelo simulado com valores genéricos dos inputs do suporte, interface e argamassa com e deformada resultante face às acções. 52 Simulação numérica e programa ANSYS 3.8 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO Neste capítulo foram identificadas algumas potencialidades do ANSYS, software de modelação pelo Método dos Elementos Finitos, na resolução de problemas de engenharia civil, nomeadamente na optimização de secções de elementos estruturais, e outras áreas. Com recurso a este software já têm sido feitas algumas modelações de rebocos sobre suportes, mas sem a modelação da camada de interface. Output gráfico da interface com deformada ampliada Voutput Output gráfico das componentes suporte e reboco Voutput Deformada real v1 Deformada ampliada v1 v2 v2 v3 v3 v4 v4 v5 v5 v6 v6 v7 v7 v8 v8 interface suporte/ argamassa Legenda: vi - valor da variável que define o intervalo MX - nó onde a variável é máxima MN - nó onde a variável é mínima Voutput - variável alvo de output (por ex: tensões de Von Mises); no caso da interface (Tn/Tt/Δn/Δt) Figura 3.30 - Exemplo genérico de um output gráfico das várias componentes do sistema suporte/reboco semelhante ao da Figura 3.29. No ANSYS Multiphysics 11.0 através de elementos de interface que se regem pelo modelo exponencial da zona coesiva é possível simular a interface e consequentemente o mecanismo de perda de aderência entre um suporte e um revestimento, que são modelados por elementos finitos estruturais. No Quadro 3.4 53 Capítulo 3 apresenta-se os elementos finitos que serão utilizados para modelar os sistemas suporte/reboco. O modelo constitutivo da interface e que rege o comportamento dos elementos finitos de interface possui como parâmetros a tensão máxima que se pode instalar na interface (σmax) e os comprimentos característicos da interface na direcção normal (δn) e na direcção tangencial (δt). O suporte e a argamassa são caracterizados por um modelo elástico linear com uma tensão de rotura e que simula um comportamento frágil, para definir o comportamento do suporte e da argamassa é necessário introduzir o módulo de elasticidade, o coeficiente de Poisson, a massa volúmica e a resistência à tracção; pode ser ainda introduzido o coeficiente de dilatação linear, caso seja necessário. No próximo capítulo será modelado o sistema parede/revestimento com base nos princípios apresentados; será analisada a influência dos parâmetros do modelo da interface e serão simulados alguns dos factores identificados no capítulo 2, como tipo de argamassa, consistência da argamassa ou espessura do revestimento, que alteram as propriedades da aderência. Quadro 3.4 - Elementos finitos para modelar um sistema suporte/reboco, e respectivos sistemas de eixos (ANSYS, 2007). Componente Elemento Configuração do elemento/sistema de eixos deformado não deformado k suporte/ argamassa l y y PLANE182 l k i j x j i x Y X deformado não deformado k,l k l t interface INTER202 i,j i n j t Y X n Legenda: X,Y - sistema de eixos global n,t - sistema de eixos local 54 Capítulo 4 4 MODELO NUMÉRICO SUPORTE/REBOCO 4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Tendo por base a metodologia para simular interfaces entre rebocos e suportes no ANSYS Multiphysics 11.0, apresentada no capítulo anterior, os objectivos do presente capítulo são: • analisar a influência dos parâmetros da interface (σmax, δn e δt) na distribuição de tensões e na deformação desta, assim como no comportamento global do modelo suporte/reboco; • introduzir, num modelo numérico de uma parede rebocada corrente in-situ, factores, identificados no capítulo 2, que podem influir na resistência e extensão da aderência; e analisar, por intermédio de simulações, a influencia dos mesmos na interface. 4.2 MODELO DO SISTEMA SUPORTE/REVESTIMENTO Na presente dissertação é realizada uma primeira abordagem da simulação numérica da aderência entre um suporte e um reboco, pelo que o modelo de elementos finitos suporte/reboco bem como as acções que incidem sobre este terão a menor complexidade possível. O modelo suporte/reboco com o qual será realizadas as análises, mencionada nos objectivos, é composto por um suporte com 3 m de altura com uma espessura tipicamente de 25 cm, onde é aplicado um reboco com 2,5 cm de espessura (Figura 4.1); os movimentos do modelo são restringidos na base e no topo. Este pretende ser o mais próximo possível de uma parede de fachada rebocada, tipicamente inserida num edifício entre dois pisos. O suporte é revestido por uma só camada de reboco que consoante as propriedades mecânicas introduzidas pode simular a camada de base de um reboco tradicional ou um reboco monocamada; os 2,5 cm de espessura são o mais comum em camadas de base de rebocos tradicionais. No caso de rebocos monocamada a maioria dos fabricantes definem que a espessura máxima de aplicação deve ser em teoria de 2,0 cm (Flores-Colen, 2009). No entanto, admite-se que em obra seja possível encontrar rebocos monocamada com espessuras de 2,5 cm ou superiores. De acordo com o exposto no capítulo 3, a interface modelada entre o suporte e o reboco é uma componente elástica onde ocorre libertação de energia e rege-se por um comportamento distinto do suporte e da argamassa. 4.2.1 Elementos finitos A argamassa e o suporte são simulados com o elemento finito PLANE182, e a interface com o elemento finito de interface INTER202, a geometria e o sistema de eixos destes elementos foi apresentada no Quadro 3.4. 55 Modelo numérico suporte/reboco Reboco Interface Suporte 3m G 0,25 Figura 4.1 - Modelo de uma parede com um revestimento monocamada. 4.2.2 Relações constitutivas O modelo constitutivo adoptado para a modelação numérica da argamassa e do suporte é um modelo elástico linear com tensão de rotura (σ1); neste, quando as tensões de Von Mises instaladas no material atingem o valor da tensão de rotura (σ1), definido a priori, o material deixa de conseguir absorver mais carga e há uma falha de convergência na solução numérica. A tensão de rotura considerada é igual ao valor da resistência à tracção do material, dado que, são as forças de tracção as responsáveis pelo descolamento do revestimento. Os modelos constitutivos adoptados são representados graficamente no Quadro 4.1. O modelo constitutivo da interface foi abordado na secção 3.4.3.3 do capítulo 3. As expressões (3.8) e (3.9) constituem as relações constitutivas tensão - separação da interface. 4.2.3 Acções nos revestimentos As solicitações a que os revestimentos de paredes estão sujeitos são as seguintes (APICER et al., 2003): • peso próprio; • choques; • sismo. • vento; 56 Capítulo 4 • solicitações higrotérmicas. As solicitações higrotérmicas podem ser variações diferenciais de temperatura ou ciclos seco e molhado, esta acção gera retracção nos rebocos. Das acções mencionadas, os choques e as solicitações higrotérmicas são as que geram mais frequentemente a perda de aderência dos rebocos (APICER et al., 2003). Quadro 4.1 - Modelos constitutivos adoptados (Chandra, 2002; ANSYS, 2007). A - Suporte B – Argamassa σ σ σ1 σ1 E E ε ε C - Interface na direcção normal quando não existe separação tangencial D - Interface na direcção tangencial quando não existe separação normal Tn Tt 𝜏max σmax δn √2 δ 2 t Δn Δt Legenda: σ σ1 E ε Tn - tensão normal - tensão de cedência/rotura do material - módulo de elasticidade do material - extensão - tensão normal instalada na interface σmax - tensão normal máxima que pode estar instalada na interface ϕn - energia de separação na direcção Δn normal - separação normal na interface δn - valor da separação normal correspondente à tensão normal máxima Tt - tensão tangencial instalada na interface τmax - tensão tangencial máxima que pode estar instalada na interface ϕt - energia de separação na direcção tangencial Δt δt - separação tangencial na interface - valor da separação tangencial para o √2 qual δt corresponde à tensão 2 tangencial máxima A acção de vento é quantificada no Regulamento de Segurança e Acções (RSA), que ainda se encontra em vigor e pelo EC1 (CEN, 2002). A título de exemplo, apresenta-se no Quadro 4.2 valores da sucção do vento exercida sobre uma parede para alturas acima do solo diferentes, acção que é facilmente simulada no ANSYS, calculados de acordo com o RSA. 57 Modelo numérico suporte/reboco No RSA as pressões ou depressões que se exercem sobre as fachadas podem ser calculadas multiplicando os valores característicos da pressão dinâmica do vento (wk ) pelos coeficientes de pressão definidos (δpe). Os valores da pressão dinâmica do vento são função da altura acima do solo, do zonamento do território (zona A ou zona B) e da rugosidade aerodinâmica do solo (tipo I e tipo II) (RSA). Quadro 4.2 - Valores da pressão aerodinâmica do vento e da sucção exercida sobre uma parede. Zonamento do território zona B Rugosidade aerodinâmica do solo tipo II Altura acima do solo h (m) 0 a 10 wk (Pa) 1128 0,8 902 zona B tipo II 40 1638 0,8 1310 δpe P (Pa) As acções higrotérmicas podem ser a acção da temperatura ou da humidade. A envolvente exterior dos edifícios pode atingir amplitudes térmicas, ao longo do ano, superiores a 50ºC. Estas solicitações podem provocar tensões ou deformações elevadas, consoante exista ou não restrição de movimentos. O alongamento de um material sem restrições de movimento pode determinar-se, aproximadamente, pela seguinte expressão (Beer et al., 2006): em que: ΔL = Lα1 Δt (2.1) ΔL - variação do comprimento por acção da temperatura (m); L - comprimento inicial (m); -1 α1 - coeficiente de dilatação térmica linear (ºC ) Δt - variação da temperatura (ºC). 𝛼1 depende do material e tem valores diferentes para a argamassa de revestimento e para o suporte (quer seja cerâmico ou de betão) o que gera deformações diferentes que se reflectem em tensões diferenciais na interface entre materiais. A humidade também pode induzir variações dimensionais nos materiais e modificações nas suas características químicas e físicas. A humidificação dos rebocos pode dar-se pela absorção de água líquida (água da chuva, humidade ascensional) ou pela absorção das moléculas de vapor de água do ar. A humidade faz diminuir a resistência mecânica dos materiais e pode provocar a sua expansão. A presente dissertação pretende ser uma primeira abordagem da modelação numérica da aderência, pelo que as acções introduzidas nos revestimentos serão unicamente a acção do peso próprio e uma acção uniformemente distribuída aplicada na superfície exterior do reboco – acção p (simula a sucção do vento no revestimento). Estas são as acções introduzidas mais directamente no modelo. 58 Capítulo 4 4.3 ANÁLISE PARAMÉTRICA DA INTERFACE 4.3.1 Os parâmetros da interface σmax, δn e δt A interface a modelar rege-se pelas equações 3.8 e 3.9 apresentadas na secção 3.4.3.3, de acordo com estas o comportamento da interface depende dos parâmetros: σmax, δn e δt; estes parâmetros constituem propriedades da própria interface, o parâmetro σmax está associado à sua resistência e os parâmetros δn e δt à rigidez. O valor de σmax representa a máxima tensão actuando na direcção normal que pode estar instalada na interface, por outro lado, os parâmetros δn e δt são uma medida do quanto pode deformar a interface sem que afecte a sua resistência. δn e δt são designados por comprimentos característicos da direcção normal e tangencial, respectivamente. Actualmente, os ensaios experimentais relacionados com a aderência de argamassas a suportes, e que visam avaliar a resistência da propriedade, medem uma única grandeza – a Força necessária para arrancar um provete de argamassa ao seu suporte; a Força é posteriormente convertida em tensão através da divisão do seu valor pela área do provete. Não existe nenhum ensaio experimental de avaliação da aderência que forneça directamente os valores dos parâmetros σmax, δn e δt. No entanto, em relação ao parâmetro σmax, dado que representa a tensão normal máxima que pode estar instalada na interface sem que esta descole, é de supor que seja da ordem de grandeza do valor da tensão normal média que pode estar instalada na interface nesta última condição. Quanto mais extensa for a interface maior diferença existe entre a tensão máxima e média que pode estar instalada. Assim, justifica-se uma análise paramétrica para estabelecer a influência dos parâmetros σmax δn e δt no comportamento da interface no ANSYS Multiphysics 11.0. O valor dos parâmetros δn e δt tem sido estudado em alguns materiais. O modelo exponencial da zona coesiva tem sido aplicado para estudar o fenómeno de fissuração em metais homogéneos, a rotura na interface entre um metal e o seu revestimento polimérico ou a rotura entre uma matriz metálica e fibras num compósito. Nestes materiais, os resultados obtidos de δn e δt têm uma ordem de grandeza de 10−9 m a 10−6 m; para o mesmo material a ordem de grandeza de δn e δt é idêntica (Chandra, 2002; Bosch et al., 2006; Hu, 2008). Bosch et al. (2006) foi um dos autores que estudou a rotura pela interface entre um revestimento polimérico e um metal aplicando o modelo exponencial de zona coesiva de Xu e Needleman (1993). O autor uniu duas barras de metal ao soldar um revestimento polimérico entre elas (Figura 4.2); ao aplicar um momento nas barras mediu a separação, na direcção normal e tangencial, induzida. Na direcção normal, do gráfico Tn – Δn obteve os valores de σmax e δn (Figura 4.3). Como se pode ver na Figura 4.3, o valor de δn é menor do que 1x10-8 m. No caso da interface entre uma alvenaria e um reboco os valores de δn e δt serão à partida maiores, devido ao particular mecanismo de aderência que ocorre nesta. De notar que no mecanismo de Bosch et al., (2006) a aderência é obtida através de soldadura, processo este que actua a um nível mais microscópico do que o mecanismo de aderência em estudo neste trabalho. 59 Modelo numérico suporte/reboco Figura 4.2 – Mecanismo para medir a separação (Δ) numa interface entre um metal e um material polimérico (Bosch et al., 2006). • Resultados experimentais Modelo exponencial de Xu e Needleman Figura 4.3 - Curva com os valores experimentais de Tn e Δn obtidos, o valor máximo de Tn é igual a σmax, o seu valor correspondente de separação (Δn) é igual a δn e curva do modelo exponencial de Xu e Needleman na direcção normal definida pelos parâmetros σmax e δn, obtidos pela curva anterior (Bosch et al., 2006). Como se pode ver na Figura 4.3, o valor de δn é menor do que 1x10-8 m. No caso da interface entre uma alvenaria e um reboco os valores de δn e δt serão à partida maiores, devido ao particular mecanismo de aderência que ocorre nesta. De notar que no mecanismo de Bosch et al., (2006) a aderência é obtida através de soldadura, processo este que actua a um nível mais microscópico do que o mecanismo de aderência em estudo neste trabalho. 60 Capítulo 4 Como referido no capítulo 2, o mecanismo de aderência entre uma argamassa e um suporte poroso ocorre devido à penetração e cristalização dos produtos de hidratação do ligante, presentes na argamassa, nos poros do suporte; e proporcionando assim uma ancoragem mecânica entre as duas componentes. Quando a argamassa se encontra sujeita a uma força de tracção, os cristais responsáveis pela aderência que se encontram penetrados nos poros do suporte sofrem uma extensão e um deslocamento do interior para o exterior. O valor de δn será o resultado da extensão e deslocamento, na direcção normal, do cristal, imediatamente antes deste romper e, consequentemente, ocorrer a separação da argamassa (Figura 4.2). Segundo Carvalho et al. (2005), os referidos cristais têm uma dimensão até 1 mm, pelo que se supõe que o valor de δn não ultrapassará este valor, o que foi tido em conta na análise paramétrica. F Zona sem contacto argamassa suporte ≈δn Figura 4.4 – À esquerda, cristais de hidratação do ligante após o desenvolvimento de aderência; à direita, cristais de hidratação do ligante, responsáveis pela aderência, após a argamassa ter sido submetida a uma força de tracção F, no instante imediatamente antes da sua rotura. 4.3.2 Metodologia da análise paramétrica A análise paramétrica consiste em, após gerar por intermédio de uma malha de elementos finitos o modelo apresentado na Figura 4.1, variar o valor dos parâmetros da interface: σmax, δn e δt e analisar a distribuição de tensões normal e tangencial na interface e a sua deformação, nas mesmas direcções. Mantendo em cada análise as propriedades do suporte e da argamassa, listadas no Quadro 4.3, constantes. Quadro 4.3 - Propriedades da argamassa e do suporte (Pereira, 2005; Flores-Colen, 2009). Propriedade Reboco monocamada Suporte (alvenaria de tijolo) E (MPa) 𝜐 3 Map (kg/m ) 9942 (dinâmico) 0,2 1550 2000 (estático) 0,2 900 O objectivo da análise paramétrica é a avaliação da influência das propiedades/parâmetros apenas da interface, portanto, neste caso, o suporte e o reboco apresentam um comportamento elástico linear, sem tensão de rotura (σ1). Para cada valor de σmax analisado foram geradas interfaces com diferentes valores de δn, e para cada par de parâmetros (σmax, δn) foram geradas interfaces com diferentes 61 Modelo numérico suporte/reboco valores da relação δn/δt, como esquematizado na Figura 4.5. Os valores considerados são listados no Quadro 4.4. De acordo com o referido no capítulo 2, o valor de 0,3 MPa é considerado o valor mínimo de resistência de aderência, atendendo a uma rotura adesiva obtida através do ensaio de pull-off, para argamassas cimenticias, resultados da resistência de aderência próximos de 0,3 MPa são bastante comuns, daí a introdução deste valor na análise paramétrica. O valor de σmax de 2000 Pa, é obviamente um valor extremamente reduzido de aderência e na prática não se encontrará, contudo foi tido em conta na análise paramétrica para que existisse uma relação elevada entre a carga (p = 1000 Pa) e σmax. δn/δt δn/δt δn δn/δt ... δn/δt δn/δt σmax δn δn/δt ... δn/δt δn/δt ... δn/δt ... Figura 4.5 - Representação esquemática da análise paramétrica. Em relação aos valores de δn, foram considerados valores 10 e 100 vezes maiores que o valor de 1mm e valores 10 e 1000 vezes menores. A relação δn/δt tomou valores inferiores, superiores e iguais à unidade. Quadro 4.4 - Valores analisados dos parâmetros. Parâmetro Valores analisados σmax (Mpa) 0.002; 0,3; 1,0 δn/δt 0,01;0,1;0,5; 1; 2;10 100 δn (m) 1x10 ; 1x10 ; 1x10 ;1x10 ; 1x10 -1 -2 -3 -4 -6 Foi escolhida uma malha de elementos finitos objectiva, isto é, uma malha mais refinada não introduz diferenças significativas na solução e que requer tempo e capacidade de cálculo aceitáveis. Procurou-se que a malha de elementos finitos fosse o mais uniforme e 62 Capítulo 4 rectangular possível, com cada componente, à excepção da interface com pelo menos duas camadas de elementos. A dimensão dos elementos finitos da malha adoptados ao longo deste capítulo é a apresentadas no Quadro 4.5. Quadro 4.5 - Dimensão dos elementos finitos da malha. Suporte Interface Argamassa Na análise paramétrica em todas as simulações foram utilizados 100 passos de carga. Neste caso o número de passos de carga, devido ao comportamento não linear nomeadamente do modelo constitutivo da interface, é importante até ao momento em que a solução é objectiva. Os elementos finitos estruturais (suporte e reboco) têm uma direcção segundo x (direcção horizontal) e uma direcção segundo y (direcção vertical), direcções segundo as quais são obtidas as tensões nestes elementos; os elementos de interface têm uma direcção normal (n) – direcção horizontal, e uma direcção tangencial (t) – direcção vertical. Nos elementos estruturais as tensões normais horizontais são designadas σxx e nos elementos de interface as tensões normais horizontais são designadas Tn. 4.3.3 Interface muito rígida ou muito deformável Os parâmetros δn e δt quantificam a separação que ocorre na interface quando esta está sujeita a uma dada tensão, nomeadamente σmax e 2/√2 𝜏max; é de prever que se os valores destes dois parâmetros forem muito baixos – na ordem de 1x10-10 m não existirá uma diferença significativa entre um modelo com interface e um modelo com dois materiais heterogéneos perfeitamente unidos e sem interface. Assim, se a interface do modelo da Figura 4.1 for muito rígida, isto é, δn e δt muito pequenos, o modelo vai ter um comportamento semelhante ao de uma viga bi-encastrada (Figura 4.6). Neste caso o modelo terá uma distribuição simétrica da tensão tangencial e as tensões segundo a direcção x são positivas com excepção das zonas dos extremos do modelo onde são condicionadas pelos apoios. Na Figura 4.7 apresenta-se a distribuição de tensões num suporte sem o reboco e com a acção p a actuar na sua superfície externa; desta é possível constatar que de facto as tensões na direcção x, na zona adjacente à transição entre as duas componentes (suporte e reboco), coincidem num modelo em que existe uma ligação perfeita entre ambas e num modelo com interface, em que os parâmetros δn e δt são muito baixos. Numa interface muito deformável, isto é, com um alongamento elevado, não ocorre uma correcta transmissão da tensão que actua na superfície do reboco para o suporte; e a interface, neste caso, fica sujeita a uma tensão normal de ordem de grandeza significativamente menor do que a da tensão (p) aplicada, e as maiores tensões encontram-se no centro. 63 Modelo numérico suporte/reboco Modelo de uma viga bi-encastrada em 1D com uma carga uniformemente distribuída Diagrama de esforço transverso (V) Diagrama de momento (Mz) p𝑙 2 12 p y Tensão na secção a ½ do vão p𝑙 2 12 x p𝑙 2 24 𝑙 𝜎yy_max p𝑙 2 12 𝜎yy_max M = z w p𝑙 2 12 Figura 4.6 - Modelo de uma viga bi-encastrada e respectivos diagramas de momento flector e esforço transverso (Beer, et al., 2005). σxx (Pa) σyy (Pa) σxy (Pa) Y (m) 3 Y (m) 3 2,5 2,5 2,5 2 2 2 1,5 1,5 1,5 1 1 1 0,5 0,5 0,5 0 -20 -10 0 σxx x1000 (Pa) 10 3 0 -100 -50 0 σyyx1000 (Pa) 50 0 -1,5 -0,5 0,5 1,5 σxy x1000 (Pa) Figura 4.7 – Distribuição de tensões na face exterior de uma viga modelada em 2D no ANSYS, quando esta apresenta as propriedades do suporte do Quadro 4.3 e está sob a acção do peso próprio e de uma acção p = 1000 Pa. 64 Capítulo 4 Modelo com ligação perfeita quando p = 1000 Pa Modelo da Figura 4.1, quando σmax =0,3 MPa, -12 δn =δt= 1x10 m, Y (m) -30000 -20000 -10000 0 Y (m) 3 3 2,8 2,8 2,6 2,6 2,4 2,4 2,2 2,2 2 2 1,8 1,8 1,6 1,6 1,4 1,4 1,2 1,2 1 1 0,8 0,8 0,6 0,6 0,4 0,4 0,2 0,2 0 10000 -30000 -20000 σxx (Pa) -10000 0 0 10000 σxx (Pa) Modelo com ligação perfeita, quando p = 1000 Pa – altura entre 0,1 e 2,9 m Modelo da Figura 4.1, quando σmax =0,3 MPa, -12 δn =δt= 1x10 m - altura entre 0,1 e 2,9 m Y (m) Y (m) 2,9 2,9 2,7 2,7 2,5 2,5 2,3 2,3 2,1 2,1 1,9 1,9 1,7 1,7 1,5 1,5 1,3 1,3 1,1 1,1 0,9 0,9 0,7 0,7 0,5 0,5 0,3 0,3 0,1 0,1 0 500 1000 1500 2000 0 σxx (Pa) Tensão na argamassa 500 1000 1500 2000 σxx (Pa) Tensão no reboco Tensão normal na interface Figura 4.8 - Distribuição da tensão σxx na zona adjacente à interface, num modelo com uma ligação perfeita entre o suporte e o reboco e um modelo com uma interface muito rígida. 65 Modelo numérico suporte/reboco 4.3.4 Discussão dos resultados da análise paramétrica Numa primeira fase, a análise paramétrica foi realizada para o modelo apresentado na Figura 4.3 sob a actuação da força gravítica e uma carga p de 1000 Pa. Os resultados da análise paramétrica encontram-se nos Quadros 4.8 a 4.12 e nos Anexo A.1. Estes consistem em curvas da distribuição da tensão normal e da tensão tangenciam, em Pascais (Pa), na interface ao longo do comprimento (direcção segundo um eixo Y) da mesma; e curvas da separação normal e da tangencial, em metros, que ocorre na interface, também ao longo do seu comprimento. O comportamento da tensão normal tem numa grande percentagem dos casos um andamento semelhante ao da curva da tensão σxx da Figura 4.7, em que a tensão nos extremos é muito condicionada pelo apoio e difere muito da tensão na região intermédia; pelo tanto foram ignorados os resultados da tensão normal numa distância de 10 cm dos extremos. Os valores de δn e δt usados na análise paramétrica têm uma elevada amplitude entre si – o segundo maior valor é 10 vezes menor do que o maior e assim sucessivamente; devido a esta especificidade, a separação normal e a separação tangencial são representadas numa escala logaritmica de base 10. No caso da separação tangencial apenas se representou os seus valores positivos. A tensão tangencial da Figura 4.10 está normalizada em relação a um parâmetro A, que representa a relação entre a tensão tangencial máxima (𝜏max) e a tensão normal máxima (σmax). Esta normalização permite avaliar qual a componente da tensão que gera maior impacto na interface. Para os parâmetros e para a acção considerada a tensão normal é mais importante que a tensão tangencial ao longo de um maior comprimento da interface. A conclusão inicial da análise paramétrica é a existência de proporcionalidade directa entre o valor de δn e Δn e entre o valor de δt e Δt, o que está de acordo com as equações constitutivas da interface. São os valores da separação na direcção normal (Δn) e na direcção tangencial (Δt) que condicionam a distribuição e a intensidade das tensões na interface. Quanto menor o valor de Δn maior é a semelhança entre a distribuição de tensão normal na interface do modelo em questão com a distribuição de tensão σxx na zona de transição, no modelo com ligação perfeita. Assim, à medida que decresce o valor de δn e consequentemente o valor de Δn a tensão normal é mais uniforme na zona central e o seu valor máximo é cada vez maior e mais próximo da extremidade. Na Figura 4.8 é apresentada a tensão normal na interface quando o parâmetro σmax assume o valor de 0,3 MPa; o parâmetro δn varia entre 1x10-1 e 1x10-4 e são consideradas relações δn/δt de 1, 100 e 0,01, nesta é possível observar o comportamento descrito no parágrafo anterior; na Figura 4.9 o valor da separação normal diminui proporcionalmente com o valor de δn. Na Figura A.1-1 e na Figura A.1-2 do anexo A.1 são introduzidas relações δn/δt de 2; 10; 0,5; e 0,1; o comportamento da tensão normal é semelhante ao da Figura 4.8 – δn maior significa Tensão normal ligeiramente mais elevada na zona central da interface e picos de tensão mais afastados dos extremos. Não existe uma alteração significativa da curva de Tn com a variação da relação δn/δt, o que significa que nas condições analisadas a separação tangencial não tem praticamente influência na Tensão normal. 66 Capítulo 4 δn ⁄δt = 1 Y (m) 2,9 δn ⁄δt = 100 Y (m) 2,9 2,7 2,7 2,5 2,5 δn< 2,3 2,3 2,1 2,1 1,9 1,9 1,7 1,7 1,5 1,5 1,3 1,3 1,1 1,1 0,9 0,9 0,7 0,7 0,5 0,5 0,3 0,3 0,1 600 700 800 900 1000 1100 1200 Tn (Pa) δn< 0,1 600 700 800 900 1000 Tn (Pa) 1100 1200 δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 2,9 2,7 2,5 2,3 δn< 2,1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m -1 1,9 1,7 1,5 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores crescentes de δn 1,3 1,1 0,9 0,7 0,5 0,3 0,1 600 700 800 900 1000 1100 1200 Tn (Pa) Figura 4.9 - Distribuição da tensão normal (Tn) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa com diferentes relações δn/δt; no modelo actua a força gravítica e uma carga p =1000 Pa. 67 Modelo numérico suporte/reboco δn ⁄δt = 1 Y (m) 2,9 Y (m) 2,9 2,7 2,7 2,5 2,5 2,3 2,3 2,1 2,1 1,9 1,9 1,7 1,7 δn< 1,5 1,3 1,1 1,1 0,9 0,9 0,7 0,7 0,5 0,5 0,3 0,3 1E-7 δn< 1,5 1,3 0,1 1E-8 δn ⁄δt = 100 1E-6 1E-5 1E-4 1E-3 Log (Δn) (m) 0,1 1E-8 1E-7 1E-6 1E-5 1E-4 1E-3 Log (Δn) (m) δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 2,9 2,7 2,5 Legend: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,3 2,1 1,9 1,7 δn< 1,5 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 1,3 1,1 0,9 0,7 0,5 0,3 0,1 1E-8 1E-7 1E-6 1E-5 1E-4 1E-3 Log (Δn) (m) Figura 4.10 - Distribuição logaritmica da separação normal (Δn) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e para diferentes relações δn/δt; no modelo actua a força gravítica e uma carga p = 1000 Pa. 68 Capítulo 4 Como seria de esperar devido ao carregamento aplicado, a tensão tangencial é aproximadamente simétrica (a presença da acção gravítica impede que o seja). Com a diminuição dos valores da separação tangencial (Δt) (Figura 4.11) a tensão tangencial (Tt) aumenta e a sua distribuição torna-se mais uniforme, mais uma vez, aproximando-se do comportamento do modelo sem interface (Figura 4.10). A intensidade da tensão tangencial a actuar na interface é mais sensível a uma alteração do valor de δt do que a tensão normal o é em relação a δn. Da análise dos gráficos apresentados no Anexo A.1 em que σmax toma o valor de 2000 Pa, verifica-se que ao diminuir este parâmetro, mantendo-se constantes os valores de δn e δt a a separação normal aumenta. O progressivo aumento da separação normal na interface altera a forma da curva da tensão normal e o seu valor máximo ocorre na zona central nesta situação, as tensões normais a actuar na superfície do reboco não são transmitidas nem à interface, nem ao suporte. Um comportamento oposto ocorre quando se atribui a σmax um valor de 1,0 MPa. A tensão normal na interface não tem uma distribuição simétrica devido à actuação do peso próprio; tendo em conta os gráficos apresentados no Anexo A.1 para o modelo onde apenas actua o peso próprio, se o valor de δn for igual a 1x10-2 m as tensões normais são superiores na parte inferior. Da análise paramétrica é possível compreender o comportamento geral da interface em função dos seus parâmetros; é importante voltar a referir que é o valor da separação normal e tangencial que condiciona como as tensões são transmitidas da argamassa para a interface e desta para o suporte. Para um carregamento fixo e para um valor também fixo da tensão máxima, o valor da separação na direcção normal é directamente proporcional ao valor de δn e o valor da separação tangencial é proporcional ao valor de δt – em nenhuma das interfaces estudadas na análise paramétrica o comportamento numa direcção é significativamente influenciado pela outra direcção, resultado coerente com o apresentado no Quadro A.1-1 do anexo A.1., pois não são verificadas relações Δn/δn ou Δt/δt maiores que 0,1. O parâmetro σmax é inversamente proporcional a Δn e a Δt. Valores mais pequenos de δn geram uma distribuição de tensão normal mais uniforme nos nós centrais e com picos mais elevados de tensão, mas localizados mais próximo dos extremos – numa ligação perfeita o pico encontra-se no apoio. 69 Modelo numérico suporte/reboco δn ⁄δt = 1 δn ⁄δt = 100 Y (m) Y (m) 3 3 2,8 2,8 δn< 2,6 δn< 2,6 2,4 2,4 2,2 2,2 2 2 1,8 1,8 1,6 1,6 1,4 1,4 1,2 1,2 1 1 0,8 0,8 0,6 0,6 0,4 -1500 0 -500 0,4 δn< 0,2 -2500 δn< 0,2 0 500 1500 2500 -100 -50 0 50 100 Tt/A (Pa) Tt/A (Pa) δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 3 2,8 2,6 2,4 δn< Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,2 2 1,8 1,6 A = 𝜏max ⁄𝜎max 1,4 1,2 1 < 0,8 δn< 0,6 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 0,4 0,2 0 -1000 -500 0 Tt /A(Pa) 500 1000 Figura 4.11 - Distribuição da tensão tangencial (Tt) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e para diferentes relações δn/δt; no modelo actua a força gravítica e uma carga p = 1000 Pa. 70 Capítulo 4 δn ⁄δt = 1 Y (m) δn ⁄δt = 100 Y (m) 2,9 2,9 2,7 2,7 2,5 2,5 δn< 2,3 2,1 2,1 1,9 1,9 1,7 1,7 1,5 1E-10 δn< 2,3 1E-8 1E-6 1E-4 1,5 1E-14 Log (Δt) (m) 1E-12 1E-10 1E-8 1E-6 Log (Δt) (m) δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 2,9 δn< 2,7 Legenda -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,5 2,3 2,1 < 1,9 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 1,7 1,5 1,E-8 1,E-7 1,E-6 1,E-5 1,E-4 Log (Δt) (m) Figura 4.12 - Distribuição logaritmica da separação tangencial (Δt) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e para diferentes relações δn/δt; no modelo actua a força gravítica e uma carga p =1000 Pa. 71 Modelo numérico suporte/reboco 4.4 FACTORES QUE INFLUENCIAM A ADERÊNCIA 4.4.1 Considerações gerais No capítulo 2 foram identificados os factores que exercem influência na aderência das argamassas. O objectivo nesta secção é introduzir os diversos factores e analisar a sua influência na tensão e separação que sofre e interface. Os factores referidos podem ser introduzidos no modelo numérico de elementos finitos de duas formas, atendendo ao tipo de factor. Qualquer factor que altere geometricamente o sistema suporte/reboco é modelado através da manipulação da malha de elementos finitos. A fissuração enquadra-se nos factores introduzidos deste modo, pois constitui uma descontinuidade na geometria, o mesmo pode ser referido para a consistência pouco fluida da argamassa que pode gerar macro-defeitos na interface. Por outro lado, existem factores cuja influência na resistência de aderência da argamassa é conhecida; os parâmetros da interface estão directamente relacionados com as propriedades de resistência e rigidez da aderência, assim que a sua alteração permite fazer notar a presença de determinados factores. A influência da rugosidade do suporte na aderência é muito estudada em laboratório e sabe-se que em suportes mais rugosos a profundidade de penetração dos cristais resultantes da hidratação do ligante é maior bem como a tensão de aderência. Se os cristais penetram mais fundo não têm tanta facilidade em sair dos poros pelo que o valor de δn e δt será menor. Em suma, para incluir o efeito da rugosidade pode aumentar-se o valor de σmax e diminuir os valores de δn e δt. Da análise paramétrica conhece-se o efeito que produzem ditas alterações. Os factores simulados e cujos resultados são apresentados nas secções seguintes são: o tipo de argamassa, a fissuração na alvenaria e no reboco, consistência pouco fluida da argamassa e modo de aplicação da mesma. O efeito da fissuração e da consistência são introduzidos pela manipulação da malha de elementos finitos, enquanto o tipo de argamassa e o modo de aplicação é modelado pela alteração dos parâmetros da interface. O modelo do sistema suporte/revestimento é o apresentado na Figura 4.1; as acções consideradas são o peso próprio e uma carga p de 1000 Pa, simulando assim a sucção exercida pelo vento. Em todas as simulações, o suporte tem as propriedades de uma parede de alvenaria apresentadas no Quadro 4.6. e que estão de acordo com o obtido experimentalmente por Pereira (2005); por falta de dados experimentais considerou-se a resistência à tracção pura igual à resistência à tracção por flexão mais baixa, isto é, com rotura paralela às juntas de assentamento horizontais. As soluções apresentadas de seguida foram obtidas considerando δn=δt=1x10-2. Mais uma vez este valor foi escolhido por facilitar a representação gráfica. Ao manter constante os parâmetros δn e δt independentemente do valor que possam tomar é possível aferir qualitativamente a influência de outros factores na interface. Na maioria das análises a tensão normal máxima que a interface consegue suportar (σmax) será considerada uniforme ao longo da altura do revestimento, esta é 72 Capítulo 4 uma simplificação que facilita a análise; no entanto, não corresponde à realidade dado que esta tensão representa a aderência entre o revestimento e o suporte que não é uniforme ao longo da altura da parede, entre outras razões devido ao modo de aplicação da argamassa. Quadro 4.6 - Propriedades do suporte (Pereira, 2005) Propriedade Eestatico (GPa) Coeficiente de Poisson (𝜐) Massa volúmica 3 real (kg/m ) Resistência à tracção Rt (MPa) Valor 2,0 0,2 900 0,2 4.4.2 Tipo de argamassa As argamassas diferem entre si em relação à sua composição e propriedades. De acordo com diversos autores o teor de cimento é o parâmetro que mais influencia na resistência de aderência à tracção das argamassas. O teor e o tipo de ligante têm influência na resistência intrínseca da argamassa. No ANSYS Multiphysics 11.0 as propriedades das argamassas que podem ser manipuladas são as seguintes: • • • • • módulo de elasticidade; coeficiente de Poisson; massa volúmica; resistência à tracção; coeficiente de dilatação térmica linear (α). Para além destas propriedades, podem ser alteradas propriedades da interface, que também dependem da argamassa: • • as seguintes tensão máxima a que a interface pode estar submetida (σmax); comprimentos característicos (δn e δt). No estudo da influência do tipo de argamassa analisou-se as tensões e deslocamentos na interface para três rebocos monocamada distintos, apresentados no Quadro 4.7, quando submetidas a uma carga p de 1000 Pa. O valor de σmax considerado foi igual ao valor da resistência de aderência obtida para cada uma das argamassas. A análise foi feita sem considerar a existência de fissuras no reboco. A introdução de fissuras torna o modelo mais complexo, assim a comparação entre as diferentes argamassas não tem em conta a sua susceptibilidade de fendilhar. Como não são conhecidas as tensões máximas do Von Mises a que a parede e a argamassa conseguem resistir, nas modelações impõe-se que a tensão de Von Mises máxima que o material pode resistir é igual à sua resistência à tracção, o que para o nível de carga aplicado nos modelos seguintes não vai ter consequência. 73 Modelo numérico suporte/reboco Quadro 4.7 - Argamassas de revestimento analisadas. Designação Ed (MPa) 𝜈 Rc (MPa) Map 3 (kg/m ) fu (MPa) Publicação Argamassa A: Flores-Colen, Argamassa cimentícia 16150 0,2 12,56 1660 0.54 2009 pré-doseada Argamassa B Flores-Colen, Argamassa de cimento 7420 0,2 3,98 1350 0.34 2009 traço 1:4 (ci:a) Argamassa C Rodrigues, Argamassa de cal aérea 2120 0,2 0.84 1720 0.06 2004 traço 1:2 (ca:a) Legenda: Ed – módulo de elasticidade dinâmico da argamassa; Map – massa volúmica aparente da argamassa; 𝜈 – coeficiente de Poisson (assumiu-se igual a 0,2); Rc – resistência à compressão da argamassa; fu – tensão de aderência da argamassa. Por analogia ao betão, nas argamassas é habitual considerar a resistência à tracção pura entre 1/10 a 1/20 da resistência à compressão (Flores-Colen, 2009). Neste caso, considerou-se uma resistência à tracção de 1/10 da resistência à compressão obtida em ensaios experimentais. Nas Figura 4.13 e Figura 4.14 são apresentados respectivamente, a distribuição da tensão normal na interface e a separação ocorrida, também na direcção normal. Como seria de esperar, pelos resultados da análise paramétrica, a argamassa C com menor aderência, isto é, menor valor de σmax, deforma-se mais. A argamassa C tem uma resistência de aderência 9 vezes menor o que faz com que a sua deformação na direcção normal seja entre 3 a 3,5 vezes maior. No Anexo A.2.1 apresenta-se a distribuição da tensão e da separação tangencial, observa-se que na argamassa C a dita separação é maior pelo que a as tensões tangenciais desenvolvidas são menores. 4.4.3 Consistência Argamassas menos viscosas e mais trabalháveis apresentam maior extensão de aderência, isto é conseguem mais facilmente revestir o suporte; por outro lado, as argamassas secas e pouco trabalháveis necessitam de meios mais eficazes de aplicação como por exemplo a projecção mecânica para que não ocorram macro-defeitos na interface - zonas em que não existe ligação entre o suporte e a argamassa. Para comprovar a sua influência foram modeladas interfaces com macro-defeitos de 10 mm de dimensão. Duas interfaces possuem os macro-defeitos uniformemente distribuídos, mas com diferentes taxas: 10 e 20%. Nas duas restantes interfaces localizou-se os macro-defeitos na extremidade inferior e numa zona do meio. 74 Capítulo 4 Argamassa A Argamassa B Argamassa C Tn (Pa) Figura 4.13 - Tensão normal na interface das argamassas do Quadro 4.8; deformada ampliada 20000%. Argamassa A Argamassa B Argamassa C Δn (m) Figura 4.14 - Separação normal na interface das argamassas do Quadro 4.8; deformada ampliada 200000%. 75 Modelo numérico suporte/reboco A incorporação de macro-defeitos implica o desenvolvimento de maior tensão e separação normal em toda a interface, que se deve ao facto da interface ter que suportar a mesma carga mas numa menor extensão; sendo assim, devem ser escolhidas para rebocos argamassas que cubram mais facilmente o suporte e usar meios de colocação mais eficazes. Taxa de macro-defeitos de 10% Taxa de macro-defeitos de 20% Macro-defeitos localizados a meio do modelo Macro-defeitos localizados na extremidade do modelo Tn (Pa) Figura 4.15 -- Tensão e separação normal em interfaces com macro-defeitos; reboco com as características da argamassa B do Quadro 4.8; deformada ampliada 20000%. Analisando a Figura 4.15 verifica-se que uma maior taxa de macro-defeitos gera mais tensão na interface, por outro lado a localização dos macro-defeitos a meio vão é mais prejudicial para a aderência que a sua localização na extremidade. 4.4.4 Modo de aplicação da argamassa De acordo com Gonçalves e Bauer (2005) existe uma variabilidade da resistência de aderência ao longo da altura da parede, causada pela influência da ergonomia do pedreiro aquando da aplicação manual do reboco. No Quadro 4.8 encontram-se os valores de σmax para diferentes alturas, que está de acordo com os resultados obtidos pelos referidos autores, que se utilizaram para reproduzir a heterogeneidade da interface (Figura 4.17). 76 Capítulo 4 Tn (Pa) Figura 4.16 – Pormenores das zonas envolvidas pelo perímetro rectangular da Figura 4.15. Quadro 4.8 - Tensão máxima que a interface pode suportar em função da altura da fiada (adaptado de Gonçalves e Bauer, 2005). Altura das fiadas (m) 0,0 - 0,3 0,3 - 0,6 0,6 - 0,9 0,9 -1,2 1,2 -1,5 1,5 -1,8 1,8 - 2,1 2,1 - 3,0 Média ponderada σmax (Mpa) 0,13 0,2 0,22 0,27 0,21 0,22 0,16 0,18 0,20 σmax (MPa) A distribuição de tensões normais na interface heterogénea foi comparada com a de duas interfaces homogéneas: uma com σmax = 0,2 MPa – média ponderada da distribuição do Quadro 4.9 e outra com σmax = 0,27 MPa – valor máximo da mesma distribuição. 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 Altura da parede (m) Figura 4.17 – Representação gráfica da distribuição da tensão de aderência em altura. 77 Modelo numérico suporte/reboco Na Figura 4.18, são apresentados os resultados da tensão normal nas 3 situações e a deformada geral dos modelos. A presença de uma heterogeneidade conduz à existência de picos de tensão nas zonas onde há transição de resistência. Interface heterogénea de acordo com o Quadro 4.14 Interface homogénea com σmax = 0,27 MPa Interface homogénea com σmax = 0,20 MPa Tn (Pa) σmax = 0,18 MPa σmax = 0,16 MPa σmax = 0,22 MPa σmax = 0,21 MPa σmax = 0,27 MPa σmax = 0,22 MPa σmax = 0,2 MPa σmax = 0,13 MPa Figura 4.18 – Distribuição de tensão normal (Tn) em interfaces heterogéneas e homogéneas; reboco com as características da argamassa B do Quadro 4.8, excepto fu; deformada ampliada 200000%. Com a aplicação de uma carga p = 1000 Pa e face aos parâmetros do modelo escolhidos, a tensão tangencial, a separação normal e a separação tangencial variam numa escala muito pequena; assim para avaliar a alteração destas 3 últimas grandezas, o modelo foi submetido a uma carga p = 0,1 MPa. É importante referir que nesta última situação admite-se que o suporte e a argamassa têm um comportamento elástico linear infinito, isto é, resistem a qualquer tensão. No anexo A.2.2 são apresentados os resultados obtidos da tensão normal, tensão tangencial e da separação normal, quando p = 0,1 MPa, nas 3 interfaces da Figura 4.18. 4.4.5 Fissuração devido a problemas da alvenaria As fissurações na alvenaria frequentemente estendem-se até ao reboco, e neste caso a abertura das fissuras é superior a 0,25 mm. A excessiva deformação dos pavimentos que envolvem a alvenaria é uma das principais causas desta anomalia. 78 Capítulo 4 Para avaliar o efeito da fissuração, foram criados 3 modelos com distintos padrões de fissuração. As fissuras têm abertura de 1 mm e penetram todo o reboco e um décimo a parte da espessura do suporte. O modelo a apresenta uma fissuração horizontal que ocorre de 30 em 30 cm ao longo de todo o comprimento da parede; este modelo não corresponde a um padrão de fissuração real, no entanto, foi considerado para permitir ter uma ideia de como a tensão normal na interface pode aumentar com a presença da fissuração. O modelo b emprega uma fissuração horizontal concentrada nos 40 cm inferiores do sistema parede/reboco, neste caso as fissuras, com abertura também de 1 mm, estão afastadas 10 cm. O modelo b simula a fissuração que pode ocorrer quando o pavimento inferior em que se apoia a alvenaria é mais deformável que o superior, ou quando ocorre um assentamento do terreno. No modelo c, a fissuração descrita no modelo b é concentrada a ½ vão do sistema alvenaria/reboco, esta fissuração pode ocorrer junto às aberturas na alvenaria, quando existe uma deformação excessiva do suporte. Com o modelo 2D desenvolvido nesta dissertação, as fissuras verticais não podem ser modeladas pois, a abertura da fissura é indicada na dimensão perpendicular à secção do modelo, dimensão esta que corresponde a 1m. Através de uma análise 3D seria possível considerar a fissuração vertical. Da figura 4.15 e 4.16 é possível observar que de facto a presença de fissuras gera uma concentração de tensão maior na interface, na zona fissurada; por outro lado um espaçamento menor entre fissuras gera maiores picos de tensão na zona adjacente à abertura. As fissuras localizadas na zona inferior do modelo provocam um pico maior de tensão (1216 Pa) em relação ao modelo com fissuras concentradas a ½ vão (1180 Pa). No anexo A.2.3 á apresentada a evolução da tensão com o carregamento, para o modelo c. 79 Modelo numérico suporte/reboco Modelo sem fissuração Modelo a: Fissuração distribuída de 30 em Modelo b: Fissuração Modelo c: Fissuração 30 cm em todo o localizada na localizada a ½ vão comprimento do extremidade inferior modelo Tn (Pa) Pormenores (zona envolvida pela área rectangular) Figura 4.19 - Tensão normal na interface em modelos com distintos padrões de fissuração; reboco com as características da argamassa B do Quadro 4.8; deformada ampliada 20000%. 4.4.6 Camadas de revestimento De acordo com Miranda (2004), nos rebocos multi-camada a perda de aderência ocorre maioritariamente na interface entre o salpico e a camada base; e esta última possui valores de σmax, maiores do que uma interface entre uma camada 80 Capítulo 4 base e o suporte. Na análise paramétrica, analisou-se o efeito que produz o aumento de σmax. O objectivo nesta secção, é observar o que acontece no caso da camada de salpico não introduzir melhorias na resistência de aderência, isto é, pretende-se apenas avaliar o efeito da heterogeneidade do revestimento. Para tal, foi considerado um reboco bi-camada, com uma camada de salpico de 5 mm e uma camada base de 20 mm, e cujas propriedades são as listadas no Quadro 4.9. Quadro 4.9 - Propriedades das camadas de reboco. Propriedade Salpico Camada de base Ed (MPa) 13900 9770 3 Map (kg/m ) 1840 1881 Rc (MPa) 8,00 6,49 Silva et al., 2007 Referência Rodrigues, 2004 Legenda: Ed – módulo de elasticidade dinâmico da argamassa; Map – massa volúmica aparente da argamassa; 𝜈 – coeficiente de Poisson (assumiu-se igual a 0,2); Rc – resistência à compressão da argamassa; fu – tensão de aderência da argamassa. Na Figura 4.20 é apresentada a distribuição de tensões normais na interface entre a parede e o salpico. Pormenor da modelação das 2 camadas de reboco Tn (Pa) Figura 4.20 – À esquerda: tensão normal na interface salpico/parede; reboco com as características da argamassa B do Quadro 4.8; deformada ampliada 20000%. À direita: pormenor do modelo. 81 Modelo numérico suporte/reboco Ao comparar a interface da Figura 4.20 com a da argamassa B da Figura 4.13, concluí-se que a primeira deforma-se mais, ou seja tem pior aderência; a interface do sistema de duas camadas não possui um pico de tensão normal cerca da extremidade ao contrário da argamassa B, o que é compatível com uma interface mais deformável. 4.5 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO Neste capítulo, a partir de um modelo suporte/reboco, com características de uma fachada comum, sob o efeito do peso próprio e de uma acção p – acção esta que pretende simular a acção de vento, realizou-se uma análise paramétrica da interface e modelou-se factores que podem influenciar a aderência. A análise paramétrica é justificada pelo facto de não existirem ensaios experimentais que forneçam directamente o valor dos parâmetros σmax, δn e δt. Desta, concluí-se que o valor da separação normal na interface (Δn) condiciona a distribuição de tensão normal na mesma; para valores de Δn cada vez mais reduzidos a transmissão da tensão aplicada na face exterior do reboco ao suporte assemelha-se mais à situação em que não existe interface – com os materiais a actuar em bloco – este tipo de distribuição caracteriza-se por tensão relativamente uniforme em quase toda a altura e uma tensão muito elevada nas extremidades e que é condicionada pelo apoio. Com o aumento do valor de Δn existe uma cada vez menor distribuição de tensão entre a argamassa e o suporte. O valor de Δn é directamente proporcional ao valor de δn e inversamente proporcional ao valor de σmax. O mesmo ocorre na direcção tangencial, com valores muito pequenos de Δt a distribuição de tensões tangenciais é muito semelhante a uma distribuição de tensões tangenciais de um modelo de uma viga bi-encastrada. Na análise paramétrica não foram analisadas situações em que o comportamento numa direcção influencia o comportamento na outra. Após a análise paramétrica as interfaces foram geradas com valores de δn e δt de 1x10-2 m, que apesar de ser um valor elevado para o parâmetro facilita a leitura gráfica mas tendo a desvantagem de desprezar as tensões tangenciais comparativamente com valores menores do parâmetro. Os factores que influenciam a aderência podem ser simulados através da alteração dos parâmetros da interface, no entanto é necessário o conhecimento da influência do factor sobre o parâmetro. Por exemplo, o efeito da rugosidade do suporte pode ser modelado com o aumento do valor de σmax porque ensaios realizados mostram que nos suportes mais rugosa a aderência é maior. Existem, no entanto, alguns factores que podem ser modelados através da alteração de características no modelo que não os parâmetros da interface; no Quadro 4.10 são listadas as características do modelo que foram consideradas e quais os factores que pretendem simular. O tipo de argamassa, a presença de fendilhação no reboco e suporte, o modo de aplicação da argamassa, a sua consistência e o número de camadas de reboco foram os factores simulados. O tipo de argamassa é o único factor introduzido em que apenas se manipulam os valores dos parâmetros do modelo. Concluiu-se que argamassas com maior 82 Capítulo 4 resistência de aderência (resultado obtido experimentalmente por outros autores), propriedade introduzida através do parâmetro σmax, sofrem menor deformação da interface; esta conclusão está de acordo com o observado na prática e indica que o modelo numérico está a reproduzir um comportamento correcto. A presença de macro-defeitos na interface e de fendilhação no reboco provocada por problemas na alvenaria geram maiores tensões e deformações na interface, e aqui mais uma vez, o modelo reproduz o comportamento esperado. A heterogeneidade da interface e do reboco é prejudicial á aderência. Quadro 4.10 - Factores que podem ser modelados através da alteração de características. Factor Tipo de argamassa Consistência da argamassa Espessura do revestimento Número de camadas Limpeza e tratamentos do suporte Modo de aplicação da argamassa Cura húmida Parâmetros/características manipuladas • susceptibilidade à fendilhação • resistência à compressão; • módulo de elasticidade; • densidade; • coeficiente de poisson. • introdução de macro-defeitos na interface. • susceptibilidade à fendilhação. • número de camadas; • espessura das camadas. • introdução de macro-defeitos na interface. • criação de interface heterogénea com diferentes σmax; • introdução de macro-defeitos na interface. • susceptibilidade à fendilhação. 83 Modelo numérico suporte/reboco 84 Capítulo 5 5 CONCLUSÕES FINAIS 5.1 CONCLUSÃO O objectivo deste trabalho foi modelar um sistema parede/reboco com uma interface entre aquelas componentes e cujo modelo do comportamento constitutivo modelar o mecanismo de aderência do reboco. A modelação tinha como intuito simular factores que podem afectar o mecanismo de aderência e face às acções em serviço a que os revestimentos estão expostos. Para tal foi necessário entender o mecanismo de aderência e fazer um levantamento de factores cuja influência nas propriedades da aderência foi comprovada experimentalmente. Foi explicado que o mecanismo de aderência entre uma argamassa, quer de assentamento, quer de revestimento, e um suporte é devido sobretudo à penetração da calda da argamassa nos poros e rugosidades do suporte, região onde ocorre a cristalização de produtos de hidratação do ligante; os cristais resultantes deste processo exercem então uma ancoragem mecânica da argamassa ao suporte. Existem inúmeros factores que contribuem para o desenvolvimento de maior resistência à tracção, resistência ao corte e extensão de aderência. Tais factores podem ser intrínsecos à argamassa, ao suporte ou podem ser externos ao sistema. Dentre os factores intrínsecos à própria argamassa é consensual que o teor de cimento da argamassa é o factor individual que maior influência possui na resistência de aderência ao corte e à tracção, quanto maior o seu valor maior o valor as referidas propriedades da aderência. A extensão de aderência pode ser incrementada com a incorporação de cal ou através da utilização de argamassas mais trabalháveis. Em relação ao suporte, quanto mais poroso maior aderência irá providenciar às argamassas; as sujidades que existem no suporte afectam bastante negativamente o desenvolvimento da aderência. Dos factores externos é sabido que uma projecção mecânica uniformiza as propriedades da aderência do reboco ao longo da sua área e aumenta a extensão de aderência. A resistência de aderência à tracção é a propriedade mecânica da aderência que é mais quantificada experimentalmente, sendo realizada por intermédio de ensaios de pull-off. De seguida foi analisada a metodologia disponível no ANSYS Multiphysics para a modelação de interfaces. O ANSYS é um software utilizado na análise pelo método de elementos finitos em diversas áreas desde a engenharia à saúde. Na versão 11.0 do ANSYS Multiphysics são disponibilizados elementos finitos de interface, que como o nome indica, permitem modelar uma interface; as interfaces regem-se por um modelo constitutivo exponencial, caracterizado por três parâmetros: tensão normal máxima suportada (σmax), comprimento característico na direcção normal (δn) e comprimento característico na direcção tangencial (δt). 85 Conclusões Finais O suporte e a argamassa são modelados por elementos finitos estruturais e têm um comportamento elástico linear com um limite de tensão de Von Mises, a partir da qual não conseguem suportar mais carga (σ1). Uma das acções mais frequentes a que os revestimentos estão sujeitos é a acção do vento; a sucção do vento exercida numa fachada é em geral uma acção uniformemente distribuída que actua perpendicularmente à interface no sentido do interior para o exterior. A sucção do vento foi a acção incluída nas simulações para além do peso próprio. Para aferir a influência dos parâmetros da interface foi realizada uma análise alterando os parâmetros da interface; em cada uma das análises um dos parâmetros era alterado e as restantes condições mantidas. Desta análise, concluí-se que a separação que ocorre na interface vai condicionar a forma como a tensão aplicada na face exterior do revestimento é distribuída. Se a interface for muito rígida, isto é, a separação que nela ocorre é muito pequena (menor do que 1x10-7 m) o comportamento do modelo com interface é idêntico ao de um modelo em que existe uma ligação perfeita entre a argamassa e o suporte. Se por outro lado, a separação na interface for muito elevada (superior a 1x10-4 m), a transmissão de tensões entre a interface e o suporte é menor. Após analisar a influência dos vários parâmetros foram alteradas várias características e/ou propriedades do modelo numérico de forma a simular factores que afectam a aderência. O primeiro factor analisado foi o tipo de argamassa; as argamassas mais resistentes possuem maior resistência de aderência que pode ser introduzida através do parâmetro σmax. As argamassas com menor σmax deformam-se mais para a mesma tensão aplicada e assim, mais facilmente perdem aderência. Os resultados obtidos por via numérica estão de acordo com os obtidos experimentalmente por outros autores, isto significa que o modelo está a exibir um comportamento correcto. Foi analisada também a influência da presença de fissuras no revestimento e de macro-defeitos na interface, estas duas características vão conduzir a que se instale maior tensão na interface e maior separação, e está de acordo com o que se observa na prática. Por outro lado, concluiu-se que a heterogeneidade da resistência da interface e do reboco são prejudiciais à aderência. 5.2 DESENVOLVIMENTOS FUTUROS De forma a aprofundar o tema da modelação numérica de interfaces entre o suporte e o reboco tendo em consideração a metodologia utilizada neste trabalho são propostos os seguintes estudos: • Validar o modelo apresentado na presente dissertação através de ensaios experimentais; • Realizar uma análise paramétrica para diferentes acções; • avaliar a influência dos diferentes factores na aderência para outras acções para além da sucção do vento. 86 Bibliografia 6 BIBLIOGRAFIA Alfano, G. 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A2 (1) em que A1 e A2 são definidos pelas expressões (2) e (3): A1 = exp �– A2 = exp �− Δn � δn Δ2t δ2t (2) � (3) O parâmetro A2 representa a influência que as características da interface na direcção tangencial têm no comportamento da direcção normal. A relação constitutiva da direcção tangencial é dada por (4): Tt = 2 exp (1) σmax δn ∆𝑡 A3 ∙ A2 ∙ A1 δt δt (4) em que A3 é dado pela expressão (5): A3 = �1 + Δn � δn (5) Os parâmetros A2 e A3 traduzem a influência da direcção normal na direcção tangencial. Do Quadro A.1-1 concluí-se que para relações de Δn/δn e Δt/δt menores ou igual a 0,1 o comportamento numa dada direcção não é significativamente condicionado pela outra. Quadro A.1-1 – Valor dos parâmetros A1, A2 e A3 em função da relação Δn/δn e Δt/δt. Δn/δn 1,00 0,50 0,20 0,10 0,01 0,001 Δt/δt 1,00 0,50 0,10 0,10 0,01 0,00 A1 0,37 0,61 0,82 0,90 0,99 1,00 A2 0,37 0,78 0,99 0,99 1,00 1,00 A3 2,00 1,50 1,20 1,10 1,01 1,00 A3 × A2 0,74 0,91 0,98 1,00 1,00 1,00 iii Anexos A.1.2 Resultados da análise paramétrica De seguida são apresentados resultados da análise paramétrica, descrita em 4.3; estes consistem em curvas de tensão normal e tangencial que variam ao longo do comprimento interface, e de curvas da separação normal e tangencial também ao longo da interface. Das Figuras A.1-1 a A.1-9 o modelo está sujeito à acção do peso próprio e a uma carga p de 1000 Pa. Nas Figura A.1-1 e A.1-2 são introduzidas relações diferentes das δn/δt da Figura 4.8, nota-se que as curvas de tensão normal não são influenciadas por esta relação. A Figura A.2-3 representa as tensões tangenciais desenvolvidas nas mesmas condições que as apresentadas na Figura 4.10, mas sem estarem normalizadas em relação ao parâmetro A. Nas Figuras A.1-4 a A.1-8 o valor de σmax é de 2000 Pa, a diminuição deste parâmetro faz com que o valor de Δn e Δt aumente (Figura A.1-5 e A.1-8) e consequentemente a distribuição das tensões caminha para a situação em que as duas componentes (argamassa e suporte) comportam-se por separado. A Figura A.1-6 é a versão normalizada da Figura A.1-7. Na Figura A.1-9 é apresentada a distribuição da tensão normal no caso em que σmax toma o valor de 1,0 MPa; o comportamento obtido é o esperado, as curvas estão mais uniformes e os picos mais próximos dos extremos do modelo, pelo facto do aumento da tensão máxima causar uma diminuição no valor da separação. Um aumento ou uma diminuição da tensão máxima na direcção normal supõe o mesmo efeito na tensão máxima na direcção tangencial devido à relação entre ambas, exposta no capítulo 3. As Figuras A.1-10 e A.1-11 são referentes a um modelo onde só actua a força gravítica. δn ⁄δt = 1 Y (m) Y (m) 2,9 2,9 2,7 2,7 2,5 2,5 2,3 2,3 2,1 2,1 1,9 1,9 1,7 1,7 δn< 1,5 δn ⁄δt = 2 δn< 1,5 1,3 1,3 1,1 1,1 0,9 0,9 0,7 0,7 0,5 0,5 0,3 0,3 0,1 0,1 600 700 800 900 1000 1100 1200 Tn (Pa) 600 700 800 900 1000 1100 1200 Tn (Pa) δn ⁄δt = 10 Y (m) 2,9 2,7 2,5 Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,3 2,1 1,9 1,7 δn< 1,5 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 1,3 1,1 0,9 0,7 0,5 0,3 0,1 600 700 800 900 1000 1100 1200 Tn (Pa) Figura A.1-1 - Distribuição da tensão normal (Tn) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e a relação δn/δt toma valores de 1, 100 e 0,01 e no modelo actua a força gravítica e uma carga p =1000 Pa. Anexos δn ⁄δt = 1 Y (m) Y (m) 2,9 2,9 2,7 2,7 2,5 2,5 2,3 2,3 2,1 2,1 1,9 1,9 1,7 1,7 δn< 1,5 δn ⁄δt = 0,5 δn< 1,5 1,3 1,3 1,1 1,1 0,9 0,9 0,7 0,7 0,5 0,5 0,3 0,3 0,1 600 700 800 900 1000 1100 1200 Tn (Pa) 0,1 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 Tn (Pa) δn ⁄δt = 0,1 Y (m) 2,9 2,7 2,5 Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,3 2,1 1,9 1,7 δn< 1,5 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 1,3 1,1 0,9 0,7 0,5 0,3 0,1 600 700 800 900 1000 Tn (Pa) 1100 1200 Figura A.1-2 - Distribuição da tensão normal (Tn) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e a relação δn/δt toma valores de 1, 0,5 e 0,1 e no modelo actua a força gravítica e uma carga p =1000 Pa. Anexos δn ⁄δt = 1 δn ⁄δt = 100 Y (m) Y (m) 3 3 2,8 2,6 δn< 2,8 δn< 2,4 2,4 2,2 2,2 2 2 1,8 1,8 1,6 1,6 1,4 1,4 1,2 1,2 1 1 0,8 0,8 0,6 0,6 0,4 δn< 0,2 0,4 0,2 0 -6000 -4000 -2000 δn< 2,6 0 0 2000 4000 6000 Tt (Pa) -15000 -10000 -5000 0 5000 10000 15000 Tt (Pa) δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 2,9 2,7 δn< 2,5 Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,3 2,1 1,9 1,7 1,5 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 1,3 1,1 0,9 0,7 δn< 0,5 0,3 0,1 -30 -20 -10 0 10 20 Tt (Pa) Figura A.1-3 – Distribuição da tensão tangencial (Tt) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e a relação δn/δt toma valores de 1, 100 e 0,01 e no modelo actua a força gravítica e uma carga p =1000 Pa. vii Anexos δn ⁄δt = 1 Y (m) Y (m) 2,9 2,9 2,7 2,7 2,5 2,5 2,3 2,3 2,1 2,1 1,9 1,9 δn< 1,7 δn ⁄δt = 100 1,7 1,5 1,5 1,3 1,3 1,1 1,1 0,9 0,9 0,7 0,7 0,5 0,5 0,3 0,3 0,1 δn< 0,1 0 200 400 600 Tn (Pa) 800 1000 1200 0 200 400 600 800 Tn (Pa) 1000 1200 δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 2,9 2,7 2,5 Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,3 2,1 1,9 δn< 1,7 1,5 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 1,3 1,1 0,9 0,7 0,5 0,3 0,1 0 200 400 600 800 1000 1200 Tn (Pa) Figura A.1-4 - Distribuição da tensão normal (Tn) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 2000 Pa e a relação δn/δt toma valores de 1, 100 e 0,01 e no modelo actua a força gravítica e uma carga p = 1000 Pa. Anexos δn ⁄δt = 1 Y (m) Y (m) 2,9 2,9 2,7 2,7 2,5 2,5 2,3 2,3 2,1 2,1 1,9 1,9 1,7 1,5 1,7 δn< 1,3 1,1 1,1 0,9 0,9 0,7 0,7 0,5 0,5 0,3 0,3 1E-5 δn< 1,5 1,3 0,1 1E-6 δn ⁄δt = 100 1E-4 1E-3 1E-2 1E-1 Δn (m) 0,1 1E-6 1E-5 1E-4 Δn (m) 1E-3 1E-2 δn ⁄δt = 0,01 2,9 Y (m) 2,7 2,5 2,3 2,1 Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 1,9 1,7 1,5 δn< 1,3 1,1 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 0,9 0,7 0,5 0,3 0,1 1,E-6 1,E-5 1,E-4 1,E-3 Δn (m) 1,E-2 1,E-1 Figura A.1-5 - Distribuição logaritmica da separação normal (Δn) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 2000 Pa e a relação δn/δt toma valores de 1, 100 e 0,01 e no modelo actua a força gravítica e uma carga p = 1000 Pa. ix Anexos δn ⁄δt = 1 δn ⁄δt = 100 Y (m) Y (m) 3 3 2,8 2,8 2,6 2,4 δn< 2,6 δn< 2,4 2,2 2,2 2 2 1,8 1,8 1,6 1,6 1,4 1,4 1,2 1,2 1 1 0,8 0,8 δn< 0,6 0,6 0,4 0,4 0,2 0,2 0 -600 -400 -200 δn< 0 0 200 400 Tt/A (Pa) -200 -100 0 Tt/A (Pa) 100 200 δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 2,9 2,7 2,5 δn< 2,3 Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,1 1,9 1,7 A = 𝜏max ⁄𝜎max 1,5 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 1,3 1,1 0,9 δn< 0,7 0,5 0,3 0,1 -10 -5 0 Tt/A (Pa) 5 Figura A.1-6 - Distribuição da tensão tangencial (Tt) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 2000 Pa e a relação δn/δt toma valores de 1, 100 e 0,01 e no modelo actua a força gravítica e uma carga p = 1000 Pa. Anexos δn ⁄δt = 1 δn ⁄δt = 100 Y (m) Y (m) 3 2,8 2,6 δn< 3 2,8 δn< 2,6 2,4 2,4 2,2 2,2 2 2 1,8 1,8 1,6 1,6 1,4 1,4 1,2 1,2 1 1 0,8 0,8 δn< 0,6 0,6 0,4 0,4 0,2 0,2 0 -1500 -1000 -500 0 Tt (Pa) δn< 0 500 1000 -40000 -20000 0 Tt (Pa) 20000 40000 δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 3 2,8 2,6 δn< 2,4 Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,2 2 1,8 1,6 1,4 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 1,2 1 δn< 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -0,2 -0,1 0 0,1 0,2 Tt (Pa) Figura A.1-7 - Distribuição da tensão tangencial (Tt) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 2000 Pa e a relação δn/δt toma valores de 1, 100 e 0,01 e no modelo actua a força gravítica e uma carga p =1000 Pa. xi Anexos δn ⁄δt = 1 Y (m) δn ⁄δt = 100 Y (m) 2,9 2,9 2,7 2,7 2,5 2,5 2,3 2,3 δn< δn< 2,1 2,1 1,9 1,9 1,7 1,7 1,5 1,E-7 1,5 1,E-11 1,E-6 1,E-5 Δt (m) 1,E-4 1,E-3 1,E-9 1,E-7 1,E-5 1,E-3 Δt (m) δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 2,9 2,7 Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,5 2,3 δn< Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 2,1 1,9 1,7 1,5 1,E-11 1,E-9 1,E-7 Δt (m) 1,E-5 1,E-3 Figura A.1-8 - Distribuição logaritmica da separação tangencial (Δt) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 2000 Pa e a relação δn/δt toma valores de 1, 100 e 0,01 e no modelo actua a força gravítica e uma carga p = 1000 Pa. Anexos δn ⁄δt = 1 Y (m) Y (m) 2,9 2,9 2,7 2,7 2,5 2,5 δn< 2,3 2,3 2,1 2,1 1,9 1,9 1,7 1,7 1,5 1,5 1,3 1,3 1,1 1,1 0,9 0,9 0,7 0,7 0,5 0,5 0,3 0,3 0,1 δn< 0,1 600 800 1000 Tn (Pa) 1200 1400 600 800 1000 Tn (Pa) 1200 1400 δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 2,9 2,7 2,5 δn< Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 2,3 2,1 1,9 1,7 1,5 Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores decrescentes de δn 1,3 1,1 0,9 0,7 0,5 0,3 0,1 600 800 1000 Tn (Pa) 1200 1400 Figura A.1-9 - Distribuição da tensão normal (Tn) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 1,0 MPa e a relação δn/δt toma valores de 1, 100 e 0,01 e no modelo actua a força gravítica e uma carga p =1000 Pa. xiii Anexos δn ⁄δt = 1 Y (m) Y (m) 2,7 δn ⁄δt = 100 2,7 2,5 2,5 2,3 2,3 2,1 2,1 1,9 1,9 1,7 1,7 1,5 1,5 1,3 1,3 1,1 1,1 0,9 0,9 0,7 0,7 0,5 0,5 0,3 -10 -5 0,3 0 5 10 Tn (Pa) -3 -1 1 3 Tn (Pa) δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 2,7 2,5 2,3 2,1 Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m 1,9 1,7 1,5 1,3 1,1 0,9 0,7 0,5 0,3 -2 -1 0 1 2 Tn (Pa) Figura A.1-10 - Distribuição da tensão normal (Tn) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e a relação δn/δt toma valores de 1, 100 e 0,01 e no modelo actua a força gravítica. Anexos δn ⁄δt = 1 δn ⁄δt = 100 Y (m) Y (m) 3 3 2,8 2,8 2,6 2,6 2,4 2,4 2,2 2,2 2 δn< 2 1,8 1,8 1,6 1,6 1,4 1,4 1,2 1,2 1 1 0,8 0,8 0,6 0,6 0,4 0,4 0,2 0,2 0 -500 -400 -300 -200 -100 0 0 -500 Tt (Pa) -400 -300 -200 -100 0 Tt (Pa) δn ⁄δt = 0,01 Y (m) 3 2,8 2,6 2,4 2,2 2 1,8 δn< 1,6 1,4 1,2 1 0,8 Legenda: -1 δn = 1×10 m -2 δn = 1×10 m -3 δn = 1×10 m -4 δn = 1×10 m Do seu início à ponta a seta intercepta curvas correspondentes a interfaces com valores crescentes de δn 0,6 0,4 0,2 0 -5 -4 -3 -2 -1 0 Tt (Pa) Figura A.1-11 - Distribuição da tensão tangencial (Tt) em interfaces com diferentes valores de δn, quando σmax = 0,3 MPa e a relação δn/δt toma valores de 1, 100 e 0,01 e no modelo actua a força gravítica. xv A.2 FACTORES QUE INFLUENCIAM A ADERÊNCIA A.2.1 Tipo de argamassa Na secção 4.4.2 foram apresentados os resultados da Tensão normal e da separação normal em 3 interfaces de argamassas listadas no Quadro 4.8; nas Figuras A.2-1 e A.2-2 apresenta-se os resultados da tensão e separação tangencial. Os resultados estão de acordo com as conclusões da análise paramétrica. A interface com menor resistência deforma-se mais e a intensidade da tensão decresce, o que pode gerar problemas de rotura coesiva na argamassa, pois a tensão não é transmitida ao suporte. Argamassa A Argamassa B Argamassa C Tt (Pa) Figura A.2-1 - Tensão tangencial na interface nas argamassas do Quadro 4.8, quando δn=δt=1x10 e o suporte têm as propriedades de acordo com o Quadro 4.7; deformada ampliada 20000%. -2 Anexos Argamassa A Argamassa B Argamassa C Δt (m) Figura A.2-2 - Tensão normal na interface nas argamassas do Quadro 4.8, quando -2 δn=δt=1x10 e o suporte tem as propriedades de acordo com o Quadro 4.7; deformada ampliada 200000%. A.2.2 Modo de aplicação da argamassa Na secção 4.4.4 foi analisada uma interface cujo parâmetro σmax não é constante em altura. Na Figura A.2-4 apresenta-se a distribuição da tensão normal na referida interface, quando o modelo foi sujeito a uma carga p = 0,1 MPa. Os resultados confirmam que a presença de heterogeneidade é prejudicial à aderência. Na Figura A.2-4 é apresentada a separação normal na interface e na Figura A.2-5 a correspondente tensão tangencial. xvii Anexos Tn (Pa) σmax = 0,18 MPa σmax = 0,16 MPa σmax = 0,22 MPa σmax = 0,21 MPa σmax = 0,27 MPa σmax = 0,22 MPa σmax = 0,2 MPa σmax = 0,13 MPa Figura A.2-3 – Distribuição de tensão normal (Tn) em interfaces heterogéneas e homogéneas, 5 -2 quando actua a acção gravítica e uma acção p = 1x10 Pa; σmax =0,34 MPa e δn=δt=1x10 m; o suporte tem as características indicadas no Quadro 4.7 e o reboco corresponde à argamassa B do Quadro 4.8; deformada ampliada 2000%. Anexos Interface heterogénea de acordo com o Quadro 4.9 Interface homogénea com σmax = 0,27 MPa Interface homogénea com σmax = 0,20 MPa Δn (m) σmax = 0,18 MPa σmax = 0,16 MPa σmax = 0,22 MPa σmax = 0,21 MPa σmax = 0,27 MPa σmax = 0,22 MPa σmax = 0,2 MPa σmax = 0,13 MPa Figura A.2-4 – Separação normal (Δn) em interfaces heterogéneas e homogéneas, quando 5 -2 actua a acção gravítica e uma acção p = 1x10 Pa; σmax =0,34 MPa e δn=δt=1x10 m; o suporte tem as características indicadas no Quadro 4.7 e o reboco corresponde à argamassa B do Quadro 4.8; deformada ampliada 2000%. xix Anexos Interface heterogénea de acordo com o Quadro 4.9 Interface homogénea com σmax = 0,27 MPa Interface homogénea com σmax = 0,20 MPa Tt (Pa) σmax = 0,18 MPa σmax = 0,16 MPa σmax = 0,22 MPa σmax = 0,21 MPa σmax = 0,27 MPa σmax = 0,22 MPa σmax = 0,2 MPa σmax = 0,13 MPa Figura A.2-5 - Distribuição de tensão tangencial (Tt) em interfaces heterogéneas e 5 homogéneas, quando actua a acção gravítica e uma acção p = 1x10 Pa; σmax =0,34 MPa e -2 δn=δt=1x10 m; o suporte tem as características indicadas no Quadro 4.7 e o reboco corresponde à argamassa B do Quadro 4.8; deformada ampliada 2000%. A.2.3 Fissuração devido a problemas da alvenaria No Quadro A.2-1 é apresentada a evolução da distribuição da tensão normal na interface com o carregamento para um sistema em que o reboco e o suporte apresentam fissuras na zona central. Nas figuras é possível apreciar o aumento da tensão que gera o aumento da fissura. Anexos p = 200 Pa p = 400 Pa p = 600 Pa p = 800 Pa p = 1000 Pa Tn (Pa) Pormenores da zona fissurada (zona envolvida pela área rectangular) Figura A.2-6 - Evolução da tensão normal na interface com o carregamento para uma fissuração concentrada na zona central, quando actua a acção gravítica e uma acção p = 1000 Pa; -2 σmax =0,34 MPa e δn=δt=1x10 m; o suporte tem as características indicadas no Quadro 4.7 e o reboco corresponde à argamassa B do Quadro 4.8; deformada ampliada 250000%. xxi