11 de abril de 2014 Planejamento: a chave para o desenvolvimento logístico A lista de entraves físicos e institucionais que comprometem a eficiência do setor de transporte no Brasil é extensa, bem como a de propostas para mitigá-los. Entretanto, apesar do grande número de instituições envolvidas nesse objetivo e da diversidade de programas e projetos, pouco se tem avançado nessa agenda. O motivo da pouca efetividade é, segundo transportadores e especialistas, a falta de planejamento e visão integrada do sistema de transporte no Brasil. Dados orçamentários apontam um significativo aumento do volume de recursos públicos disponíveis para o investimento em infraestrutura de transporte desde 2007 (Gráfico 1). Contudo, nem todo o montante disponibilizado foi de fato utilizado. Dos R$ 128,2 bilhões autorizados para investimento pela União e pelas Estatais1 entre 2007 e 2013, apenas R$ 80,0 bilhões foram efetivamente investidos. Ou seja, apenas 62% dos recursos foram aplicados em obras de infraestrutura sem, no entanto, converterem-se necessariamente em melhorias e expansão do sistema de transporte brasileiro. Para 89,3% dos transportadores dos modais rodoviário, ferroviário e aquaviário que participaram da Sondagem Expectativas Econômicas do Transportador 2014 Fase 12, executada pela CNT, a baixa execução orçamentária será mantida em 2014. Quando questionados sobre os motivos que dificultam que o governo realize os investimentos autorizados, 63,3% dos entrevistados apontaram a falta de planejamento como a principal causa (Gráfico 2). A percepção dos transportadores, usuários do sistema, vai ao encontro da análise apresentada por especialistas do setor e por acadêmicos. Em debate promovido pelo Senado Federal3 com o objetivo de apresentar soluções que incentivem a eficiência no sistema logístico nacional, a necessidade de um planejamento integrado e sistêmico de longo prazo foi apontada como fundamental para garantir a qualidade e a utilidade da infraestrutura de transporte. Nesse sentido, Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, destacou que, para que o planejamento estratégico seja efetivo, são necessários mecanismos que o desvinculem dos programas de governo. O que se deseja é uma estratégia de longo prazo que considere as reais necessidades do país, sem exigir que o tempo de execução dos projetos coincida com o do mandato. O professor Luiz Afonso Senna4 acrescentou que o sistema de transporte deve ser visto pelo tomador de decisão como uma rede e, assim, deve ser concebido, no sentido de se estruturar a matriz de transporte nacional conjuntamente. Por tratar-se de um sistema, o transporte deve ser necessariamente planejado de forma integrada. Isso para que não se tenha a proposição de construção de, por exemplo, uma ferrovia orientada para transporte de bens exportáveis que tem como destino um porto sem capacidade de receber esse tipo de transporte ou carga, como acontecido recentemente no país5. A falta de visão sistêmica pode ou tornar um empreendimento inútil ou elevar seus custos de forma a torná-lo inviável. No Brasil, o planejamento é particularmente importante devido ao reduzido estoque de infraestrutura de transporte instalada, à sua qualidade deficitária e à escassez de recursos disponíveis para o conjunto dos investimentos necessários. Nesse sentido, o planejamento tem a função de, definidas as metas, possibilitar que eixos prioritários de curto, médio e longo prazos sejam destacados. Definidas as prioridades, orien- R$ bilhões Gráfico 1 - Evolução do investimento público em infraestrutura de transporte Total Pago (R$ bilhões correntes) - Inclui investimentos diretos da União e das Estatais 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Investimento total 2009 Rodoviário 2010 2011 Ferroviário 2012 Aquaviário 2013 Aéreo Fonte: Siga Brasil Gráfico 2 - Qual o motivo de o governo não conseguir realizar os investimentos autorizados? Falta de planejamento 63,3 30,6 Eleições 2014 Realocação de recursos para outras áreas 22,1 Copa do mundo 2014 22,1 Outros motivos 2,0 Não sabe 1,7 0 20 40 60 80 100 Fonte: Sondagem Expectativas Econômicas do Transportador 2014 - Fase 1 Nota: Nesta questão, o entrevistado poderia responder mais de um item. tadas segundo as metas e as características sociais e econômicas do país, o planejamento seleciona os melhores projetos. A escolha deve priorizar a combinação de infraestruturas modais que apresente o melhor custo-benefício para o país, de forma a atender às necessidades de movimentação de pessoas e cargas. Contudo, também é necessário que se defina um cronograma confiável de execução das intervenções e de desembolsos financeiros, bem como estabelecer metas de qualidade para as ações adotadas. Cabe destacar que a CNT aponta a necessidade de um planejamento integrado e sistêmico há muitos anos. Em 2007, a Confederação publicou o Plano de Logística para o Brasil que já apresentava não apenas as intervenções de cada modal necessárias para a solução dos gargalos existentes, mas, também, intervenções capazes de viabilizar a integração do sistema baseada em eixos estruturantes. Além disso, a Confederação tem disponibilizado diversos estudos a fim de facilitar a identificação de projetos prioritários e apontando claramente soluções factíveis. Apesar disso, o planejamento sistêmico e integrado não é feito de forma correta no país. O que se verifica é uma grande dificuldade na execução de obras de infraestrutura de transporte, tanto as de expansão quanto as de manutenção. Não raro, empreendimentos em desenvolvimento são parados por falta de recursos, problemas com licenças ou desapropriação. Prazos de conclusão são permanentemente postergados e, com isso, torna-se crescente o custo de movimentação que compromete tanto a lucratividade das empresas quanto o desempenho logístico do país. 1. Infraero e Cias Docas. 2. A Sondagem Expectativas Econômicas do Transportador 2014 – Fase 1 está disponível aqui. 3. 1º Fórum Nacional de Infraestrutura. 4. Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e ex-diretor da ANTT, 5. Por falta de planejamento, um dos trechos ferroviários que compunham o PIL, lançado pelo Governo Federal, estabelecia a construção de uma ferrovia para escoamento de commodities que teria como nó final um porto sem capacidade para receber a ferrovia.