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FATORES DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DE TRANSTORNOS
ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIAS
RISK FACTORS FOR THE DEVELOPMENT OF EATING DISORDERS IN
UNIVERSITY STUDENTS
ADRIANA PEREIRA MEDINA STRACIERI
Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG
E-mail: [email protected]
THASSYANA CECÍLLIA DE OLIVEIRA
Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG
E-mail: [email protected]
RESUMO
Este estudo tem como objetivo identificar padrões alimentares anormais sugestivos para o
desenvolvimento de transtornos alimentares segundo o Teste de Atitudes Alimentares (EAT26). Foram avaliadas 169 alunas, do 1o ao 7o período do curso de Nutrição em um Centro
Universitário em Ipatinga, MG. Os resultados indicaram que 29,59% das alunas apresentavam
EAT positivo, ou seja, risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares, sendo esse
resultado superior ao de outros estudos. A preocupação com a imagem corporal, o hábito de
fazer dietas e a restrição de alimentos calóricos foram os comportamentos alimentares mais
prevalentes entre as alunas com EAT positivo. Conclui-se que são necessários mais estudos
que avaliem os motivos pelos quais as estudantes de Nutrição estão mais expostas a estes
transtornos.
Palavras-chave: transtornos alimentares, comportamento alimentar, universitárias.
ABSTRACT
This study objectifies identify abnormal suggestive alimentary standards for the development
of eating disorders according to Eating Attitudes Test (EAT-26). Were evaluated 169
students, of the first to the seventh period of the Nutrition course in a University Center in
Ipatinga, Brazil. Results indicated that 29,59% of the students had EAT positive, in other
words, risk for the development of eating disorders, being that result above to other studies.
The preoccupation with the body image, the habit of doing diets and the restriction of caloric
food were eating behaviors more prevalent among students with EAT positive. It is larger
studies are needed to assess the reasons why students of nutrition are more exposed to these
disorders.
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NUTRIR GERAIS – Revista Digital de Nutrição – Ipatinga: Unileste-MG, V. 2 – N. 3 – Ago./Dez. 2008.
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Key words: eating disorders, eating behavior, university students.
INTRODUÇÃO
Os transtornos alimentares (TA) requerem cada vez mais atenção dos profissionais da
área da saúde por apresentarem graus significativos de morbidade e mortalidade (PINZON e
NOGUEIRA, 2004). Essas síndromes têm origem multifatorial e sua prevalência tem
aumentado na população geral (MAGALHÃES e MENDONÇA, 2005).
Os principais tipos de TA são a anorexia nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN). A
AN é um TA caracterizado por perda de peso auto-induzida, distúrbios psicológicos, tais
como, características obssesivo-compulsivas, crenças irracionais e anormalidades fisiológicas.
Ocorre restrição alimentar auto-imposta, padrão alimentar bizarro e acentuada perda de peso,
que podem levar o paciente a graves seqüelas. Há a presença de um medo obsessivo de
engordar e preocupação anormal com o peso, forma corporal e alimentação. Ocorre distorção
da imagem corporal, sendo que a pessoa considera estar acima do peso, mesmo estando
gravemente emagrecida (THIEL e MELLO, 2005).
A BN, por sua vez, caracteriza-se por ingestão compulsiva de grande quantidade de
alimentos e sensação de perda de controle ao se alimentar. Estes episódios são identificados
binge eating ou comer compulsivo e são acompanhados de métodos inadequados para o
controle do peso como vômitos auto-induzidos, uso de medicamentos, dietas e exercícios
físicos excessivos (ABREU e CANGELLI FILHO, 2005). O termo BN foi criado por Russel
em 1979, e vem da união dos termos gregos boul (boi) ou bou (grande quantidade) com lemos
(fome), ou seja, uma fome muito intensa ou suficiente para “devorar um boi” (CORDÁS,
2004). Os bulímicos geralmente se mantêm próximos ao peso ou até mesmo com leve
sobrepeso (VILELA et al., 2004).
Fiates e Salles (2001) observaram um aumento de distúrbios alimentares nas últimas
décadas. O aumento dessa incidência coincide com a ênfase na magreza feminina como uma
expressão de atração sexual. Atualmente a sociedade valoriza a atratividade e a magreza em
particular, fazendo da obesidade uma condição altamente estigmatizada e rejeitada. A
associação da beleza, sucesso e felicidade com um corpo magro têm levado as pessoas à
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prática de dietas abusivas e de outras formas não saudáveis de regular o peso (DUNKER e
PHILIPPI, 2003).
Vindo ao encontro destes valores, as dietas restritivas e cirurgias plásticas transmitem
a ilusão de que o corpo é infinitamente maleável. O padrão de beleza veiculado pelos meios
de comunicação e pelo convívio social parece exercer um efeito marcante sobre as mulheres.
Pertencer a grupos profissionais como atletas, bailarinas, modelos e nutricionistas reforçam a
demanda por um corpo muito magro, aumentando o risco de TA (MORGAN et al, 2002).
O comportamento alimentar de um indivíduo é um dos fatores condicionantes do seu
estado nutricional e de saúde. Ao ingressar na faculdade, o estudante passa por uma série de
mudanças no estilo de vida, dentre elas a alimentação (VEIROS e MATOS, 2003). Assim,
objetivou-se identificar a presença de padrões alimentares anormais, segundo o Teste de
Atitudes Alimentares (EAT-26) em alunas do curso de Nutrição em Ipatinga, MG.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo de delineamento transversal e abordagem quantitativa. A
amostra constituiu-se de 169 estudantes do sexo feminino do curso de Nutrição de um Centro
Universitário na cidade de Ipatinga, MG, que estavam matriculadas entre o 1º e o 7º período
do curso. A coleta de dados ocorreu no mês de agosto de 2006.
Foram considerados critérios de exclusão o não preenchimento completo do
questionário e a recusa em participar do estudo. As estudantes do 8º período que estavam
cursando as disciplinas de estágios obrigatórios também foram excluídas da pesquisa pelo
motivo de estarem realizando o estágio fora do campus universitário.
Como indicador de risco para o desenvolvimento de TA foi utilizado o questionário
autopreenchível Teste de Atitudes Alimentares (EAT-26). Este instrumento é composto por
26 questões auto-preenchíveis capaz de rastrear os indivíduos mais susceptíveis ao
desenvolvimento de AN e BN, proposto por Garner e Garfinkel (1979), traduzido e validado
por Nunes et al. (1994).
Foram considerados em risco para os TA as estudantes que obtiveram escore igual ou
superior a 20 no EAT-26. Neste instrumento apenas as três primeiras respostas são pontuadas,
sendo elas sempre (3 pontos), muito freqüente (2 pontos) e freqüente (1 ponto) (CHIODINI e
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OLIVEIRA, 2003). O EAT-26 foi aplicado em sala de aula, no período de aula com uma
duração aproximada de 15 a 20 minutos.
Todas as alunas responderam ao questionário anonimamente para que houvesse uma
maior veracidade das respostas, uma vez que nos TA é comum a negação da própria condição
patológica. O anonimato permitiu às respondentes revelar um comportamento que, por
considerarem vergonhoso, poderia ser omitido em um questionário com identificação.
A estatística descritiva foi utilizada para a análise dos dados coletados e os resultados
foram apresentados na forma de gráficos.
Quanto aos aspectos éticos, a identidade das participantes foi preservada e a
participação na pesquisa foi voluntária. Todas as participantes assinaram Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa respeitou a Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Federal de Viçosa (número 044/2006).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Do total de 169 estudantes avaliadas, 50 (29,59%) foram classificadas como EAT
positivo, ou seja, com comportamento de risco para o desenvolvimento de TA.
Este resultado foi superior a estudos realizados com outros grupos que não os
considerados mais vulneráveis aos transtornos da alimentação. Chiodini e Oliveira (2003),
avaliando alunos de uma escola estadual de São Paulo, encontraram 12% dos alunos com
EAT positivo.
Vilela et al. (2004) ao pesquisarem alunos de escolas públicas de Minas Gerais,
encontraram 13,3% dos alunos com risco para o desenvolvimento de TA. Salles et al. (2005)
avaliando modelos adolescentes encontraram 24,5% da amostra com comportamento
sugestivo de TA.
Há indicação de que o ambiente universitário, principalmente na área da saúde, seja
propício para o desenvolvimento de TA (SANTOS et al., 2003). A maior abrangência aos
conhecimentos sobre alimentação e a crítica pessoal ou externa acerca da imagem corporal
dos nutricionistas, faz com que esse grupo sinta-se mais pressionado a ter um formato
corporal que atenda aos padrões de beleza atuais (FIATES e SALLES, 2001).
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Não se sabe ao certo se o desenvolvimento dos TA se deve ao aprofundamento da
Ciência da Nutrição ao longo do curso ou se pessoas já preocupadas com a imagem corporal
optem por esta área de estudo justamente por já terem interesse pessoal pelo tema (MORGAN
et al., 2002).
Fiates e Salles (2001) ao estudarem 114 universitárias do curso de Nutrição e número
similar de universitárias desvinculadas da área da saúde, encontraram EAT positivo em
25,43% das estudantes do curso de Nutrição e 18,69% nas estudantes de outros cursos.
Quanto à imagem corporal (Figura 1), 81 (47,94%) alunas encontraram-se sempre
preocupadas com o desejo de serem mais magras. Um dos critérios diagnósticos utilizado pelo
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) para AN é o medo
intenso de ganhar peso, recusa em manter o peso corporal em nível igual ou superior ao
mínimo normal para altura e idade e a perturbação no modo de vivenciar o peso ou a forma
corporal (TAVARES e TEIXEIRA NETO, 2003). Das alunas estudadas, 119 (70,42%)
relataram estar constantemente apavoradas com o excesso de peso e 126 (74,56)
preocupavam-se com a possibilidade de ter gordura no corpo.
90
80
Porcentagem (%)
70
60
47,94%
Sempre
50
Às vezes
40
30
20
26,04%
16,55%
Raramente
Nunca
9,47%
10
0
Figura 1 – Freqüência apresentada pelas estudantes de Nutrição relacionada à preocupação em serem
mais magras.
O hábito de fazer dietas (Figura 2) esteve presente em diferentes freqüências em 108
(63,9%) alunas. Conforme Magalhães e Mendonça (2005), a freqüência de uso de dietas
restritivas e até mesmo a leitura de revistas que exaltam a utilização destas dietas influenciam
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o comportamento alimentar feminino. Este hábito pode predizer a abertura de condutas
impróprias na tentativa de perda de peso e da busca de um corpo considerado “ideal”.
90
Porcentagem (%)
80
70
60
Frequente
50
Às vezes
36,09%
40
30
20
22,48%
26,04%
Raramente
Nunca
15,38%
10
0
Figura 2 - Freqüência apresentada pelas estudantes de Nutrição relacionada ao hábito de fazer dieta.
Apesar de 141 (83,43%) das universitárias terem relatado nunca terem tido o desejo de
provocar vômito observou-se que 28 (16,57%) relataram que pelo menos uma vez sentiram
vontade de provocar o vômito após as refeições, apresentando comportamento próprio de
episódios bulímicos. Um critério diagnóstico importante para BN é o comportamento
compensatório inadequado, uso de vômitos auto-induzidos, laxantes, diuréticos e outros
meios para prevenir o ganho de peso (CORDÁS, 2004). Dentre os mecanismos
compensatórios para a perda de peso utilizados pelos pacientes bulímicos, a auto-indução ao
vômito é o mais prevalente, estando presente em mais de 90% dos casos (ABREU e
CANGELI FILHO, 2004).
Outro método para perda de peso é a atividade física. Nesta pesquisa, 103 (60,95%)
relataram fazer exercícios com intuito de queimar calorias. Em estudo realizado por Assunção
et al. (2002) em um grupo de pacientes internados com TA e outro grupo controle, verificouse que 78% daqueles com os transtornos praticavam exercício excessivamente.
O comportamento alimentar associado à ingestão de carboidratos está descrito na
Figura 3. Os alimentos ricos em carboidratos e açúcar são mais evitados pelas pacientes com
TA devido ao fato de estas pacientes acreditarem que este nutriente está associado ao ganho
de peso. Dunker e Philippi (2003) ao avaliarem alunas de 15 a 18 anos de escolas públicas de
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São Paulo, observaram que aquelas com sintomas de AN possuíam aversão a determinados
grupos de alimentos, como balas, chocolates em barra, refrigerante, macarrão e batata frita,
alimentos considerados preferenciais entre o grupo sem sintomas de AN. Quanto ao consumo
de produtos dietéticos, 35 (26,64%) alunas relataram consumi-los freqüentemente e 124
(73,08%) esporadicamente.
90
80
26,04%
21,3%
20
17,75%
30
10,65%
40
24,26%
45,56%
50
34,91%
60
19,52%
Porcentagem (%)
70
Evitavam alimentos que
continham açúcar
Evitavam alimentos ricos em
carboidratos
10
Nu
nc
a
e
en
t
m
Ra
ra
es
ve
z
Às
Fr
eq
ue
n
tem
en
te
0
Figura 3 - Freqüência apresentada pelas estudantes de Nutrição relacionada ao fato de evitar
carboidratos.
Quando questionadas sobre o papel da alimentação em suas vidas, 81 (42,01%)
universitárias responderam que sentem que o alimento controla suas vidas em graus diferentes
de intensidade (Figura 4). Alvarenga e Philippi (2004) ao avaliarem padrões e
comportamentos alimentares de bulímicas atendidas no Ambulatório de Bulimia e
Transtornos Alimentares (Ambulim), em São Paulo, SP, observaram que estas tinham a
preocupação com o que comer todo o tempo, pensavam muito em comida e tinham raiva de
sentir fome. Cordás et al. (2004) citam que pacientes com quadro clínico de BN se queixam
freqüentemente de sensação de perda de controle alimentar.
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Porcentagem (%)
70
57,99%
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Frequentemente
50
Às vezes
40
Raramente
30
Nunca
20
16,57%
15,98%
9,47%
10
0
Figura 4 - Freqüência apresentada pelas estudantes de Nutrição relacionada ao sentimento de que o
alimento controla suas vidas.
Observou-se neste estudo que há alunas no curso de Nutrição que se sentem culpadas
após a alimentação (Figura 5). Tavares e Teixeira Neto (2003) relataram que pacientes com
sintomas de BN tinham fortes sentimentos de vergonha, tristeza e auto-condenação após se
alimentarem, sobretudo após os episódios bulímicos.
90
Porcentagem (%)
80
70
60
50
Frequentemente
43,19%
39,05%
40
30
20
Raramente
Nunca
17,75%
10
0
Figura 5 - Freqüência apresentada pelas estudantes de Nutrição relacionada ao sentimento de culpa após
a alimentação.
Este dado é preocupante já que estudantes do curso de Nutrição estão em constante
estudo acerca do valor nutricional dos alimentos, bem como, de temas importantes no que se
refere à Ciência da Nutrição. Observa-se que a busca deste conhecimento através da escolha
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do curso pode estar sendo encorajada por uma maior tendência ao desenvolvimento dos TA.
Uma outra possibilidade seria a hipótese de que o fato de ser estudante do curso de Nutrição
aumentaria o risco para o desenvolvimento de TA.
CONCLUSÃO
A freqüência encontrada de EAT positivo é preocupante, considerando ser os TA
patologias de baixa prevalência na população geral.
Sabendo-se que o modelo que explica a etiologia desses transtornos é multifatorial,
envolvendo aspectos biológicos, sociais, familiares e psicológicos, observa-se a necessidade
de serem realizados mais estudos que investiguem os fatores relacionados ao
desenvolvimento de TA em grupos considerados mais vulneráveis. Destes, os estudantes de
Nutrição e os Nutricionistas devem ser criteriosamente avaliados já que este profissional
deve, formalmente, constituir equipe multiprofissional que trata justamente dos TA na
população geral. Outro aspecto a ser ressaltado é a necessidade de uma adequada formação
profissional evitando, ou diminuindo, os riscos de o estudante de Nutrição desenvolver o
transtorno.
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