"Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus." (Atos 20.24) Os evangelhos sinóticos Uma comparação cuidadosa entre os quatro evangelhos revela uma semelhança perceptível entre Mateus, Marcos e Lucas, ao passo que João se apresenta bem diferente. Os três primeiros evangelhos concordam grandemente entre si quanto à linguagem empregada, quanto ao material incluído e quanto à ordem em que registram fatos e declarações da vida de Cristo. (No entanto, não parece que a ordem cronológica tenha sido rigidamente seguida em nenhum dos evangelhos.) Por causa dessa mútua concordância, esses três livros são chamados evangelhos sinóticos (syn-, "junto com"; optic, "vendo"; "vendo em conjunto", portanto). Exemplo de concordância quanto ao conteúdo encontra-se em Mateus 9.2-8, em Marcos 2.3-12 e em Lucas 5.18-26. Exemplo de concordância literal, palavra por palavra, acha-se em Mateus 10.22a, em Marcos 13.13a e em Lucas 21.17. Uma comparação matemát ica demonstra que 91% do evangelho de Marcos está contido em Mateus, ao passo que 53% de Marcos acha-se em Lucas. Semelhante concordância desperta perguntas quanto à origem dos evangelhos sinóticos. Os autores todos se basearam numa mesma fonte documentária? Será que eram interdependentes? Perguntas como essas constituem o chamado problema sinótico. Várias soluções possíveis foram apresentadas: 1. O emprego da tradição oral. Para alguns a tradição ficou tão estereotipada, que se transformou numa só fonte documentária aproveitada por todos os escritores dos evangelhos. 2. O emprego de um evangelho primitivo. Alguns têm postulado que todos os autores sinóticos tiveram acesso e um evangelho mais primitivo, não existente mais na forma original. 3. O emprego de fragmentos escritos. Alguns supõem que já haviam existido fragmentos de escrita a respeito de vários fatos da vida de Cristo, sendo aproveitados pelos autores sinóticos. 4. Interdependência. Alguns acreditam que os escritores sinóticos aproveitavam material uns dos outros, por isso a grande semelhança muitas vezes entre seus escritos. 5. O emprego de duas fontes principais. A teoria mais comum atualmente é que o evangelho de Marcos e um documento hipotético chamado Quelle ("fonte", em alemão) ou Q foram empregados por Mateus e por Lucas como fontes documentárias de boa parte do material registrado nos seus evangelhos. 6. A prioridade e o emprego de Mateus. Outra teoria entende que Mateus tenha sido a fonte documentária principal aproveitada pelos dois outros sinóticos. 7. Uma combinação da maioria das teorias acima. Essa teoria toma por certo que os autores dos evangelhos sinóticos fizeram uso da tradição oral, de fragmentos escritos, da interdependência de outros escritores sinóticos ou dos seus evangelhos, bem como do depoimento de testemunhas oculares. Independente da posição acima aceita, há uma verdade irrefutável a luz das Escrituras, mencionada por Pedro: "Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo." (2Pe 1.20-21)