TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA DE ARGILAS ORGANOFÍLICAS DESTINADAS À REMOÇÃO DE ÓLEOS COMBUSTÍVEIS O.A. Andreo dos Santos(1), M.G.C. da Silva(2) Av. Albert Einstein, 500, Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, Campinas- SP- 13083852, Brazil - Tel: +55 19 35213895 – Fax: +55 19 35213910 – e-mail: [email protected] (1) Departamento de Engenharia Química (DEQ) – Centro de Tecnologia (CTC) Universidade Estadual de Maringál – UEM. (2) Laboratório de Engenharia Ambiental – LEA – Faculdade de Engenharia Química (FEQ) – Unicamp. RESUMO Argilas organofílicas, preparadas a partir de sais quaternários de amônio, destacam-se como adsorventes por possuírem grande afinidade por compostos orgânicos e, assim, estão sendo largamente estudadas na adsorção e retenção de resíduos industriais perigosos, especialmente na separação de compostos orgânicos da água. Por outro lado, a caracterização do adsorvente e o conhecimento do efeito das propriedades físicas e químicas na dinâmica de adsorção dos componentes em sistema experimental são imprescindíveis para o projeto dos processos adsorção. Neste trabalho foram preparadas argilas organofílicas a partir de uma argila esmectita sódica comercial nacional, denominada por Fluidgel e do brometo de hexadeciltrimetilamônio (HDTMA). As argilas, comercial e organofílica, foram caracterizadas por Termogravimetria (TG) e Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC). As análises térmicas foram realizadas com vazão 50mL/min de N2 gasoso, na razão de aquecimento 10ºC/min, desde a temperatura ambiente até 1000ºC para TG e Até 500ºC para DSC. As análises térmicas das argilas organofilicas apresentaram curvas nas quais foi possível constatar a perda de HDTMA, não observadas nas análises térmicas para a argila comercial, evidenciando a eficiência do processo de organofilização deste material. Palavras-chave: Argilas organofílicas, remoção de compostos orgânicos, caracterização TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil INTRODUÇÃO Bilhões de metros cúbicos de água de descarte contendo compostos orgânicos e oleosos são gerados diariamente no mundo, oriundas de muitos processos industriais inclusive na produção de petróleo e refino de óleo. Além dessas fontes, pequenos e contínuos vazamentos de combustível em postos de distribuição favorecidos pelo envelhecimento dos taques de estocagem promovem a contaminação de solos e águas por compostos orgânicos. Em decorrência dos perigos ambientais e ao homem, que podem ser causados por estes compostos as legislações ambientais no mundo e, em particular no Brasil, tem se tornado cada vez mais rigorosas obrigando as indústrias a tratarem esta água. Dentre os vários processos existentes, o da adsorção apresenta-se como uma alternativa viável na remoção de compostos orgânicos e oleosos contidos em águas residuais. Por outro lado, diversos estudos têm mostrado que a seletividade e a eficiência de remoção de diferentes poluentes, tais como: metais pesados, corantes e compostos oleosos de efluentes por processo de adsorção são fortemente dependentes das propriedades físicas e composição química dos adsorventes1,2,3,4. Dentre os diferentes materiais adsorventes, as argilas naturais, especialmente as bentoníticas ou argilas esmectíticas, se destacam por possuírem alta capacidade de adsorção, alto teor de matéria coloidal e, ainda, grande possibilidade de ativação5. As argilas esmectíticas caracterizam-se por possuírem uma alta capacidade de troca catiônica e também por apresentarem uma intensa expansão quando estão em suspensão. São materiais importantes para as indústrias, porque são encontrados em abundância na natureza e, portanto, tem um baixo custo2. Na sua forma estrutural, as argilas são hidrofílicas, sendo ineficientes para adsorção de compostos orgânicos. Quando submetidas a tratamentos químicos, como por exemplo, com sais quaternários de amônio sua superfície pode ser alterada apresentando um caráter hidrofóbico e organofílico, as quais apresentam uma grande afinidade por compostos orgânicos2,6. Devido ao caráter organofílico, as argilas modificadas, estão sendo estudadas visando seu uso na adsorção e retenção de resíduos industriais perigosos, de contaminantes orgânicos, de resíduos derivados de petróleo e no revestimento de tanques de óleo ou gasolina e de aterros2,6,7,8. Por outro lado, a caracterização do adsorvente e o conhecimento do efeito das propriedades físicas e químicas na dinâmica de adsorção TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil dos componentes em sistema experimental são imprescindíveis para o projeto e o desenvolvimento dos processos adsorção. Desta forma, este trabalho teve por objetivo preparar e caracterizar argilas organofílicas por meio de métodos de análises térmicas visando avaliar a eficiência do processo de organofilização para posterior aplicação no tratamento de águas contendo óleos combustíveis residuais. MATERIAIS E MÉTODOS Preparação da Argila Organofílica A argila organofílica foi preparada a partir da argila bentonítica sódica, proveniente da cidade de Boa Vista – PB, comercializada como Fluidgel e, processada pela Dolomil Ltda. O processo de organofilização consistiu basicamente na troca catiônica do sódio, presente na argila comercial, com o brometo de hexadeciltrimetilamônio (HDTMA), calculado a partir da capacidade de troca catiônica da argila comercial cujo valor determinado foi de 171meq/100g de argila. Na preparação da argila modificada com sal quaternário de amônio 100 g de argila comercial, previamente secas em estufa, foram dispersas, com agitação magnética, em 1L de água desionizada, por aproximadamente 20 min. Após, adicionou-se a quantidade desejada de HDTMA e a mistura resultante foi mantida em agitação magnética por um período de 2 horas. O material obtido foi filtrado a vácuo e lavado com água desionizada em abundância, até a completa remoção dos materiais orgânicos residuais e do sal de partida, eventualmente não reagido. Os aglomerados foram secos em estufa a 60 ± 5 ˚C por 48 horas, triturados em almofariz e classificados para obtenção de particulados com diâmetros médio de partículas adequados para as diferentes caracterizações e análises térmicas. Análises Térmicas: TG/DTG e DSC As análises térmicas, termogravimetria (TG/DTG) e calorimetria exploratória diferencial (DSC) permitem estabelecer a função entre propriedades físicas e químicas de uma substância ou mistura em relação à temperatura ou tempo, quando submetida a temperaturas controladas. As análise térmicas, em geral, podem ser úteis tanto para identificação de fases, como para a sua quantificação temperatura9. A análise termogravimétrica (TGA/DTG) avalia a variação de massa, por meio de uma TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil microbalança de precisão, de uma amostra em atmosfera controlada como função da temperatura ou tempo. Permite determinar a pureza e quantidade de água, fornecendo ainda informações sobre a estabilidade térmica, velocidades de reação e composição da amostra. As análises termogravimétricas são efetuadas em um equipamento constituído por uma balança analítica sensível acoplada a um forno e um sistema de controle, de forma que a amostra é pesada continuamente enquanto a temperatura programada é modificada de acordo com uma programação. A calorimetria diferencial de varredura (DSC), por sua vez, permite acompanhar as transformações, tais como diferenças na entalpia ou energia interna, que as argilas sofrem durante o aquecimento, em função das propriedades do material. Para determinar a estabilidade térmica, a pureza, a eficiência do processo de organofilização e a quantidade de água presente nos materiais adsorventes e para acompanhar as transformações que os adsorventes sólidos sofrem durante o aquecimento, amostras de argilas, comercial e modificada com HDTMA (argila organofílica), foram analisadas em um equipamento Shimadzu TGA-50 e em um equipamento Shimadzu DSC-50, respectivamente. Nas análises, as amostras de argilas foram submetidas a um aumento programado de temperatura, enquanto que uma mistura de gás inerte (N2) passou sobre elas a uma vazão de 50 mL/min, com uma velocidade de aquecimento de 10°C/min. Nas análises de TG as amostras de argilas foram aquecidas desde a temperatura ambiente até 1000°C enquanto que nas análises de DSC, as amostras foram submetidas a um aumento programado de temperatura desde a temperatura ambiente até 500ºC. A curva DTG foi obtida a partir da primeira derivada da curva perda de massa (TG) com relação à variação de temperatura. Capacidade de Hidratação e de Expanção em Meio Orgânico A capacidade de hidratação e de expanção das argilas, comercial e organofílica, foram medidas de acordo com a metodologia proposta por Foster10. Para determinar a capacidade de hidratação, amostras de 0,5g de argilas, natural e modificada, com diâmetros de partículas da ordem de 0,074 mm, foram colocadas em provetas de 10 mL e tiveram seu conteúdo completado com água desionizada. As amostras foram agitadas e deixadas em repouso por alguns minutos visando verificar seu comportamento na TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil presença de água, em temperatura ambiente. Por outro lado, o procedimento para determinação da expansão das argilas organofílicas na presença de moléculas orgânicas provenientes dos derivados de petróleo consistiu na adição de 1 g de argila organofílica, com diâmetros de partículas da ordem de 0,074 mm, em 50 mL do derivado de petróleo em uma proveta graduada, deixada em repouso por 24 h e em seguida foi medido o volume expandido. Posteriormente, o conteúdo da proveta foi agitado por cinco minutos, mantida em repouso por mais 24 h, sendo novamente determinado o volume. Todos os ensaios foram realizados na temperatura ambiente. Este teste foi realizado segundo Foster10, com adaptações propostas por Diaz11, para gasolina, óleo diesel, benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno. Estrutura Cristalina e Espaçamento Basal por Difração de Raios X (DRX) A difração de raios X (DRX) é uma técnica de análise não destrutiva, rápida e muito versátil. Este método de caracterização fornece informações relativas ao tamanho, perfeição e orientação dos cristais e possibilita o estudo de detalhes do reticulado cristalino, o qual tem dimensões da ordem de ângstroms12,13. A técnica possibilita avaliar e medir os espaçamentos basais provenientes do argilomineral que constitui a bentonita, uma vez que cada plano de um cristal pode se comportar como uma superfície refletora para os raios X. Dependendo do tipo, concentração e orientação do radical orgânico proveniente do sal quaternário de amônio intercalado na estrutura da argila, o valor do espaçamento basal varia, sendo esta técnica uma forma de analisar a argila quimicamente modificada. Os difratogramas de raios X das amostras de argilas, comercial e modificada, foram obtidos em um equipamento da marca Philips, modelo X’PERT com radiação Kα do cobre, tensão de 40 kV, corrente de 40mA, comprimento de onda 1,542 Å, tamanho do passo de 0,02 2Θ e tempo por passo de 1,0 s, monitorando os ângulos de difração 2 theta (2θ), sobre uma amostra na forma de pó (diâmetro de partículas < 200 mesch ou 0,074 mm). O espaçamento basal foi obtido em função de mudanças da intensidade em relação ao ângulo 2 theta (2θ), sendo à distância (d) determinada no primeiro pico, com intensidade menor que 10°, para as argilas estudas. As distâncias basais foram calculadas utilizando-se a Lei de Bragg, d= n/(2sen), sendo que d é a distancia entre as camadas ou planos de TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil átomos, n um número inteiro e positivo (geralmente igual a 1), o comprimento de onda do raio X e o ângulo entre o raio incidente e os planos refletidos (ângulo de difração). RESULTADOS E DISCUSSÃO Comportamento Térmico das Argilas Os resultados obtidos com as análises termogravimetricas (TG/DTG) (Figura 1) indicam, inicialmente, uma região de perda endotérmica de massa entre 25°C e 150°C, com máximo de temperatura em 70°C para a argila comercial e 45°C para a argila organofílica, atribuída à perda de água adsorvida na superfície do sólido e à água de hidratação ao redor dos cátions trocáveis, cuja presença depende do número de cátions hidratados (Na+, K+ e Ca2+) no espaço interlamelar. Observa-se ainda que o pico de perda de água é significativamente menor na argila organofílica devido à alteração das ligações entre a estrutura da argila e a água, provocada pela matéria orgânica adsorvida, fazendo com que o pico de desidratação apareça à temperaturas mais baixas e com menor intensidade. Para a argila organofílica, observa-se o surgimento de um pico de perda endotérmica de massa entre 150 e 550°C, com máximo em 270°C, atribuído à combustão da parte orgânica proveniente do sal quaternário de amônio (Figura 1b), pico este não obsevado para a argila comercial. Para a argila comercial observa-se picos endotérmicos de perda de massa que aparecem na faixa de 400 a 600°C que podem ser atribuídos à desidroxilação da estrutura do argilomineral, nas esmectitas14. A faixa de perda das hidroxilas estruturais para as argilas naturais está de acordo com o encontrado por Bertagnolli2. Por sua vez, a perda endotérmica de massa observada em torno de700°C, na argila Fluidgel comercial (Figura 1a), corresponde ao processo de descarbonatação desta argila. Os carbonatos estão presentes nessa argila devido ao processo de transformação sódica realizado industrialmente. Para a argila modificada quimicamente com HDTMA observa-se também uma região de perda de massa entre 650 a 850°C, com máximo por volta de 700°C. Contudo, o pico de perda de carbonatos é significativamente menor na argila organofílica devido a troca do sódio com o HDTMA com o processo de organofilização, fazendo com que o pico de descarbonatação apareça com menor intensidade, evidenciando a eficiência do processo de organofilização deste material. Os valores da perda total de massa foram TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil de aproximadamente 20% para a argila comercial e 38% para a argila organofílica. O aumento da perda de massa total observado para a argila organofílica pode ser atribuído à queima dos radicais orgânicos intercalados na estrutura da argila com o processo de organofilização. 18 14 DTG DTG Perda de massa (mg) Perda de Massa (mg) 12 16 14 10 TG TG 8 0 200 400 600 800 1000 0 200 o 400 600 800 1000 Temperatura (°C) Temperatura ( C) b) Fluidgel organofílica a) Fluidgel comercial Figura 1 - Curvas de TG e DTG das argilas comercial e organofílica. Os resultados obtidos com as análises de DSC (Figura 2) indicam três regiões de variação de entalpia para as argilas organofílicas. 2,5 0 2,0 1,5 H/T (mW) H/T (mW) -1 -2 -3 1,0 0,5 0,0 -0,5 -4 -1,0 0 100 200 300 o Temperatura ( C) a) Fluidgel comercial 400 500 0 100 200 300 400 500 o Temperatura ( C) b) Fluidgel organofílica Figura 2 - Curvas de DSC das argilas comercial e organofílica. A primeira região observada para temperaturas abaixo dos 200°C pode ser atribuída à desidratação da argila com picos endotérmicos (água externa ou TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil interlamelar). A segunda região, de maior intensidade para a argila organofílica, pode ser atribuída a reações térmicas da matéria orgânica com picos endotérmicos característicos da evaporação e decomposição dos compostos orgânicos proveniente do sal quaternário de amônio e dos carbonatos presentes na argila, observada acima de 200°C, com mínimo em torno de 260°C para a argila organofílica (Figura 2 a) enquanto que para a argila Fluidgel comercial pode ser atribuída a descarbonatação. A terceira e última região refere-se à desidroxilação da argila organofílica, também com picos endotérmicos. Estes resultados estão de acordo com os obtidos com as análises termogravimétricas. Capacidade de Hidratação e de Expanção em Meio Orgânico Os ensaios da capacidade de hidratação das argilas mostraram que a argila comercial, Figura 3 (b), sofre expansão devido à adsorção de várias camadas de moléculas de água pelos cátions trocáveis presentes entre as camadas da argila, cátions de sódio, por exemplo, podem ter de 11 a 12 moléculas de água ligadas fracamente por pontes de hidrogênio2. Para a argila organofílica (Figura 3a), o comportamento da separação dinâmica deve-se ao caráter hidrofóbico que a mesma adquiriu durante a sua modificação com o sal quaternário de amônio. A troca dos cátions inorgânicos por orgânicos diminui a adsorção da água, uma vez que o cátion alquilamônio não é fortemente hidratado e esse cátion oculta parte da superfície do silicato frustrando a interação da água com essa superfície 2. A confirmação da ocorrência da organofilização foi comprovada pelas outras técnicas de caracterização, sendo este teste somente ilustrativo da mudança na propriedade hidrofílica da argila. O caráter organofílico da argila modificada foi evidenciado por meio do seu contato com compostos derivados do petróleo e BTEX (Figura 4), por um período de 24h. Observam-se pelas fotografias que a argila modificada com HDTMA se expande em contato com os compostos orgânicos, apresentando aproximadamente o mesmo grau de expansão. Para o período de repouso de 48h o grau de expansão ligeiramente maior, para todas as amostras avaliadas. A análise dos ensaios de capacidade de hidratação e expansão nos derivados de petróleo das argilas, comercial e organofílica, TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil permitiram caracterizar, respectivamente, os caráteres hidrofílico/organofóbico (argila comercial) e hidrofóbico/organofílico (argila organofílica). (a) organofílica (b) comercial (a) organofílica (b) comercial Figura 3 - Comportamento em água das argilas modificada e comercial. branco gasolina diesel branco xileno tolueno etilbenzeno benzeno Figura 4 - Teste de expansão em compostos orgânicos da argila modificada. Estrutura Cristalina e Espaçamento Basal por Difração de Raios X (DRX) Os resultados obtidos por difração de raios X para a argila bentonítica sódica comercial (Fluidgel comercial) e para a argila modificada quimicamente com o brometo de hexadeciltrimetilamônio (Fluidgel organofilica) estão apresentados na Figura 5 e na Tabela 1. As argilas analisadas não se caracterizam por uma estrutura altamente cristalina, uma vez que os picos dectados pela difração não estão bem definidos e o pico referente ao plano (001) tem formato alargado, típico dos argilominerais. Verificase que para a argila comercial a intensidade do pico é mais alta que é característico de TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil argilas do tipo esmectítico e se encontram dentro da faixa apresentada pelos argilominerais desse grupo(15). A ocorrência de um pico antes de 2θ = 10° é representativa da distância basal d001 nas argilas esmectitas (Figura 2) e, este pico tende a ser intenso, o que permite sua detecção mesmo em pequenas quantidades (Bertagnolli, 2010). Observa-se pela Tabela 2 que o HDTMA promove a modificação na estrutura da argila com a antecipação do ângulo 2θ, de 6,9 (Fluidgel comercial) para 4,3 (Fluidgel organofilica) e, consequentemente, um aumento na distância basal, de 13 Å para 21 Å, após o processo de organofilização. Observa-se ainda a presença de outros picos correspondentes a esmectita (0,45 e 0,41 nm); ao quartzo (0,32 e 0,25 nm) e 0,15 nm correspondente à distância basal d(060) evidenciando que as esmectitas são dioctaédricas(16). Fluidgel Comercial Fluidgel Organofílica 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 2 (graus) Figura 5 - Difratogramas das argilas Fluidgel comercial e Fluidgel organofilica. Tabela 2 - Distancia interplanar basal das argilas calculadas pela Lei de Bragg Argila Fluidgel comercial Fluidgel organofilica Ângulo correspondente (2 graus) 6,9 4,3 Distancia interplanar basal (Å) 13 21 O aumento expressivo na d001 das argilas obtidas após tratamento químico evidencia a intercalação efetiva dos cátions quaternários de amônio nas camadas interlamelares, ou seja, a troca ocorrida entre os íons sódio e o cátion proveniente do sal aumenta o espaçamento entre as camadas da argila. Estes resultados estão de acordo com os obtidos por Bertagnolli2 ao estudar argilas naturais Verde-Lodo e Bofe. TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil CONCLUSÕES As análises térmicas permitiram verificar a eficiência do processo de organofilização, evidenciado pelo surgimento de uma etapa adicional de perda de massa durante as análises da argila organofílica, atribuído ao HDTMA, o que foi confirmado com o aumento do espaçamento basal observado pelas análises de DRX. O processo de organofilização, ao qual a argila foi submetida, foi satisfatório e, alterou o seu caráter naturalmente hidrofílico para hidrofóbico e organofílico, também evidenciado pelos testes de hidratação e de expanção. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq e a FAPESP pelo suporte financeiro e bolsa concedida. REFERÊNCIAS 1. A. F. de Almeida Neto, M. G. A. Vieira, M. G. C. da Silva, Mat. Res. 15, 1 (2012) 114. 2. C. Bertagnolli, Preparo e caracterização de argilas organofílicas para a remoção de derivados do petróleo. Dissertação de Mestrado, UNICAMP-Campinas, (2010). 3. L. D. Fiorentin, D. E. G. Trigueros, A. N. Módenes, F. R. Espinoza-Quiñones, N. C. Pereira, S. T. D. de Barros, O. A. Andreo dos Santos, Chem. Eng. Journal, 163, (2010) 68. 4. J. Ganñan-Gómez, A. Macías-García, M. A. Díaz-Díez, C. Gonzáles-García, E. Sabio-Rey, Appl. Surf. Sci., 252, (2006) 5976. 5. S. F. Abreu, Recursos Minerais do Brasil, 2 ed, São Paulo: Ed. Edgard Blücher, 1, (1973). 6. S-M, Koch, J. B. Dixon, Applied Clay science, 18 (2001) 111. 7. D. Koch, Applied Clay science, 21 (2002) 1. 8. S. Gitipour, M. T. Bowers, W. Hufft, A. Bodocsi, Spill Science & Technology Bulletin, 4, (1997) 155. 9. R. Neumann, C. L. Scheneider, A. A. Neto, Tratramento de Minérios, CETEM, Rio de Janeiro, Brasil (2004), Cap. 3: Caracterização Tecnológica de Minérios, p.55-109. 10. M. D. Foster, Geochim. Cosmochim. Acta. 3, (1953) 143. TTT 2012 - VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil 11. F. R. V. DÍAZ, Preparação em nível de laboratório de algumas argilas esmectíticas organofílicas. Tese de Doutorado, Escola Politécnica da Universidade de São PauloSão Paulo (1994). 12. A. F. Padilha, F. Ambrósio Filho, Técnicas de Análise Microestrutural, Hemus Editora Ltda., São Paulo, Brasil (1985), p.130. 13. C. F. Gomes, Argilas: o que são e para que servem, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal (1988), p.457. 14. P. Souza Santos, Ciência e Tecnologia de Argilas, 2 ed., Ed. Edgard Blücher Ltda., São Paulo, Brasil (1992), v.1-3. THERMAL CHARACTERIZATION ORGANOFILIC CLAYS FOR THE REMOVAL OF FUEL OILS ABSTRACT Organofilic clays prepared from quaternary ammonium salts are used as adsorbents to have high affinity for organic compounds and thus are widely studied in the adsorption and retention of dangerous industrial wastes, especially for the separation of organic compounds from water. Moreover, the characterization of the adsorbent and the knowledge of the effect of physical and chemical properties in the dynamics of adsorption of the components in the experimental system are essential for the design of adsorption processes. Thus, this study, organofilic clays were prepared from a sodium smectite clay national called by Fluidgel and hexadecyltrimethylammonium bromide (HDTMA). The Fluidgel clay and organofilic clay were characterized by thermogravimetry (TG) and Differential Scanning Calorimetry (DSC). The thermal analysis was carried in an Thermogravimetry (TG) equipment and differential scanning calorimetry (DSC) at a N2 flow rate 50 mL/min, heating rate 10 °C/min from room temperature to 1000°C for TG and to 500°C for DSC. The results obtained of the thermal analysis for organofilic clay showed peaks associated the loss of HDTMA, not observed in thermal analysis for Fluidgel clay, evidencing the efficiency of this material organophilization. Key-words: Organofilic clays, organics compounds removal, characterization