Anais da XI Jornada de Iniciação Científica da UFRRJ Utilização de conservantes e refrigeração na manutenção pós-colheita de folhas de couve comum (Brassica oleracea var. acephala) Rodrigo Marinho de Mello1, Silvia Aparecida Martim1, Regina Celi Cavestré Coneglian2, Mauricio Kadooka Shimizu3 & Armando Ubirajara de Oliveira Sabaa-Srur4 1. Graduando em Agronomia da Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro – BR 465, Km 7, Seropédica/RJ, Cep. 23890-000; 2. Prof. Adjunto do Depto. de Fitotecnia – Inst. de Agronomia – Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro – BR 465 Km 7, Seropédica/RJ, Cep. 23890-000; 3. Bolsista da CAPES, Aluno do Curso de Pós-Graduação em Fitotecnia – Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro – BR 465 Km 7, Seropédica/RJ, Cep. 23890-000, e-mail: [email protected]; 4. Prof. Adjunto do Inst. de Nutrição Josué de Castro – Univ. Fed. do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ. Palavras-chave: quality, chemical parometrr, senescence. Abstract foi manuseado após a colheita (BLEINROTH, 1982). A couve de folha, couve comum ou simplesmente couve é provavelmente a variedade botânica de Brassica oleracea mais próxima da couve selvagem, sendo também a brássica mais popular no Brasil (SONNENBERG, 1985). De acordo com SIGRIST (1982) a couve é um produto classificado como de moderada a alta atividade respiratória (10-20 mg CO2.Kg-1.h-1), mesmo quando mantida em baixas temperaturas. Assim, o presente trabalho teve como objetivo verificar a atuação de substâncias conservantes aplicadas em folhas de couve logo após a colheita, mantidas à temperatura ambiente e da refrigeração, visando o retardamento da senescência das mesmas. Leaves of common cabbage (Brassica oleracea var. acephala), were submitted to the following treatments: control, immersion in solutions of sodium benzoat (1g.L-1), potassium sorbat (1g.L-1), sodium metabisulfite (1g.L -1); refrigeration (BOD camera at 2ºC and 90% RH). The application of the solutions were realized through the immersion of the shaft of the leaves into the solutions during the whole conservation period. At every 12 hours the solutions were renewed. In each evaluation period (2 and 4 days postharvest) the leaves were submitted to determinations of: loss of fresh mass, Titration of Total Acidity (TTA), Total Soluble Solids (TSS) and Vitamin C. The results obtained infer that: The refrigeration was the most efficient treatment with relation to the time of conservation of the cabbage leaves; the treatments with sodium metabisulfite, refrigeration and sodium benzoat were more efficient in the retention of loss of fresh mass, and this last one also presented maintenance of TTA, contributing to the retention of the senescence. For TSS and vitamin C, no treatments presented significantive effect to the retention of the senescence process. Material e Métodos O experimento foi conduzido no laboratório de Fisiologia do Departamento de Fitotecnia/Instituto de Agronomia – UFRRJ. Folhas de couve comum (Brassica oleracea var. acephala), provenientes de horta comercial do município de Teresópolis/RJ, com cerca de 60 dias após o plantio das estacas, foram submetidas aos seguintes tratamentos: Controle, Imersão em Soluções de Benzoato de Sódio (1g.L-1), Sorbato de Potássio (1g.L-1), Metabissulfito de Sódio (1g.L-1), e Refrigeração (câmara tipo BOD a 2ºC e 90% UR). A aplicação das soluções foi realizada através da imersão do talo das folhas de couve em um volume de 3 litros de solução durante todo o período de conservação. A cada 12 horas as soluções eram renovadas. As avaliações foram realizadas por um período de somente 4 dias devido à rápida senescência das folhas mantidas sob Introdução Conservar os produtos agrícolas em boas condições de comercialização ou de industrialização é tão importante quanto produzir bem (GOMES, 1996). De modo geral, a qualidade do produto diminui após a colheita, dependendo das características de perecibilidade, peculiar a cada produto, e das condições sob as quais foi produzido, além de como 291 v. 11, n. 2, p. 291-294, 2001 Anais da XI Jornada de Iniciação Científica da UFRRJ temperatura ambiente (controle e tratamento com soluções conservantes). Em cada período de avaliação as folhas foram submetidas a determinações de: a) Perda de massa fresca – obtida em cada período de avaliação com relação ao peso inicial de cada folha que compôs o lote separado para esta determinação, com valores expressos em %; b) Acidez Total Titulável (ATT) – através de metodologia proposta por A.O.A.C. (1994), com resultados expressos em % de ácido cítrico; c) Sólidos Solúveis Totais – Através de metodologia proposta por I.A.L. (1987), com valores expressos em %; d) Vitamina C – através do método colorimétrico proposto por LEME & MALAVOLTA (1950), com resultados expressos em mg de vitamina C/100g de matéria fresca. O delineamento estatístico utilizado foi inteiramente casualizado, com 5 repetições e a análise de variância seguiu especificações de BANZATTO & KRONKA (1989). A comparação das médias foi realizada pelo Teste Tukey ao nível de 5% de significância. 2 - Acidez Total Titulável (ATT) Pelos dados apresentados na Tabela 1 pode-se inferir que o tratamento das folhas de couve com as substâncias conservantes proporcionou manutenção nos níveis de ATT durante os 4 dias de avaliação. As folhas do controle apresentaram decréscimo significativo da ATT, denotando avanço no processo de senescência. Segundo SIGRIST (1982) o teor de ácidos orgânicos decresce após a colheita, porque durante o processo respiratório das hortaliças, o ciclo de Krebs é o responsável pela oxidação destes ácidos. O acréscimo de ATT verificado nas folhas submetidas à refrigeração não pôde ser explicado nas condições deste experimento, podendo porém ser interpretado como positivo do ponto de vista de retenção de senescência das mesmas. 3 - Sólidos Solúveis Totais (SST) O comportamento apresentado pelas folhas de couve (Tabela 2), submetidas aos diferentes tratamentos e avaliadas durante 4 dias pós-colheita permitiu verificar que nenhum dos tratamentos teve efeito significativo com relação ao teor de SST, já que no período final de avaliação todos os tratamentos apresentaram teores estatisticamente semelhantes. No entanto, cabe ressaltar que o Controle bem como as folhas tratadas com Benzoato de Sódio e Metabissulfito de Sódio apresentaram acréscimo no teor de SST o que pode ser indicativo do processo de senescência das mesmas, já que segundo CHITARRA & CHITARRA (1990), o aumento no teor de Sólidos Solúveis em hortaliças é uma característica do processo de amadurecimento e posterior senescência Resultados e Discussão As folhas de couve submetidas à refrigeração de 2ºC e 90% UR tiveram uma maior durabilidade, alcançando 6 dias pós-colheita, enquanto os demais tratamentos alcançaram apenas 4 dias pós-colheita. 1 - Perda de Massa Fresca Através da Tabela 1 foi possível verificar que as folhas de couve do controle e aquelas submetidas ao tratamento com 1 g.L-1 de Sorbato de Potássio apresentaram perda de massa significativa do primeiro para o segundo período de avaliação, sendo que na avaliação final (4 dias pós-colheita), estes 2 tratamentos apresentaram os maiores teores de perda de massa em relação aos demais tratamentos. As perdas de massa fresca associadas com as perdas transpiratórias de água podem, segundo CHITARRA & CHITARRA (1990), ser de substancial importância econômica na comercialização, quando usualmente são referidas como murchamento. Perdas da ordem de 3 a 6% são suficientes para causar um marcante declínio na qualidade de frutas e hortaliças. 4 - Vitamina C As diferenças entre os tratamentos aplicados (Tabela 2) só puderam ser verificadas no início do período de conservação das folhas de couve, onde os tratamentos com Benzoato de Sódio e refrigeração apresentaram níveis mais elevados de vitamina C. Ao final dos 4 dias de avaliação, os níveis deste componente eram semelhantes para todos os tratamentos, inclusive para o Benzoato de Sódio que apresentou níveis altos no 1o período, o que denota oxidação de vitamina C. Já para o Metabissulfito de Sódio ocorreu um aumento significativo, o que não pode ser explicado nas condições deste experimento. 292 Anais da XI Jornada de Iniciação Científica da UFRRJ - O controle e o tratamento com 1 g.L-1 de Sorbato de Potássio apresentaram maiores valores de perda de massa fresca das folhas durante o período de avaliação. De acordo com SIGRIST (1982) o ácido ascórbico é o mais sensível à destruição, sobretudo quando a hortaliça é submetida a condições adversas de manuseio e armazenamento, sendo as perdas póscolheita de vitaminas A e B são normalmente bem menores que as perdas de vitamina C. - As folhas submetidas à aplicação das substâncias conservantes, bem como àquelas submetidas à refrigeração apresentaram manutenção nos níveis de ATT durante os 4 dias de armazenamento. Conclusões - A refrigeração foi o tratamento mais eficiente com relação ao tempo de conservação das folhas de couve. Tabela 1 – Perda de massa fresca (%) e Acidez Total Titulável (% de ácido cítrico) de folhas de couve submetidas a diferentes tratamentos pós-colheita e avaliada durante 4 dias. Seropédica/RJ – 2000. Perda de Massa Fresca ATT Dias pós-colheita Dias pós-colheita 2 4 2 Controle 1,74Ab 13,36Ba 0,47ABa Sorbato de Potássio 1,38Ab 12,53 Ba 0,53Aa 0,47ABa Benzoato de Sódio 0,94Aa 7,95Aa 0,51Aa 0,51Aa Metabissulfito de Sódio 0,00Aa 6,42Aa 0,33Ba 0,33BCa Refrigeração 0,67Aa 4,27Aa 0,33Bb 0,43ABa Tratamentos CV (%) 16,54 4 0,25Cb 23,35 Médias seguidas da mesma letra (maiúscula na coluna e minúscula na linha) não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de significância. 293 v. 11, n. 2, p. 291-294, 2001 Anais da XI Jornada de Iniciação Científica da UFRRJ Tabela 2 – Sólidos Solúveis Totais (%) e Vitamina C (mg.100g-1 de matéria fresca) de folhas de couve submetidas a diferentes tratamentos pós-colheita e avaliada durante 4 dias. Seropédica/RJ – 2000. SST Vitamina C Dias pós-colheita Dias pós-colheita 2 4 2 4 Controle 5,56Ab 7,54Aa 15,38Ba 14,52Aa Sorbato de Potássio 5,72Aa 6,46Aa 14,60Ba 15,06Aa Benzoato de Sódio 5,78Ab 7,48Aa 29,30Aa 16,14Ab Metabissulfito de Sódio 5,52Ab 7,74Aa 11,20Bb 21,42Aa Refrigeração 5,34Aa 5,74Aa 21,00ABa 19,86Aa Tratamentos CV (%) 19,50 39,09 Médias seguidas da mesma letra (maiúscula na coluna e minúscula na linha) não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de significância. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Métodos químicos e físicos para análise de alimentos, 3a ed., São Paulo, 1987. Referências Bibliográficas ASSOCIATION OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY. Official methods of analysis of the Association of official analytical chemistry. 11a ed., Washington, 1994. LEME Jr., A.; MALAVOLTA, E. Determinação de vitamina C em suco de laranja. Anais da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, v. 1, n. 2, p. 23-26. 1950. BANZATTO, D.A. & KRONKA, S.N. Experimentação Agrícola. Jaboticabal: FUNEP, 1989. 247 p. SIGRIST, J.M.M. Pré-resfriamento, respiração, transpiração e transformações químicas das hortaliças. In: BLEINROTH, E.W.; CASTRO, J.V. de; SIGRIST, J.M.M. Curso de pós-colheita e armazenamento de hortaliças. Campinas: ITAL. 1982. p. III.1-III.36. BLEINROTH, E.W. Condições de armazenamento e operações. In: BLEINROTH, E.W.; CASTRO, J.V. de; SIGRIST, J.M.M. Curso de pós-colheita e armazenamento de hortaliças. Campinas: ITAL. 1982. p. V.1-V.15. SONNENBERG, P.E. Olericultura especial: 2a parte – As culturas de: repolho, couve-flor, brócolo, couve, rabanete e rábano, beterraba, feijão-de-vagem, quiabo, pimentão, abóbora, melancia, chuchu e pepino. 3a ed. Goiânia: UFG, 1985. 149 p. CHITARRA, M.I. & CHITARRA, A.B. Pós-colheita de frutos e hortaliças: fisiologia e manuseio. Lavras: Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão. 1990. 293 p. GOMES, M.S.O. Conservação pós-colheita: frutas e hortaliças. Brasília: Embrapa-SPI, 1996. 134 p. (Coleção Saber; 2). 294