AVALIAÇÃO DOS COEFICIENTES DE PERDA DE CARGA PARA CONDUTOS FORÇADOS Heloiza Candeia Ruthes 1, Andrea Sartori Jabur 2, Mônica Cristina Ferneda3 1 2 Depto. de Engenharia Civil Depto. de Engenharia Civil 3 Depto. de Engenharia Civil Campus Pato Branco Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Via do Conhecimento, km 01, Pato Branco/PR CEP 85501-970 [email protected], [email protected], Mô[email protected] Resumo – Este artigo visa estudar duas equações fundamentais na disciplina de hidráulica, no curso de engenharia civil, a equação de Darcy-Weisbach (conhecida como equação Universal) e a equação de HazenWilliams. Para este estudo, realizou-se a comparação entre os valores obtidos para os coeficientes de perda de carga para as duas equações, o coeficiente C da Equação de Hazen-Williams e coeficiente f da Equação de Darcy-Weisbach. Para conseguir os dados, foram realizados experimentos através de uma bancada de conduto forçado, localizada no laboratório de Hidráulica, no Campus Pato Branco. Os coeficientes alcançados foram comparados com os da bibliografia. Após os resultados, constatou-se que o coeficiente f apresenta maior dificuldade de ser obtido, comparado ao coeficiente C, podendo ser este o motivo dos engenheiros civis adotarem mais a Equação de Hazen-Williams para os cálculos hidráulicos. . Palavras-chave: equação de Darcy-Weisbach; equação de Hazen-Williams; Coeficiente F; Coeficiente C; perda de carga. Abstract – This article aims to study two fundamental equations in the discipline of hydraulic, in the course of civil engineering, the Darcy-Weisbach equation (known as Universal equation) and the Hazen-Williams equation. For this study was conducted the comparison between the values obtained for the load loss coefficients of the two equations, the C coefficient in the Hazen-Williams equation and the f coefficient in the DarcyWeisbach equation. To get the dates, experiments were performed through of the penstock countertop, located at hydraulic laboratory, at Campus Pato Branco. The coefficients achieved were compared with the literature. After the results, it was found that the f coefficient is more difficult to be obtained, compared to the coefficient C, this may be the reason of the civil engineers adopt de Hazen-Williams equation to the hydraulic calculations. Keywords: Darcy-Weisbach equation; Hazen-Williams equation; Coefficient F; Coefficient C; load loss. INTRODUÇÃO O líquido ao escoar transforma parte da sua energia em calor. Essa energia não é mais recuperada na forma de energia cinética e/ou potencial e por isso, denomina-se perda de carga. [1] Nas instalações elevatórias o conduto forçado tem a função de conduzir a água da tomada d’água, esta localizada em um ponto convenientemente instalado no reservatório ou rio até o outro ponto, como uma estação de tratamento de água, reservatório entre outros. Nessa operação de transporte da água admite-se uma perda de carga que deve ser pequena o bastante para não implicar em elevado esforço de bombeamento e que ao mesmo tempo não represente um custo elevado no empreendimento. [2] A resistência ao escoamento no caso do regime laminar é devida inteiramente à viscosidade. Quando o escoamento se faz em regime turbulento, a resistência é o efeito combinado das forças devidas à viscosidade e à inércia. Nesse caso, a distribuição de velocidades no cano depende da turbulência, maior ou menor, e esta é influenciada pelas condições das paredes. Um tubo com paredes rugosas causaria maior turbulência. [3] A perda de carga contínua se deve, principalmente, ao atrito interno entre partículas escoando em diferentes velocidades. As causas dessas variações de velocidades são a viscosidade do líquido ν e a rugosidade da tubulação e. A razão entre a perda de carga contínua Δh’ e o comprimento do conduto L representa o gradiente ou a inclinação da linha de carga e é denominado por perda de carga unitária J. [1] (1) Existem várias equações para o cálculo da perda de carga unitária J em tubulações em sistemas de conduto forçado. Especialmente nesse estudo, utilizou-se a equação de DarcyWeisbach ou Fórmula Universal e a Equação de Hazen-Williams, demostradas pelas equações (2) e (3), respectivamente: (2) (3) Onde: - Q = Vazão em m³/s; - g = Aceleração da gravidade em m/s²; - D = Diâmetro do tubo; - C = Coeficiente de perda de carga da Equação de Hazen-Williams; - f = Coeficiente de perda de carga da Fórmula Universal. A vazão utilizada em ambas as equações é dada pela fórmula a seguir: (4) Onde V é a velocidade de escoamento e A é a área de seção transversal do tubo. As duas fórmulas são as mais consagradas, e mais utilizadas pelos engenheiros. Entretanto, os coeficientes C e f, necessários à utilização dessas equações, podem dificultar o procedimento de cálculo de perda de carga. Segundo [3], os expoentes da fórmula de Hazen-Williams foram estabelecidos de maneira a resultarem as menores variações do coeficiente numérico C para tubos de mesmo grau de rugosidade. Em consequência, o coeficiente C é, tanto quanto possível e praticável, uma função quase que exclusiva da natureza das paredes. A fórmula de Darcy-Weisbach ou fórmula Universal apresenta o inconveniente de precisar de aferição de um coeficiente f que nem sempre é transladável de uma situação para outra, o que torna sua utilização problemática. [3] Para se conseguir os valores do coeficiente f, é quase sempre necessário à utilização do número de Reynolds Re que é um valor adimensional, utilizado para o cálculo do regime de escoamento de um fluido. O coeficiente de perda de carga f é um adimensional que depende basicamente do regime de escoamento. No escoamento laminar (Re <2000), este coeficiente pode ser obtido através da comparação entre a equação racional de Hagen-Poiseuille e a formulação Universal, o resultado disso é a seguinte expressão: [1] (5) No escoamento turbulento (Re > 4000) o coeficiente de perda de carga f, quando avaliado experimentalmente, tem demonstrado também depender da viscosidade cinemática ν, da velocidade média V, do diâmetro da tubulação D e para a maioria das situações da rugosidade interna da parede do tubo e. [1] Com esses dados é possível encontrar o coeficiente f, através do diagrama de Moody. O Diagrama de Moody apresenta um quadro completo sobre como o fator de atrito varia em uma ampla faixa de números de Reynolds e em uma faixa de rugosidades relativas. [4] Para explorar o referido diagrama é essencial conhecer o valor da rugosidade equivalente e do número de Reynolds para cada caso. A rugosidade equivalente é facilmente encontrada com a fórmula seguinte: (6) Onde e é a rugosidade absoluta, que depende especificamente do material e D é o diâmetro do cano. Já o número de Reynolds depende da viscosidade cinemática ν, do diâmetro da tubulação D e da velocidade de escoamento V e é demonstrada a seguir: (7) METODOLOGIA A metodologia utilizada tem como objetivo estabelecer os coeficientes de perda de carga C (Equação de Hazen-Williams) e f (Equação Universal ou de Darcy-Weisbach) através de experimentos práticos com tubulações de 10 mm e 16 mm diâmetros. O equipamento para este experimento foi a bancada hidráulica H/DEA de conduto forçado. Este equipamento encontra-se no Laboratório de Hidráulica no Campus Pato Branco. Figura 1: Bancada hidráulica H/DEA de conduto forçado. Para obter os dados de comparação entre o valor obtido no experimento, para ser comparado com os valores da teoria, utilizou-se os seguintes equipamentos: 1 – Rotâmetro, para obter a vazão dos condutos forçados; 2 – Manômetro de mercúrio, para obter a diferença de pressões ocorridas na tubulação. A perda de carga contínua, utilizada nesse estudo, é considerada ao longo da tubulação, diferentemente da perda de carga localizada, que é devido à presença de conexões e outros aparelhos. Com o uso da equação (1), obtiveram-se os valores de perdas de carga unitária. Conhecendo-se a perda de carga unitária e a vazão no experimento, em m³/s, e substituindo todos os valores conhecidos nas equações (2) e (3), obteve-se os valores de C e f práticos, respectivamente. Para se conhecer os valores dos coeficientes teóricos, fez-se uma revisão bibliográfica. Segundo [3], o valor do coeficiente C para tubos de PVC antigos (usados), que é o caso, é de 135, que pode ser utilizado, pois o equipamento foi produzido em 1995, contabilizando mais de15 anos. Para determinar o valor de f teórico, utilizou-se do Diagrama de Moody. Porém primeiramente necessitou-se reaver o valor da rugosidade equivalente e do número de Reynolds por meio das equações (6) e (7). Assim, posteriormente ao encontro de todos os valores que se necessitava, com o auxilio de planilha do Excel, partiu-se para a comparação dos coeficientes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após efetuar todas as observações e cálculos necessários obtiveram-se os valores dos coeficientes C e f práticos e teóricos para o cano de 10 mm de diâmetro evidenciados na seguinte tabela 1. Entre as dez diferentes vazões escolhidas no equipamento de conduto forçado, pode-se notar que apenas com a vazão de 0,1 m³/h, o regime de escoamento é transitório, para as outras vazões o regime torna-se turbulento. Os coeficientes f e C obtidos através da prática e teoria, também tem uma grande diferença, que podem ser atribuídas a diversos fatores, tais como: erro na leitura do manômetro de pressão, pouca potência da bomba do equipamento de conduto forçado, entre outros. Tabela 1: Resultados obtidos para o cano de 10 mm h1 (m) 25,5 23,2 25,2 22,9 22,6 22,5 24,2 23,7 23,5 23 h2 (m) 25,6 28 26 28,3 28,7 28,5 27 27,4 27,6 28,2 Δh (mca) 0,001 0,048 0,008 0,054 0,061 0,06 0,028 0,037 0,041 0,052 J (m/m) 0,0008 0,0377 0,0063 0,0425 0,0480 0,0472 0,0220 0,0291 0,0322 0,0409 Q(m³/h) 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 Re 3536,78 7073,55 10610,33 14147,11 17683,88 21220,66 24757,44 28294,21 31830,99 35367,77 Prático f C 0,001 874,648 0,015 215,816 0,001 852,703 0,004 405,009 0,003 473,980 0,002 573,881 0,001 1010,843 0,001 993,680 0,001 1057,550 0,001 1033,389 Teórico f C 0,04 135 0,034 135 0,03 135 0,028 135 0,0275 135 0,0255 135 0,025 135 0,0245 135 0,024 135 0,0225 135 No cano de 16 mm, os resultados apresentaram ainda mais diferença, por exemplo, para a vazão de 0,1 m³/h o coeficiente f teórico apresentou o valor de 0,055, obtido através do Diagrama de Moody, já o f prático apresentou o valor de 1,29299. Tabela 2: Resultados obtidos para o cano de 16 mm h1 (m) 25,5 25,4 25,5 25,4 25,1 25 25 24,8 24,7 24,7 h2 (m) 25,6 25,6 25,7 25,8 26 26,1 26,2 26,3 26,3 26,5 Δh (mca) 0,1 0,2 0,2 0,4 0,9 1,1 1,2 1,5 1,6 1,8 J (m/m) 0,0786 0,1572 0,1572 0,3145 0,7075 0,8648 0,9434 1,1792 1,2579 1,4151 Q(m³/h) 0,1 0,2 0,3 0,5 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,25 Re 2210,4853 4420,9706 6631,456 11052,427 15473,397 17683,883 19894,368 22104,853 24315,339 27631,067 Prático f C 1,29299 21,058 0,64650 28,956 0,28733 43,433 0,20688 49,768 0,23749 44,948 0,22223 46,089 0,19155 49,468 0,19395 48,719 0,17097 51,753 0,14895 55,183 Teórico f C 0,055 135 0,047 135 0,045 135 0,042 135 0,041 135 0,040 135 0,040 135 0,040 135 0,040 135 0,039 135 Comparando os coeficientes teóricos e práticos, pode-se observar uma grande variabilidade nos coeficientes de perda de carga C da Equação de Hazen-Williams, onde no tubo de 10 mm, os valores práticos são muito maiores do que os valores teóricos. Em contrapartida, os valores para o coeficiente C prático da tubulação de 16 mm são consideravelmente menores que os valores teóricos. Já os valores encontrados para os coeficientes f da Equação Universal também tem grandes variações entre os valores práticos e teóricos, porém, estes dependem da vazão atribuída ao experimento. CONCLUSÕES A perda de carga é um fator essencial de ser conhecido em projetos hidráulicos como os de irrigação e adutoras. As equações mais utilizadas por engenheiros são a de HazenWilliams e a de Darcy-Weibach. Todavia estas possuem os coeficientes C e f, respectivamente, que podem se tornar obstáculos, pois principalmente o coeficiente f é difícil de ser encontrado prático e teoricamente. Através dos resultados encontrados experimentalmente e comparando com os resultados teóricos, notou-se uma grande diferença de valores. Dificuldades em ler o manômetro e pouca potência do motor do equipamento podem ter contribuído para estas alterações. Porém ocorreram também dificuldades em estabelecer vazões corretas no rotâmetro, já que neste a graduação é com grandes intervalos, portanto valores pontuais foram mais fáceis de serem utilizados. Pela potência da bomba ser pouca, houve também dificuldades em estabelecer diferentes vazões para coletar amostras. REFERÊNCIAS [1] BAPTISTA, M.; COELHO, M. M. L. P. Fundamentos de Engenharia Hidráulica. 3 ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: UFMG, 2010.473 p. [2]LOPES, K. G. O; MARTINEZ, C.B; COELHO, M.M.L.P.Impacto da evolução da perda de carga no custo do bombeamento de água. Disponível em: <http://www.facape.br/comp/estagio/abnt.pdf>. Acesso em: 12 set. 2012. [3] AZEVEDO NETTO, J. M. de et al. Manual de hidráulica. 8. ed. São Paulo: E. Blücher, 1998. 669 p. [4] POTTER, M. C. et al. Mecânica dos fluidos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, Cengage Learning, c2004. xvii, 688 p.