COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Mapeamento da Vulnerabilidade do Solo e das Águas Subterrâneas no Município de Maceió-AL Rosane Cunha Maia Nobre, DSc Universidade Federal de Alagoas, IGDEMA/UFAL, Maceió, BRASIL, [email protected] Otto Corrêa Rotunno Filho, PhD Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, BRASIL, [email protected] Webe João Mansur, PhD Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, BRASIL, [email protected] Manoel de Melo Maia Nobre, PhD Universidade Federal de Alagoas, IGDEMA/UFAL, Maceió, BRASIL, [email protected] RESUMO: A aplicação de uma versão modificada do método DRASTIC foi realizada neste trabalho com o auxílio de técnicas de geoprocessamento para avaliação do índice de vulnerabilidade intrínseca (IVI) e específica (IVE) do aqüífero subjacente à região metropolitana de Maceió, com domínio de 292 km2. A adaptação do método incluiu alterações quanto aos índices propostos no documento original de forma a incluir seis parâmetros: profundidade do nível estático, recarga, meio aqüífero, mapa de pedo-cobertura, topografia e condutividade hidráulica. Todos os mapas temáticos foram elaborados em formato vetorial e incorporados no programa ArcView de forma georeferenciada. O mapa de cobertura e uso do solo, por exemplo, foi executado por meio da classificação de uma imagem de satélite do sensor Landsat5-TM, utilizando o método de classificação supervisionado da máxima verosimilhança. O mapa de declividade média do terreno, também utilizado em casos de mapeamento geotécnico, foi obtido com o tratamento do mapa numérico de terreno por meio da ferramenta de triangulação irregular do ArcView. O mapa de solos foi uma adaptação do mapeamento realizado pela EMBRAPA para o município de Maceió. Embora esse parâmetro seja relevante na quantificação da infiltração, é sobretudo pelo seu potencial atenuador do transporte de contaminantes que é considerado no índice DRASTIC. Para o mapeamento das fontes potenciais de contaminação e hierarquização do índice de fontes (IF), foi adotado um modelo de hierarquia baseado em lógica fuzzy. Por fim, foi realizada a integração de vários componentes da questão para obtenção do índice de risco ao consumo de águas contaminadas. Neste trabalho, ênfase é dada à elaboração do mapa de vulnerabilidade das águas subterrâneas. A metodologia proposta possibilita a otimização de processos decisórios na área ambiental, sobretudo quando a contaminação dos mananciais subterrâneos é considerada como critério determinante. PALAVRAS-CHAVE: Vulnerabilidade de Aquíferos, Remediação de Solos, Método DRASTIC, Gestão do Uso do Solo. 1 INTRODUÇÃO de vulnerabilidade e risco bem como a definição de zonas de proteção de poços podem servir como ferramentes de decisão bastante úteis no planejamento urbano e uso sustentável dos recursos hídricos. Mapas de vulnerabilidade natural ou específica a um determinado contaminante têm sido utilizados em vários países como instrumentos técnicos obrigatórios em A remediação de solo e águas subterrâneas de aquíferos subjacentes a sitios urbanos e industriais é sempre uma tarefa lenta e onerosa, e requer soluções geotécnicas sofisticadas. Como conseqüência, ações preventivas são desejáveis para uma proteção sistêmica do solo e dos mananciais hídricos. Por exemplo, mapas 1 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. função tanto do solo quanto do efluente que, no caso em estudo, trata-se da água. Diversas metodologias de avaliação de vulnerabilidade de aqüíferos já foram desenvolvidas, embora todas elas possam ser agrupadas em três principais categorias: métodos determinísticos, estatísticos e de indexação (National Research Council, 1993). Neste trabalho, a metodologia DRASTIC (Aller et al., 1987), que é um método de indexação, foi utilizada com algumas adaptações. Consiste em um modelo qualitativo para avaliação do potencial de contaminação de mananciais subterrâneos, utilizando-se apenas de variáveis hidrogeológicas e climáticas da região. É gerado um valor numérico – índice de vulnerabilidade, derivado a partir do resultado de hierarquização dos parâmetros utilizados no modelo. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta metodológica para a avaliação da vulnerabilidade de águas subterrâneas em escala regional, através do uso de modelagem hidrológica e técnicas de geoprocessamento (SIG). Ênfase é dada ao mapeamento da vulnerabilidade intrínseca e à elaboração dos correspondentes mapas temáticos, com aplicação em um estudo de caso que integra a região metropolitana da cidade de Maceió-AL, mapeamento com área de 292 km2. O detalhado de todos os atributos do problema pode ser encontrado nos trabalhos de Nobre (2006) e Nobre et al. (2007), incluindo a modelagem numérica desenvolvida para a delineação das zonas de contribuição de poços, a obtenção do mapeamento de fontes por meio de um modelo de hierarquia baseado em lógica fuzzy e análises de sensibilidade. programas de proteção de poços tais como os da agência ambiental inglesa (Environment Agency, 1998) e da agência ambiental americana (USEPA, 1997). Nesses locais, políticas de zoneamento regional e uso do solo têm sido orientadas através de mapas que identificam as áreas com diferentes níveis de vulnerabilidade à contaminação de subsuperfície e que necessitam de maior intensidade de investigações e restrições ao uso. O conceito de vulnerabilidade intrínseca ou natural das águas subterrâneas, na verdade, é atrelado a três importantes atributos que determinam a capacidade de proteção natural do aqüífero: i) atenuação natural; ii) recarga e iii) transporte no meio hidrogeológico (Nobre, 2006). No estudo apresentado, os parâmetros profundidade do nível estático e mapa de solos estão relacionados ao primeiro atributo visto que determinam a oportunidade oferecida ao contaminante de se degradar, naturalmente, durante seu deslocamento na zona não saturada até atingir o lençol freático. O segundo atributo, recarga, está associado à quantidade de água de infiltração através da zona não saturada que possibilita a lixiviação e o transporte do soluto em direção ao lençol freático. Esse atributo é diretamente influenciado por diversos fatores tais como cobertura vegetal, uso do solo, topografia e condutividade hidráulica. Na área urbana, a taxa de infiltração é maior devido às recargas artificiais por meio de vazamentos em canalizações e infiltrações de águas servidas (Lerner, 2002). Nesse estudo, especificamente, a recarga foi quantificada a partir da articulação dos mapas de precipitação e de cobertura e uso do solo. O terceiro atributo, transporte, está relacionado ao deslocamento dos contaminantes na zona saturada do meio hidrogeológico, a partir da existência de um gradiente hidráulico regional. Esse atributo foi representado, neste estudo, pelos mapas temáticos meio aqüífero e condutividade hidráulica. O meio aqüífero refere-se à formação geológica que serve como meio de transporte das águas subterrâneas. A condutividade hidráulica é um parâmetro do aqüífero que determina a facilidade que um meio poroso oferece para ocorrência de fluxo. É 2 ÍNDICE DE INTRÍNSECA (IVI) VULNERABILIDADE No presente trabalho, a metodologia DRASTIC foi modificada de forma a incluir seis parâmetros para o domínio da cidade de Maceió: profundidade do nível estático (f1), recarga (f2), meio aqüífero (f3), mapa de pedocobertura (f4), topografia (f5) e condutividade hidráulica (f6). As premissas do método foram 2 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Essa técnica é um estimador BLUE (best linear unbiased estimator). A krigagem ordinária, utilizada neste trabalho, é o método linear de estimativa geoestatística mais utilizada e divulgada em vários campos de aplicação. as mesmas segundo Aller et al. (1987). A hierarquização dos atributos, com pesos e notas, pode ser visualizada na Tabela 1. A pontuação máxima de 10 é relacionada aos atributos que oferecem maior vulnerabilidade do aqüífero, enquanto que um peso de 5 corresponde ao grau de importância máximo atribuído ao parâmetro relativamente ao estudo. Todos os mapas temáticos foram elaborados em formato vetorial e incorporados no ArcView de forma georeferenciada. A identificação dos atributos foi realizada através de dados decodificados em planos de informação, utilizando as ferramentas do geoprocessamento. Os mapas temáticos foram convertidos em formado matricial através da fragmentação em uma série de píxeis, com uma discretização de 20 metros e um valor numérico atribuído a cada pixel. A equação para determinação do índice de vulnerabilidade intrínseca (IVI), adaptado de Aller et al. (1987), é dada por Tabela 1 – Índices DRATIC modificado (Nobre, 2006) PROFUNDIDADE DO NE (PESO: 5) Faixa de Valores (m) Índice 0-5 10 5 - 10 9 10 - 20 7 20 - 30 6 30 - 40 4 40 - 50 2 > 50 1 RECARGA (PESO: 4) Faixa de Valores (mm/ano) Índice 0 - 50 1 50 - 100 3 100 - 200 6 200 - 300 8 > 300 10 MEIO AQUÍFERO (PESO: 3) Descrição das Unidades Índice Fm Poção (antigo Mb Carmópolis) 3 Depósitos Lagunares 4 Fm Barreiras 6 Areias Litorâneas 9 MAPA DE PEDO-COBERTURA (PESO: 3) IVI = [Dr Dw + Rr Rw + Ar Aw + S r S w + Tr Tw + C r C w ] (1) Onde D é a profundidade do nível estático, R é a recarga, A é o meio aqüífero, S corresponde ao mapa de pedo-cobertura, T é a topografia e C é a condutividade hidráulica. Os índices r e w correspondem aos índices de notas e pesos, respectivamente. O índice IVI foi normalizado de forma a variar de 1 a 10. Para uma melhor compreensão dos valores finais do DRASTIC modificado, em termos qualitativos de vulnerabilidade, foi definida a seguinte classificação: Vulnerabilidade muito elevada (IVI > 8,5); vulnerabilidade elevada (7,0 < IVI < 8,5); vulnerabilidade média (5,0 < IVI < 7,0); vulnerabilidade reduzida (IVI <5,0). O uso da cartografia temática foi indispensável no tratamento das informações, com o emprego de métodos geoestatísticos para interpolação e extrapolação espacial de variáveis regionalizadas, tais como profundidade do nível estático (NE) e condutividade hidráulica (K). A técnica geoestatística de krigagem (Journel e Huijbregts, 1978) foi adotada, tanto para interpolação quanto extrapolação de dados de NE e K, bem como para a definição de superfícies de camadas geológicas para uso na modelagem numérica determinística. Combinações Possíveis CN* Índice Meio urbano x Grupos C e D 94-95 1 Meio urbano x Grupos B 92 2 Meio urbano x Grupos A 89 3 Cultura (cana) x Grupo D 82 4 Veg. Secundária x Grupos C e D 76-78 5 Cultura (cana) x Grupo C 71 6 Veg. Secundária x Grupo B 65 7 Cultura (canar) x Grupo B 58 8 Veg. Secundária x Grupo A 43 9 Cultura (cana) x Grupo A 30 10 TOPOGRAFIA / DECLIVIDADE (PESO: 3) Faixa de Valores (%) Índice 0-2 10 2-6 9 6 - 12 5 12 - 18 3 > 18 1 CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA (PESO: 2) Faixa de Valores (m/s) Índice 1.0E-07 - 1.0E-06 1 1.0E-06 - 1.0E-05 3 1.0E-05 - 1.0E-04 5 1.0E-04 - 1.0E-03 7 > 1.0E-03 9 * CN = Curva-número (NRCS, 1986) 3 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Para o processo de krigagem, foi utilizado o código computacional SURFER v.8 (Golden Software, 2004). A base cartográfica utilizada para delimitação do domínio foi obtida através das cartas do IBGE na escala 1:50.000. Dados de nível estático (NE) foram consolidados a partir de informações obtidas em relatórios de perfuração de 366 poços tubulares. Este parâmetro determina a distância que o contaminante percorre da zona não saturada até atingir o lençol. Esse parâmetro é importante no sentido em que permite a oportunidade para oxidação do composto devido à disponibilidade de oxigênio. A ocorrência de processos de atenuação natural, tais como biodegradação, neutralização, reações químicas, volatilização e dispersão, será facilitada com o aumento da profundidade do nível estático tendo em vista maior tempo de trânsito e permanência no solo, antes de atingir o lençol freático. Adicionalmente, há maior possibilidade do contaminante em ficar imobilizado na forma residual, sobretudo quando da presença de materiais pouco permeáveis na zona capilar. Semivariogramas experimentais foram elaborados com o objetivo de auxiliarem na seleção de um modelo de variograma mais adequado para o uso da técnica de krigagem e interpolação dos dados. O modelo exponencial da Figura 1 foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais de NE. precipitação e cobertura e uso do solo de forma a incluir as contribuições das recargas naturais e artificiais (urbanas e agrícolas). O mapeamento da cobertura e uso do solo, conforme Figura 2, foi possível por meio da classificação temática de uma imagem do sensor Landsat5-TM e uso de técnicas de sensoreamento remoto. A imagem foi registrada e classificada através do código computacional ENVI . A recarga artificial urbana foi atribuída a vazamentos da rede de abastecimento, bem como de infiltrações oriundas de fossas sépticas e sumidouros em áreas isentas de saneamento básico. Na elaboração do mapa de precipitação, foram utilizados os registros pluviométricos relativos a 5 estações. As áreas de influência de cada posto foram calculadas segundo a metodologia gráfica de Thiessen (Nobre, 2006). A precipitação total anual corresponde, em média, a 1950 mm/ano no período de 29 anos (1963-1991). Os dados foram adquiridos, basicamente, junto ao endereço eletrônico da SUDENE/ADENE. A integração entre os mapas de precipitação e cobertura e uso do solo deu origem ao mapa de recarga (Figura 3) através da relação R = X %P + RA onde R é a recarga em mm/ano; P é a precipitação (mm/ano), RA é a recarga artificial (RA = 300 mm/ano para recarga urbana, RA = 100 mm/ano para cultura irrigada e RA = 10 mm/ano para as demais áreas). O valor de 300 mm/ano foi baseado na estimativa das perdas na rede de abastecimento urbano da cidade de Maceió. A recarga natural, assumida como 11%P, foi obtida por meio da metodologia de separação de hidrogramas para a bacia do rio Pratagy, localizado ao norte da cidade, portanto fora da área de explotação do aqüífero. O meio aqüífero foi mapeado com base no mapa geológico do estado de Alagoas, de 1984, na escala 1:250.000, elaborado pela Secretaria de Transporte, Obras e Recursos Naturais em convênio com o DNPM e as cartas geológicas da bacia Sergipe-Alagoas, de 1975, na escala 1:50.000. Por definição, meio aqüífero consiste em um material geológico saturado. No entanto, camadas geológicas não saturadas, como os Semivariograma Omnidirecional - NE Direção: - 0.0 - Tolerância: 90.0 500 450 400 Semivariância 350 300 250 EXPONENCIAL 200 150 100 50 0 0 2000 4000 6000 8000 10000 (2) 12000 Distância (m) Figura 1 – Variograma Exponencial do NE A recarga ao aqüífero regional foi mapeada através da integração de dois mapas temáticos: 4 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. sedimentos incluídas. quaternários, foram também Usos do Solo Veg. Secundária Agricultura Área Residencial/U 0 2 4 Kilometers Figura 2 – Cobertura e Uso do Solo Faixa de Valores (mm/ano) 100 - 150 (I=6) 150 - 200 (I=7) 200 -250 (I=8) 250 - 300 (I=9) > 300 (I=10) 0 2 4 Kilometers Figura 3 – Mapa de Recarga O mapa de solos (pedológico) foi elaborado com base no mapeamento realizado pela EMBRAPA para o município de Maceió (EMBRAPA, 2005). Os solos, neste trabalho em particular, referem-se à porção mais superficial da zona não saturada, caracterizada por intensa atividade biológica e tem um impacto significativo na quantidade de infiltração. Mas é, sobretudo, pelo seu potencial atenuador do transporte de contaminantes que é considerado no índice DRASTIC. A presença de materiais de textura fina, como siltes e argilas, pode restringir a migração vertical de contaminantes na zona não saturada do solo. Esse transporte, no entanto, depende não apenas da litologia do material de superfície (camada de solo) como também da cobertura e uso do solo. Assim a metodologia proposta sugere a integração desses dois mapas de forma a gerar o mapa de pedo-cobertura, que reflete o grau de atenuação do contaminante e do nível de impermeabilização do terreno (Jyrkama et al., 2002). A Figura 4 apresenta o mapa pedológico do domínio. Os critérios usados no levantamento pedológico da EMBRAPA, para estudo e conceituação das classes de solo e respectivas fases, seguiram, basicamente, as normas adotadas pelo Centro Nacional de Pesquisas de Solo (CNPS). As unidades pedológicas foram classificadas em 4 grupos: i) RQ (Grupo A) – areias quartzosas distróficas, que correspondem às superfícies de planícies litorâneas; ii) G (Grupo B) – gleissolo e solos aluviais; o gleissolo possui textura argilosa, em regiões de superfícies sedimentares de várzeas bem drenadas; os solos aluviais, por outro lado, ocorrem em superfícies sedimentares de várzeas mal drenadas, sob relevo plano ou suave ondulado; iii) LA (Grupo C) – latossolo amarelo distrófico, com textura argilosa, que coincidem com as regiões de tabuleiros, relacionados com o manto argiloso da formação Barreiras; iii) PA (Grupo D) – podzólico amarelo e vermelho amarelo, com textura média/argilosa e muito argilosa, esses solos são normalmente profundos (>1,5m) e proporcionam um escoamento superficial elevado e, assim, reduzida infiltração. Unidades Pedológicas (CNPS) Podzólico Amarelo (PA) - Grupo D Latossolo Amarelo Distrófico (LA) - Grupo C Sem Infromações - Grupo C Gleissolo e Solos Aluviais (G) - Grupo B Areias Quartzosas Distróficas (RQ) - Grupo A 0 2 4 Kilometers Figura 4 – Mapa Pedológico A articulação do mapa pedológico e cobertura e uso do solo deu origem a 12 combinações distintas para o mapa de pedocobertura (4 classes de solo versus 3 tipos de cobertura). A cada combinação foi atribuído um índice apropriado, baseado na classificação norte-americana da curva-número CN (curve 5 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 7 apresenta a classificação do índice de vulnerabilidade intrínseca (IVI), com cores que indicam áreas mais ou menos susceptíveis à contaminação das águas subterrâneas. number) para o escoamento superficial, que reflete a facilidade de escoamento superficial ou infiltração no terreno. Esse número foi ajustado para o nível de impermeabilização indicado no documento TR-55 (NRCS, 1986). Foi assumido que as áreas mais impermeáveis, como os solos argilosos em áreas urbanas pavimentadas, proporcionam maiores condições de atenuação do contaminante, recebendo, portanto, índices menos elevados, conforme Tabela 1. Para elaboração do mapa de declividade, foi gerado o modelo numérico de terreno (MNT) da Figura 5, através da ferramenta de triangulação irregular (TIN) do ArcView. A declividade da superfície do terreno é determinante na partição da precipitação na forma de infiltração e escoamento superficial. As declividades mais suaves facilitam a infiltração bem como deslocamento dos contaminantes e, portanto, oferecem maior risco de contaminação do aqüífero. Por outro lado, as superfícies mais íngremes favorecem maior velocidade do escoamento superficial e contribuem para maior erosão e contaminação de águas de superfície. Adicionalmente, as águas infiltram-se com maior facilidade em níveis topográficos mais elevados (Fobe e Goossens, 1990). A Figura 6 apresenta o mapa de declividade do domínio, com 75% inserido em região de baixa declividade (até 2%) e índice DRASTIC máximo (I=10). O mapeamento da condutividade hidráulica (K), relativo ao aqüífero freático, foi realizado através de interpolação geoestatística de dados de testes de aqüífero de poços tubulares da região. O modelo de semivariograma linear foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais de K. Uma vez que o logaritmo natural da condutividade hidráulica de depósitos geológicos é usualmente considerado como sendo normalmente distribuído (Boman et al., 1995), as distribuições de condutividade hidráulica horizontal K foram interpoladas em termos de seus valores logarítmicos. A condutividade hidráulica é um parâmetro que determina a facilidade que um meio poroso oferece para ocorrência de fluxo. O índice de vulnerabilidade intrínseca (IVI) foi obtido a partir da integração entre os seis mapas temáticos, conforme equação 1. A Figura Faixas de Elevação (m) 0 - 15 15 - 30 30 - 45 45 - 60 60 - 75 75 - 90 90 - 120 120 - 140 Figura 5 – Modelo Digital de Terreno (MDT) Mapa de Declividade (%) 0 - 2 (I=10) 2 - 6 (I=9) 6 - 12 (I=5) 12 - 18 (I=3) 18 - 70 (I=1) 0 2 4 Kilometers Figura 6 – Mapa de Declividade do Terreno Índice de Vulnerabilidade (IVI) 3 - 4.5 4.5 - 5.5 5.5 - 6.5 6.5 - 7.5 7.5 - 8.5 8.5 - 10 0 2 4 Kilometers Figura 7 – Mapa de Vulnerabilidade Intrínseca (IVI) 6 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 3 ocorrência de desorção de solos e sedimentos; iv) degradabilidade: a biodegradação aeróbica ou anaeróbica é considerada o processo mais relevante de atenuação natural da massa de contaminantes no subsolo. Alguns compostos são mais recalcitrantes do que outros, ou seja, resistentes à degradação química e bioquímica, como por exemplo os agrotóxicos e os PAHs. As fontes de nitrato em águas subterrâneas, por exemplo, derivam tanto do uso de fossas sépticas em áreas urbanizadas como de fertilizantes em áreas agrícolas. É difícil identificar se o nitrato presente nas águas subterrâneas está associado ao uso de fertilizantes ou aos aportes de águas servidas. Dada a sua solubilidade e por constituírem as formas nitrogenadas onde o estado oxidativo é máximo, os nitratos constituem a forma usual de acumulação em águas subterrâneas, deslocando-se como um traçador conservativo no subsolo. Isto pode ser atribuído a sua elevada solubilidade e tendência de ser repelida por partículas de solo carregadas negativamente, sendo dificilmente adsorvido em solos. Na prática, os níveis encontrados no subsolo não são tão elevados, sugerindo a ação de bactérias denitrificantes no aqüífero. FONTES DE CONTAMINAÇÃO As fontes potenciais de contaminação foram classificadas de acordo com o seu grau de extensão, ou seja, pontuais (de pequena escala e de fácil identificação) e difusas (normalmente dispersas, abrangendo grandes áreas). As principais categorias incluíram: complexos industriais, aterros sanitários/lixões, postos de gasolina, áreas de cultura irrigada (praticamente 100% das áreas agrícolas no domínio são irrigadas) e áreas urbanas. As fontes difusas foram classificadas em duas categorias, incluindo áreas de cultura irrigada e áreas urbanas, através do mapa de cobertura e uso do solo. Nas áreas urbanas, as fontes difusas foram representadas pela existência de fossas sépticas, consideradas homogeneamente distribuídas. Nas áreas de cultura, as fontes difusas foram representadas pelas cargas de agrotóxicos e fertilizantes, que receberam índices mais elevados quanto ao risco de poluição e periculosidade, visto que esses contaminantes são relativamente mais recalcitrantes no subsolo e apresentam maior toxicidade à saúde humana. O mapeamento das fontes de contaminação foi elaborado segundo a hierarquização do índice de fontes (IF), realizado por km2 do domínio, através da aplicação de um modelo de hierarquia baseado em lógica fuzzy (Nobre et al., 2007). As fontes foram hierarquizadas a depender do maior ou menor risco que representam para o solo e águas subterrâneas, considerando o seu potencial toxicológico bem como o processo de percolação e degradação no subsolo (Figura 8). Os seguintes parâmetros foram analisados para cada grupo de compostos: i) toxicidade: contaminantes que são comprovadamente cancerígenos (p.e., benzeno, cloreto de vinila, cromo VI); ii) coeficiente de partição águaoctanol: parâmetro utilizado para predizer a mobilidade do composto e deslocamento em direção ao aqüífero e/ou facilidade de adsorção na matriz sólida e imobilização do mesmo; iii) solubilidade na água: compostos com elevada solubilidade (p.e., benzeno, clorofórmio, nitrobenzeno, fenol, cloreto de vinila) são mais susceptíveis à ocorrência de biodegradação e a Figura 8– Mapeamento de Fontes Potenciais de Contaminação O índice de vulnerabilidade específica (IVE) foi calculado através da articulação dos mapas de vulnerabilidade intrínseca e do mapa de fontes no domínio analisado. Esse índice representa a vulnerabilidade do aqüífero freático em relação a fontes potenciais de 7 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. contaminação conhecidas e mapeadas. É possível elaborar, também, mapas de vulnerabilidade específica a um determinado composto, ou seja, ao benzeno, nitrato, compostos clorados, metais, etc.. No caso em estudo, o mapa de vulnerabilidade específica é relativo a todos os compostos correlatos às principais fontes de contaminação cadastradas na cidade de Maceió (não apresentado neste trabalho). 4 REFERÊNCIAS Aller L.; Bennett, T.; Lehr, J.H.; Petty, R.; Hackett, G. (1987). DRASTIC: “A Standardized System for Evaluating Ground Water Potential using Hydrogeologic Settings”. EPA/600/287/035. Ada, Oklahoma, 622p. Boman, G.K.; Moltz, F.J.; Guven, O. (1995). An evaluation of interpolation methodologies for generating three-dimensional hydraulic property distributions from measured data. Ground Water, 33(2): 247-258. Embrapa (2005). Diagnóstico Ambiental do Município de Maceió-AL. EMBRAPA Solos, PE. Environment Agency (1998). Policy and Pratice for the Protection of Groundwater. London: The Stationary Office, ISBN 011.310.145-7. Fobe, B.; Goossens, M. (1990). The Groundwater Vulnerability Map For The Flemish Region: Its Principles And Uses. Engineering Geology, (29): 355-363. Golden Software, 2004. Surfer V.8.0 – Surface Mapping System. Journel, A.G.; Huijbregts, C.J., 1978. Mining Geostatistics. Academic Press, New York. Jyrkama, M.I.; Sykes, J.F.; Normani, S.D. (2002). Recharge estimation for transient groundwater modeling. Ground Water, 40(6): 638-648. Lerner, D.N. (2002). Identifying And Quantifying Urban Recharge: A Review. Hydrogeology Journal, 10 (1): 18-39. National Research Council (1993). Groundwater Vulnerability Assessment: Contamination Potential Under Conditions Of Uncertainties. National Academy Press., 185p. Nobre, R.C.M. (2006). Avaliação de Risco para o Uso e Proteção de Aqüíferos. Estudo de Caso: Região Metropolitana de Maceió. Tese de Doutorado, Dept. Eng. Civil, COPPE/UFRJ, 296p, disponível no endereço www.coc.ufrj.br. Nobre, R.C.M., Rotunno Filho, O.C., Mansur, W.J., Nobre, M.M.M., Cosenza, C.A.N. (2007). Groundwater Vulnerability And Risk Mapping Using GIS, Modeling And A Fuzzy Logic Tool. Journal of Contaminant Hydrology, 94: 277-292. NRCS – Natural Resources Conservation Service (1986). Urban Hydrology For Small Watersheds. U.S. Department Of Agriculture Technical Report 55. United States Environmental Protection Agency (USEPA) (1997). State Source Water Assessment and Protection Programs Guidance: Final Guidance. Office of Water, Report EPA 816-R-97-009. CONCLUSÕES A avaliação do índice de vulnerabilidade intrínseca (IVI) e específica (IVE) do aqüífero subjacente à região metropolitana de Maceió (IVI) foi possível através da aplicação de uma versão modificada do método DRASTIC, com o auxílio de técnicas de geoprocessamento. A adaptação do método incluiu alterações quanto aos índices propostos no documento original bem como a adição ou supressão de mapas, na busca de melhores resultados. A vulnerabilidade não é uma propriedade absoluta, mas uma indicação relativa de áreas onde a contaminação tem maior probabilidade de ocorrer. Como não há casos de aqüíferos não-vulneráveis, faz-se necessário considerar os efeitos de longa duração na qualidade das águas subterrâneas na avaliação da vulnerabilidade de aqüíferos. Através do desenvolvimento e aplicação da metodologia proposta para avaliação da vulnerabilidade de aqüíferos, ficou evidente a importância dos fenômenos físicos envolvidos na análise de transporte (e atenuação) do contaminante bem como da recarga de aqüíferos. É recomendado, inclusive, o uso de modelos determinísticos como complemento ao método de indexação DRASTIC. Os critérios legais para o planejamento de uso do solo devem também estar vinculados a programas de delineação de áreas de proteção de poços. Nesse sentido, a metodologia apresentada permite a definição de premissas objetivas para proteção e uso sustentável dos mananciais hídricos subterrâneos. 8