Um Sonho Adiado
José Annes Marinho - Engenheiro Agrônomo, Gerente de Educação da Associação Nacional de Defesa
Vegetal, MBA em Marketing – FGV.
fevereiro 2013
Há pelo menos 28 anos, conversando com meu avô, ele dizia que um
dia eu seria um profissional para ajudar os produtores rurais. Naquele
instante começava o meu sonho: ser um profissional do campo, um
agrônomo, pois me identificava com a terra, com o campo, eu tinha um
carinho incontestável. Pois bem, passaram-se anos, veio o 1º grau, o 2º grau, o cursinho, o
vestibular, e finalmente o ingresso a universidade para estar no tão
sonhado curso de Agronomia. Foram cinco anos de muito trabalho,
estágios e, ao mesmo tempo, tínhamos o inicio de novas amizades, o
exercício do cooperativismo, tudo o que um jovem com sonhos
precisava. Na realidade foram cinco anos que pareciam quinze. Talvez pelas
dificuldades: ora financeira, ora provas, farras, festas, noites mal
dormidas, ou até mesmo pela vontade de concluir o curso
definitivamente. Depois de tudo isso: vencemos. Chegou o grande dia,
o mais esperado por todos - família, eu, amigos, felizes por terem
conseguido o que poucos em nosso país conseguem: formar-se. Posso
dizer com todas as letras que é um momento inesquecível, uma
sensação eterna, um sonho conquistado. Mas por que estou descrevendo isso? Não poderia deixar de escrever
algo sobre uma das maiores tristezas que já presenciei. Jovens que
certamente sentiriam as mesmas emoções que senti, jovens que
poderiam ajudar a melhorar a vida de milhares de produtores, jovens
amantes da terra, dos animais e da vida. Naquele domingo sombrio,
dotado de angústia e tristeza, notei que tinha perdido muitos amigos,
por mais que não os conhecesse, mas eram jovens que ainda iriam
conquistar seus sonhos, muito parecidos com os meus. No decorrer do dia, ouvimos e vimos surgirem heróis que salvaram
muitos, mas que não conseguiram resistir. Vimos o Brasil chorar com os
pais destes jovens - que tinham perdido seus diamantes ainda por
serem lapidados. Vimos um país sem alegria, vimos uma solidariedade
nunca vista, vimos um povo em lagrimas. Foi o fim de um sonho
bruscamente cortado pela metade. Agora resta-nos acreditar que tudo
isso nunca mais irá acontecer. Resta-nos homenagear estes jovens
para que estejam no céu, cuidando de nossos campos e animais ao
lado de nosso patrão velho. Resta-nos orar. Essa é a minha singela
homenagem a estes jovens e colegas que tiveram seus sonhos
alterados pelo destino. Para as famílias e pais: muita força, muita fé e
luz. Sejamos fortes, pois a justiça pode tardar, mas não falha.
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Há pelo menos 28 anos, conversando com meu avô