Edição do dia 20/09/2013
20/09/2013 08h40 ­ Atualizado em 20/09/2013 11h03
Brasil tem pelo menos 370 mil usuários de
crack só nas capitais
A maioria está no Nordeste, seguido por Sudeste,
Centro­Oeste, Sul e Norte.
A pesquisa mostra também que 80% dos viciados querem
ser tratados.
Heloísa Torres Brasília
Um número preocupante: 360 mil brasileiros são viciados em uma das drogas mais degradantes, o
crack. Isso só nas capitais. O número é do primeiro e maior levantamento nacional sobre o uso da
droga.
A pedido do Ministério da Justiça, a Fundação Oswaldo Cruz traçou o perfil dos usuários, e uma das
principais conclusões é que a maioria quer ser tratada.
O estudo mostrou que, ao contrário daquela ideia falsa de que dependentes químicos têm que ser
tratados à força, mais de 80% querem o tratamento, querem ter uma vida normal com a família, com
o trabalho.
Só agora, dois anos depois de lançar o Programa de Enfrentamento ao Crack , é que o governo
descobriu onde estão e quem são os viciados.
A maior concentração de usuários está no Nordeste. Depois vem a região Sudeste, Centro­Oeste,
Sul e, por último, a Norte. Só nas capitais há pelo menos 370 mil usuários. A maioria tem pouca
escolaridade.
Entre os principais motivos que levaram ao uso do crack estão a vontade, a curiosidade de sentir o
efeito da droga. A pesquisa mostra também que 80% dos viciados querem ser tratados.
Uma mãe tentou na rede pública e não conseguiu. O filho passou no máximo três dias em um
hospital e foi mandado para casa. Chegou ao ponto de pedir para ser acorrentado para ficar longe
do vício. “Ele falou mãe: mãe, me ajuda, mãe”, diz. Depois de muitos pedidos veio a ajuda de uma
clínica particular.
Em julho, o Bom Dia Brasil mostrou que o programa do governo estava muito longe das metas.
Dois meses depois, pouca coisa mudou. Centros de atenção ao usuário para funcionamento 24
horas são 37 em todo o país. A meta até o ano que vem são 175. Leitos especializados são 615. A
meta: 2.462. Consultórios de rua são 85. Devem ser 308.
Dos R$ 4 bilhões previstos, houve investimento de R$ 1,5 bilhão. O governo diz que não há
problemas.
“O programa está dentro estritamente do seu cronograma para que possa gastar esse recurso que
foi destinado pela presidenta Dilma Rousseff”, declara José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça.
O rapaz de 26 anos se livrou das correntes. Está há sete meses em uma clínica particular. Vai sair no
fim do ano. A prova de que se houver tratamento, há resultado. “O Tiago, que nasceu de novo
agora, é um Tiago que vai dar orgulho para a mãe, para o pai, que vai ser uma pessoa digna, que vai
sair lá fora e dar um exemplo para pessoas que não acreditam que existe recuperação, porque existe
recuperação”, declara.
A pesquisa da Fiocruz também mostra que 14% dos usuários são menores de idade. Os
dependentes fumam crack na maioria das vezes, 80%, em áreas públicas. A dependência dura em
média oito anos, e o consumo diário é de 16 pedras por dia.
Um flagrante na manhã desta sexta­feira (20) na Avenida Brasil, uma das mais importantes do Rio de
Janeiro: em um trecho no subúrbio, encontramos usuários de crack acampados no canteiro que
divide as pistas. A região é conhecida por concentrar dependentes da droga. A prefeitura já fez
várias operações para acabar com a cracolândia, mas os dependentes sempre voltam.
De acordo com um levantamento da Fiocruz, 370 mil brasileiros usam crack só nas capitais. No
Maranhão, o crack está em mais da metade dos municípios. Usuários do interior tentam atendimento
em São Luís.
No Maranhão, o crack já está presente em 134 dos 217 municípios do estado, segundo a polícia.
Na capital, foram identificados os dez principais pontos de concentração de usuários de crack.
Entre eles está o centro histórico de São Luis.
Só nos seis primeiros meses deste ano, 2.600 usuários da droga foram atendidos pelo Centro de
Atenção Psicossocial em São Luís; 25% vêm do interior do estado.
Esse número já é praticamenteo o mesmo do registrado em 2012, quando foram realizados 2.900
atendimentos.
O estado do Piauí registra um número impressionante de dependentes. O número de usuários de
drogas no Piauí é quase o mesmo de toda a região Norte que foi apontado pela pesquisa. Segundo
dados da ONU, são cerca de 32 mil, a maioria é usuária de crack.
E ao contrário das grandes capitais, como São Paulo, não há cracolândias, os usuários estão
espalhados por toda a cidade.
Para combater o avanço no número de usuários, no mês passado entrou em vigor uma lei que obriga
todas as escolas municipais de Teresina a realizar duas vezes ao mês atividades de conscientização
sobre o uso de drogas. E essa seria uma medida importante já que a pesquisa da Fiocruz aponta
que 55% dos usuários de crack cursaram apenas o ensino fundamental.
Em Belo Horizonte, o atendimento aos dependentes é na rua, onde a pesquisa mostrou que a droga
é consumida livremente.
Em Belo Horizonte, quatro consultórios móveis fazem atendimento de usuários de crack nas ruas.
Cada van tem uma equipe multidisciplinar, formada por um psicólogo, um enfermeiro, um assistente
social e um ex­usuário.
Eles distribuem preservativos e fazem pequenos atendimentos, como curativos, e aproveitam essas
abordagens para tentar convencer os dependentes químicos a fazer tratamento.
Desde que começou a funcionar, já foram feitos mais de 30 mil atendimentos. E, até junho deste
ano, 2.300 pessoas foram encaminhadas para instituições públicas.
O grande desafio é manter os pacientes no tratamento, uma vez que a adesão e a permanência deles
é voluntária.
Fonte:
http://g1.globo.com/bom­dia­brasil/noticia/2013/09/brasil­tem­pelo­menos­370­mil­usuarios­de­cra
ck­so­nas­capitais.html
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