Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa Programa Latu Sensu em O Direito e a Inteligência no Combate ao Crime Organizado e ao Terrorismo Trabalho de Conclusão de Curso CONSIDERAÇÕES SOBRE AS MÍDIAS SOCIAIS COMO FONTE ABERTA NA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA Autor: Paula Cristina de Deus Dini Orientador: Prof. Dr. George Felipe de Lima Dantas Brasília - DF 2014 PAULA CRISTINA DE DEUS DINI CONSIDERAÇÕES SOBRE AS MÍDIAS SOCIAIS COMO FONTE ABERTA NA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA Artigo apresentado ao Programa de PósGraduação Lato Sensu em Direito e Inteligência no Combate ao Crime Organizado e Terrorismo da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Certificado de Especialista em Direito e Inteligência na Área do Direito e Inteligência no Combate ao Crime Organizado e ao Terrorismo. Orientador: Prof. Doutor George Felipe de Lima Dantas Brasília 2014 Artigo de autoria de Paula Cristina de Deus Dini, intitulado “CONSIDERAÇÕES SOBRE AS MÍDIAS SOCIAIS COMO FONTE ABERTA NA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA”, apresentado como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialista em Direito e Inteligência no Combate ao Crime Organizado e Terrorismo da Universidade Católica de Brasília, em 27 de junho de 2014, definida e/ou aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: ________________________________________________ Prof. Dr. George Felipe de Lima Dantas Programa Latu Sensu em O Direito e a Inteligência no Combate ao Crime Organizado e ao Terrorismo Orientador ________________________________________________ Prof. Dr. Joanisval Brito Gonçalves Consultor Legislativo do Senado Federal Membro da Banca ________________________________________________ Mauro André Kaiser Cabral - Ten-Cel. QOBM/Comb. Subdiretor de Ensino do CBMDF Membro da Banca Brasília 2014 Todos veem o que pareces, poucos percebem o que és. (Nicolau Maquiavel) Dedico este trabalho ao meu esposo Moisés Dias, aos meus filhos Giovana e Lucas, à minha mãe Lusimar Dini e ao meu pai Renzo Dini (em memória) AGRADECIMENTO Sou grata a Deus pelo dom da vida. Ao meu orientador pela paciência dispensada. À minha amiga de trabalho, a doutoranda Aline Veiga sem a qual eu não teria condições sequer de ter iniciado este artigo. Ao Ten-Cel. Reginaldo Ferreira de Lima, ex-comandante do Centro de Inteligência do CBMDF, por ter me proporcionado a oportunidade de fazer esse curso. 7 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS MÍDIAS SOCIAIS COMO FONTE ABERTA NA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA Paula Cristina de Deus Dini Resumo Com o advento da internet, a Atividade de Inteligência passou a contar com mais um meio de obtenção de dados em fonte aberta. Desta forma, o presente artigo tem o objetivo de averiguar se o acompanhamento das mídias sociais pode influenciar nos resultados de um conhecimento produzido por fontes abertas e se a exposição feita pelos internautas podem gerar dados seguros ou não. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Os resultados apontam que embora existam afirmações falsas, se o agente de inteligência souber trabalhar esses dados coletados na internet, conhecimentos válidos podem ser produzidos. Palavras-chave: Fonte Aberta. Atividade de Inteligência. Internet. Introdução Um novo canal de comunicação e de troca de dados e informações surgiu com o advento da internet; assim, as ações de coleta1 de dados de fontes abertas cresceram significativamente. Nesse escopo, transformações intensas acontecem no mundo a todo instante, sejam elas sociais, econômicas, políticas, tecnológicas. Os dados estão disponíveis ao alcance de todos e a obtenção de informações para a produção do conhecimento ficou mais rápida. Qualquer pessoa interessada em conhecer sobre determinado assunto pode, de maneira aberta, pesquisar na internet e obter a informação desejada por meio das mídias sociais. A mais nova fonte aberta de coleta de dados é a internet. Na web existem informações variadas em blogs, redes sociais, sites de bate papo, fóruns de discussão, entre tantas outras informações que trafegam no ambiente virtual. Aliar a atividade de inteligência, bem como a inteligência digital, com mídias sociais é uma tendência mundial. Conforme Wendt e Barreto (2013, p. 03), a inteligência digital nada mais é que “um processo baseado na utilização de todos os meios tecnológicos, digitais, telemáticos e de interceptação de sinais, com a finalidade de obter dados e analisálos”, o que favorece a produção de conhecimento a respeito de assuntos que possam interessar a atividade de inteligência. A inteligência digital é mais uma forma de auxiliar a produção do conhecimento, facilitando a fase de reunião de dados principalmente com base em fontes abertas. É importante destacar que os dados negados, também, são imprescindíveis para a produção do conhecimento. De acordo com Kent (1967), a maioria das informações deve ser obtida pela pesquisa e observação de dados ostensivos. Uma das etapas de colher informação é observar os acontecimentos do dia-a-dia. 1 De acordo com a DNISP, coleta são procedimentos realizados por uma AI, ostensiva ou sigilosamente , a fim de obter dados depositados em fontes abertas. 8 O analista deve estar atento, pois as informações trafegam rapidamente e podem mudar em fração de segundos, portanto as informações retiradas da web não podem ser analisadas com uma verdade absoluta. Ainda existem muitas informações desencontradas e muitas tem de ser confrontadas com outras fontes para se ter certeza que poderá fazer parte de um relatório de inteligência. Tendo em vista a evolução da comunicação via mídias sociais, este trabalho busca identificar se o acesso e o acompanhamento das mídias sociais influenciam nos resultados da produção do conhecimento. Diante do exposto, questiona-se, se a exposição feita pelos internautas nas mídias sociais – fontes abertas – pode gerar dados passíveis de serem transformados em conhecimento. O presente artigo está estruturado em três partes. A primeira apresenta o histórico da atividade de inteligência. A segunda aborda os principais aspectos envolvidos na produção do conhecimento e a terceira discorre sobre as mídias sociais e a atividade de inteligência. Esse artigo se fundamentou em uma pesquisa bibliográfica. De acordo com Fonseca (2002), a pesquisa bibliográfica é realizada em trabalhos acadêmicos consolidados em livros, artigos científicos e outros meios, inclusive os eletrônicos. Ao analisar textos clássicos como o de Kent - Informações Estratégicas, Platt – A Produção de Informações Estratégicas, e revisando textos atuais como Wendt e Barreto – Inteligência Digital, Gonçalves – Atividade de Inteligência e Legislação Correlata e Cepik – Espionagem e Democracia, foram coletadas as informações e conhecimentos que permitiram o estudo da relevância das mídias sociais como fonte aberta na atividade de inteligência. Contexto histórico da atividade de inteligência no Brasil A atividade de Inteligência no Brasil teve seu primeiro registro oficial no ano de 1927, sob a presidência de Washington Luiz, quando o mesmo se viu desassistido, pois o Brasil ainda não possuía um órgão capaz de mantê-lo bem informado, principalmente com relação a seus adversários. Diante dessa necessidade, o então presidente do Brasil instituiu o Conselho de Defesa Nacional (CDN) por meio do decreto 17.999 de 29 de setembro de 1927. Segundo Figueiredo (2005), o conselho tinha como missão reunir informações sobre questões de ordem financeira econômica, bélica e moral em defesa da pátria. Com a promulgação da constituição de 1934, o CDN passou a chamar Conselho Superior de Segurança Nacional e em 1937 com nova constituição sua importância foi reafirmada, no entanto, sendo chamado de Conselho de Segurança Nacional (CSN). Após a segunda guerra mundial, os serviços secretos no mundo inteiro ganharam notoriedade e importância cada vez maiores. Com isso no ano de 1946, o então presidente do Brasil, Eurico Gaspar Dutra, criou o Serviço Federal de Informações e Contrainformações (Sfici). O Sfici, apesar de ser um órgão civil, era subordinado ao Conselho de Segurança Nacional. De acordo com Figueiredo (p. 53), o Sfici “foi criado no papel, mas não foi dado a ele nenhuma estrutura”. Com o passar dos anos o comunismo crescia no mundo e o Sfici atuou fortemente na tentativa de reprimir o comunismo. Durante esses anos, de repressão ao movimento comunista, o Brasil teve apoio incondicional dos Estados Unidos, quando em 1949, os estadunidenses 9 forneceram apoio logístico e inspiração para a criação da Escola Superior de Guerra, a ESG. De acordo com Figueiredo (2005, p. 56): “A ESG se tornou a organização militar brasileira mais empenhada no estudo e na construção de um serviço secreto no país. Lá aprendiam-se matérias até então inexistente nas academias militares brasileiras, tais como combate ao comunismo e guerra interna. Em seus manuais, a população brasileira era descrita como potencial inimigo da pátria. Era a Doutrina de Segurança Nacional, uma nova maneira dos militares de pensar o país.” Em 1956, durante seu governo, o presidente Juscelino Kubitschek determinou a criação de uma equipe encarregada de montar o Sfici e autorizou que funcionários brasileiros viajassem aos Estados Unidos a fim de aprender sobre espionagem. Com o golpe militar de 1964 (que culminou na queda do Presidente João Goulart), o presidente Humberto de Alencar Castello Branco, por meio da Lei nº 4.341, criou o Serviço Nacional de Informação (SNI), órgão da Presidência da República. A lei de criação do SNI, versava que o órgão teria autonomia financeira, ficaria sob supervisão direta da Presidência da República, não tornaria pública informações básicas sobre sua organização interna, regras de funcionamento, quadro de pessoal e ainda não sofreria nenhum tipo de controle externo. Informava ainda que o chefe do SNI teria status de ministro de Estado, ou seja, praticamente tudo relacionado ao SNI era considerado sigiloso. Em 1970, foi criado o Sistema Nacional de Informação (SISNI), integrado por todos os órgãos de informações onde o SNI era o órgão central desse sistema. Em 1971, foi instituída a Escola Nacional de Informações (EsNI) diretamente subordinada ao Ministro Chefe do SNI, com a finalidade de preparar, atualizar e especializar o pessoal para exercer funções no SISNI. Mesmo com o fim da ditadura militar em 1985 o SNI continuou funcionando. No ano de 1990, por meio da Medida Provisória nº 150, o presidente eleito Fernando Collor de Mello extinguiu o SNI (e o SISNI) e criou a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), e em sua estrutura o Departamento de Inteligência (DI/SAE). Com a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso em 1995, foi autorizada a criação da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). No ano de 1999, Fernando Henrique sancionou a Lei nº 9.883 que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), regulamentou a criação da ABIN e a instituiu como órgão central do SISBIN. Mundialmente, a atividade de inteligência se consolidou durante a Segunda Guerra Mundial, com a criação de vários serviços de inteligência e o desenvolvimento de novas técnicas. Com a criação da ABIN e o estabelecimento de uma de uma Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública - DNISP, e houve a padronização do processo de produção do conhecimento Principais aspectos envolvidos na produção do conhecimento Atualmente as decisões a serem tomadas exigem conhecimentos oportunos e exatos, o que enseja a necessidade de um sistema de Inteligência capaz de 10 promover um assessoramento correto de todas as ações a serem tomadas por parte do tomador de decisões. Atualmente em vigor, a Lei nº 9.883/1999, em seu artigo 1º, parágrafos 2º e 3º, define Inteligência como “a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos [...] sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório”; e Contrainteligência, como “a atividade que objetiva neutralizar a inteligência adversa“. Segundo Gonçalves, (2011, p. 7-8): - Inteligência como produto, conhecimento produzido: trata-se do resultado do processo de produção de conhecimento e que tem como cliente o tomador de decisão em diferentes níveis. Assim, relatório/documento produzido com base em um processo que usa metodologia de inteligência também é chamado de inteligência. Inteligência é, portanto, conhecimento produzido. - Inteligência como organização: diz respeito às estruturas funcionais que têm como função primordial a obtenção de informações e produção de conhecimento de inteligência. Em outras palavras, são as organizações que atuam na busca do dado negado, na produção de inteligência e na salvaguarda dessas informações, os serviços secretos. - Inteligência como atividade ou processo: refere-se aos meios pelos quais certos tipos de informação são requeridos, coletados/buscados, analisados e difundidos, e, ainda, os procedimentos para a obtenção de determinados dados, em especial, aqueles protegidos. Esse processo segue metodologia própria. Dessa maneira tem-se que a inteligência esta dividida em produção e proteção de conhecimento. De acordo com a Doutrina Nacional de Segurança Pública (DNISP)2 a Atividade de Inteligência em Segurança Pública (ISP) é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Publica. A atividade de ISP possui dois ramos: Inteligência e Contrainteligência. A Inteligência se destina à produção de conhecimentos de interesse da Segurança Pública e a Contrainteligência é o ramo que se destina a produzir conhecimentos para neutralizar a inteligência adversa, a proteção da atividade e da instituição a que pertence. Segundo Platt (1974), as atividades de informações dividem-se em coleta de campo (atividades ostensivas) ou busca (atividades sigilosas). Kent (1967) considera Informação como três aspectos distintos: a) Informação como conhecimento, onde os mesmos podem ser obtidos por meios clandestinos, mas a maioria deve ser obtida pela pesquisa e observação de dados divulgados e ostensivos. b) Informação como tipo de organização que produz conhecimento; para ele informação é uma instituição e consiste na organização de pessoal que busca uma categoria de conhecimentos. c) Informação como a atividade desempenhada por uma organização, onde a informação é usada como um sinônimo da atividade que a organização desempenha. 2 A DNISP foi normatizada pelo Secretário Nacional de Segurança Pública, através de Portaria expedida pelo Ministro da Justiça (Portaria nº 22, de 22 de julho de 2009), com a finalidade de dar respaldo às ações de Inteligência em Segurança Púbica. 11 Para Platt (1974), a produção de uma Informação é a seleção e a reunião de fatos relativos a um problema, sua avaliação, interpretação e apresentação. A produção de informações abrange as ações que um analista ou oficial de informações executa quando recebe ordem de produzir uma informação sobre determinado assunto. Significa em suma o processo pelo qual a massa de dados e informes é transformada numa Informação conclusiva. [...] Inclui todas as atividades ligadas ao planejamento, supervisão, revisão e coordenação da produção de informações. (Platt, 1974, p.33-34). Sabe-se que a produção do conhecimento é o acompanhamento permanente das fontes e assuntos pesquisados, capaz de produzir com independência conhecimentos em benefício da segurança e proteger dados contra ações adversas. A produção do Conhecimento é o tratamento de dados3 e conhecimento4. Portanto, para a DNISP, produzir conhecimento, é transformar dados e conhecimentos, em conhecimentos avaliados, significativos, úteis, oportunos e seguros, de acordo com metodologia própria e específica. A produção do conhecimento é uma das características da ISP. Produção do Conhecimento: é a característica da ISP que a qualifica como uma atividade de Inteligência, na medida em que coleta e busca dados e, por meio de metodologia específica, transforma-os em conhecimento preciso, com a finalidade de assessorar os usuários no processo decisório (DNISP, 2009, p.11). Não há consenso sobre por quantas etapas o ciclo de produção é formado, mas para a DNISP o ciclo de produção do conhecimento (CPC) consiste de 4 fases: Figura 1 – Ciclo de Produção do Conhecimento REUNIÃO DE DADOS PLANEJAMENTO DIFUSÃO PROCESSAMENTO Fonte: Autora 3 Dado é toda representação de fato situação, comunicação, notícia, documento, extrato de documento, fotografia, gravação, relato, denúncia, ainda não submetida ao profissional de inteligência à produção do conhecimento. (DNISP, 2009) 4 Conhecimento é o resultado final da utilização da metodologia de Produção do Conhecimento, sobre dados e/ou conhecimentos anteriores (DNISP, 2009). 12 Quadro 1 – Ciclo de Produção do Conhecimento PLANEJAMENTO REUNIÃO DE DADOS PROCESSAMENTO DIFUSÃO São ordenadas de forma sistematizada as etapas do trabalho a ser desenvolvido; estabelecidos prazos, objetivos, prioridades e as técnicas a serem utilizadas. É a etapa em que se procura obter dados que respondam e/ou complementem os aspectos essenciais a conhecer, por meio de ações de coleta e/ou busca. A reunião de dados nada mais é; senão, pesquisa, consulta em arquivos, em bancos de dados, documentos, jornais, periódicos, internet e tantos quantos forem possíveis de se obter informação. É a fase na qual o conhecimento é produzido. É feita por metodologia própria O conhecimento produzido será formalizado em Documento de Inteligência e disponibilizado para o usuário final – o tomador de decisões Fonte: DNISP, 2009, com adaptações. Na DNISP existem duas naturezas de fontes de ISP; as fontes abertas que são as de livre acesso e as fontes protegidas que são aquelas cujos dados são negados. Existem várias maneiras de se obter dados para que o conhecimento seja produzido, que tomam por base as fontes, e de acordo com a DNISP, 2009 existem basicamente dois meios para a obtenção de dados: A Inteligência Humana e a Inteligência Eletrônica5. A Inteligência Humana tem como foco da obtenção de dados e conhecimentos o homem. Por natureza, o homem produz muita informação. Quando alguém posta algo nas mídias sociais, sejam nas redes, em blogs, em textos divulgados na internet, está produzindo informação. Informação essa que o profissional de inteligência coletará e transformará em conhecimento preciso, através do ciclo de produção do conhecimento. Em síntese, a produção do conhecimento é a coleta de dados, o processamento e a difusão com a finalidade de assessoramento. 5 Na Inteligência Eletrônica o foco central é o equipamento. Divide-se em inteligência de sinais que é responsável pela interceptação de comunicações e decodificação de mensagens criptografadas, inteligência de imagens que envolve a coleta e processamento de imagens obtidas e inteligência de dados que é a interceptação de sistemas de informática, telecomunicações e telemática. (Wendt e Barreto, 2013) 13 Além dos dois meios anteriormente citados para obtenção de dados, cabe destacar também a Inteligência de Fontes Abertas, ou Open Source Intelligence (OSINT) A OSINT é um processo conhecido na literatura especializada como a coleta, reunião e produção de conhecimento a partir de fontes abertas. Cepik classificou as fontes em relação à origem dos dados da seguinte maneira: De acordo com Cepik (2003, p. 35-36), Os meios de coleta e as fontes típicas de informação definem disciplinas bastante especializadas em inteligência, que a literatura internacional designa através de acrônimos derivados do uso norte-americano: humint (human intelligence) para as informações obtidas a partir de fontes humanas, sigint (signals intelligence) para as informações obtidas a partir da interceptação e decodificação de comunicações e sinais eletromagnéticos, imint (imagery intelligence) para as informações obtidas a partir da produção e da interpretação de imagens fotográficas e multiespectrais, masint (measurement and signature intelligence) para as informações obtidas a partir da mensuração de outros tipos de emanações (sísmicas, térmicas etc.) e da identificação de “assinaturas”, ou seja, sinais característicos e individualizados de veículos, plataformas e sistemas de armas. Além dessas disciplinas, que envolvem tanto fontes clandestinas quanto ostensivas, quando a obtenção de informações ocorre exclusivamente a partir de fontes públicas, impressas ou eletrônicas, essa atividade de coleta é então chamada de osint (open sources intelligence). Para o autor, OSINT consiste na obtenção legal de documentos oficiais, sem restrições de segurança. Para Cepik (2003, p.51) Quanto mais abertos os regimes políticos e menos estritas as medidas de segurança de um alvo para a circulação de informações, maior a quantidade de inteligência potecialmente obtida a partir de programas de osint. Mesmo sob condições mais restritivas de segurança, o volume de informações ostensivas dispiníveis tende a ser muito alto. Kent (1967) assinala que a maioria dos dados que precisamos saber/coletar está exatamente nas fontes abertas, as OSINTS, bastando para tal um estudo cuidadoso, criterioso e competente de fontes legítimas e verdadeiras. De acordo com Afonso (2006),o trato com a OSINT não é novo. É sabido que durante a Guerra Fria os Estados Unidos monitorou publicações oficiais da União Soviética. Com o atentado ao World Trade Center em 2001, a importância da utilização de fontes abertas ficou evidente. No Brasil, “o ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidencia da República, o General Jorge Armando Félix declarou que a ABIN estima em mais de 90% o conhecimento obtido das chamadas fontes abertas” (Afonso, 2006, apud Felix, 2005, p.50 e 51). Como as mídias sociais concentram um alto percentual do trafego da internet, tantos dados de caráter pessoal circulando requerem a atenção da atividade de inteligência. Sobre as mídias sociais na atividade de inteligência nos ensina Dantas e Ferro (2010). 14 6 A IntelFA tem como “matéria prima” vários tipos de informações. Ela pode valer-se de fontes midiáticas, circunstância em que sua matéria prima para processamento estará disponível originalmente em jornais, revistas, programas de televisão e de rádio, ou contida em outros tipos de fontes jornalísticas hoje existentes no ambiente virtual da rede mundial de computadores. A IntelFA também pode valer-se de material proveniente do mundo virtual, sem que ele seja, entretanto, midiático. É esse o caso em relação a produtos das modernas "comunidades sociais", em suas diferentes expressões. Uma característica marcante de tal tipo de fonte é o fato dele ser “de conteúdo gerado pelo próprio usuário”. É esse o caso das redes sociais, sítios pessoais em geral, sítios de material visual compartilhado, “wikis”, blogs e similares. As mídias sociais e a atividade de inteligência Vivemos um mundo de grandes avanços tecnológicos, a chamada era da informação ou era digital.7 Com o surgimento da World Wide Web (WWW), em 1990, o acesso às informações ficou mais amplo, consequentemente o conhecimento ficou mais fácil de ser construído. No Brasil, o uso da internet se consolidou em 1996. Em todos esses anos de internet no Brasil muita coisa está diferente. A internet está presente em nosso cotidiano e se tornou um dos principais meios de comunicação do país. Um dos principais espaços para coleta de dados nas fontes abertas é a internet. De acordo com Cepik (2003), a OSINT sempre foi importante na atividade de inteligencia, porém sua importância cresceu com o advento da era digital. Nessa revolução de divulgação de dados na web, estão as mídias sociais, que nada mais são que canais de relacionamentos na internet. De acordo com Monteiro (2012), “as mídias sociais são uma transformação no modo como a sociedde interage entre si”. Inserido nas mídias socias estão as redes socias. Podemos descrever a mídia social como um todo. E redes sociais algo que está dentro de mídias socias. Redes sociais são compostas por pessoas, grupos de pessoas reunidas com interesses comuns. Assim, mídia social pode ser entendido como o meio pelo qual as redes sociais são construidas. A partir das mídias sociais, a comunicação interpessoal se tornou mais ampla, o que favorece a troca de informações. A quantidade de informações disponível nas mídias permite que haja uma grande captação de dados passíveis de serem transformados em conhecimento. Dentre as redes sociais existentes, destam-se: 6 IntelFA - Inteligência de Fontes Abertas Era da informação (também conhecida como era digital) é o nome dado ao período que vem após a era industrial, mais especificamente após a década de 1980; embora suas bases tenham começado no princípio do século XX e, particularmente, na década de 1970, com invenções tais como o microprocessador, a rede de computadores, a fibra óptica e o computador pessoal. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Era_da_informa%C3%A7%C3%A3o) 7 15 Quadro 2 – Redes Socias Orkut Twitter Facebook Youtube Rede social criada em 2004 com objetivo de ajudar seus membros a conhecer pessoas e manter relacionamentos. Um dos principais recursos do site é a criação e participação de comunidades que é um espaço reservdo para pessoa que se identifique com um mesmo assunto. Rede social de microblog8, criada em 2006 que permite aos usuários enviar e receber informações de no máximo 140 caracteres. Serviço de rede social lançado em 2004 que permite que o usuário veja as postagens dos seus amigos através do feed de notícias. A cada postagem de um usuário todos os seus amigos também visualisam atraves dos feeds de notícia.9 Site criado em 2005, que permite que os usuários carregem e compartilhem vídeos em formato digital Fonte: Autora As mídias sociais são fontes de dados importantes a serem coletadas, porém é preciso cuidado na avaliação desses dados. Conforme Santos e Franco (2011), uma informação postada em uma Rede Social pode ser “confundida costumeiramente com desinformação, em que, cada indivíduo, que deseje, pode dizer o que bem entende, sem preocupação com a relevância ou veracidade do que é dito”. Essa troca de informações na internet já mobilizou a opinião de milhares de pessoas em todo o mundo, visto que as redes sociais tem um papel de influenciar a opinião pública. Como exemlo de mobilização na internet, destacam-se movimentos socias como a “Primavera Árabe”, uma expressão criada para designar uma série de protestos ocorridos no Oriente Médio que provocou a queda de alguns governantes. O caso mais recente é o Movimento Passe Livre (MPL), que liderou manifestações em alguns Estados do Brasil, diante do anúncio do governo no aumento das passagens de ônibus. As manifestações se iniciaram com passeatas marcadas por meio de redes sociais como Facebook e Twitter e tiveram adesão em vários outros espaços da mídia social como blogs e sites. As manifestações que começaram com o slogan “não é pelos 20 centavos” criaram forças e desencadearam outros tipos de 8 Microblog é uma forma de blog, onde os usuários postam mensagens muito curtas para visualização por meio de uma rede de pessoas. 9 É uma lista em constante atualização de históricos de pessoas e páginas que você segue no Facebook. 16 movimentos contra a corrupção, contra a ineficiência do serviço público, como movimentos como “copa pra quem” e “não vai ter copa”, todos eles passíveis de monitoramento pelas redes sociais. O acompanhamento desses movimentos que tiveram início nas redes sociais é de fundamental importância para a Segurança Pública. Acompanhar as mídias e as redes socias faz com que a segurança pública esteja preparada para o que pode acontecer. Saber que proporções uma simples postagem pode desencadear. Na internet, as notícias são repassadas instantaneamente, ficando disponível a todos, todavia para uma coleta de dados passível de se produzir conhecimento é importante frisar que o analista deve ser habilidoso e atento para os riscos que uma pesquisa pode causar. Existem vários sites que podem ser utilizados como fontes de coleta de dados, como sites de cartórios, Tribunais, Receita Federal, localizadores de Ips, infomações sobre cidades, estados, países, enfim, uma infinidade de informações está aberta. Para que uma coleta na internet seja feita com sucesso, é necessário que se conheça também outros mecanismos como sites de pesquisa e de localização de pessoas na web, pesquisas relativas a imagens, pesquisas de endereços, pesquisas sobre veículos, acessos a sites governamentais, além das ferramentas pagas para monitoramento de redes sociais. Dentre as ferramentas gratuitas de monitoramento de redes sociais podem ser citados: 1) SOCIAL MENTION: http://www.socialmention.com, você escolhe uma palavra e o site pesquisa menções em várias redes sociais, blogs, vídeos, imagens e outros. Pode ser criado um alerta e ser informado sobre atualizações do termo pesquisado. Figura 2 – Página do site de busca social mention Fonte: www.socialmention.com 17 Figura 3 – Pagina do site de busca social mention Fonte: www.socialmention.com 2) TWAZZUP: http://twazzup.com, o usuário se registra com uma conta do Twitter e o site mostra os comentários de acordo com uma menção ou palavra escolhida pelo usuário. Figura 4 - Pagina do site de busca twazzup Fonte: www.twazzup.com 18 Figura 5 - Pagina do site de busca twazzup Fonte: www.twazzup.com Figura 6 - Pagina do site de busca twazzup Fonte: www.twazzup.com 19 3) TOPSY: http://topsy.com, permite varredura em diversas redes sociais, em idioma específico, fotos, vídeos ou postagens. Figura 7 - Pagina do site de busca topsy Fonte: www.topsy.com Figura 8 - Pagina do site de busca topsy Fonte: www.topsy.com 20 Há que se considerar que para um monitoramento na área de inteligência existem ferramentas pagas que trabalham conforme a definição do usuário. Normalmente são programas que criam robôs que atuam como o ser humano, todavia em uma velocidade imensamente maior. Dentre os softwares pagos destaca-se: SCUP e BRANDVIEWER: Plataformas onde é possível o monitoramento do Facebook, Twitter, Google+, blogs e portais de notícias. Permitem a criação de filtros. FOCAL INFO: Plataforma que aplica metodologia de inteligência em Fontes Abertas da web. Considerações finais As mídias sociais integram um novo formato de comunicação, com isso a função da coleta de inteligência, a partir de fontes ostensivas, aumentou com a disseminação de bases eletrônicas de dados, acessíveis via internet. Trabalhar com coleta de dados em fonte aberta no “mundo digital” constitui tarefa relativamente fácil, no entanto, há que se considerar as vantagens e as desvantagens. Dentre as vantagens, está o baixo custo de obtenção; o aumento de oportunidade, o que amplia a possibilidade da atividade de inteligencia; e o fato de ser legalmente disponível. Como desvantagens, destacam-se a grande popularização das tecnologias o que gera uma grande quantidade de informação. Estas informações são por vezes duvidosas, visto que dentro da rede mundial de computadores também existe uma revolução; o crescimento de blogs e sites de relacionamentos, onde vários participantes postam idéias, valores e notícias por vezes desencontradas. As informações desencontradas poderiam prejudicar o agente de inteligência, o que não o priva de sua capacidade de compor um relatório de inteligência, bastando para isso uma especiliazação pertinente por parte do profissional que irá coletar as informaçoes postadas na “rede”. Mesmo com algumas desvantagens o acompanhamento das mídias sociais pode influenciar no resultado de um conhecimento produzido por fontes abertas; ressaltando-se apenas, atenção para a necessidade do pensamento crítico no tratamento das informações. Um dos problemas na administração de informações é justamente o de decidir que assuntos devem ser observados ou tornados objetos de uma pesquisa. Abstract With the advent of the Internet, the Intelligence Activity now has another means of obtaining data on open source. Thus, this article aims to examine whether the monitoring of social media can influence the results of a knowledge produced by open sources and exposure taken by netizens can generate safe or not data. This is a literature search. The results show that although there are false claims, if the intelligence agent know how to work this collected data on the internet, valid knowledge can be produced. 21 Referências AFONSO, Leonardo Singer. Fontes Abertas e Inteligência de Estado. Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, v. 2. N.2, 2006. p. 49-62. BRASIL, Lei 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9883.htm. Acesso em 8 de outubro de 2013. BRASIL, Ministério da Justiça. SENASP. Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública. Brasília, 2009. CEPIK, Marco. Espionagem e Democracia. Rio de Janeiro: FGV, 2003. 232 p. FERRO JÚNIOR, Celso Moreira; DANTAS, George Felipe de Lima. Inteligência De Fontes Abertas. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?colunas&colunista=9166_George_Dantas&ver= 670. Acesso em 29 agosto 2013. FIGUEIREDO, Lucas. Ministério do Silêncio. Rio de Janeiro: Record, 2005. FONSECA, João José Saraiva. Metodologia da Pesquisa Científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. GONÇALVES, Joanisval Brito. Atividade de Inteligência e Legislação Correlata. 2ª ed. Niterói, RJ Editora Ímpetus, 2011. 344p. KENT, Sherman. Informações Estratégicas. Rio de Janeiro: Editora Biblioteca do Exército, 1967. 213p. MONTEIRO, Diego, Monitoramento e métrica de mídias sociais. São Paulo, DVS Editora, 2012. PLATT Washington. A Produção de Informações Estratégicas. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, Livraria Agir Editora, 1974, 328 p SANTOS, Marco Antônio; FRANCO Jacinto Rodrigues. A Atividade de Inteligência na Segurança para o século XXI. Brasília: Prospect, 2011 WENDT, Emerson; BARRETO, Alessandro Gonçalves. Inteligência Digital. Rio de Janeiro: Brasport, 2013. 316 p.