Local do Evento: Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciências Humanas e Sociais Rua do Seminário, s/n Centro, Mariana, MG, Brasil. Ficha catalográfica elaborada pelo SISBIN / UFOP Ciclo de Estudos da Religião: Cristianismo: Ritos e Representações C586c (8.:2006: Ouro Preto) Caderno de resumos e programação do VIII Ciclo de Estudos da Religião: Cristianismo: Ritos e Representações / Diego Omar da Silveira, Ivan Antonio de Almeida [organizadores].- Ouro Preto, 2006. 39 p. ISBN 85-288-0255-8 1. Cristianismo-História. 2. Igreja Católica. 3. Filosofia. 4. Teologia. I. Silveira, Diego Omar da. II. Almeida, Ivan Antonio de. CDU – 23/28 Diagramação Maykon R. dos Santos O conteúdo e a revisão dos resumos são da responsabilidade dos autores. Editora da Universidade Federal de Ouro Preto Centro de Convergência (CIED) Campus Universitário Morro do Cruzeiro Morro do Cruzeiro, Ouro Preto, MG CEP: 35400-000 www.ufop.br 2 VIII Ciclo de Estudos da Religião Cristianismo: Ritos e Representações Mariana, 12 a 14 de setembro de 2006 CADERNO DE RESUMOS E PROGRAMAÇÃO Diego Omar da Silveira Ivan Antonio de Almeida (organizadores) Apoio: Departamento de História - DEHIS Pró-Reitoria de Graduação - PROGRAD Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - PROPP Núcleo de Estudos Aplicados Sócio-Políticos Comparados - NEASPOC Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG 3 Comissão Organizadora Coordenadores Prof. Dr. Ivan Antonio de Almeida Diego Omar Silveira Secretaria Camila Machado Menezes Eduardo Truhlar Martins Emanuel José dos Santos Colaboradores Prof. Ms. Fabrício Roberto Costa Oliveira Comitê Científico Prof. Dr. Ivan Antonio de Almeida (UFOP); Prof. Dr. Celso Taveira (UFOP); Prof. Dr. Sergio Ricardo da Mata (UFOP); Prof. Ms. Fabrício Roberto Costa Oliveira (UFOP) Prof. Dr. Paulo Roberto de Andrada Pacheco (UFOP); Pe. Ms. Lauro Versiani (FAM) 1 ; 1 Faculdade Arquidiocesana de Mariana 4 Sumário Apresentação ................................................................................................................ 07 Programação ................................................................................................................. 09 Conferências ................................................................................................. 10 Mesas-Redondas ......................................................................................... 11 Comunicações .............................................................................................. 13 Resumos dos trabalhos ................................................................................................ 16 Índice remissivo por nomes dos autores ..................................................................... 34 Programação geral do evento ...................................................................................... 36 5 6 Apresentação Ainda no início do século XXI, as múltiplas facetas que compõem a história do cristianismo continuam impondo a seus pesquisadores enormes desafios. Isso porque ao longo de mais de dois mil anos a mensagem cristã permeou (de forma bastante plástica) diversas culturas e muitas outras experiências e vivências religiosas. Sua rápida expansão no mundo judeu e no universo greco-romano, tão marcante nos primeiros séculos do cristianismo, não é menos espantosa que a fluidez com que o pensamento cristão se adaptou à modernidade e, como querem alguns, à pós-modernidade. Embora encontremos com certa facilidade pesquisadores que nos apontam a inaptidão da mensagem cristã aos dias atuais, é certo que o cristianismo continua uma chama viva no seio de nossa sociedade. Os cristãos são, ainda, mais de dois bilhões espalhados pelos cinco continentes do mundo. No Brasil, apenas os católicos compõem um contingente de 120 milhões de fiéis. Vale, no entanto, chamar a atenção para a diversidade existente entre os próprios cristãos. Esses mesmos católicos que hoje representam 73,89% dos brasileiros já foram na década de 1970 cerca de 91% de nossa população. O que, tanto estes dados quantitativos quanto as pesquisas sobre o cristianismo no Brasil tem tornado evidente é que, cada vez mais, instituições e hierarquias são preteridas em função de novas vivências religiosas. Em síntese, o que queremos evidenciar é que o cristianismo foi desde sua fundação uma religião histórica de intenso diálogo com as múltiplas culturas. Diversas sociedades se formaram mesmo sobre a égide do cristianismo, tornado religião oficial, de Estado. Da mensagem de amor e doação das primeiras comunidades cristãs à intolerância dos Tribunais da Santa Inquisição, o cristianismo conheceu muitas facetas, várias delas políticas, que serviram tanto à libertação quanto à opressão de grupos sociais inteiros. Ao propormos nosso tema deste VIII Ciclo de Estudos da Religião: Cristianismo: Ritos e Representações, buscamos discutir alguns dos aspectos centrais da história desta que é a maior religião monoteísta do mundo. Como cada participante poderá perceber, as pesquisas aqui apresentadas, quase que em uma linha temporal, dão um traçado das evoluções (e involuções) do cristianismo em diversas sociedades, diversos tempos, diversos locais. Das escrituras apócrifas aos desafios dos cristãos no século XXI sobressai o poder desta religião em converter multidões através de uma mensagem de salvação. A certeza da concretização da justiça e do amor talvez estejam na base desses dois milênios de tão rica história. Sabemos que as pesquisas que se apresentam em nosso ciclo são apenas um pequeno demonstrativo das possibilidades de pesquisa que uma tão rica temática nos oferece. O que tentamos nesse sentido foi ligar-nos a iniciativas como os Simpósios da Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR) e do Centro de Estudos da História de Igreja na América Latina (CEHILA). O fortalecimento de cada um desses nossos eventos e grupos de pesquisa serve para solidificar dentro das universidades brasileiras esse campo de estudos que ainda carece tanto de aprofundamento. Esperamos poder colaborar 7 com este ciclo de estudos para o aprofundamento do conhecimento nesta área, para o despertar de questionamentos e para o desenvolvimento de novos trabalhos que fortaleçam a história das religiões (do cristianismo em especial) como um sólido campo de pesquisas; essa tem sido nossa maior meta. Desejamos a todos um ótimo ciclo e que sejam todos bem vindos em nossa Universidade. Diego Omar da Silveira Ivan Antonio de Almeida 8 Programação ATIVIDADES CULTURAIS Audição comentada: “A Grande Missa dos Mortos”, de Hector Berlioz Prof. Dr. Celso Taveira (UFOP) Dia 12 de setembro, terça-feira, às 11:00h no auditório. Apresentação musical - piano Lis Mendes (UFMG) Dia 13 de setembro, quarta-feira, às 08:00h no auditório. Exibição e debate do documentário “O Evangelho de Judas” Prof. Lúcio Marques (FAM) Dia 13 de setembro, quarta-feira, às 14:00h no auditório. Visita monitorada ao Museu de Arte Sacra da Arquidiocese de Mariana Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 11:00h. Abertura das exposições e coquetel de encerramento: Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 21:00h na Sala Affonso Ávila. Fotos - 11 anos do Núcleo de Estudos da Religião (NER) Chora INGOMA: um canto à Mãe do Rosário Fotos e textos de Sueli do Carmo Oliveira e Juliana Salles Siqueira 9 CONFERÊNCIAS Conferência de Abertura “Simbologia de Maria e Jesus nos Evangelhos Apócrifos e na Torá” Frei Jacir de Freitas Faria Dia 12 de setembro, terça-feira, às 08:30h no auditório. “A música no rito cristão” Frei Joaquim Fonseca, OFM Dia 12 de setembro, terça-feira, às 10:00h no auditório. “A língua latina e o Cristianismo romano” Prof. Ms. Aldo Eustáquio Assir Sobral Dia 12 de setembro, terça-feira, às 16:30h no auditório. “Religião e Etnicidade: dois casos de ‘Negritude Católica’ na diáspora” Prof. Dr. Pierre Sanchis Dia 13 de setembro, quarta-feira, às 16:30h no auditório. Conferência de Encerramento “Os desafios dos cristãos no século XXI” Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 19:30h no auditório. 10 MESAS-REDONDAS Paganismo e Cristianismo: transições “Transições?” Pe. Ms. Antonio Silva da Paixão – Pe. Nequinho (FAM) “Cristianismo e mundo clássico” Prof. Dr. José Leonardo do Nascimento (UNESP) Mediador: Prof. Dr. Fábio Hering (UFOP) Dia 12 de setembro, terça-feira, às 14:00h no auditório. Judaísmo e Cristianismo: assimilações “A herança judia e as primeiras comunidades cristãs” Prof. Dr. Marcio Loureiro Redondo (FTSA) “Da convivência à intolerância: Os Batizados em Pé” Profa. Dra. Benair Alcaraz Fernandes Ribeiro (USP) “Judeus da memória, cristãos sem fé? Inquisição e sobrevivência judaica no Brasil colonial” Prof. Dr. Ângelo Adriano Faria de Assis (UFV) Mediador: Prof. Dr. Ivan Antônio de Almeida (UFOP) Dia 12 de setembro, terça-feira, às 19:30h no auditório. Cristianismo e Idade Média “Graça e pecado em Santo Agostinho e sua recepção no pensamento contemporâneo de Heidegger” Prof. Dra. Marta Luzie de Oliveira Frecheiras (UFOP) “Cristianismo Oriental e Ocidental: premissas e suscetibilidades” Prof. Dr. Celso Taveira (UFOP) Mediadora: Prof. Dr. Paulo Roberto de Andrada Pacheco (UFOP) Dia 13 de setembro, quarta-feira, às 08:30h no auditório. Aspectos do protestantismo e da contra-reforma. “A compositio loci nos exercícios espirituais inacianos: uma imagem que educa” Prof. Dr. Paulo Roberto de Andrada Pacheco (UFOP) “O ‘espírito’ protestante na sociedade brasileira” Prof. Dr. César Romero A. Vieira Mediador: Prof. Dra. Virgínia Albuquerque de Castro Buarque (UFOP) Dia 13 de setembro, quarta-feira, às 10:30h no auditório. 11 Igreja, barroco e sociedade nas Minas colonial “Representações do Santíssimo Sacramento nos Livros de Compromisso de Irmandades Mineiras no século XVIII” Márcia Almada (SEC-MG) “A música sacra em Minas Gerais no século XVIII e XIX” Prof. Fábio Henrique Viana (UFOP) “Mariana a cidade ‘adornada’: imitação e decoro nos discursos da arquitetura e da povoação no século XVIII luso-brasileiro” Prof. Ms. Rodrigo de Almeida Bastos (USP) Mediadora: Profa. Ms. Cecília F. Figueiredo (UFOP) Dia 13 de setembro, quarta-feira, às 19:30h no auditório. A Romanização do catolicismo brasileiro “Festas populares, Romanização e ação Redentorista em Juiz de Fora” Profa. Ms. Valéria Leão Ferenzini “O Concílio Vaticano I: sua significação na Igreja do Brasil” Pe. Warllen Antonio Ferreira Dias Mediador: Diego Omar Silveira (NER) Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 08:30h no auditório. Cristianismo e século XX “Religião e modernidade em Ernst Troeltsch” Prof. Dr. Sérgio Da Mata (UFOP) “A crise do Cristianismo Humanista: o caso da Igreja Metodista” Prof. Dr. James William Goodwin Junior (CEFET) “Desafios de um nome: historiografia e experiência cristã no Brasil” Prof. Dr. Eduardo Gusmão de Quadros (UCG e presidente do CEHILA) Mediador: Prof. Crisoston Terto Vilas Boas (UFOP) Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 13:30h no auditório. 12 COMUNICAÇÕES Sessão 1 Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 16:30h nas salas de aula Coordenador: Eduardo Gabriel “Entre a igreja e o museu: o processo de dessacralização do Santuário do Senhor Bom Jesus em Congonhas” Herinaldo Oliveira Alves (UFOP) Diego Omar da Silveira (UFOP) “Novos espaços do sagrado na sociedade contemporânea” Eduardo Gabriel (USP) “A tristeza dos ‘prazeres egoístas’: representações da homossexualidade no discurso católico” Marcelo Natividade (UFRJ) Leandro de Oliveira (UERJ) “A construção de um caráter cristão no discurso político-evangélico” Débora Martins C. B. Santos (UFMG) “Estado democrático de direito e religião” Júlio Aguiar de Oliveira (UFOP) Sessão 2 Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 16:30h nas salas de aula Coordenador: Mauro Passos “O milagre de São José: a Festa do Corpo de Deus e ascensão econômica dos forros em Vila Rica (1740-1748)” Bruno Assaf Bernardes de Araújo (UFOP) “O Sagrado, a tradição, a festa: em busca de vivências religiosas” Mauro Passos (PUC-Minas) “A festa, o tempo e o trabalho em interlocução” Igor Madeira Loureiro (UFV) “Jubileu de Nossa Senhora da Conceição em Senador Firmino: entre a religião oficial e popular” Weslley Ribeiro de Oliveira Sales (UFV) Sessão 3 Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 16:30h nas salas de aula Coordenadora: Patrícia Ferreira dos Santos 13 “Joana D´Arc, as representações de uma santa guerreira” André Pereira Rocha (UFOP) “Um ensinamento bíblico em Gil Vicente: ‘Mui estreita é esta Barca’" Dulce Viana Mindlin (UFOP) Danúbia Aline Silva (UFOP) “A Igreja, o catolicismo e suas representações nas Minas Setecentistas: uma análise das Cartas Pastorais de Dom Frei Manoel da Cruz (1748-1764)” Patrícia Ferreira dos Santos (USP) Sessão 4 Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 16:30h nas salas de aula Coordenador: Júlio Aguiar de Oliveira “Las Casas, os direitos e os índios” Júlio Aguiar de Oliveira (UFOP) “Implementando a Romanização: a Igreja entre a reforma do clero e a reeducação dos fiéis” Germano Moreira Campos (UFOP) “A correspondência de Madre Maria José de Jesus e Capistrano de Abreu” Virgínia A. de Castro Buarque (UFOP) “A Ação Católica sob a ótica da revista ‘A Ordem’” Gilcéia Freitas Magalhães (Fac. de Direito de Conselheiro Lafaiete) Sessão 5 Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 16:30h nas salas de aula Coordenador: Fabrício Roberto Costa Oliveira “O Movimento da Boa Nova e a difusão de idéias religiosas progressistas na Arquidiocese de Mariana” Fabrício Roberto Costa Oliveira (UFOP) “De onde vieram as idéias religiosas? Uma análise do caso de Porto Firme – MG” Reinaldo Azevedo Schiavo (UFV) Fabrício Roberto Costa Oliveira (UFOP) “As Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e os novos desafios da realidade social brasileira (1992-2006)” Diego Omar da Silveira (UFOP) Sessão 6 Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 16:30h nas salas de aula Coordenação: Emanuel José dos Santos 14 “A Cruzada e o Oriente” Luana Gilmara Tozato (UFOP) “O Oriente Sagrado: Os santos na sociedade bizantina e ortodoxa” Marina de Oliveira Furlan (UFOP) “A figura do Papa do Tarot” Emanuel José dos Santos (UFOP) “O ‘ingenio artístico’ e as pinturas sacras nas terras coloniais do ouro” Juam Carlos Thimótheo (UFOP) “Películas Sagradas: a experiência do Cristo transformada em experiência fílmica” Daniel Chagas da Fonseca (UFOP) Sessão 7 Dia 14 de setembro, quinta-feira, às 16:30h nas salas de aula Coordenação: Eduardo Truhlar Martins “O espiritismo e suas singularidades” Eduardo Truhlar Martins (UFOP) “Elementos da Paixão de Jesus segundo Mateus” Anderson Eduardo de Paiva (FAM) Leandro José de Souza Martins (FAM) “Atos dos Apóstolos e as primeiras comunidades cristãs” Ivan Antonio de Almeida (UFOP) “O papel do Cristo na visão de Rudolf Steiner” Eduardo Truhlar Martins (UFOP) 15 RESUMOS DOS TRABALHOS (ordem alfabética por autor) Exposição OLIVEIRA, Sueli do Carmo. E-mail: [email protected] Graduanda em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) SIQUEIRA, Juliana Salles de. E-mail: [email protected] Graduanda em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) CHORA INGOMA: UM CANTO À MÃE DO ROSÁRIO É no Congado que cânticos e instrumentos sagrados se unem em devoção à Mãe do Rosário. As fotografias apresentadas nesta exposição retratam os congadeiros na Festa de Nossa Senhora do Rosário em Itaúna, MG, num momento em que ingomas e gungas choram; e homens cantam um canto aos antepassados, à Nossa Senhora, rememorando os sofrimentos do tempo do cativeiro que se estendem até os nossos dias. Palavras-chave: Congado, devoção, Nossa Senhora do Rosário. Comunicações ALMEIDA, Ivan Antonio de. E-mail: [email protected] Professor Adjunto do Dep. de História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) ATOS DOS APÓSTOLOS E AS PRIMEIRAS COMUNIDADES CRISTÃS A simplicidade da mensagem cristã gerou inúmeras possibilidades históricas da sua prática. O cristão hoje, mesmo aquele ligado a uma instituição religiosa, o estudante, o professor de história ou ainda o historiador, conhece pouco da história do cristianismo e mesmo da sua própria instituição. O estudo do Ato dos Apóstolos faz parte de um projeto mais amplo que trata da “identidade cristã”. O texto é o mais antigo e um dos poucos documentos dos primeiros tempos das comunidades cristãs. Através da sua leitura é possível estabelecer referências para a história dos primeiros séculos do cristianismo. Palavras-chave: Cristianismo, Atos dos Apóstolos, primeiras comunidades cristãs. ALVES, Herinaldo Oliveira. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) SILVEIRA, Diego Omar da. E-mail: [email protected] Pós-graduando em Cultura e Arte Barroca - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) ENTRE A IGREJA E O MUSEU: O PROCESSO DE DESSACRALIZAÇÃO DO SANTUÁRIO DO SENHOR BOM JESUS EM CONGONHAS 16 As transformações em espaços reconhecidamente destinados a funções religiosas, tanto na Europa quanto no Brasil, têm sido freqüentes nas últimas décadas. Um exemplo bastante elucidativo deste processo de dessacralização é o projeto denominado “Centro de Referência do Barroco e Estudos da Pedra”, conhecido entre a população da cidade de Congonhas como “Museu de Congonhas”. Com cerca de oito mil metros quadrados em construção, a obra alterará todo o entorno da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, transformando um espaço da fé (por excelência) em um espaço museal. Estão previstas áreas para abrigar os ex-votos e as réplicas dos famosos Profetas do Aleijadinho. Há também um espaço destinado a peças históricas que não são apontadas no projeto, tudo isso onde hoje existem salões destinados a missas e confissões. Congonhas recebe, atualmente, durante os dias do Jubileu (7 a 14 de setembro) um contingente superior a 160 mil romeiros, que mantém viva a devoção ao Senhor Bom Jesus de Matozinhos. O marco inicial dessa devoção foi o ano de 1757 e seu grande propagador e reformulador foi Feliciano Mendes. Por ocasião da sua morte, em 1765, há registros no inventário post-mortem de cômodos construídos para abrigar os peregrinos que já se dirigiam àquele Santuário. A quantidade de devotos torna-se tão expressiva que em 1779 o Papa Pio VI concede aos “irmãos e peregrinos do Bom Jesus”, a partir dos Breves emitidos, uma autorização para a realização do Jubileu do Senhor Bom Jesus, o mais antigo de Minas Gerais. O trabalho que ora propomos busca avaliar o processo da dessacralização desse espaço e seus impactos no homem que vivencia, ali, a sua fé. Palavras-chave: Congonhas, Santuário, Museu. ARAUJO, Bruno Assaf Bernardes de. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) O MILAGRE DE SÃO JOSÉ: A FESTA DO CORPO DE DEUS E ASCENSÃO ECONÔMICA DOS FORROS EM VILA RICA (1740-1748) A presente proposta de comunicação visa relacionar o funcionamento interno da irmandade de São José, criada pelos pardos em 1730, na freguesia de Nossa Senhora do Pilar em Vila Rica, com a ascensão sócio-econômica dos seus membros, geralmente forros, por intermédio da festa do Corpo de Deus, organizada pelo Senado da Câmara de Vila Rica. As irmandades de caridade foram instituídas nas Minas no início do século XVII, como parte da política centralizadora desempenhada pelo Império Colonial Português objetivando a afirmação do poder régio em uma região onde os motins eram corriqueiros. Neste contexto de “soberania fragmentada”, proposto por Carla Anastasia, a Igreja 17 através das irmandades de caridade desempenham um papel primordial para tornar a sociedade setecentista mineira mais fluida, o que ocorria por ocasião das festividades. Por fim, recorte temporal para o estudo desta festa nas Minas abarcará o período de 1740 até 1748, por ser uma época onde havia maiores vínculos relacionais nas Minas, propiciando uma certa fluidez entre seus habitantes, embora as hierarquias fossem muito bem definidas. Palavras-chaves: Minas Colonial, Irmandades de Caridade, Festividades setecentistas. BUARQUE, Virgínia A. de Castro. E-mail: [email protected] Professora Adjunta do Dep. de História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) A CORRESPONDÊNCIA DE MADRE MARIA JOSÉ DE JESUS E CAPISTRANO DE ABREU Durante dezesseis anos, Madre Maria José de Jesus, a filha primogênita do historiador Capistrano de Abreu, monja carmelita do Convento de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, vivendo sob rigorosa clausura, manteve correspondência com seu pai. Através dessas cartas, Madre Maria José buscou não somente socializar suas práticas e dar sentido às mesmas, como também tornou-as instrumento de apostolado letrado, visando obter a conversão de Capistrano à fé católica. A despeito de não ter atingido seu intento, sua escrita epistolar possibilita uma interpretação histórica do processo de configuração da subjetividade, em suas inter-relações com a cultura e o poder. Palavras-chave: Espiritualidade, correspondência, subjetividade. CAMPOS, Germano Moreira. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) IMPLEMENTANDO A ROMANIZAÇÃO: A IGREJA ENTRE A REFORMA DO CLERO E A REEDUCAÇÃO DOS FIÉIS Nosso trabalho objetiva apresentar e refletir o projeto romanizador da Igreja Católica e os aspectos da sua implementação na Arquidiocese de Mariana. Para tanto, vamos destacar os esforços iniciais do grande bispo dom Antônio Ferreira Viçoso, que governou a arquidiocese por mais de trinta anos – entre as décadas de 1840 e 1870 – e foi o principal elemento par a implementação da reforma que se queria no culto e nas formas de se viver a fé na região. Torna-se interessante analisarmos que a romanização – vista enquanto a busca de uma fé católica mais próxima dos ideais definidos pela hierarquia da Igreja de Roma – buscou atuar em duas frentes: 1- a reforma moral e doutrinária dos religiosos locais, que estavam historicamente ligados à política, casamentos e filhos es18 cusos, além de outras situações mundanas; 2- busca de alterar as concepções e práticas religiosas populares, muito ligados às influências das diversas irmandades, adeptos da “religiosidade do espetáculo” e do sincretismo tão exteriorizados em cultos e festas. Nossas fontes constam desde cartas pastorais e breves que circularam no governo de dom Viçoso e informações do jornal O Bom Ladrão – criado pelo mesmo bispo – e debate com importantes fontes bibliográficas como Riolando Azzi, Pedro Ribeiro de Oliveira e outros grandes estudiosos da nova postura adotada pela Igreja no século XIX. Palavras-chaves: Dom Viçoso, transformação da experiência da fé. FONSECA, Daniel Chagas da. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) PELÍCULAS SAGRADAS: A EXPERIÊNCIA DO CRISTO TRANSFORMADA EM EXPERIÊNCIA FÍLMICA Na década de 1920, o cinema consolidava-se enquanto arte através dos trabalhos de talentosos diretores que, em diversas partes do mundo, construíram uma das décadas mais criativas da história do cinema. Em 1927, os truques manuais de luzes e sombra já foram utilizados por Cecil Demille para levar as telas os milagres de Cristo. Nas décadas seguintes, a experiência terrena vivida pelo filho de Deus continuaria a despertar o interesse de diretores das mais variadas formações, suas adaptações podendo causar calorosos protestos entre os fiéis. Sendo assim, a proposta da comunicação consiste em abordar as diversas produções que, ao longo desses pouco mais de cem anos de cinema, propuseram-se como tema a experiência humana do Cristo – proposta esta visitada desde os primórdios do cinema e que atraiu os mais diferentes olhares, de Jean-Luc Godard ao hollywoodiano Mel Gibson. Palavras-chave: Cinema, Cristianismo, História. FURLAN, Marina de Oliveira. E-mail: [email protected] Graduanda em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) O ORIENTE SAGRADO: OS SANTOS NA SOCIEDADE BIZANTINA E ORTODOXA O estudo da vida dos santos situa-se no domínio da hagiografia. Trata-se de área pouco estudada, o que não corresponde à importância histórica que a beatificação assume na história das sociedades cristãs. Assim, partimos da seguinte premissa, que é uma interrogação: o porque da necessidade que a sociedade tem de cultuar 19 seus santos, num mecanismo que, por princípio, contradiz uma religião que se apresenta como monoteísta, ou seja, cultua um Deus único? Por extensão, pretendemos estudar os mecanismos através dos quais surge ao longo da história a figura do santo. Santo, segundo The Oxford Dictionary of Bizantium, santo é aquele que possui como características sua luta constante contra demônios e sua capacidade de realizar milagres. O processo que faz com que uma pessoa seja reconhecida como santa é chamado de canonização. Esta, no Ocidente ficou reservada para a Sé Romana a partir do pontificado do papa Alexandre II (1061-1073) no século IV. No Oriente ortodoxo (Grécia e Rússia) o processo de canonização foi e é menos rigoroso que na Igreja Romana; lá até um imperador (Constantino no século IV) foi canonizado. Em Bizâncio não há um processo formal de canonização até muito tarde na sua história. Além disso, o livro Holy Women of the Syrian Orient, mostra que a maioria das canonizações no Oriente eram concedidas para homens e de classe dominante. Atualmente, nota-se uma intensa política de beatificações, que nada mais é que uma reação à proliferação de outras igrejas e também uma necessidade de conforto espiritual mediante uma vida material cada vez mais difícil. Palavras-chave: Cristianismo, Bizâncio, Santo. GABRIEL, Eduardo. E-mail: [email protected] Doutorando em Sociologia - Universidade de São Paulo (USP) NOVOS ESPAÇOS DO SAGRADO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA O fenômeno religioso na sociedade contemporânea tem se reproduzido cada vez mais em espaços tradicionalmente laicos. O presente estudo tem por objetivo mapear estes novos locais do sagrado, observando particularmente o catolicismo carismático. A Renovação Carismática Católica (RCC) ainda é o grande movimento religioso dentro da Igreja Católica que tem conseguido se destacar na disputa de forças dentro do campo religioso, dado os eventos de grande concentração que promove, aliado à sua forte presença nos meios de comunicação. Nos últimos anos a RCC foi a responsável por uma série de iniciativas religiosas em espaços que não comportavam a presença do sagrado. Assim, no interior da universidade surge em 1994 o Projeto Universidades Renovadas (PUR), como iniciativa de evangelização carismática para se alcançar jovens universitários através de Grupos de Oração Universitários (GOU). Com dez anos de atividades, este projeto está presente nas mais diversas universidades do país, públicas, privadas ou confessionais. Em 2004, surge outro movimento de grande destaque entre os jovens, a Cristoteca, que reúne entre 500 a 2500 num espaço de discoteca por meio de evangelização com músicas católicas (Tecno-católico, Forró de Jesus, Axé católico, etc). Outros espaços de evangelização carismática são os Barzinhos de Jesus, uma idéia pró20 xima a dos bares que a juventude costuma freqüentar, com bandas (católicas) tocando ao vivo, mesinhas, pista para dança, cristolanche, etc. Não é cobrada entrada e não é permitido bebidas alcoólicas. Os Evangelizashows são uma espécie de festival cultural com apresentação de teatro para evangelização (Cristoarte), danças, pintura, poesia, etc. Outras iniciativas de evangelização se estendem desde parques de diversão, como o evento “Um toque de alegria”, que foi realizado no Hopi Hari, como também festivais musicais na Casa de Show Olympia, em São Paulo. Estes são apenas alguns entre uma série de outros eventos de evangelização carismática em novos espaços não sagrados. Quais as dimensões da fronteira do sagrado estão sendo mobilizadas na reprodução do fenômeno religioso nestes novos espaços da sociedade contemporânea? Orientado pelo interesse de uma análise sociológica, espera-se apresentar os fluxos propulsores deste alargamento e consolidação do sagrado nestes novos espaços tradicionalmente esvaziados de sentido religioso. Palavras-chave: Espaços do Sagrado, sociedade contemporânea, Renovação Carismática Católica. LOUREIRO, Igor Madeira. E-mail: [email protected] Bacharelando em História - Universidade Federal de Viçosa (UFV) A FESTA, O TEMPO E O TRABALHO EM INTERLOCUÇÃO Este trabalho analisa as transformações da festa popular de Nossa Senhora do Rosário em função dos processos de urbanização e industrialização que passou a cidade de Ipatinga-MG na década de 1960, a partir da instalação da Usina Siderúrgica de Minas Gerais (Usiminas). Resultados parciais de nossa pesquisa revelam que o grupo chamado “Congado do Ipaneminha” fundado em 1925, formado basicamente por trabalhadores rurais que tradicionalmente comandam a festa de Nossa Senhora do Rosário, sofreu uma grande transformação em função da instalação da Usiminas, já que esta dinamizou a economia e acabou por empregar diversos integrantes do congado e outros atores sociais engajados na Festa do Rosário, e em função disso os horários para a realização dos eventos festivos tornaram-se mais restritos. Sendo assim, isto provocou a secularização da manifestação simbólico-cultural do Congado do Ipaneminha. Visto que, houve uma inversão de sentido na vida dessas pessoas, pois o que era relativo às Festas Congado do Ipaneminha passou a ser colocado em segundo plano. Desse modo, em decorrência da institucionalização dos horários, bem como das longas jornadas houve o encurtamento dos momentos de folga e laser, e conseqüentemente a diminuição de tempo da Festa de três para apenas um dia. Por conseguinte, para muitos de seus participantes a Festa começou a perder o seu caráter intocável, tendo que se adequar às atividades profissionais dos congadeiros, enquanto que em outros 21 tempos eram as ocupações que se adaptavam às festividades. Nesta perspectiva nosso trabalho revela que a festa, o tempo e o trabalho estão intercambiados. Palavras-chaves: Festa, tempo, trabalho. MAGALHÃES, Gilcéia Freitas. E-mail: [email protected] Graduanda em Direito - Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete A AÇÃO CATÓLICA SOB A ÓTICA DA REVISTA “A ORDEM” Nossa comunicação tem por objetivo apresentar uma reflexão acerca da atuação da Igreja Católica no contexto político do Estado Novo (1937-45), tendo em vista o modelo da neocristandade em que a Instituição visava exercer sobre a nação sua influência política. Neste contexto, merece destaque o grupo de intelectuais católicos ligados ao Centro Dom Vital e liderados pelo Cardeal Dom Sebastião Leme. O discurso estado-novista, caractrístico da década de 30, é quase um marco da participação dos intelectuais católicos na vida política. O que tal discurso procura enfatizar é a coincidência de interesses, é a possibilidade que o novo regime dá para que o intelectual se integre a ele. A criação das novas repartições públicas ampliou o mercado de postos no campo cultural possibilitando uma aproximação dos intelectuais com o poder, e a hierarquia católica percebeu a importância de ter os formadores e multiplicadores de opinião como aliados, como colaboradores da imprensa cristã, sobretudo nas revistas e associações católicas. A partir da instituição do Estado Novo podemos perceber também uma consolidação nas relações entre a Igreja e o governo, uma nova fase de cooperação e aproximação. O trabalho da Igreja – contra o que esta chamava de “infiltração comunista” – através da Ação Católica, a ligação com os intelectuais e a busca pelo apoio das massas católicas fizeram da Instituição uma aliada indispensável do regime, ao mesmo tempo em que impunha propostas no espaço político nacional. A participação de intelectuais católicos no governo facilitou estas relações. Através da análise dos textos publicados por este grupo de intelectuais na revista A Ordem, sugerimos que a formação da Ação Católica esteve sempre indissociável de interesses políticos. Palavras-chave: Ação Católica, intelectuais, Estado-Novo. MARTINS, Eduardo Truhlar. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) O ESPIRITISMO E SUAS SINGULARIDADES O objetivo deste trabalho é mostrar o que faz o espiritismo uma doutrina singular em relação as demais doutrinas espiritualistas. Para tanto exponho o que caracteriza a doutrina espírita e alguns fenômenos relativos aos espíritos registrados por periódicos e cientistas de várias partes do mundo, no decorrer do século XIX. Den22 tre estes, pode-se citar William Crookes e Hippolyte Léon Denizard Rivail, nome civil de Allan Kardec. Busco, ainda, apontar a formulação de falsos conceitos como “espiritismo de mesa branca” e “espiritismo kardecista”. Além de não fazerem parte do vocabulário espírita, esses conceitos são utilizados erroneamente para diferenciar o espiritismo da umbanda e para atribuir a doutrina a Kardec, por exemplo. Palavras-chave: Espiritismo, Kardec, século XIX. MARTINS, Eduardo Truhlar. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) O PAPEL DO CRISTO NA VISÃO DE RUDOLF STEINER Através deste estudo, objetivo apresentar uma nova forma de abranger a vida de Jesus Cristo baseado nas obras de Rudolf Steiner, o fundador da Antroposofia. De acordo com Steiner, os mistérios da Antiguidade são conhecimentos transmitidos a um público rigorosamente selecionado por grupos fechados, como os Pitagóricos e os Essênios. Após serem iniciados nos mistérios da Antiguidade, era possível a essas pessoas participarem diretamente das verdades divinas, em uma situação de familiaridade com Deus. O papel do Cristo Jesus foi o de expor publicamente os conhecimentos iniciáticos para toda a humanidade. A sua crucificação constitui um ritual de iniciação singular em todo o mundo. A partir desse momento, a todas às pessoas é possível se tornarem iniciadas sem a necessidade de freqüentarem grupos fechados para receberem os conhecimentos divinos. Palavras-chave: Cristo, Antroposofia, Rudolf Steiner. MINDLIN, Dulce Viana. Professora Adjunta do Dep. de Letras - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) SILVA, Danúbia Aline. E-mail: [email protected] Graduanda em Letras - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) UM ENSINAMENTO BÍBLICO EM GIL VICENTE: “MUI ESTREITA É ESTA BARCA" Entre os muitos ensinamentos religiosos encontrados na Bíblia, Cristo, em um dos seus discursos, descreve dois diferentes caminhos para dois diferentes grupos de pessoas. Um dos caminhos é espaçoso, largo, atrativo e fácil de ser percorrido. No entanto, segundo o texto bíblico, esse é um caminho que conduz à perdição, à morte eterna. Nesse percurso, encontram-se aqueles que pouco estão preocupados com sua salvação e com as verdades divinas. O outro caminho, porém, não é fácil de ser percorrido; é exigido certo esforço. Esse percurso é estreito, exigindo daqueles que o percorrem muito cuidado e aten23 ção, uma vez que facilmente se pode desvir dele. Esse, no entanto, é o caminho que conduz à vida eterna. É nesse trajeto que se encontram aquelas pessoas realmente dispostas a agradar a Deus e a fazer a sua vontade. Ao se considerar o conjunto de idéias e significados tanto do contexto bíblico quanto do contexto vicentino, torna-se pertinente estabelecer uma relação entre Porta Estreita (texto bíblico) e Barca Estreita (texto vicentino). Ambas se entrelaçam em uma mesma rede de sentidos; apresentam diversas características em comum e o grupo de pessoas que tem permissão para entrar na Barca do Anjo em muito se assemelha com aquele que entra pela Porta Estreita. Há, ainda, um ponto mais determinante na relação entre esses dois contextos: tanto a Barca Estreita criada por Gil Vicente quanto a Porta Estreita apresentada por Cristo na Bíblia conduzem os seres humanos ao tão almejado Paraíso; destino dos que se salvam e onde os justos gozam de eterna felicidade. Palavras-Chaves: Porta Estreita, Barca Estreita, Paraíso. NATIVIDADE, Marcelo. E-mail: [email protected] Doutorando em Antropologia Social - Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/IFCS/UFRJ) OLIVEIRA, Leandro de. E-mail: [email protected] Mestre em Saúde Coletiva - Universidade Estadual do Rio de Janeiro (PPGAS/ IFCS/ UERJ) A TRISTEZA DOS “PRAZERES EGOÍSTAS”: REPRESENTAÇÕES DA HOMOSSEXUALIDADE NO DISCURSO CATÓLICO Esta comunicação apresenta resultados de reflexão conjunta que realizamos, a partir de um olhar antropológico, sobre as temáticas homossexualidade e religião. Desejamos analisar a moral sexual expressa em vertentes hegemônicas da doutrina católica contemporânea, a partir da revisão de alguns estudos na área de ciências sociais sobre sexualidade e religião, de documentos oficiais da Igreja e publicações católicas sobre sexualidade. O trabalho problematiza as tensões entre dolorismo e hedonismo no pensamento cristão, focando seus desdobramentos atuais no tratamento conferido ao problema das “práticas homossexuais” no discurso católico. Outrora “pecado da sodomia”, as interações eróticas entre pessoas do mesmo sexo passam a ser percebidas como “atos intrinsecamente desordenados”, mas que podem repousar em “tendências” constitucionais. Seu exercício consistiria em fruição egoísta do corpo e do sexo, desagregadora da instituição familiar, que destruiria “a capacidade de amar” da pessoa humana. A genealogia desse discurso cristão sobre a experiência erótica poderia ser conectada a estruturas de longa duração no pensamento ocidental, que engajam a sexualidade no bojo do debate acerca da imperfeição e finitude humanas. Pretendemos apresentar os contornos desses posicionamentos hegemônicos, assim como algumas de 24 suas ambigüidades internas, que dão margem a disputas no interior da própria Igreja quanto ao significado da homossexualidade. Palavras-chave: Homossexualidade, Cristianismo, discurso. OLIVEIRA, Fabrício Roberto Costa. E-mail: [email protected] Professor do Dep. de História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) O MOVIMENTO DA BOA NOVA E A DIFUSÃO DE IDÉIAS RELIGIOSAS PROGRESSISTAS NA ARQUIDIOCESE DE MARIANA A Igreja Católica tem como uma de suas principais características a heterogeneidade e recentemente isso parece se intensificar. Muito dessa diversidade se deve ao fato de que, em muitas ocasiões, comunidades católicas atuam sem que o bispo ou o pároco esteja plenamente de acordo com o que se faz. Outras vezes acontece o inverso: o bispo ou o pároco toma posições contrárias à opinião de grande parte da população. Além desses aspectos, faz-se necessário destacar o trabalho de Movimentos religiosos que contam com certa autonomia em relação às dioceses e/ou arquidioceses. Este é o caso do MOBON (Movimento da Boa Nova) que apesar de ter sede na Diocese de Caratinga atuou durante a década de 1980 difundindo idéias religiosas progressistas por diversas regiões do país, inclusive pela Arquidiocese de Mariana, contribuindo assim para sua diversificação no que se refere à presença de idéias religiosas. Diante de tais questões o que propomos é caracterizar o MOBON e evidenciar sua presença Arquidiocese de Mariana. Palavras-chave: Movimento da Boa Nova, idéias religiosas, Arquidiocese de Mariana. OLIVEIRA, Júlio Aguiar de. E-mail: [email protected] Professor Adjunto do Dep. de Direito - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E RELIGIÃO Do ponto de vista das modernas teorias do Direito e do Estado, as relações entre Religião e Direito, bem como as relações entre Religião e Estado, evoluem para o divórcio. Entre outras coisas, isso significa que, no contexto das estratégias da Modernidade de fundamentação do Direito e do Estado, à Religião não compete mais função alguma. No limite, o discurso religioso, tolerado, deve-se manter afastado da arena pública, uma vez que lhe é negado o atributo da racionalidade. Essa ruptura tem uma história, cujo início talvez se encontre nas célebres disputas entre o Império e o Papado, no século XIII, mas cujo ápice, certamente, se desenrola entre os séculos XIX e XX. Dominados por uma perspectiva juspositivista cada vez mais confiante em si mesma, os séculos XIX e XX selam a separação entre Religião e Direito/Estado. 25 Hoje, no entanto, considerada a falência do juspositivismo e o declínio do Estado, a tese moderna de que a Religião não conta para a fundamentação do Direito e do Estado, já encontra dificuldades. A presente comunicação pretende abordar esta questão, tomando como ponto de partida a constatação habermasiana de que, se, de um lado, a Constituição do Estado liberal ainda mantém a capacidade de arcar com as despesas de sua necessidade de legitimação de forma auto-suficiente, de outro, de uma perspectiva motivacional, no contexto específico do Estado Democrático de Direito, isso já não se mostra tão certo. Palavras-chave: Estado Democrático de Direito, Religião, Diálogo. OLIVEIRA, Júlio Aguiar de. E-mail: [email protected] Professor Adjunto do Dep. de Direito - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) LAS CASAS, OS DIREITOS E OS ÍNDIOS Convocada por Carlos V, reúne-se, em Valladolid, no ano de 1550, uma junta de quatorze notáveis teólogos para a discussão acerca da justiça da guerra movida pelos espanhóis contra os índios a fim de, segundo o discurso oficial da colonização, submetê-los ao cristianismo (vale notar que este discurso é corajosamente contestado pelos missionários Dominicanos desde 1511, data do célebre sermão de Frei Antonio de Montesinos). O debate que se desenrola nesta ocasião, protagonizado por Bartolomeu de Las Casas e Juan Ginés de Sepúlveda, concentra quase meio século de intensas discussões entre missionários e conquistadores. Porém, apesar dos esforços realizados, nunca houve um juízo conclusivo oficial. Tampouco a consciência crítica de parte da sociedade espanhola, de que é testemunha a simples realização de um debate público sobre a questão da justiça da guerra contra os índios, foi capaz de significar uma mudança de rumo no processo de escravização e destruição das comunidades indígenas. Com base nisso, a presente proposta de comunicação se volta para a investigação do caráter aristotélico-tomista da teoria lascasiana de Direitos Naturais como também daquilo que, num outro sentido, explique a ineficácia do discurso lascasiano no contexto da colonização. Palavras-chave: Direitos Naturais, Aristotelismo, Las Casas. PAIVA, Anderson Eduardo de. E-mail: [email protected] Graduando em Teologia - Inst. de Teologia São José / Fac. Arquidiocesana de Mariana (FAM) MARTINS, Leandro José de Souza. E-mail: [email protected] Graduando em Teologia - Instituto de Teologia São José / Fac. Arquidiocesana de Mariana (FAM) ELEMENTOS DA PAIXÃO DE JESUS SEGUNDO MATEUS 26 A Paixão de Jesus faz acontecer, dentro dos evangelhos canônicos, sua parte principal e fundante. Não só constitui os momentos mais marcantes da vida de Jesus, mas também seu núcleo, centro irradiador que faz incidir todas as outras reflexões sobre a vida de Jesus. Toda preocupação da Comunidade primitiva, conforme vemos nos querigmas de At, foi confessar Jesus Crucificado como aquele gloriosamente aceito em sua obra pelo Pai, que o ressuscitou dos mortos. A ressurreição é ponto de partida da fé eclesial, de forma que, em meados dos anos 50, Paulo já a colocava como símbolo da fé, conforme seus escritos (cf. 1Cor 15). Toda atenção voltada para o evangelizar primeiro do cristianismo era fundamentar a fé dos seguidores do Caminho na Paixão de Jesus, deste mesmo Jesus que é Ressuscitado pelo Pai, para prova de que sua missão foi aceita e cumpridora do desígnio divino de salvação. A paixão e a ressurreição foram originantes também de toda liturgia e vida comunitária, inclusive de suas normas morais e diversos escritos. Isto nos assegura a possibilidade de ainda hoje evidenciarmos o evento Jesus Cristo e atualizarmos aquilo que Ele apresentou como o seu fundamento. É em vista desta importância e por causa dela que este trabalho quer procurar analisar a Paixão de Jesus segundo o evangelho de Mt. Claro, sem ter a pretensão de esgotar aqui todo o cabedal de informações exegético-teológicas destes textos, mas procurando dar chaves de leituras que permitam evidenciar a importância destas narrativas dos capítulos 26 a 28 de Mt. A partir da leitura destes capítulos, todos são capazes de encontrar os principais elementos do evangelho segundo Mateus, seus temas principais e suas implicâncias teológicas. Palavras-chave: Paixão, Ressurreição, Evangelho de Mateus. PASSOS, Mauro. E-mail: [email protected] Professor Adjunto da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) O SAGRADO, A TRADIÇÃO, A FESTA: EM BUSCA DE VIVÊNCIAS RELIGIOSAS No cenário religioso, vários elementos se integram. Na composição do tempo e do espaço navegam as tradições populares. A religiosidade popular guarda seus códigos, suas metáforas e seus ritos. Há uma conjugação solidária do presente com o passado. Este trabalho pretende estudar as representações do bem e do mal nas Folias de Reis em duas cidades do interior de Minas Gerais – Itaguara e Perdões. Festa do ciclo do Natal, continua refletindo os sentimentos da vida e conjugando devoção e cultura. Trata-se de uma pesquisa mais ampla, que procura recuperar a história desses grupos através da metodologia da história oral. Seu grande mérito tem sido permitir que os fenômenos subjetivos se tornem inteligíveis. O encontro, o diálogo se faz em permanente construção entre o pesquisador e o pesquisado, em permanente construção de subjetividades. Festa visível da cultura e da fé cristã. O catolicismo popular, com matizes diversos, contribuiu para ir 27 moldando a cultura brasileira. A religião estava sempre presente nas manifestações públicas. Parafraseando Mar-Augé “a religião é toda cultura, mas não é a cultura”. Se ela é toda cultura, em que local se manifesta? Como é construída a religiosidade? As novas abordagens no campo histórico enriquecem e modificam seus setores de estudo. As tradições religiosas não se expressam somente em palavras, textos escritos, mas também em gestos e ações coletivas. Assim a cada ano, as Folias de Reis desfilam nessas cidades, visitando o presépio onde se encontra o bem – o Menino Jesus e, ao mesmo tempo, espantando o mal – Herodes. Pode-se notar que as manifestações religiosas provam que nunca o mundo deixou de ser encantado. O momento atual não anula sua permanência. Palavras-chave: Tradição, festa, Folia de Reis. ROCHA, André Pereira. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) JOANA D´ARC, AS REPRESENTAÇÕES DE UMA SANTA GUERREIRA Representações de como poderia ser Joana d´Arc vêm sendo criadas desde sua morte em 1431. Em vida, nunca foi pintado um único retrato seu, a não ser uma pequena efígie, em uma carta, em que ela não serviu como modelo, feita somente com a imaginação do pintor na época. Todos têm várias visões sobre sua aparência: a da Joana pastora, da santa e a da guerreira. Todas as elas, na maioria das vezes, muito romantizadas. Tanto na literatura, como na pintura ou nas esculturas que foram feitas sobre ela, raras são as exceções que demonstram realmente como deveria ser sua verdadeira aparência. Um fator que prejudicou suas representações foi justamente ser condenada por relapsia. Suas vestes de homem e seu modo de agir é que foram os pontos chaves em sua condenação. E com o passar dos anos elas permaneceram. Shakespeare em um de seus textos a transforma num dos principais vilões e a condena por bruxaria. Voltaire, em seu tempo, escreve um poema a menosprezando. Somente com Michelet é que ela começa a ser reconhecida com uma importante figura na história da França. E com o advento do nacionalismo no século XIX ela se transforma em um dos símbolos de liberdade na França. E é nesse momento que sua figura renasce idealizada. Nas representações, os pintores tentaram mostrá-la o mais feminino possível, justamente para que essa imagem degradante que a seguiu durante séculos fosse retirada. Com sua canonização no século XX, suas representações começaram a se tornar cada vez mais religiosas. Desde que começou sua campanha militar em 1429, quase todos os dias de Joana foram documentados e ainda existem os documentos dos julgamentos, da qual muitos de seus conhecidos deram depoimentos. E dessa maneira, existe uma possível forma de analisar a sua real aparência. 28 Palavras-chave: Joana d’Arc, Representações, Possível Real Aparência. SALES, Weslley Ribeiro de Oliveira. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Viçosa (UFV) JUBILEU DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO EM SENADOR FIRMINO: ENTRE A RELIGIÃO OFICIAL E POPULAR A comunicação a ser apresentada refere-se à Festa do Jubileu de Nossa Senhora da Conceição na cidade de Senador Firmino, entre 1948 e 2006. Nosso objetivo é pensar a trajetória da festa e suas possíveis modificações ao longo desses anos. Para tanto, a pesquisa contará com documentos referentes à década de 40, além do uso de entrevistas e filmes sobre o evento, cujo objetivo é entender e mesmo documentar as várias fases de realização do jubileu, com a perspectiva de perceber as facetas políticas, econômicas e culturais presentes na cerimônia. Um das preocupações principais é com a relação explícita ou velada entre a “cultura popular” e a chamada “cultura clerical”. Esta festa vem sendo realizada ininterruptamente desde 1900, quando era apenas uma missão religiosa iniciada pelo padre Maurício Ayme durante os dias 01 a 15 do mês de agosto. Mas com a chegada do vigário Jacinto Teófilo Trombert a festa ganha conteúdo oficial, pois, durante seu paroquiato, a cerimônia recebe uma autorização do Vaticano. Portanto, há mais de um século, a cidade de Senador Firmino vem recebendo devotos de várias regiões do estado e até mesmo do país durante os quinze primeiros dias de agosto, movimentando o seu comércio e integrando direta ou indiretamente a população local com os visitantes. Ocorre durante esses dias uma grande manifestação de fé e devoção a Nossa Senhora da Conceição, uma explosão da religiosidade popular que só pode ser percebida por aqueles que vivenciam essa experiência religiosa de perto. É buscando essas particularidades que surge o nosso interesse. Palavras-chave: Senador Firmino, festa, religião. SANTOS, Débora Martins C. B.. E-mail: [email protected] Mestranda em Estudos Lingüísticos - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) A CONSTRUÇÃO DE UM CARÁTER CRISTÃO NO DISCURSO POLÍTICO-EVANGÉLICO Junto ao crescimento do seguimento evangélico no Brasil, cresce também sua representatividade no cenário político-social. Nosso trabalho debruça-se sobre as produções discursivas dos candidatos político-evangélicos a cargos públicos. A te- 29 oria Semiolingüística prevê que em uma situação de comunicação estabelece-se entre sujeitos da linguagem um contrato tácito regido e condicionado, entre outras coisas, por intenções e estratégias. Propomos discutir, em nossa comunicação, como a construção de um caráter cristão, nos discursos de candidatos evangélicos, torna-se uma estratégia eficaz de captação e adesão, principalmente dos seus “pares” na fé. Palavras-chave: Cristãos, Política, Discurso. SANTOS, Emanuel José dos. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) A FIGURA DO PAPA DO TAROT Tradicionalmente, o Tarot é formado por 78 cartas, estruturadas em dois grupos, Arcanos Maiores e Menores, sendo este último subdivido também em dois grupos. Os Arcanos Maiores, ou Trunfos do Tarot, formados pelas 22 primeiras cartas, perfazem a cadeia mais complexa de relações simbólicas. Por ordem numérica são chamadas O Louco (Arcano 0), o Mago, a Sacerdotisa, a Imperatriz, o Imperador, o Hierofante, os Amantes, a Carruagem, a Justiça, o Eremita, a Roda da Fortuna, a Força, o Enforcado, a Morte, a Temperança, o Diabo, a Torre, a Estrela, a Lua, o Sol, o Æon e o Universo. Todavia, a quinta carta do Tarot, atualmente O Hierofante, já foi denominada – inclusive ainda hoje existem no mercado baralhos com essa nomenclatura – O Papa. Embora iconograficamente muito pouco tenha sido alterado, a presente comunicação tem por objetivo questionar a legitimidade da utilização dessa nomenclatura, assim como expor possibilidades de cognição para a utilização de ambos os nomes e suas possíveis interpretações emblemáticas decorrentes das nomenclaturas diferentes. Palavras-chave: Tarot, Arcanos, Papa. SANTOS, Patrícia Ferreira dos. E-mail: [email protected] Mestranda em História Social - Universidade de São Paulo (USP) A IGREJA, O CATOLICISMO E SUAS REPRESENTAÇÕES NAS MINAS SETECENTISTAS: UMA ANÁLISE DAS CARTAS PASTORAIS DE DOM FREI MANOEL DA CRUZ (17481764) O presente resumo refere-se à pesquisa que ora desenvolvemos, intitulada “Poder e palavra: discursos, contendas, e projeto moralizador para o Bispado Mineiro (1748- 1764)”. Focalizamos as relações conflituosas existentes entre as autoridades régias e episcopais, durante o governo do primeiro prelado do Bispado mi30 neiro, Dom Frei Manoel da Cruz. Constatamos que essas relações conflituosas, estreitamente relacionadas ao Direito de Padroado, repercutem nos textos pastorais, textos normativos emitidos pelos bispos ao clero e à população; de forma que tornam perceptíveis diversas representações da população, especialmente a escrava, e das práticas heterodoxas que adotam; dos funcionários régios e das “vexações” que causam; e, principalmente, do modelo tridentino de devoção católica que a Igreja queria implementar. Registram-se queixas dos visitadores quanto às formas de constituição familiar, denotando uma realidade bem distinta da almejada pela Igreja: a elevada ilegitimidade evidencia concubinatos, adultérios e os combatidos tratos ilícitos. A Igreja reagiu aplicando penas pecuniárias aos senhores que dificultavam a catequização dos escravos; emitindo fartas doses de admoestações e ameaças aos infratores. Semelhante quadro corrobora para uma das hipóteses que estabelecemos: diante de toda a sorte de desvios, a Igreja participa de toda uma engrenagem social repressiva, através de uma dupla mão: com base na ameaça espiritual e material aos desobedientes, mas também na sedução, através da promessa das infinitas graças e recompensas celestes; representa e projeta, desta forma, na sociedade, as imagens de um mundo ideal, com base na doutrina católica difundida através de suas cartas pastorais. Palavras-chave: Igreja, Padroado, Evangelização. SCHIAVO, Reinaldo Azevedo. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Viçosa (UFV) OLIVEIRA, Fabrício Roberto Costa. E-mail: [email protected] Professor do Dep. de História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) DE ONDE VIERAM AS IDÉIAS RELIGIOSAS? UMA ANÁLISE DO CASO DE PORTO FIRME - MG Este trabalho tem como objetivo principal estudar as estratégias e práticas de inserção de idéias religiosas progressistas na cidade de Porto Firme-MG a partir do final da década de 1960. Nossa hipótese principal é de que muitas idéias que configuraram a religiosidade local vieram de localidades que não pertencem à jurisdição eclesiástica da Arquidiocese de Mariana. A princípio dois acontecimentos importantes norteiam tais hipóteses: as missões redentoristas que se fizeram presentes sobremaneira em fins da década de 1960 e o trabalho do Movimento da Boa Nova na região que também data deste período, mas que diferente da primeira, permanece pelo menos até fins da década de 1980. Diante disso, o que se pretende é mostrar de que forma estas idéias chegaram à cidade de Porto Firme, evidenciando que mesmo em instituições como a Igreja Católica peculiaridades locais podem emergir. 31 Palavras-chave: Idéias Religiosas, Missões Redentoristas, Movimento da Boa Nova. SILVEIRA, Diego Omar da. E-mail: [email protected] Pós-graduando em Cultura e Arte Barroca - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) AS DIRETRIZES DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA NO BRASIL E OS NOVOS DESAFIOS DA REALIDADE SOCIAL BRASILEIRA (1992-2006) A criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a participação dos bispos brasileiros no Concílio Vaticano II (1962-1965) servem hoje aos estudiosos da história da Igreja Católica no Brasil como importantes indícios da estreita ligação que uniu, ao longo do século XX, importantes setores da Instituição às camadas mais pobres da sociedade brasileira. Se a superação de uma situação de generalizada pobreza não transparece como única motivação do Plano Pastoral de Conjunto de 1965, é ela, sem dúvidas, um tema recorrente nos documentos da CNBB pelos quarenta anos que se seguem. Incorporando as diretrizes conciliares, as Conferências Episcopais de Medellín, Puebla e Santo Domingo forneceram importantes contribuições para uma teologia pastoral que elencasse as desigualdades sociais no continente como desafio precípuo para uma evangelização inculturada na América Latina. O trabalho que ora propomos visa apresentar como as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil abordaram os novos desafios da realidade social brasileira a partir das conclusões de Santo Domingo (1992) até os dias atuais, e como estes documentos situaram, ao longo desses anos, a missão social da Igreja nos meios populares. Palavras-chave: Igreja Católica, evangelização, realidade social brasileira. THIMÓTHEO, Juam Carlos. E-mail: [email protected] Graduando em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) O “INGENIO ARTÍSTICO” E AS PINTURAS SACRAS NAS TERRAS COLONIAIS DO OURO A partir da ornamentação do forro da Igreja de São Francisco de Assis, erguida na cidade de Ouro Preto entre 1766 e 1810, este trabalho visa analisar os conceitos artísticos implicados na obra de Manuel da Costa Athaide, singularizados frente às exigências contrativas e relações institucionais vigentes neste período, no tocante à composição artística. A obra artística estudada adotou, como modo de expressão, o excesso: ela agregou de forma concomitante o trágico, o lúdico, a extravagância, a contradição, a ambigüidade, o maravilhoso e o fantástico. Esses elementos, encontrados com certa facilidade nas obras artísticas concebidas nessa época, podem ser entendidos como recursos pragmáticos e simbólicos que, a partir de uma matriz imagética e da agudeza do artista perante as técnicas de arte, resultam na maestria dos tra32 ços, como encontrados no forro do Mestre Athaide. Paralelamente, por se tratar de uma obra de arte sacra, pressupõe uma série de elementos essenciais para a composição da produção, que o artista deve seguir para satisfazer as necessidades preestabelecidas do contratante. Sugere-se, portanto, que os símbolos intrínsecos e explícitos na construção pictórica do forro da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, estabelecidos a partir de determinadas técnicas formais e singularizados pelo “ingenio” do artista em questão, tornaram esta obra artística uma produção “original”, isto é, uma composição que compreender os conceitos que, na época, regiam a agudeza artística. Palavras-chave: Arte, Representações, Originalidade. TOZATO, Luana Gilmara. E-mail: [email protected] Graduanda em História - Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) A CRUZADA E O ORIENTE Através da obra de George Orstrogosky que trata do Império Bizantino, pretendo elucidar e esmiuçar a influência da 4ª cruzada na política de “feudalização” bizantina, e seus impactos dentro da cristandade ortodoxa. Tendo em vista que este movimento religioso ocidental em princípio foi estimulado pelo ímpeto religioso, no sentido de libertar a Terra Santa; mas também carregava implicitamente, ou não, o intuito político de “colonizar” o oriente. Palavras-chave: 4ª Cruzada, Bizâncio, Cristianismo Ortodoxo. 33 ÍNDICE REMISSIVO POR NOMES DOS AUTORES PARA AS CONFERÊNCIAS E MESAS-REDONDAS Aldo Eustáquio Assir Sobral .......................................................................................... 10 Ângelo Adriano Faria de Assis ...................................................................................... 11 Antonio Silva da Paixão – Pe. Nequinho ..................................................................... 11 Benair Alcaraz Fernandes Ribeiro ............................................................................... 11 Cecília F. Figueiredo ..................................................................................................... 12 Celso Taveira ............................................................................................................ 09,11 César Romero A. Vieira ................................................................................................ 11 Crisoston Terto Vilas Boas ........................................................................................... 12 Diego Omar Silveira ...................................................................................................... 12 Eduardo Gusmão de Quadros ...................................................................................... 12 Fábio Adriano Hering ................................................................................................... 11 Fábio Henrique Viana .................................................................................................. 12 Ivan Antônio de Almeida .............................................................................................. 11 Jacir de Freitas Faria .................................................................................................... 10 James William Goodwin Junior ....................................................................................... 12 Joaquim Fonseca, OFM ................................................................................................. 10 José Leonardo do Nascimento ..................................................................................... 11 Márcia Almada .............................................................................................................. 12 Marcio Loureiro Redondo ............................................................................................. 11 Marta Luzie de Oliveira Frecheiras ............................................................................... 11 Paulo Roberto de Andrada Pacheco ............................................................................ 11 Pierre Sanchis .............................................................................................................. 10 Rodrigo de Almeida Bastos .......................................................................................... 12 Sérgio Ricardo da Mata ................................................................................................ 12 Valéria Leão Ferenzini .................................................................................................. 12 Virgínia Albuquerque de Castro Buarque ..................................................................... 11 Warllen Antonio Ferreira Dias ....................................................................................... 12 PARA AS COMUNICAÇÕES Anderson Eduardo de Paiva (FAM) ......................................................................... 15, 26 André Pereira Rocha (UFOP) ................................................................................... 14, 28 Bruno Assaf Bernardes de Araújo (UFOP) ............................................................... 13, 17 Daniel Chagas da Fonseca (UFOP) .......................................................................... 15, 19 Danúbia Aline Silva (UFOP) ...................................................................................... 14, 23 Débora Martins C. B. Santos (UFMG) ....................................................................... 13, 29 34 Diego Omar da Silveira (UFOP) ................................................................... 13, 14, 16, 32 Dulce Viana Mindlin (UFOP) ...................................................................................... 14, 23 Eduardo Gabriel (USP) ............................................................................................. 13, 20 Eduardo Truhlar Martins (UFOP) ....................................................................... 15, 22, 23 Emanuel José dos Santos (UFOP) ............................................................................ 15, 30 Fabrício Roberto Costa Oliveira (UFOP) ............................................................. 14, 25, 31 Herinaldo Oliveira Alves (UFOP) ............................................................................... 13, 16 Igor Madeira Loureiro (UFV) ..................................................................................... 13, 21 Ivan Antonio de Almeida (UFOP) .............................................................................. 15, 16 Juam Carlos Thimótheo (UFOP) ................................................................................ 15, 32 Júlio Aguiar de Oliveira (UFOP) .................................................................... 13, 14, 25, 26 Leandro de Oliveira (UERJ) ....................................................................................... 13, 24 Leandro José de Souza Martins (FAM) ..................................................................... 16, 26 Luana Gilmara Tozato (UFOP) .................................................................................. 15, 33 Marcelo Natividade (UFRJ) ........................................................................................ 13, 24 Marina de Oliveira Furlan (UFOP) ............................................................................. 15, 19 Mauro Passos (PUC-Minas) ...................................................................................... 13, 27 Patrícia Ferreira dos Santos (USP) ........................................................................... 14, 30 Reinaldo Azevedo Schiavo (UFV) .............................................................................. 14, 31 Weslley Ribeiro de Oliveira Sales (UFV) .................................................................... 13, 29 35 PROGRAMAÇÃO GERAL DO EVENTO Dia 12 de setembro de 2006 – terça-feira 08:00 às 08:30 08:30 às 10:00 Abertura do Evento Formação da mesa diretora apresentação das atividades propostas; Conferência de Abertura Frei Jacir de Freitas Faria Simbologia de Maria e Jesus nos Evangelhos Apócrifos e na Torá. 10:00 às 11:00 11:00 às 12:30 14:00 às 16:30 Conferência Frei Joaquim Fonseca (CNBB) A música no rito cristão. Atividade Cultural Prof. Dr. Celso Taveira (UFOP) Audição comentada: “A Grande Missa dos Mortos”, de Hector Berlioz. Mesa Redonda Paganismo e Cristianismo: transições Pe. Ms. Antonio Silva da Paixão - Pe. Nequinho (FAM) Transições? 16:30 às 18:00 19:30 Prof. Dr. José Leonardo do Nascimento (UNESP) Cristianismo e mundo clássico. Mediador: Prof. Dr. Fábio Adriano Hering (UFOP) Conferência Prof. Ms. Aldo Eustáquio Assir Sobral (UFOP) A língua latina e o cristianismo romano. Mesa Redonda Judaísmo e Cristianismo: assimilações e conflitos Prof. Dr. Marcio Loureiro Redondo (FTSA) A herança judia e as primeiras comunidades cristãs. Profa. Dra. Benair Alcaraz Fernandes Ribeiro (USP) Da convivência à intolerância: Os Batizados em Pé Prof. Dr. Ângelo Adriano Faria de Assis (UFV) Judeus da memória, cristãos sem fé? Inquisição e sobrevivência judaica no Brasil colonial. Mediador: Prof. Dr. Ivan Antônio de Almeida (NER) 36 Dia 13 de setembro – quarta-feira 08:00 às 08:30 08:30 às 10:30 Atividade Cultural Lis Mendes (UFMG) Apresentação musical - piano Mesa Redonda Cristianismo e Idade Média Prof. Dr. Celso Taveira (UFOP) Cristianismo Oriental e Ocidental: premissas e suscetibilidades. Prof. Dra. Marta Luzie de Oliveira Frecheiras (IFAC - UFOP) Graça e pecado em Santo Agostinho e sua recepção no pensamento contemporâneo de Heidegger. 10:30 às 12:00 14:00 às 16:30 16:30 às 18:00 Mediador: Prof. Dr. Paulo Roberto de Andrada Pacheco (UFOP) Mesa Redonda Aspectos do protestantismo e da contra-reforma. Prof. Dr. César Romero Amaral Vieira (UNIMEP) O “espírito” do Protestantismo na sociedade brasileira. Prof. Dr. Paulo Roberto de Andrada Pacheco (UFOP) A compositio loci nos exercícios espirituais inacianos: uma imagem que educa. Mediador: Prof. Dra. Virgínia A. de Castro Buarque (UFOP) Exibição e Debate Documentário da BBC de Londres: o Evangelho de Judas Comentador: Pe. Lúcio Marques (FAM) Conferência Prof. Dr. Pierre Sanchis (UFMG) Religião e Etnicidade: dois casos de "Negritude Católica" na diáspora. 19:30 Mesa Redonda Igreja, barroco e sociedade nas Minas colonial Prof. Ms. Márcia Almada (SEC-MG) Representações do Santíssimo Sacramento nos Livros de Compromisso de Irmandades Mineiras do século XVIII. Prof. Fábio Henrique Viana (UFOP) A música sacra em Minas Gerais no século XVIII e XIX. Prof. Ms. Rodrigo de Almeida Bastos (USP) Mariana a cidade “adornada”: imitação e decoro nos discursos da arquitetura e da povoação no século XVIII luso-brasileiro. Mediadora: Profa. Ms. Cecília F. Figueiredo (UFOP) 37 Dia 14 de setembro – quinta-feira 08:00 às 10:30 Mesa Redonda A Romanização do Catolicismo Brasileiro Profa. Ms. Valéria Leão Ferenzini (CEHILA e UFRJ) Festas populares, Romanização e ação Redentorista em Juiz de Fora. Pe. Warllen Antonio Ferreira Dias (FAM) 11:00 às 12:00 13:30 às 16:30 O Concílio Vaticano I: sua significação na Igreja do Brasil. Mediador: Diego Omar Silveira (NER) Atividade Cultural Visita monitorada ao Museu de Arte Sacra da Arquidiocese de Mariana Mesa Redonda Cristianismo / Séc XX Prof. Dr. Sérgio Da Mata (UFOP) Religião e modernidade em Ernst Troeltsch. Prof. Dr. James William Goodwin Junior (CEFET) A crise do Cristianismo Humanista: o caso da Igreja Metodista. Prof. Dr. Eduardo Gusmão de Quadros (UCG e CEHILA) Desafios de um nome: historiografia e experiência cristã no Brasil. 16:30 às 18:00 19:30 Mediador: Prof. Crisoston Terto Vilas Boas (UFOP) Comunicações Várias sessões Coordenador: Prof. Ms. Fabrício Roberto Costa Oliveira (UFOP) Conferência de Encerramento Os desafios dos Cristãos no século XXI. 38