PRI SCI LA MACEDO DE CARVALHO DINÂMICA ECONÔMICA E MOBILIDADE POPULACIONAL: o caso de São Paulo Monografia de graduação apresentada ao Departamento de Economia, Contabilidade e Administração da Universidade de Taubaté, como parte dos requisitos para obtenção do grau de bacharel em Ciências Econômicas. Orientador: Prof. Dr. Fábio Ricci TAUBATÉ 2003 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1 - As Três Últimas Fronteiras do Brasil Ilustração 2 - Taxas Anuais de Migração (por mil habitantes): Regiões Administrativas do Estado de São Paulo - 1980/1991 Ilustração 3 - Taxas Anuais de Migração (por mil habitantes): Regiões Administrativas do Estado de São Paulo - 1991/2000 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - Evolução da População, por Localidade de Residência – Brasil – 1940-80 GRÁFICO 2 - Evolução dos Ciclos da Fronteira – Brasil – 1930-90 GRÁFICO 3 – Migrantes Interestaduais, segundo Local de Destino (em %) RMSP e Interior – 1995-2000 GRÁFICO 4 - Evolução das taxas Líquidas de Migração Anuais: Região Metropolitana de São Paulo – 1970/2000 LISTAS DE TABELAS Tabela 1. Evolução da População no Estado de São Paulo – 1940-1980 Tabela 2. Evolução da População dos principais municípios no Estado de São Paulo 1940-1970 Tabela 3. Número de Estabelecimentos da Indústria para o Estado de São Paulo, Regiões Administrativas, Região Metropolitana de São Paulo e Baixada Santista Tabela 4. Taxas de Crescimento Populacional, Saldos Migratórios e Taxas Líquidas de Migração Estado de São Paulo, Região Metropolitana de São Paulo e Interior – 1980/2000 Tabela 5. Taxas de Crescimento Populacional, Saldos Migratórios e Taxas Líquidas de Migração - Estado de São Paulo, Região Metropolitana de São Paulo e Interior 1980/2000 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 2 UM PANORAMA DO PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO 2.1 Revolução Industrial6 2.1.1 Fatores Determinantes 2.2 A Indústria no Brasil8 2.3 Interiorização da Indústria 3 ASPECTOS DOS MOVIMENTOS POPULACIONAIS 3.1 Aspectos Teóricos da Migração 3.2 Aspectos Teóricos da Dinâmica Migratória no Interior Paulista 3.3 Revisando Décadas Anteriores 4 MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS RECENTES 4.1Tendências da Migração e da urbanização no Interior 4.2 Crescimento de São Paulo e a absorção da mão e obra 4.3 Análise das Regiões do Estado de São Paulo 5 CONSIDERAÇOES FINAIS REFERÊNCIAS 1 INTRODUÇÃO No Brasil, quando as pessoas falam em “políticas demográficas”, geralmente se referem apenas às medidas na área de planejamento familiar ou controle de natalidade. Mas a questão demográfica também se relaciona com o movimento migratório. Quando se trata de ações do poder público sobre matérias de população, não resta dúvida de que o Estado tem muito mais a ver com migração do que com a fecundidade. O papel do Estado na área de planejamento familiar ou de controle de natalidade é sempre delicado e controvertido. Um aspecto relevante a ser examinado quando se analisa a distribuição dos recursos humanos no processo de industrialização refere-se às implicações dos processos migratórios na economia, mais especificamente a brasileira, a qual será direcionado o trabalho. O objetivo do presente trabalho é analisar as conseqüências do desenvolvimento econômico no contexto do processo migratório, direcionado para o interior paulista, avaliando a migração como parte do processo de desenvolvimento. Este trabalho é composto de 4 capítulos que examinam o processo de desenvolvimento econômico-industrial em função do processo migratório. O primeiro capítulo apresenta o objetivo que se pretende alcançar, mostrando o que será abrangido neste trabalho. É apresentado no segundo capítulo um panorama histórico do processo de industrialização no Brasil e no mundo, mostrando alguns choques que tiveram influência na formação das regiões brasileiras. Mostra que uma vez iniciada a industrialização, almeja-se atrair populações de áreas geralmente próximas do centro industrial. Sendo que, essas atrações populacionais são vistas como um mero mecanismo de redistribuição da população se adaptando ao arranjo das atividades econômicas. A dinâmica e a localização das atividades industriais pautam os possíveis caminhos da população no território paulista. Emergiram-se importantes pólos regionais, que já indicavam novas formas de redistribuição espacial da população, mapeando novos contornos do espaço paulista (PATARRA E BAENINGER, 1989) e mostrando os fatos que acarretaram o aumento da concentração industrial no interior paulista. O terceiro capítulo aborda os aspectos teóricos migratórios analisando as “âncoras” das tendências gerais dos deslocamentos populacionais no Brasil ocorridos entre 1930 e 1980. Sendo um tema complexo, estudiosos enfrentam dificuldades em abordar este aspecto da dinâmica demográfica. Com esse enfoque, Ravenstein e Lee tentaram formular “teorias” de migração, utilizando ferramentas como a observação regular e variáveis diferentes, tempo, local de origem e destino. Faz-se uma análise baseada nos dados censitários de 2000 divulgados pelo IBGE, fazendo uma reflexão sobre as tendências migratórias recentes do Estado de São Paulo. Propõe-se ainda no terceiro capítulo apresentar estimativas de migração para o Estado no período de 1991/2000, tomandose como base as Estatísticas Vitais processadas pela Fundação Seade e as informações dos censos demográficos da Fundação IBGE. Em termos metodológicos, vale destacar que, os saldos migratórios estimados utilizados neste estudo consideram a diferença entre o crescimento populacional, proveniente nos últimos censos demográficos e o saldo vegetativo, calculado a partir das Estatísticas Vitais. Este capítulo também exibe as estimativas da migração para os últimos vinte anos, o que possibilita uma análise dos períodos 1980/1991 e 1991/2000. Como unidade de análise será considerado o Estado de São Paulo e como recorte regional a Metrópole paulista e o interior do Estado. Procura-se responder ou buscar elementos para se compreender melhor os obstáculos que se interpõem entre o migrante e a “oportunidade econômica” que a cidade industrial lhe oferece. No último capítulo, faz-se uma conclusão sobre o que foi abordado neste trabalho, direcionando para seu desfecho. Espero que, através deste trabalho, possa ter sido feita uma breve reflexão sobre os obstáculos enfrentados pelo migrante, assim como a sua adaptação no mercado de trabalho paulista. 2 UM PANORAMA DO PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO Um panorama histórico do processo de industrialização no Brasil e no mundo será apresentado, mostrando alguns choques que tiveram influência na formação das regiões brasileiras. Uma vez iniciada a industrialização, almeja-se atrair populações de áreas geralmente próximas do centro industrial. Essas atrações populacionais não parecem ser mais que um mero mecanismo de redistribuição espacial da população que se adapta ao arranjo espacial das atividades econômicas. 2.1 Revolução Industrial A economia mundial sofreu modificações profundas a partir da segunda metade do século XVIII, quando se iniciou, na Grã-Bretanha, a Revolução Industrial. Estreitamente relacionada ao desenvolvimento do sistema capitalista, a industrialização se estendeu por todo o mundo e determinou o surgimento de novas formas de sociedade, de Estado e de pensamento. Em sentido de estrito conhecimento, a expressão "revolução industrial" aplica-se às transformações econômicas e técnicas ocorridas na Grã-Bretanha entre os séculos XVIII e o XIX com o surgimento da grande indústria moderna. E de amplo conhecimento, refere-se à fase do desenvolvimento industrial que corresponde à passagem da oficina artesanal ou da manufatura para a fábrica. No plano econômico geral, esse processo se fez acompanhar da transformação do capitalismo comercial, que se iniciara no Renascimento, no capitalismo industrial. A revolução industrial inglesa estendeu-se depois ao centro-oeste da Europa e aos Estados Unidos, e conferindo a essas regiões grande supremacia sobre as nações européias e não-européias que ficaram à margem dessa revolução, em virtude do mecanismo de acumulação de capital inerente ao capitalismo moderno. Criou-se assim um descompasso crescente entre países industrializados, economicamente desenvolvidos, e países não industrializados, ou subdesenvolvidos, de economia dependente (CAMPOS, 2000, p.4-6). 2.1.1 Fatores Determinantes A revolução industrial propriamente dita, surgiu durante os séculos XVIII-XIX. Caracterizou-se por algumas novidades na produção industrial, como a metalurgia do coque, a utilização da máquina a vapor na mineração e na laminação, a invenção de máquinas nos setores de fiação e tecelagem, algumas já a vapor, o emprego de novos métodos e materiais na cerâmica, na engenharia civil e nos transportes, sobretudo canais e ferrovias. Na segunda metade do século XIX e primeira do século XX, surgiu um novo período denominado "nova revolução industrial" ou "segunda revolução industrial" (CAMPOS, 2000, p.3-4) Tornando como princípio básico da revolução industrial a fabricação de mercadorias por máquinas movidas a energia de fontes naturais, verifica-se que a revolução industrial inglesa do século XVIII continuou muito além de 1830 e prosseguiu durante todo o século XX. Ela resultou das seguintes premissas: revolução agrícola; expansão do comércio marítimo internacional e seu virtual domínio pela Inglaterra; abundância de capitais e baixa taxa de juros devido à acumulação propiciada pelo comércio e pela agricultura; mobilização desses capitais em função do desenvolvimento do mercado financeiro de Londres e dos bancos provinciais; aperfeiçoamentos técnicos em máquinas já existentes, invenção de novos equipamentos e melhoria da mão-de-obra especializada; e utilização de uma nova forma de energia, isto é, o vapor. Com as duas guerras mundiais e o despertar do nacionalismo, começou a haver uma tomada de consciência da superação do fenômeno chamado imperialismo e de seu componente, o subdesenvolvimento, através da industrialização passando a ser meta prioritária do desenvolvimento econômico permitindo que o mesmo se emancipasse. Essa nova orientação já encontrou em países como Índia, China e Brasil algumas empresas industriais em funcionamento, sobretudo no setor têxtil. Mas a infra-estrutura, isto é, a indústria de base, estava ainda por ser instalada, pois não era um setor que interessasse aos capitais imperialistas desenvolver nos países periféricos. O exemplo mais significativo de revolução industrial, em tempo e profundidade, foi o da Rússia, após 1917. Mas, como ocorreu na China Popular e nos países da Europa oriental, realizou-se segundo um tipo de economia totalmente socializada, que fugiu aos padrões da economia capitalista. A revolução industrial, ao deslocar uma estrutura industrial de tipo artesanal mais ou menos desenvolvida conforme o país e a época, não atingiu todos os setores de uma só vez. Mesmo num determinado setor, como o têxtil, certas modificações se deram mais depressa que outras. De modo geral, a revolução afetou em primeiro lugar a fabricação de bens de consumo: tecidos, roupas, utensílios de metal, produtos alimentícios. Numa segunda etapa foram atingidas as indústrias ligadas a bens de produção: máquinas, siderurgia, química, ferramentas. A manufatura de ferro e aço em grande escala foi a ponte necessária entre as duas fases. Quase sempre as necessidades de energia e matérias-primas ditaram a localização das indústrias perto de jazidas carboníferas, vales fluviais, locais com potencial hidrelétrico. Água e energia foram fatores essenciais para a localização da indústria têxtil, assim como o carvão para a siderurgia e a argila para a cerâmica. As conseqüências gerais da revolução industrial podem ser resumidas em: urbanização rápida e intensa; progresso das regiões industriais em relação às rurais; incremento do comércio interno e internacional; aperfeiçoamento dos meios de transporte; crescimento demográfico; e redistribuição da riqueza e do poder. 2.2 A Indústria no Brasil Durante o século XIX, as excelentes safras de café, algodão e fumo, embora possibilitassem a acumulação de capital benéfica para a indústria, afastaram o país da industrialização, cuja necessidade só se fez sentir com a crise da lavoura, em 1880. Outros fatores que fortaleceram o impulso industrializante foram a libertação dos escravos em 1888, a proclamação da República em 1889, o bom desempenho do café no final da década de 1880 -que possibilitou a acumulação de capital -- e as facilidades de crédito concedidas pelos governos da época, a fim de enfrentar o desequilíbrio provocado pela extinção do trabalho escravo. O processo de industrialização, porém, foi lento e só ganhou maior impulso durante a Primeira Guerra Mundial, quando os produtos importados desapareceram do mercado e, com isso, estimulou-se a produção local. Na década de 1940 houve a primeira iniciativa industrial de vulto, em face das circunstâncias criadas pela Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos precisavam instalar bases aéreas no território brasileiro para o trânsito de seus aviões para a África e a Europa, e negociaram a implantação de uma unidade siderúrgica pertencente ao estado -- a Companhia Siderúrgica Nacional. A usina de Volta Redonda (RJ) desempenhou importante papel para o desenvolvimento da indústria pesada nacional, propiciando a criação de novas indústrias e a expansão siderúrgica. Da segunda guerra mundial ao começo da década de 1960, o ritmo da industrialização no Brasil foi intenso, em parte como conseqüência do dinamismo do governo Juscelino Kubitschek, contribuindo com a industrialização através da instituição do monopólio estatal do petróleo, com a criação da Petrobrás, em 1953 (REGO, J.M. & MARQUES,R.M.(org), 2000, p. 72) A expansão do parque industrial brasileiro, iniciada com as indústrias de bens de consumo, procurou, a partir da década de 1970, atingir uma fase mais avançada, a da produção de bens de capital e materiais básicos indispensáveis à aceleração do ritmo do crescimento geral. É necessário citar alguns processos que tiveram impactos significativos na formação das regiões brasileiras e no fortalecimento das relações entre elas. O primeiro diz respeito às formas de articulação e integração das regiões brasileiras ou dos espaços diferenciados existentes no País. Extremamente concentrada no Sudeste e sobretudo em São Paulo, a industrialização constituiu-se na base a partir da qual ocorreram a formação e a fortificação do mercado interno no País. Nesse contexto, as demais regiões passaram a coligar-se com o Sudeste e com o Estado de São Paulo em particular, ajustando sua estrutura produtiva e procurando participar da divisão inter-regional de trabalho, que então se definia com base em atividades complementares às suas ou a partir de atividades nas quais possuíam vantagens comparativas (CANO, 1998, p. 47-70). A essa coligação comercial – e após a implantação da indústria pesada, o surgimento da grande empresa industrial e a consolidação de grandes grupos econômicos nacionais (privados ou estatais) e estrangeiros – seguiu-se um processo de integração produtiva, que se caracteriza pela transferência de capitais das regiões mais industrializadas para as demais como de São Paulo para o Nordeste, na busca de novas frentes de investimentos e ocupação de espaços econômicos nacionais ou regionais fora dos grandes centros industriais do País. A disponibilidade de recursos naturais e as formas de ação do Estado foram os elementos definitivos dessa transferência de capitais. Um segundo aspecto se refere ao movimento cíclico da economia brasileira. O processo de desconcentração espacial ocorrido nas últimas décadas se situa no contexto de um movimento da economia no qual, após o auge do ciclo expansivo conhecido como “milagre econômico” e, já nos anos 80 e 90, segue-se uma longa fase de crise, instabilidade e aceleração do processo inflacionário (REGO, J.M. & MARQUES,R.M.(org), 2000, p. 87) A industrialização não é apenas uma mudança de técnicas de produção e uma maior diversificação dos produtos, mas uma enorme alteração da divisão social do trabalho. Uma vez iniciada a industrialização, almeja-se atrair populações de áreas geralmente próximas do centro industrial. O crescimento demográfico torna-se um fator importante para a ampliação do mercado de bens de consumo e serviços, passando a constituir um fator de atração de atividades produtivas que usufruem vantagens quando se localizam junto ao mercado de seus produtos, pois através dos mecanismos de mercado que, no capitalismo, ao orientar os fluxos de investimentos às cidades, cria ao mesmo tempo incentivos econômicos favorecendo as migrações do campo para a cidade, mostrando que a economia local, a essência da industrialização, realizada com transferência do progresso técnico. 2.3 Interiorização da Indústria Diversas têm sido as abordagens e justificativas apresentadas para explicar as transformações da reestruturação socioespacial: desindustrialização e crise global do capital; surgimento de uma nova divisão internacional do trabalho a partir das estratégias das multinacionais de busca de mão-de-obra; novas relações produtivas; e o surgimento de um novo regime de acumulação de capital, denominado flexível (HARVEY, 1992, p. 121-134). Até os anos 70, a dinâmica e a localização das atividades industriais pautavam, em grande medida, os possíveis caminhos da população no território paulista. De fato, estava-se vivenciando um processo em que era bastante evidente e direta a relação entre movimentos populacionais e estruturação das atividades e oportunidades econômicas, especialmente aquelas oriundas dos investimentos governamentais em direção ao interior paulista (BÓGUS E BAENINGER, 1995, p. 63-67). Neste contexto, emergiram importantes pólos regionais, que já indicavam novas formas de redistribuição espacial da população, mapeando novos contornos ao espaço paulista (PATARRA E BAENINGER, 1989, p. 87). Na década de 80, o poder de atração exercido pela indústria diminuiu consideravelmente em função do “esgotamento dos ciclos de investimentos dos anos 70” Baeninger apud Cano (1998, p. 232). Porém, o novo patamar alcançado pelo processo de urbanização nas áreas, com a diversificação de atividades e do consumo urbano, contribuiu para uma certa continuidade do dinamismo regional e, provavelmente, para uma redistribuição espacial da população muito mais intensa em termos intra-regionais. Assim, a “nova configuração espacial da migração e da urbanização aponta agora para novas inter-relações entre os sistemas urbanos, a rede de cidades, as cidades e seu entorno e os fenômenos sociais (BAENINGER, 1994, p.3). Nesse novo cenário urbano, as grandes metrópoles e os maiores centros assistiram a uma desaceleração em seus ritmos de crescimento populacionais, evidenciando um processo de desconcentração demográfica. O pano de fundo deste cenário está associado, por um lado, ao processo de interiorização da indústria, deslanchando nos anos 70 e, de outro, às transformações advindas, nos anos 80, do novo processo de reestruturação da indústria em âmbito internacional. Tais mudanças refletem-se de maneira acentuada na estrutura urbana e o papel das cidades e metrópoles no cenário mundial, uma vez que a dispersão da produção reforça contextos regionais específicos, ao mesmo tempo em que promove a competitividade entre as localidades urbanas (HARVEY, 1992, p. 266). À medida que avançavam os anos 80 e que a crise econômica, ou seja, a produtividade do capital decresceu pela grande expansão de setores intensivos em capital e energia, chamada década perdida dos anos 80 segundo Mercadante (1998), se afigurava “sem solução a médio prazo”, verificava-se que o ímpeto migratório para o Estado de São Paulo diminuía sua velocidade, devido tanto à redução das oportunidades de expansão do emprego no estado, quanto ao fato de que na periferia nacional ocorriam várias situações: expansão do garimpo e da fronteira agrícola amazônica; auge da zona franca de Manaus; maturação industrial espacial; expansão do turismo interno; considerável expansão urbana periférica que possibilitou o crescimento de atividades de serviços mais produtivos; expansão do gasto público periférico, que resultou em notável aumento do emprego público; disseminação da violência em grande parte do território nacional (crime, prostituição, droga, etc.) – que também é vetor “empregatício” -, antes mais restringida ao Rio de Janeiro. A consolidação da indústria pesada, os problemas decorrentes de uma urbanização descontrolada e o aumento absoluto das camadas sociais mais pobres constituíram-se em fatores negativos para uma continuidade do tipo de crescimento da metrópole resultando numa expansão econômica e urbana no interior paulista. Essa interiorização do desenvolvimento econômico teve, resumidamente, os seguintes determinantes principais: política de incentivos às exportações; instalação de refinarias da Petrobrás em Paulínia e São José dos Campos; incentivos à expansão da indústria aeronáutica; programa de incentivo para a produção de álcool (Pró-Álcool); investimentos federais e estaduais em infra-estrutura, notadamente de transportes e telecomunicações; políticas municipais atrativas de investimentos; aumento dos custos de aglomeração na Grande São Paulo; reorganização sindical moderna de trabalhadores, na Grande São Paulo (BAENINGER, 1994, p. 1-2). Estes fatos acarretaram o aumento da concentração industrial no interior do estado, reduzindo o efeito provável de uma descentralização ainda maior para outros estados. Assim, essa “interiorização” alterou os fluxos migratórios internos entre as várias regiões paulistas, engrossando a urbanização daquelas que mais se beneficiavam daquele movimento, como Campinas, Sorocaba e Vale do Paraíba. Portanto essas regiões tiveram um crescimento maior do que ocorria na época na Grande São Paulo, canalizando uma concentração substancial de imigrantes não-paulistas no período de 1970 a 1985, caracterizando neste período o início à desaceleração econômica e migratória. 3 ASPECTOS DOS MOVIMENTOS POPULACIONAIS A migração, para muitos, é um tema complexo decorrente das inúmeras dificuldades que os estudiosos enfrentam em abordar este aspecto da dinâmica demográfica. Ravenstein e Lee tentaram formular “teorias” de migração utilizando ferramentas e variáveis diferentes. Analisa-se as “âncoras” das tendências gerais dos deslocamentos populacionais no Brasil ocorridos entre 1930 e 1980. Através dos dados censitários de 2000 divulgados pelo IBGE, faz-se uma análise sobre as tendências migratórias recentes no Estado de São Paulo, como recorte regional a Metrópole e o interior do estado. Através destes dados, procura-se responder ou buscar elementos para se compreender melhor os obstáculos que se interpõem entre o migrante e a “oportunidade econômica” que a cidade industrial lhe oferece. 3.1 Aspectos Teóricos da Migração Quando nos referimos ao fenômeno da migração, muitas dificuldades são encontradas. Os estudiosos de população encontram dificuldades ao abordar este aspecto da dinâmica demográfica. Seja no instante da definição do fenômeno, de sua mensuração ou de sua interpretação, encontrando variedades de dimensões, as quais, evidentemente, além de depender da clara definição dos objetivos que se perseguem, estão sujeitas a uma série de restrições inerentes, entre outras coisas, aos dados ou disponibilidades de obtêlos e metodologias de análises disponíveis. Ao se falar em “migração”, provavelmente a associação imediata refere-se a contingentes populacionais carentes chegando às grandes cidades em busca de um mínimo de sobrevivência, dirigindo-se às periferias ou bolsões de pobreza dos centros urbanos onde, através de parentes ou amigos, iniciam uma busca de trabalho e de um cantinho para morar (SINGER, 1998, p. 119120). Para muitos, são estes contingentes que provocam o crescimento descontrolado das grandes cidades, que pressionam os escassos benefícios sociais, e aumentam as taxas de desemprego aberto ou disfarçado. Para outros, representam a conseqüência inevitável de processos de concentração de capital e de oportunidades econômicas provocando acentuadas diferenças regionais. Assim configurada, a “questão migratória” já justifica um esforço no sentido de sua quantificação, análise, caracterização e perspectivas, indispensáveis a qualquer tentativa de intervenção setorial. No entanto, a migração não se esgota na configuração do “excedente populacional”, pois sob um conceito amplo e mal definido, mesclam-se processos complexos e diversificados, que emergem na resultante redistribuição da população no espaço. Desde mudanças de residência relacionadas a momentos do ciclo vital até movimentos que significam etapas de atração na escala social, diversos e complexos são os fatores subjacentes aos deslocamentos populacionais de uma área a outra. Na trajetória dos estudos populacionais, sempre esteve subjacente a idéia de que a “questão migratória” é aquela que envolve amplos segmentos populacionais, formando, em sua recorrência, correntes migratórias que se deslocam de uma determinada localidade de origem a uma determinada localidade de destino; o caráter social do movimento foi freqüentemente expresso pela idéia de “fatores de expulsão” na área de origem e “fatores de atração” na área de destino. Ademais, uma constante dessa preocupação é a busca de regularidades, expressas na formação de correntes migratórias. Já no final do século XIX Ravenstein apud Singer (1998, p. 129-130), formulava suas “leis de migração” baseadas na observação empírica das regularidades dos movimentos migratórios ocorridos na Inglaterra e em outros países. Essas regularidades vinculavam os movimentos às distâncias entre local de origem e de destino, bem como aos obstáculos intervenientes entre as duas áreas; por outro lado, as “leis” tentavam generalizar as características individuais (principalmente idade e sexo) dos migrantes, predominantes nos tipos de movimentos observados. O aspecto mais interessante das colocações de Ravenstein diz respeito à observação conjunta dos movimentos migratórios e à formação de áreas de concentração urbano-industrial, configurando, com conjunto, as características freqüentemente presentes nos estudos posteriores. Na década de 60, outra tentativa de elaboração de uma “teoria” da migração é feita por Lee apud Martine (1987, p. 31); o movimento migratório como uma conseqüência “racional” do peso dos fatores de expulsão de um lado e dos fatores de atração de outro, frente à existência de obstáculos intervenientes. Novamente aqui as características individuais constituem uma das regularidades, configurando os clássicos diferenciais por sexo e idade nos movimentos populacionais mais expressivos. Segundo Januzzi (2000, p. 62), a predominância de certos grupos de idade e sexo nos movimentos migratórios reforçou um enfoque subjetivo e psicologizante como explicação do fenômeno, enfoque este que explícita ou implicitamente predominou até a década de 70. Ancorados na visão funcionalista das sociedades e na dicotomia sociedade-tradicional/sociedademoderna, os movimentos migratórios refletiam o movimento da sociedade no sentido de sua modernização; os mais motivados à mudança predominavam na formação dos contingentes que se formavam. Na década de 70, os enfoques prévios foram acirradamente criticados e alternativas foram sugeridas para o entendimento do processo de redistribuição populacional em sociedades latino-americanas. Nesse sentido, a ênfase individual deslocou-se para o entendimento desse processo imerso nos processos mais amplos de transformação social. Em suas várias vertentes, os enfoques alternativos apontavam para a inevitabilidade das migrações na constituição e consolidação das sociedades capitalistas, cujo desenvolvimento estava ancorado na constituição de mão-de-obra “livre”, livre para a constituição do mercado de trabalho (RENNER E PATARRA, 1980, p. 53). A partir daí os movimentos migratórios assumiriam características específicas de acordo com as etapas significativas do processo de divisão social do trabalho; o estudo da migração passava a ser necessariamente o estudo da inserção da população nos espaços econômicos em transformação; migração e emprego passavam a ser objeto de estudo predominante. Os novos enfoques teóricos implicavam em desafios metodológicos até hoje não resolvidos. Aumentava a distância entre os requisitos explicativos e as definições vigentes do que se entende por migração; as fontes de dados e medidas não condiziam com a reconstrução do fenômeno assim delineado. Foi uma época de maiores esforços no sentido de realização de pesquisas de campo; desenvolveu-se a técnica de história de vida computacional, ou seja, armazenamento de informação, comunicação de dados e a transformação de dados em informação, a fim de se reconstruir, no tempo, a trajetória migratória e ocupacional dos grupos sociais envolvidos. A difícil operacionalização desta técnica e os altos custos envolvidos nos levantamentos amostrais explicam a redução desses esforços e a tentativa mais recente de melhoria dos dados censitários. Por outro lado, a dinâmica social recente contribui para a complexidade do fenômeno. A falência da frente de expansão agrícola como mecanismo de fixação das populações (MARTINE E CAMARGO, 1984, p. 67); a permanência de forças expulsivas nas regiões do Nordeste, como a seca, infra-estrutura precária oferecida à comunidade, dentre outros; a heterogeneidade de situações que compõem a tendência à concentração de população no Estado de São Paulo e, principalmente, em sua área metropolitana são dimensões que transformam o estudo da migração ao mesmo tempo em um desafio e numa prioridade. 3.2 Aspectos Teóricos da Dinâmica Migratória no Interior Paulista A migração vem se tornando há algumas décadas o componente demográfico mais importante para a explicação da redistribuição espacial da população pelo Estado de São Paulo. Nos anos 80, com a progressiva redução dos diferenciais de fecundidade e mortalidade pelo estado, os fluxos migratórios interestaduais, interregionais e intra-regionais passaram a ter um peso ainda maior na dinâmica populacional dos municípios e regiões paulistas. Na década de 90, não há evidências empíricas que se contraponham a essa tendência. Além disso, a progressiva desvinculação entre produção econômica e emprego na sociedade contemporânea vem colocar em xeque as abordagens teórico-metodológicas que pressupõem uma relação mecânica entre mobilidade populacional e emprego industrial. Manifestações mais recentes do processo de urbanização aludida por Martine (1994, p. 24-35) e o acirramento da polarização do crescimento demográfico em direção a alguns centros urbanos no interior do estado (BÓGUS E BAENINGER, 1995, p. 67-68) – também introduzem elementos novos na discussão dos níveis e padrões migratórios futuros da população paulista. 3.3 Revisando Décadas Anteriores As tendências gerais dos deslocamentos populacionais no Brasil, ocorridos desde os anos 30 até a década de 70, estiveram ancoradas, basicamente, nos seguintes eixos: ü Na enorme transferência de população do meio rural para o urbano que, refletindo as distintas etapas do processo de desenvolvimento, contribuiu para o esvaziamento do campo; ü Nas migrações com destino às fronteiras agrícolas (CANO, 1998, p. 26); ü No intenso fenômeno da metropolização e na acentuada concentração urbana. Na vertente da migração rural-urbana, Cano (1998) contextualizou esses movimentos migratórios no centro do processo de industrialização em curso, onde os deslocamentos populacionais – com origem no rural e destino no urbano representavam a força de trabalho necessária à etapa de acumulação capitalista. As áreas rurais estagnadas ou em processo de transformação contribuíam para “fatores de estagnação” ou “fatores de mudanças” impulsionadores de fluxos migratórios nos locais de origem, em que as ‘causas’ e ‘motivos’ da migração eram resultantes das transformações econômicas globais da sociedade. Os excedentes populacionais do rural constituíam transferências populacionais para as cidades com a incorporação desses contingentes no mercado de trabalho industrial em expansão. Embora os movimentos migratórios rural-urbano fossem a principal força redistributiva da população, principalmente nos anos 50 e 60, o panorama dos movimentos migratórios no Brasil foi sendo ampliado a partir de então, até mesmo pela nova etapa de desenvolvimento econômico que o País viria a assistir. Segundo Martine e Camargo (1984, p. 99-101), o cenário da distribuição espacial da população brasileira a partir dos anos 60 foi movido por forças centrífugas, com a expansão populacional (migrações inter-regionais) rumo às áreas de fronteiras, e por forças centrípetas, com a migração rural-urbana em direção às grandes cidades do Sudeste, particularmente para a região Metropolitana de São Paulo. Já nos anos 70, no centro desta bipolaridade, fazia-se notar as forças de reforço à concentração (forças centrípetas), com a emigração das áreas de fronteiras agrícolas em direção às cidades maiores (MARTINE, 1987, p. 29-30). Nesse contexto, a urbanização nacional operava-se em moldes cada vez mais concentradores, levando ao estabelecimento de um processo de distribuição da população que tendia a privilegiar os grandes centros urbanos do Sudeste (Gráfico 1). Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE apud Martine, 1987, p. 28-31. Gráfico 1. Evolução da População, por Localidade de Residência – Brasil – 1940-80. A partir dos anos 80 essas forças se redefinem no entendimento das direções e sentidos das migrações internas. As forças centrífugas, resultantes da força de atração exercida pelas fronteiras agrícolas, já haviam acentuado sua perda de importância nos anos 70, muito embora seus desdobramentos tenham ainda se refletido, nos anos 80 e início dos 90, nos movimentos migratórios. Em Martine (1987, p. 28-31) encontra-se a evolução e declínio das áreas de fronteiras no Brasil, como apresentado a seguir: Ilustração 1 - As Três Últimas Fronteiras do Brasil Fonte: MARTINE, G. Migração e absorção populacional no trópico úmido. In: Seminário sobre Tecnologias para os Assentamentos Humanos no Trópico Úmido. Manaus, 1987 Fonte: MARTINE, G. Migração e absorção populacional no trópico úmido. In: Seminário sobre Tecnologias para os Assentamentos Humanos no Trópico Úmido. Manaus, 1987. Gráfico 2. Evolução dos Ciclos da Fronteira – Brasil – 1930-90 Já as forças centrípetas, em especial a exercida pela metrópole de São Paulo, esfriou-se pós anos 80, porém não desapareceram. Compondo um movimento mais amplo de distribuição populacional, a Região Metropolitana de São Paulo, ao mesmo tempo em que ainda se mantém como maior centro de recepção migratória, passou também a se destacar pela importância de seu volume emigratório em nível nacional. 4 MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS RECENTES O fenômeno migratório é influenciado por diversos aspectos, como por exemplo, através de dificuldades econômicas, políticas, sociais e religiosas. Embora o fator econômico seja o principal na análise das causas da migração, outros aspectos sociais também influenciam nessa decisão, como a cultura e religião, dentre outras. Esse processo de migração pode ser por tempo temporário ou permanente. As razões determinantes se prendem às precárias condições de vida das zonas rurais em relação às urbanas, devido ao fato da falta de incentivo, que continuamente atraem levas de populações rurais em busca de melhores condições na cidade. O fator determinante migratório é o econômico, expresso nas diferenças regionais de remuneração e na esperança de encontrar maior estabilidade de trabalho, procurando assim melhores regiões urbanas desenvolvidas na expectativa de encontrar um “campo” que lhe ofereça condições para a sua inserção no mercado de trabalho. Isso acaba acarretando a superpopulação nas regiões urbanas causando desemprego ou subemprego, e, em casos extremos, a miséria da região, porque leva a população rural a buscar os grandes centros urbanos. Depois de sair de seus lugares de origem, as pessoas procuram adequar-se à sociedade e às condições de vida e de trabalho da região que as recebem, observado por Castro (1980), a seguir. É através do trabalho, fundamentalmente, que o migrante vai se adaptar às condições da “sociedade urbano-industrial”. Embora existam outras esferas da vida urbana a que o migrante tem necessidade de se adaptar, o trabalho se constitui no núcleo em torno do qual ocorre sua “socialização”. [ Castro, 1980. p.900 ] Esse processo pode ser longo e doloroso e pode causar, em casos mais graves, o retorno ao ponto de partida. O País, a partir da década de 70, passou por transformações estruturais e oscilações conjunturais de curto prazo que repercutiram grandemente sobre a dinâmica migratória e o mercado de trabalho paulista. Neste sentido, a diminuição da intensidade migratória para a Região Metropolitana de São Paulo- RMSP – foi um dos aspectos mais surpreendentes que os dados do Censo Demográfico permitiram vislumbrar. Como observou Patarra (1996): A divulgação dos primeiros resultados do Censo Demográfico de 1991 constituiu momento propício a um intenso debate a respeito das características e tendências da dinâmica demográfica brasileira. (...) A dinâmica migratória, no conjunto dos diagnósticos elaborados sobre a dinâmica demográfica recente, foi a que causou maior surpresa. (...) Através dos resultados sobre as populações residentes, no âmbito dos municípios, constataram-se: tendência à desconcentração populacional no país, perda de força de atração das metrópoles – embora com permanência e reforço do crescimento maior das periferias das grandes cidades -; taxas de crescimento relativamente mais altas nos municípios do entorno dos pólos já existentes; crescimento das cidades médias e de pequenos aglomerados urbanos, entre outros aspectos. Esses indicadores, por sua vez, sugerem movimentos de retorno, maior incidência de migração intrarregional e dispersão dos fatores de atração dos deslocamentos populacionais. (...) O caso da Região Metropolitana de São Paulo foi, como se sabe, o mais surpreendente e discutido, em função do enorme contraste com a década anterior (PATARRA, 1996, p. 13-14). Para alguns autores a queda da intensidade migratória no Estado, ou mais propriamente na Região Metropolitana de São Paulo, estaria relacionada à baixa capacidade de geração de empregos, de absorção de mão-de-obra da economia regional e, enfim, de perspectivas concretas de mobilidade social ascendente (PACHECO & PATARRA, 1997, p. 48). O mercado de trabalho estaria não só criando uma quantidade menor de oportunidades ocupacionais como também estaria sendo mais seletivo no perfil dos contratados. Segundo esta hipótese, as perspectivas de inserção ocupacional do migrante, assim como sua mobilidade setorial ou posicional, seriam menores no quadro de instabilidade macroeconômica a partir de 1980. De fato, como observam diversos autores, o comportamento do nível de emprego urbano no período seguiu de forma aproximada o desempenho das variáveis macroeconômicas no país e no estado, o que significa dizer que ficou muito aquém daquele verificado na década anterior. Contrastando com o desempenho da década de 70, que apresentou altas taxas de crescimento, a economia nos anos 80 caracterizou-se por forte instabilidade, estagnação econômica e crescente aceleração do processo inflacionário. Agregou-se a decepcionante performance do setor secundário, para o qual a taxa média agregada de crescimento do produto situou-se próximo de zero, um desempenho pouco dinâmico da agricultura, cujo ritmo de crescimento, embora maior que a indústria, ficou aquém da media da década de 70. Na economia paulista, a tendência estagnante foi ainda mais grave, como revela o cotejo das respectivas taxas estimadas de crescimento do PIB: 2,4% aa para o Brasil e 2,1% aa para São Paulo (PACHECO & POCHMANN, 1997, p.12). Há, naturalmente, uma série de obstáculos que se interpõem entre o migrante e a “oportunidade econômica” que, em tese, a cidade industrial lhe oferece: de um lado, nem sempre o migrante possui as qualificações necessárias nem a bagagem cultural exigida pelos novos empreendimentos; por outro lado, a insuficiência de recursos impede determinado número de migrantes de alcançar êxito na luta competitiva que se trava dentro do mercado urbano de trabalho. Não é incomum, por exemplo, que migrantes já cheguem endividados, sendo obrigados a trabalhar durante certos períodos por baixo salário para pagar os custos da viagem. 4.1Tendências da Migração e da urbanização no Interior O Interior de São Paulo reforçou nos anos 90 seu potencial de absorção migratória e, muito provavelmente, de atração dessa população oriunda da metrópole paulista. Esse processo de desconcentração populacional da área metropolitana de São Paulo está, em parte, associado à crise econômica dos anos 80 e à recessão econômica dos anos 90. Pode-se dizer que, até os anos 80, o processo de desconcentração da indústria de São Paulo em direção a outros estados e para o interior foi acompanhado de importantes fluxos migratórios na mesma direção. A partir dos anos 90, o processo de reestruturação produtiva tem mudado o perfil da indústria brasileira, com a retomada do maior peso relativo do Estado de São Paulo na distribuição da indústria de transformação nacional. Assim, em que pese a enorme alteração na “dimensão espacial do desenvolvimento brasileiro”, o Estado de São Paulo diversificou e modernizou sua indústria de transformação, permanecendo na posição de centro dinâmico do País. Nessa etapa econômica, entretanto, os fluxos migratórios para o Estado têm se reduzido, tornando cada vez mais complexa a relação entre as áreas dinâmicas economicamente e capacidade de absorção de contingentes migrantes. Na verdade, a “condição pós-moderna” (HARVEY,1992, p. 172) que busca a metrópole paulista tendera a gerar, cada vez mais, um enorme excedente populacional sem que ocorra uma perda de dinamismo econômico da região; a redefinição de seu papel no cenário nacional e a competitividade entre metrópoles do mundo globalizado fará com que esta área reafirme seu caráter de centro decisório do País, especialmente em termos financeiros. As mudanças no paradigma da indústria, que se manifestam na crescente diminuição da absorção de mão-de-obra, já revelam o deslocamento do eixo explicativo da migração via industrialização. Nos anos 70, particularmente, os destinos migratórios apresentavam estreita relação com o dinamismo industrial (incluindo-se o agroindustrial) das regiões do Interior; as evidências empíricas apontam, agora, a necessidade de mudanças nas abordagens sobre as migrações, em particular no caso paulista. Essa reestruturação produtiva implica também a competitividade entre os espaços urbanos para sua inserção nessa dinâmica global; nesse esforço, Harvey (1992, p. 266) enfatiza que: “a produção ativa de lugares dotados de qualidades especiais se torna um trunfo na competição espacial entre as localidades, cidades, regiões e nações (...) criando uma atmosfera de lugar e tradição que aja como um atrativo para o capital como para pessoas ‘do tipo certo’ (isto é, abastadas e influentes)”. Nessa nova etapa de desenvolvimento econômico, as regiões mais dinâmicas estão “abertas” e absorvem os migrantes qualificados, que são minoria. As variadas e distintas modalidades de movimentos migratórios, envolvendo principalmente áreas urbanas, rompem com o paradigma explicativo da emigração como um dos efeitos sociais negativos resultantes do menor crescimento econômico e, sobretudo, da ausência de atividades industriais fortes. Na relação migração/ dinâmica econômica, as cidades mais prósperas (em termos de inserção no mercado regional, nacional e internacional) tendem a registrar os maiores volumes de emigrantes, tanto na Região Metropolitana de São Paulo quanto no Interior do Estado. Assim, os fatores de expulsão, para os migrantes de baixa renda estariam nas áreas mais dinâmicas, e os de atração, nas de menor dinamismo. Essa interpretação só faz sentido, contudo, considerando a dimensão espacial como elemento constitutivo do próprio processo migratório; as migrações intrametropolitanas, intra-regionais e da metrópole para o Interior exemplificam essa formulação. A redução do crescimento urbano vem sendo acompanhada por um decréscimo pequeno, mas significativo, no processo de concentração em cidades grandes. Observa-se na Tabela 1 e 2, que durante o período 1940-70 houve um acréscimo contínuo e expressivo na participação das cidades de maior tamanho na população urbana e total. Tabela 1. Evolução da População no Estado de São Paulo – 1940 -1970 Anos População 1940 7.180.316 1950 9.134.423 1960 12.809.231 1970 17.670.013 Fonte: Fundação Sistema Estadual de Analise de Dados – SEADE Tabela 2. Evolução da População dos principais municípios no Estado de São Paulo 1940-1970 1940 Municípios 1950 1960 1970 População Araçatuba 45721 59452 79777 108136 Bauru Campinas Franca 55472 129940 55760 65452 152547 53485 92099 217219 66702 131101 372067 92863 Marília Presidente Prudente Ribeirão Preto Registro 81064 75806 79783 ... 86844 60903 19550 92160 89198 71270 15032 145267 97771 105192 24074 211330 Santos Sorocaba 165568 70299 203562 93928 262997 136271 344347 174323 São José dos Campos 36279 44804 76994 146612 Entre os fatores citados como responsáveis pelo resfriamento da concentração metropolitana estão a crise econômica que contribuiu para a desconcentração industrial, a contra-urbanização, a interiorização progressiva da atividade agropecuária e a queda da fecundidade. A principal hipótese para a redução do ritmo de crescimento da Região Metropolitana de São Paulo é a desconcentração de unidades produtivas de médio e grande porte, sobretudo industriais, que ocorreu em direção ao interior do estado e estados adjacentes (CANO, 1998, p. 341). Podemos observar este fenômeno na Tabela 3. Tabela 3. Número de Estabelecimentos da Indústria para o Estado de São Paulo, Regiões Administrativas, Região Metropolitana de São Paulo e Baixada Santista. Fonte: Fundação IBGE. Censo Demográfico do Estado de São Paulo. Nota: (1) Refere-se ao Estado de São Paulo, excluindo-se a RMSP. O Censo extraído da Fundação Seade no ano 2000, não reservou muitas surpresas quanto ao interior paulista. A análise comparativa dos migrantes para o interior paulista segundo o local de origem apontou diferenças em relação aos fluxos para a RMSP. Houve participação menor dos fluxos do Nordeste (37,2%), e mais expressiva do Sudeste (25,7%) e do Sul (22,2%) para o interior, predominando os fluxos vindos dos estados de Minas Gerais (20,5%), Paraná (19,1%), Bahia (13,9%) e Pernambuco (6,2%). Refletindo tendências demográficas observadas em período anterior, moldadas em grande medida pela interiorização da indústria no Estado de São Paulo na década de 80, as regiões de base econômica mais desenvolvida, de maior dinamismo econômico, industrial ou agroindustrial, e/ ou de maior expansão de empregos continuaram apresentando uma forte intensidade migratória (JANUZZI, 1994, p. 465-482). Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Sorocaba, São José do Rio Preto e Bauru consolidaram-se como pólos de grande dinamismo migratório e abriram o caminho para a emergência de outros centros regionais, como Presidente Prudente e Araçatuba, contribuindo para reversão, ou pelo menos, diminuição da evasão populacional observada no Oeste paulista em decênios anteriores. O complexo conjunto de mudanças econômico-espaciais experimentados pelo Interior paulista contribuiu para o fortalecimento das distintas economias regionais, favorecendo por um lado, a dispersão populacional no estado e, por outro, um rearranjo das formas de distribuição espacial da população no âmbito de cada região. Nesse contexto, são absorvidos ao sistema urbano, que se expande, municípios pequenos e de porte intermediário; ao mesmo tempo, as cidades de médio e grande porte vêm apresentando uma desaceleração em seus ritmos de crescimento populacional. A recuperação populacional do interior de São Paulo nos últimos trinta anos esteve ancorada em seu potencial de absorção migratória no âmbito do próprio estado. 4.2 Crescimento de São Paulo e a absorção da mão e obra O Estado de São Paulo exibiu um sensível processo de recuperação migratória na década de 90. De fato, entre 1991 e 2000, o volume anual de migração do estado (147 mil habitantes) quase triplicou em relação ao registrado entre 1980 e 1991 (51 mil). Como podemos observar na tabela 4, a taxa anual de migração elevou-se de 1,8 migrantes por mil habitantes nos anos 80, para 4,3 migrantes por mil na década de 90. Tabela 4. Taxas de Crescimento Populacional, Saldos Migratórios e Taxas Líquidas de Migração Estado de São Paulo, região Metropolitana de São Paulo e Interior – 1980/2000 É interessante perceber que, apesar da restauração migratória, a taxa de crescimento da população paulista manteve-se em decadência, passando de 2,1% aa entre 1980/1991, para 1,8% aa entre 1991/2000 (Tabela 4). Em termos de mercado de trabalho, a migração não constitui apenas um processo equilibrador de oferta e demanda de mão-de-obra, mas também transformador. O processo de desenvolvimento industrial é causa e efeito do processo migratório, pois se a migração interfere no processo modelador do espaço e dos padrões de distribuição da força de trabalho em ocupações industriais ou não, uma vez estabelecidos estes parâmetros, eles interferem consideravelmente nos níveis posteriores desse desenvolvimento, bem como nos fatores de atração e expulsão dos trabalhadores por uma região. Os fatores de expulsão definem as áreas de onde se originam os fluxos migratórios, mas são os fatores de atração que determinam a orientação destes fluxos e as áreas às quais se destinam. Entre os fatores de atração (o trabalho, melhores oportunidades de emprego, maiores rendimentos se configurariam em fatores de atração), o mais importante é a demanda por força de trabalho, entendida não apenas como a gerada pelas empresas industriais, mas também a que resulta da expansão dos serviços, tanto dos que são executados por empresas capitalistas como os que são prestados por repartições governamentais, empresas públicas e por indivíduos autônomos. De uma forma geral, interpreta-se esta demanda por força de trabalho como proporcionando “oportunidades econômicas”, que constituem um fator de atração na medida em que oferecem uma remuneração mais elevada que a que o migrante poderia receber na área de onde provém (MARTINE, 1987, p. 31). A economia capitalista não dispõe de mecanismos que assegurem uma proporcionalidade entre o número de pessoas aptas para o trabalho que os fluxos migratórios trazem à cidade, e o número de lugares de trabalho criados pelas novas atividades implantadas no meio urbano. O número de migrantes que contribui para expandir a oferta de força de trabalho urbano depende, predominantemente, dos fatores de expulsão: os fatores de mudança criam uma espécie de desemprego tecnológico na área rural, sendo a dimensão deste desemprego uma função do aumento da produtividade do trabalho agrícola e da sua especialização. A demanda de força de trabalho suscitada pela expansão da economia urbana, por sua vez, depende da estrutura da demanda atendida por aquela economia e das técnicas aplicadas em cada ramo, que determinam a produtividade física do trabalho na produção de cada mercadoria. Na Tabela 4, vista anteriormente, observa-se que a recuperação registrada no Estado deve-se, em grande medida, às tendências da migração na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Comparativamente aos anos 80, a tabela nos mostra que a Metrópole experimentou uma redução das perdas migratórias, revertendo o saldo anual migratório negativo de 26 mil pessoas registrado entre 1980/ 1991, para um saldo anual positivo de 24 mil pessoas entre 1991/2000. Fonte: Fundação SEADE/ Fundação IBGE. Gráfico 4 Evolução das Taxas Líquidas de Migração Anuais: Região Metropolitana de São Paulo - 1970/2000 O Gráfico 4 proporciona a visualização das mudanças que vêm ocorrendo na migração metropolitana desde os anos 70. Seguindo a direção estadual esta área exibia entre 1970/80, uma taxa anual de migração bastante elevada de 25 migrantes por mil habitantes. Entre 1980/1991, pela primeira vez, passou a registrar uma taxa negativa, de 1,9 migrantes ao ano por mil; nos anos 90, tornou a apresentar uma taxa anual positiva, de 1,5 migrantes por mil habitantes. No município de São Paulo predominaram as tendências observadas nos anos 80, porém, verificou-se desaceleração no ritmo de evasão migratória: 68 mil pessoas ao ano em média deixaram a Capital entre 1980/ 1991 contra a média de 51 mil pessoas ao ano entre 1991/ 2000 (Tabela 4). A taxa anual de migração diminuiu de –7,6 migrantes por mil habitantes entre 1980/1991 para 5,1 por mil entre 1991/2000, como mostra o Gráfico 3 e Tabela 4. Apesar da recuperação migratória, o ritmo de crescimento da Capital também se manteve em declínio seguindo a tendência estadual; a taxa de crescimento populacional passou de 1,2% aa para 0,9% aa entre 1980/ 2000 (Tabela 4) Tabela 5. Taxas de Crescimento Populacional, Saldos Migratórios e Taxas Líquidas de Migração - Estado de São Paulo, Região Metropolitana de São Paulo e Interior 1980/2000 Taxas deSaldos Estado de São Paulo RM de Crescimento Anuais Anuais São Paulo e Interior 1980/91 1991/00 Taxas Líquidas de Migratórios Migração Anuais (por mil hab.) 1980/91 1991/00 1980/91 1991/00 Estado de São Paulo 2,12 1,82 50.584 147.443 1,79 4,31 RM de São Paulo 1,86 1,68 -26.405 24.399 -1,89 1,47 Município de São Paulo 1,15 0,91 -68.578 -50.824 -7,58 -5,07 Outros Municípios da RMSP 3,20 2,87 42.173 75.223 8,58 11,41 2,38 1,95 76.989 123.044 5,41 6,99 1,86 1,77 -1.188 288 -5,77 1,17 2,18 2,17 4.644 13.115 4,27 9,78 2,77 2,15 9.467 12.358 6,63 6,81 RA de Sorocaba 2,66 2,31 11.162 19.652 6,36 8,79 RA de Campinas 2,91 2,31 40.841 50.917 10,78 10,43 RA de Ribeirão Preto 2,86 1,91 7.113 6.297 9,19 6,45 RA de Bauru RA de São Jose do Rio Preto 2,01 1,69 2.299 4.909 3,10 5,52 1,58 1,59 473 7.804 0,46 6,44 RA de Araçatuba 1,44 1,04 -1.298 -134 -2,28 -0,21 RA de Presidente Prudente 0,94 0,80 -5.755 -2.684 -8,26 -3,53 RA de Marilia 1,35 1,34 -2.510 1.661 -3,42 1,98 RA Central 2,71 1,82 6.231 5.581 9,84 7,07 RA de Barretos 2,65 1,13 2.659 120 8,52 0,32 RA de Franca 2,52 1,92 2.851 3.160 6,01 5,36 Interior do Estado de São Paulo RA de Registro Região Metropolitana de Santos RA de São Jose dos Campos Fonte: Seade/ Fundação IBGE (Censo 2000, divulgado 19/12/2001). Notas: (1) As estimativas populacionais foram ajustadas para 1º de julho para possibilitar a comparabilidade dos dados. (2) Os municípios foram desmembrados em 645, em 1991, para possibilitar as análises. (3) Considerou-se Interior como sendo Estado de São Paulo, exceto RM de São Paulo. A tabela 5 mostra que nos demais municípios da RMSP, exceto São Paulo, o saldo migratório anual médio foi de aproximadamente 75 mil pessoas entre 1991/ 2000, representando um aumento de 78% em relação à década de 80, que apresentou um saldo anual de 42 mil pessoas. Em síntese, as informações analisadas apontam que, a recuperação migratória da Metrópole nos anos 90 estaria associada tanto à redução da evasão populacional no Município de São Paulo quanto ao aumento do volume de migração exibido pelos demais municípios metropolitanos. Apesar da continuidade da interiorização industrial no Estado de São Paulo, esta vem se processando em um ritmo menos intenso, dado à perda de dinamismo da indústria em seu conjunto. Com isso, a economia do interior paulista exibiu um comportamento bastante similar ao da metrópole nos anos 90. As informações disponíveis até o momento revelam que a migração também teve papel relevante no interior do estado de São Paulo. Como mostra a Tabela 5, o saldo migratório desta área passou de 77 mil pessoas anuais médios, entre 1980 e 1991, para 123 mil pessoas anuais médios, entre 1991 e 2000; o que representa um aumento de 60% no volume de migração no período 1980/2000. As regiões localizadas à leste do Estado, como Campinas, Sorocaba, São José dos Campos, Ribeirão Preto e região metropolitana de Santos continuaram registrando os maiores volumes anuais de migração no período 1991/ 2000. Nesse grupo de regiões, Campinas destacou-se apresentando o maior volume de migração do estado, de praticamente 51 mil pessoas ao ano entre 1991 e 2000 (Tabela 5). Esta região respondeu sozinha por 53% da migração do Interior e 34% da migração estadual nos anos 90 e exibiu a mais elevada taxa, de 10,4 migrantes ao ano por mil habitantes neste período. Com exceção de Ribeirão Preto e RA Central, nas demais regiões deste grupo prevaleceu a tendência de aumento do volume de migração nos anos 90. Com relação às taxas verificou-se ganhos migratórios importantes na Região Metropolitana de Santos e Sorocaba neste período observado nas Ilustrações 2 e 3. Ilustração 2 - Taxas Anuais de Migração (por mil habitantes) Regiões Administrativas do Estado de São Paulo - 1980/1991 Fonte: Fundação IBGE. Fundação SEADE. Censos Demográficos do Estado de São Paulo de 1980 e 1991. Ilustração 3 - Taxas Anuais de Migração (por mil habitantes) Regiões Administrativas do Estado de São Paulo - 1991/2000 Fonte: Fundação IBGE. Fundação SEADE. Censos Demográficos do Estado de São Paulo de 1991e 2000. Nas regiões de Campinas e São José dos Campos verificou-se a manutenção dos níveis migratórios nos dois períodos. A trajetória da migração e seus impactos no contexto intra-regional podem ser melhor observados através da análise das tendências desta variável no âmbito dos municípios paulistas. De fato, acredita-se que a especialização deste fenômeno em pequenas áreas possa constituir subsídio valioso para o entendimento da dinâmica migratória no Estado de São Paulo. 4.3 Análise das Regiões do Estado de São Paulo No item 4.2 consta o crescimento do Estado de São Paulo e a absorção da mão de obra demonstrando, assim, na Tabela 4 as Taxas de Crescimento Populacional e Taxas Líquidas de Migração no Estado de São Paulo, Região Metropolitana de São Paulo e Interior. Na tabela 3 consta o número de Estabelecimentos da Indústria para o Estado de São Paulo, Regiões Administrativas, Região Metropolitana e Baixada Santista. O Gráfico 3 demonstra os migrantes interestaduais segundo Local de Origem (em %) Região Metropolitana de São Paulo e Interior de 1995 a 2000. Já no Gráfico 4 é mostrada a Evolução das Taxas Líquidas de Migração Anuais da Região Metropolitana de São Paulo de 1970 a 2000, verificando-se na tabela 5 as Taxas de Crescimento Populacional, Saldos Migratórios e Taxas Líquidas de Migração do Estado de São Paulo, Região Metropolitana de São Paulo e Interior de 1980 a 2000. Nas ilustrações 2 e 3 constam as Taxas Anuais de Migração (por mil habitantes) nas Regiões Administrativas do Estado de São Paulo de 1980 a 1991 e 1991 a 2000. Tabela 6 População e Número de Pessoal Ocupado: Total e na Indústria Regiões Administrativas, Metropolitanas e do Estado de São Paulo - 1980-2000. Como se observa na Tabela 6, em 1980 o total da população do Estado de São Paulo é de 24.953.238. Com relação ao pessoal ocupado do Estado o total é 4.706.286 e, desse total, trabalham na indústria 3.424.522 pessoas. Em 1990 o total da População no Estado é de 30.783.108, onde se vê um crescimento de 23%. Na década de 1990 o total do pessoal ocupado cresceu 62%. Em compensação na indústria houve uma redução de 40%, o que é facilmente explicável já que a década de 1990 foi considerada a década perdida. Na década de 2000 em relação à população da década de 1990 houve um crescimento de 20%, totalizando 36.974.378. Do total do pessoal ocupado houve um crescimento de 5%, e na indústria de 10%. Observando-se a Região Metropolitana de São Paulo, da década de 1980 para a de 1990 houve um acréscimo de 20% em relação à população. De 1990 a 2000 a população cresceu 18%. Do total do pessoal ocupado houve uma redução de 2% e do pessoal ocupado na indústria houve uma redução de 30%. Nas outras regiões houve uma avaliação mais detalhada demonstrada nas tabelas e ilustrações citadas acima. Nos anos de crescimento acelerado das décadas de 60 e 70, a migração para a Região Metropolitana teve um papel importante na ampliação da disponibilidade de força de trabalho exigida pelo maior nível de produção. Se, por um lado, a migração induziu um crescimento elevado da população metropolitana, é inquestionável que, por outro lado, ela garantiu força de trabalho para o processo de expansão. A preocupação com esse movimento aparece, na segunda metade dos anos 70. Dificuldades como: a perda de vigor da economia (que não era acompanhada por um ajuste proporcional e imediato do fluxo migratório e mesmo do crescimento da População em Idade Ativa (PIA), fato que agravava os problemas de emprego inerentes a uma situação de desempenho econômico lento) e o crescimento acelerado da população e a recorrência dos baixos salários (exigia investimentos elevados em infra-estrutura social, tornando altamente complexas as políticas de transporte, habitação, saneamento, educação, saúde e outras) se ampliaram nos anos 80, quando a metrópole conhece anos de recessão violenta seguidos de outros marcados por uma recuperação instável de sua economia. Assim, o nível de emprego industrial ao final da década era semelhante ao do início do período. A gravidade da desproporção entre o crescimento da PEA e do nível de emprego não se apresentou ainda de forma mais intensa, graças à queda da saldo migratório explicada por um fluxo de emigrantes para o interior do Estado ou para as regiões de origem. Se os elevados saldos migratórios do passado pesavam significativamente sobre o crescimento da PEA metropolitana dos anos 80, notava-se, entretanto, que o fluxo presente naquele momento provocava um efeito redutor, mesmo que limitado, sobre aquela taxa. Os dados do Censo Demográfico de 1991 confirmaram o peso da migração passada sobre o crescimento da PEA metropolitana dos anos 80, mas desmistificaram certas visões catastróficas sobre o papel perverso da migração para o mercado de trabalho local. Observa-se que de 1990 para 2000, houve uma queda considerável do número de pessoal ocupado na indústria nas regiões RM da Baixada Santista, RM São Paulo, RA Registro, RA Santos, RA São José dos Campos, RA Campinas, RA Ribeirão Preto, RA Central, RA Barretos, direcionando para outras regiões e outras áreas de atividades. A RA São José dos Campos teve um aquecimento em outros ramos de atividades, aumentando em 20% o número total de pessoas ocupadas em 2000. Assim ocorreu na RA Campinas, onde teve um acréscimo de 18% no mesmo ano. Já na RA São José do Rio Preto houve um crescimento quase que proporcional relacionando o número total de pessoas ocupadas (37%) e pessoas ocupadas na indústria (29%). O mesmo ocorreu na RA Bauru, onde houve um crescimento de 17% de pessoas ocupadas nesta região e 30% ocupadas na indústria. Analisando comparativamente em relação à população da RA Bauru, apenas 18% da população em 1990 está ocupada na indústria, e em 2000 há uma queda para 16%. A redução da capacidade de retenção de força de trabalho pelo setor industrial metropolitano, explicada pela reorganização violenta do setor imposta pela política de abertura econômica, reforçou a crença do peso desfavorável da migração sobre os problemas de emprego. Observa-se ainda que essa situação é reproduzida no interior do Estado de São Paulo. Em termos gerais, não parece que a migração interestadual venha se constituindo em um processo relevante para compreender o aumento da disponibilidade de força de trabalho. É preciso analisar espaços específicos para averiguar em que situações a migração interestadual continua tendo papel importante para a evolução do mercado de trabalho. Para o Estado de São Paulo, parece não existir evidências mais gerais que pudessem permitir imputar os problemas de emprego ao movimento migratório recente. A redução acentuada do emprego nos setores industrial e bancário/ financeiro, observado ao longo do anos 90, atingiu principalmente esse segmento ocupacional. O papel de grande pólo atração cumprido pela região, que explicou seu crescimento populacional acelerado por quase 40 anos, continua sendo um argumento recorrentemente utilizado para justificar seus problemas de absorção de força de trabalho nos últimos 20 anos. Aos migrantes é imputada a responsabilidade do desemprego e da precariedade no mercado de trabalho local, posição que desconsidera as diversas conjunturas econômicas e o papel que a migração teve para a consolidação da principal metrópole econômica do país. 5 CONSIDERAÇOES FINAIS A mobilidade ocupacional e social do migrante no mercado de trabalho paulista ao longo de 1980 à 2000 analisados esteve condicionada, em um primeiro momento a dinâmica conjuntural do emprego e a natureza das transformações estruturais que tem se processado na base produtiva nacional e paulista no período. Migrantes provenientes do interior e dos estados vizinhos conseguiram garantir uma inserção melhor e mobilidade ocupacional mais diversificada entre os setores de atividade, seja porque deslocaram “para” ou “dentro” do interior próximo, região de forte dinamismo econômico-regional no estado no período considerado. A consolidação de eixos de expansão econômico-populacional, o crescimento das cidades pequenas em contraposição às grandes aglomerações e as articulações do nível municipal com o regional e o metropolitano supõem a compreensão dos fenômenos regionais e seus rearranjos para a definição de feições próprias e atuais. Emerge, nesse processo, a competitividade entre os espaços urbanos na busca de atração de novos investimentos e de mão de obra especializada. Em termos gerais, com perda de dinamismo na geração de empregos no estado, as possibilidades de mobilidade social passam a depender cada vez mais dos atributos individuais. Assim, se tantos sobem na escala sócioocupacional, outros tantos descem em igual medida, reforçando, de um lado, as cifras de mobilidade ascendente e, de outro, as relativas a mobilidade descendente. Os condicionantes mais gerais do processo no estado não criaram quaisquer facilidades para a mobilidade ocupacional e social dos migrantes. Ainda assim, para os distintos tipos de migrantes, nos diversos contextos para os quais se dirigiram, as possibilidades de mobilidade ocupacional e social no período de 1980 a 2000 podem ter se concretizado de forma diferente. Afinal: A mobilidade social é condição e efeito do processo de desenvolvimento. Ela depende, assim, de mudanças estruturais (transformações estruturais, tipos de emprego e espectro ocupacional) e individuais (educação, experiência, informação e relacionamento). O peso de cada uma dessas espécies de fatores depende do estágio e ritmo de desenvolvimento da sociedade (PELIANO, 1992, p. 134). Quando se percebe que as migrações internas, os deslocamentos de pessoas, se fazem de acordo com a localização e a redistribuição das atividades econômicas sobre o local, pois é a União juntamente com os Estados quem mais decide sobre como e onde a atividade econômica irá se localizar. Portanto observa-se que o Estado está sempre promovendo a política migratória. O problema é que, na maior parte do tempo, o Estado faz política migratória sem saber ou querer. As pessoas migram quase sempre em busca de melhores oportunidades de emprego e renda, e a maior concentração de bons empregos se faz onde há maior dinamismo da atividade econômica. Não é por acaso que as pessoas vão muito mais a São Paulo do que a Natal ou Santarém. O Estado moderno tem uma enorme influência sobre as decisões de como produzir, o que produzir e para quem produzir – isso é a essência do seu estilo de desenvolvimento. Mas, ao fazer isso, afeta a migração e, conseqüentemente, a distribuição espacial da população, em sentidos que o próprio Estado pode vir a lamentar depois. “Migração” em si não é um problema social. Muitas vezes é uma solução, à medida que a migração faz parte do processo de desenvolvimento. Só é problema quando se faz por motivos de expulsão ou quando sua dimensão ou as características dos movimentos criam situações contrapondo o desenvolvimento da própria sociedade, o que condiz com a atualidade do Brasil. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, D. M., JR. Palavras que calcinam, palavras que dominam: a invenção da seca do Nordeste. Revista Brasileira de História. São Paulo. ANPUH/Marco Zero, v. 14, n. 28, p. 111-120, 1994. BAENINGER, R. Homogeneização de tendências populacionais em São Paulo: o papel dos pólos regionais no processo de urbanização e de redistribuição espacial da população. Brasília, 1994, doutoramento do pesquisador no IFCH/UNICAMP. BÓGUS, L.M. e BAENINGER, R. Redesenhando o espaço interior paulista: desconcentração e expansão urbana. Revista São Paulo em Perspectiva, 1995, p. 62-70. CAMPOS, F.F. Avaliação do Desemprego em conseqüência do Avanço Tecnológico. Taubaté, 2000, 65p. Monografia de MBA em Gerenciamento Empresarial na Universidade de Taubaté. CANO, W. 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SINGER, P. Economia Política da Urbanização. In: Urbanização e Desenvolvimento: o caso de São Paulo. São Paulo: Contexto, 1998, p. 119 – 155. Alguns estudos, analisando principalmente a desconcentração industrial para o Interior, afirmaram se tratar do primeiro caso de reversão da polarização no Brasil, processo que também embute a relação migração/industrialização (JANUZZI, 1996, p. 95). Uma vez que, com o ato de migrar, a força de trabalho absorve técnicas do lugar de destino, passando por mudanças consideráveis no seu nível de qualificação. Os dados de emprego formal são apresentados como o "número de empregos ocupados" e referem-se aos totais de vínculos empregatícios remunerados, efetivamente ocupados por trabalhadores com carteira de trabalho assinada (regime da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT), estatutários (funcionários públicos) e trabalhadores avulsos, temporários e outros, desde que formalmente contratados. numa determinada data, informados pelos estabelecimentos quando da elaboração da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS, do Ministério do Trabalho. Deve-se observar que: a) "O número de empregos é diferente do número de pessoas empregadas, porque um mesmo indivíduo pode estar acumulando, na data de referência, mais de um emprego" (ANUÁRIO RAIS 1992). Esta diferença deve-se ao fato de que o levantamento é feito a partir dos estabelecimentos, considerando-se como estabelecimento "as unidades de cada empresa separadas especialmente, ou seja, endereços distintos" (idem ibidem). b) "A RAIS, como qualquer outro registro administrativo, apesar de ser uma declaração compulsória, está sujeita a erros e omissões", uma vez que nem todos os estabelecimentos respondem à pesquisa ou fornecem informações completas e fidedignas (PAINEL FIXO DA RAIS 1979/ 1992). C) A RAIS apresenta oscilações de cobertura ao longo dos anos, razão pela qual deve-se evitar a comparação dos totais de emprego. É difícil identificar se as variações ocorrem devido ao aumento ou à redução real do mercado de trabalho, ou de um melhor ou pior desempenho na declaração (PAINEL FIXO DA RAIS 1979/1992).