Luiz Antonio de Castro Santos Lina Faria OS PRIMEIROS CENTROS DE SAÚDE NOS EST ADOS UNIDOS E NO BRASIL: ESTADOS UM ESTUDO COMP ARA TIV O COMPARA ARATIV TIVO Numa rede de linhas que se entrecruzam. — I TALO C ALVINO, 1979 N os dias atuais, tornou-se truísmo da literatura especializada afirmar que os centros de saúde ocuparam papel declinante na Europa e, particularmente, nos Estados Unidos, à medida que crescia a medicina hospitalar e as tecnologias de diagnóstico e cura conferiam prestígio à profissão médica.1 A experiência do Brasil foi, no entanto, até certo ponto singular. Aqui, como veremos ao longo do presente trabalho, os centros de saúde não apresentaram uma relação inversa em relação à ascensão da medicina hospitalar, mas constituíram-se em uma forma de assistência à saúde que, ao invés de recuar no tempo, consolidou-se. É como se os “undeserving poor”, de que nos fala Julius A. Roth (1975), fossem menos numerosos, particularmente nos Estados Unidos do segundo pós-guerra, e exigissem por isso uma atenção pública até certo ponto residual, enquanto no Brasil uma estratificação social muito mais rígida forçava os governos a reservar aos imensos contingentes de “nossos pobres” um lugar específico de atenção primária. Os centros de saúde foram esse lugar e vieram, nessa medida, para ficar. Não resta dúvida, por outro lado, que o prestígio e a organização institucional dos sanitaristas nacionais (fosse em torno de Manguinhos, fosse no Serviço Sanitário paulista e em centros de pesquisas como o Instituto de Higiene, em São Paulo) contribuíram 154 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65154 3/8/2009, 12:16 para que a importância dos centros de saúde não declinasse com o passar dos anos. Isto foi possível, diga-se desde logo, ainda que os sanitaristas não desfrutassem, a partir de 1930, no Brasil, do enorme impacto que as gerações de Osvaldo Cruz e Carlos Chagas tiveram no cenário político e na opinião pública. Ora, desse ponto de vista, o quadro brasileiro também destoa do panorama nos Estados Unidos, onde os interesses da saúde pública esbarraram firmemente na organização corporativa e privada da profissão médica, e experimentaram, como os próprios sanitaristas, uma posição de desprestígio.2 O presente trabalho visa discutir brevemente essas histórias em larga medida contrastantes, focalizando o processo de formação dos centros de saúde nos Estados Unidos e no Brasil, no período que se estende entre 1910 e 1940. A periodização proposta busca delimitar os momentos mais significativos do surgimento, implantação e consolidação desse modelo de intervenção sanitária nos dois países, por meio de uma análise histórico-comparativa dos modos pelos quais se concebeu, organizou e difundiu o centro de saúde. A análise comparativa põe em destaque questões importantes para entendimento das trajetórias dos centros de saúde nestes dois países, nos quais as cidades de São Paulo e Milwaukee representam casos exemplares. Esses grandes centros têm merecido atenção dos estudiosos da reforma sanitária no início do século XX. Apresentavam perfil demográfico similar no período estudado, forte presença da imigração europeia, expansão econômica considerável, contingente populacional expressivo (São Paulo contava 580 mil habitantes em 1920, Milwaukee 450 mil).3 Tais cidades foram pioneiras, em seus países, na implantação dos centros de saúde, tendo, além disso, trajetórias históricas similares no tocante ao incentivo público e privado à reforma sanitária (realização de campanhas, atenção à educação sanitária, etc.) durante a implantação desse modelo assistencial. De outro lado, há diferenças significativas quanto ao tempo de implantação (São Paulo quase dez anos depois) e à concepção (o aspecto curativo era descartado na experiência americana, diferentemente dos centros em São Paulo, que ainda que preponderantemente voltados para a prevenção, não excluíam o tratamento médico). Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 155 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65155 3/8/2009, 12:16 Nos Estados Unidos, os centros comunitários de saúde surgem de iniciativas privadas (que incluíam doações de comerciantes e empresários locais) e entidades filantrópicas. Em Milwaukee, o primeiro centro de saúde foi criado em 1911 por iniciativa de Wilbur C. Phillips e sua mulher, Elsie Cole Phillips, baseado em concepções de saúde comunitária e “social work”, embrião da assistência social e da atenção à saúde, em moldes profissionais e não caritativos, adotado em vários países do Ocidente. Mas as “verdadeiras” origens de um padrão estabelecido são quase sempre ardilosas: George Rosen relata, a propósito, que, conquanto inovadora, a experiência do casal Phillips baseou-se na iniciativa de Pierre Budin, professor de Obstetrícia em Paris, que havia, ainda em 1892, planejado a criação de núcleos de puericultura, uma iniciativa pioneira em seu país (Rosen, 1974, p. 311). No Brasil, as unidades sanitárias foram inauguradas e operadas com a cooperação da Fundação Rockefeller e de governos estaduais. Desse modo, São Paulo inspirou-se no modelo norte-americano dos health centers, divulgado pela Fundação Rockefeller. Partindo dessa experiência, os centros de saúde paulistas voltaram sua atenção para a assistência educativa materno-infantil, o atendimento de tuberculosos e portadores de doenças venéreas, as medidas profiláticas de controle das doenças infecciosas, as análises laboratoriais e a formação de profissionais na área de higiene e saúde pública. Ainda que essas iniciativas pioneiras tivessem todas caráter predominantemente preventivo, em São Paulo as ações curativas nunca foram, desde o início, descartadas inteiramente. Nessa medida, as medidas sanitárias implementadas em São Paulo nos anos 1920 e 1930 conformaram uma estratégia de atuação mais ampla, de natureza preventiva e curativa. Outra importante diferença tem a ver com a área de atuação dos centros de saúde. Em Milwaukee, buscava-se atender às classes populares urbanas, sobretudo à força de trabalho fabril, com grande número de imigrantes vindos da Alemanha. Em São Paulo, os centros de saúde visavam a realização de atividades urbanas e a coordenação das ações em áreas rurais. Os programas de saúde atingiam tanto a população imigrante urbana quanto a mão de obra imigrante 156 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65156 3/8/2009, 12:16 das áreas interioranas, sobretudo cafeicultoras. Outra diferença marcante deve ser assinalada, quanto à evolução dos centros de saúde nestes dois países. Os centros de saúde surgiram nos Estados Unidos nas décadas de 1910 e 1920, mas sofreram certo declínio após os anos de 1930, em parte devido à redução dos fluxos imigratórios e ao poder da medicina privada, que se articulava contra a atenção pública (Rosen, 1974, pp. 321-4). No Brasil, segundo alguns estudiosos, teria havido um desprestígio do modelo de centros de saúde no período de Getúlio Vargas.4 Houve, de fato, o abandono temporário — um “cochilo”, dizia um critico5 — deste tipo de serviço em São Paulo, nesse período. No entanto, mesmo os gastos estaduais designados para enfermidades específicas não puderam esconder o fato de que a assistência à saúde continuou a basear-se em “organizações sanitárias complexas”, no dizer de Barros Barreto. Não se pense que este sanitarista, especializado na Johns Hopkins e em Harvard (com bolsa da Fundação Rockefeller),6 fosse um nostálgico dos tempos da Primeira República: era acima de tudo um “jovem turco” do movimento sanitário do Estado Novo, tendo sido, por duas vezes, diretor-geral do DNSAMS (1935-1939 e 1941-1945),7 órgão máximo de saúde no Ministério da Educação e Saúde de Vargas. Para Barros Barreto, o sistema de “divisão por funções” — a concepção “vertical” discutida por estudiosos em nossos dias — cedia espaço para “a tendência moderna” que pretendia, “mesmo nas pequenas organizações permanentes [os postos de higiene], cuidar do maior número de problemas sanitários” (Barros Barreto, 1931, pp. 252, 254). Portanto, se houve “cochilo”, este não durou muito, pois nas administrações do final da década de 1930 o conceito defendido por Paula Sousa voltava a explicitar-se claramente na criação de inúmeros centros de saúde e postos de higiene no estado de São Paulo. Programas distritais de saúde foram criados e implementados em vários municípios paulistas. Na década de 1940, o antigo modelo assistencial, de natureza mais complexa, consolidava-se rumo ao interior do estado. Não houve, pois, alteração nos padrões de atuação dos centros, como defendia Sales Gomes. Note-se, neste caso, que havia uma Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 157 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65157 3/8/2009, 12:16 oposição de caráter partidário ao grupo de Paula Sousa, sintonizado como o PRP e com a Rockefeller, não propriamente uma divergência de caráter programático em torno da saúde pública. No grupo de Sales Gomes estavam não apenas dissidentes do PRP, como Oscar Rodrigues Alves, mas também sanitaristas do chamado “grupo nordestino”, capitaneado por Artur Neiva. Por fim, tanto Sales Gomes quanto Neiva haviam se desentendido com os dirigentes locais da Rockefeller por questões de caráter pessoal e profissional (ao primeiro foi negada uma bolsa de estudos, e o segundo não obteve apoio para criar em São Paulo, sob sua direção, uma instituição do porte de Manguinhos, que lhe serviria para duelar com o prestígio nacional de Carlos Chagas).8 Mas retomemos o esforço comparativo. Em ambas as experiências houve elementos comuns indiscutíveis, sobretudo o estímulo à educação sanitária. Colocando-a na fórmula simplista, o objetivo era “educar para prevenir”. Nesse sentido, educação e prevenção, a divulgação de conhecimentos de higiene e a promoção de uma “consciência sanitária”, aparecem com grande força nos programas dos centros de saúde, tanto em Milwaukee quanto em São Paulo. A ideia de administração sanitária distrital ou local foi outro elemento comum. A delimitação populacional e territorial permitia estabelecer distritos de atuação. Para cada distrito, de acordo com um índice demográfico-territorial, caberia um centro de saúde ou posto de higiene, objetivando a educação, fiscalização e implementação de medidas profiláticas. Essa tendência para desenvolver um serviço local e diversificado, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, era o reconhecimento de que um programa efetivo de saúde requeria uma relação mais próxima com a população de cada distrito, que poderia, assim, ver atendidas, “em um mesmo local e de uma só vez, todos os seus interesses e necessidades em matéria de higiene” (Barros Barreto, 1931, p. 253). Mais do que nas similaridades, talvez resida em um ponto de contraste a relevância, para a análise histórico-sociológica, das experiências selecionadas neste trabalho. Com efeito, seria previsível que, em função de fatores bastante semelhantes que deram origem ao movimento de centros de saúde nos dois países, também se esperasse que o 158 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65158 3/8/2009, 12:16 declínio dos centros de saúde em um dos países — bem como o enfraquecimento da própria ideia de participação comunitária — tivesse reflexos no outro. Tal, no entanto, não ocorreu. Enquanto a experiência norte-americana experimentava evidente declínio, a partir da década de 1930, os centros de saúde no Brasil seguiam uma rota de prestígio na autoridade sanitária e continuavam a ser a mola mestra da prevenção epidemiológica e das campanhas de combate às endemias e epidemias, sem prescindir da atividade ambulatorial. Este será, em linhas gerais, o relato das próximas seções. A concepção de centros de saúde nos Estados Unidos A NOVA SAÚDE PÚBLICA AMERICANA E A IMIGRAÇÃO EUROPEIA Durante os primeiros anos do século XX, algumas cidades americanas, como Nova York, Boston, Milwaukee e Chicago, criaram secretarias de saúde com o objetivo de melhorar as condições de vida e de higiene das populações imigrantes e pobres nestas cidades, tornando mais sistemáticos os esforços iniciais, realizados ainda no século XIX, de organizações privadas e grupos voluntários. A afluência de europeus para o país era vista pelas autoridades sanitárias como uma ameaça à saúde pública americana. Além disso, o “ideal sanitário” que brotara desde a Guerra de Secessão, na trilha aberta pelo chamado Progressivism9 norte-americano, tivera repercussões sobre a própria propagação do conceito de trabalho comunitário em saúde, bem como sobre a necessidade de visitadoras para disseminar os princípios da higiene entre a população (Armeny, 1983, p. 17; Davies, 1983, pp. 58-9). Ainda não tocados pelo “evangelho da saúde”, os imigrantes eram na maioria italianos, mas algumas regiões do país eram seletivamente escolhidos por alemães, poloneses, grupos étnicos de origem judaica, etc. Em qualquer caso, a preocupação dos sanitaristas era a mesma: os altos índices de mortalidade e pobreza. Alguns estados americanos começaram a preparar o terreno para a implementação de programas sanitários de maior amplitude. Nesse sentido, as secretarias Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 159 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65159 3/8/2009, 12:16 de saúde ficaram encarregadas não só da realização de campanhas de prevenção e controle de doenças infectocontagiosas, bem como da construção e operação de sistemas de esgotos e de abastecimento de água, da remoção de lixo e da fiscalização de alimentos. Um dos maiores estudiosos da reforma sanitária nos Estados Unidos mostra como o advento da microbiologia abriu caminho para que as secretarias municipais de saúde, em conjunto com os serviços estaduais, pudessem iniciar a luta contra as doenças transmissíveis. “Ao utilizar laboratórios de diagnóstico e vacinas preventivas, e quarentenar os doentes em residências e hospitais, lançaram-se as bases para o ataque a doenças letais como a difteria, a escarlatina e a febre tifoide” (Duffy, 1992, p. 205). Do ângulo da higiene pública, a assistência materno-infantil era outra resposta aos índices altíssimos de mortes entre crianças com menos de cinco anos de idade (ibidem, p. 207). As autoridades sanitárias incentivaram programas educacionais sobre cuidados com a saúde infantil e financiaram a instalação de centros de distribuição de leite em vários locais do país. (Pesquisas recentes haviam comprovado o valor nutricional do leite e demonstrado a estreita relação entre o leite contaminado e altas taxas de mortalidade infantil.) Um programa pioneiro foi iniciado em Nova York, em 1905. Uma associação voluntária contra a pobreza organizou o New York Milk Committee, ao qual cabia a dupla função de supervisionar o suprimento de leite da cidade e educar as mães sobre os principais cuidados com a criança. Em 1920, a cidade contava com cerca de cinquenta centros de distribuição de leite, além de ter um programa de assistência materno-infantil considerado, à época, exemplar. A cooperação de organizações privadas foi fundamental para seu sucesso (ibidem, p. 208). As enfermeiras visitadoras ou distritais — precursoras das enfermeiras de saúde pública — desempenharam importante papel na reforma sanitária americana. Associações de Enfermeiras Visitadoras — as Visiting Nurse Associations — foram criadas em várias cidades americanas, nas últimas décadas do século XIX, financiadas e mantidas por organizações voluntárias. As enfermeiras atuavam em várias 160 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65160 3/8/2009, 12:16 frentes, desde visitas domiciliares — com o intuito de educar as mães sobre cuidados com os recém-nascidos —, visitas em escolas — para orientar as crianças sobre higiene bucal e hábitos alimentares, até no tratamento de doentes com tuberculose. Nas primeiras décadas do século XX as secretarias municipais de saúde foram se tornando mais complexas em virtude da proliferação de novos programas na área. Ao mesmo tempo, muitas organizações privadas começaram a se engajar neste movimento. Nas palavras de John Duffy, “Elas acreditavam essencial uma integração dos esforços particulares e públicos de assistência à saúde e de educação, bem como conduzi-los diretamente para dentro das comunidades e envolver os moradores nas atividades do centro de saúde” (Duffy, p. 214). Em 1919, um professor da Faculdade de Medicina de Yale, C.-E. A. Winslow, figura-chave na elaboração do famoso Relatório Goldmark, que traçava, em 1923, os novos rumos da enfermagem de saúde pública nos Estados Unidos, declarava-se abertamente defensor do modelo dos centros de saúde, “a manifestação mais notável e típica do movimento de saúde pública da atualidade” (apud: Rosen, 1974, p. 317). A participação das visitadoras era a pedra de toque das atividades dos centros: elas tratavam dos mais diversos problemas que atingiam os bairros pobres (particularmente a população estrangeira), como a exploração no trabalho e moradias insalubres, o alcoolismo, a prostituição e a saúde precária. “Sua preocupação imediata”, diz George Rosen, era o trabalho com a comunidade (ibidem, p. 307). O movimento de centros comunitários de saúde atingiu várias cidades americanas, especialmente aquelas nas quais a presença de imigrantes europeus era significativa. No início dos anos XX, o país já contava com 72 centros em 49 comunidades americanas, sendo 33 administrados pelas municipalidades, 27 sob direção de organizações privadas (como a Cruz Vermelha) e 16 sob controle público e privado. No início da década de 1930, já eram 385 os centros de saúde operando em várias cidades americanas, e, no final, cerca de 1.500 centros em todo o país (Rosen, 1974, p. 317). Segundo Adamastor Cortez, um estudioso contemporâneo (ex-médico de um centro de Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 161 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65161 3/8/2009, 12:16 saúde no Brás, em São Paulo), a participação da Cruz Vermelha nos Estados Unidos, depois da Primeira Guerra, deu considerável ímpeto a esse modelo de atenção à saúde, focalizado na conquista de uma consciência sanitária pela população (Cortez, 1926, pp. 7-8, 15). M ILWAUKEE — “ THE HEALTH IEST CI T Y ” Wilbur C. Phillips foi o grande agitador de uma concepção democrática de participação social em programas de saúde nos Estados Unidos. Já referimos brevemente sua coordenação, em Milwaukee — após uma experiência pouco ambiciosa, mas bem-sucedida, em Nova York —, de um experimento social pioneiro. Foi nessa cidade de Wisconsin que Phillips deu início a um projeto de centro de saúde que integrava toda a comunidade no esforço de educação sanitária. Milwaukee tinha taxas altíssimas de mortalidade infantil e “parecia pronta para enfrentar tais problemas em termos de mudanças sociais básicas, pois elegera uma administração socialista para a prefeitura, a primeira cidade americana a fazê-lo” (Rosen, 1974, p. 312). A própria política estadual favorecia os movimentos reformistas. A administração de Robert La Follette em Wisconsin (1901-1906) foi um passo importante para a renovação política e econômica do estado, ao bloquear os interesses das grandes corporações e estabelecer uma legislação contra o lobby dos capitalistas. Poucos anos depois, a prefeitura socialista de Emil Seidel em Milwaukee (1910-1912) incentivou a união entre recursos públicos e privados para a área da saúde. Por fim, do ponto de vista da política nacional, tanto o governo estadual do reformista La Follette como a prefeitura socialista de Seidel e a ação inovadora do casal Phillips beneficiaram-se do clima permeável a reformas, criado pelo chamado Progressivism norte-americano.10 Vejamos mais de perto as concepções e ações promovidas por Wilbur C. Phillips. O objetivo era criar em Milwaukee um centro experimental de atendimento infantil que não funcionasse apenas como posto de distribuição de leite, mas como um centro de assistência médica e sanitária para crianças de todas as 162 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65162 3/8/2009, 12:16 idades, um lugar onde as mães tivessem contato permanente com profissionais (médicos, enfermeiros, assistentes sociais) para tratar da saúde de seus filhos (Leavitt, 1996). Phillips propunha uma concepção participativa e democrática (Rosen, 1974, p. 311). As associações privadas de caridade, até então, ofereciam assistência médica às camadas populares. Uma das mais atuantes — Daughters of Charity — foi responsável pelo primeiro hospital de Milwaukee, em 1848. A Milwalkee Children’s Hospital Association inaugurou, em 1894, um outro hospital para atendimento gratuito a crianças menores de quinze anos. O Abraham Lincoln Settlement abriu suas portas em 1900 e promoveu programas educacionais, sociais e de saúde (Leavitt, 1996, pp. 196-200). Segundo Leavitt, o padrão típico das políticas públicas norteamericanas, isto é “a fusão entre participação pública e privada”, somadas à ampla base de suporte público e ao compromisso governamental em promover e manter programas de bem-estar social, serviu “para aplainar o caminho em direção aos esforços de reforma da saúde de Milwaukee e outras cidades americanas” (ibidem, p. 215). No tocante à ação conjunta dos setores públicos e privados, Leavitt destaca o relacionamento entre a Visiting Nurse Association, criada em 1907, e a Child Welfare Commission, dirigida por Wilbur C. Phillips. Esse foi, nas palavras de Leavitt, “um exemplo de como os esforços públicos e privados geraram maiores benefícios para a população de Milwaukee” (ibidem, p. 199). “O Child Welfare Commission complementou o trabalho de várias organizações privadas dentro da Secretaria Municipal de Saúde, em 1912” e, ainda, “representou o largo espectro de interesses de classe média e alta no movimento de reforma sanitária na cidade” (ibidem, pp. 206, 219). A iniciativa do centro de saúde no bairro de imigração polonesa em Milwaukee, de acordo com os princípios de participação social defendidos por Wilbur C. Phillips, foi o melhor resultado dessa conjunção de ações de caráter comunitário nessa cidade. A promoção de campanhas de vacinação e a realização de programas sobre higiene nas escolas complementavam, Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 163 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65163 3/8/2009, 12:16 na concepção de Phillips, os objetivos do centro de saúde (Rosen, 1974, p. 312). Foi aqui, em seu programa inovador, que a noção de representação da população local por blocos residenciais tomaria corpo. (Mais tarde, em Cincinnati, seria esse tipo de participação popular o ponto fundamental das atividades dos centros de saúde, como indicou George Rosen.) O Child Welfare Commission e a Visiting Nurse Association conseguiram, mediante seus programas sociais, educacionais e de saúde, diminuir radicalmente as taxas de mortalidade infantil em Milwaukee. Em 1910, quando Emil Seidel foi eleito para a prefeitura de Milwaukee, as taxas haviam declinado — reflexo dos trabalhos realizados pelas associações e grupos voluntários. Nos décadas seguintes, a mortalidade em Milwaukee reduziu-se ainda mais (ibidem, pp. 26573). Entretanto, apesar das conquistas evidentes das administrações municipais, o Child Welfare Commission teve vida efêmera. Logo após o fim da Primeira Guerra, o “Red Scare” levou a administração seguinte a retirar todo o suporte financeiro ao centro (Duffy, 1992, p. 214). O que importa é salientar, como faz Rosen, que a ideia de centros comunitários de saúde firmou-se na memória institucional do país, por meio de exemplos históricos como os de Milwaukee, Cincinnati, Boston e Nova York. A experiência de Phillips em Cincinnati merece breve comentário. Foi nesta cidade que, em 1917, teve lugar sua experimentação mais “ousada”, que logo lhe valeu a resistência de políticos conservadores (Mooney-Melvin, 1988). Novamente, a saúde materno-infantil foi o eixo central do programa, que englobava a saúde comunitária e o serviço social em um projeto de “social unit organizations”. Essas unidades sociais compreendiam um Conselho de Cidadãos e um Conselho Profissional, atuando em conjunto com moradores, agrupados em zonas residenciais ou “blocks”. Os profissionais, por sua vez, formavam subgrupos de médicos, enfermeiras e assistentes sociais. O experimento de Cincinnati foi visto por conservadores como um ensaio de “sovietização” da vida comunitária (em função dos conceitos de “block workers” e “block councils”) e, ao ganhar popularidade 164 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65164 3/8/2009, 12:16 nacional, teve os recursos públicos e o apoio político solapados (Rosen, 1974, p. 314). A resistência conservadora e a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra minaram o programa de Cincinnati, na medida em que o próprio movimento “progressista” se enfraquecia durante os anos do conflito mundial. Quando o New Deal de F. D. Roosevelt trouxe nova centelha para os ideais reformistas, privilegiando o papel do governo no combate à pobreza e ao desemprego, era tarde para deter o processo de esvaziamento pelo qual já passavam os centros de saúde no cenário americano. Rosen atribui o movimento descendente à própria entrada, em cena, da medicina hospitalar (Rosen, 1974). Paul Starr fala da “nova saúde pública”, mais voltada para exames preventivos em massa e prematuramente burocratizada, do que para o “evangelho” da consciência sanitária (ibidem, pp. 189, 197). Mas não resta dúvida de que a sociologia das profissões tem, aqui, muito a dizer: a própria autoridade profissional (cf. Starr) da corporação médica, atuando nos bastidores, produzia o esvaziamento político da reforma sanitária e de seu elemento-chave, que eram os centros de saúde. Nesse sentido, Wilbur Phillips e seus seguidores haviam soado, talvez, o último canto do reformismo social em saúde pública em seu país. Indicamos que os centros chegaram a multiplicar-se e difundir-se pelos Estados Unidos até o início da década de 1930. Mas, diferentemente do Brasil, o enfoque comunitário e o componente de “reforma social” estavam, ao findar dessa década, bastante comprometidos. Era a “nova” saúde pública, que já não suscitava apreensões da profissão médica, nem feria os interesses da medicina hospitalar. A concepção de centros de saúde no Brasil A F UNDAÇÃO R OCKEFELLER : UMA PROPOSTA EM ES CALA GLOBAL Nos idos de 1915 a 1920, os sanitaristas paulistas pareciam emular os grandes nomes da medicina social alemã. Basta lembrar a figura de Alfred Grotjahn, traçada por George Rosen em seu estudo sobre as origens da medicina social contemporânea. Enquanto Behring deificava a bacteriologia, Grotjahn proclamava a necessidade de um ponto Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 165 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65165 3/8/2009, 12:16 de vista social para o enfrentamento dos problemas médicos de seu tempo (Rosen, 1974, p. 95). Dois dos grandes nomes em São Paulo, Samuel Pessoa (Paiva, 2003) e Geraldo Horácio de Paula Sousa (Faria, 1999, 2001, 2002), subscreveriam as posições de Grotjahn. Tome-se, por exemplo, um estudo retrospectivo feito por Paula Sousa em 1939, no qual reforça a vocação sanitária dos centros de saúde. Esse trabalho contrasta os papéis do sanitarista, que “lançou como coluna mestra de sua ação, o centro de saúde”, e a ação do médico, que lançara “o hospital, o ambulatório, a policlínica”. Era necessário, dizia, demarcar “a razão de ser de cada uma dessas instituições, para que se não confundam as finalidades respectivas e para que produzam os benefícios de que são capazes”. “A função perspícua do centro, entretanto, é a sanitária”: a origem dos problemas de saúde pública está nos “fatores do meio”, que ameaçam a coletividade (Paula Souza, 1939, pp. 1-3). Mesmo a medicina e a saúde pública nos EUA, em que pese seu avanço extraordinário, não eram de forma alguma “autóctones”. Consideremos o exemplo de William H. Welch, a quem Duffy se referiu como “uma figura dominante da medicina norte-americana” no primeiro quarto do século XX (Duffy, 1992, pp. 252-3). Welch, patologista de renome, consultor da Fundação Rockefeller e um dos idealizadores da Johns Hopkins School of Hygiene and Public Health, recebeu na Alemanha (em Leipzig e Berlim), a influência de bacteriologistas europeus (Fleming, 1987, pp. 74-5). Por vezes, como ocorre em tais situações de intercâmbio, a demarcação rígida de fronteiras pode ocultar as interfaces entre diferentes tradições. Todavia, ainda que se revelem influências da tradição germânica, por exemplo, em William Welch, não resta dúvida de que, notadamente após a Primeira Grande Guerra, a referência mundial das ciências “médico-sociais” do período mudou da Europa para os EUA. Essa alteração na escolha internacional dos “significant others”, seja em relação aos modelos institucionais da medicina experimental, ou às concepções vigentes sobre a saúde das coletividades e os métodos de prevenção, afetou seguramente o cenário brasileiro. Mas antes que passemos à análise da difusão do modelo norteamericano no Brasil — mais precisamente, do “modelo Rockefeller” 166 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65166 3/8/2009, 12:16 —, deve-se repisar o que se disse anteriormente sobre o impacto mundial desse padrão, fruto da concepção filantrópica, da pedagogia e das atividades médico-sanitárias da Fundação criada pelos Rockefellers. Na própria Europa as influências foram nítidas. Na pátria de Pasteur, a participação da Fundação Rockefeller foi decisiva. Em estudos exemplares, os historiadores Lion Murard e Patrick Zylberman referem o apoio da International Health Board às atividades do Comité National de Défense contre la Tuberculose, entre 1917 e 1923, além da transferência de um programa — “la raison de l’expert” — ao movimento higienista francês.11 O perfil do “médico-sociólogo” Robert-Henri Hazemann ( n. 1897, da mesma geração do brasileiro Samuel Pessoa), ele próprio bolsista da Rockefeller nos Estados Unidos, retrata a “conversão” à ciência social aplicada do higienismo e à razão técnica, propagadas pelas missões da Rockefeller (Murard & Zylberman, 1985, pp. 66, 73; 1987). Na Itália, a relação íntima entre dois grandes malariologistas de dois continentes — Alberto Missiroli e Lewis Hackett — foi determinante na fundação de um centro de referência em toda a Europa, a Stazione Sperimentale per la Lotta Antimalarica, em 1925, embrião do Istituto Superiore di Sanità, ambos com suporte da Rockefeller e do governo italiano (Stapleton, 2000).12 No continente americano foram bolsistas da Fundação Rockefeller dois importantes atores da reforma sanitária no México, Miguel Bustamante, diretor do serviço de higiene rural desde 1928 e durante a década de 1930, e Pilar Hernández de Lira, responsável por um programa de educação médica nas áreas rurais, envolvendo recém-graduados, durante a presidência de Lázaro Cárdenas (1934-1940).13 A influência norte-americana produziu uma experiência de dupla face no México: a proposta da Rockefeller difundiu-se claramente por meio das unidades de saúde “cooperativas” (governos local, estadual e Departamento de Salubridad Pública), muito próximas ao modelo clássico dos centros de saúde. Por outro lado, sob o governo Cárdenas difundiu-se a concepção dos ejidos, cooperativas agrícolas que incluíam serviços de saúde preventivos e curativos, com ampla participação popular. A educação sanitária por meio de enfermeiras visitadoras e o enfoque “ecológico” Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 167 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65167 3/8/2009, 12:16 (saneamento e abastecimento d’água), mais do que a luta antivetor, tiveram prioridade nessas unidades de saúde. Nesse caso, sugere uma estudiosa da experiência mexicana, seria sobretudo a influência da Johns Hopkins e não, propriamente, o “modelo Rockefeller”, que teria prevalecido (Birn, 1996:2, pp. 7-208). Diante das relações extremamente próximas entre as duas instituições — basta lembrar a influência de Welch sobre ambas — torna-se difícil separar influências ou determinar claramente a distância entre modelos ou princípios de ação sanitária. Bustamante, no entanto, acreditava poder fazer tal distinção (ibidem, pp. 215-216), aparentemente ditada pela necessidade de estabelecer um campo autônomo de atuação política e profissional diante da presença da International Health Division em seu país, e não por eventuais diferenças de concepção sanitária entre a Universidade Johns Hopkins e a Rockefeller.14 Tanto no caso de um Hazemann na França, de um Missiroli na Itália, de um Bustamante no México, de um Paula Sousa ou de um Samuel Pessoa no Brasil, tudo indica que eram as próprias tradições locais e o tipo de nacionalismo vigente — a organização político-profissional, a tradição científica, as práticas de saúde pública, a natureza da “consciência sanitária” em cada país (isto é, as crenças e atitudes das populações diante das enfermidades, das terapias cabíveis, etc.) — que ditavam os caminhos a seguir e a distância, maior ou menor, que as políticas de saúde nacionais acabariam por seguir em relação ao “modelo Rockefeller/Johns Hopkins”. A F UNDAÇÃO R OCKEFELLER : B RASIL Lewis W. Hackett foi o “peso pesado” da Rockefeller no Rio de Janeiro entre 1916 e 1923 (antes de transferir-se para a Itália) e, na ausência de um movimento de reforma sanitária profundamente politizado como o mexicano (em que o Estado chegou a mobilizar-se francamente em prol da reforma sanitária e mobilizava os camponeses para a saúde rural), o programa até certo ponto “despolitizado” da Rockefeller encontrou resistências menores e ressonâncias mais fortes. Daí, por exemplo, a estreita aliança — dir-se-ia mesmo, a cumplicidade UM PROJETO PARA O 168 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65168 3/8/2009, 12:16 — que se firmou entre Hackett e Carlos Chagas, no plano nacional. (Mais tarde, com a saída de Hackett, os sanitaristas brasileiros firmaram outras parcerias com a Rockefeller.) A reforma sanitária nas áreas rurais brasileiras foi antes uma opção retórica do Estado do que uma adesão a estratégias concretas de mudança no campo, o que permitiu, particularmente em áreas do Nordeste, a atuação mais desimpedida da Rockefeller. Isto se diga, desde logo, sobre a ausência de um caráter diretamente “mobilizador” das ações da Rockefeller: no longo prazo, a educação sanitária por meio dos centros de saúde deveria produzir nos proscritos da Nação a consciência dos direitos à saúde e do abandono a que as autoridades governamentais os relegaram por gerações. A discussão que se segue, sobre a experiência de São Paulo, é apenas um dentre muitos capítulos que se poderiam escrever sobre a balança de poder e o jogo de influências profundamente instável entre insiders e outsiders, na luta pela reforma sanitária não apenas no Brasil, mas em vários países, no período entreguerras. No caso paulista, como em outras partes do mundo, o contato com os cientistas e sanitaristas norte-americanos abriu caminhos para a pesquisa em saúde pública, para a formação das chamadas “profissões de saúde” e para o avanço da educação sanitária. Ao chegar ao Brasil, em 1916, a Rockefeller concedeu bolsas de estudos para jovens cientistas para o curso de Saúde Pública da School of Hygiene and Public Health, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore. Dessa geração de brasileiros destacaram-se: Geraldo Horácio de Paula Sousa,15 Francisco Borges Vieira,16 Pinheiro Chagas,17 entre outros.18 Viagens de especialização para os Estados Unidos passaram a fazer parte do universo destes cientistas brasileiros. A partir das primeiras levas, vários médicos e sanitaristas — selecionados por critérios universalistas, entre os melhores na sua especialidade — seguiram para cursos na Johns Hopkins, sob os auspícios da Fundação Rockefeller.19 Os padrões e métodos de trabalho dos norte-americanos começaram a influenciar as novas gerações de pesquisadores e sanitaristas brasileiros. Este grupo veio a trazer para o Brasil — não apenas para São Paulo — uma concepção de saúde pública que, até certo ponto, Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 169 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65169 3/8/2009, 12:16 reforçava o “padrão Manguinhos”, baseado na profilaxia de doenças infecciosas e nos métodos experimentais da microbiologia. Foi particularmente na educação sanitária e na formação de profissionais na área da saúde pública que o programa da Rockefeller trouxe uma contribuição renovadora. Tratava-se de uma proposta de intervenção sanitária ousada, cujo eixo se localizava nos centros de saúde e postos de higiene. O EXEMPLO PAULISTA Os centros de saúde foram inicialmente introduzidos em São Paulo, por Geraldo Horácio de Paula Sousa, durante sua administração no Serviço Sanitário (1922-1927). Três anos após assumir a direção da instituição, Paula Souza daria início a profunda reformulação do conjunto dos serviços públicos de saúde.20 A partir da reforma de 1925, assistiu-se ao surgimento de uma nova estrutura institucional no Serviço Sanitário. Os centros de saúde — pautados na concepção dos postos municipais da Fundação Rockefeller — seriam o “eixo”21 das atividades de saúde pública em todo o estado de São Paulo. As medidas sanitárias nesta fase, apoiadas e, em parte, financiadas pela Fundação Rockefeller, deveriam, na visão de Paula Sousa, inspirar-se no modelo de saúde pública adotado nos Estados Unidos, levando-se em consideração as diferenças culturais, sociais e políticas entre os dois países. Não se tratava, portanto, de um transplante. Os centros de saúde assumiram papel de destaque no projeto sanitário de São Paulo. Essas unidades conjugavam ações sanitárias, serviços médicos e serviços sociais. Inicialmente foram instalados três centros de saúde em São Paulo: o Centro de Saúde-Modelo — anexo ao Instituto de Higiene22 —, o Centro de Saúde do Brás e o Centro de Saúde do Bom Retiro. Todos iniciaram suas atividades em 1925 (Cortez, 1926). Na concepção de Paula Sousa, os centros de saúde seriam serviços permanentes para as áreas interioranas e urbanas do estado. A educação sanitária era, nessa proposta, o elemento-chave para a formação de uma consciência sanitária da população. Esse conceito operava como um horizonte para a saúde pública, até certo ponto no espírito generoso 170 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65170 3/8/2009, 12:16 de “missão” dos higienistas militantes do DNSP, isto é, ao modo de um Belisário Pena. Confronte-se o discurso do pediatra Adamastor Cortez, do grupo de Paula Sousa: quando virmos a prática da profilaxia das moléstias transmissíveis dando os frutos que dela sempre se esperam; quando o índice da mortalidade infantil baixar consideravelmente; quando os hospitais de isolamento tiverem leitos desocupados, poderemos afirmar que a consciência sanitária do nosso povo se acha promovida, porque só ela poderá alcançar tal objetivo (Cortez, 1926, p. 25). Mas já não estávamos diante de propostas grandiloquentes de “salvação do Brasil”. Já se via, claramente, na proposta dos centros o traço marcante do modelo Rockefeller, de uma “ciência administrativa aplicada à saúde”.23 Os centros de saúde e postos de higiene tinham, na formulação da Reforma de 1925, características de um programa diversificado, que incluía assistência médica e educação sanitária. Os “serviços” eram o sinal da especialização: Serviço da Criança; Serviço de Olhos; Serviço de Ouvidos, Nariz e Garganta; Serviço de Exame Médico Periódico;24 Serviço de Inspeções de Saúde Requisitadas; Serviço de Exame Médico Geral; Serviço de Tuberculose; Serviço de Sífilis e Moléstias Venéreas; Serviço de Laboratório (exame de fezes, sangue e escarro); Serviço de Educação e Vacinações. Essas unidades sanitárias, além da capital paulista, foram distribuídas pelas áreas rurais, onde eram conhecidas como postos permanentes de saúde (Cortez, 1926, pp. 119-21). O artigo 51 do Decreto 3.876, de 11 de julho de 1925, especificava as principais atividades dos centros de saúde: Em cada centro haverá em determinados dias e horas e em dependências apropriadas, os seguintes serviços gratuitos, nos termos que forem previstos no regimento interno e franqueados ao público: a- higiene pré-natal, b- higiene infantil, c- higiene pré-escolar, d- higiene escolar, e- higiene das outras ida- Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 171 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65171 3/8/2009, 12:16 des, f- exames periódicos, médicos e dos hábitos de higiene, g- tuberculose, h- verminoses, i- sífilis e moléstias venéreas, j- nutrição e dietética, k- outros que especificar o regimento interno.25 A proposta representou uma mudança significativa nos rumos seguidos até então pelos serviços estaduais de saúde em São Paulo (Mascarenhas, 1949, p. 88), particularmente na prioridade atribuída à educação sanitária. Nesse sentido, foi inovadora a criação de uma Inspetoria de Educação Sanitária e Centros de Saúde. Nessa nova Inspetoria atuavam as educadoras sanitárias — novos agentes da saúde pública — elaborando cartazes de propaganda, realizando visitas domiciliares, palestras, exposições e conferências, fornecendo conselhos e noções de puericultura. Eram os novos atores da reforma sanitária, como destacavam Paula Sousa e Borges Vieira: “o trabalho das educadoras sanitárias, [. . .] constituiu entre nós, indubitavelmente, o pivot essencial do triunfo” (Paula Souza & Borges Vieira, 1944, p. 34). Em relatório do Serviço Sanitário para o ano de 1925, Paula Sousa denominava os centros um “verdadeiro órgão de sondagem social”, que visava sobretudo a saúde da família. Cabia à educadora sanitária, nesse processo, visitar as famílias, transmitir às mães noções de puericultura e encaminhar para os centros os necessitados de cuidados médicos. Nessa fase, as taxas de mortalidade infantil eram elevadas em São Paulo e Paula Sousa sentenciava: “a absoluta carência de noções de puericultura por parte da grande maioria das mães” era um dos elementos principais da mortalidade infantil.26 A partir de 1926, verificou-se um crescimento significativo dos gastos estaduais com serviços de saúde pública, em especial com os postos permanentes. Aos poucos, os dispensários especializados foram cedendo lugar aos centros de saúde e postos de higiene, onde os problemas higiênicos, sanitários e sociais eram considerados em conjunto, e não mais em seus aspectos isolados. Já no ano seguinte operava no estado quase meia centena de unidades, encarregadas de prestar atendimento geral à população e a realização de análises laboratoriais. 172 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65172 3/8/2009, 12:16 Simultaneamente, abria-se um campo para a formação de profissionais de saúde pública. Do total de centros e postos de saúde, dezesseis eram mantidos com a cooperação da Fundação Rockefeller.27 C RÍT ICOS E DEFENSORES DA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO SANITÁRIA A parceria Paula Sousa e Fundação Rockefeller gerou atritos e ressentimentos entre os profissionais da área da saúde. Contra o programa dos centros de saúde voltou-se um grupo influente, constituído por sanitaristas do porte de Francisco de Sales Gomes Jr.,28 Artur Neiva29 e Valdomiro de Oliveira.30 Um dos principais motivos dos ataques que sofria Paula Sousa era sua defesa intransigente do modelo mais generalista da Fundação Rockefeller. O grupo de Sales Gomes defendia um modelo centrado nos problemas específicos da saúde. Neste sentido, inspetorias especializadas — “estruturas verticais especializadas” — ficariam responsáveis pela realização de pesquisas sistemáticas e por campanhas de combate a doenças como a lepra, a tuberculose e a malária (Merhy, 1992). Durante a gestão do governador Júlio Prestes (1927-1930), em que Valdomiro de Oliveira assumiu a direção do Serviço Sanitário, as atividades dos centros de saúde em São Paulo entraram em certo processo de desaceleração. Ao assumir a direção do Serviço Sanitário, em 1930, Sales Gomes procurou abandonar definitivamente o espírito da reforma de 1925. Já mencionamos o caráter temporário da rejeição ao projeto, na primeira parte desse trabalho. Com efeito, no período de Oliveira e Sales Gomes não houve abandono definitivo do projeto de Paula Sousa. Pois ficou claro, em pouco tempo, o papel multiplicador que os centros de saúde desempenharam, mesmo depois da tentativa de superação do modelo administrativo anterior. Apesar da forte presença de serviços específicos, os centros de saúde tradicionais ocuparam ainda um lugar de destaque na organização dos serviços estaduais durante o pós-1930, no interior e na capital. Tudo leva a crer que a tentativa de desestruturação do “modelo Paula Sousa” não teve efeitos tão dramáticos nem tão duradouros quanto sugere a literatura, ou — este é um Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 173 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65173 3/8/2009, 12:16 ponto fundamental — como supunham até mesmo Paula Sousa e seus companheiros (Faria, 2002). Em meio às disputas e rivalidades, predominou um certo consenso em relação à forma de organização e execução das atividades dos centros de saúde: “a delimitação de uma população dentro de um território circunscrito”, ou seja, a criação de distritos sanitários (Scarparo Cunha, 1994, p. 33). Tal consenso, na verdade, estendia-se além dos limites dos serviços de saúde paulistas, pois também na capital do país o sistema distrital de saúde era o modelo predominante. Barros Barreto, cuja atuação durante o período varguista, como diretor-geral do Departamento Nacional de Saúde Pública, já foi destacada, defendia firmemente o modelo tido como “horizontal”. A seu ver, era esse o modelo que possibilitava o melhor atendimento à população pobre da cidade e do campo. Para o público, o novo sistema da divisão distrital é a certeza de poder ver atendidos, em um mesmo local e de uma só vez, todos os seus interesses e necessidades em matéria de higiene. Se vai alguém a um dispensário, e tem necessidade de exame complementar, de recorrer a outros serviços, não terá de voltar em dias ou horas diferentes; por outro lado, pessoas de uma mesma família, matriculadas em vários dispensários, poderão vir todas de uma só vez, que prontamente serão atendidas (Barros Barreto, 1931, p. 253). José P. Fontenelle, inspetor sanitário do DNSP, que se notabilizou como professor de enfermagem de saúde pública na Escola Ana Nery, era veemente defensor do modelo distrital. Desde 1929, dirigiu inúmeros centros de saúde na capital federal (como em Inhaúma) e em 1934 assumiu a Inspetoria dos Centros de Saúde. Recém-chegado dos Estados Unidos, onde estudou na Johns Hopkins com bolsa da Rockefeller, discursou no III Congresso Brasileiro de Higiene (4-12 de novembro de 1926), em São Paulo, sobre “o novo sistema de administração oficial de Saúde Pública, inteiramente descentralizado pelos 174 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65174 3/8/2009, 12:16 vários bairros do Rio de Janeiro”. Àquela alocução no Congresso de Higiene se referiu Fontenelle, anos mais tarde, em sua obra sobre a saúde pública no Distrito Federal:31 Seria este [serviço do Distrito Federal] organizado por áreas correspondentes de modo geral às atuais freguesias urbanas e suburbanas. Em cada uma, um Centro de Saúde completo, sede da atividade do respectivo sanitarista, trabalhando sob o regime de tempo integral e, ao seu redor, médicos especialistas, de tempo parcial, fazendo funcionar os dispensários, em dias e horas diferentes. Cada centro desses seria também um centro de enfermeiras, um centro de propaganda, um centro de guardas, enfim, um centro de esforços em matéria de saúde pública naquela área limitada (Fontenelle, 1937. Apud: Scarparo Cunha, 1994, pp. 23-5). Esse foi o modelo de centro de saúde, proposto por José P. Fontenelle e João de Barros Barreto para o Distrito Federal e que, segundo Fontenelle, se aproximava da proposta de “organização distrital das enfermeiras de certas cidades dos Estados Unidos” (Scarparo Cunha, 1994, p. 24). 1930 E DEPOIS : TRAVAND O UMA BATALHA PERDIDA ? A saída de Paula Sousa do Serviço Sanitário, em 1927, não significou o abandono de suas propostas de saneamento pelos sanitaristas paulistas. Este é um ponto em que o presente trabalho diverge das posições mais correntes da literatura. A nosso ver, o objetivo fundamental das unidades de assistência à saúde manteve-se como uma referência para o movimento sanitário brasileiro. Frise-se que foi uma referência nacional, não apenas um legado para os paulistas. Os objetivos são traçados com clareza por Paula Sousa: tratava-se de promover a consciência sanitária das populações e, como finalidade correlata, os serviços de profilaxia geral e específica. Note-se que seu programa não extinguia os dispensários e serviços de caráter especializado. Es- Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 175 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65175 3/8/2009, 12:16 tes eram definidos como uma das finalidades dos centros de saúde, sob cuja direção deveriam entrosar-se (Paula Souza & Borges Viera, 1944, p. 4). Do ponto de vista do ensino, a institucionalização das questões da saúde e do saneamento, como pauta de investigação científica e tema das políticas públicas, projetou o Instituto de Higiene nacional e internacionalmente. Aqui, também, a parceria entre a Rockefeller e a “Casa de Paula Souza” — permita-se a expressão — pode ser vista como uma atividade de filantropia científica que alcançou os resultados esperados. O próprio espaço conquistado pelo Instituto de Higiene frutificaria anos mais tarde, em 1945, na criação da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo, após a superação das críticas e de vicissitudes políticas criadas pelo grupo de Sales Gomes durante o regime varguista.32 Barros Barreto (que chegou a assumir, por curto período, a direção dos serviços sanitários do Estado de São Paulo), resumiu tais vicissitudes na seguinte passagem: São Paulo inaugurou [os centros de saúde] na administração eficiente de Paula Sousa, desprezou-os posteriormente, restabeleceu-os quando fui diretor do Departamento de Saúde daquele estado, pôs de novo de lado e agora os implantou numa terceira investida (Barros Barreto, 1938, pp. 298-9). Barros Barreto refere-se aos três centros de saúde inaugurados por Paula Sousa em São Paulo, em 1925. Na década de 1940, o estado já contava com sete centros, além de dez postos de higiene e cerca de oitenta subpostos de saúde. A reforma dos serviços estaduais de saúde, em 1938,33 durante o governo de Ademar de Barros — antigo membro do PRP e interventor entre 1938 e 1941 — incentivou a formação de uma rede de serviços e o aumento dos gastos com os centros de saúde. Em novo decreto estadual (n.o 9.273, de 28 de junho de 1938), foram organizados os serviços dos centros de saúde da capital. O Decreto 9.339, de 18 de julho de 1938, previa recursos para a construção de onze centros de saúde na capital. O Decreto 9.341, de 20 de julho de 1938, organizou, por sua vez, o Serviço do Interior do Estado, 176 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65176 3/8/2009, 12:16 composto de diretoria com sede na capital e dos centros de saúde no interior do estado.34 No governo de Fernando Costa (1941-1945) houve um aumento significativo dos centros de saúde em São Paulo. O Decreto 12.784, de 24 de junho de 1942, foi responsável pela criação de quase cinquenta centros de saúde em vários municípios paulistas (Mascarenhas, 1959, pp. 184-6). Nessa época, Samuel Pessoa (o antigo discípulo de Wilson Smillie no Instituto de Higiene, agora chefe do Departamento de Parasitologia da Faculdade de Medicina) ocupava o cargo de diretor do Departamento de Saúde estadual.35 Findo o Estado Novo, o segundo governo de Ademar Pereira de Barros (1947-1951) ampliou a rede distrital de centros de saúde, pelo Decreto 18.165, de 22 de junho de 1948.36 Ainda que os centros de saúde fossem parte fundamental das propostas da Reforma Sanitária em São Paulo, concebida nos anos de 1920, foi durante os anos 1930 e 1940 que houve aumento significativo desse tipo de serviço em todo o país. A influência do programa da Rockefeller também se verificara no Distrito Federal, transmitida por ex-bolsistas da International Health Board, como o próprio Barros Barreto e José Paranhos Fontenelle. Havia, portanto, influências mútuas e consonâncias acerca da ideia dos centros de saúde, tendo São Paulo e o Distrito Federal papel decisivo (além de Minas Gerais, onde Ernani Agrícola era um forte aliado).37 Difícil concluir, em face das evidências históricas de todo o período, que o projeto de Paula Sousa e companheiros tenha sido uma “batalha perdida”. As evidências no plano nacional — não apenas no caso paulista — são consideráveis. A partir de 1934 instituiu-se, nos serviços sanitários de vários estados, o sistema distrital dos centros de saúde e postos de higiene, que passou a incorporar e conjugar as atividades antes exercidas pelas inspetorias especializadas (Arquivo Capanema. Apud: Schwartzman, 1983).38 Durante toda a década de 1940, essas unidades sanitárias firmaram seu lugar no cenário nacional.39 Além dos centros de saúde e postos de higiene, foram criados subpostos de higiene, postos de higiene especializados e postos itinerantes. A Divisão de Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 177 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65177 3/8/2009, 12:16 Organização Sanitária, do recém-criado Ministério de Educação e Saúde Pública, determinava que cada centro de saúde deveria dispor de no mínimo cinco médicos e cinco enfermeiras ou visitadoras. Já os postos de higiene dividiam-se em duas categorias: Posto de Higiene de 1.a classe (PH1) e Posto de Higiene de 2.a classe (PH2). Se o posto de higiene executasse as mesmas atividades do centro de saúde, mas em escala mais reduzida e com número inferior de médicos e enfermeiras, denominava-se PH1. Se o posto dispusesse apenas de um médico e uma enfermeira ou visitadora, era classificado como sendo de 2.a classe. Note-se a importância da enfermagem de saúde pública no programa dirigido por Barros Barreto. “A falta de visitadora, o grande elemento de ação da unidade sanitária, embora haja mais de um médico em serviço, implica em relegar o posto de higiene para a categoria de subposto” (Barros Barreto, 1942, p. 209; nossa ênfase). Os postos especializados eram montados para atividades específicas como, por exemplo, o tratamento do tracoma, e, finalmente, os postos itinerantes — totalmente dependentes dos centros de saúde e postos de higiene — asseguravam a extensão das atividades a toda a área sob seu controle. Eram fundamentais no trabalho com as populações rurais. É importante lembrar que, entre os anos de 1935 e 1939 e 1941 e 1945, João de Barros Barreto dirigiu a Diretoria Nacional de Saúde e Assistência Médico-Social (DNSAMS), do Ministério da Educação e Saúde. Os artigos que publicava na revista Arquivos de Higiene refletiam sua posição militante a favor dos centros de saúde. (Veja-se, por exemplo, Barros Barreto, 1937.) Não resta dúvida de que Barreto era um dos mais importantes aliados de Paula Sousa na defesa de suas concepções de assistência à saúde, e seguramente o mais importante para sua implementação em todo o país. Se forem incluídos os 16 centros de saúde do Distrito Federal, havia, ao findar a década de 1940, 54 centros de saúde, 54 postos de higiene de 1.a classe, 140 de 2.a classe, 304 subpostos, além de 13 postos especializados e 13 itinerantes, perfazendo um total de 578 unidades em todo o território nacional. Essas ações no campo da saúde pública mostram que, apesar da existência de serviços voltados para o tratamento e profilaxia de 178 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65178 3/8/2009, 12:16 doenças específicas como a lepra, a malária e a febre amarela, os centros de saúde ocupavam um espaço privilegiado. R ECUPERANDO TRAÇOS COMUNS E DIFERENÇAS A concepção de um centro de saúde oferecendo serviços para a população de determinada área e sua concretização em formas organizacionais de múltiplos objetivos foi o aspecto central de um amplo movimento pela reforma sanitária, que se desenvolveu nos EUA, na Europa e na América Latina durante a segunda e terceira décadas do século XX, como resposta às circunstâncias e necessidades da população mais pobre dos centros urbanos. Ainda que tenha se originado em áreas urbanas, como política pública ou iniciativa particular, a expansão dos centros de saúde para as regiões rurais, por meio de serviços itinerantes, foi um traço bastante frequente em vários países. Como no caso do Brasil, a experiência norte-americana dos health centers difundiu-se por vários continentes, em grande parte pela ação internacional da Fundação Rockefeller e de suas divisões sanitárias. Todavia, procurou-se aqui ressaltar que, de modo geral, os centros de saúde não foram uma réplica dos serviços comunitários de saúde norte-americanos. As formações históricas, as tradições médicas e culturais e os contextos políticos distintos exigiram adaptações que diferenciaram as trajetórias dos centros de saúde em países como o México e o Brasil. Entretanto, perduraram alguns elementos comuns importantes: entre eles, o incentivo à educação sanitária foi o objetivo primordial do modelo dos centros de saúde nos mais diversos contextos nacionais, bem como a ideia de administração distrital ou local. Nos exemplos de São Paulo e Milwaukee, aqui analisados, a proposta de centros de saúde constituiu um traço marcante na história da saúde pública dessas cidades e desses países. São Paulo não recebeu o título de “cidade mais saudável”, como Milwaukee, 40 mas ficou igualmente conhecida pelo pioneirismo na área da saúde pública. Houve diferenças expressivas entre os dois modelos abordados. O próprio declínio do modelo dos centros de saúde nos Estados Unidos aponta para algumas diferenças fundamentais, sobretudo para o Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 179 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65179 3/8/2009, 12:16 caráter da pobreza nesses dois países. No Brasil, a dimensão mais brutal da exclusão exige, até hoje, uma concepção de atenção primária que talvez encontre nos centros de saúde sua realização mais eficaz. Por outro lado, a importância da educação e conscientização sanitária para o movimento das unidades comunitárias — dimensão que, como bem acentuaram Patrick Zylberman e Lion Murard, revelava a cunha de intervenção social, presente nas propostas de reforma — não perdurou no caso norte-americano, em função do surgimento de uma “nova saúde pública” em que os sanitaristas cederam lugar aos profissionais da epidemiologia e da bioestatística e aos apologistas do “corpo saudável”, individualizado e asséptico.41 Na concepção inicial, era o civismo a nota dominante do movimento dos centros de saúde. Isso explica sua sobrevivência no caso brasileiro, se tivermos em conta que a luta pela cidadania (a saúde como direito social) é uma dimensão essencial dos movimentos sociais no Brasil contemporâneo. Por outro lado, o surgimento e o impacto dos complexos hospitalares em todo o mundo — fatores que explicam, em larga medida, o desprestígio da atenção primária nos países ricos — não atenderam à carência de serviços básicos de saúde, particularmente das camadas populares. Nos países do Terceiro Mundo, onde as carências são mais agudas, os centros de saúde, a enfermagem de saúde pública e a educação sanitária persistem, nas suas formas e conteúdos atuais, extraordinariamente próximos dos ideais e objetivos dos sanitaristas das décadas de 1920 a 1940. As lições (e resistências) vividas pelos sanitaristas daqueles tempos, em Milwaukee ou São Paulo, serão lembradas ainda hoje? A LGUNS DES CAMINHOS DA INTERPRETAÇÃO Aqui deixamos de lado nossa preocupação comparativa em relação às experiências brasileira e norte-americana, para examinar o caso paulista. Nosso propósito aqui será discutir a interpretação, e para tanto a reflexão sobre a reforma dos centros de saúde em São Paulo é interessante, mesmo considerada isoladamente. Apenas se diga, sobre nossa breve exposição do programa de saúde pública nos Estados Unidos, que teve curta duração o ensaio de “intervenção social”, em 180 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65180 3/8/2009, 12:16 que se mesclavam noções de civismo e educação sanitária; e acrescente-se, ainda, que, após um curto período, logo se firmou a ascendência da “nova” saúde pública norte-americana, comandada por epidemiólogos, bioestatísticos e especialistas, cujos perfis profissionais sobrepujaram os sanitaristas em sua velha roupagem cívica — ao modo que poderia ter sido previsto por Pierre Bourdieu. Já há tempos Pierre Bourdieu descrevia o campo científico como um lugar de lutas (Bourdieu, 1989, cap. VII). Os cientistas buscam constantemente o monopólio da autoridade e competência científica sobre uma determinada área de conhecimento ou atividade. Essa autoridade é ao mesmo tempo capacidade técnica e poder social, conferindo a um agente determinado a possibilidade de falar e agir legitimamente. De fato, na área da saúde não estava em jogo o poder propriamente político mas, justamente como sugere Bourdieu, o poder social, intimamente ligado ao comando ou controle sobre instituições de serviços (o Serviço Sanitário) e de pesquisas (o Instituto de Higiene). Tratava-se de uma luta simbólica — havia crenças e valores em jogo — pela conquista do monopólio do exercício legítimo de uma atividade ou conhecimento científico. Legitimidade científica e luta simbólica se entrelaçavam e envolviam grupos com ideias e interesses divergentes. A noção de luta simbólica pode esclarecer, sem dúvida, aspectos importantes dos processos que aqui pretendemos analisar. Entretanto, o elemento de conflito não pode obscurecer, para o entendimento da reforma sanitária deste período, o elemento de negociação, de conciliação e de concessões. A relação entre os “partners of science” de Paula Sousa e o grupo de brasileiros constituía um bom exemplo. Em 1929, Fred Soper (também hábil negociador) escrevia a seus diretores da Rockefeller sobre Valdomiro de Oliveira, “desafeto” de Paula Sousa e novo chefe do Serviço Sanitário: de um lado, criticava-o por tentar destruir o legado da parceria entre Paula Sousa e a Rockefeller; mas, por outro lado, falava de um Valdomiro cioso das boas relações de amizade com a Fundação.42 As relações entre os vários grupos dissidentes de São Paulo, bem como a própria interação entre os paulistas e os sanitaristas do Distrito Federal (a exemplo de Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 181 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65181 3/8/2009, 12:16 Barros Barreto), contam uma história semelhante, de lutas e concessões. Paula Sousa e seus companheiros de academia e do mundo profissional não eram, a rigor, monopolizadores de capital simbólico. O líder do grupo, particularmente, era um hábil negociador. Para se obter crédito científico no “mercado” da produção do conhecimento — este termo deve vir entre aspas, pois não se trata nesse caso de um conceito explicativo, mas de uma metáfora — Bourdieu enfatizava uma condição essencial: é preciso que o modelo de ciência que se quer difundir ou aplicar seja reconhecido e aceito como uma definição legítima. Vimos como a definição e a proposta dos centros de saúde de Paula Sousa na verdade não excluía a concepção supostamente antagônica, defendida por Sales Gomes no Brasil, que era a proposta de inspetorias e serviços “verticais” de saúde. A primeira proposta era mais ampla do que a segunda, e na verdade a encampava sem extingui-la. Tudo se passava como se Sales Gomes e seu grupo não quisessem “perceber” as interfaces entre os dois modelos gestores da atenção à saúde, e tampouco o caráter legítimo da proposta dos centros de saúde, preferindo negar as interfaces para não terem de explicitar as razões mais fortes da dissidência, que se encontravam na verdade fora da arena científica. As razões da dissidência entre os grupos devem ser buscadas, a nosso ver, na arena burocrática em formação e na vida partidária do estado. As alianças que as lideranças do Instituto de Higiene e, sobretudo, os profissionais do Serviço Sanitário eram obrigados a manter com a vida partidária (Partido Republicano Paulista e Partido Democrático, antes de 1930, e Interventores do Estado Novo, a partir de 1937), explicavam, em grande parte, as dissensões entre os sanitaristas paulistas. João de Barros Barreto, cuja atuação no âmbito federal permitia maior nitidez de visão em relação ao que se passava em São Paulo, por isso mesmo nunca falava de “abandono” de um modelo e sua substituição permanente por outro, mas de “cochilos”, de fases transitórias. Deveria prevalecer, supunha, o modelo que tivesse maior sustentação ao longo do tempo: inspetorias verticais eram efêmeras, pois tinham a vida institucional presa à própria duração da luta contra uma enfermidade específica. A proposta 182 | Luiz Antonio de Castro Santos & Lina Faria a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65182 3/8/2009, 12:16 “vencedora” dos centros de saúde era, desse ponto de vista, mais flexível, por ser mais abrangente. Mas dificilmente se pode falar de “proposta vencedora” e “proposta derrotada”.43 Mesmo em face de lutas políticas e administrativas, que se travavam em torno das propostas como se fossem questões “de vida e morte”, ainda assim não houve uma concepção cabalmente derrotada ou definitivamente vencedora no campo sanitário paulista e nacional. Por exemplo, se o nível endêmico de certas enfermidades no país justificasse um serviço ou inspetoria específicos (como a campanha nacional contra a tuberculose demonstrou, desde 1946), tais ações eram implementadas, ainda que para tal devessem lançar mão dos centros e postos de saúde existentes, como um serviço no interior da própria unidade sanitária (Barreira, 1993, p. 137). Os centros de saúde representaram desde então a concepção mais forte, mas de modo algum cabe a sugestão — tão a gosto da literatura — de modelo “hegemônico”. A noção polarizada de campo, em Bourdieu, pode conduzir a uma caricatura, na medida em que a análise procure hierarquizar, de modo rígido, relações que nem sempre se pautavam pela dominação sem contestações ou por dominados sem vitórias.44 Tal foi o caso dos nossos atores principais. As disputas entre eles dificilmente poderiam ser classificadas como lutas entre dominador e dominado. Não estamos, aliás — nunca será demais salientar — no campo das lutas de classes, mas no das disputas profissionais, em que o capital simbólico envolvido tampouco é capital expropriador, do ponto de vista marxista. Poderíamos dizer que a posição mais forte, que prevaleceu entre as correntes do movimento sanitário nacional, foi sem dúvida a de Paula Sousa. A literatura aponta, com razão, que Sales Gomes teve momentos de indiscutível ascendência no campo das propostas sanitaristas para São Paulo. Mas elas não foram “hegemônicas” no pós-1930, nem, tampouco, foram derrotadas pela proposta dos centros de saúde integrados. No espaço aberto pelo ideário mais universalista de Paula Sousa, definiu-se mais tarde o lugar para os serviços específicos ou “verticais”, ainda que fossem atividades complementares às atividades dos centros de saúde. Os primeiros centros de saúde nos EUA e no Brasil | 183 a6 capítulo 6 Luiz Antonio de Castro Santos.p65183 3/8/2009, 12:16 Referências Agrícola, Ernani. Centros de Saúde e Postos de Higiene no estado de Minas Gerais. Arquivos de Higiene, 1vol., n.o 2, mai., 1930, pp. 97-117. Adam, Philippe & Claudine Herzlich. (1994) Sociologie de la maladie et de la médicine. Paris: Nathan, 1994. Armeny, Susan. Organized Nurses, Women Philanthropists, and the Intellectual Bases for Cooperation among Women, 1898-1920. In: Ellen C. Lagemann (ed.). Nursing History: New Perspectives, New Possibilities. 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