Folha de S.Paulo - Colunistas - Samuel Pessôa - Baixo crescimento do Brasil - 21/10/...
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21/10/2012 -03h00
Baixo crescimento do Brasil
DE SÃO PAULO
Recentemente o FMI divulgou a atualização do relatório do panorama da
economia mundial com a revisão (para pior) da taxa de crescimento para as
principais economias em 2012.
Fomos informados de que o FMI espera que o crescimento econômico mundial
real, isto é, controlando pela inflação nos diversos países, será de 3,3%, e não
3,5%, como se imaginava anteriormente. Os países desenvolvidos crescerão
menos, o que motivou a revisão para baixo.
Não foi notado que, apesar da revisão para baixo, a taxa de crescimento de 3,3%
ao ano está longe de ser um péssimo resultado. Esse foi o crescimento médio
dos 20 anos de 1980 até 1999.
Ou seja, as
economias
emergentes, quase
que sozinhas, visto o
péssimo desempenho
da Europa e o
desempenho ruim
dos EUA, estão
conseguindo rodar a
economia mundial à
mesma taxa que
vigorou em boa parte
do último quarto do
século 20.
Editoria de Arte/Folhapress
A divulgação das
projeções do FMI é
uma boa
oportunidade para
avaliarmos como está
caminhando a
economia brasileira
em comparação com as demais economias latino-americanas.
Também é uma boa oportunidade para olharmos para o crescimento da
economia brasileira de uma perspectiva de longo prazo.
A tabela acima apresenta a taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto)
real para a América Latina (primeira linha), para o Brasil (quarta linha) e para os
demais países da América Latina excluindo os países da América Central para
diversos períodos.
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Na coluna 1, considerei o período que coincide com o mandato do presidente
FHC; na coluna 2, o período que coincide com o mandato do presidente Lula; e,
na coluna 3, os dois últimos anos, incluindo a previsão para 2012 do FMI, que
coincide com os primeiros dois anos do mandato da presidente Dilma.
Além do Brasil, a tabela considera dez outros países latino-americanos:
Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e
Venezuela.
Três fatos se depreendem da tabela. Primeiro, tanto no governo FHC quanto no
governo Lula, o crescimento do Brasil foi muito próximo do crescimento da
América Latina: 0,1 ponto percentual a mais para o governo FHC e 0,1 ponto
percentual a menos para o governo Lula.
Ou seja, toda a aceleração de crescimento que houve do governo FHC para o
governo Lula foi compartilhada pela América Latina.
Segundo, se compararmos o crescimento da economia brasileira com os demais
dez países da tabela, houve piora significativa do governo FHC para o governo
Lula.
No governo FHC, o crescimento da economia brasileira foi maior do que o
crescimento de 6 dos 10 países da tabela. No governo Lula, somente ficamos à
frente do México. Todos os demais nove países apresentaram um desempenho
de crescimento superior ao nosso.
Terceiro, nosso desempenho no biênio 2011-2012 está bastante aquém do
desempenho da América Latina: 2,1% para nós em comparação a 3,8% para a
América Latina. Novamente, dos dez outros países da tabela, nosso desempenho
só não é pior do que o do Paraguai.
Assim, parece que algo ocorreu nos últimos anos que aparentemente reduziu a
capacidade de crescimento da economia brasileira a valores significativamente
inferiores aos da América Latina. Esse é um tema que certamente motivará muita
pesquisa nos próximos anos.
De qualquer forma, para todos os períodos, o desempenho foi relativamente ruim.
Há sinais de que os governos têm sido ruins? Em particular, é sinal de
desempenho ruim da atual administração? Não necessariamente.
O fato de o atual governo e de o anterior serem extremamente populares sugere
que a prioridade da sociedade não tem sido o máximo crescimento econômico.
Outros fatores devem determinar a forma como o eleitor tem escolhido os
governantes.
Penso que o eleitor mediano tem priorizado governos que reduzam a
desigualdade e elevem a renda e o consumo. Esse objetivo tem sido compatível
com o desempenho medíocre de crescimento da economia brasileira. Não
sabemos até quando. Mas me parece que só haverá alteração do padrão de
escolha política da sociedade quando esse modelo de baixo crescimento e
melhora da desigualdade, da renda e do consumo testar seus limites.
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SAMUEL PESSÔA é doutor em economia e pesquisador associado do Instituto
Brasileiro de Economia da FGV.
Escreve aos domingos nesta coluna.
Samuel de Abreu Pessôa é doutor em economia e pesquisador associado do
Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Endereço da página:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/1172541-baixo-crescimento-do-brasil.shtml
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