1
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E
HOTELARIA - MESTRADO ACADÊMICO
MINTER / UNIVALI / UNINORTE
JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA
PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA
MANAUS/AM
2012
2
ANA PAULA SILVA E SILVA
JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA
PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA
Projeto de Pesquisa apresentado em qualificação
no Programa de Pós Graduação Stricto sensu em
Turismo e Hotelaria - Mestrado Acadêmico /
MINTER – UNINORTE como exigência parcial para
à obtenção do título de Mestre em Turismo e
Hotelaria.
Orientadora: Profª. Drª. Yolanda Flores e Silva
2012
3
ANA PAULA SILVA E SILVA
.JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA
PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA
Proposta de pesquisa apresentada a banca examinadora abaixo em exame de
qualificação e defesa no Programa de Pós - Graduação Stricto sensu em
Turismo e Hotelaria - Mestrado Acadêmico da UNIVALI / MINTER /
UNINORTE.
Profª. Drª. Yolanda Flores e Silva
Orientadora - UNIVALI / MTH - MINTER / UNINORTE
Prof. Drª Thaise Guzzatti
Examinador externo – USP / Leste
Prof. Dr. Paulo dos Santos Pires
Examinador - UNIVALI / MTH - MINTER / UNINORTE
4
SILVA, A. P. S. .JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS
ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE
BASE COMUNITÁRIA. Manaus, 2012, 100f. Dissertação (Mestrado em
Turismo e Hotelaria). Programa de Pós – Graduação Stricto sensu em Turismo
e Hotelaria / Universidade do Vale do Itajaí. Manaus / Balneário Camboriú:
MINTER - UNIVALI, 2012.
Orientação: Prof. Dra. Yolanda Flores e Silva
RESUMO
Nesta dissertação abordaremos através de uma metodologia qualitativa como a
psicodinâmica laboral pode contribuir para a consolidação do turismo de base
comunitária gerido pelos moradores da comunidade de Janauari no Município
de Iranduba/AM. A pesquisa contará com observação participante, entrevistas
semi-abertas e visitas técnicas à comunidade utilizando referências da
antropologia, do turismo e da psicologia como base teórica para a elucidação
dos fenômenos que envolvem essa união. Espera-se portanto contribuir com a
comunidade resgatando suas raízes históricas e tornando essa pesquisa de
profunda utilidade social e humana aos comunitários.
Palavras Chaves: Turismo. Comunidade. Psicologia.
SILVA, A. P. S. e. JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS
ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE
BASE COMUNITÁRIA (Janauari: The Labor Psychodynamic Of Artisans In A
Proposal Of Dialog With Community-Based Tourism). Manaus, 2012, 100f.
Dissertation (Master’s Degree in Tourism and Hotel Management).
Postgraduate
Stricto
sensu
Program
in
Tourism
and
Hotel
Management/University of Vale do Itajaí. Manaus/Balneário Camboriú: MINTER
- UNIVALI, 2012.
Supervisor: Prof. Dr. Yolanda Flores e Silva
ABSTRACT
Using qualitative methods, this dissertation looks at how the labor
psychodynamic can contribute to the consolidation of community-based tourism
generated by inhabitants of the community of Janauari in the Municipality of
Iranduba/AM. The research includes participant observation, semi-open
interviews and technical visits to the community, using references from
anthropology, tourism, and psychology as the theoretical basis for elucidating
the phenomena involved in this union. It is hoped that this work will help
promote the historical roots of the community, giving this research great social
and human utility for the community.
Keywords: Tourism. Community. Psychology.
5
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
ILUSTRAÇÃO 01: Lógica capitalista e Ecodesenvolvimento
24
ILUSTRAÇÃO 02: Formação da Identidade
50
ILUSTRAÇÃO 03: Média Etária de Início e Término do Desenvolvimento
Humano
55
ILUSTRAÇÃO 04: Polos Turísticos do Amazonas
56
ILUSTRAÇÃO 05: Percurso Fluvial Manaus/Janauari___________________ 61
LISTA DE TABELAS
TABELA 01: Desenvolvimento Moral
TABELA 02: Desenvolvimento Laboral
TABELA 03: Matéria Prima e Produto Final
52
53
66
LISTA DE GRÁFICOS E FLUXOGRAMAS
FLUXOGRAMA 01: Relações de Reciprocidade Entre as Pessoas e a
Comunidade
46
GRÁFICO 01: Atividades Laborativas dos Moradores da Vila de Janauari –
Iranduba/AM
62
FLUXOGRAMA 02: Cadeia de Venda de Sementes Beneficiadas
68
FLUXOGRAMA 03: Modelo Fenomenológico
77
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTOGRAFIA 01 – Estradas retas para Janauari
FOTOGRAFIA 02 – Estradas com depressão para Janauari
FOTOGRAFIA 03 – Peças produzidas em Janauari
FOTOGRAFIA 04 – Carrancas
FOTOGRAFIA 05 – Flechas decorativas
FOTOGRAFIA 06 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari
FOTOGRAFIA 07 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari
FOTOGRAFIA 08 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari
FOTOGRAFIA 09 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari
FOTOGRAFIA 10 – Retorno da antiga trilha do artesanato
59
60
63
65
74
82
83
83
83
89
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
07
1.1 O CONTEXTO DO ESTUDO
07
1.2 PROBLEMA
11
1.3 OBJETIVOS
11
1.3.1 Geral
12
1.3.2 Específicos
12
1.4 METODOLOGIA
13
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
18
2.1 O Turismo de Base Comunitária
18
2.2 Economia Solidária em Comunidades
27
2.3 A Psicologia Comunitária: Conceitos e Principais Aspectos
40
2.4 A Formação da Identidade Social e a Psicodinâmica do Trabalho 48
3 OS DISCURSOS: UMA ANÁLISE DOS DADOS APRESENTADOS
56
3.1 O Município de Iranduba e o Distrito de Janauari ______________ 56
3.2 Caracterização das Atividades Econômicas e Laborais de Janauari
61
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APÊNDICES
1. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
2. ROTEIRO PAR A COLETA DE DADOS ATRAVÉS DE ENTREVISTA
86
7
1 INTRODUÇÃO
1.1 O Contexto do Estudo
Desde a Belle Epoque, período histórico da cidade de Manaus que vai de
1890 a 1920, onde o maior segmento de mercado concentrava a exportação de
goma látex comumente chamada de borracha, até as datas atuais, o Estado do
Amazonas cresceu e se desenvolveu em vários aspectos.
Devido a esse momento histórico de abertura do Amazonas para o
mundo, as identidades amazônicas foram se misturando às europeias, às
andinas e às identidades de outras regiões do próprio Brasil. Com os
investimentos no estado e o crescimento das vendas e consumo de produtos
da região, Manaus principalmente, tem “a partir de 1890 seu primeiro grande
surto de urbanização, isto graças aos investimentos propiciados pela
acumulação
de
capital,
via
economia
agrária
extrativista-exportadora,
especificamente a economia do látex.” (DIAS, 1999, p.19).
Durante todo o passar da história, aquelas características ditas
estrangeiras incorporaram-se ao modo de viver e pensar do povo amazônico
levando seus descendentes a crer nessas características como sendo
prioritariamente nativas da região. O que era estrangeiro então tornou-se
nativo.
No decorrer do processo de transformação de Manaus em
capital da economia da borracha, a cidade é tomada por uma
onda imigratória muito grande. Não são somente brasileiros de
outras regiões que vêm engrossar a população da capital e do
interior em busca do trabalho, mas estrangeiros de diversas
regiões do mundo que, atraídos pelas notícias que correm de
nossas riquezas, sonham com novas oportunidades de
aumentar suas fortunas. (SOUZA apud DIAS, 1999, p. 129).
E foram muitas as interações ocorridas na Belle Époque, em que o mundo
volveu os olhos à floresta amazônica, promovendo-se então a miscigenação
genética, cultural e social de nosso povo. Como primogênitos dessa
miscigenação, herdamos seus avanços e bem feitorias assim como também
8
suas incertezas, doenças e vícios morais.
Desta forma, gerações e gerações começaram a crescer sob uma
multiplicidade de hábitos, crenças, suposições, rotinas de como e quando
realizar atividades peculiares de cada homem e mulher amazônicos.
Ainda as descobertas, desenvolvimento de alternativas aos problemas
diários, suas soluções, adaptação ao que é externo e aceitabilidade das
tradições já culturais, tudo isso foi passado de pais para filhos, de anciãos para
crianças e uma nova forma de se reconhecer e reconhecer o outro foi surgindo
na primeira cidade do Brasil a ter luz elétrica: a Paris dos trópicos. (DIAS,
1999).
[...] Cada ambiente possuindo representações diferenciadas,
denotadas por agentes sociais que possuíam pressupostos
culturais distintos. [...] De qualquer forma, gostos, consumo de
ideais europeus penetraram na vida manauara, concebendo
representações da cidade, expressa na afirmativa de que
Manaus modernizara-se, uma suposta imagem de conquista da
civilização. [...] Uma das tensões culturais no cotidiano da
cidade ocorria quando as mesmas convenções e relações
sociais estabelecidas entre as elites eram postas como
parâmetros para outros habitantes. (SANTOS JUNIOR, 2007,
p.8).
Este se configurou um momento no Estado do Amazonas e mais
especificamente de Manaus que fez com que ocorresse uma possível perda ou
um possível desvirtuamento das identidades e das culturas tradicionais.
Tal reflexo acaba por ser transferido aos pequenos municípios em efeito
carambola e em nível micro, às pessoas e isto ocorre de tal modo, que as
populações não conseguem nem mesmo ter consciência de que seu modo de
viver e ver o mundo são parte de sua identidade e que o uso responsável e
correto dos patrimônios que possuem pode ser um forte eixo de organização e
autonomia.
Conforme o Ministério do Turismo – Mtur,
...é necessário garantir a representação da diversidade de
produtos existentes na localidade e a integração de todos os
envolvidos, além de um posicionamento responsável diante da
atividade turística, evitando a descaracterização da cultura
local, que teria como consequência a geração de uma atividade
turística insustentável. (2011, p. 13).
9
No município de Iranduba, distante apenas 25 km da capital Manaus, é
possível sentir este contexto de pensar a vida, esta falta muitas vezes de
pertencimento, autoestima, autonomia e organização e planejamento da
economia, da educação, da saúde, na perspectiva pensada por Morin (2007, p.
100), “a responsabilidade como conjunto necessita ser irrigada pelo sentimento
de solidariedade, ou seja, de pertencimento a uma comunidade”. Contudo, isto
pode mudar.
A facilidade de acesso e a proximidade de Manaus, que no início deste
novo século, repensa sua história e sua importância no país, apresentam-se
como característica favorável para o planejamento e a gestão de Iranduba a
partir de novos parâmetros, que envolve inclusive o escoamento de seus
produtos, a realização de convênios com empresas, instituições de ensino, etc.
Em 2005, através de uma parceria entre um ateliê de artesanato e a
comunidade, iniciamos nosso contato com a comunidade de São Pedro do
Janauri – hoje distrito do município de Iranduba.
O artesanato da localidade – principal patrimônio econômico local – se
destaca como a base do sustento de muitas famílias e como um potencial
atrativo da região para visitantes ocasionais da própria região norte, bem como
turistas estrangeiros e nacionais oriundos de outras regiões do Brasil.
Naquela época, em nossas visitas a São Pedro do Janauri, foi possível
observar as precárias condições locais e a falta de instituições e infraestrutura
relacionadas a saneamento, educação, saúde, segurança, logística, entre
outras necessidades.
De 2005 até este ano de 2012, tempo que visitamos Janauari, tivemos a
oportunidade de perceber necessidades em evidência ao ministrarmos, através
de um convênio entre uma IES – Instituição de Ensino Superior e o município,
aulas para duas turmas de acadêmicos irandubenses.
Nas vivências e relatos diários, os munícipes de São Pedro do Janauari
apontaram os grandes obstáculos vividos por eles:
1. A dependência logística a um sistema de travessia do Rio Negro
através de balsas, já considerado pelos próprios munícipes como
pequeno diante de suas necessidades. Para a travessia gastava-se
cerca de 40 minutos do atracadouro de Cacau Pirera – outra
10
comunidade às margens do Rio Negro considerada entreposto de
Manaus para o Iranduba e demais municípios. Este tempo é
somado a mais uma hora e vinte minutos em média da
comunidade até Cacau Pirera totalizando em média duas horas
para ir e mais duas horas para retornar;
2. A falta de uma indústria de beneficiamento de sementes para a
confecção de sua produção de adornos e peças artesanais. Na
comunidade havia um galpão destinado ao beneficiamento de
sementes, contudo sem o preparo adequado e sem planejamento e
rotinas de trabalho, o local nunca foi utilizado em 100% de sua
capacidade;
3. A relação de dependência com os ateliês e lojas que vendem
produtos artesanais e que impõe preços baixos para a compra em
grande escala da produção dos artesãos da comunidade, todavia
chegando a colocar 500% de lucro no mesmo produto ofertado aos
turistas e demais compradores. Além da relação econômica
desproporcional, os comunitários verbalizaram ser alvo de maus
tratos, assédio moral e psicológico por parte dos comerciantes que
com comentários e prazos curtos ameaçavam deixar de comprar
dos artesãos, desvalorizando e desqualificando seu trabalho
artesanal;
4. A concorrência com os grandes empresários do ramo turístico. Na
região existem muitos empreendimentos turísticos como pousadas,
hotéis de uma e duas estrelas, alojamentos de selva de grande
porte que acabam por inibir quais quer tentativas de capitação de
turistas para a comunidade;
Considerando o contexto apresentado e após leituras sobre um segmento
do turismo denominado “turismo de base comunitária” acreditamos ser essa
uma alternativa que responderá aos anseios da população no que concerne a
uma paulatina mudança na estrutura da cadeia produtiva do artesanato.
Esta modalidade de turismo, por se organizar a partir da “autogestão
sustentável dos recursos patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas
de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados
11
pela prestação de serviços turísticos” (MALDONADO, 2009, p. 31) e também
por pagar preços justos por produtos oferecidos aos turistas, é a nosso ver,
uma perspectiva interessante para a região. Sobre esta economia artesanal
associada ao turismo é do que trata esta pesquisa sob a perspectiva da
organização de um Turismo de Base Comunitária em Janauari.
Toda a produção artesanal de Janauari é escoada para outras
comunidades e centros comerciais em outras cidades principalmente Manaus e
de lá é revendida a outros comerciantes ou vendida ao consumidor final.
Com o Turismo de Base Comunitária, pretendemos o movimento inverso,
onde Manaus, demais municípios e outras localidades seriam direcionadas à
Janauari, de forma a prestigiar os atributos turísticos da comunidade.
1.2 PROBLEMA
O distrito de Janauari localizado no município de Iranduba no Amazonas
possui um potencial turístico latente para o turismo de base comunitária face ao
seu
ecossistema
e
atividades
laborais
extrativistas
da
comunidade
relacionadas ao artesanato e outros produtos e serviços que valorizam a
identidade cultural local.
Contudo, a organização coletiva do município nos é desconhecida e não
sabemos se seria possível fomentar este segmento turístico sem antes analisar
as formas e graus de participação possíveis da população na indústria do
turismo.
Nesse sentido, numa pré-avaliação da localidade e da população com
quem convivemos por algum tempo, nossa questão problema de pesquisa é:
“Qual a psicodinâmica laboral da população da Vila de Janauari para
a efetiva participação na organização e autogestão de empreendimentos
turísticos de base comunitária que tenham por foco o artesanato
produzido na localidade?”
1.3. OBJETIVOS
Com as leituras preliminares, e com a delimitação do problema de
12
pesquisa foram formulados os objetivos abaixo:
1.3.1 Objetivo Geral:
Analisar a psicodinâmica laboral da população da Vila de Janauari para
a estruturação de empreendimentos turísticos de base comunitária.
1.3.2 Objetivos Específicos
1. Identificar
o
nível
de
organização
comunitária
(associações
e
cooperativas existentes) para a autogestão de empreendimentos
turísticos de base comunitária;
2. Descrever a história da comunidade e do foco laboral artesanal de
produção que sustenta economicamente as famílias da localidade;
3. Identificar as tendências, expectativas e possibilidades de serviços e
produtos turísticos (ligados à produção artesanal) que possam ser
ofertados a turistas e visitantes;
4. Analisar se as expressões artesanais locais poderiam ser o foco
chamativo de turistas e visitantes;
Importante esclarecer que esta sociedade iniciou um legado de cultura
voltada ao artesanato que de acordo com o IBGE, “... abriga dois dos principais
polos de produção de artesanato do Estado do Amazonas: as comunidades
dos lagos de Janauari e Acajatuba” (2011, p,1).
Com o desenvolvimento populacional do município, bem como com o
acesso facilitado pelo término da construção da ponte que liga Manaus à
Iranduba, os processos de abertura para outros lugares do país e do exterior
serão rápidos e com excelentes perspectivas se a população puder se
autogerir e decidir sobre como atuar economicamente para conseguir suprir
suas necessidades.
Observamos desta forma uma oportunidade de alavancar os potenciais
turísticos da região com o aumento responsável do fluxo de turistas ao
município e à Vila de Janauari – através principalmente de um turismo que não
seja de massa, que permita um gerenciamento com base comunitária –
13
proporcionando à esta população aumento e geração de trabalho e renda,
melhorias nas condições de vida e fortalecimento cultural.
Entretanto, sem deixar de pensar na preservação com os recursos
naturais oferecidos pela floresta, com a cultura e identidade amazônica, ir mais
além: que esta construção possa permitir a interação dos comunitários com o
novo, e dele absorver o que há de melhor ao engrandecimento e da
comunidade em sua totalidade.
1.4 METODOLOGIA
Conforme as teorias epistemológicas focadas na fenomenologia, vê-se
como embasamento os pressupostos de Morin (2008, p. 23) na seguinte
construção: “ora, o observador que observa, o espírito que pensa e concebe,
são eles mesmos indissociáveis de uma cultura, e, portanto, de uma sociedade
hic et nunc”.
Entendemos
esta
expressão
última,
como
o
aqui
e
o
agora,
contextualizado e focado no fenômeno investigado na atualidade ou pelo
menos até onde sua relevância estiver. Levamos em conta o fato de que a
temporalidade não é preponderante ao fenômeno, seja este social, cultural ou
psicológico.
Ao contrário, o fenômeno por ser atemporal, pode ser revivido, recordado
em qualquer momento da vivência do indivíduo como se tivesse acabado de
ocorrer. A lembrança vívida só é possível a partir de sai significância para o
indivíduo.
Em toda a discussão travada sobre a especialização do saber, a
pulverização do ser humano, o que se observa é a necessidade emergente de
consolidar a pesquisa como um fenômeno social, científico e biológico onde o
pesquisador possa entender que o fenômeno nunca poderá ser um aglomerado
de partes unidas ou a decomposição de partículas minúsculas, quase atômicas
as quais acabam por gerar outras inúmeras pesquisas de menor relevância
(MORIN, 2008).
Para tanto, a integralidade do ser humano leva ao pesquisador a
compreensão abarcativa dos fenômenos por ele estudados, e, somente
entendendo o ser humano como homem integral, é possível chegar ao
14
entendimento deste ser humano visto pela sua própria ótica.
Chega-se ao cerne da questão: como se pode estabelecer um saber
científico, diante do que Morin (2008) chama de escola ou universidade do
luto? A essa questão Husserl (2006) responde que ao entrarmos em contato
com nossas vivências e estados de consciência, devemos interagir com estes
fenômenos
despidos
de
quaisquer
ideias
pré-concebidas,
crenças,
partidarismos, ou teorias que possam limitar a experiência a um fenômeno
comumente esperado ou previamente enquadrado no saber científico.
Significa como foi dito acima, estar aberto a compreender o ser humano
pela sua vivência, pelo seu olhar, ser empático e se permitir experienciar-se.
Com esta perspectiva é que construímos o arcabouço bibliográfico
documental que gerou esta pesquisa e seus resultados apresentados nos
tópicos a seguir.
Como estratégia de pesquisa, foi realizado um estudo de caso focado na
comunidade de São Pedro do Janauari. Para Yin (2002), neste tipo de
investigação a ideia é identificar e analisar certos fenômenos no contexto da
vida real.
Por isso, realizamos uma exploração e busca de dados documentais e
bibliográficos no sentido de responder aos objetivos específicos estabelecidos
na proposta sobre a comunidade de Janauari.
Conforme Richardson é a exploração um plano de enquete preliminar,
onde “tendo algumas ideias sobre o tema, está preocupado em não deixar de
fora alguns aspectos importantes que possam contribuir para a explicação do
problema” (2008, p.146).
Como técnicas de coleta de dados, realizamos um trabalho de campo, em
que a mestranda/pesquisadora teve contato direto com as pessoas
selecionadas como informantes formais e informais da pesquisa.
Nesta etapa da pesquisa, os caminhos de entrada na comunidade se
deram através de uma turismóloga parceira que forneceu os contatos do líder
do artesanato e do líder da comunidade.
A partir dos vínculos iniciais com essas pessoas chave, estas nos
apresentaram aos comunitários, fazendo assim o elo de contato entre nós e os
artesãos.
Para Flick (2009, p. 109) o termo genérico “campo” pode designar uma
15
determinada instituição, uma subcultura, uma família, um grupo específico de
pessoas com uma biografia especial, tomadores de decisão em administrações
ou empresas e assim por diante.
Na coleta de dados, os instrumentos utilizados foram: roteiro para
entrevista aberta (ver apêndice 2) e observação do tipo participante. No que
concerne à entrevista, Godoi e Mattos conceituam-na não como uma simples
narrativa ou registro de verbalizações dos pesquisados, mas sim em um
“construto comunicativo, uma forma de produção e interpretação da informação
através da análise dos discursos” (2006, p. 306).
No concernente à observação participante, Denzin cita esta forma de
observação como a mais comum utilizada em pesquisas qualitativas e nos
apresenta o seguinte conceito: “a observação participante será definida como
uma estratégia de campo que combina, simultaneamente, a análise de
documentos, a entrevista de respondentes e informantes, a participação e a
observação diretas e a introspecção” (apud FLIK, 2009, p.207).
O local de observação e coleta dos dados foi o Distrito de Janauari
localizada no Município de Iranduba/AM de junho 2011 até julho de 2012. O
universo da pesquisa foi de doze artesãos entrevistados da Vila de Janauari.
Vale ressaltar que três artesãos foram entrevistados mais de uma vez,
pois a cada ida à comunidade nos traziam mais conteúdo de pesquisa. Os
encontros foram realizados todos na própria comunidade, em número de sete,
sendo que seis encontros tiveram a duração de quatorze horas de observação
e em uma houve pernoite com vinte e quatro horas de permanência na
comunidade.
As entrevistas foram realizadas nas residências dos comunitários, nas
ruas da comunidade nos trajetos de uma residência a outra, nas trilhas no
entorno da comunidade, nos ambientes de trabalho dos comunitários (chapéus
de palha), em uma rabeta (pequena embarcação com capacidade para até
nove pessoas) na antiga trilha fluvial do artesanato, em dois flutuantes e em um
restaurante flutuante.
Como critérios prioritários para a participação nas entrevistas o
comunitário deveria:
•
Ser morador da comunidade de Janauari;
16
•
Trabalhar diretamente com artesanato seja no beneficiamento de
matéria prima, na confecção ou na venda do artesanato;
•
Ter maior idade;
•
Desejo de participar da pesquisa.
Para a análise dos dados foram realizadas análises de discurso a partir
dos dados coletados das entrevistas, bibliografias e/ou documentos obtidos no
município. Para Bardin apud Richardson:
A análise do discurso é um conjunto de técnicas de análise das
comunicações visando obter, através de procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam
inferir
conhecimentos
relativos
às
condições
de
produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.
(BARDIN apud RICHARDSON, 2008, p. 223).
O objetivo da análise do discurso também é o de:
demonstrar
como,
nas
conversações,
as
versões
conversacionais
dos
eventos
(memórias,
descrições,
formulações) apresentadas pelos participantes são construídas
para a atividade interativa e comunicativa. (EDWARDS;
POTER, apud FLICK 2009, p. 302).
Para esta pesquisa, a análise do discurso tenderá a uma análise
sociológica que de acordo com Alonso (apud GODOY, 2006, p. 383), não
representa apenas:
... uma soma de significados predeterminados de palavras,
nem uma análise estrutural de textos realizada em um plano
sintático ou semântico, mas uma análise contextual, na qual os
argumentos tomam sentido em relação com os atores que os
enunciam (ALONSO apud GODOY, 2006, p. 283).
A apresentação dos dados comporá o formato de texto descritivo,
reflexivo e crítico à luz de referenciais do turismo, da psicologia e do turismo de
base comunitária.
Importante ressaltar que de acordo com a resolução CNS 196/96, do
Conselho Nacional de Saúde, as pesquisas realizadas com seres humanos
17
seja em que idade ou condição biopsicossocial, deve atender a exigências
éticas.
Um de seus itens obrigatórios é o termo de consentimento livre e
esclarecido dos indivíduos-alvo constante em apêndice do projeto. No qual os
comunitários pesquisados terão uma breve, porém consistente explicação do
que se propõe a pesquisa.
Nele estão descritos os benefícios e riscos atuais e potenciais que os
pesquisados podem sofrer ao serem submetidos mesmo que espontaneamente
à pesquisa. Também podemos observar no termo a relevância social da
pesquisa com as vantagens na participação na mesma garantindo sua
destinação social.
Dentre as seções constantes na legislação pertinente, as que mais nos
chamam atenção para o propósito da presente pesquisa são aqui citadas:
... l) respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e
éticos, bem como os hábitos e costumes quando as pesquisas
envolverem comunidades;
m) garantir que as pesquisas em comunidades, sempre que possível,
traduzir-se-ão em benefícios cujos efeitos continuem a se fazer sentir
após sua conclusão. O projeto deve analisar as necessidades de
cada um dos membros da comunidade e analisar as diferenças
presentes entre eles, explicitando como será assegurado o respeito
às mesmas;
n) garantir o retorno dos benefícios obtidos através das pesquisas
para as pessoas e as comunidades onde as mesmas forem
realizadas. Quando, no interesse da comunidade, houver benefício
real em incentivar ou estimular mudanças de costumes ou
comportamentos, o protocolo de pesquisa deve incluir, sempre que
possível, disposições para comunicar tal benefício às pessoas e/ou
comunidades; [...]
p) assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do
projeto, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos,
produtos ou agentes da pesquisa; [...]
z) descontinuar o estudo somente após análise das razões da
descontinuidade pelo CEP que a aprovou. (CNS 196/96).
18
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O Turismo de Base Comunitária
Em uma breve retrospectiva, o Turismo de Base Comunitária iniciou-se
nos meados do século XIX como afirmam Lima, Ayres e Bartholo:
A evolução e o crescimento do TBC foram sendo intensificados
na medida em que o modelo de desenvolvimento sócioeconômico predominante no Século XX passou a apresentar
sinais incontestáveis de inconsistência, em função da sua
lógica de exploração de recursos naturais e humanos e no
consumo de bens duráveis e não duráveis. Os discursos em
defesa da necessidade de mudanças de paradigmas
econômicos,
sociais
e
políticos
se
avolumaram
significativamente a partir de meados do século passado.
(2009, p.02).
Ainda com os autores supracitados (2009) por volta das décadas de 80 e
90 é que nosso país vislumbrou um aumento nesta modalidade de turismo em
que as comunidades autóctones regiam as atividades turísticas em suas
localidades.
Contudo os autores avançam mais em sua descrição histórica apontando
certa preocupação com os conflitos envolvendo as primeiras manifestações de
turismo comunitário ao afirmarem que essas começaram a partir de pessoas
não moradoras das localidades. Para eles, essas pessoas faziam o uso público
de áreas e que por ser de uso público não haveria maiores compromissos com
a preservação ou com o uso sustentável.
A partir deste ponto, iniciaremos um discurso de conceituação do que é
TBC. Esta ação é importante já que a definição nos levará a um encadeamento
de ideias necessário ao bom andamento textual.
Para Coriolano (2009, p. 282), o turismo de base comunitária compreende
um formato de turismo em que as comunidades se organizam de forma
associativa e se organizam de modo a ter “arranjos produtivos locais,
possuindo o controle efetivo das terras e das atividades econômicas
19
associadas à exploração do turismo”.
Em
outras
palavras,
compreende
uma
modalidade
de
turismo
prioritariamente focado na gestão comunitária dos recursos oferecidos pela
localidade.
O envolvimento dos moradores, portanto é singular na promoção dos
recursos que levem ao desenvolvimento integral da economia, sociedade,
cultura e educação, através de suportes de distintas naturezas, incluindo-se
aqui as redes e laços de natureza sociais, o que pode significar um
desenvolvimento psicossocial da população e como consequência da região
em que esta comunidade se insere.
Esta modalidade complementa ao que conhecemos como turismo, que
segundo Noronha:
... é considerado uma atividade geradora de divisas, pois a
entrada, a permanência e o deslocamento dos turistas em uma
determinada localidade, despertam para a necessidade de dar
condições estruturais às localidades para a implementação de
infra-estrutura turística e básica e outros fatores pertinentes à
localidade, deixando-a em condições satisfatórias tanto para
quem reside, quanto para quem a visita. (NORONHA, 2008, p.
95).
Para a WWF - World Wildlife Fund ou Fundo Mundial da Natureza o
turismo de base comunitária pode ser “realizado em áreas naturais,
determinado e controlado pelas comunidades locais, que gera benefícios
predominantemente para estas e para as áreas relevantes para a conservação
da biodiversidade.” (2003, p.23).
Desta forma, ao adotar o turismo de base comunitária, a comunidade
estará realizando uma modalidade turística associada ao desenvolvimento
sustentável, preservando suas identidades culturais e naturais de seu espaço.
O próprio indivíduo se preserva enquanto pessoa quando percebe que em
seu entorno as atividades laborais, de lazer, culturais, voltadas à educação
também permanecem preservadas. Para Wagner III e Hollenbeck, (2006), o
sentimento de segurança restaura a equidade no sistema como um todo.
Vale ressaltar a importância da compreensão do que é espaço, visto que
para tal expressão há uma série de conceituações. Adotaremos as
conceituações de Santos, a qual afirma que é:
20
A partir da noção de espaço como um conjunto indissociável de
sistemas de objetos e sistemas de ações podemos reconhecer
suas categorias analíticas internas [...]. É o espaço que, afinal,
permite à sociedade global realizar-se como fenômeno. Assim,
o espaço, é, antes do mais, especificação do todo social, um
aspecto particular da sociedade global. (2006, p. 77).
É no compreender seu espaço que a comunidade encontra a
sensibilidade para gerir o que é seu, e, a partir desta sensibilidade adquirida
através da compreensão refletir sobre a importância de preservar seu
patrimônio ecológico, social e cultural.
Para Araújo e Gelbecke, “A noção de território é frutífera para o Turismo
Comunitário, pois possibilita a valorização de aspectos socioculturais capazes
de serem apropriados pelas comunidades autóctones.” (2008, p. 364)
Sendo assim, ao exercer a autogestão de seu território, os comunitários
ganham uma ferramenta poderosa visto que pode fortalecer os laços sociais e
culturais, além de manter a rotina de vida sem maiores alterações.
A noção de território passa a priorizar os aspectos relacionais
presentes nas sociedades, os aspectos que dão vida ao
espaço-lugar passam a fazer parte desta noção conferindo-lhe
status interdisciplinar. Essa definição de território pressupõe
espaços socialmente construídos na base de uma identificação
coletiva dos atores sociais e de uma cultura partilhada. [...]
No caso do Turismo Comunitário, reconhecer um território
significa verificar suas particularidades em termos de potenciais
para um turismo emancipador e educativo, suscetível de
apropriação comunitária a partir de um projeto multissetorial
capaz de criar vínculos entre determinados setores tradicionais
da economia local. (ARAÚJO e GELBECKE 2008, p. 365).
Esta linha de pensamento está condizente com Noronha (2008), quando
afirma que o turismo é uma atividade complexa não apenas pelas suas
interligações verticais e horizontais com a economia, serviço e produtos
oferecidos, mas também por unir-se de maneira sustentável ao patrimônio
ambiental, cultural na promoção de sua preservação e desenvolvimento. Por
sua vez o Turismo de Base Comunitária, é aquele segmento que:
Oportuniza que visitantes conscientes – estudantes,
professores, pesquisadores, e simpatizantes – tomem contato
com temas relacionados à preservação da natureza (sistemas
21
ecológicos) e, ao mesmo tempo, a conservação de modos de
vida tradicionais (sistemas sociais). (SAMPAIO, ALVES e
FALK, 2008, 253).
Para Maldonado apud Bartholo, Sansolo e Bursztyn,
Por Turismo Comunitário entende-se toda forma de
organização empresarial sustentada na propriedade e na
autogestão sustentável dos recursos patrimoniais comunitários,
de acordo com as práticas de cooperação e equidade no
trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela
prestação dos serviços turísticos. A característica distinta do
turismo comunitário é sua dimensão humana e cultural, vale
dizer antropológica, com objetivo de incentivar o diálogo entre
iguais e encontros interculturais de qualidade com nossos
visitantes, na perspectiva de conhecer e aprender com seus
respectivos modos de vida. (2009, p. 31)
Ainda com os autores supracitados, em função da abertura das
comunidades para outros arranjos produtivos diferentes dos tradicionalmente
impostos pelo mercado, elas têm uma oferta de produtos e serviços que face
ao seu formato tradicional, apresenta-se hoje como um produto original com
“um selo próprio”, (ibidem, p. 25) combinando atributos originais e autênticos,
mas sem perder a sua “alma.”
Estes produtos, em muitas destas comunidades é parte de seu patrimônio
cultural o que nas situações em que a comunidade implanta o turismo de base
comunitária, este subsidia o turismo cultural já que no primeiro:
...a comunidade local possui um importante papel no
desenvolvimento do Turismo Cultural, visto que é responsável
pela transmissão dos valores culturais, assim como
beneficiários de tudo o que a atividade pode proporcionar e os
principais afetados pelos seus efeitos negativos. Assim surgem
as discussões a respeito do turismo de base local ou
comunitário e de todos os benefícios que ele pode
proporcionar... (ALMEIDA; BORGES; FIGUEIREDO, 2008, p.
03).
Mendes (2006) mostra um posicionamento interessante ao relacionar
turismo comunitário e turismo convencional onde o primeiro caracteriza-se
como uma reação a não participação de populares no segundo.
Para esta autora o turismo de base comunitária acaba por tornar-se um
ato
de
negação
que
as
comunidades
demonstram
aos
grandes
22
empreendimentos
padronizados
e
ao
mesmo
tempo
desprovidos
de
autenticidade ou identidade com a localidade onde estão inseridos.
Na continuidade deste diálogo, Barbosa (2011) relata a necessidade de a
comunidade demonstrar uma posição de protagonismo frente ao turismo
comunitário valorizando-se culturalmente, reconhecendo sua identidade local e
manifestando cuidado, zelo e atitudes de preservação ambiental.
Segundo Barbosa (2011, p. 94) “para que o turismo de base local se
desenvolva é necessário, em primeiro lugar, que exista a iniciativa dos
habitantes, e que valorizem seus saberes e reforcem os poderes endógenos”.
Para tanto, Almeida, Borges e Figueiredo abordam a cultura afirmando
que:
A cultura e, por conseguinte o patrimônio cultural transformouse em “mercadoria turística” devido à percepção de que muitos
turistas buscavam conhecer o que era representativo da cultura
de cada lugar, além das obras e manifestações consideradas
patrimônio e, portanto bem a ser protegido. Deste modo, as
peculiaridades locais vêm, cada vez mais, sendo exploradas
pela atividade turística [...]. (2008, p. 03).
O Ministério do Turismo – MTur coloca que cada um desses conceitos
sobre turismo de base comunitária colocados acima, e ainda outros mais dos
mais variados autores pesquisadores do assunto podem resumir os seguintes
pontos:
•
•
•
•
•
•
autogestão;
associativismo e cooperativismo;
democratização de oportunidades e benefícios;
centralidade da colaboração, parceria e participação;
valorização da cultura local e, principalmente;
protagonismo das comunidades locais na gestão da atividade
e/ou na oferta de bens e serviços turísticos, visando à
apropriação por parte destas dos benefícios advindos do
desenvolvimento da atividade turística. (2010, p. 16 – 17).
O turismo de base comunitária de acordo com a percepção de Sampaio,
Alves e Falk (2008, p. 254) pode ser dividido em três características onde a
primeira consolida-se no fato de que esta modalidade de turismo é pensada
“como um projeto de desenvolvimento territorial sistêmico (sustentável) e a
partir da própria comunidade” e, portanto a cultura enquanto “mercadoria
23
turística” obtém seu agente de preservação: o próprio povo que partilha dessa
cultura seu modo de viver.
A segunda característica para os autores supracitados é que pode o
turismo de base comunitária ser considerado também um “turismo sustentável”,
pois para que seja realmente efetivado necessita de grande e contínua
quantidade de amadurecimento ético de quem o pratica e de quem o executa.
Nessa segunda característica podemos citar que a ética tem uma relação
direta com o que é certo ou errado em determinada situação e uma de suas
características mais preciosas seria inspirar o ser humano a realizar atos
socialmente adaptados promovendo seu protagonismo enquanto pessoa
humana inserido em sociedade (DUBRIN, 2003; MATTAR, 2006; HITT,
MILLER &COLELLA, 2006; ROBBINS, 2007; WAGNER III, HOLLENBECK,
2006).
A terceira característica consiste na:
Convivencialidade que é uma relação social que se interessa
pelo outro, pelo diferente, pela alteridade, pela autenticidade,
respeitando a simplicidade das comunidades tradicionais, suas
rotinas, seu jeito de falar, cantar, dançar, comem entre outros.
(Sampaio, Alves e Falk 2008, p. 254).
A simplicidade com que as atividades, os artesanatos, o plantio, a
colheita, etc., são feitas e o que se faz com esse produto encanta os visitantes
que em sai dinâmica conturbada veem certas atividades contemplativas por
exemplo como distantes de si.
É na simplicidade que se instaura a ordem, o sossego, o sentimento de
completude outrora distantes ou até perdidos daqueles que buscam nas
localidades mais ermas mais que o turismo, mas um resgate do intangível.
Tem-se como intangível principalmente o prazer e os afetos positivos
associados à realização da atividade.
São duas as preocupações visíveis no turismo de base comunitária
residindo na questão socioambiental visto que para haver o crescimento
econômico a comunidade vai ter que passar por transformações intensas, bem
como permitir a entrada do novo em uma comunidade ‘fechada’ com o mínimo
de relação intercultural e na produção associada ao turismo.
24
Estudo realizado pelo Sebrae
apurou que existem 117
atividades ligadas à Produção Associada ao Turismo, em
diferentes ramos econômicos, nas quais as pequenas
empresas terão papel decisivo e serão beneficiadas
diretamente em termos de negócios, geração de empregos,
desenvolvimento e consolidação no mercado. Integrar a
produção associada ao turismo gera benefícios ara todos os
envolvidos, pois além dos produtores, os destinos também
ganham ao construírem uma oferta mais diversificada,
competitiva e interessante aos turistas. [...]
De acordo com o Ministério do Turismo define-se a produção
associada ao turismo toda e qualquer “produção artesanal,
industrial ou agropecuária que detenha atributos naturais e/ou
culturais de uma determinada localidade ou região capazes de
agregar valor ao produto turístico.” (MTur, 2011, p. 05)
Ainda com Ministério, os produtos associados ao turismo são aqueles que
estão diretamente ligados à economia da localidade e que devem ser
“componentes da atratividade dos destinos, qualificando e diversificando a
oferta turística”. (2011, p. 13).
Se não houver um planejamento consciente e responsável, esta
comunidade poderá como maior risco sofrer vários tipos de degradação de
natureza ambiental e social de seus recursos e cultura.
Tal planejamento deve ter como principais protagonistas os próprios
comunitários e que este pensar ecologicamente correto possa compor sua
cultura ser passado aos seus descendentes.
Para Sampaio, Carvalho e Almeida (2007) esse discurso polariza-se da
seguinte forma:
25
Fonte da Ilustração 01: Adaptado de Sampaio, Carvalho e Almeida (2007)
Para estes autores (2007), a maior dificuldade está em se obter a
equidade no sistema, pois de um lado as exigências da ótica capitalista
determinam que ocorram mudanças nas comunidades no sentido de adequálas ao capitalismo não interessando por quais meios. Por outro lado o eco
desenvolvimento tem toda uma crítica à vida economicista e busca modelos
menos excludentes de desenvolvimento.
O importante neste processo é manter vívido na memória que o turismo
de base comunitária não tem apenas um olhar para a comunidade, existe neste
formato de turismo uma preocupação com o turista. Como já foi mencionado, o
turismo de base comunitário é sistêmico. E sendo assim, tanto o turista
necessita do TBC quanto este do turista como numa via de mão dupla. Nesse
sentido:
Nota, também, que o relacionamento entre os dois sistemas
sociais, o nativo e o turístico, muda na medida em que a
quantidade de turistas aumenta. Por exemplo, a hospitalidade e
a reciprocidade, até o sorriso dos prestadores de serviço, são
transformadas em mercadoria, encenadas. O crescimento da
quantidade de turistas também leva a que estes deixem de ser
individualizados aos olhos dos residentes, que passam a
relacionar-se não com a pessoa do turista, mas com o
estereótipo predominante no imaginário social local, sobre os
mesmos. (BARRETTO, apud PI-SUNYER, 2004, p. 04)
Para Barretto (2004) na medida em que a iniqüidade se instaura no
sistema, as relações passam por transformações nos menores detalhes.
26
Quando os turistas convencionais visitam uma localidade com Turismo de
Base Comunitária podem até achar bonita a cultura dos residentes, contudo,
depois de passado um tempo de absorção da mesma, critica-a e compara-a
com a sua própria ou com outras conhecidas por ele, mostrando descaso e
depreciação com o local e com os nativos.
Também é possível ter transformações no sentido inverso, a própria
comunidade degradar a localidade turística sem o cuidado e o respeito pelos
seus múltiplos patrimônios, porém o pior de tudo no turismo é o desgaste das
relações entre turistas e população residente, isto demonstrado através de
roubos, informações erradas, falta de cordialidade, descaso com as
necessidades do turista, abuso de preços dos produtos ofertados, tudo
contrário ao que se considera como hospitalidade e acolhimento.
Silva (apud Ross, 2005) revela várias preocupações com relação ao
turismo, entre estas cita o desenvolvimento econômico sem planejamento e o
deslocamento de pessoas sem avaliação dos seus impactos à vida das
pessoas e localidades tradicionais e/ou nativas.
Esse impacto humano pode ser uma das causas do aumento dos vícios,
incompreensões, descasos, negligências e outros crimes humanos que muitas
vezes são velados, sutis, que começam obscurecidos pela falácia do bem
tratar, de intenções nobres, etc.
Ao se deparar com as mazelas morais que afligem as sociedades,
podemos observar que o descaso com o ser humano que necessita de auxílio
é visto nas calçadas, esquinas, periferias, etc. A exclusão se impõe como
condição de segregação dividindo os que escolheram ter daqueles que não
tem escolhas. (SANTOS, 2006).
Overing (apud BAIER,1999) aborda a confiança como característica
relevante à Antropologia social ao analisar uma comunidade amazônica. Para o
autor
as
estruturas
coercitivas
geram
uma
vivência
emocionalmente
empobrecida chegando a ser suportável apenas pelo fato de que já está
incutida na cultura da sociedade em que se encontra. E ao estar incutida, o que
é inaceitável para alguns é totalmente normal para outros.
Se fizermos uma transposição dessa forma de pensar para compará-la ao
turismo convencional e ao turismo de base comunitária de Mendes (2006),
chegamos à conclusão de que o turismo convencional assemelha-se mais ao
27
modelo coercitivo demonstrado por Overing e Baier, e o turismo de base
comunitária mais semelhante ao modelo da confiança como base de ação.
Barretto (2004) também aponta a mesma ideia de polarização entre a
percepção do turista e do nativo contextualizando historicamente as reações de
descaso e críticas pelo lado do turista assim como de repulsa em algumas
sociedades nativas frente aos turistas.
Contudo esta também afirma que assim como existem atitudes
mediadoras e adaptativas, também existem atitudes de violência evidente na
seguinte citação:
Casos de hostilidade aberta e de conflito entre moradores
locais e turistas, que requereram até intervenção policial, foram
comuns na cidade de Florianópolis (Brasil) durante a década
de 1990, em que houve uma grande demanda de turismo de
sol e praia por parte de turistas de massa provenientes da
Argentina. (BARRETTO, 2004, p. 12).
É importante, portanto, enveredar pela busca à equidade do sistema,
lembrando que esta não é estática e facilmente alcançável, mas um contínuo e
um exercício constante.
2.2 Economia Solidária em Comunidades
De acordo com Singer, (2002) a permanência do capitalismo como ditame
da ordem econômica a tanto tempo, nos faz vê-lo como um procedimento
normal. Significa então dizer que ao adotar o capitalismo como norte,
buscamos produtos e serviços competitivos e preferimos aquelas culturas que
de igual forma adotam o capitalismo como ordem econômica usual.
Este mesmo autor crê na importância de se estabelecer um novo modelo
econômico que consiga se desvencilhar do capitalismo, “em termos de
igualdade, liberdade e segurança para todos os cidadãos”. (p. 111).
Conforme Zanin e Gutierrez:
A economia solidária é um movimento social que propõe a
substituição da matriz econômica sedimentada num sistema de
valores baseados no lucro, na acumulação e na competição,
por uma outra matriz econômico-produtiva resultante de um
sistema de valores centrado no bem-estar social e na
28
cooperação. [...] (2009, p. 155).
Para aqueles já habituados a um modelo capitalista e que subtraem dele
lucros financeiros para si, é muito distante da sua realidade vivenciar a
economia solidária nos moldes que as autoras nos trazem, contudo, para
aqueles que vivem sob o julgo de uma ótica capitalista e que por ela são
oprimidos, facilmente vislumbram na economia uma alternativa de crescimento
econômico e social sem perder a humanidade.
Ao contrário, pois para as autoras é através da economia solidária que se
há o resgate da exclusão, da opressão e do esquecimento de comunidades e
pessoas a elas pertencentes. Para Lechat:
O conceito economia de solidariedade aparece pela primeira
vez no Brasil em 1993 no livro Economia de solidariedade e
organização popular, organizado por Gadotti, onde o autor
chileno Luis Razeto o concebe como: (eu cito) ‘uma formulação
teórica de nível científico, elaborada a partir e para dar conta
de conjuntos significativos de experiências econômicas -...-,
que compartilham alguns traços constitutivos e essenciais de
solidariedade,
mutualismo,
cooperação
e
autogestão
comunitária, que definem uma racionalidade especial, diferente
de outras racionalidades econômicas. (2007, p. 11).
Robbins, Thimothy & Sobral, (2010) demonstram em pesquisa realizada
em mais de 10 países que comunidades onde há pouca interação com os
grandes centros urbanos têm uma tendência ao cooperativismo e a realizar
atividades coletivas.
Ao passo que nos grandes centros urbanos, além do individualismo ser
mais observado, há uma tendência a competição entre as pessoas que se
inicia desde muito cedo. É estimulada nas escolas que como Patto (1990)
também afirma que é muito comum na escolarização de crianças a competição
ser estimulada tanto pelos professores quanto pelos pais das crianças.
E afirma ainda que ao não responder aos padrões socialmente aceitáveis
a criança tende a fracassar pouco a pouco.
Na comunidade a competição é menos visível e em seu lugar ações mais
voltadas ao companheirismo são comuns. A partir de Robbins, Thimothy &
Sobral, (2010) chegamos à conclusão que em locais onde a escolaridade e o
avanço tecnológico são pequenos, as pessoas são mais voltadas para as
29
pessoas. E através dessas características têm maior proximidade à economia
solidária.
Sobre as associações, cooperativas e outros agrupamentos que seguem
na modalidade da economia solidária, Zanin e Gutierrez (et tal) afirmam que:
O novo cotidiano de trabalho desses grupos, pautado no
trabalho coletivo, democrático e autogestionário, apresenta
demandas de natureza diversa daquela que a formação e a
prática vividas em contextos de trabalho e de vida forjados na e
pela economia convencional capitalista. (2009, p. 46)
Conforme Patto (1990) esses mesmos grupos têm uma história de
subordinação e fracassos escolares (evasão, baixo rendimento, reprovações)
que ao longo da história de cada um foram colaborando para o aumento dos
desafios de emancipação da dinâmica capitalista.
E mais, para que se saiba o que é riqueza, o seu contrário se faz
necessário, a pobreza. Para se saber o que é pertencer a uma sociedade, se
faz necessário seu inverso, a exclusão. Para se saber quais padrões são
socialmente aceitos, no capitalismo, diríamos dicotômico, necessitamos
daqueles que vivem às margens sem cidadania e oprimidos pelo sistema
vigente.
É como se os indivíduos na sociedade já viessem predeterminados para
ser algo. Não o que querem, mas sim predeterminados a exercer um papel dito
e imposto por uma sociedade que se diz auto suficiente, e que na verdade
aliena seus indivíduos para manter sua dinâmica de opressão e exclusão. Pois
como dissemos, só sabemos quem é o rico, se houver o pobre.
Sawaia em consonância com Patto afirma que:
A educação determinaria igualmente um estilo cognitivo que
utiliza clichês e estereótipos, de maneira rígida, generalizandoos a todas as pessoas de uma mesma categoria, sem levar em
conta as diferenças individuais, e não é capaz de mudá-los na
presença de informações novas ou contraditórias. (2001, p.
57).
Essa educação, não se remete apenas a educação formal, mas àquela
passada informalmente de pai para filho, que aleija, discrimina, exclui os menos
favorecidos fazendo os pequenos acreditarem o quão necessária é a pobreza à
30
sociedade, e que estes menos favorecidos exercem mais um papel na mesma.
De
um
lado,
sutilmente,
com
gestos,
comentários,
conclusões
precipitadas e aos poucos, crianças são educadas a incluir e deseducadas
passando assim a excluir aqueles que se mostram financeiramente aquém de
seus padrões na sociedade.
Do outro, o pobre, o excluído, o oprimido e o desempregado acabam por
se acostumar a ocupar esse papel social e se conformam com tal situação. Os
motivos pelos quais um indivíduo se conforma, podem ser explicados desde a
psicopatologia à antropologia, mas o mais preponderante aqui é entender que
sempre há um ganho seja financeiro, moral, afetivo ou social em se conformar
com um papel de vida (ROBBINS, THIMOTHY & SOBRAL, (2010).
Sendo assim, a pouca educação e ainda mais associada a baixa
qualidade nesta educação, gerações inteiras de indivíduos constituíram-se não
como seres pensantes, mas como indivíduos que nasceram e cresceram
ouvindo seus pais firmarem neles a ideia de que deveriam ser bons
trabalhadores. Não foi passada a ideia de que esses indivíduos poderiam ser
independentes e empreendedores.
Daí segundo Zanin e Gutierrez (2009) teríamos a explicação para a
dificuldade que certos grupos de camadas financeiramente mais baixas da
sociedade têm, em quebrar com o paternalismo quer seja este governamental
quer seja empresarial visto que muitos ao se empregarem e permanecerem
durante anos a fio estagnados nas empresas sempre esperam ser vistos como
trabalhadores competentes que merecem um aumento ou promoção.
De acordo com as autoras, essa concepção já está introjetada na cultura
popular dos menos favorecidos e é mais observada naqueles com menos
educação formal. Para Gaiger:
O modo de produção capitalista nasce da reunião de quatro
características da vida econômica, até então separadas: a) um
regime de produção de mercadorias, de produtos que não
visam senão ao mercado; b) a separação entre os proprietários
dos meios de produção e os trabalhadores, desprovidos e
objetivamente apartados daqueles meios; c) a conversão da
força de trabalho igualmente em mercadoria, sob forma de
trabalho assalariado; d) a extração da mais-valia, sobre o
trabalho assim cedido ao detentor dos meios de produção,
como meio para a ampliação incessante do valor investido na
produção; a mais-valia é a finalidade direta e o móvel
31
determinante da produção, cabendo à circulação garantir a
realização do lucro e a reposição ampliada do capital. O
capitalismo, portanto, está fundado numa relação social, entre
indivíduos desigualmente posicionados face aos meios de
produção e às condições de posta em valor de sua capacidade
de trabalho. (2003, p. 187-188).
E esta receita ensinada e reforçada em muitos países classificados como
em desenvolvimento, e, o Brasil é um deles, tem fundamentado formatos que
não apenas causam injustiças sociais como por exemplo a exclusão social mas
também são necessários para manter o sistema vigente. Sawaia colabora aqui
com algumas construções sobre a exclusão que devem ser consideradas:
... abordar a exclusão social sob a perspectiva éticopsicossociológica para analisá-la como processo complexo,
que não é, em si, subjetivo nem objetivo, individual nem
coletivo, racional nem emocional.
É processo sócio-histórico, que se configura pelos
recalcamentos em todas as esferas da vida social, mas é vivido
como necessidade do eu, como sentimentos, significados e
ações. [...] É processo sutil e dialético, pois só existe em
relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é coisa ou
um estado, é processo que envolve o homem por inteiro e suas
relações com os outros. Não tem uma única forma e não é uma
falha do sistema, devendo ser combatida como algo que
perturba a ordem social, ao contrário, ele é produto do
funcionamento do sistema. (2001, p. 8-9).
Zanin e Gutierrez (2009) e Sawaia (2001) colocam que o pobre não é
movido pela fome e pelo frio ou quaisquer necessidades básicas, mas ao ser
excluído ou ao se perceber excluído, junto com ele são excluídos seus sonhos,
seus desejos, seus anseios, suas necessidades físicas, psicológicas, morais e
éticas, seus ideias e crenças sobre si e sobre o mundo. São excluídos no
tempo e no espaço, no físico e no mental.
Em Janauari a exclusão mais observada além da espacial, foi a ética e
política. Lá os artesãos ainda permanecem sob o julgo do capitalismo voraz
que faz suas imposições de mercado e dá uns poucos ganhos financeiros e
quase nada de ganhos relacionados ao reconhecimento de seu labor e de sua
cultura expressa nesse labor, tanto que nem conseguem caracterizar as peças
produzidas como artesanato de Janauari.
Para tanto as autoras supracitadas nos trazem a economia solidária como
32
uma ferramenta alternativa para a inclusão desse homem em si e no ambiente
que o circunda. Elas conceituam a economia solidária como sendo:
um movimento social que propõe a substituição da matriz
econômica sedimentada num sistema de valores baseados no
lucro, na acumulação e na competição, por uma outra matriz
econômico-produtiva resultante de um sistema de valores
centrados no bem estar social e na cooperação. (2009, p. 155).
Ainda com as autoras (2009), tais movimentos sociais não são
embasados unicamente pela vertente econômica, mas também pela vertente
psicossocial a qual influencia com a subjetividade dos sujeitos aliada à
interdependência destes para aí sim leva-los a tomadas de decisões.
A atuação da psicologia, em particular, foca seu olhar para a
subjetividade singular e coletiva dos associados, bem como
para a formação do processo grupal, necessário para
configurar uma experiência com o objetivo de gerar trabalho e
renda de maneira autogestionária e solidária (2009, p. 121).
Para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), Wagner III e Hollenbeck, (2003)
e Chiavenato (2006) são dois, os modelos de tomada de decisões sendo:
1. Modelo de decisão racional em que os gerentes decidem
buscando a maximização da utilidade de produtos ou serviços.
Sendo assim, os gerentes conseguem vender se produtos ou
serviços pelo maior preço com o mínimo de custo e, é exatamente
por essa ótica que os comerciantes que compram diretamente dos
artesãos veem o artesanato de Janauari.
Segundo os autores, esse modelo leva à competição e
concorrência entre os que participam dessa segmentação de
mercado, contudo, deve ser usada com cautela, visto que preda
tanto quem fornece quanto quem compra, beneficiando apenas o
intermediário que aqui no caso são os comerciantes que
revendem as peças artesanais.
2. Modelo de decisão gerencial em que os gerentes tomam suas
decisões baseados na acomodação da melhor oferta. Por este
modelo, o melhor preço para o produto ou serviço nem sempre é o
33
mais alto, pelo contrário, é aquele preço em que tanto quem oferta
tem sua margem de lucro quanto quem compra sente equidade na
compra na certeza que fez uma aquisição justa.
E para que as relações comerciais de Janauari com Manaus
possam migrar para esta forma de decidir, de acordo com os
autores, ou uma negociação aberta e bem estabelecida entre as
partes deve ocorrer, ou, no pior dos casos, o mercado deverá
desgastar-se com a relação, criar uma ruptura para que se reinicie
o sistema liberto dos vícios relacionais do passado.
A diferença entre esses dois modelos segundo os mesmos autores acima
é que o modelo de decisão racional compreende o que os gerentes devem
fazer e o modelo de decisão gerencial compreende o que os gerentes
realmente fazem. Singer prossegue sua construção abordando a competição
dizendo:
A competição é boa de dois pontos de vista: ela permite a
todos nós consumidores escolher o que mais nos satisfaz pelo
menor preço; e ela faz com que o melhor vença, uma vez que
as empresas que mais vendem são as que mais lucram e mais
crescem, ao passo que as que menos vendem dão prejuízo e
se não conseguirem mais clientes acabarão por fechar. (2002,
p. 07).
Uma nota importante deste autor (2002) é que na atualidade não há
concorrência no mercado capitalista visto que o mesmo é dominado por
oligopólios e que esta concorrência é visível apenas no mercado varejista.
E a partir desta ótica bipolarizada entre os que vendem e os que abrem
falência observamos o crescimento da desigualdade econômica nos mais
diversos ambientes empresariais, que vão desde as empresas familiares até as
grandes multinacionais. Para Araújo e Gelbecke,
A crise econômica envolvendo o petróleo nos anos 1970, e as
discussões sobre os custos socioambientais das dinâmicas de
crescimento, ancoradas na produção industrial e tecnológica,
promoveu discussões em torno de outro modelo de
desenvolvimento, capaz de diminuir as desigualdades entre
territórios e levar em conta a relação entre as dimensões
social, econômica e ambiental. (2008, p. 360).
34
De acordo com os autores acima a competição desleal e sua
consequência: a crise econômica mundial acabou por instalar uma série de
bulas econômicas, ditadas pelos países nomeados desenvolvidos por muitos
analistas aos países nomeados menos desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Tal crise é abordada por Santos (2000) com mais profundidade quando o
autor afirma ser o consumo voraz o verdadeiro fundamentalismo da crise e que
este consumo divide a população mundial em duas: Aqueles que não comem e
aqueles que não dormem por medo das reações daqueles que não comem.
Max-Neef, aponta alguns indicadores que podem elucidar a gênese da
crise na América Latina:
En lo politico, la crisis se ve agudizada por la ineficacia de las
instituciones politicas representativas frente a la accion de las
elites de poder financiero, por la internacionalizacion creciente
de las decisiones politicas y por la falta de control que la
ciudadania tiene sobre las burocracias publicas. Contribuyen,
tambiin, a la configuracion de un universe politico carente de
fundamento etico, la tecnificacion del control de la vida social,
la carrera armamentista y la falta de una cultura democratica
arraigada en las sociedades latinoamericanas. En lo social, la
creciente fragmentacion de identidades socioculturales, la falta
de integracion y comunicacion entre movimentos sociales, la
creciente exclusion social y politica y el empobrecimiento de
grandes masas, han hecho inmanejables los conflictos en el
seno de las sociedades, a la vez que imposibilitan las
respuestas constructivas a tales conflictos. En lo economico, el
sistema de dominacion sufre actualmente cambios profundos,
donde inciden de manera sustancial la mundializacion de la
economia, el auge del capital financiero con su enorme poder
concentrador, la crisis del Estado de Bienestar, la creciente
participacion del complejo militar en la vida economica de los
paises, y los multiples efectos de las sucesivas oleadas
tecnologicas en los patrones de produccion y consumo. (1986,
p.09).
O primordial na fala de Santos é perceber que os países denominados
desenvolvidos estão preocupados apenas em evitar que a crise econômica imposta por eles aos países denominados menos desenvolvidos ou em
desenvolvimento - não chegue em suas fronteiras.
Ao abrir espaço para tal discussão em fóruns mundiais, por exemplo, de
quais medidas econômicas seriam mais eficazes aos países em crise, não
haveria, portanto, uma ação de solidariedade, mas uma ação baseada em um
olhar unilateral o qual só vê as condições econômicas dos primeiros países.
35
Para Singer,
A solidariedade na economia só pode se realizar se ela for
organizada igualitariamente pelos que se associam para
produzir, comerciar, consumir ou poupar. A chave dessa
proposta é a associação entre iguais em vez do contrato entre
desiguais. Na cooperativa de produção, protótipo de empresa
solidária, todos os sócios têm a mesma parcela do capital e,
por decorrência, o mesmo direito de voto em todas as
decisões. [...] Ninguém manda em ninguém. E não há
competição entre os sócios: se a cooperativa progredir,
acumular capital, todos ganham por igual. (2002, p.09).
Esta relação de mutualidade entre os sócios na empresa solidária é
chamada por interdependência para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010),
Wagner III e Hollenbeck, (2003) e Chiavenato (2006). De acordo com estes
autores a interdependência parte do pressuposto que ambos dependem
mutuamente.
Comparemos então dois modelos de interdependência sendo o primeiro
baseado no que já existe no capitalismo e o segundo um modelo baseado na
economia solidária:
O Modelo Agrupado como adequação teórica a uma empresa única e
exclusivamente capitalista, em que há geração de desigualdades e iniquidades
sociais nas relações. Neste modelo de interdependência é possível observar a
presença de um líder ao qual os funcionários prestam subordinação e
conformidade diante das decisões tomadas.
O Modelo Inclusivo como adequação teórica a uma empresa em que
todos dependem de todos em suas atividades diárias, todos compartilham de
angústias, acertos e desacertos organizacionais.
Não há a presença evidente de um líder, pois de acordo com os autores
acima, não há essa necessidade já que todos assumem a responsabilidade de
levar a frente às atividades.
Para visualizarmos melhor, na figura abaixo é possível observarmos como
seria a interdependência agrupada e a inclusiva:
36
Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), Wagner III e Hollenbeck, (2003) e Chiavenato (2006),
adaptado pela pesquisadora.
Em um agrupamento inclusivo, nomeado como solidário por Baró (1989,
p. 15) consiste: “El hecho de que todo grupo canalice unas necesidades o
intereses no quiere decir que cada grupo responda a las necesidades o
intereses de aquellas personas que lo componen.” Para tanto, cabe ao grupo a
decisão da interdependência que está mais de acordo com suas necessidades.
Baró apud Zanin e Gutierrez afirmam que:
a práxis do grupo está relacionada aos condicionamentos da
história e às condições da realidade social no qual este se
insere. A organização do grupo é delimitada pela definição
clara e objetiva de pessoas para realizar as funções e as
tarefas do trabalho grupal, sendo este fator fundamental para a
sua consolidação ou não. (2009, p. 123).
De acordo com Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), Wagner III e
Hollenbeck, (2003), Chiavenato (2006) e Baró (1989) o poder e a conformidade
ao poder surge nos agrupamentos onde a necessidade grupal ora seja de um
líder ora seja de liderados.
Para esses autores só há liderança no momento em que há a
necessidade de um líder e este só exercerá poder na medida em que o grupo
assim o permitir. Desta forma, o fenômeno do poder está condicionado ao
fenômeno da liderança e este por sua vez condicionado ao fenômeno da
formação grupal.
37
Vejamos a liderança autoritária, por exemplo, onde um grupo que se
apresenta conformado em aceitar essa modalidade, afirmam os autores
supracitados, não necessariamente é considerado um grupo que vive na
opressão posto que mesmo em uma liderança autoritária há ganhos para
ambas as partes.
No momento em que apenas uma das partes se beneficia – e daí se faz
presente a opressão – a iniquidade se instala no sistema e este se desfaz. Mas
se mesmo em uma liderança autoritária, o líder manda e os liderados
obedecem sem questionar, ou porque não conhecem a possibilidade de
reivindicar seus direitos ou porque não se sentem tratados com injustiça, a
liderança permanece e o sistema funciona naturalmente.
Os autores concluem que só há liderança se houver liderados que a
aceitem e se conformem ao estilo de comando vigente.
Os benefícios recebidos por um determinado líder ou grupo líder
conforme Baró apud Zanin e Gutierrez “aparecem nas suas relações concretas
com outros grupos e com a sociedade e o seu fortalecimento está diretamente
relacionado à sua capacidade de dispor de recursos materiais, culturais e
humanos”. (2009, p.123).
As autoras afirmam não ser fácil “construir a organização autogestionária
de um grupo, pois os trabalhadores trazem consigo, internalizado, o modelo de
produção tradicional, do capitalismo” (2009, p. 124).
E como já foi mencionado, essas internalizações muitas vezes estão
enraizadas de tal forma que se passam muitos anos até que uma mudança
significativa seja percebida.
Só que para elas a economia solidária quebra este paradigma, pois todos
ganham igualitariamente pelo trabalho realizado e assim deixam de ser
subalternos para ser sócios.
Com esta mudança de percepção, o trabalhador não ganha apenas sua
independência financeira, mas sua autoestima cresce, seu autoconceito de
torna positivo, sua forma de ver o mundo ganha um vislumbre de que os
sonhos são possíveis e de que há saída para aqueles que padecem com a
exclusão e opressão.
Para Sawaia, “as mudanças dos nexos têm origem no social e no coletivo,
vividos como intersubjetividade e medidas pelos significados sociais”. (2001, p.
38
12).
Desta forma, as mudanças de uma economia puramente financeira para
uma economia solidária, acontecerão na medida em que estas mudanças se
deem do indivíduo para o grupo, do grupo para a sociedade e na medida em
que todo o sistema se retroalimente iniciando novamente este ciclo.
A atuação da psicologia no processo de incubação, em
conjunto com as demais áreas, objetiva diminuir o sofrimento
ético-político dos trabalhadores mediante a geração de trabalho
e renda, com dignidade e solidariedade, potencializando-os
para a conquista da cidadania. (2009, p. 122).
Sendo assim a intersubjetividade é característica marcante no vivenciar
as comunidades e suas rotinas, as ciências devem trabalhar interdisciplinares
para conseguir abarcar o mundo fenomênico que essas rotinas exprimem nas
comunidades, e entender que tudo o que for feito não é para a comunidade,
mas feito com a comunidade.
De acordo com Sawaia,
Nenhuma ação é desencadeada sem uma base emocional.
Agir não é apenas fixar um objetivo racional. É colocar em
funcionamento um poder de imaginação. Cidadania é
consciência dos direitos iguais, mas esta consciência não se
compõe apenas do conhecimento da legislação e do acesso à
justiça. Ela exige o sentir-se igual aos outros, com os mesmos
direitos iguais. Há uma necessidade subjetiva para suscitar a
adesão, a mobilização, tanto quanto condições para agir em
defesa destes direitos (1994, p. 152).
É neste tom que o turismo lança mão de outras áreas do conhecimento e
ao beber em outras ciências se torna uma alternativa para as localidades
rurais, ribeirinhas e porque não as urbanas também, no sentido de contribuir
para a conquista da cidadania que as autoras supracitadas colocam como
consequência da união comunidade/ciência.
Ainda mais na atualidade onde a crise não é só financeira como afirma
Max-Neef (1986), mas também social, humana e ético-política como afirma
Baró (1989) e Sawaia (2001).
Esta abarca vários aspectos importantes do homem, “abrange múltiplas
afecções do corpo e da alma que mutilam a vida de diferentes formas” (p. 121).
39
Araújo e Gelbecke afirmam que:
O enfoque de Turismo Comunitário, [...], tem como fundamento
o reconhecimento da crise socioambiental contemporânea,
implicando urgência da reflexão sobre os estilos de vida
vigentes e sua relação com a base de recursos naturais (2008,
p.362).
Compreender a mobilidade e abrangência da crise é de fundamental
importância, pois quando se une a economia ao turismo sob essa ótica,
percebe-se o quanto o quanto há de interligação entre todos os envolvidos no
processo do TBC.
Para os autores a pouco citados,
É justamente no setor terciário, onde se insere a atividade
turística, que se revela o potencial do Turismo Comunitário
para a geração de emprego e renda, por se caracterizar como
uma proposta que visa integrar outros setores produtivos –
preferencialmente os associados às formas solidárias e éticas
de economia – e estar ajustado às necessidades
socioambientais de curto e longo prazo. (ARAÚJO e
GELBECKE, 2008, p. 363).
Na comunidade de Janauari, é observável que apesar de haver certa
contenção entre o que é Manaus e o que é Janauari e de como os comunitários
são conscientes entre o que é deles e o que é da capital, mesmo assim, sofrem
com as imposições dos revendedores de suas peças.
Tais imposições se inserem no campo da produtividade, acabamento e
precificação. Ao refletirmos sobre tais imposições percebemos o quanto o
enfoque é majoritariamente econômico e minoritariamente humano.
O que interessa mais uma vez afirmamos é o bem estar econômico das
empresas que comercializam o artesanato e não as pessoas que o fabricam.
Voltar o desenvolvimento para a escala humana e o turismo
para benefício local significa adotar políticas que possam
ocasionar trabalho e ocupação para todos, tanto quanto atuar
no campo da proteção social, e de programas emergenciais
quando necessários; mas requer, sobretudo, o homem no
centro do poder, de forma que possa promover a sua
realização. (CORIOLANO, 2003, p. 30).
40
Tomar o poder pra si significa entre outras palavras, tornar-se
protagonista de seu próprio destino, mesmo que compartilhado a outros, mas
preservar sua individualidade e poder escolher das suas decisões.
Não significa aqui que todas as decisões serão racionais e acertadas,
significa dizer aqui que as decisões tomadas, sejam racionais, emocionais,
intuitivas ou pensadas partem de uma mente consciente e cognoscente, que
tanto sabe o que faz, como pensa sobre o que faz.
Lima, Ayres e Bartholo (2009, p.07):
Mais uma vez, pode-se reconhecer o contexto de
desenvolvimento
do
turismo
como
um
ambiente
multidimensional em que o empoderamento de uma
comunidade é caracterizado pela convergência de vários
fatores: atuação de agentes/especialistas externos ao contexto
local; interesse da comunidade para aprender e decidir sobre
suas escolhas; capacidade de implementação das decisões
comunitárias; responsabilização pelos resultados positivos ou
não das opções feitas.
Para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), é válido ressaltar que tornar-se
responsável pelos resultados positivos ou não como cita o autor, torna o
comunitário mais atento às suas atitudes e às consequências dessas atitudes
diante dos outros comunitários.
Frente a esta questão, a equidade no sistema ocorre quando as relações
sociais são percebidas como justas tanto para quem exerce a ação quanto
para quem recebe os efeitos desta ação.
Na divisão do trabalho por baixo, o que se produz é uma
solidariedade criada de dentro e dependente de vetores
horizontais cimentados no território e na cultura locais. Aqui
são as relações de proximidade que avultam, este é o domínio
da flexibilidade tropical com a adaptabilidade extrema dos
atores, uma adaptabilidade endógena. A cada movimento
novo, há um novo reequilíbrio em favor da sociedade local e
regulado por ela. (SANTOS, 2000, p.71)
Em Janauari é observável tanto uma tradicionalidade na confecção de
certas peças como as carrancas que são máscaras tribais feitas somente em
Janauari. E observamos certa adaptabilidade já que na medida em que o
mercado consumidor muda e pede peças diferenciadas com trançados e
41
materiais diferenciados, os artesãos se moldam buscando atender a essa
necessidade.
Fica então sob a responsabilidade da comunidade passar aos artesãos
que iniciam seu labor, as tradições de se confeccionar um artesanato típico e
regionalizado.
2.3 A Psicologia Comunitária: Conceitos e Principais Aspectos
Durante toda a trajetória histórica percorrida pela psicologia, em que
várias correntes filosóficas, sociais, e de outras ciências auxiliaram-na em sua
consolidação como ciência, surgiram em concomitância a este paralelo, novas
áreas de atuação e aplicabilidade dos conhecimentos psicológicos como forma
de promover no ser humano o autoconhecimento e sua melhor adaptação à
sociedade.
Ainda nos primórdios, as grandes escolas psicológicas marcaram a
entrada da psicologia nos meios mais elitistas da sociedade, já que eram os
que mais procuravam e podiam arcar com o ônus de tratamentos psiquiátricos
e psicológicos prolongados e de maior severidade ao paciente.
Contudo, sabe-se que a afecção mental não se relaciona à classe social,
ou qualquer outra designação de raça, credo, intelecto ou ideologia. Para tanto,
dentre as várias áreas de atuação, uma das mais populares e aplicadas nos
serviços públicos constitui-se de uma psicologia que tem como foco a
comunidade.
No Brasil, a trajetória do saber-fazer da psicologia em relação à
comunidade iniciou-se em meados dos anos 60 e sofreu
transformações teóricas, epistemológicas e metodológicas
importantes neste espaço de tempo relativamente curto, o que
resultou na diversidade que hoje pode ser encontrada com
respeito
ao
desenvolvimento
dos
trabalhos
dos/as
psicólogos/as nas comunidades. (STREY, 2002, p. 241).
Tal área da psicologia vem em resposta ao grande número de populares
que viviam em “condições concretas, extremamente difíceis, que produziam tal
repercussão que tornaram esses intelectuais mais sensíveis às problemáticas
presentes nesses segmentos sociais” (CAMPOS, 1996, p. 64).
42
Bock cita que:
...as pessoas, normalmente, têm um domínio, mesmo que
pequeno e superficial, do conhecimento ..., o que lhes permite
explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um
ponto de vista... Existe um domínio da vida que pode ser
entendido como vida por excelência: é a vida do cotidiano. É no
cotidiano que tudo flui, que as coisas acontecem, que nos
sentimos vivos, que sentimos a realidade. (1999, p. 19)
Os psicólogos deixam seus consultórios e passam a percorrer novos
espaços, consolidando práticas diferentes e invertendo o processo de busca e
procura do serviço terapêutico. Sendo assim, ele se torna um agente de
mudança que advoga em prol da deselitização da psicologia e também do
maior envolvimento de outras áreas da rede social e política de apoio aos mais
necessitados (CAMPOS, 1996).
Conceitua-se psicologia social então como sendo um ramo da psicologia
que une conceitos da psicologia e da sociologia encaminhando seus estudos
dentro de um enfoque grupal, observando, descrevendo, intervindo e
adaptando o comportamento grupal à sociedade. (ROBBINS, THIMOTHY &
SOBRAL, 2010 e WAGNER III, 2006).
Além dessas temáticas de estudo, a psicologia social atua intimamente
ligada à psicologia comunitária que tem objetivos focados nas comunidades
como sua formação, desenvolvimento, estudo de grupos marginais, excluídos
muitas vezes da sociedade ou por estigma ou por geografia, inclusão ou reinclusão social, etc.
Conforme Campos (op. Cit.) a psicologia comunitária se diferencia em
muito de qualquer ação assistencialista, pois promove o trabalho com grupos
auxiliando e colaborando para uma formação crítica da consciência e de uma
identidade social.
Gomes (1999) conceitua a prática do assistencialismo como identificação
da Psicologia com obras caritativas e assistências, que alimentam a
dependência da comunidade.
Ao fim deste processo, que pode levar décadas já que é atemporal, e
somente se houver desenvolvimento comunitário reconhecido e perceptível,
43
podemos dizer que a psicologia comunitária orienta os comunitários ao
desenvolvimento moral e ético.
Francescato apud Fernandes afirma ser:
... a comunidade é aquele tipo de ambiente, de campo
psicológico e social no interno do qual somos capazes de
desenvolver um sentido de pertença, uma vivência de mútua
partilha, uma possibilidade de relação com outras pessoas.
(2000, p. 226)
Contudo, o que faz as pessoas se relacionarem em comunidade? O
princípio de que o homem apresenta-se como um ser social e gregário inicia a
resposta ao questionamento. Para Sennet, (2005) a vontade e necessidade de
pertencer um grupo comunal ou comunidade, expressa mais que o simples
pertencer, mais ao identificar-se com.
Desta forma para este autor, a significação de comunidade nos remete ou
conceito de auto-proteção, lar, porto seguro, onde os indivíduos se sentem em
casa.
É neste sentido que as comunidades se formam, se agregam e para que
permaneçam unidas muitas vezes devem tolerar as diferenças entre os
indivíduos sejam estas no campo das opiniões ou no modo de viver.
A convivência nasce da construção de uma relação. (SENNET, 2005). E
ainda Aldelson apud Fernandes caracteriza cinco aspectos inter-relacionados
das comunidades que são:
1. A comunidade como grupo em que há uma intensa e
íntima partilha de ideias e de sentimentos;
2. A comunidade como um lugar no tempo e no espaço;
3. A comunidade como pertença cultural e destino partilhado;
4. A comunidade como «sistema de sistemas»;
5. A comunidade como civitas, com os respectivos direitos e
deveres dos cidadãos. (2000, p. 227).
Para tanto, seguindo a linha de pensamento dos autores supracitados,
essa intensa e íntima partilha de ideias e de sentimentos, juntamente com sua
localização
e
caminhada
ao
longo
do
tempo,
contribuem
para
a
interdependência entre os comunitários.
Após essa vinculação a constituição da cultura que de acordo com
44
Robbins, Thimothy & Sobral, (2010) e Wagner III e Hollenbeck, (2006) apontam
que além de fornecer identidade a essa comunidade e aos seus comunitários,
torna possível a sistematização de regras comunais representadas inicialmente
por um código de conduta não escrito, mas que é passado de geração a
geração e formalmente estabelecido como as regras morais da comunidade, ou
ainda suas leis escritas e estabelecidas como aplicáveis a todos os
comunitários.
Essas regras que são pertencentes à cultura - citada pelos mesmos
autores como dominante - são reforçadas a cada dia nas rotinas comunitárias
laborais.
Mesmo sendo em trabalhos e ações simples, sem uma linha ou cadeia de
produção nos moldes do Polo Industrial de Manaus, por exemplo, essas regras
pertencentes à cultura levam aos artesãos a criação e manutenção de seus
hábitos laborais.
A linha de pensamento que os autores nos conduzem, mostram que não
é a maior cultura (em termos de números de habitantes) que se perpetua, mas
aquela que apresenta mais características enraizadas na história do povo.
Sendo assim, a cultura de Janauari está para aquele povo como a cultura
dominante e os comerciantes da capital como uma cultura paralela. Tanto que
ao se sentirem cansados, por exemplo, os artesãos param de trabalhar e se
dedicam às suas rotinas pessoais enquanto moradores da vila.
E de acordo com o líder do artesanato esse comportamento é mal visto
pelos comerciantes da capital. Estes últimos se comportam feito os gerentes
citados por Wagner III e Hollenbeck, (2003) como sofrendo da falácia do
espelho.
Nesta forma ilustrativa de explicar o fenômeno, os autores citam que os
gerentes se comportam de uma forma específica e cobram de seus
subordinados comportamentos em igual performance.
Contudo quando os autores citam a palavra falácia é exatamente
abordando a frustração dos gerentes ao se depararem com a diversidade da
mão de obra trabalhadora e com ela uma multiplicidade de comportamentos e
formas de decidir sobre os mais variados acontecimentos organizacionais.
Assim, para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010) os seguintes aspectos
compõe a diversidade da mão de obra: Gênero; Portadores de Deficiência;
45
Origem; Idade; Raça e Etnia; Religião; Estabilidade no Emprego e Orientação
Sexual.
Para estes autores são muitos os desafios que os gestores enfrentam
hoje com o consumo voraz, e, essa urgência em produzir acaba por ser
repassada àqueles que fornecem insumos, matérias primas e produtos em
geral.
No caso de Janauari, os comerciantes para quem os artesãos vendem,
estipulam prazos curtos para a produção e exigem melhoramentos na
qualidade das peças. Todavia acabam por serem vitimados pela falácia do
espelho onde ao esbarrar na diversidade da mão de obra e por traz dela a
cultura desse povo, não conseguem impor suas exigências mercadológicas.
Robbins, Thimothy & Sobral, acreditam ser a diversidade um aspecto
positivo da dinâmica organizacional se bem administrada, contudo pode se
tornar negativo se o empreendedor, líder, gerente ou qualquer que seja a
nomenclatura de hierarquia não souber manejar essa diversidade a seu favor e
a favor dos objetivos organizacionais:
A maior parte das organizações contemporâneas está
organizada em torno de grupos de trabalho. [...] Dessa forma,
faz sentido perguntar: a diversidade ajuda ou atrapalha o
desempenho de um grupo? A resposta é: ajuda e atrapalha.
Alguns tipos de diversidade podem prejudicar o desempenho
do grupo, já outros potenciam esse desempenho. [...]
Independentemente da composição de um grupo, as diferenças
podem ser alavancadas para se obter um desempenho
superior. (2010, p. 54).
Ainda citam que dependendo do líder e, se este conseguir captar as
características de cada membro, poderá elevar o potencial de produção,
cidadania com o trabalho, satisfação e criatividade.
Em Janauari a diversidade é naturalmente comum. Observamos a
diversidade tanto nas pessoas, quanto em seu artesanato. São muitas as
técnicas utilizadas em algumas peças. Claro que existem as peças tradicionais
como, por exemplo, as carrancas e as flautas, mas brincos, colares, arranjos
de cabelo são trançados muitas vezes apenas substituindo o que era pra ser
uma peça de plástico ou vidro ou ainda cristal pelas sementes, espinhos,
madeiras, penas, etc.
46
Esta expressão da subjetividade individual de cada artesão associada a
intersubjetividade entre eles e com o além comunidade faz da diversidade um
ponto positivo ainda inexplorado em sua totalidade.
Fernandes cita que:
o termo «comunidade» em psicologia comunitária não se refere
ao estudo da comunidade enquanto entidade específica, mas à
prática de estudar as relações entre o indivíduo e as suas
instituições sociais na comunidade. (2000, p. 228)
E também neste sentido que turistas buscam o turismo comunitário
justamente por ser uma prática que estimula o contato com o outro e desse
contato uma relação de afetividade e aprendizado de quem é o outro e de
quem sou eu. A afetividade gera saúde mental visto que resgata as
características de pessoa humana que no correr das grandes cidades é perdido
ou esquecido por muitos e o aprendizado leva ao respeito pelo outro, a
conservação do patrimônio cultural e ambiental da localidade.
De acordo com Lancman e Uchida citando Sennet “a instabilidade criada
pela nova lógica de acumulação do capital – chamada por ele de capital
“impaciente”- vem corroendo o caráter das pessoas” (2003, p.81).
Esta relação marca interações sociais que podem se ocorrer de várias
formas: Ora exaltando a união ora objetivando o conflito, de certo, que só se
unem ou se conflitam pessoa estando em dois ou mais. Portanto a união e o
conflito pressupõe coletividade.
De acordo com (Bleger apud Maclver e Page, 1992, p.85) “onde quer que
os membros de um grupo pequeno ou grande vivam juntos de tal forma que
todos participam... das condições básicas da vida em comum, aí existe
comunidade”.
O turismo de base comunitária propicia essa vivência da vida em comum,
das particularidades pertencentes a um destino turístico ao qual o visitante não
verá apenas o seu esplendor, mas o experimentará absorvendo-o por todos os
seus sentidos.
E esse é um diferencial interessante desta modalidade de turismo, pois
insere o visitante na história da localidade como um ator pertencente a ela
mesmo que por um breve pernoite.
47
Gomes (1999) descreve as relações de reciprocidade entre as pessoas e
a comunidade da seguinte forma:
As comunidades oferecem:
• Senso de pertencimento
• Educação da cultura popular
• Segurança • Ambiente familiar
• Reconhecimento comunitário
• Participação nas decisões comunitárias
As pessoas oferecem contribuições como:
• Interesses
• Sentimentos
• Crenças
• Atitudes
• Agregação de valores morais
• Utilização de conhecimentos populares e de senso comum
Fonte: Gomes, 1999. Adaptado pela pesquisadora.
Através do fluxograma acima, nos é possível observar a função protetiva
da comunidade à pessoa no que lhe diz respeito a sua integridade psicossocial.
Em função desta proteção e identidade estabelecidas pela comunidade uma
vez que reconhece na pessoa semelhança a si própria, esta última apreende o
significado de família, de regras sociais e principalmente de seu papel
enquanto pessoa pertencente a um grupo.
Baró conceitua grupo como:
Grupo es uma familia y el conjunto de nuestros amigos, grupo
son los alumnos de una escuela , los bañistas em una playa,
los soldados de um batallón y los membros de una
determinada clase social. Todas estas entidades humanas
tienen en común el que involucran a varias personas; pero,
fuera de la pluralidade de individuos, es difícil encontrar algún
elemento común a todas ellas. Grupo es, por tanto, un término
muy abstracto que remite a realidades diferentes. (1989 p. 198)
Este autor ainda coloca seis critérios para se definir um grupo que são: A
percepção dos membros; Uma motivação compatível entre os membros; Metas
comuns; Organização grupal; Interdependência e Interação. Estes critérios são
aplicáveis em qualquer tipo de grupo inclusive nos organizacionais.
Spector (2002) conceitua grupo de uma forma mais específica ao
contexto organizacional. Diz ser o conceito de grupo de trabalho a união de
pessoas com um objetivo ou com objetivos em comum que compartilham
48
atividades de trabalho, responsabilidades e todo o ônus que o trabalho trás
consigo.
Por outro lado e até em resposta a interdependência iniciada a partir da
interação dos atores sociais, a pessoa retribui a comunidade com a agregação
de valores, interesses pelos pares, compactuando suas crenças, atitudes,
discernimentos e julgamentos das mais variadas situações que ocorrem em
seu cerne.
Exatamente nessa retribuição, que a pessoa inserida no grupo inicia uma
formação de senso comum para explicar aos seus pares tudo o que ocorre em
termos de fenômenos e experiências que de outra forma não poderiam ser
explicados.
Bleger (1992, p.83) define a comunidade como “um conjunto de pessoas
que vivem juntas, no mesmo lugar e entre as quais há estabelecidos certos
nexos, certas funções em comum ou certa organização”.
E este construto nos faz observar esta certa organização em Janauari
quando a comunidade se faz valer de uma associação dos comunitários
residentes e de outra associação focada apenas nos artesãos da comunidade.
São pessoas que possuem os mais variados motivos de se aglomerar em
comunidade. Seja por proximidade geográfica, êxodo, imigração ou laços
parentais, as pessoas que se reúnem em comunidade, devem se permitir
vivenciar o processo de coletivismo com muito mais proximidade e intensidade.
Em concordância com Bleger,
Fica claro, também, que as relações podem ser diferentes, até
mesmo contraditórias, dependendo do momento. É importante,
então, ver quais são as que mais se manifestam; a intensidade
com que se mostram; sua abrangência e generalização. Tornase evidente, ainda, que é extremamente difícil, senão
impossível, quantificar essas relações. (CAMPOS 1996, p.84)
São relações construídas por vidas inteiras sistemicamente influenciando
e sendo influenciadas em um aglomerado de momentos que edificam a cultura
e as tradições dos comunitários.
2.4 A Formação da Identidade Social e a Psicodinâmica do Trabalho
49
Para Del Prette (2003), é no grupo que os indivíduos aprendem a
primeiras noções de crenças, mobilidade ou estratificação, autoestima e
autoconceito. Também é no grupo que estes indivíduos modelam os
comportamentos daqueles considerados pelo grupo como comportamentos
fora de seus padrões comportamentais aceitáveis.
“O grupo é, também, a base para a formação de sua identidade social,
juntamente com as crenças e comportamentos a ela associados.” (2003, p.
125).
Baró afirma que:
Un grupo es, en primer lugar, una estructura social. El grupo es
una realidad total, un conjunto que no puede ser reducido a la
suma de sus constitutivos. [...] La totalidad del grupo supone
unos vínculos entre los indivíduos, una relación de
interdependencia que es la que establece el carácter de
estructura y hace de las personas membros. (1989, 206).
Assim sendo, este autor vai além e qualifica o grupo não como um
aglomerado
de
pessoas,
mas
como
interações
de
subjetividades
dinamicamente plásticas que sistemicamente se moldam às necessidades uns
dos outros.
Para este autor o que une pessoas em um grupo é a afetividade e as
semelhanças de objetivos, ideais, crenças, anseios, etc.
Apenas a reunião de uma família, afirma o mesmo não constitui
plenamente o que é uma família, pois, há além do físico o metafísico, em
outras palavras, o que representa esse conjunto para cada membro e para os
de fora dele.
Exemplifica ainda que um batalhão de soldados não é apenas um grupo
de pessoas, mas toda a significação do que ser soldado, estar em um batalhão
e o que este representa à sociedade que protege.
Tanto a família quanto os soldados, idealizam e têm suas representações
mentais de seu papel na sociedade a partir do que representa sua colocação
social. Desta forma, os indivíduos formam seu autoconceito de acordo com o
que pensam de si somado ao que a sociedade diz ser aceitável àquele papel.
A formação da identidade social está relacionada a processos
cognitivos de busca de compreensão do ambiente. Ao
organizar seu ambiente, o indivíduo formula um esquema
50
classificatório, ou seja, separa objetos ou pessoas com base
em uma ou mais características comuns. (2003, p. 125).
No processo de tornar-se um ser concreto, maduro e plenamente
desenvolvido, o ser humano passa por diversas mudanças e vivências em sua
vida que moldam sua forma de pensar e de se comportar diante das situações
diárias.
Para abordarmos a psicodinâmica laboral, primeiramente devemos
introduzir o assunto com algumas considerações primárias à essa construção.
Mesmo que apenas idealizado na mente de seus progenitores, o homem
se vê divido pelo dilema: ser o que realmente é e ser o que esperam que seja.
De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2000) este dilema é eternalizado em
todos os seus períodos de desenvolvimento biopsicossocial.
Mesmo no útero materno o ser humano já passa por uma associação e
idealização materna e paterna de como será entre suas características físicas e
comportamentais.
Para Lancman e Uchida:
A criança, inicialmente, é susceptível à angústia dos pais,
principalmente aquela com a qual os pais têm dificuldades de
lidar. Ao vivenciá-la passa a senti-la como se fosse sua, pois
nesse momento de sua vida não tem condições de distinguir o
que é seu e o que é dos seus pais. (2003, p. 84)
Na adolescência o indivíduo passa por mais uma crise de seu
desenvolvimento psicossocial que de acordo com Erikson citado por Morgado
nos cabe a preocupação que:
[...] fascinados e absorvidos num mundo de invenções
mecânicas e de poder de compra os pais escapam à
formidável questão do novo significado das gerações num
universo tecnológico. [...] enquanto uma nova ética não
alcançar o progresso, pressentimos o perigo de que os limites
da expansão tecnológica e da afirmação nacional talvez não
sejam determinados por fatos ou considerações éticas
conhecidas ou, em resumo, por uma certeza de identidade
mais por uma caprichosa e despreocupada verificação do
alcance e do limite da supermaquinária que, assim, tomam
lugar que, em grande parte, cabia à consciência humana.
(2001, p. 03)
51
Essa preocupação se dá por ser a família a primeira célula de contato
social a que o indivíduo é exposto e é exatamente da interação com esta
família somada à interação com a sociedade ou com a comunidade que o
indivíduo forma sua identidade própria, a qual podemos observar com mais
clareza na figura que segue:
Fonte da Ilustração 02: Morgado 2001, adaptado pela pesquisadora.
Esta intersecção com o passar das experiências vivenciadas aumenta e
aprofunda-se formando um construto muito maior chamado por Bock et. al.
(1999), Wagner III e Hollenbeck (2006) e Robbins, Thimothy e Sobral (2010) de
personalidade, que compõe todas as características que diferenciam os
indivíduos.
Nela
existem
atributos
referentes
à
constituição,
temperamento,
inteligência, caráter, afetividade, cognição, fisiologia, valores, sentimentos
dentre outros.
Estes atributos primeiramente moldados pela família passam justamente
no período da adolescência por uma reavaliação que vai desde o plano físico
ao qual Aberastury e Knobel (1988) nomeiam de luto pela perda do corpo
infantil e ao processo todo de adolescência normal até o plano psicológico e
social.
É comum de acordo com esses autores (1988), o indivíduo adolescente
agrupar-se com outros de mesma idade, condição social ou ideologia. E ao
fazer essa migração grupal, muitas vezes deixa o seio familiar para aventurarse mundo a fora.
Contudo, ainda com os autores (1988), o adolescente que obteve de seus
pais referenciais de família sólidos e bem estabelecidos, apesar de não estar
52
mais em convívio familiar, não rompe seus laços afetivos, tendo em sua família,
seu porto seguro. A esse aspecto, Lucchiari:
A família é a célula social responsável pela transmissão
da ideologia dominante, dos valores morais, dos pensamentos
e da cultura, o elo intermediário entre o social e o indivíduo e, o
jovem é o resultado dessa relação da família com a sociedade.
(2002, p. 53)
Durante esse processo o indivíduo processa sua identidade mediante a
escolha de quais comportamentos são preferíveis a outros tanto na família
quanto na sociedade.
E a influência recebida pela sociedade pode muitas vezes ocasionar
conflitos relacionais desse indivíduo com suas figuras de autoridade paterna ou
materna.
Paralelo a este desenvolvimento social caminha o desenvolvimento moral
que de acordo com Bataglia, Morais e Lepre: “Os estágios de raciocínio moral,
propostos por Kohlberg, são de raciocínio de justiça e não de emoções ou
ações.” (2010, p. 26).
De acordo ainda com as autoras, Kohlberg dividiu o desenvolvimento
moral em três níveis que são o pré-convencional, o convencional e o pós
convencional. (op. Cit. 2010).
Em concomitância, Papalia, Olds e Fildeman (2000) relatam que os
variados desenvolvimentos ocorrem de forma assimétrica e podem os
indivíduos mesmo em tenra idade apresentar mais desenvolvimento no âmbito
afetivo que no cognitivo ou ao contrário.
Assim como é comum observarmos que mesmo se associando as fases
dos desenvolvimentos em geral a uma idade cronológica, tal associação é
ineficaz visto que existem adultos, por exemplo, com dificuldades afetivas,
cognitivas ou até mesmo idade mental inferior a sua idade cronológica.
Para
tanto,
(op.
Cit.
2000)
é
importante
acrescentar
que
no
desenvolvimento moral ocorre a mesma situação. Convencionou-se que o
estágio pré-convencional é melhor observado em crianças e adolescentes, que
o convencional é melhor visualizado em adultos e o pós-convencional (quando
é visualizado) observamos mais nos idosos.
Ainda existem dois conceitos muito importantes acerca da teoria do
53
desenvolvimento moral que são os conceitos de autonomia e heteronomia.
[...] pensando numa melhor definição de estágio moral, propôs
a existência de subestágios, denominados A e B. Dessa forma,
dentro de um mesmo estágio, podemos distinguir duas formas
de raciocínio: uma com orientação heterônoma, baseada em
regras e na autoridade, representada pelo subestágio A; e
outra com orientação autônoma, baseada em princípios,
justiça, igualdade e reciprocidade, representada pelo
subestágio B. sujeitos que apresentam um raciocínio moral do
subestágio B são, provavelmente, mais comprometidos com a
ação moral daquilo que consideram justo do que os sujeitos do
subestágio. (BATAGLIA, MORAIS e LEPRE, 2010, p. 26).
Desta forma observamos com maior clareza a distribuição das etapas da
teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg no quadro abaixo:
NÍVEL
NOME
1
Pré-convencional
2
Convencional
3
Pós-convencional
SUBESTÁGIOS
1 Punição e obediência
2 Auto-interesse
3 Conformidade às regras sociais
4 Orientação do tipo “bom menino”
5 Contrato Social
6 princípios Éticos Universais
Fonte: (BATAGLIA, MORAIS e LEPRE, 2010, PAPALIA, OLDS E FILDEMAN, 2000)
adaptado pela pesquisadora.
Ao ter seus desenvolvimentos social, afetivo (psicossexual), cognitivo e
moral em estreita consonância o indivíduo terá condições favoráveis para
apresentar
maturidade
laboral.
Este
desenvolvimento
da
maturidade
profissional, de acordo com Super apud Bohoslavsky (2007) pode ser dividido
em cinco estágios que são:
Estágio
CRESCIMENTO
Pode ser subdividido em três
etapas:
a) Fantasia (4 a 10 anos)
b) Interesse (11 a 12 anos)
c) Capacidade (13 a 14 anos).
Características
Escolhas vocacionais fantasiosas.
Identidade e autoconceito formados por
identificação com uma figura-chave.
Predominância de necessidades orgânicas e
afetivas.
Interesses e habilidades surgem em
decorrência dos estímulos e oportunidades.
Tende a ter mais iniciativa e a ter maior
criatividade na medida em que se
desenvolve.
54
EXPLORATÓRIO
Pode ser subdividido em três
Caracteriza-se
pelo
autoexame,
a
etapas:
experimentação de papéis sociais e
a) Tentativa (de 14 aos 17).
ocupacionais.
b) Transição (de 18 aos 21).
c) Experimentação (dos 22 aos
24).
Encontrado
um
campo
ocupacional
ESTABELECIMENTO
adequado o indivíduo busca um lugar
Período: dos 25 aos 44 anos
permanente.
Preocupação em manter o lugar conseguido
MANUTENÇÃO
no mundo do trabalho.
Período: dos 45 aos 64 anos
Acontecem poucas alterações.
DECLÍNIO
As capacidades físicas começam a declinar e
a) Desaceleração (dos 65 aos o rendimento também.
70 anos);
Novos papéis ou funções podem ser
b) Aposentadoria (a partir dos
desenvolvidos.
70 anos).
É delicado para a saúde mental da pessoa.
Esta
tabela
nos
é
didática
principalmente
por
demonstrar
as
características mais evidentes de cada estágio do desenvolvimento laboral e
nos faz refletir sobre a forma como o artesanato foi sendo ensinado
estabelecendo durante os anos na comunidade e se tornando atividade
econômica principal e como poderá se estabelecer como a base para um
turismo comunitário. Conforme Balbinotti,
Super (1969, 1990) propôs uma concepção de escolha
profissional com base em conceitos (maturidade, interesses,
valores, etc.) que indicam um processo de desenvolvimento e
ainda incluiu outros modelos que, segundo ele próprio e seus
colaboradores (Super, Sverko & Super, 1995; Super &
cols.,1996), explicariam melhor a complexidade do
comportamento vocacional de um indivíduo. Seriam, então, ao
todo, quatro modelos que, juntos, teriam a árdua tarefa de
desvendar, ao menos em parte, este comportamento. São eles:
o modelo de perspectiva diferencial, o modelo socioeconômico
e ambiental, o modelo desenvolvimentista, e, finalmente, o
modelo fenomenológico. (2003, p.463).
Por este modelo, Balbinotti refere quatro aspectos constituintes do
comportamento vocacional dos indivíduos. São eles:
1. O modelo de perspectiva diferencial, que se refere “a assegurar o
homem certo no lugar certo a partir de uma análise das
55
características do indivíduo e da profissão considerada”. (2003,
p.462).
2. O modelo socioeconômico tecnológico e ambiental,
segundo modelo diz respeito à influência dos fatores
socioeconômicos, tecnológicos e ambientais (tais como a
família, a escola, a comunidade, o grupo de pares, a
sociedade, a economia, o mercado de trabalho, as políticas
sociais
e
as
experiências
profissionais)
sobre
o
desenvolvimento de carreira. (idem, p. 462)
3. O modelo desenvolvimentista propõe que o desenvolvimento
vocacional,
é um processo contínuo desde a infância até a velhice. O
desenvolvimento é, geralmente, ordenado e previsível, assim
como dinâmico no sentido de que ele resulta da interação entre
as características do indivíduo e as demandas da cultura, o que
torna claro também o fato de tratar-se de um processo
psicossocial. (idem p. 462)
4. O modelo fenomenológico,
que analisa os conjuntos de traços da pessoa diretamente
ligados ao seu desenvolvimento profissional, sendo esses,
seus interesses, seus valores e suas aptidões – tem um papel
organizacional maior como guia do comportamento do
indivíduo
através
dos
estados
e
sub-estados
do
desenvolvimento vocacional. (idem, p. 463)
Por exemplo, segundo Super apud Balbinotti, no modelo sócio econômico
e ambiental,
...a família contribui, no desenvolvimento das
necessidades e dos valores, fornecendo à criança, ou ao
adolescente, a possibilidade de adquirir informações e
desenvolver habilidades que poderão ter uma importante
influência no momento da tomada de decisão profissional por
parte dos jovens.
A forma como esse jovem vai entender o significado de seu trabalho,
como tomará decisões ou como resolverá seus conflitos formará uma dinâmica
mental e comportamental aqui sugerida como psicodinâmica laboral ou
também psicodinâmica do trabalho.
56
Resumindo as teorias acima descritas, observemos a ilustração abaixo no
sentido de percebermos como os desenvolvimentos se dão em dissonância
etária, e assim é possível ter um indivíduo que cognitivamente é maduro,
contudo moralmente ainda não, ou ainda um indivíduo maduro do ponto de
vista afetivo, mas, ainda se desenvolvendo do ponto de vista social:
Ilustração 3: Aberastury e Knobel (1988), Papalia, Olds e Fildeman (2000), Morgado
(2001), Bataglia, Bohoslavsky (2007) e
Morais e Lepre (2010). Adaptado pela
pesquisadora.
3 OS DISCURSOS: UMA ANÁLISE DOS DADOS APRESENTADOS
3.1 O Município de Iranduba e o Distrito de Janauari
No Amazonas, temos vários municípios considerados pelo IBGE como
polos turísticos. Isso é bem visível na ilustração abaixo. Todos localizados na
calha do Rio Negro demonstram vocações turísticas das mais variadas.
Dentre estes polos, iremos localizar em vermelho o município do Iranduba
e em azul escuro o município de Manaus:
57
Fonte da Ilustração 04: NORONHA 2008, p. 97 e IBGE cidades, 2011. Adaptado pela
pesquisadora.
Junto com o município de Rio Preto da Eva, Iranduba participa da rede de
Turismo Rural na Agricultura Familiar (TRAF), um programa coordenado pelo
Governo Federal, por meio dos ministérios do Turismo e do Desenvolvimento
Agrário.
Conforme o Relatório de Análise de Contexto do Município de Iranduba
(PMI, 2011), o município dispõe de representatividade dos poderes executivo,
legislativo e judiciário, onde o chefe do executivo é o detentor das decisões,
operacionalizando a máquina administrativa sendo a estrutura da prefeitura
composta das seguintes secretarias municipais:
•
Gabinete do Prefeito – GAB/PMI,
•
Secretaria Municipal de Administração e Planejamento – SEMAP
•
Secretaria Municipal de Finanças – SEMFIN
•
Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMA
•
Secretaria Municipal de Cultura – SEMUC
•
Secretaria Municipal de Educação – SEMEI
•
Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento – SEMPA
•
Secretaria Municipal de Infraestrutura – SEMIMF
•
Secretaria Municipal de Assistência Social – SEMAS
58
•
Secretaria Municipal de Saúde – SEMSI e
•
Secretaria Municipal de Turismo – SEMTUR
A representatividade do poder federal está localizada em uma escola do
SESI de educação infantil, a representatividade do poder judiciário existente
realiza suas atividades no Fórum de Justiça.
O município conta ainda, de acordo com o relatório (PMI, 2011), com as
instâncias de discussão e tomada de decisão sendo estas representadas por
conselhos sendo eles:
•
Conselhos Tutelares
•
Conselho Municipal de Saúde
•
Conselho Municipal de Defesa Civil
•
Conselho Municipal de Habitação Popular
•
Conselho Municipal de Merenda Escolar
•
Conselho Municipal de dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes
•
Comissão municipal
O município tem duas comunidades que são as principais em produção
de artesanato no Estado: as comunidades dos lagos Janauari e Acajatuba.
A Comunidade de Janauari, de acordo com o líder comunitário, tem
aproximadamente 100 anos de existência, sendo iniciada pela família Coelho
da qual o mesmo faz parte e que se ramifica pela maioria dos habitantes.
Segundo Coriolano define-se comunidade como:
“um grupo social residente em um pequeno espaço geográfico
cuja integração das pessoas entre si, e dessas com o lugar,
cria uma identidade tão forte que tanto os habitantes quanto o
lugar se identificam como comunidade”. (1997, p. 201).
O líder lembra que seus bisavós nasceram e morreram na comunidade,
mas que não há uma data precisa de criação ou fundação da mesma. O estilo
de vida dos moradores é bem simples, vivendo basicamente da pesca e do
artesanato, os comunitários mostram-se hospitaleiros e muito tranquilos ao
conversar tanto entre si quanto com os visitantes.
59
De acordo com Trindade e Heyer (2004) a população foi estimada em 290
pessoas em terra firme sendo 155 residentes nas áreas ribeirinhas e 2 tribos
indígenas, totalizando 445 pessoas.
A localização do município permite a existência de dois ecossistemas,
onde se vê da parte do Rio Negro paraísos naturais com praias, cachoeiras e
florestas; já da parte do Rio Solimões estão às áreas da várzea com muitas
vitórias-régias e murerus (plantas aquáticas) nos igapós. A fauna e a flora aqui
são riquíssimas.
Overing (1999) aborda que o homem urbanizado chega a desprezar essa
simplicidade, não valorizando as atividades corriqueiras diárias e de
preferência atribuindo a terceiros tais atividades. Na comunidade, por exemplo,
a farinha de mandioca é produzida pelos próprios comunitários, a criação de
galinhas, bodes, patos etc., que servem para a subsistência é atribuição de
cada dono de cada animal.
O que o ser urbano encara como uma atividade muitas vezes sacrificante
como, por exemplo, a logística na Amazônia até por este ser urbano viver em
uma falácia de desenvolvimento urbano desde a Belle Époque, como citou
Santos Junior (2007) os comunitários não demonstram descontentamento com
as mesmas dificuldades que julgamos muitas vezes intransponíveis ou
entediantes.
“O problema é ainda mais grave quando o cenário é a floresta, que pouco
conhece: somos desajeitados quando nos movemos dentro dela e não
sabemos vê-la”. (OVERING, 1999, p. 85).
Para se chegar à Vila, podemos percorrer três caminhos, sendo dois
terrestres e um fluvial. Contudo, as duas entradas terrestres e todo o seu
percurso é de terra batida que nos períodos de chuva (cerca de 6 meses
contínuos – Dezembro a Junho) a estrada chega a ficar fechada em alguns
trechos.
A distância percorrida em média é de 24 Km da cidade de Iranduba até a
Vila de Janauari, tendo uma variação de cerca de 1 km da entrada mais
próxima da cidade para a entrada mais distante. O ramal todo ainda não está
com pavimentação asfáltica tornando a viagem em alguns pontos lenta e
cautelosa principalmente em dias de chuva.
Abaixo podemos observar um trecho plano da estrada, sem depressões
60
aparentes:
Fonte: Silva (2011)
Essa mudança nas condições de trafegabilidade das estradas se altera de
acordo com o período de chuvas e com as melhorias realizadas pelos órgãos
competentes. Contudo, nesta próxima imagem, observamos um trecho com
muitas irregularidades que formam atoleiros com a incidência de chuva
constante permitindo a passagem apenas de tratores.
61
Fonte: Silva 2011.
A outra forma de chegada à comunidade se dá por via fluvial
principalmente pelo uso de catraias, botes e pequenos barcos que saindo de
Manaus levam cerca 20 a 60 minutos até a Vila (dependendo de sua potência e
dos períodos de cheia e vazante do Rio Negro).
Neste recorte ampliado da ilustração abaixo podemos observar segundo o
traçado em preto, o percurso de Manaus no porto de São Raimundo até o Lago
de Janauari:
62
Ilustração 05: Percurso Fluvial Manaus a Janauari
Fonte: Silva (2011)
3.2 Caracterização das Atividades Econômicas e Laborais de Janauari
Esta é uma comunidade com uma população prioritariamente composta
por ribeirinhos e estes tem como ofícios principais de sustento: o artesanato, a
agropecuária o e comércio varejista de estivas, alimentos enlatados, alimentos
frescos e produtos de higiene.
Entretanto é a atividade artesanal que tem a característica cultural mais
forte e importante de possibilidade de oferta a partir da organização de um
Turismo de Base Comunitária na região.
A divisão de atividades laborais executadas pelos moradores de acordo
com o líder comunitário compõe-se desta forma:
63
Figura 06: Atividades Laborais em Janauari
Fonte: Silva (2011)
Nas proximidades do Lago de Janauari existe um flutuante com
restaurante que oferece uma alimentação com base na gastronomia regional.
Este ponto é considerado o primeiro ponto de venda do artesanato da
comunidade. Contudo, o ponto comercial não pertence à mesma estando esta
subordinada às regras de uso do local e aluguel.
Com relação ao artesanato o mesmo é produzido a partir de diversas
matérias primas local com cocares, pulseiras, colares, peixes empalhados,
brincos, prendedores de cabelo, etc.
Fora os artesanatos usados como acessórios de beleza de grande
produção, também peças entalhadas em madeira (principalmente carrancas),
colheres, petisqueiras, brinquedos, quadros regionais, arcos, flechas e blusas
de algodão bordadas à máquina.
64
Fotografia 03: Peças Produzidas em Janauari - Colares e pulseiras confeccionados
com: açaí tingido, jarina natural, lascas de jarina naturais e tingidas, morototó natural e
tingido, peças de madeira, linha de papagaio e nylon.
Fonte: Silva (2011)
De acordo com relatos do líder comunitário da Vila de Janauari, o
artesanato de algumas peças (carrancas e flautas ornadas com sementes) é
pioneiro e único não sendo confeccionado em nenhuma outra comunidade do
Amazonas. Para ele a marca ‘Janauari’ precisa nascer como identidade
daquela comunidade.
Entendamos Artesanato como [...] toda a atividade produtiva que resulte
em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de
meios tradicionais, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade.
(SEBRAE, 2004, P. 21).
Cascudo afirma que artesanato é “todo objeto utilitário com características
folclóricas, não importando o material utilizado”. Para o autor, são três as
subcategorias abaixo citadas:
(1) “arte folclórica”, ligada à ornamentação ou à religiosidade, a
qual, de um modo geral, se constitui de trabalhos anônimos; (2)
65
“artes plásticas”, em que um artista expressa a sua visão
acerca de um signo, tendendo sempre para o universalismo e a
criatividade; (3) “manufaturas”, abrangendo trabalhos sem um
referencial de origem específica, geralmente distribuída para
além de seu local de produção. (2001, p. 24)
Aqui poderemos caracterizar o artesanato de Janauari estando na
categoria da manufatura.
De acordo com Pinho apud Caldas, são três as tipologias de artesanato:
o “artesanato popular genuíno”, em que se pode falar em
qualidade, identidade e mercado consumidor; os “trabalhos
manuais”, cuja mão de obra se apresenta menos qualificada,
visando apenas a uma fonte de renda e, por fim, o
“industrianato”, onde um produto artesanal é alvo do processo
de massificação e “souvenirização”.
Conforme
as
autoras
o
artesanato
de
Janauari
seria
do
tipo
“industrianato” já que seus artesanatos são facilmente enquadrados na
“souvenirização” e que é facilmente visto nas imagens constantes neste
trabalho.
Para Cerutti (2010, p. 82-83) são nove categorias que envolvem os
trabalhos de comunidades feitos manualmente:
1. Arte Popular;
2. Artesanato;
3. Artesanato Indígena;
4. Artesanato Tradicional;
5. Alimentos Típicos;
6. Artesanato de Referência Cultural;
7. Artesanato Conceitual;
8. Trabalhos Manuais;
9. Produtos Semi-Industriais e Industriais.
De acordo com esta autora o artesanato de Janauari seria enquadrado na
categoria do Artesanato Conceitual que segundo a mesma se reportaria “a um
grupo cultural específico, com tradições próprias transmitidas de geração em
geração, cuja produção artesanal tem sua base em práticas manuais e está
66
integrada ao cotidiano”. (2010, p. 83).
E hoje seu artesanato se mistura e se dissolve em meio a outros
artesanatos de outras origens sendo muitas vezes nomeado como “o
artesanato de Manaus” e vendido com essa denominação.
Para o mesmo a necessidade de seu artesanato ser identificado
separadamente dos demais, é uma forma de nomear e identificar sua origem
cultural e comunitária.
Por essa razão, a importância de a organização do trabalho artesanal
favorecer a regularização da profissão de artesão e a identidade de interesses,
em direção à emancipação e à cidadania. [...] (CERUTTI, 2010, 85).
A quantidade de acessórios produzidos pelos artesãos é enorme e é
escoada tanto pela loja no flutuante que fica nas proximidades do Lago de
Janauari como em Manaus na Praça Tenreiro Aranha, localizada no centro
histórico em feira popular de artesanato indígena.
De todas as peças confeccionadas uma chama atenção pela simbologia e
aparência tribal, usadas em rituais mágicos: a ‘Carranca’ que para os artesãos
possui uma simbologia mágica de repelir maus espíritos e proteger os lares
onde é exposta. É indicado a quem compra colocar a carranca na parte de fora
da casa para não permitir a entrada de espíritos ou energias negativas.
Fonte: Silva (2011)
67
Segundo Marconi e Presotto:
Em algumas sociedades, principalmente de clima tropical, o
adorno nem sempre está associado à vestimenta, podendo até
ser mais importante do que ela [...]. Usam enfeites nos cabelos,
brincos nas orelhas, colares e braceletes [...]. Alguns adornos
têm apenas a finalidade de enfeitar, outros possuem caráter
mágico. (MARCONI; PRESOTTO, 2007, p. 176).
Apesar de a comunidade ser antiga, as atividades artesanais foram
iniciadas a pouco menos de 30 anos aproximadamente. Na época a empresa
S., pioneira em realizar pacotes turísticos para o Lago de Janauari, sugeriu que
fosse oferecido aos turistas peças artesanais como souvenir.
A sugestão foi tão bem aceita por turistas e comunitários que a produção
começou e desde então tem tomado conta de cerca de 70% das atividades
laborativas.
Conforme o líder comunitário, as crianças são iniciadas espontaneamente
no artesanato em formato de brincadeira, imitando seus parentes trabalhando e
vão aprendendo aos poucos a confecção artesanal. Ao tornarem-se
adolescentes já sabem a maioria das técnicas de confecção e passam a
contribuir para a renda familiar.
Por família, chega-se a ganhar com artesanato por volta de 1.500,00 a
1.800,00 reais mensais. E é com este ganho que as famílias conseguem
comprar a matéria prima que a Vila não dispõe para a confecção de suas
peças.
Para Noronha (2008), as principais matérias-primas (vegetal e animal)
utilizadas no artesanato estão dispostas juntamente com seus produtos finais
na tabela abaixo:
Caroço de açaí
Caroço de Patuá
Caroço de Buriti
Caroço de Tucumã
Caroço de Babaçu
Caroço de Abacaba
Tala de Pupunheira
Caroço de Paxiúba
Semente de Seringa
Massa de Guaraná
Artesanato em geral, marfim
Anéis, colares e enfeites
Colares, brincos e pulseiras
Anéis, colares e enfeites
Anéis, colares e enfeites
Artesanato em geral, marfim
Enfeites na marchetaria
Colares, brincos e pulseiras
Colares, brincos
Artesanato, enfeites e arranjo
68
Fibra de Piaçava
Tento preto
Tento Vermelho/Seriúna
Molongó da várzea
Cipó titica
Cipó Ambé
Líber de tururi
Arumâzinho
Lágrimas de Nossa Senhora
Morototó
Puçá/Tento preto dos Sateré –
Mawé
Arumã Grande
Pau Brasil
Puçá
Madeiras diversas Resíduos das
Serrarias
Penas artificiais ou de cativeiro
Palha
Cestaria, vassouras e artesanato
Colares,pulseiras e arranjos
Colares,pulseiras e arranjos
Bonecas, bancos e arranjos
Cestaria e artesanato em Geral
Cestaria e artesanato em Geral
Artesanato em Geral
Peneiras, pulseiras e artesanato em geral
Colares, pulseiras, tangas e arranjos
Colares,pulseiras tangas e arranjos
Colares e Pulseiras
Peneiras, pulseiras e artesanato em geral
Pulseiras, colares, bancos, enfeites,
bonecos
Colares, Pulseiras
Marchetaria
Brincos, cocares, braceletes,
tornozeleiras, pau de cabelo, saiotes e
tiaras.
Cestos, caixas
Fonte: Noronha, 2008, p. 87
Na comunidade, além dessas matérias primas, comumente para a
confecção artesanal se usa a resina epóxi e a cola siliconada também
chamada de cola quente. Esses materiais não são considerados matérias
primas, contudo são fundamentais no acabamento dos trabalhos manuais.
Uma das dificuldades encontradas pelos comunitários segundo seu líder é
a descontinuidade das atividades de beneficiamento uma vez iniciadas na
comunidade.
Segundo seu relato, a empresa Magia Amazônica num período anterior
de cerca de 10 anos havia treinado artesãos para o beneficiamento e instalado
maquinário na comunidade em um galpão construído para o beneficiamento de
sementes, contudo por falta de manutenção e motivação dos comunitários que
afirmavam ser a confecção atividade mais rentável, abandonaram o ofício.
E hoje as matérias primas são compradas já beneficiadas em Manaus.
Todavia, a falta de organização quanto ao fornecimento das sementes e outros
materiais de consumo para o beneficiamento também contribuíram para o
enfraquecimento e diminuição significativa chegando ao término da atividade
na comunidade.
69
As boas práticas estão voltadas ao processo de beneficiamento
e melhoria da qualidade do artesanato que pode ser com
sementes, fibras ou palhas. Algumas comunidades tradicionais
em outras regiões da Amazônia têm realizado o manejo [...]
respeitando algumas regras (boas práticas) que permitam uma
produção de sementes contínua e duradoura, com retorno
econômico e conservação e manutenção do ecossistema.
(NORONHA, 2008, p. 91)
Este tipo de fluxo poderia ter uma logística melhor se a matéria prima
fosse beneficiada na própria comunidade ou em comunidades próximas,
todavia os comunitários preferem adquirir matéria prima com preços módicos
beneficiada em outro estado.
Por não visualizar o beneficiamento de sementes como um potencial
vocacional da comunidade, os artesãos compram muitas vezes matéria prima
que segue o fluxo abaixo:
70
Segundo Noronha (2008), o valor agregado ao beneficiamento de
sementes desde sua coleta até sua venda é enorme como podemos observar a
seguir com o exemplo da semente de Jarina:
A cadeia produtiva é grande e a agregação de valor é enorme,
pois uma semente coletada sai no campo ao custo de R$ 0,02
e um pequeno chaveiro entalhado em uma única semente é
comercializado, em Rio Branco, a R$ 17,00, ou seja, um fator
de agregação superior a 500 vezes. (2008, 91)
São também atingidos com a constante intervenção de terceiros não
pertencentes à comunidade, mas que acabam ganhando de uma forma ou de
outra com as belezas paradisíacas do Lago.
Segundo o líder comunitário, é comum durante o ano, principalmente no
período das férias escolares a presença de catraias, pequenos barcos, lanchas
e até barcos maiores com atracados no lago que trazem pessoas para
visitação. Ainda segundo o líder, os donos das embarcações cobram o passeio,
mas a comunidade não é beneficiada e nem remunerada com a atividade.
O líder comunitário informa que a Associação de Catraieiros de Manaus
chega a cobrar 300,00 reais por passeio que inclui o Encontro das Águas, o
Restaurante Flutuante e o Lago de Janauari onde param para tomar banho.
Barbosa afirma que:
Algumas comunidades garantem o controle de seus territórios
a partir da criação de associações, sindicatos e cooperativas,
formas de organização locais, tendo em vista a produção de
políticas que atendam as necessidades locais, tendo em visa a
produção de políticas que atendam as necessidades locais e o
fortalecimento comunitário. Assim, as políticas do turismo
comunitário revelam a existência do caráter solidário das
comunidades, uma vez que as decisões são tomadas em
conjunto e voltadas às melhorias da qualidade de vida local.
(BARBOSA, 2011, p. 146).
Em um fim de semana, a localidade chegou a receber 600 turistas no
percurso que ia de Manaus ao flutuante segundo o próprio líder comunitário,
contudo não temos conhecimento por parte dos órgãos competentes de algum
estudo da capacidade de carga que o Lago comporta em finais de semana,
meses de baixa ou de alta temporada.
Com relação a sua organização social, a Vila de Janauari conta com duas
71
associações que são a Associação dos Moradores de Janauari e a Associação
dos Artesãos de Janauari, ambas também em descontinuidade de ações.
De acordo com PC, líder da associação dos artesãos e de DC líder da
comunidade, as associações desenvolvem atividades ordinárias como:
Associação dos Artesãos - reuniões, assembleias e planejamentos para o
festival de artesanato,
Associação dos Artesãos - reuniões, assembleias e planejamentos para
conseguir mais recursos e para avaliar as obras em andamento na
comunidade. Também nas reuniões levantam as necessidades da comunidade.
Sampaio, Alves e Falk citam que:
A importância das associações autogestionárias se evidencia
pelas decisões ficarem sob a responsabilidade do grupo, no
qual é preciso superar interesses individuais para decisões que
priorizem melhores resultados para a coletividade, garantindo,
desta forma, direitos iguais aos associados. No processo de
produção compartilhado, ou mesmo individual, o fator que
caracteriza a cooperação entre os membros dos grupos é a
conexão entre eles, no qual o contato social estimula cada
indivíduo a se realizar como pessoa e como agente social.
(SAMPAIO, ALVES E FALK, 2008, p. 251).
O líder comunitário sr. D.C, mesmo dentro de suas limitações busca
melhorias para a Vila. Este líder, para conseguir as melhorias abaixo, reuniu-se
com o prefeito, com outras lideranças dentro a prefeitura e com parceiros
comerciais para a construção das obras, captação de recursos materiais,
financeiros e para a agilidade na execução das obras. Dentre estas melhorias
temos:
• Escola Municipal Jovino Coelho,
• Uma ambulância comunitária,
• Um Posto de Saúde,
• Duas mercearias;
Existem duas obras do governo federal em andamento na comunidade
que são:
72
• A construção da praça de Janauari
• A Central de Artesanato da Comunidade de Janauari.
No entanto de acordo com o líder comunitário e outros munícipes as
obras estão em ritmo lento. Estas são de muita importância para a melhoria da
qualidade de vida da comunidade, pois uma irá proporcionar o lazer e a
segunda o trabalho em um ambiente próprio.
Ao iniciar a presente análise é importante salientar que a mesma
representa um recorte contextual de uma vivência construída na coletividade
em um breve período de tempo.
Uma comunidade como São Pedro do Janauari que já possui mais de 100
anos, e nessa trajetória vivenciou um sem número de eventos e fenômenos
sociais, deve ser entendida como um organismo vivo, pois conforme Robbins,
Thimothy e Sobral (2010) qualquer instituição que passa por tais fenômenos
adquire vida própria, em outras palavras, qualquer aglomerado de indivíduos
que demonstram cultura própria, podem ser considerados como tendo vida
própria ou “se torna imortal” (2010, p. 506).
Compreender tal vivência, investigar suas peculiaridades, e até certo
ponto admitir como é difícil vislumbrar o diferente, vê-lo pelo seu próprio olhar,
representou uma mudança de pensamentos, crenças e atitudes. Ao conviver
com tanta simplicidade e exemplos de uma existência em equilíbrio com a
natureza, nos faz refletir sobre o como vivemos e percebemos o mundo a
nossa volta.
Em cumprimento a nossa metodologia, as observações nos deram uma
visualização mais esclarecida de tudo o que foi absorvido nas pesquisas
bibliográficas e mais ainda, nos deram a percepção de uma necessidade
pujante de mudança por parte da comunidade.
De acordo com Lancman e Uchida (2003), a psicodinâmica laboral
representará não a forma mais correta de agir diante dos fenômenos do
trabalho, mas sim a forma como o indivíduo destrói, constrói e reconstrói seu
labor.
Para estes autores, o trabalho se torna um espaço social que permite a
reposição as angústias e dificuldades vividas durante a caminhada do indivíduo
em seu desenvolvimento.
73
De acordo com Dejours citado por Lancman e Uchida (2003) as angústias
e os conflitos gerados pelo trabalho em uma ordem singular, tem como solução
a coletividade.
Para tanto a criação de espaços públicos, da fala e da escuta coletiva
como observamos em comunidades é fundamental para que essas dificuldades
laborais sejam solucionadas por todos.
A rotina de trabalho onde as observações feitas, mostraram que apesar
da rotina de trabalho ser intensa, não há desânimo ou impedimento emocional
aparente para a realização das atividades rotineiras de trabalho.
Ao contrário, o que observamos foi à satisfação na realização das rotinas
diárias. Bleger diz que: “[...] a situação mais feliz é aquela em que o trabalho e
o hobby coincidem, no sentido de que o trabalho seja, ao mesmo tempo, uma
fonte de prazer” (1980, p. 113).
E este prazer é o que move todo o trabalho envolvido no processo de
retirada da matéria prima da natureza até a confecção das peças e sua venda
em Manaus. Mesmo assim, os artesãos demonstram preocupação em relação
às dificuldades enfrentadas pelas exigências de um mercado competitivo e
exigente do artesanato.
Segundo informações coletadas em entrevista, o sr. J. relatou que no
início da confecção do artesanato, tudo era diferente. Ao ser questionado no
que seria esse tudo, ele respondeu ter sido aquela época (por volta dos anos
70 e início dos anos 80), uma época farta em que não havia exigência de
acabamento das peças, os turistas aceitavam pagar o que os artesãos pediam
e não haviam prazos apertados para a entrega das mecadorias. Disse lembrar
dessa época “com saudade” (SIC).
Ao ser questionado sobre o agora, o sr. J disse que os tempos estão
difíceis pois ele em questão não consegue fazer estoque de arcos e flechas.
Toda a sua produção e de seu filho (que trabalha com o pai) vai para Manaus.
Também a sra. T., nos disse que sua máquina de costura precisa de
reformas e que já pensa em sair do artesanato e ficar no comércio dela e do
marido. Ela nos respondeu que também no início não tinha máquina e fazia o
artesanato à mão.
Com o passar das décadas, foi paulatinamente deixando de confeccionar
suas fantasias de pena de faisão para trabalhar na taberna do marido.
74
Segundo Bohoslavsky (2007) o jovem busca na profissão escolhida uma
possibilidade de ser feliz. Estaria o adulto procurando também a sua felicidade
pela escolha de um novo trabalho.
A sra. G, em sua entrevista nos verbalizou preocupar-se com o destino de
seus filhos pois dois já estavam empregados em Manaus e não sabiam a arte
da confecção das flechas decorativas. Somente a filha caçula é que sabia
confeccionar as flechas com a mãe, mas não sabia bordar (entalhar) os rostos
nas cabaças.
Bock comenta:
O individuo é e não é ao mesmo tempo reflexo da sociedade;
da mesma forma ele é e não é autônomo em relação à ela. [...]
o individuo escolhe e não-escolhe - (sua profissão ou
ocupação) - ao mesmo tempo. (1999, p. 16).
Quando Bock, diz que o individuo escolhe e não escolhe sua profissão ao
mesmo tempo, ele está tratando de sua liberdade de escolha. Em outras
palavras, de acordo com a classe social de origem do individuo, ele tem mais
ou menos liberdade para decidir, embora esta seja sempre multideterminada.
Assim, os indivíduos têm a possibilidade de intervir sobre a sua trajetória,
não havendo, portanto, determinação social absoluta.
Ao ouvir os artesãos (Sr J. E Sra. G.) no momento em que
confeccionavam as flechas foi possível notar o quanto eles tinham a
consciência da exclusividade de seu trabalho e isso os fazia se dedicar mais
em seu labor.
A senhora G. foi quem ensinou e iniciou na comunidade o entalhe de
rostos de índios nas cabaças das flechas e é ela quem ensina as artesãs
iniciantes. Segundo a mesma o seu objeto de entalhe é uma faca de cortar
peixe mais conhecida na região como “pexeira”.
Mas um fato curioso é que a mesma não utiliza o termo entalhar (apesar
de ser o mais aplicável em sua atividade), usualmente a artesã utiliza o termo
“bordar”.
Ao ser questionada sobre a origem do termo, a artesã nos relatou que por
ser o formato do rosto “bordado” muito parecido com uma trama rendada, o
termo era usado por fazer lembrar um bordado rendado. Disse reforçando sua
75
fala que tenta “imitar” tecidos rendados em seu “bordado”. Abaixo é possível
visualizar seus chocalhos e flechas de cabaça e bambu de flecha e os detalhes
que parecem ser uma renda:
Fonte: Silva (2012)
A segunda direção relaciona-se com a necessidade de mudança das
condições e da forma de produzir artesanato.
O sr. D. ao ser questionado, verbalizou que quando a empresa S turismo
chegou à comunidade “impôs” aos comunitários o artesanato e que agora essa
é a atividade mais rentável e da qual ele vive.
O Sr. G, o Sr. P. e seu pai o sr. E, também confirmaram a fala do sr. D.
Um deles disse: “Quando a S turismo veio aqui só tinha a plantação e a criação
de galinhas e cabras. Eles perguntaram se nós queríamos fazer uns
artesanatos pros turistas e nós aceitamos”.
Contam que de lá pra cá a atividade se tornou parte da comunidade e
muitos dos novos pensam, assim como os turistas, que essa sempre foi a
atividade vocacional da comunidade.
Bohoslavisky
faz
uma
conceituação
de
identidade
vocacional
diferenciando-a da identidade profissional na qual podemos comparar com o
vivenciado entre as gerações mais jovens e as mais experientes no Distrito que
vem a seguir:
a identidade vocacional expressa as variáveis de tipos afetivo-
76
motivacional, enquanto a identidade profissional mostra o
produto da ação do contexto sociocultural sobre aquela [...]
nenhum profissional, por mais capacitado que esteja tem o
direito de interferir na escolha do sujeito. (2007, p. 61).
Para Balbinotti,
...a maturidade vocacional é definida como a capacidade do
indivíduo para enfrentar as tarefas de desenvolvimento com as
quais ele é confrontado como conseqüência de seu
desenvolvimento social e biológico, de uma parte, e das
necessidades da sociedade em relação às outras pessoas que
alcançam este estado de desenvolvimento, de outra parte.
(2003, p. 463)
Ainda com o mesmo, (2003) para aprofundarmos os modelos por ele
citados anteriormente para elucidarmos os aspectos relacionados aos
comunitários. Foram apresentados quatro modelos desenvolvidos para
“explicar melhor a complexidade do comportamento vocacional do indivíduo”
(idem, p. 462).
O modelo 2 diz respeito as influências ambientais, tecnológicas e
socioeconômicas
descritas
por
Super
apud
Balbinotti
(2003)
como
representadas pela família, amigos, comunidade, etc.
Essa influência é bem clara no discurso do sr. PC quando verbalizou em
entrevista que o artesanato de carrancas lhe foi ensinado por um artesão de
fora da comunidade e com materiais não nativos para a confecção (goma
epóxi, de nome comercial durepóxi).
Verbalizou ainda que o formato da carranca, seus adereços de penas e
sementes lhe fora passados por esse artesão e que posteriormente ele passou
esse conhecimento aos outros comunitários.
Em seu relato diz: “Quando o artesanato chegou aqui no Janauari eu era
menino e quando eu comecei a fazer as carrancas foi o hippie que era guia da
empresa S. turismo que me ensinou. De lá pra cá já se passaram mais de 20
anos”.
A sra. E, que é moradora nova da comunidade não é artesã, verbalizou
em sua entrevista: “Eu vou entrar nesse negócio de artesanato porque todo
mundo faz isso aqui. Já conversei com as meninas lá de cima pra me
ensinarem”.
77
Quando questionada sobre quem eram as moças de sua fala ela
verbalizou: “A sra. T, me falou que as meninas daquela casa ali (apontou com o
dedo para um imóvel do local) fazem artesanato e são boas. Que elas
ensinam, mas eu ainda não fui lá e não sei o nome delas”.
Mais uma vez perguntamos a ela como seria a sua aproximação para
fazer o pedido e ela respondeu: “Eu digo que foi a sra. T que me mandou lá”.
Na entrevista com o sr. J foi verbalizado por ele que tanto a confecção de
arcos e flechas como a secagem de piranhas para ser empalhadas são
atividades que ele aprendeu com seu pai e já ensinou ao filho. Este que não foi
entrevistado por ter 17 anos estava no momento da entrevista cortando
paxiúba para fazer as pontas das flechas do pai.
Também verbalizou que o caminho fluvial para comunidade de Paciência
foi aprendido com seu pai. Essa comunidade fornece a paxiúba para a
confecção das pontas de flechas da família.
Após esses diálogos fica claro como esses fragmentos de entrevista
podem ser enquadrados como exemplo de influência exercida pelo ambiente e
por condições sócio econômicas representados aqui por aqueles reconhecidos
como autoridades informais na comunidade.
Robbins, Thimothy e Sobral (2010) nos falam da influência exercida por
aqueles dotados com poder de talento. Para esses autores esse tipo de
conformidade ao poder ocorre pelo fato de os comunitários PC e E
reconhecerem tanto no guia como na sra. T, ou na sra G, talento para
confeccionar peças artesanais o que os torna referência e autoridade na área.
O modelo 3 diz respeito ao desenvolvimento o qual Balbinotti afirma que
“esta concepção propõe que o desenvolvimento vocacional é um processo
contínuo desde a infância até a velhice” (2003, p. 462).
E nesse aspecto, levando em conta todas as observações e entrevistas,
ficou claro para nós de como a comunidade é tradicional. Os jovens desde
criança são iniciados nas atividades laborais como que uma brincadeira de
imitação dos pais.
E ao passar a infância observando a rotina de trabalho de seus genitores
chegam na adolescência em condições de demonstrar através de suas
próprias confecções suas habilidades como aprendizes do artesanato. O
próprio exemplo dado acima do sr. J e de seu filho, nos mostra essa tradição e
78
ofício sendo passado através das gerações. Outro que pode ser citado é o líder
do artesanato PC que tem pai e mãe artesãos também.
O desenvolvimento é, geralmente, ordenado e previsível, assim
como dinâmico no sentido de que ele resulta da interação entre
as características do indivíduo e as demandas da cultura, o que
torna claro também o fato de tratar-se de um processo
psicossocial. No decorrer deste processo, o indivíduo deve
cumprir um certo número de tarefas de desenvolvimento. A
natureza precisa destas tarefas e a maneira pela qual ele as
cumpre revela sua maturidade vocacional. Dentro desta ótica,
pode-se dizer de um indivíduo, que ele é maduro na medida
em que ele está pronto para tomar as decisões e para assumir
os comportamentos característicos de seu estado de
desenvolvimento vital (idem, p. 463)
O último modelo observado é o fenomenológico o qual relaciona a
profissão do indivíduo com o conceito que este faz de si. Esta relação associa
o trabalho assim:
Se eu progrido em
minha profissão,
Então e progrido
enquanto pessoa
(idem, adaptado pela pesquisadora)
Em entrevista com os artesãos, sempre ouvíamos as dificuldades
colocadas por eles – muitas já citadas anteriormente – e ao final da entrevista
ou até em momentos de observação sem que houvesse qualquer formalidade,
ou em uma conversa informal, perguntávamos sobre as perspectivas futuras
junto ao artesanato e se eles conseguiam ver no turismo uma alternativa de
promoção e preservação da comunidade.
A nossa resposta foi positiva em todos os comunitários questionados.
Ouvíamos frases como o sr. J: “Nós vivemos do artesanato” . Outra do sr. PC:
Seria muito bom se conseguíssemos implantar o turismo de base comunitária
aqui no Janauari”.
Este artesão tem colocações verbais muito bem articuladas, ele além de
79
artesão e líder comunitário, exerce papel de porta-voz da comunidade
representando-a até no exterior em uma feira internacional de artesanato que
ocorreu em Londres.
Para Wagner III e Hollenbeck (2006) e Robbins, Thimothy e Sobral (2010)
e Chiavenato (2006), satisfação no trabalho é um sentimento agradável que
resulta não apenas da sensação, mas da percepção de que o trabalho realiza
ou permite a realização de valores importantes relacionados ao próprio
trabalho.
Ainda esses autores concordam que ao se sentir satisfeito, trabalhador
cria identidade e desenvolve maturidade profissional, pois estabelece um
método próprio de realizar as atividades.
Adquirir esta identidade torna o trabalhador mais comprometido e
envolvido com seu artesanato. Para os autores Wagner III e Hollenbeck (2006)
e Robbins, Thimothy e Sobral (2010) e Chiavenato (2006), envolver-se com o
trabalho significa ter um alto grau de participação ativa na atividade laboral e
em considerar que seu desempenho é um fator de valorização pessoal.
Ainda com os mesmos comprometer-se com o trabalho significa ter o
desejo de permanecer na atividade que já desenvolve.
De acordo com a Sra. T., a relação de iniquidade entre compradores e
artesãos está fazendo com que os jovens não se interessem pelo artesanato.
Segundo ela, os jovens da comunidade até começam a trabalhar no
artesanato, mas migram lentamente para o Polo Industrial de Manaus (PIM)
mudando inclusive de cidade.
Na visão da senhora T., essa migração tem sido segundo ela,
espontânea, contudo, duradoura, pois os jovens que decidem trabalhar na
capital, acabam por se estabelecer e fixar residência em Manaus. Os que
preferem ficar na comunidade nem sempre vislumbram o artesanato ou o
turismo como uma atividade desejada.
Outro aspecto que a artesã cita é a necessidade de se agregar valor
regional ao artesanato feito, bem como a necessidade de não deixar a técnica
de confecção de flechas “se perder” pela falta de pessoas para confeccionar.
Como afirma Ribeiro:
Por diversos motivos o turismo de base comunitária possibilita
80
a inclusão da comunidade organizada em tomada de decisões,
planejamento e execução da atividade turística, usufruindo
também de seus benefícios em busca da inclusão
socioeconômicas, dentre outros direito e deveres gerados pelo
turismo em uma comunidade... (2008, p.02).
O Turismo de Base Comunitária para tanto, se configura em uma
alternativa aos artesãos mais antigos de perpetuarem suas técnicas, tanto por
passa-las aos turistas que confeccionariam suas próprias peças quanto por
servir de incentivo aos jovens a se debruçarem nas atividades laborativas da
comunidade. Segundo Carvalho apud Ribeiro:
... esta sociedade deve estar madura, composta por indivíduos
habilidosos para a formação sólida de uma comunidade e só
então com seu amadurecimento e normalmente em formações
associativas atingir o desenvolvimento comunitário. (2008,
p.04)
Com o Turismo de Base Comunitária, as dificuldades logísticas já citadas,
por exemplo, poderiam ser transformadas em um ponto positivo, pois o tempo
gasto com o deslocamento entre comunidades em busca de matéria prima,
seria para os turistas, um momento de contemplação da natureza, onde
informações sobre conservação e uso sustentável da floresta poderiam ser
disseminadas aos mesmos.
A comunidade vivencia uma realidade mercadológica que incita a
mudança em sua cadeia produtiva do artesanato mesma proporção em que
esta é rejeitada pelos comunitários mais antigos. Conforme Robbins, Thimothy
e Sobral:
A cultura se torna um passivo quando os valores
compartilhados não estão em concordância com aqueles que
poderiam melhorar a eficácia... Isso tem maior probabilidade de
ocorrer quando... a cultura arraigada pode não ser mais
adequada (ROBBINS, THIMOTHY e SOBRAL, 2010, p. 506).
De acordo com o observado existe na comunidade uma tendência dos
artesãos mais jovens de ceder ao assédio e às pressões comerciais dos
compradores. Segundo os artesãos mais antigos, os jovens vendem suas
peças por poucos reais não valorizando o artesanato.
Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento social de Erikson
81
citado por Morgado (2001) o adolescente e o jovem adulto têm a necessidade
de pertencer a um grupo e de ser reconhecidos por ele como iguais.
Para tanto é explicável e até aceitável do ponto de vista dos artesãos
mais jovens suas atitudes, contudo ainda com os autores, o adulto e o idoso
apresentam uma maior maturidade bem como maior estabilidade financeira e
familiar, o que os leva a um senso crítico e até a uma reação seletiva de como
vender e para quem vender.
O que se observou durante toda essa construção de saberes é que a
comunidade chegou à conclusão e que para haver mudança, a união e
organização social e institucional são importantes.
Por uma iniciativa comunitária os trabalhos das associações retornam aos
poucos a atividades cada vez mais inovadoras e ousadas no sentido de
promover a comunidade.
Nas fotografias visualizamos as melhorias conseguidas apenas com a
força dos comunitários ao longo desses dois anos, assim como o interesse por
pesquisadores de várias áreas interessados em conhecer e auxiliar a
comunidade nas suas dificuldades.
A essa mudança de atitude por parte dos comunitários em gerir seus
potenciais turísticos de forma sustentável, Bock cita que “nossas atitudes
podem ser modificadas a partir de novas informações, novos afetos ou novos
comportamentos ou situações” (2001, p. 180).
Também a presença de pesquisadores cada vez mais constante pode
estar causando um mal estar positivo que gera ação e mudança ao questionar
ou ao fazer os comunitários recordarem de suas dificuldades e dos possíveis
melhoramentos que não dependem de poder público, mas apenas da boa
vontade e pro-atividade dos comunitários.
No decorrer desta pesquisa, tivemos a oportunidade de participar do IX
Festival Cultural do Artesanato do Janauari. Nele observamos uma
organização basicamente arquitetada pelo sr. PC que em sua iniciativa,
contratou toda a estrutura necessária para receber os comunitários das 5
comunidades do Distrito, cidadãos irandubenses e manauaras.
Contudo, como a produção dos artesãos é entregue aos sábados em
Manaus para uma feira tradicional domingueira no centro da cidade, não havia
artesanato em abundância no festival (como era o esperado tanto por nós
82
como pelo próprio líder do artesanato).
Observamos sim, apenas barracas brancas de comida e bebidas e
apenas uma de artesanato com cobertura de palha. Nesta havia o artesanato
de comunidades próximas e até da cidade de Parintins. Ao ser questionado
sobre quando iam chegar as peças o líder do artesanato verbalizou: “Eu nem
quero falar sobre isso”.
A sua fala soou para nós com um tom de descontentamento já que nossa
espera, de uma forma ou de outra, gerou expectativas, mas que para ele gerou
cobrança. Havia autoridades patrocinadoras como representantes da prefeitura
e de um banco regional que financiou parte do festival.
De acordo com Chiavenato (2007), Robbins, Thimothy e Sobral (2010), as
percepções de iniqüidade criam emoções desagradáveis. As tensões
associadas às emoções desagradáveis como culpa e raiva, motivam as
pessoas a fazer algo que reduza a iniquidade e tanto na fala do comunitário
quanto em sua saída de nossa roda de discussão pode caracterizar sua atitude
como do tipo fuga da situação injusta.
Por essa e por outras razões são importantes o planejamento, e o
gerenciamento da atividade turística na comunidade visto que algumas
localidades já habituadas a receber visitantes intensamente, se viram
saturadas pela atividade turística e passaram a demonstrar aversão aos que
chegavam à localidade na condição de turistas.
Conforme Wagner III e Hollenbeck (2006) esse tipo de reação à injustiça
pode ser conceituada como aquela em que quando todas as possibilidades de
enfrentamento e negociação de um embate ou injustiças falham, só resta ao
indivíduo que se sente injustiçado ou ameaçado retirar-se e procurar pessoas
ou ambientes que lhes sejam mais confortáveis d ponto de vista psicológico.
Após o início da festividade, o líder se distanciou de nós e respeitamos
seu momento não insistindo mais na questão.
Em discussão sobre o festival, levantamos alguns aspectos que poderiam
ser considerados primordiais para o baixo número de peças em exposição no
evento:
•
O excesso de demanda pelos compradores de Manaus,
•
Cansaço pelo dia de trabalho confeccionando peças já encomendadas,
83
•
A falta de artesãos em quantidade suficiente para estocar produção;
•
A falta de acessibilidade ao Distrito e
•
A pouca sensibilização feita aos artesãos para um aumento de produção
específica para o festival.
Queremos ressaltar o fato de que nos baseamos em nossas reflexões e
nas observações realizadas durante todo o dia de preparo e ornamentação do
festival como aspectos contribuintes para a baixa quantidade de peças
expostas e para o não comparecimento de muitos artesãos ao festival.
Fonte: Silva (2012)
84
Fonte: Silva (2012)
Fonte: Silva (2012)
Fonte: Silva (2012)
Os fatores: excesso de demanda e falta de artesãos suficientes,
relacionam-se com o fato de que muitos jovens deixam o Distrito para arvorarse em uma carreira no PIM – Polo Industrial de Manaus já mencionado
anteriormente.
A falta de sensibilização e até mesmo de união entre os artesãos,
associamos ao fato de que a liderança de PC pode estar sendo posta em
questionamento pelos artesãos:
De um lado o líder do artesanato afirma que seus associados se
pulverizam em motivos pessoais sem chegar a um consenso para as decisões
que dizem respeito às suas demandas; Do outro lado estão os artesãos que
alegam não ter incentivos ou garantias de melhorias para seu ofício.
85
Mesmo com essas alegações os associados não demonstram disposição
em assumir a liderança da associação.
Cremos em algumas medidas propostas aqui em formato de sugestão,
que podem elevar o ânimo em dar continuidade à produção de artesanato no
Distrito bem como a aproximação do turismo de base comunitária ao Distrito de
Janauari. Essas etapas não estão conectadas a Janauari.
Nesse sentido ainda será necessário um período mais aprofundado de
estudos sobre a temática par aí então se realizar uma sondagem junto a
comunidade com um plano piloto para as primeiras incursões em Turismo de
Base Comunitária na comunidade de São Pedro do Janauari.
Seguindo o modelo da WWF (2003) que utiliza eixos de ação para uma
proposta Turismo de Base Comunitária temos:
1. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
1.1. Planejamento que iniciará todo o planejamento para a preparação da
comunidade para a implantação do TBC;
1.2. Levantamento do potencial turístico para o qual deverá constar uma
metodologia adaptada à comunidade com pesquisas próprias e análises
qualitativas e quantitativas do diagnóstico comunitário.
1.3. Confecção do produto turístico através de ferramentas de marketing
que
indicarão
quais
produtos
poderão
ser
trabalhados
pela
comunidade;
1.4. Avaliação da viabilidade econômica, para a atividade do TBC. Questões
como pesquisa orçamentária e econômicas são importantes para a
saúde econômica da modalidade do TBC na comunidade.
2. IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL
2.1. Infra-estrutura de apoio ao TBC: Aqui, as informações coletadas na fase
do planejamento e implantação da infra-estrutura são reunidas.
2.2. Manejo do artesanato por meio do levantamento de quais peças
artesanais seriam mais adequadas ao TBC.
2.3. Interpretação ambiental, na qual o processo da cadeia produtiva do
86
artesanato seria trabalhado junto ao turista em programas educativos e
de sensibilização para a conservação da comunidade em seus aspectos
ambientais e culturais.
2.4. Programas de Capacitação: Neste item, a participação comunitária se
dá por seu aperfeiçoamento tanto em cursos mais básicos como corte e
costura, marchetaria e contabilidade doméstica, quanto em cursos onde
há maior refino de habilidades como inglês básico e avançado,
hospitalidade, empreendedorismo etc. Aqui também há a captação de
parceiros em centros de capacitação e ensino.
3. GESTÃO INTEGRADA
3.1. Monitoramento e controle dos impactos socioculturais da visitação e
permanência dos turistas na comunidade.
3.2. Administração contábil de pequenos empreendimentos para auxiliar os
comunitários em seus gastos, provisões para altas e baixas
temporadas, conceitos de capital de giro e como investir e ampliar seus
empreendimentos, etc.
3.3. Contribuição de voluntários nos projetos de TBC objetivando fortalecer
o protagonismo dos atores sociais envolvidos com o TBC bem como
organizar um programa de voluntariado comunitário.
3.4. Pesquisa de aperfeiçoamento do TBC. Aqui seriam estimuladas as
pesquisas científicas para os constantes ajustes e melhoramentos desta
modalidade de turismo na comunidade.
Atualmente o Ministério do Turismo apresenta:
Projetos de incubação de empreendimentos de tecnologia
popular:
•16 municípios nas seguintes Regiões:
•Lençóis Maranhenses, Delta do Parnaíba, Serra da Capivara e
Jericoacoara;
•29 grupos produtivos trabalhados, cerca de 300membros
Início de projetos em mais sete Estados (MG, SP, PE,
RJ, PR, PA e BA). (2008, p. 04)
E o Ministério espera os seguintes resultados:
87
– Fortalecimento das ações Desenvolvimento local comunitário;
– Fomento a geração de trabalho e renda ligada de
comunidades locais e/ou tradicionais.
– Articulação de iniciativas do segmento “Turismo de Base
Comunitária” em rede.
– Articulação e parcerias entre as esferas públicas e privadas
responsáveis.
– Reconhecimento do turismo de base comunitária como um
dos vetores de desenvolvimento local. (2008, p. 12)
Desta pesquisa, outros desdobramentos serão possíveis sempre em
consonância às necessidades e motivações da comunidade.
A partir do discurso dos comunitários é que as ações de mudança
poderão ser planejadas por todos os parceiros pesquisadores, comerciais e,
sobretudo pelos comunitários que ao chegar à autogestão de seus recursos
naturais, vocacionais e potenciais terão uma ferramenta para o crescimento e
fortalecimento de suas raízes culturais, sociais e humanas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessas palavras finais, gostaríamos de expressar nosso sentimento de
continuidade. Sentimo-nos assim, por saber que a caminhada apenas começou
e que há muito ainda para trilhar nos caminhos da ciência.
Em resposta ao nosso tema, este passou por várias modificações que
temos a certeza de ter sido para melhor. Estas adequações ocorreram devido a
nossa miopia científica em definir nosso objeto de estudo e conseguir captá-lo
enquanto fenômeno plástico e em constante mudança.
Contudo as orientações nos focaram sempre na pesquisa e direcionaram
nosso olhar para o outro procurando vê-lo despidos de nossos pré-julgamentos
e verdades cristalizadas.
Em resposta aos nossos objetivos, acreditamos tê-los alcançado
parcialmente visto que a distância entre nós e nosso objeto de pesquisa,
nossas dificuldades de administração do tempo e de comunicação tornaram o
desafio maior e mais difícil de contemplar.
Nossa metodologia se mostrou muito profunda por arvorar-se em mostrar
pelas palavras o que somente os olhos e muitas vezes nossa psique poderia
88
absorver e compreender.
Chamaremos, portanto esta dissertação de um pequeno “ensaio
científico”, não por nos considerarmos pequenos no sentido de medíocres, mas
por nos sentirmos iniciantes em pesquisa.
Momentos difíceis foram inúmeros. As idas e vindas à balsa, a fila de
mais de um quilômetro só para entrar na balsa, gravidez, conciliação de
trabalho e mais trabalho, casa, filhas e mestrado, tornaram muitas vezes as
noites mais curtas e os dias mais longos.
Ao longo do período, muitas relações afetivas se atritaram, outras se
desfizeram e muitas se fortaleceram por causa de uma única palavra:
mestrado. Contudo o crescimento que esta experiência proporcionou foi ímpar
em todos os aspectos de todos os atores envolvidos no processo.
Lembramo-nos de estar em uma aula no módulo e ao mesmo tempo ter
que ministrar aulas para aqueles que no dado momento julgamos precisar mais
de nós. Ou ainda de estar na frente do ramal do Janauari sem poder entrar
diante de um atoleiro.
Tantas foram os textos repetidamente lidos para ampliar a assimilação,
tantos foram os “co-orientadores”, os “co-pesquisadores” e “co-terapeutas” de
plantão que estavam apostos a nos auxiliar e às vezes a só ouvir.
Grande foi o nosso aprendizado e nossa certeza de sermos pequeninos
diante da grandiosidade do outro, diante de nossa caminhada diante da
ciência. Temos a concretude de nunca parar, mesmo quando margeados de
lágrimas e incertezas.
Mas no decorrer desses dois anos de atividades de campo o Distrito de
Janauari, observamos e participamos da vida, da rotina, das dificuldades e de
todo o resplendor da natureza a nossa volta.
Durante os encontros na comunidade foi-nos possibilitado um nível de
proximidade com os comunitários no sentido de partilharmos da mesma comida
e da mesma bebida e da mesma dormida.
Nossos
anfitriões
em
todos
os
momentos
demonstraram
uma
receptividade e um interesse por nós, não apenas por sermos pesquisadores,
mas por que na medida em que os vínculos iam se estabelecendo, as histórias
iam se misturando e cada vez mais nos sentíamos pertencentes à comunidade.
Pudemos observar também as condições de observar também, que
89
apesar de hospitaleiros, para introduzir o Turismo de Base Comunitária, se este
for o desejo da comunidade, será necessário que a mesma tenha o
treinamento adequado para iniciar tal atividade.
Percebemos que além das riquezas naturais, a comunidade também
apresenta
sua
riqueza
humana.
Riqueza
essa
expressa
em
suas
manifestações artísticas e artesanais: nos colares, pulseiras, brincos,
carrancas, arcos e flechas.
A comunidade de São Pedro do Janauari, hoje Distrito do Janauari
compõe um grupo de famílias que vivem do artesanato e desejam
profundamente mantê-lo vivo tanto em suas vidas como nas vidas dos
visitantes.
As atividades realizadas pelos comunitários, que vão desde as
domésticas (como fazer farinha, tratar um peixe ou ordenhar uma cabra, por
exemplo) até as atividades artesanais são alternativas criativas e ao mesmo
tempo incomuns aos olhos daqueles que ainda não tiveram a oportunidade de
partilhar de tal experiência.
Por ser banhada pelo Rio Negro, o que diminui a incidência de mosquitos
hematófagos, a comunidade possui as características ambientais adequadas à
receptividade dos turistas.
Além das belezas e atividades oferecidas pelo dia-a-dia dos comunitários,
a própria floresta nos convida a parar um pouco da nossa rotina e contemplar o
nascer ou pôr do sol na beira de um lago.
Em Janauari, é possível ir de lancha ou de rabeta aos igapós, focar
jacarés à noite, pescar seu próprio peixe, visitar pequenas ilhas e praias,
caminhar em trilhas terrestres e alagadas por passarelas suspensas, assim
como também é possível ir ao encontro das águas.
E mais, na fotografia abaixo observamos o que todos os dias os
comunitários avistam: uma sutil brincadeira das nuvens formando um encontro
das águas no céu, mostrando o quão imprevisível e bela pode ser a natureza
aos olhos daqueles que estão preparados para ver e reconhecer beleza onde
outros só avistam o comum.
90
Fonte: Silva, 2012
91
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96
APÊNDICE 01
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E
HOTELARIA – MESTRADO ACADÊMICO – MINTER / UNINORTE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Prezado Sr (a):
Estamos convidado(a) a participar, como voluntário (a) em uma pesquisa
acadêmica da Mestranda Ana Paula Silva e Silva, que neste momento cursa o
Mestrado em Turismo e Hotelaria da UNIVALI (MINTER / UNINORTE) sob à
orientação da Prof. Dra. Yolanda Flores e Silva.
Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer
parte do estudo, rubrique todas as folhas e assine ao final deste documento,
com as folhas rubricadas pelo pesquisador, e assinadas pelo mesmo, na última
página. Este documento está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do
pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de
forma alguma.
A presente pesquisa tem como tema “JANAUARI: A PSICODINÂMICA
LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O
TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA”. E tem como objetivo geral analisar a
psicodinâmica laboral da população do Distrito de Janauari para a
organização e autogestão de empreendimentos turísticos de base comunitária.
Para conseguirmos os dados relativos a este objetivo precisaremos com o seu
auxílio de:
1. Descrever a história da comunidade e do foco laboral artesanal de produção
que sustenta economicamente as famílias da localidade;
2. Caracterizar o nível de organização comunitária [associações e cooperativas
existentes] para a autogestão de empreendimentos turísticos de base
comunitária;
3. Identificar as tendências, expectativas e possibilidades de serviços e
97
produtos turísticos [ligados a produção artesanal] que possam ser ofertados a
turistas e visitantes;
4. Analisar se as expressões artesanais locais poderiam ser o foco chamativo
de turistas e visitantes;
No intuito de participar da pesquisa o senhor(a) ter alguns pré-requisitos
como: Ser morador da comunidade de Janauari; Trabalhar diretamente com
artesanato seja no beneficiamento de matéria prima, na confecção ou na venda
do artesanato; Ter idade maior que 17 anos e querer participar da pesquisa.
Caso a decisão seja positiva haverá com seu consentimento a possibilidade de
registro fotográfico ou de gravação em áudio as entrevistas e visitas.
Por ser uma pesquisa de cunho psicossocial, apresenta possibilidades
baixas de provocar prejuízos psicossociais ao pesquisado visto que não busca
investigar assuntos sigilosos ou de caráter polemizador do mesmo.
Como benefícios decorrentes da participação, o senhor(a) estará
contribuindo para o engrandecimento científico do tema da pesquisa bem como
estará abrindo caminho para mais estudos na área e na comunidade os quais
poderão trazer os melhoramentos que a comunidade por ventura possa vir a
necessitar.
Todos os participantes da pesquisa, sejam pessoas físicas ou empresas,
terão suas individualidades resguardadas em todo o processo e após a
pesquisa ser concluída. O período de participação incluirá apenas os dias das
visitas técnicas que ocorrerão ordinariamente duas vezes por mês durante os
meses de agosto a novembro de 2011 e fevereiro a abril de 2012.
Os participantes da pesquisa são livres para retirar seu consentimento de
participação em qualquer momento da pesquisa e sob forma alguma será
prejudicado em qualquer aspecto.
Nome do Pesquisador: Ana Paula Silva e Silva
Assinatura do Pesquisador:
98
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO
Eu,
, RG
, CPF
abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo
como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os
procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios
decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à qualquer penalidade
ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento.
Local e data:
Nome:
Assinatura do Sujeito:
Telefone para contato:
Pesquisador Responsável: Ana Paula Silva e Silva
Telefone para contato: (92) 84139782
Pesquisadores Participantes:
Telefones para contato:
99
APÊNDICE 02
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E
HOTELARIA – MESTRADO ACADÊMICO – MINTER / UNINORTE
ROTEIRO DE ENTREVISTA, OBSERVAÇÃO E LEITURA DE DOCUMENTOS
1. Dados Relacionados aos Informantes:
1.1. Nome,
1.2. Idade,
1.3. Local de Residência,
1.4. Atividade Desenvolvida;
1.5. Dados Gerais sobre suas ações laborais e associativas na comunidade;
2. Dados oficiais do IBGE e outras instituições privadas e públicas sobre o
desenvolvimento populacional econômico local;
3. Dados relacionados aos aspectos históricos e geográficos da comunidade;
3.1. A chegada dos primeiros moradores na comunidade
3.2. Moradores nascidos na comunidade ou de outras localidades.
3.3. Comunidades parceiras no fornecimento de matéria prima.
3.4. A logística para a busca de matéria prima em outras comunidades e no
entorno de São Pedro do Janauari.
4. Dados relacionados às organizações comunitárias públicas e privados;
4.1. Associações comunitárias.
4.2. Serviços públicos e privados da comunidade.
4.3. Relacionamento e comunicação comunidade/Iranduba.
5. Dados relacionados à organização laboral da comunidade;
5.1. Divisão do trabalho por família.
5.2. Produtos confeccionados por família.
5.3. Idade de início das atividades laborais.
5.4. Quantidade de pessoas por família envolvidos com artesanato.
6. Dados relacionados às potencialidades turísticas locais.
6.1. A percepção de quais seriam outras atividades turísticas além da
visitação espontânea na comunidade.
6.2. A percepção do turismo de base comunitária como alternativa para a
comunidade de Janauari.
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univali programa de pós - graduação stricto sensu em turismo e