1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E HOTELARIA - MESTRADO ACADÊMICO MINTER / UNIVALI / UNINORTE JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA MANAUS/AM 2012 2 ANA PAULA SILVA E SILVA JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA Projeto de Pesquisa apresentado em qualificação no Programa de Pós Graduação Stricto sensu em Turismo e Hotelaria - Mestrado Acadêmico / MINTER – UNINORTE como exigência parcial para à obtenção do título de Mestre em Turismo e Hotelaria. Orientadora: Profª. Drª. Yolanda Flores e Silva 2012 3 ANA PAULA SILVA E SILVA .JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA Proposta de pesquisa apresentada a banca examinadora abaixo em exame de qualificação e defesa no Programa de Pós - Graduação Stricto sensu em Turismo e Hotelaria - Mestrado Acadêmico da UNIVALI / MINTER / UNINORTE. Profª. Drª. Yolanda Flores e Silva Orientadora - UNIVALI / MTH - MINTER / UNINORTE Prof. Drª Thaise Guzzatti Examinador externo – USP / Leste Prof. Dr. Paulo dos Santos Pires Examinador - UNIVALI / MTH - MINTER / UNINORTE 4 SILVA, A. P. S. .JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA. Manaus, 2012, 100f. Dissertação (Mestrado em Turismo e Hotelaria). Programa de Pós – Graduação Stricto sensu em Turismo e Hotelaria / Universidade do Vale do Itajaí. Manaus / Balneário Camboriú: MINTER - UNIVALI, 2012. Orientação: Prof. Dra. Yolanda Flores e Silva RESUMO Nesta dissertação abordaremos através de uma metodologia qualitativa como a psicodinâmica laboral pode contribuir para a consolidação do turismo de base comunitária gerido pelos moradores da comunidade de Janauari no Município de Iranduba/AM. A pesquisa contará com observação participante, entrevistas semi-abertas e visitas técnicas à comunidade utilizando referências da antropologia, do turismo e da psicologia como base teórica para a elucidação dos fenômenos que envolvem essa união. Espera-se portanto contribuir com a comunidade resgatando suas raízes históricas e tornando essa pesquisa de profunda utilidade social e humana aos comunitários. Palavras Chaves: Turismo. Comunidade. Psicologia. SILVA, A. P. S. e. JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA (Janauari: The Labor Psychodynamic Of Artisans In A Proposal Of Dialog With Community-Based Tourism). Manaus, 2012, 100f. Dissertation (Master’s Degree in Tourism and Hotel Management). Postgraduate Stricto sensu Program in Tourism and Hotel Management/University of Vale do Itajaí. Manaus/Balneário Camboriú: MINTER - UNIVALI, 2012. Supervisor: Prof. Dr. Yolanda Flores e Silva ABSTRACT Using qualitative methods, this dissertation looks at how the labor psychodynamic can contribute to the consolidation of community-based tourism generated by inhabitants of the community of Janauari in the Municipality of Iranduba/AM. The research includes participant observation, semi-open interviews and technical visits to the community, using references from anthropology, tourism, and psychology as the theoretical basis for elucidating the phenomena involved in this union. It is hoped that this work will help promote the historical roots of the community, giving this research great social and human utility for the community. Keywords: Tourism. Community. Psychology. 5 LISTA DE ILUSTRAÇÕES ILUSTRAÇÃO 01: Lógica capitalista e Ecodesenvolvimento 24 ILUSTRAÇÃO 02: Formação da Identidade 50 ILUSTRAÇÃO 03: Média Etária de Início e Término do Desenvolvimento Humano 55 ILUSTRAÇÃO 04: Polos Turísticos do Amazonas 56 ILUSTRAÇÃO 05: Percurso Fluvial Manaus/Janauari___________________ 61 LISTA DE TABELAS TABELA 01: Desenvolvimento Moral TABELA 02: Desenvolvimento Laboral TABELA 03: Matéria Prima e Produto Final 52 53 66 LISTA DE GRÁFICOS E FLUXOGRAMAS FLUXOGRAMA 01: Relações de Reciprocidade Entre as Pessoas e a Comunidade 46 GRÁFICO 01: Atividades Laborativas dos Moradores da Vila de Janauari – Iranduba/AM 62 FLUXOGRAMA 02: Cadeia de Venda de Sementes Beneficiadas 68 FLUXOGRAMA 03: Modelo Fenomenológico 77 LISTA DE FOTOGRAFIAS FOTOGRAFIA 01 – Estradas retas para Janauari FOTOGRAFIA 02 – Estradas com depressão para Janauari FOTOGRAFIA 03 – Peças produzidas em Janauari FOTOGRAFIA 04 – Carrancas FOTOGRAFIA 05 – Flechas decorativas FOTOGRAFIA 06 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari FOTOGRAFIA 07 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari FOTOGRAFIA 08 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari FOTOGRAFIA 09 – IX Festival Cultural do Artesanato de Janauari FOTOGRAFIA 10 – Retorno da antiga trilha do artesanato 59 60 63 65 74 82 83 83 83 89 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 07 1.1 O CONTEXTO DO ESTUDO 07 1.2 PROBLEMA 11 1.3 OBJETIVOS 11 1.3.1 Geral 12 1.3.2 Específicos 12 1.4 METODOLOGIA 13 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 18 2.1 O Turismo de Base Comunitária 18 2.2 Economia Solidária em Comunidades 27 2.3 A Psicologia Comunitária: Conceitos e Principais Aspectos 40 2.4 A Formação da Identidade Social e a Psicodinâmica do Trabalho 48 3 OS DISCURSOS: UMA ANÁLISE DOS DADOS APRESENTADOS 56 3.1 O Município de Iranduba e o Distrito de Janauari ______________ 56 3.2 Caracterização das Atividades Econômicas e Laborais de Janauari 61 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICES 1. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 2. ROTEIRO PAR A COLETA DE DADOS ATRAVÉS DE ENTREVISTA 86 7 1 INTRODUÇÃO 1.1 O Contexto do Estudo Desde a Belle Epoque, período histórico da cidade de Manaus que vai de 1890 a 1920, onde o maior segmento de mercado concentrava a exportação de goma látex comumente chamada de borracha, até as datas atuais, o Estado do Amazonas cresceu e se desenvolveu em vários aspectos. Devido a esse momento histórico de abertura do Amazonas para o mundo, as identidades amazônicas foram se misturando às europeias, às andinas e às identidades de outras regiões do próprio Brasil. Com os investimentos no estado e o crescimento das vendas e consumo de produtos da região, Manaus principalmente, tem “a partir de 1890 seu primeiro grande surto de urbanização, isto graças aos investimentos propiciados pela acumulação de capital, via economia agrária extrativista-exportadora, especificamente a economia do látex.” (DIAS, 1999, p.19). Durante todo o passar da história, aquelas características ditas estrangeiras incorporaram-se ao modo de viver e pensar do povo amazônico levando seus descendentes a crer nessas características como sendo prioritariamente nativas da região. O que era estrangeiro então tornou-se nativo. No decorrer do processo de transformação de Manaus em capital da economia da borracha, a cidade é tomada por uma onda imigratória muito grande. Não são somente brasileiros de outras regiões que vêm engrossar a população da capital e do interior em busca do trabalho, mas estrangeiros de diversas regiões do mundo que, atraídos pelas notícias que correm de nossas riquezas, sonham com novas oportunidades de aumentar suas fortunas. (SOUZA apud DIAS, 1999, p. 129). E foram muitas as interações ocorridas na Belle Époque, em que o mundo volveu os olhos à floresta amazônica, promovendo-se então a miscigenação genética, cultural e social de nosso povo. Como primogênitos dessa miscigenação, herdamos seus avanços e bem feitorias assim como também 8 suas incertezas, doenças e vícios morais. Desta forma, gerações e gerações começaram a crescer sob uma multiplicidade de hábitos, crenças, suposições, rotinas de como e quando realizar atividades peculiares de cada homem e mulher amazônicos. Ainda as descobertas, desenvolvimento de alternativas aos problemas diários, suas soluções, adaptação ao que é externo e aceitabilidade das tradições já culturais, tudo isso foi passado de pais para filhos, de anciãos para crianças e uma nova forma de se reconhecer e reconhecer o outro foi surgindo na primeira cidade do Brasil a ter luz elétrica: a Paris dos trópicos. (DIAS, 1999). [...] Cada ambiente possuindo representações diferenciadas, denotadas por agentes sociais que possuíam pressupostos culturais distintos. [...] De qualquer forma, gostos, consumo de ideais europeus penetraram na vida manauara, concebendo representações da cidade, expressa na afirmativa de que Manaus modernizara-se, uma suposta imagem de conquista da civilização. [...] Uma das tensões culturais no cotidiano da cidade ocorria quando as mesmas convenções e relações sociais estabelecidas entre as elites eram postas como parâmetros para outros habitantes. (SANTOS JUNIOR, 2007, p.8). Este se configurou um momento no Estado do Amazonas e mais especificamente de Manaus que fez com que ocorresse uma possível perda ou um possível desvirtuamento das identidades e das culturas tradicionais. Tal reflexo acaba por ser transferido aos pequenos municípios em efeito carambola e em nível micro, às pessoas e isto ocorre de tal modo, que as populações não conseguem nem mesmo ter consciência de que seu modo de viver e ver o mundo são parte de sua identidade e que o uso responsável e correto dos patrimônios que possuem pode ser um forte eixo de organização e autonomia. Conforme o Ministério do Turismo – Mtur, ...é necessário garantir a representação da diversidade de produtos existentes na localidade e a integração de todos os envolvidos, além de um posicionamento responsável diante da atividade turística, evitando a descaracterização da cultura local, que teria como consequência a geração de uma atividade turística insustentável. (2011, p. 13). 9 No município de Iranduba, distante apenas 25 km da capital Manaus, é possível sentir este contexto de pensar a vida, esta falta muitas vezes de pertencimento, autoestima, autonomia e organização e planejamento da economia, da educação, da saúde, na perspectiva pensada por Morin (2007, p. 100), “a responsabilidade como conjunto necessita ser irrigada pelo sentimento de solidariedade, ou seja, de pertencimento a uma comunidade”. Contudo, isto pode mudar. A facilidade de acesso e a proximidade de Manaus, que no início deste novo século, repensa sua história e sua importância no país, apresentam-se como característica favorável para o planejamento e a gestão de Iranduba a partir de novos parâmetros, que envolve inclusive o escoamento de seus produtos, a realização de convênios com empresas, instituições de ensino, etc. Em 2005, através de uma parceria entre um ateliê de artesanato e a comunidade, iniciamos nosso contato com a comunidade de São Pedro do Janauri – hoje distrito do município de Iranduba. O artesanato da localidade – principal patrimônio econômico local – se destaca como a base do sustento de muitas famílias e como um potencial atrativo da região para visitantes ocasionais da própria região norte, bem como turistas estrangeiros e nacionais oriundos de outras regiões do Brasil. Naquela época, em nossas visitas a São Pedro do Janauri, foi possível observar as precárias condições locais e a falta de instituições e infraestrutura relacionadas a saneamento, educação, saúde, segurança, logística, entre outras necessidades. De 2005 até este ano de 2012, tempo que visitamos Janauari, tivemos a oportunidade de perceber necessidades em evidência ao ministrarmos, através de um convênio entre uma IES – Instituição de Ensino Superior e o município, aulas para duas turmas de acadêmicos irandubenses. Nas vivências e relatos diários, os munícipes de São Pedro do Janauari apontaram os grandes obstáculos vividos por eles: 1. A dependência logística a um sistema de travessia do Rio Negro através de balsas, já considerado pelos próprios munícipes como pequeno diante de suas necessidades. Para a travessia gastava-se cerca de 40 minutos do atracadouro de Cacau Pirera – outra 10 comunidade às margens do Rio Negro considerada entreposto de Manaus para o Iranduba e demais municípios. Este tempo é somado a mais uma hora e vinte minutos em média da comunidade até Cacau Pirera totalizando em média duas horas para ir e mais duas horas para retornar; 2. A falta de uma indústria de beneficiamento de sementes para a confecção de sua produção de adornos e peças artesanais. Na comunidade havia um galpão destinado ao beneficiamento de sementes, contudo sem o preparo adequado e sem planejamento e rotinas de trabalho, o local nunca foi utilizado em 100% de sua capacidade; 3. A relação de dependência com os ateliês e lojas que vendem produtos artesanais e que impõe preços baixos para a compra em grande escala da produção dos artesãos da comunidade, todavia chegando a colocar 500% de lucro no mesmo produto ofertado aos turistas e demais compradores. Além da relação econômica desproporcional, os comunitários verbalizaram ser alvo de maus tratos, assédio moral e psicológico por parte dos comerciantes que com comentários e prazos curtos ameaçavam deixar de comprar dos artesãos, desvalorizando e desqualificando seu trabalho artesanal; 4. A concorrência com os grandes empresários do ramo turístico. Na região existem muitos empreendimentos turísticos como pousadas, hotéis de uma e duas estrelas, alojamentos de selva de grande porte que acabam por inibir quais quer tentativas de capitação de turistas para a comunidade; Considerando o contexto apresentado e após leituras sobre um segmento do turismo denominado “turismo de base comunitária” acreditamos ser essa uma alternativa que responderá aos anseios da população no que concerne a uma paulatina mudança na estrutura da cadeia produtiva do artesanato. Esta modalidade de turismo, por se organizar a partir da “autogestão sustentável dos recursos patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados 11 pela prestação de serviços turísticos” (MALDONADO, 2009, p. 31) e também por pagar preços justos por produtos oferecidos aos turistas, é a nosso ver, uma perspectiva interessante para a região. Sobre esta economia artesanal associada ao turismo é do que trata esta pesquisa sob a perspectiva da organização de um Turismo de Base Comunitária em Janauari. Toda a produção artesanal de Janauari é escoada para outras comunidades e centros comerciais em outras cidades principalmente Manaus e de lá é revendida a outros comerciantes ou vendida ao consumidor final. Com o Turismo de Base Comunitária, pretendemos o movimento inverso, onde Manaus, demais municípios e outras localidades seriam direcionadas à Janauari, de forma a prestigiar os atributos turísticos da comunidade. 1.2 PROBLEMA O distrito de Janauari localizado no município de Iranduba no Amazonas possui um potencial turístico latente para o turismo de base comunitária face ao seu ecossistema e atividades laborais extrativistas da comunidade relacionadas ao artesanato e outros produtos e serviços que valorizam a identidade cultural local. Contudo, a organização coletiva do município nos é desconhecida e não sabemos se seria possível fomentar este segmento turístico sem antes analisar as formas e graus de participação possíveis da população na indústria do turismo. Nesse sentido, numa pré-avaliação da localidade e da população com quem convivemos por algum tempo, nossa questão problema de pesquisa é: “Qual a psicodinâmica laboral da população da Vila de Janauari para a efetiva participação na organização e autogestão de empreendimentos turísticos de base comunitária que tenham por foco o artesanato produzido na localidade?” 1.3. OBJETIVOS Com as leituras preliminares, e com a delimitação do problema de 12 pesquisa foram formulados os objetivos abaixo: 1.3.1 Objetivo Geral: Analisar a psicodinâmica laboral da população da Vila de Janauari para a estruturação de empreendimentos turísticos de base comunitária. 1.3.2 Objetivos Específicos 1. Identificar o nível de organização comunitária (associações e cooperativas existentes) para a autogestão de empreendimentos turísticos de base comunitária; 2. Descrever a história da comunidade e do foco laboral artesanal de produção que sustenta economicamente as famílias da localidade; 3. Identificar as tendências, expectativas e possibilidades de serviços e produtos turísticos (ligados à produção artesanal) que possam ser ofertados a turistas e visitantes; 4. Analisar se as expressões artesanais locais poderiam ser o foco chamativo de turistas e visitantes; Importante esclarecer que esta sociedade iniciou um legado de cultura voltada ao artesanato que de acordo com o IBGE, “... abriga dois dos principais polos de produção de artesanato do Estado do Amazonas: as comunidades dos lagos de Janauari e Acajatuba” (2011, p,1). Com o desenvolvimento populacional do município, bem como com o acesso facilitado pelo término da construção da ponte que liga Manaus à Iranduba, os processos de abertura para outros lugares do país e do exterior serão rápidos e com excelentes perspectivas se a população puder se autogerir e decidir sobre como atuar economicamente para conseguir suprir suas necessidades. Observamos desta forma uma oportunidade de alavancar os potenciais turísticos da região com o aumento responsável do fluxo de turistas ao município e à Vila de Janauari – através principalmente de um turismo que não seja de massa, que permita um gerenciamento com base comunitária – 13 proporcionando à esta população aumento e geração de trabalho e renda, melhorias nas condições de vida e fortalecimento cultural. Entretanto, sem deixar de pensar na preservação com os recursos naturais oferecidos pela floresta, com a cultura e identidade amazônica, ir mais além: que esta construção possa permitir a interação dos comunitários com o novo, e dele absorver o que há de melhor ao engrandecimento e da comunidade em sua totalidade. 1.4 METODOLOGIA Conforme as teorias epistemológicas focadas na fenomenologia, vê-se como embasamento os pressupostos de Morin (2008, p. 23) na seguinte construção: “ora, o observador que observa, o espírito que pensa e concebe, são eles mesmos indissociáveis de uma cultura, e, portanto, de uma sociedade hic et nunc”. Entendemos esta expressão última, como o aqui e o agora, contextualizado e focado no fenômeno investigado na atualidade ou pelo menos até onde sua relevância estiver. Levamos em conta o fato de que a temporalidade não é preponderante ao fenômeno, seja este social, cultural ou psicológico. Ao contrário, o fenômeno por ser atemporal, pode ser revivido, recordado em qualquer momento da vivência do indivíduo como se tivesse acabado de ocorrer. A lembrança vívida só é possível a partir de sai significância para o indivíduo. Em toda a discussão travada sobre a especialização do saber, a pulverização do ser humano, o que se observa é a necessidade emergente de consolidar a pesquisa como um fenômeno social, científico e biológico onde o pesquisador possa entender que o fenômeno nunca poderá ser um aglomerado de partes unidas ou a decomposição de partículas minúsculas, quase atômicas as quais acabam por gerar outras inúmeras pesquisas de menor relevância (MORIN, 2008). Para tanto, a integralidade do ser humano leva ao pesquisador a compreensão abarcativa dos fenômenos por ele estudados, e, somente entendendo o ser humano como homem integral, é possível chegar ao 14 entendimento deste ser humano visto pela sua própria ótica. Chega-se ao cerne da questão: como se pode estabelecer um saber científico, diante do que Morin (2008) chama de escola ou universidade do luto? A essa questão Husserl (2006) responde que ao entrarmos em contato com nossas vivências e estados de consciência, devemos interagir com estes fenômenos despidos de quaisquer ideias pré-concebidas, crenças, partidarismos, ou teorias que possam limitar a experiência a um fenômeno comumente esperado ou previamente enquadrado no saber científico. Significa como foi dito acima, estar aberto a compreender o ser humano pela sua vivência, pelo seu olhar, ser empático e se permitir experienciar-se. Com esta perspectiva é que construímos o arcabouço bibliográfico documental que gerou esta pesquisa e seus resultados apresentados nos tópicos a seguir. Como estratégia de pesquisa, foi realizado um estudo de caso focado na comunidade de São Pedro do Janauari. Para Yin (2002), neste tipo de investigação a ideia é identificar e analisar certos fenômenos no contexto da vida real. Por isso, realizamos uma exploração e busca de dados documentais e bibliográficos no sentido de responder aos objetivos específicos estabelecidos na proposta sobre a comunidade de Janauari. Conforme Richardson é a exploração um plano de enquete preliminar, onde “tendo algumas ideias sobre o tema, está preocupado em não deixar de fora alguns aspectos importantes que possam contribuir para a explicação do problema” (2008, p.146). Como técnicas de coleta de dados, realizamos um trabalho de campo, em que a mestranda/pesquisadora teve contato direto com as pessoas selecionadas como informantes formais e informais da pesquisa. Nesta etapa da pesquisa, os caminhos de entrada na comunidade se deram através de uma turismóloga parceira que forneceu os contatos do líder do artesanato e do líder da comunidade. A partir dos vínculos iniciais com essas pessoas chave, estas nos apresentaram aos comunitários, fazendo assim o elo de contato entre nós e os artesãos. Para Flick (2009, p. 109) o termo genérico “campo” pode designar uma 15 determinada instituição, uma subcultura, uma família, um grupo específico de pessoas com uma biografia especial, tomadores de decisão em administrações ou empresas e assim por diante. Na coleta de dados, os instrumentos utilizados foram: roteiro para entrevista aberta (ver apêndice 2) e observação do tipo participante. No que concerne à entrevista, Godoi e Mattos conceituam-na não como uma simples narrativa ou registro de verbalizações dos pesquisados, mas sim em um “construto comunicativo, uma forma de produção e interpretação da informação através da análise dos discursos” (2006, p. 306). No concernente à observação participante, Denzin cita esta forma de observação como a mais comum utilizada em pesquisas qualitativas e nos apresenta o seguinte conceito: “a observação participante será definida como uma estratégia de campo que combina, simultaneamente, a análise de documentos, a entrevista de respondentes e informantes, a participação e a observação diretas e a introspecção” (apud FLIK, 2009, p.207). O local de observação e coleta dos dados foi o Distrito de Janauari localizada no Município de Iranduba/AM de junho 2011 até julho de 2012. O universo da pesquisa foi de doze artesãos entrevistados da Vila de Janauari. Vale ressaltar que três artesãos foram entrevistados mais de uma vez, pois a cada ida à comunidade nos traziam mais conteúdo de pesquisa. Os encontros foram realizados todos na própria comunidade, em número de sete, sendo que seis encontros tiveram a duração de quatorze horas de observação e em uma houve pernoite com vinte e quatro horas de permanência na comunidade. As entrevistas foram realizadas nas residências dos comunitários, nas ruas da comunidade nos trajetos de uma residência a outra, nas trilhas no entorno da comunidade, nos ambientes de trabalho dos comunitários (chapéus de palha), em uma rabeta (pequena embarcação com capacidade para até nove pessoas) na antiga trilha fluvial do artesanato, em dois flutuantes e em um restaurante flutuante. Como critérios prioritários para a participação nas entrevistas o comunitário deveria: • Ser morador da comunidade de Janauari; 16 • Trabalhar diretamente com artesanato seja no beneficiamento de matéria prima, na confecção ou na venda do artesanato; • Ter maior idade; • Desejo de participar da pesquisa. Para a análise dos dados foram realizadas análises de discurso a partir dos dados coletados das entrevistas, bibliografias e/ou documentos obtidos no município. Para Bardin apud Richardson: A análise do discurso é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam inferir conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens. (BARDIN apud RICHARDSON, 2008, p. 223). O objetivo da análise do discurso também é o de: demonstrar como, nas conversações, as versões conversacionais dos eventos (memórias, descrições, formulações) apresentadas pelos participantes são construídas para a atividade interativa e comunicativa. (EDWARDS; POTER, apud FLICK 2009, p. 302). Para esta pesquisa, a análise do discurso tenderá a uma análise sociológica que de acordo com Alonso (apud GODOY, 2006, p. 383), não representa apenas: ... uma soma de significados predeterminados de palavras, nem uma análise estrutural de textos realizada em um plano sintático ou semântico, mas uma análise contextual, na qual os argumentos tomam sentido em relação com os atores que os enunciam (ALONSO apud GODOY, 2006, p. 283). A apresentação dos dados comporá o formato de texto descritivo, reflexivo e crítico à luz de referenciais do turismo, da psicologia e do turismo de base comunitária. Importante ressaltar que de acordo com a resolução CNS 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, as pesquisas realizadas com seres humanos 17 seja em que idade ou condição biopsicossocial, deve atender a exigências éticas. Um de seus itens obrigatórios é o termo de consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo constante em apêndice do projeto. No qual os comunitários pesquisados terão uma breve, porém consistente explicação do que se propõe a pesquisa. Nele estão descritos os benefícios e riscos atuais e potenciais que os pesquisados podem sofrer ao serem submetidos mesmo que espontaneamente à pesquisa. Também podemos observar no termo a relevância social da pesquisa com as vantagens na participação na mesma garantindo sua destinação social. Dentre as seções constantes na legislação pertinente, as que mais nos chamam atenção para o propósito da presente pesquisa são aqui citadas: ... l) respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e costumes quando as pesquisas envolverem comunidades; m) garantir que as pesquisas em comunidades, sempre que possível, traduzir-se-ão em benefícios cujos efeitos continuem a se fazer sentir após sua conclusão. O projeto deve analisar as necessidades de cada um dos membros da comunidade e analisar as diferenças presentes entre eles, explicitando como será assegurado o respeito às mesmas; n) garantir o retorno dos benefícios obtidos através das pesquisas para as pessoas e as comunidades onde as mesmas forem realizadas. Quando, no interesse da comunidade, houver benefício real em incentivar ou estimular mudanças de costumes ou comportamentos, o protocolo de pesquisa deve incluir, sempre que possível, disposições para comunicar tal benefício às pessoas e/ou comunidades; [...] p) assegurar aos sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa; [...] z) descontinuar o estudo somente após análise das razões da descontinuidade pelo CEP que a aprovou. (CNS 196/96). 18 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 O Turismo de Base Comunitária Em uma breve retrospectiva, o Turismo de Base Comunitária iniciou-se nos meados do século XIX como afirmam Lima, Ayres e Bartholo: A evolução e o crescimento do TBC foram sendo intensificados na medida em que o modelo de desenvolvimento sócioeconômico predominante no Século XX passou a apresentar sinais incontestáveis de inconsistência, em função da sua lógica de exploração de recursos naturais e humanos e no consumo de bens duráveis e não duráveis. Os discursos em defesa da necessidade de mudanças de paradigmas econômicos, sociais e políticos se avolumaram significativamente a partir de meados do século passado. (2009, p.02). Ainda com os autores supracitados (2009) por volta das décadas de 80 e 90 é que nosso país vislumbrou um aumento nesta modalidade de turismo em que as comunidades autóctones regiam as atividades turísticas em suas localidades. Contudo os autores avançam mais em sua descrição histórica apontando certa preocupação com os conflitos envolvendo as primeiras manifestações de turismo comunitário ao afirmarem que essas começaram a partir de pessoas não moradoras das localidades. Para eles, essas pessoas faziam o uso público de áreas e que por ser de uso público não haveria maiores compromissos com a preservação ou com o uso sustentável. A partir deste ponto, iniciaremos um discurso de conceituação do que é TBC. Esta ação é importante já que a definição nos levará a um encadeamento de ideias necessário ao bom andamento textual. Para Coriolano (2009, p. 282), o turismo de base comunitária compreende um formato de turismo em que as comunidades se organizam de forma associativa e se organizam de modo a ter “arranjos produtivos locais, possuindo o controle efetivo das terras e das atividades econômicas 19 associadas à exploração do turismo”. Em outras palavras, compreende uma modalidade de turismo prioritariamente focado na gestão comunitária dos recursos oferecidos pela localidade. O envolvimento dos moradores, portanto é singular na promoção dos recursos que levem ao desenvolvimento integral da economia, sociedade, cultura e educação, através de suportes de distintas naturezas, incluindo-se aqui as redes e laços de natureza sociais, o que pode significar um desenvolvimento psicossocial da população e como consequência da região em que esta comunidade se insere. Esta modalidade complementa ao que conhecemos como turismo, que segundo Noronha: ... é considerado uma atividade geradora de divisas, pois a entrada, a permanência e o deslocamento dos turistas em uma determinada localidade, despertam para a necessidade de dar condições estruturais às localidades para a implementação de infra-estrutura turística e básica e outros fatores pertinentes à localidade, deixando-a em condições satisfatórias tanto para quem reside, quanto para quem a visita. (NORONHA, 2008, p. 95). Para a WWF - World Wildlife Fund ou Fundo Mundial da Natureza o turismo de base comunitária pode ser “realizado em áreas naturais, determinado e controlado pelas comunidades locais, que gera benefícios predominantemente para estas e para as áreas relevantes para a conservação da biodiversidade.” (2003, p.23). Desta forma, ao adotar o turismo de base comunitária, a comunidade estará realizando uma modalidade turística associada ao desenvolvimento sustentável, preservando suas identidades culturais e naturais de seu espaço. O próprio indivíduo se preserva enquanto pessoa quando percebe que em seu entorno as atividades laborais, de lazer, culturais, voltadas à educação também permanecem preservadas. Para Wagner III e Hollenbeck, (2006), o sentimento de segurança restaura a equidade no sistema como um todo. Vale ressaltar a importância da compreensão do que é espaço, visto que para tal expressão há uma série de conceituações. Adotaremos as conceituações de Santos, a qual afirma que é: 20 A partir da noção de espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações podemos reconhecer suas categorias analíticas internas [...]. É o espaço que, afinal, permite à sociedade global realizar-se como fenômeno. Assim, o espaço, é, antes do mais, especificação do todo social, um aspecto particular da sociedade global. (2006, p. 77). É no compreender seu espaço que a comunidade encontra a sensibilidade para gerir o que é seu, e, a partir desta sensibilidade adquirida através da compreensão refletir sobre a importância de preservar seu patrimônio ecológico, social e cultural. Para Araújo e Gelbecke, “A noção de território é frutífera para o Turismo Comunitário, pois possibilita a valorização de aspectos socioculturais capazes de serem apropriados pelas comunidades autóctones.” (2008, p. 364) Sendo assim, ao exercer a autogestão de seu território, os comunitários ganham uma ferramenta poderosa visto que pode fortalecer os laços sociais e culturais, além de manter a rotina de vida sem maiores alterações. A noção de território passa a priorizar os aspectos relacionais presentes nas sociedades, os aspectos que dão vida ao espaço-lugar passam a fazer parte desta noção conferindo-lhe status interdisciplinar. Essa definição de território pressupõe espaços socialmente construídos na base de uma identificação coletiva dos atores sociais e de uma cultura partilhada. [...] No caso do Turismo Comunitário, reconhecer um território significa verificar suas particularidades em termos de potenciais para um turismo emancipador e educativo, suscetível de apropriação comunitária a partir de um projeto multissetorial capaz de criar vínculos entre determinados setores tradicionais da economia local. (ARAÚJO e GELBECKE 2008, p. 365). Esta linha de pensamento está condizente com Noronha (2008), quando afirma que o turismo é uma atividade complexa não apenas pelas suas interligações verticais e horizontais com a economia, serviço e produtos oferecidos, mas também por unir-se de maneira sustentável ao patrimônio ambiental, cultural na promoção de sua preservação e desenvolvimento. Por sua vez o Turismo de Base Comunitária, é aquele segmento que: Oportuniza que visitantes conscientes – estudantes, professores, pesquisadores, e simpatizantes – tomem contato com temas relacionados à preservação da natureza (sistemas 21 ecológicos) e, ao mesmo tempo, a conservação de modos de vida tradicionais (sistemas sociais). (SAMPAIO, ALVES e FALK, 2008, 253). Para Maldonado apud Bartholo, Sansolo e Bursztyn, Por Turismo Comunitário entende-se toda forma de organização empresarial sustentada na propriedade e na autogestão sustentável dos recursos patrimoniais comunitários, de acordo com as práticas de cooperação e equidade no trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela prestação dos serviços turísticos. A característica distinta do turismo comunitário é sua dimensão humana e cultural, vale dizer antropológica, com objetivo de incentivar o diálogo entre iguais e encontros interculturais de qualidade com nossos visitantes, na perspectiva de conhecer e aprender com seus respectivos modos de vida. (2009, p. 31) Ainda com os autores supracitados, em função da abertura das comunidades para outros arranjos produtivos diferentes dos tradicionalmente impostos pelo mercado, elas têm uma oferta de produtos e serviços que face ao seu formato tradicional, apresenta-se hoje como um produto original com “um selo próprio”, (ibidem, p. 25) combinando atributos originais e autênticos, mas sem perder a sua “alma.” Estes produtos, em muitas destas comunidades é parte de seu patrimônio cultural o que nas situações em que a comunidade implanta o turismo de base comunitária, este subsidia o turismo cultural já que no primeiro: ...a comunidade local possui um importante papel no desenvolvimento do Turismo Cultural, visto que é responsável pela transmissão dos valores culturais, assim como beneficiários de tudo o que a atividade pode proporcionar e os principais afetados pelos seus efeitos negativos. Assim surgem as discussões a respeito do turismo de base local ou comunitário e de todos os benefícios que ele pode proporcionar... (ALMEIDA; BORGES; FIGUEIREDO, 2008, p. 03). Mendes (2006) mostra um posicionamento interessante ao relacionar turismo comunitário e turismo convencional onde o primeiro caracteriza-se como uma reação a não participação de populares no segundo. Para esta autora o turismo de base comunitária acaba por tornar-se um ato de negação que as comunidades demonstram aos grandes 22 empreendimentos padronizados e ao mesmo tempo desprovidos de autenticidade ou identidade com a localidade onde estão inseridos. Na continuidade deste diálogo, Barbosa (2011) relata a necessidade de a comunidade demonstrar uma posição de protagonismo frente ao turismo comunitário valorizando-se culturalmente, reconhecendo sua identidade local e manifestando cuidado, zelo e atitudes de preservação ambiental. Segundo Barbosa (2011, p. 94) “para que o turismo de base local se desenvolva é necessário, em primeiro lugar, que exista a iniciativa dos habitantes, e que valorizem seus saberes e reforcem os poderes endógenos”. Para tanto, Almeida, Borges e Figueiredo abordam a cultura afirmando que: A cultura e, por conseguinte o patrimônio cultural transformouse em “mercadoria turística” devido à percepção de que muitos turistas buscavam conhecer o que era representativo da cultura de cada lugar, além das obras e manifestações consideradas patrimônio e, portanto bem a ser protegido. Deste modo, as peculiaridades locais vêm, cada vez mais, sendo exploradas pela atividade turística [...]. (2008, p. 03). O Ministério do Turismo – MTur coloca que cada um desses conceitos sobre turismo de base comunitária colocados acima, e ainda outros mais dos mais variados autores pesquisadores do assunto podem resumir os seguintes pontos: • • • • • • autogestão; associativismo e cooperativismo; democratização de oportunidades e benefícios; centralidade da colaboração, parceria e participação; valorização da cultura local e, principalmente; protagonismo das comunidades locais na gestão da atividade e/ou na oferta de bens e serviços turísticos, visando à apropriação por parte destas dos benefícios advindos do desenvolvimento da atividade turística. (2010, p. 16 – 17). O turismo de base comunitária de acordo com a percepção de Sampaio, Alves e Falk (2008, p. 254) pode ser dividido em três características onde a primeira consolida-se no fato de que esta modalidade de turismo é pensada “como um projeto de desenvolvimento territorial sistêmico (sustentável) e a partir da própria comunidade” e, portanto a cultura enquanto “mercadoria 23 turística” obtém seu agente de preservação: o próprio povo que partilha dessa cultura seu modo de viver. A segunda característica para os autores supracitados é que pode o turismo de base comunitária ser considerado também um “turismo sustentável”, pois para que seja realmente efetivado necessita de grande e contínua quantidade de amadurecimento ético de quem o pratica e de quem o executa. Nessa segunda característica podemos citar que a ética tem uma relação direta com o que é certo ou errado em determinada situação e uma de suas características mais preciosas seria inspirar o ser humano a realizar atos socialmente adaptados promovendo seu protagonismo enquanto pessoa humana inserido em sociedade (DUBRIN, 2003; MATTAR, 2006; HITT, MILLER &COLELLA, 2006; ROBBINS, 2007; WAGNER III, HOLLENBECK, 2006). A terceira característica consiste na: Convivencialidade que é uma relação social que se interessa pelo outro, pelo diferente, pela alteridade, pela autenticidade, respeitando a simplicidade das comunidades tradicionais, suas rotinas, seu jeito de falar, cantar, dançar, comem entre outros. (Sampaio, Alves e Falk 2008, p. 254). A simplicidade com que as atividades, os artesanatos, o plantio, a colheita, etc., são feitas e o que se faz com esse produto encanta os visitantes que em sai dinâmica conturbada veem certas atividades contemplativas por exemplo como distantes de si. É na simplicidade que se instaura a ordem, o sossego, o sentimento de completude outrora distantes ou até perdidos daqueles que buscam nas localidades mais ermas mais que o turismo, mas um resgate do intangível. Tem-se como intangível principalmente o prazer e os afetos positivos associados à realização da atividade. São duas as preocupações visíveis no turismo de base comunitária residindo na questão socioambiental visto que para haver o crescimento econômico a comunidade vai ter que passar por transformações intensas, bem como permitir a entrada do novo em uma comunidade ‘fechada’ com o mínimo de relação intercultural e na produção associada ao turismo. 24 Estudo realizado pelo Sebrae apurou que existem 117 atividades ligadas à Produção Associada ao Turismo, em diferentes ramos econômicos, nas quais as pequenas empresas terão papel decisivo e serão beneficiadas diretamente em termos de negócios, geração de empregos, desenvolvimento e consolidação no mercado. Integrar a produção associada ao turismo gera benefícios ara todos os envolvidos, pois além dos produtores, os destinos também ganham ao construírem uma oferta mais diversificada, competitiva e interessante aos turistas. [...] De acordo com o Ministério do Turismo define-se a produção associada ao turismo toda e qualquer “produção artesanal, industrial ou agropecuária que detenha atributos naturais e/ou culturais de uma determinada localidade ou região capazes de agregar valor ao produto turístico.” (MTur, 2011, p. 05) Ainda com Ministério, os produtos associados ao turismo são aqueles que estão diretamente ligados à economia da localidade e que devem ser “componentes da atratividade dos destinos, qualificando e diversificando a oferta turística”. (2011, p. 13). Se não houver um planejamento consciente e responsável, esta comunidade poderá como maior risco sofrer vários tipos de degradação de natureza ambiental e social de seus recursos e cultura. Tal planejamento deve ter como principais protagonistas os próprios comunitários e que este pensar ecologicamente correto possa compor sua cultura ser passado aos seus descendentes. Para Sampaio, Carvalho e Almeida (2007) esse discurso polariza-se da seguinte forma: 25 Fonte da Ilustração 01: Adaptado de Sampaio, Carvalho e Almeida (2007) Para estes autores (2007), a maior dificuldade está em se obter a equidade no sistema, pois de um lado as exigências da ótica capitalista determinam que ocorram mudanças nas comunidades no sentido de adequálas ao capitalismo não interessando por quais meios. Por outro lado o eco desenvolvimento tem toda uma crítica à vida economicista e busca modelos menos excludentes de desenvolvimento. O importante neste processo é manter vívido na memória que o turismo de base comunitária não tem apenas um olhar para a comunidade, existe neste formato de turismo uma preocupação com o turista. Como já foi mencionado, o turismo de base comunitário é sistêmico. E sendo assim, tanto o turista necessita do TBC quanto este do turista como numa via de mão dupla. Nesse sentido: Nota, também, que o relacionamento entre os dois sistemas sociais, o nativo e o turístico, muda na medida em que a quantidade de turistas aumenta. Por exemplo, a hospitalidade e a reciprocidade, até o sorriso dos prestadores de serviço, são transformadas em mercadoria, encenadas. O crescimento da quantidade de turistas também leva a que estes deixem de ser individualizados aos olhos dos residentes, que passam a relacionar-se não com a pessoa do turista, mas com o estereótipo predominante no imaginário social local, sobre os mesmos. (BARRETTO, apud PI-SUNYER, 2004, p. 04) Para Barretto (2004) na medida em que a iniqüidade se instaura no sistema, as relações passam por transformações nos menores detalhes. 26 Quando os turistas convencionais visitam uma localidade com Turismo de Base Comunitária podem até achar bonita a cultura dos residentes, contudo, depois de passado um tempo de absorção da mesma, critica-a e compara-a com a sua própria ou com outras conhecidas por ele, mostrando descaso e depreciação com o local e com os nativos. Também é possível ter transformações no sentido inverso, a própria comunidade degradar a localidade turística sem o cuidado e o respeito pelos seus múltiplos patrimônios, porém o pior de tudo no turismo é o desgaste das relações entre turistas e população residente, isto demonstrado através de roubos, informações erradas, falta de cordialidade, descaso com as necessidades do turista, abuso de preços dos produtos ofertados, tudo contrário ao que se considera como hospitalidade e acolhimento. Silva (apud Ross, 2005) revela várias preocupações com relação ao turismo, entre estas cita o desenvolvimento econômico sem planejamento e o deslocamento de pessoas sem avaliação dos seus impactos à vida das pessoas e localidades tradicionais e/ou nativas. Esse impacto humano pode ser uma das causas do aumento dos vícios, incompreensões, descasos, negligências e outros crimes humanos que muitas vezes são velados, sutis, que começam obscurecidos pela falácia do bem tratar, de intenções nobres, etc. Ao se deparar com as mazelas morais que afligem as sociedades, podemos observar que o descaso com o ser humano que necessita de auxílio é visto nas calçadas, esquinas, periferias, etc. A exclusão se impõe como condição de segregação dividindo os que escolheram ter daqueles que não tem escolhas. (SANTOS, 2006). Overing (apud BAIER,1999) aborda a confiança como característica relevante à Antropologia social ao analisar uma comunidade amazônica. Para o autor as estruturas coercitivas geram uma vivência emocionalmente empobrecida chegando a ser suportável apenas pelo fato de que já está incutida na cultura da sociedade em que se encontra. E ao estar incutida, o que é inaceitável para alguns é totalmente normal para outros. Se fizermos uma transposição dessa forma de pensar para compará-la ao turismo convencional e ao turismo de base comunitária de Mendes (2006), chegamos à conclusão de que o turismo convencional assemelha-se mais ao 27 modelo coercitivo demonstrado por Overing e Baier, e o turismo de base comunitária mais semelhante ao modelo da confiança como base de ação. Barretto (2004) também aponta a mesma ideia de polarização entre a percepção do turista e do nativo contextualizando historicamente as reações de descaso e críticas pelo lado do turista assim como de repulsa em algumas sociedades nativas frente aos turistas. Contudo esta também afirma que assim como existem atitudes mediadoras e adaptativas, também existem atitudes de violência evidente na seguinte citação: Casos de hostilidade aberta e de conflito entre moradores locais e turistas, que requereram até intervenção policial, foram comuns na cidade de Florianópolis (Brasil) durante a década de 1990, em que houve uma grande demanda de turismo de sol e praia por parte de turistas de massa provenientes da Argentina. (BARRETTO, 2004, p. 12). É importante, portanto, enveredar pela busca à equidade do sistema, lembrando que esta não é estática e facilmente alcançável, mas um contínuo e um exercício constante. 2.2 Economia Solidária em Comunidades De acordo com Singer, (2002) a permanência do capitalismo como ditame da ordem econômica a tanto tempo, nos faz vê-lo como um procedimento normal. Significa então dizer que ao adotar o capitalismo como norte, buscamos produtos e serviços competitivos e preferimos aquelas culturas que de igual forma adotam o capitalismo como ordem econômica usual. Este mesmo autor crê na importância de se estabelecer um novo modelo econômico que consiga se desvencilhar do capitalismo, “em termos de igualdade, liberdade e segurança para todos os cidadãos”. (p. 111). Conforme Zanin e Gutierrez: A economia solidária é um movimento social que propõe a substituição da matriz econômica sedimentada num sistema de valores baseados no lucro, na acumulação e na competição, por uma outra matriz econômico-produtiva resultante de um sistema de valores centrado no bem-estar social e na 28 cooperação. [...] (2009, p. 155). Para aqueles já habituados a um modelo capitalista e que subtraem dele lucros financeiros para si, é muito distante da sua realidade vivenciar a economia solidária nos moldes que as autoras nos trazem, contudo, para aqueles que vivem sob o julgo de uma ótica capitalista e que por ela são oprimidos, facilmente vislumbram na economia uma alternativa de crescimento econômico e social sem perder a humanidade. Ao contrário, pois para as autoras é através da economia solidária que se há o resgate da exclusão, da opressão e do esquecimento de comunidades e pessoas a elas pertencentes. Para Lechat: O conceito economia de solidariedade aparece pela primeira vez no Brasil em 1993 no livro Economia de solidariedade e organização popular, organizado por Gadotti, onde o autor chileno Luis Razeto o concebe como: (eu cito) ‘uma formulação teórica de nível científico, elaborada a partir e para dar conta de conjuntos significativos de experiências econômicas -...-, que compartilham alguns traços constitutivos e essenciais de solidariedade, mutualismo, cooperação e autogestão comunitária, que definem uma racionalidade especial, diferente de outras racionalidades econômicas. (2007, p. 11). Robbins, Thimothy & Sobral, (2010) demonstram em pesquisa realizada em mais de 10 países que comunidades onde há pouca interação com os grandes centros urbanos têm uma tendência ao cooperativismo e a realizar atividades coletivas. Ao passo que nos grandes centros urbanos, além do individualismo ser mais observado, há uma tendência a competição entre as pessoas que se inicia desde muito cedo. É estimulada nas escolas que como Patto (1990) também afirma que é muito comum na escolarização de crianças a competição ser estimulada tanto pelos professores quanto pelos pais das crianças. E afirma ainda que ao não responder aos padrões socialmente aceitáveis a criança tende a fracassar pouco a pouco. Na comunidade a competição é menos visível e em seu lugar ações mais voltadas ao companheirismo são comuns. A partir de Robbins, Thimothy & Sobral, (2010) chegamos à conclusão que em locais onde a escolaridade e o avanço tecnológico são pequenos, as pessoas são mais voltadas para as 29 pessoas. E através dessas características têm maior proximidade à economia solidária. Sobre as associações, cooperativas e outros agrupamentos que seguem na modalidade da economia solidária, Zanin e Gutierrez (et tal) afirmam que: O novo cotidiano de trabalho desses grupos, pautado no trabalho coletivo, democrático e autogestionário, apresenta demandas de natureza diversa daquela que a formação e a prática vividas em contextos de trabalho e de vida forjados na e pela economia convencional capitalista. (2009, p. 46) Conforme Patto (1990) esses mesmos grupos têm uma história de subordinação e fracassos escolares (evasão, baixo rendimento, reprovações) que ao longo da história de cada um foram colaborando para o aumento dos desafios de emancipação da dinâmica capitalista. E mais, para que se saiba o que é riqueza, o seu contrário se faz necessário, a pobreza. Para se saber o que é pertencer a uma sociedade, se faz necessário seu inverso, a exclusão. Para se saber quais padrões são socialmente aceitos, no capitalismo, diríamos dicotômico, necessitamos daqueles que vivem às margens sem cidadania e oprimidos pelo sistema vigente. É como se os indivíduos na sociedade já viessem predeterminados para ser algo. Não o que querem, mas sim predeterminados a exercer um papel dito e imposto por uma sociedade que se diz auto suficiente, e que na verdade aliena seus indivíduos para manter sua dinâmica de opressão e exclusão. Pois como dissemos, só sabemos quem é o rico, se houver o pobre. Sawaia em consonância com Patto afirma que: A educação determinaria igualmente um estilo cognitivo que utiliza clichês e estereótipos, de maneira rígida, generalizandoos a todas as pessoas de uma mesma categoria, sem levar em conta as diferenças individuais, e não é capaz de mudá-los na presença de informações novas ou contraditórias. (2001, p. 57). Essa educação, não se remete apenas a educação formal, mas àquela passada informalmente de pai para filho, que aleija, discrimina, exclui os menos favorecidos fazendo os pequenos acreditarem o quão necessária é a pobreza à 30 sociedade, e que estes menos favorecidos exercem mais um papel na mesma. De um lado, sutilmente, com gestos, comentários, conclusões precipitadas e aos poucos, crianças são educadas a incluir e deseducadas passando assim a excluir aqueles que se mostram financeiramente aquém de seus padrões na sociedade. Do outro, o pobre, o excluído, o oprimido e o desempregado acabam por se acostumar a ocupar esse papel social e se conformam com tal situação. Os motivos pelos quais um indivíduo se conforma, podem ser explicados desde a psicopatologia à antropologia, mas o mais preponderante aqui é entender que sempre há um ganho seja financeiro, moral, afetivo ou social em se conformar com um papel de vida (ROBBINS, THIMOTHY & SOBRAL, (2010). Sendo assim, a pouca educação e ainda mais associada a baixa qualidade nesta educação, gerações inteiras de indivíduos constituíram-se não como seres pensantes, mas como indivíduos que nasceram e cresceram ouvindo seus pais firmarem neles a ideia de que deveriam ser bons trabalhadores. Não foi passada a ideia de que esses indivíduos poderiam ser independentes e empreendedores. Daí segundo Zanin e Gutierrez (2009) teríamos a explicação para a dificuldade que certos grupos de camadas financeiramente mais baixas da sociedade têm, em quebrar com o paternalismo quer seja este governamental quer seja empresarial visto que muitos ao se empregarem e permanecerem durante anos a fio estagnados nas empresas sempre esperam ser vistos como trabalhadores competentes que merecem um aumento ou promoção. De acordo com as autoras, essa concepção já está introjetada na cultura popular dos menos favorecidos e é mais observada naqueles com menos educação formal. Para Gaiger: O modo de produção capitalista nasce da reunião de quatro características da vida econômica, até então separadas: a) um regime de produção de mercadorias, de produtos que não visam senão ao mercado; b) a separação entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores, desprovidos e objetivamente apartados daqueles meios; c) a conversão da força de trabalho igualmente em mercadoria, sob forma de trabalho assalariado; d) a extração da mais-valia, sobre o trabalho assim cedido ao detentor dos meios de produção, como meio para a ampliação incessante do valor investido na produção; a mais-valia é a finalidade direta e o móvel 31 determinante da produção, cabendo à circulação garantir a realização do lucro e a reposição ampliada do capital. O capitalismo, portanto, está fundado numa relação social, entre indivíduos desigualmente posicionados face aos meios de produção e às condições de posta em valor de sua capacidade de trabalho. (2003, p. 187-188). E esta receita ensinada e reforçada em muitos países classificados como em desenvolvimento, e, o Brasil é um deles, tem fundamentado formatos que não apenas causam injustiças sociais como por exemplo a exclusão social mas também são necessários para manter o sistema vigente. Sawaia colabora aqui com algumas construções sobre a exclusão que devem ser consideradas: ... abordar a exclusão social sob a perspectiva éticopsicossociológica para analisá-la como processo complexo, que não é, em si, subjetivo nem objetivo, individual nem coletivo, racional nem emocional. É processo sócio-histórico, que se configura pelos recalcamentos em todas as esferas da vida social, mas é vivido como necessidade do eu, como sentimentos, significados e ações. [...] É processo sutil e dialético, pois só existe em relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é coisa ou um estado, é processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única forma e não é uma falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrário, ele é produto do funcionamento do sistema. (2001, p. 8-9). Zanin e Gutierrez (2009) e Sawaia (2001) colocam que o pobre não é movido pela fome e pelo frio ou quaisquer necessidades básicas, mas ao ser excluído ou ao se perceber excluído, junto com ele são excluídos seus sonhos, seus desejos, seus anseios, suas necessidades físicas, psicológicas, morais e éticas, seus ideias e crenças sobre si e sobre o mundo. São excluídos no tempo e no espaço, no físico e no mental. Em Janauari a exclusão mais observada além da espacial, foi a ética e política. Lá os artesãos ainda permanecem sob o julgo do capitalismo voraz que faz suas imposições de mercado e dá uns poucos ganhos financeiros e quase nada de ganhos relacionados ao reconhecimento de seu labor e de sua cultura expressa nesse labor, tanto que nem conseguem caracterizar as peças produzidas como artesanato de Janauari. Para tanto as autoras supracitadas nos trazem a economia solidária como 32 uma ferramenta alternativa para a inclusão desse homem em si e no ambiente que o circunda. Elas conceituam a economia solidária como sendo: um movimento social que propõe a substituição da matriz econômica sedimentada num sistema de valores baseados no lucro, na acumulação e na competição, por uma outra matriz econômico-produtiva resultante de um sistema de valores centrados no bem estar social e na cooperação. (2009, p. 155). Ainda com as autoras (2009), tais movimentos sociais não são embasados unicamente pela vertente econômica, mas também pela vertente psicossocial a qual influencia com a subjetividade dos sujeitos aliada à interdependência destes para aí sim leva-los a tomadas de decisões. A atuação da psicologia, em particular, foca seu olhar para a subjetividade singular e coletiva dos associados, bem como para a formação do processo grupal, necessário para configurar uma experiência com o objetivo de gerar trabalho e renda de maneira autogestionária e solidária (2009, p. 121). Para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), Wagner III e Hollenbeck, (2003) e Chiavenato (2006) são dois, os modelos de tomada de decisões sendo: 1. Modelo de decisão racional em que os gerentes decidem buscando a maximização da utilidade de produtos ou serviços. Sendo assim, os gerentes conseguem vender se produtos ou serviços pelo maior preço com o mínimo de custo e, é exatamente por essa ótica que os comerciantes que compram diretamente dos artesãos veem o artesanato de Janauari. Segundo os autores, esse modelo leva à competição e concorrência entre os que participam dessa segmentação de mercado, contudo, deve ser usada com cautela, visto que preda tanto quem fornece quanto quem compra, beneficiando apenas o intermediário que aqui no caso são os comerciantes que revendem as peças artesanais. 2. Modelo de decisão gerencial em que os gerentes tomam suas decisões baseados na acomodação da melhor oferta. Por este modelo, o melhor preço para o produto ou serviço nem sempre é o 33 mais alto, pelo contrário, é aquele preço em que tanto quem oferta tem sua margem de lucro quanto quem compra sente equidade na compra na certeza que fez uma aquisição justa. E para que as relações comerciais de Janauari com Manaus possam migrar para esta forma de decidir, de acordo com os autores, ou uma negociação aberta e bem estabelecida entre as partes deve ocorrer, ou, no pior dos casos, o mercado deverá desgastar-se com a relação, criar uma ruptura para que se reinicie o sistema liberto dos vícios relacionais do passado. A diferença entre esses dois modelos segundo os mesmos autores acima é que o modelo de decisão racional compreende o que os gerentes devem fazer e o modelo de decisão gerencial compreende o que os gerentes realmente fazem. Singer prossegue sua construção abordando a competição dizendo: A competição é boa de dois pontos de vista: ela permite a todos nós consumidores escolher o que mais nos satisfaz pelo menor preço; e ela faz com que o melhor vença, uma vez que as empresas que mais vendem são as que mais lucram e mais crescem, ao passo que as que menos vendem dão prejuízo e se não conseguirem mais clientes acabarão por fechar. (2002, p. 07). Uma nota importante deste autor (2002) é que na atualidade não há concorrência no mercado capitalista visto que o mesmo é dominado por oligopólios e que esta concorrência é visível apenas no mercado varejista. E a partir desta ótica bipolarizada entre os que vendem e os que abrem falência observamos o crescimento da desigualdade econômica nos mais diversos ambientes empresariais, que vão desde as empresas familiares até as grandes multinacionais. Para Araújo e Gelbecke, A crise econômica envolvendo o petróleo nos anos 1970, e as discussões sobre os custos socioambientais das dinâmicas de crescimento, ancoradas na produção industrial e tecnológica, promoveu discussões em torno de outro modelo de desenvolvimento, capaz de diminuir as desigualdades entre territórios e levar em conta a relação entre as dimensões social, econômica e ambiental. (2008, p. 360). 34 De acordo com os autores acima a competição desleal e sua consequência: a crise econômica mundial acabou por instalar uma série de bulas econômicas, ditadas pelos países nomeados desenvolvidos por muitos analistas aos países nomeados menos desenvolvidos ou em desenvolvimento. Tal crise é abordada por Santos (2000) com mais profundidade quando o autor afirma ser o consumo voraz o verdadeiro fundamentalismo da crise e que este consumo divide a população mundial em duas: Aqueles que não comem e aqueles que não dormem por medo das reações daqueles que não comem. Max-Neef, aponta alguns indicadores que podem elucidar a gênese da crise na América Latina: En lo politico, la crisis se ve agudizada por la ineficacia de las instituciones politicas representativas frente a la accion de las elites de poder financiero, por la internacionalizacion creciente de las decisiones politicas y por la falta de control que la ciudadania tiene sobre las burocracias publicas. Contribuyen, tambiin, a la configuracion de un universe politico carente de fundamento etico, la tecnificacion del control de la vida social, la carrera armamentista y la falta de una cultura democratica arraigada en las sociedades latinoamericanas. En lo social, la creciente fragmentacion de identidades socioculturales, la falta de integracion y comunicacion entre movimentos sociales, la creciente exclusion social y politica y el empobrecimiento de grandes masas, han hecho inmanejables los conflictos en el seno de las sociedades, a la vez que imposibilitan las respuestas constructivas a tales conflictos. En lo economico, el sistema de dominacion sufre actualmente cambios profundos, donde inciden de manera sustancial la mundializacion de la economia, el auge del capital financiero con su enorme poder concentrador, la crisis del Estado de Bienestar, la creciente participacion del complejo militar en la vida economica de los paises, y los multiples efectos de las sucesivas oleadas tecnologicas en los patrones de produccion y consumo. (1986, p.09). O primordial na fala de Santos é perceber que os países denominados desenvolvidos estão preocupados apenas em evitar que a crise econômica imposta por eles aos países denominados menos desenvolvidos ou em desenvolvimento - não chegue em suas fronteiras. Ao abrir espaço para tal discussão em fóruns mundiais, por exemplo, de quais medidas econômicas seriam mais eficazes aos países em crise, não haveria, portanto, uma ação de solidariedade, mas uma ação baseada em um olhar unilateral o qual só vê as condições econômicas dos primeiros países. 35 Para Singer, A solidariedade na economia só pode se realizar se ela for organizada igualitariamente pelos que se associam para produzir, comerciar, consumir ou poupar. A chave dessa proposta é a associação entre iguais em vez do contrato entre desiguais. Na cooperativa de produção, protótipo de empresa solidária, todos os sócios têm a mesma parcela do capital e, por decorrência, o mesmo direito de voto em todas as decisões. [...] Ninguém manda em ninguém. E não há competição entre os sócios: se a cooperativa progredir, acumular capital, todos ganham por igual. (2002, p.09). Esta relação de mutualidade entre os sócios na empresa solidária é chamada por interdependência para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), Wagner III e Hollenbeck, (2003) e Chiavenato (2006). De acordo com estes autores a interdependência parte do pressuposto que ambos dependem mutuamente. Comparemos então dois modelos de interdependência sendo o primeiro baseado no que já existe no capitalismo e o segundo um modelo baseado na economia solidária: O Modelo Agrupado como adequação teórica a uma empresa única e exclusivamente capitalista, em que há geração de desigualdades e iniquidades sociais nas relações. Neste modelo de interdependência é possível observar a presença de um líder ao qual os funcionários prestam subordinação e conformidade diante das decisões tomadas. O Modelo Inclusivo como adequação teórica a uma empresa em que todos dependem de todos em suas atividades diárias, todos compartilham de angústias, acertos e desacertos organizacionais. Não há a presença evidente de um líder, pois de acordo com os autores acima, não há essa necessidade já que todos assumem a responsabilidade de levar a frente às atividades. Para visualizarmos melhor, na figura abaixo é possível observarmos como seria a interdependência agrupada e a inclusiva: 36 Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), Wagner III e Hollenbeck, (2003) e Chiavenato (2006), adaptado pela pesquisadora. Em um agrupamento inclusivo, nomeado como solidário por Baró (1989, p. 15) consiste: “El hecho de que todo grupo canalice unas necesidades o intereses no quiere decir que cada grupo responda a las necesidades o intereses de aquellas personas que lo componen.” Para tanto, cabe ao grupo a decisão da interdependência que está mais de acordo com suas necessidades. Baró apud Zanin e Gutierrez afirmam que: a práxis do grupo está relacionada aos condicionamentos da história e às condições da realidade social no qual este se insere. A organização do grupo é delimitada pela definição clara e objetiva de pessoas para realizar as funções e as tarefas do trabalho grupal, sendo este fator fundamental para a sua consolidação ou não. (2009, p. 123). De acordo com Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), Wagner III e Hollenbeck, (2003), Chiavenato (2006) e Baró (1989) o poder e a conformidade ao poder surge nos agrupamentos onde a necessidade grupal ora seja de um líder ora seja de liderados. Para esses autores só há liderança no momento em que há a necessidade de um líder e este só exercerá poder na medida em que o grupo assim o permitir. Desta forma, o fenômeno do poder está condicionado ao fenômeno da liderança e este por sua vez condicionado ao fenômeno da formação grupal. 37 Vejamos a liderança autoritária, por exemplo, onde um grupo que se apresenta conformado em aceitar essa modalidade, afirmam os autores supracitados, não necessariamente é considerado um grupo que vive na opressão posto que mesmo em uma liderança autoritária há ganhos para ambas as partes. No momento em que apenas uma das partes se beneficia – e daí se faz presente a opressão – a iniquidade se instala no sistema e este se desfaz. Mas se mesmo em uma liderança autoritária, o líder manda e os liderados obedecem sem questionar, ou porque não conhecem a possibilidade de reivindicar seus direitos ou porque não se sentem tratados com injustiça, a liderança permanece e o sistema funciona naturalmente. Os autores concluem que só há liderança se houver liderados que a aceitem e se conformem ao estilo de comando vigente. Os benefícios recebidos por um determinado líder ou grupo líder conforme Baró apud Zanin e Gutierrez “aparecem nas suas relações concretas com outros grupos e com a sociedade e o seu fortalecimento está diretamente relacionado à sua capacidade de dispor de recursos materiais, culturais e humanos”. (2009, p.123). As autoras afirmam não ser fácil “construir a organização autogestionária de um grupo, pois os trabalhadores trazem consigo, internalizado, o modelo de produção tradicional, do capitalismo” (2009, p. 124). E como já foi mencionado, essas internalizações muitas vezes estão enraizadas de tal forma que se passam muitos anos até que uma mudança significativa seja percebida. Só que para elas a economia solidária quebra este paradigma, pois todos ganham igualitariamente pelo trabalho realizado e assim deixam de ser subalternos para ser sócios. Com esta mudança de percepção, o trabalhador não ganha apenas sua independência financeira, mas sua autoestima cresce, seu autoconceito de torna positivo, sua forma de ver o mundo ganha um vislumbre de que os sonhos são possíveis e de que há saída para aqueles que padecem com a exclusão e opressão. Para Sawaia, “as mudanças dos nexos têm origem no social e no coletivo, vividos como intersubjetividade e medidas pelos significados sociais”. (2001, p. 38 12). Desta forma, as mudanças de uma economia puramente financeira para uma economia solidária, acontecerão na medida em que estas mudanças se deem do indivíduo para o grupo, do grupo para a sociedade e na medida em que todo o sistema se retroalimente iniciando novamente este ciclo. A atuação da psicologia no processo de incubação, em conjunto com as demais áreas, objetiva diminuir o sofrimento ético-político dos trabalhadores mediante a geração de trabalho e renda, com dignidade e solidariedade, potencializando-os para a conquista da cidadania. (2009, p. 122). Sendo assim a intersubjetividade é característica marcante no vivenciar as comunidades e suas rotinas, as ciências devem trabalhar interdisciplinares para conseguir abarcar o mundo fenomênico que essas rotinas exprimem nas comunidades, e entender que tudo o que for feito não é para a comunidade, mas feito com a comunidade. De acordo com Sawaia, Nenhuma ação é desencadeada sem uma base emocional. Agir não é apenas fixar um objetivo racional. É colocar em funcionamento um poder de imaginação. Cidadania é consciência dos direitos iguais, mas esta consciência não se compõe apenas do conhecimento da legislação e do acesso à justiça. Ela exige o sentir-se igual aos outros, com os mesmos direitos iguais. Há uma necessidade subjetiva para suscitar a adesão, a mobilização, tanto quanto condições para agir em defesa destes direitos (1994, p. 152). É neste tom que o turismo lança mão de outras áreas do conhecimento e ao beber em outras ciências se torna uma alternativa para as localidades rurais, ribeirinhas e porque não as urbanas também, no sentido de contribuir para a conquista da cidadania que as autoras supracitadas colocam como consequência da união comunidade/ciência. Ainda mais na atualidade onde a crise não é só financeira como afirma Max-Neef (1986), mas também social, humana e ético-política como afirma Baró (1989) e Sawaia (2001). Esta abarca vários aspectos importantes do homem, “abrange múltiplas afecções do corpo e da alma que mutilam a vida de diferentes formas” (p. 121). 39 Araújo e Gelbecke afirmam que: O enfoque de Turismo Comunitário, [...], tem como fundamento o reconhecimento da crise socioambiental contemporânea, implicando urgência da reflexão sobre os estilos de vida vigentes e sua relação com a base de recursos naturais (2008, p.362). Compreender a mobilidade e abrangência da crise é de fundamental importância, pois quando se une a economia ao turismo sob essa ótica, percebe-se o quanto o quanto há de interligação entre todos os envolvidos no processo do TBC. Para os autores a pouco citados, É justamente no setor terciário, onde se insere a atividade turística, que se revela o potencial do Turismo Comunitário para a geração de emprego e renda, por se caracterizar como uma proposta que visa integrar outros setores produtivos – preferencialmente os associados às formas solidárias e éticas de economia – e estar ajustado às necessidades socioambientais de curto e longo prazo. (ARAÚJO e GELBECKE, 2008, p. 363). Na comunidade de Janauari, é observável que apesar de haver certa contenção entre o que é Manaus e o que é Janauari e de como os comunitários são conscientes entre o que é deles e o que é da capital, mesmo assim, sofrem com as imposições dos revendedores de suas peças. Tais imposições se inserem no campo da produtividade, acabamento e precificação. Ao refletirmos sobre tais imposições percebemos o quanto o enfoque é majoritariamente econômico e minoritariamente humano. O que interessa mais uma vez afirmamos é o bem estar econômico das empresas que comercializam o artesanato e não as pessoas que o fabricam. Voltar o desenvolvimento para a escala humana e o turismo para benefício local significa adotar políticas que possam ocasionar trabalho e ocupação para todos, tanto quanto atuar no campo da proteção social, e de programas emergenciais quando necessários; mas requer, sobretudo, o homem no centro do poder, de forma que possa promover a sua realização. (CORIOLANO, 2003, p. 30). 40 Tomar o poder pra si significa entre outras palavras, tornar-se protagonista de seu próprio destino, mesmo que compartilhado a outros, mas preservar sua individualidade e poder escolher das suas decisões. Não significa aqui que todas as decisões serão racionais e acertadas, significa dizer aqui que as decisões tomadas, sejam racionais, emocionais, intuitivas ou pensadas partem de uma mente consciente e cognoscente, que tanto sabe o que faz, como pensa sobre o que faz. Lima, Ayres e Bartholo (2009, p.07): Mais uma vez, pode-se reconhecer o contexto de desenvolvimento do turismo como um ambiente multidimensional em que o empoderamento de uma comunidade é caracterizado pela convergência de vários fatores: atuação de agentes/especialistas externos ao contexto local; interesse da comunidade para aprender e decidir sobre suas escolhas; capacidade de implementação das decisões comunitárias; responsabilização pelos resultados positivos ou não das opções feitas. Para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010), é válido ressaltar que tornar-se responsável pelos resultados positivos ou não como cita o autor, torna o comunitário mais atento às suas atitudes e às consequências dessas atitudes diante dos outros comunitários. Frente a esta questão, a equidade no sistema ocorre quando as relações sociais são percebidas como justas tanto para quem exerce a ação quanto para quem recebe os efeitos desta ação. Na divisão do trabalho por baixo, o que se produz é uma solidariedade criada de dentro e dependente de vetores horizontais cimentados no território e na cultura locais. Aqui são as relações de proximidade que avultam, este é o domínio da flexibilidade tropical com a adaptabilidade extrema dos atores, uma adaptabilidade endógena. A cada movimento novo, há um novo reequilíbrio em favor da sociedade local e regulado por ela. (SANTOS, 2000, p.71) Em Janauari é observável tanto uma tradicionalidade na confecção de certas peças como as carrancas que são máscaras tribais feitas somente em Janauari. E observamos certa adaptabilidade já que na medida em que o mercado consumidor muda e pede peças diferenciadas com trançados e 41 materiais diferenciados, os artesãos se moldam buscando atender a essa necessidade. Fica então sob a responsabilidade da comunidade passar aos artesãos que iniciam seu labor, as tradições de se confeccionar um artesanato típico e regionalizado. 2.3 A Psicologia Comunitária: Conceitos e Principais Aspectos Durante toda a trajetória histórica percorrida pela psicologia, em que várias correntes filosóficas, sociais, e de outras ciências auxiliaram-na em sua consolidação como ciência, surgiram em concomitância a este paralelo, novas áreas de atuação e aplicabilidade dos conhecimentos psicológicos como forma de promover no ser humano o autoconhecimento e sua melhor adaptação à sociedade. Ainda nos primórdios, as grandes escolas psicológicas marcaram a entrada da psicologia nos meios mais elitistas da sociedade, já que eram os que mais procuravam e podiam arcar com o ônus de tratamentos psiquiátricos e psicológicos prolongados e de maior severidade ao paciente. Contudo, sabe-se que a afecção mental não se relaciona à classe social, ou qualquer outra designação de raça, credo, intelecto ou ideologia. Para tanto, dentre as várias áreas de atuação, uma das mais populares e aplicadas nos serviços públicos constitui-se de uma psicologia que tem como foco a comunidade. No Brasil, a trajetória do saber-fazer da psicologia em relação à comunidade iniciou-se em meados dos anos 60 e sofreu transformações teóricas, epistemológicas e metodológicas importantes neste espaço de tempo relativamente curto, o que resultou na diversidade que hoje pode ser encontrada com respeito ao desenvolvimento dos trabalhos dos/as psicólogos/as nas comunidades. (STREY, 2002, p. 241). Tal área da psicologia vem em resposta ao grande número de populares que viviam em “condições concretas, extremamente difíceis, que produziam tal repercussão que tornaram esses intelectuais mais sensíveis às problemáticas presentes nesses segmentos sociais” (CAMPOS, 1996, p. 64). 42 Bock cita que: ...as pessoas, normalmente, têm um domínio, mesmo que pequeno e superficial, do conhecimento ..., o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista... Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência: é a vida do cotidiano. É no cotidiano que tudo flui, que as coisas acontecem, que nos sentimos vivos, que sentimos a realidade. (1999, p. 19) Os psicólogos deixam seus consultórios e passam a percorrer novos espaços, consolidando práticas diferentes e invertendo o processo de busca e procura do serviço terapêutico. Sendo assim, ele se torna um agente de mudança que advoga em prol da deselitização da psicologia e também do maior envolvimento de outras áreas da rede social e política de apoio aos mais necessitados (CAMPOS, 1996). Conceitua-se psicologia social então como sendo um ramo da psicologia que une conceitos da psicologia e da sociologia encaminhando seus estudos dentro de um enfoque grupal, observando, descrevendo, intervindo e adaptando o comportamento grupal à sociedade. (ROBBINS, THIMOTHY & SOBRAL, 2010 e WAGNER III, 2006). Além dessas temáticas de estudo, a psicologia social atua intimamente ligada à psicologia comunitária que tem objetivos focados nas comunidades como sua formação, desenvolvimento, estudo de grupos marginais, excluídos muitas vezes da sociedade ou por estigma ou por geografia, inclusão ou reinclusão social, etc. Conforme Campos (op. Cit.) a psicologia comunitária se diferencia em muito de qualquer ação assistencialista, pois promove o trabalho com grupos auxiliando e colaborando para uma formação crítica da consciência e de uma identidade social. Gomes (1999) conceitua a prática do assistencialismo como identificação da Psicologia com obras caritativas e assistências, que alimentam a dependência da comunidade. Ao fim deste processo, que pode levar décadas já que é atemporal, e somente se houver desenvolvimento comunitário reconhecido e perceptível, 43 podemos dizer que a psicologia comunitária orienta os comunitários ao desenvolvimento moral e ético. Francescato apud Fernandes afirma ser: ... a comunidade é aquele tipo de ambiente, de campo psicológico e social no interno do qual somos capazes de desenvolver um sentido de pertença, uma vivência de mútua partilha, uma possibilidade de relação com outras pessoas. (2000, p. 226) Contudo, o que faz as pessoas se relacionarem em comunidade? O princípio de que o homem apresenta-se como um ser social e gregário inicia a resposta ao questionamento. Para Sennet, (2005) a vontade e necessidade de pertencer um grupo comunal ou comunidade, expressa mais que o simples pertencer, mais ao identificar-se com. Desta forma para este autor, a significação de comunidade nos remete ou conceito de auto-proteção, lar, porto seguro, onde os indivíduos se sentem em casa. É neste sentido que as comunidades se formam, se agregam e para que permaneçam unidas muitas vezes devem tolerar as diferenças entre os indivíduos sejam estas no campo das opiniões ou no modo de viver. A convivência nasce da construção de uma relação. (SENNET, 2005). E ainda Aldelson apud Fernandes caracteriza cinco aspectos inter-relacionados das comunidades que são: 1. A comunidade como grupo em que há uma intensa e íntima partilha de ideias e de sentimentos; 2. A comunidade como um lugar no tempo e no espaço; 3. A comunidade como pertença cultural e destino partilhado; 4. A comunidade como «sistema de sistemas»; 5. A comunidade como civitas, com os respectivos direitos e deveres dos cidadãos. (2000, p. 227). Para tanto, seguindo a linha de pensamento dos autores supracitados, essa intensa e íntima partilha de ideias e de sentimentos, juntamente com sua localização e caminhada ao longo do tempo, contribuem para a interdependência entre os comunitários. Após essa vinculação a constituição da cultura que de acordo com 44 Robbins, Thimothy & Sobral, (2010) e Wagner III e Hollenbeck, (2006) apontam que além de fornecer identidade a essa comunidade e aos seus comunitários, torna possível a sistematização de regras comunais representadas inicialmente por um código de conduta não escrito, mas que é passado de geração a geração e formalmente estabelecido como as regras morais da comunidade, ou ainda suas leis escritas e estabelecidas como aplicáveis a todos os comunitários. Essas regras que são pertencentes à cultura - citada pelos mesmos autores como dominante - são reforçadas a cada dia nas rotinas comunitárias laborais. Mesmo sendo em trabalhos e ações simples, sem uma linha ou cadeia de produção nos moldes do Polo Industrial de Manaus, por exemplo, essas regras pertencentes à cultura levam aos artesãos a criação e manutenção de seus hábitos laborais. A linha de pensamento que os autores nos conduzem, mostram que não é a maior cultura (em termos de números de habitantes) que se perpetua, mas aquela que apresenta mais características enraizadas na história do povo. Sendo assim, a cultura de Janauari está para aquele povo como a cultura dominante e os comerciantes da capital como uma cultura paralela. Tanto que ao se sentirem cansados, por exemplo, os artesãos param de trabalhar e se dedicam às suas rotinas pessoais enquanto moradores da vila. E de acordo com o líder do artesanato esse comportamento é mal visto pelos comerciantes da capital. Estes últimos se comportam feito os gerentes citados por Wagner III e Hollenbeck, (2003) como sofrendo da falácia do espelho. Nesta forma ilustrativa de explicar o fenômeno, os autores citam que os gerentes se comportam de uma forma específica e cobram de seus subordinados comportamentos em igual performance. Contudo quando os autores citam a palavra falácia é exatamente abordando a frustração dos gerentes ao se depararem com a diversidade da mão de obra trabalhadora e com ela uma multiplicidade de comportamentos e formas de decidir sobre os mais variados acontecimentos organizacionais. Assim, para Robbins, Thimothy & Sobral, (2010) os seguintes aspectos compõe a diversidade da mão de obra: Gênero; Portadores de Deficiência; 45 Origem; Idade; Raça e Etnia; Religião; Estabilidade no Emprego e Orientação Sexual. Para estes autores são muitos os desafios que os gestores enfrentam hoje com o consumo voraz, e, essa urgência em produzir acaba por ser repassada àqueles que fornecem insumos, matérias primas e produtos em geral. No caso de Janauari, os comerciantes para quem os artesãos vendem, estipulam prazos curtos para a produção e exigem melhoramentos na qualidade das peças. Todavia acabam por serem vitimados pela falácia do espelho onde ao esbarrar na diversidade da mão de obra e por traz dela a cultura desse povo, não conseguem impor suas exigências mercadológicas. Robbins, Thimothy & Sobral, acreditam ser a diversidade um aspecto positivo da dinâmica organizacional se bem administrada, contudo pode se tornar negativo se o empreendedor, líder, gerente ou qualquer que seja a nomenclatura de hierarquia não souber manejar essa diversidade a seu favor e a favor dos objetivos organizacionais: A maior parte das organizações contemporâneas está organizada em torno de grupos de trabalho. [...] Dessa forma, faz sentido perguntar: a diversidade ajuda ou atrapalha o desempenho de um grupo? A resposta é: ajuda e atrapalha. Alguns tipos de diversidade podem prejudicar o desempenho do grupo, já outros potenciam esse desempenho. [...] Independentemente da composição de um grupo, as diferenças podem ser alavancadas para se obter um desempenho superior. (2010, p. 54). Ainda citam que dependendo do líder e, se este conseguir captar as características de cada membro, poderá elevar o potencial de produção, cidadania com o trabalho, satisfação e criatividade. Em Janauari a diversidade é naturalmente comum. Observamos a diversidade tanto nas pessoas, quanto em seu artesanato. São muitas as técnicas utilizadas em algumas peças. Claro que existem as peças tradicionais como, por exemplo, as carrancas e as flautas, mas brincos, colares, arranjos de cabelo são trançados muitas vezes apenas substituindo o que era pra ser uma peça de plástico ou vidro ou ainda cristal pelas sementes, espinhos, madeiras, penas, etc. 46 Esta expressão da subjetividade individual de cada artesão associada a intersubjetividade entre eles e com o além comunidade faz da diversidade um ponto positivo ainda inexplorado em sua totalidade. Fernandes cita que: o termo «comunidade» em psicologia comunitária não se refere ao estudo da comunidade enquanto entidade específica, mas à prática de estudar as relações entre o indivíduo e as suas instituições sociais na comunidade. (2000, p. 228) E também neste sentido que turistas buscam o turismo comunitário justamente por ser uma prática que estimula o contato com o outro e desse contato uma relação de afetividade e aprendizado de quem é o outro e de quem sou eu. A afetividade gera saúde mental visto que resgata as características de pessoa humana que no correr das grandes cidades é perdido ou esquecido por muitos e o aprendizado leva ao respeito pelo outro, a conservação do patrimônio cultural e ambiental da localidade. De acordo com Lancman e Uchida citando Sennet “a instabilidade criada pela nova lógica de acumulação do capital – chamada por ele de capital “impaciente”- vem corroendo o caráter das pessoas” (2003, p.81). Esta relação marca interações sociais que podem se ocorrer de várias formas: Ora exaltando a união ora objetivando o conflito, de certo, que só se unem ou se conflitam pessoa estando em dois ou mais. Portanto a união e o conflito pressupõe coletividade. De acordo com (Bleger apud Maclver e Page, 1992, p.85) “onde quer que os membros de um grupo pequeno ou grande vivam juntos de tal forma que todos participam... das condições básicas da vida em comum, aí existe comunidade”. O turismo de base comunitária propicia essa vivência da vida em comum, das particularidades pertencentes a um destino turístico ao qual o visitante não verá apenas o seu esplendor, mas o experimentará absorvendo-o por todos os seus sentidos. E esse é um diferencial interessante desta modalidade de turismo, pois insere o visitante na história da localidade como um ator pertencente a ela mesmo que por um breve pernoite. 47 Gomes (1999) descreve as relações de reciprocidade entre as pessoas e a comunidade da seguinte forma: As comunidades oferecem: • Senso de pertencimento • Educação da cultura popular • Segurança • Ambiente familiar • Reconhecimento comunitário • Participação nas decisões comunitárias As pessoas oferecem contribuições como: • Interesses • Sentimentos • Crenças • Atitudes • Agregação de valores morais • Utilização de conhecimentos populares e de senso comum Fonte: Gomes, 1999. Adaptado pela pesquisadora. Através do fluxograma acima, nos é possível observar a função protetiva da comunidade à pessoa no que lhe diz respeito a sua integridade psicossocial. Em função desta proteção e identidade estabelecidas pela comunidade uma vez que reconhece na pessoa semelhança a si própria, esta última apreende o significado de família, de regras sociais e principalmente de seu papel enquanto pessoa pertencente a um grupo. Baró conceitua grupo como: Grupo es uma familia y el conjunto de nuestros amigos, grupo son los alumnos de una escuela , los bañistas em una playa, los soldados de um batallón y los membros de una determinada clase social. Todas estas entidades humanas tienen en común el que involucran a varias personas; pero, fuera de la pluralidade de individuos, es difícil encontrar algún elemento común a todas ellas. Grupo es, por tanto, un término muy abstracto que remite a realidades diferentes. (1989 p. 198) Este autor ainda coloca seis critérios para se definir um grupo que são: A percepção dos membros; Uma motivação compatível entre os membros; Metas comuns; Organização grupal; Interdependência e Interação. Estes critérios são aplicáveis em qualquer tipo de grupo inclusive nos organizacionais. Spector (2002) conceitua grupo de uma forma mais específica ao contexto organizacional. Diz ser o conceito de grupo de trabalho a união de pessoas com um objetivo ou com objetivos em comum que compartilham 48 atividades de trabalho, responsabilidades e todo o ônus que o trabalho trás consigo. Por outro lado e até em resposta a interdependência iniciada a partir da interação dos atores sociais, a pessoa retribui a comunidade com a agregação de valores, interesses pelos pares, compactuando suas crenças, atitudes, discernimentos e julgamentos das mais variadas situações que ocorrem em seu cerne. Exatamente nessa retribuição, que a pessoa inserida no grupo inicia uma formação de senso comum para explicar aos seus pares tudo o que ocorre em termos de fenômenos e experiências que de outra forma não poderiam ser explicados. Bleger (1992, p.83) define a comunidade como “um conjunto de pessoas que vivem juntas, no mesmo lugar e entre as quais há estabelecidos certos nexos, certas funções em comum ou certa organização”. E este construto nos faz observar esta certa organização em Janauari quando a comunidade se faz valer de uma associação dos comunitários residentes e de outra associação focada apenas nos artesãos da comunidade. São pessoas que possuem os mais variados motivos de se aglomerar em comunidade. Seja por proximidade geográfica, êxodo, imigração ou laços parentais, as pessoas que se reúnem em comunidade, devem se permitir vivenciar o processo de coletivismo com muito mais proximidade e intensidade. Em concordância com Bleger, Fica claro, também, que as relações podem ser diferentes, até mesmo contraditórias, dependendo do momento. É importante, então, ver quais são as que mais se manifestam; a intensidade com que se mostram; sua abrangência e generalização. Tornase evidente, ainda, que é extremamente difícil, senão impossível, quantificar essas relações. (CAMPOS 1996, p.84) São relações construídas por vidas inteiras sistemicamente influenciando e sendo influenciadas em um aglomerado de momentos que edificam a cultura e as tradições dos comunitários. 2.4 A Formação da Identidade Social e a Psicodinâmica do Trabalho 49 Para Del Prette (2003), é no grupo que os indivíduos aprendem a primeiras noções de crenças, mobilidade ou estratificação, autoestima e autoconceito. Também é no grupo que estes indivíduos modelam os comportamentos daqueles considerados pelo grupo como comportamentos fora de seus padrões comportamentais aceitáveis. “O grupo é, também, a base para a formação de sua identidade social, juntamente com as crenças e comportamentos a ela associados.” (2003, p. 125). Baró afirma que: Un grupo es, en primer lugar, una estructura social. El grupo es una realidad total, un conjunto que no puede ser reducido a la suma de sus constitutivos. [...] La totalidad del grupo supone unos vínculos entre los indivíduos, una relación de interdependencia que es la que establece el carácter de estructura y hace de las personas membros. (1989, 206). Assim sendo, este autor vai além e qualifica o grupo não como um aglomerado de pessoas, mas como interações de subjetividades dinamicamente plásticas que sistemicamente se moldam às necessidades uns dos outros. Para este autor o que une pessoas em um grupo é a afetividade e as semelhanças de objetivos, ideais, crenças, anseios, etc. Apenas a reunião de uma família, afirma o mesmo não constitui plenamente o que é uma família, pois, há além do físico o metafísico, em outras palavras, o que representa esse conjunto para cada membro e para os de fora dele. Exemplifica ainda que um batalhão de soldados não é apenas um grupo de pessoas, mas toda a significação do que ser soldado, estar em um batalhão e o que este representa à sociedade que protege. Tanto a família quanto os soldados, idealizam e têm suas representações mentais de seu papel na sociedade a partir do que representa sua colocação social. Desta forma, os indivíduos formam seu autoconceito de acordo com o que pensam de si somado ao que a sociedade diz ser aceitável àquele papel. A formação da identidade social está relacionada a processos cognitivos de busca de compreensão do ambiente. Ao organizar seu ambiente, o indivíduo formula um esquema 50 classificatório, ou seja, separa objetos ou pessoas com base em uma ou mais características comuns. (2003, p. 125). No processo de tornar-se um ser concreto, maduro e plenamente desenvolvido, o ser humano passa por diversas mudanças e vivências em sua vida que moldam sua forma de pensar e de se comportar diante das situações diárias. Para abordarmos a psicodinâmica laboral, primeiramente devemos introduzir o assunto com algumas considerações primárias à essa construção. Mesmo que apenas idealizado na mente de seus progenitores, o homem se vê divido pelo dilema: ser o que realmente é e ser o que esperam que seja. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2000) este dilema é eternalizado em todos os seus períodos de desenvolvimento biopsicossocial. Mesmo no útero materno o ser humano já passa por uma associação e idealização materna e paterna de como será entre suas características físicas e comportamentais. Para Lancman e Uchida: A criança, inicialmente, é susceptível à angústia dos pais, principalmente aquela com a qual os pais têm dificuldades de lidar. Ao vivenciá-la passa a senti-la como se fosse sua, pois nesse momento de sua vida não tem condições de distinguir o que é seu e o que é dos seus pais. (2003, p. 84) Na adolescência o indivíduo passa por mais uma crise de seu desenvolvimento psicossocial que de acordo com Erikson citado por Morgado nos cabe a preocupação que: [...] fascinados e absorvidos num mundo de invenções mecânicas e de poder de compra os pais escapam à formidável questão do novo significado das gerações num universo tecnológico. [...] enquanto uma nova ética não alcançar o progresso, pressentimos o perigo de que os limites da expansão tecnológica e da afirmação nacional talvez não sejam determinados por fatos ou considerações éticas conhecidas ou, em resumo, por uma certeza de identidade mais por uma caprichosa e despreocupada verificação do alcance e do limite da supermaquinária que, assim, tomam lugar que, em grande parte, cabia à consciência humana. (2001, p. 03) 51 Essa preocupação se dá por ser a família a primeira célula de contato social a que o indivíduo é exposto e é exatamente da interação com esta família somada à interação com a sociedade ou com a comunidade que o indivíduo forma sua identidade própria, a qual podemos observar com mais clareza na figura que segue: Fonte da Ilustração 02: Morgado 2001, adaptado pela pesquisadora. Esta intersecção com o passar das experiências vivenciadas aumenta e aprofunda-se formando um construto muito maior chamado por Bock et. al. (1999), Wagner III e Hollenbeck (2006) e Robbins, Thimothy e Sobral (2010) de personalidade, que compõe todas as características que diferenciam os indivíduos. Nela existem atributos referentes à constituição, temperamento, inteligência, caráter, afetividade, cognição, fisiologia, valores, sentimentos dentre outros. Estes atributos primeiramente moldados pela família passam justamente no período da adolescência por uma reavaliação que vai desde o plano físico ao qual Aberastury e Knobel (1988) nomeiam de luto pela perda do corpo infantil e ao processo todo de adolescência normal até o plano psicológico e social. É comum de acordo com esses autores (1988), o indivíduo adolescente agrupar-se com outros de mesma idade, condição social ou ideologia. E ao fazer essa migração grupal, muitas vezes deixa o seio familiar para aventurarse mundo a fora. Contudo, ainda com os autores (1988), o adolescente que obteve de seus pais referenciais de família sólidos e bem estabelecidos, apesar de não estar 52 mais em convívio familiar, não rompe seus laços afetivos, tendo em sua família, seu porto seguro. A esse aspecto, Lucchiari: A família é a célula social responsável pela transmissão da ideologia dominante, dos valores morais, dos pensamentos e da cultura, o elo intermediário entre o social e o indivíduo e, o jovem é o resultado dessa relação da família com a sociedade. (2002, p. 53) Durante esse processo o indivíduo processa sua identidade mediante a escolha de quais comportamentos são preferíveis a outros tanto na família quanto na sociedade. E a influência recebida pela sociedade pode muitas vezes ocasionar conflitos relacionais desse indivíduo com suas figuras de autoridade paterna ou materna. Paralelo a este desenvolvimento social caminha o desenvolvimento moral que de acordo com Bataglia, Morais e Lepre: “Os estágios de raciocínio moral, propostos por Kohlberg, são de raciocínio de justiça e não de emoções ou ações.” (2010, p. 26). De acordo ainda com as autoras, Kohlberg dividiu o desenvolvimento moral em três níveis que são o pré-convencional, o convencional e o pós convencional. (op. Cit. 2010). Em concomitância, Papalia, Olds e Fildeman (2000) relatam que os variados desenvolvimentos ocorrem de forma assimétrica e podem os indivíduos mesmo em tenra idade apresentar mais desenvolvimento no âmbito afetivo que no cognitivo ou ao contrário. Assim como é comum observarmos que mesmo se associando as fases dos desenvolvimentos em geral a uma idade cronológica, tal associação é ineficaz visto que existem adultos, por exemplo, com dificuldades afetivas, cognitivas ou até mesmo idade mental inferior a sua idade cronológica. Para tanto, (op. Cit. 2000) é importante acrescentar que no desenvolvimento moral ocorre a mesma situação. Convencionou-se que o estágio pré-convencional é melhor observado em crianças e adolescentes, que o convencional é melhor visualizado em adultos e o pós-convencional (quando é visualizado) observamos mais nos idosos. Ainda existem dois conceitos muito importantes acerca da teoria do 53 desenvolvimento moral que são os conceitos de autonomia e heteronomia. [...] pensando numa melhor definição de estágio moral, propôs a existência de subestágios, denominados A e B. Dessa forma, dentro de um mesmo estágio, podemos distinguir duas formas de raciocínio: uma com orientação heterônoma, baseada em regras e na autoridade, representada pelo subestágio A; e outra com orientação autônoma, baseada em princípios, justiça, igualdade e reciprocidade, representada pelo subestágio B. sujeitos que apresentam um raciocínio moral do subestágio B são, provavelmente, mais comprometidos com a ação moral daquilo que consideram justo do que os sujeitos do subestágio. (BATAGLIA, MORAIS e LEPRE, 2010, p. 26). Desta forma observamos com maior clareza a distribuição das etapas da teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg no quadro abaixo: NÍVEL NOME 1 Pré-convencional 2 Convencional 3 Pós-convencional SUBESTÁGIOS 1 Punição e obediência 2 Auto-interesse 3 Conformidade às regras sociais 4 Orientação do tipo “bom menino” 5 Contrato Social 6 princípios Éticos Universais Fonte: (BATAGLIA, MORAIS e LEPRE, 2010, PAPALIA, OLDS E FILDEMAN, 2000) adaptado pela pesquisadora. Ao ter seus desenvolvimentos social, afetivo (psicossexual), cognitivo e moral em estreita consonância o indivíduo terá condições favoráveis para apresentar maturidade laboral. Este desenvolvimento da maturidade profissional, de acordo com Super apud Bohoslavsky (2007) pode ser dividido em cinco estágios que são: Estágio CRESCIMENTO Pode ser subdividido em três etapas: a) Fantasia (4 a 10 anos) b) Interesse (11 a 12 anos) c) Capacidade (13 a 14 anos). Características Escolhas vocacionais fantasiosas. Identidade e autoconceito formados por identificação com uma figura-chave. Predominância de necessidades orgânicas e afetivas. Interesses e habilidades surgem em decorrência dos estímulos e oportunidades. Tende a ter mais iniciativa e a ter maior criatividade na medida em que se desenvolve. 54 EXPLORATÓRIO Pode ser subdividido em três Caracteriza-se pelo autoexame, a etapas: experimentação de papéis sociais e a) Tentativa (de 14 aos 17). ocupacionais. b) Transição (de 18 aos 21). c) Experimentação (dos 22 aos 24). Encontrado um campo ocupacional ESTABELECIMENTO adequado o indivíduo busca um lugar Período: dos 25 aos 44 anos permanente. Preocupação em manter o lugar conseguido MANUTENÇÃO no mundo do trabalho. Período: dos 45 aos 64 anos Acontecem poucas alterações. DECLÍNIO As capacidades físicas começam a declinar e a) Desaceleração (dos 65 aos o rendimento também. 70 anos); Novos papéis ou funções podem ser b) Aposentadoria (a partir dos desenvolvidos. 70 anos). É delicado para a saúde mental da pessoa. Esta tabela nos é didática principalmente por demonstrar as características mais evidentes de cada estágio do desenvolvimento laboral e nos faz refletir sobre a forma como o artesanato foi sendo ensinado estabelecendo durante os anos na comunidade e se tornando atividade econômica principal e como poderá se estabelecer como a base para um turismo comunitário. Conforme Balbinotti, Super (1969, 1990) propôs uma concepção de escolha profissional com base em conceitos (maturidade, interesses, valores, etc.) que indicam um processo de desenvolvimento e ainda incluiu outros modelos que, segundo ele próprio e seus colaboradores (Super, Sverko & Super, 1995; Super & cols.,1996), explicariam melhor a complexidade do comportamento vocacional de um indivíduo. Seriam, então, ao todo, quatro modelos que, juntos, teriam a árdua tarefa de desvendar, ao menos em parte, este comportamento. São eles: o modelo de perspectiva diferencial, o modelo socioeconômico e ambiental, o modelo desenvolvimentista, e, finalmente, o modelo fenomenológico. (2003, p.463). Por este modelo, Balbinotti refere quatro aspectos constituintes do comportamento vocacional dos indivíduos. São eles: 1. O modelo de perspectiva diferencial, que se refere “a assegurar o homem certo no lugar certo a partir de uma análise das 55 características do indivíduo e da profissão considerada”. (2003, p.462). 2. O modelo socioeconômico tecnológico e ambiental, segundo modelo diz respeito à influência dos fatores socioeconômicos, tecnológicos e ambientais (tais como a família, a escola, a comunidade, o grupo de pares, a sociedade, a economia, o mercado de trabalho, as políticas sociais e as experiências profissionais) sobre o desenvolvimento de carreira. (idem, p. 462) 3. O modelo desenvolvimentista propõe que o desenvolvimento vocacional, é um processo contínuo desde a infância até a velhice. O desenvolvimento é, geralmente, ordenado e previsível, assim como dinâmico no sentido de que ele resulta da interação entre as características do indivíduo e as demandas da cultura, o que torna claro também o fato de tratar-se de um processo psicossocial. (idem p. 462) 4. O modelo fenomenológico, que analisa os conjuntos de traços da pessoa diretamente ligados ao seu desenvolvimento profissional, sendo esses, seus interesses, seus valores e suas aptidões – tem um papel organizacional maior como guia do comportamento do indivíduo através dos estados e sub-estados do desenvolvimento vocacional. (idem, p. 463) Por exemplo, segundo Super apud Balbinotti, no modelo sócio econômico e ambiental, ...a família contribui, no desenvolvimento das necessidades e dos valores, fornecendo à criança, ou ao adolescente, a possibilidade de adquirir informações e desenvolver habilidades que poderão ter uma importante influência no momento da tomada de decisão profissional por parte dos jovens. A forma como esse jovem vai entender o significado de seu trabalho, como tomará decisões ou como resolverá seus conflitos formará uma dinâmica mental e comportamental aqui sugerida como psicodinâmica laboral ou também psicodinâmica do trabalho. 56 Resumindo as teorias acima descritas, observemos a ilustração abaixo no sentido de percebermos como os desenvolvimentos se dão em dissonância etária, e assim é possível ter um indivíduo que cognitivamente é maduro, contudo moralmente ainda não, ou ainda um indivíduo maduro do ponto de vista afetivo, mas, ainda se desenvolvendo do ponto de vista social: Ilustração 3: Aberastury e Knobel (1988), Papalia, Olds e Fildeman (2000), Morgado (2001), Bataglia, Bohoslavsky (2007) e Morais e Lepre (2010). Adaptado pela pesquisadora. 3 OS DISCURSOS: UMA ANÁLISE DOS DADOS APRESENTADOS 3.1 O Município de Iranduba e o Distrito de Janauari No Amazonas, temos vários municípios considerados pelo IBGE como polos turísticos. Isso é bem visível na ilustração abaixo. Todos localizados na calha do Rio Negro demonstram vocações turísticas das mais variadas. Dentre estes polos, iremos localizar em vermelho o município do Iranduba e em azul escuro o município de Manaus: 57 Fonte da Ilustração 04: NORONHA 2008, p. 97 e IBGE cidades, 2011. Adaptado pela pesquisadora. Junto com o município de Rio Preto da Eva, Iranduba participa da rede de Turismo Rural na Agricultura Familiar (TRAF), um programa coordenado pelo Governo Federal, por meio dos ministérios do Turismo e do Desenvolvimento Agrário. Conforme o Relatório de Análise de Contexto do Município de Iranduba (PMI, 2011), o município dispõe de representatividade dos poderes executivo, legislativo e judiciário, onde o chefe do executivo é o detentor das decisões, operacionalizando a máquina administrativa sendo a estrutura da prefeitura composta das seguintes secretarias municipais: • Gabinete do Prefeito – GAB/PMI, • Secretaria Municipal de Administração e Planejamento – SEMAP • Secretaria Municipal de Finanças – SEMFIN • Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMA • Secretaria Municipal de Cultura – SEMUC • Secretaria Municipal de Educação – SEMEI • Secretaria Municipal de Produção e Abastecimento – SEMPA • Secretaria Municipal de Infraestrutura – SEMIMF • Secretaria Municipal de Assistência Social – SEMAS 58 • Secretaria Municipal de Saúde – SEMSI e • Secretaria Municipal de Turismo – SEMTUR A representatividade do poder federal está localizada em uma escola do SESI de educação infantil, a representatividade do poder judiciário existente realiza suas atividades no Fórum de Justiça. O município conta ainda, de acordo com o relatório (PMI, 2011), com as instâncias de discussão e tomada de decisão sendo estas representadas por conselhos sendo eles: • Conselhos Tutelares • Conselho Municipal de Saúde • Conselho Municipal de Defesa Civil • Conselho Municipal de Habitação Popular • Conselho Municipal de Merenda Escolar • Conselho Municipal de dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes • Comissão municipal O município tem duas comunidades que são as principais em produção de artesanato no Estado: as comunidades dos lagos Janauari e Acajatuba. A Comunidade de Janauari, de acordo com o líder comunitário, tem aproximadamente 100 anos de existência, sendo iniciada pela família Coelho da qual o mesmo faz parte e que se ramifica pela maioria dos habitantes. Segundo Coriolano define-se comunidade como: “um grupo social residente em um pequeno espaço geográfico cuja integração das pessoas entre si, e dessas com o lugar, cria uma identidade tão forte que tanto os habitantes quanto o lugar se identificam como comunidade”. (1997, p. 201). O líder lembra que seus bisavós nasceram e morreram na comunidade, mas que não há uma data precisa de criação ou fundação da mesma. O estilo de vida dos moradores é bem simples, vivendo basicamente da pesca e do artesanato, os comunitários mostram-se hospitaleiros e muito tranquilos ao conversar tanto entre si quanto com os visitantes. 59 De acordo com Trindade e Heyer (2004) a população foi estimada em 290 pessoas em terra firme sendo 155 residentes nas áreas ribeirinhas e 2 tribos indígenas, totalizando 445 pessoas. A localização do município permite a existência de dois ecossistemas, onde se vê da parte do Rio Negro paraísos naturais com praias, cachoeiras e florestas; já da parte do Rio Solimões estão às áreas da várzea com muitas vitórias-régias e murerus (plantas aquáticas) nos igapós. A fauna e a flora aqui são riquíssimas. Overing (1999) aborda que o homem urbanizado chega a desprezar essa simplicidade, não valorizando as atividades corriqueiras diárias e de preferência atribuindo a terceiros tais atividades. Na comunidade, por exemplo, a farinha de mandioca é produzida pelos próprios comunitários, a criação de galinhas, bodes, patos etc., que servem para a subsistência é atribuição de cada dono de cada animal. O que o ser urbano encara como uma atividade muitas vezes sacrificante como, por exemplo, a logística na Amazônia até por este ser urbano viver em uma falácia de desenvolvimento urbano desde a Belle Époque, como citou Santos Junior (2007) os comunitários não demonstram descontentamento com as mesmas dificuldades que julgamos muitas vezes intransponíveis ou entediantes. “O problema é ainda mais grave quando o cenário é a floresta, que pouco conhece: somos desajeitados quando nos movemos dentro dela e não sabemos vê-la”. (OVERING, 1999, p. 85). Para se chegar à Vila, podemos percorrer três caminhos, sendo dois terrestres e um fluvial. Contudo, as duas entradas terrestres e todo o seu percurso é de terra batida que nos períodos de chuva (cerca de 6 meses contínuos – Dezembro a Junho) a estrada chega a ficar fechada em alguns trechos. A distância percorrida em média é de 24 Km da cidade de Iranduba até a Vila de Janauari, tendo uma variação de cerca de 1 km da entrada mais próxima da cidade para a entrada mais distante. O ramal todo ainda não está com pavimentação asfáltica tornando a viagem em alguns pontos lenta e cautelosa principalmente em dias de chuva. Abaixo podemos observar um trecho plano da estrada, sem depressões 60 aparentes: Fonte: Silva (2011) Essa mudança nas condições de trafegabilidade das estradas se altera de acordo com o período de chuvas e com as melhorias realizadas pelos órgãos competentes. Contudo, nesta próxima imagem, observamos um trecho com muitas irregularidades que formam atoleiros com a incidência de chuva constante permitindo a passagem apenas de tratores. 61 Fonte: Silva 2011. A outra forma de chegada à comunidade se dá por via fluvial principalmente pelo uso de catraias, botes e pequenos barcos que saindo de Manaus levam cerca 20 a 60 minutos até a Vila (dependendo de sua potência e dos períodos de cheia e vazante do Rio Negro). Neste recorte ampliado da ilustração abaixo podemos observar segundo o traçado em preto, o percurso de Manaus no porto de São Raimundo até o Lago de Janauari: 62 Ilustração 05: Percurso Fluvial Manaus a Janauari Fonte: Silva (2011) 3.2 Caracterização das Atividades Econômicas e Laborais de Janauari Esta é uma comunidade com uma população prioritariamente composta por ribeirinhos e estes tem como ofícios principais de sustento: o artesanato, a agropecuária o e comércio varejista de estivas, alimentos enlatados, alimentos frescos e produtos de higiene. Entretanto é a atividade artesanal que tem a característica cultural mais forte e importante de possibilidade de oferta a partir da organização de um Turismo de Base Comunitária na região. A divisão de atividades laborais executadas pelos moradores de acordo com o líder comunitário compõe-se desta forma: 63 Figura 06: Atividades Laborais em Janauari Fonte: Silva (2011) Nas proximidades do Lago de Janauari existe um flutuante com restaurante que oferece uma alimentação com base na gastronomia regional. Este ponto é considerado o primeiro ponto de venda do artesanato da comunidade. Contudo, o ponto comercial não pertence à mesma estando esta subordinada às regras de uso do local e aluguel. Com relação ao artesanato o mesmo é produzido a partir de diversas matérias primas local com cocares, pulseiras, colares, peixes empalhados, brincos, prendedores de cabelo, etc. Fora os artesanatos usados como acessórios de beleza de grande produção, também peças entalhadas em madeira (principalmente carrancas), colheres, petisqueiras, brinquedos, quadros regionais, arcos, flechas e blusas de algodão bordadas à máquina. 64 Fotografia 03: Peças Produzidas em Janauari - Colares e pulseiras confeccionados com: açaí tingido, jarina natural, lascas de jarina naturais e tingidas, morototó natural e tingido, peças de madeira, linha de papagaio e nylon. Fonte: Silva (2011) De acordo com relatos do líder comunitário da Vila de Janauari, o artesanato de algumas peças (carrancas e flautas ornadas com sementes) é pioneiro e único não sendo confeccionado em nenhuma outra comunidade do Amazonas. Para ele a marca ‘Janauari’ precisa nascer como identidade daquela comunidade. Entendamos Artesanato como [...] toda a atividade produtiva que resulte em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de meios tradicionais, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade. (SEBRAE, 2004, P. 21). Cascudo afirma que artesanato é “todo objeto utilitário com características folclóricas, não importando o material utilizado”. Para o autor, são três as subcategorias abaixo citadas: (1) “arte folclórica”, ligada à ornamentação ou à religiosidade, a qual, de um modo geral, se constitui de trabalhos anônimos; (2) 65 “artes plásticas”, em que um artista expressa a sua visão acerca de um signo, tendendo sempre para o universalismo e a criatividade; (3) “manufaturas”, abrangendo trabalhos sem um referencial de origem específica, geralmente distribuída para além de seu local de produção. (2001, p. 24) Aqui poderemos caracterizar o artesanato de Janauari estando na categoria da manufatura. De acordo com Pinho apud Caldas, são três as tipologias de artesanato: o “artesanato popular genuíno”, em que se pode falar em qualidade, identidade e mercado consumidor; os “trabalhos manuais”, cuja mão de obra se apresenta menos qualificada, visando apenas a uma fonte de renda e, por fim, o “industrianato”, onde um produto artesanal é alvo do processo de massificação e “souvenirização”. Conforme as autoras o artesanato de Janauari seria do tipo “industrianato” já que seus artesanatos são facilmente enquadrados na “souvenirização” e que é facilmente visto nas imagens constantes neste trabalho. Para Cerutti (2010, p. 82-83) são nove categorias que envolvem os trabalhos de comunidades feitos manualmente: 1. Arte Popular; 2. Artesanato; 3. Artesanato Indígena; 4. Artesanato Tradicional; 5. Alimentos Típicos; 6. Artesanato de Referência Cultural; 7. Artesanato Conceitual; 8. Trabalhos Manuais; 9. Produtos Semi-Industriais e Industriais. De acordo com esta autora o artesanato de Janauari seria enquadrado na categoria do Artesanato Conceitual que segundo a mesma se reportaria “a um grupo cultural específico, com tradições próprias transmitidas de geração em geração, cuja produção artesanal tem sua base em práticas manuais e está 66 integrada ao cotidiano”. (2010, p. 83). E hoje seu artesanato se mistura e se dissolve em meio a outros artesanatos de outras origens sendo muitas vezes nomeado como “o artesanato de Manaus” e vendido com essa denominação. Para o mesmo a necessidade de seu artesanato ser identificado separadamente dos demais, é uma forma de nomear e identificar sua origem cultural e comunitária. Por essa razão, a importância de a organização do trabalho artesanal favorecer a regularização da profissão de artesão e a identidade de interesses, em direção à emancipação e à cidadania. [...] (CERUTTI, 2010, 85). A quantidade de acessórios produzidos pelos artesãos é enorme e é escoada tanto pela loja no flutuante que fica nas proximidades do Lago de Janauari como em Manaus na Praça Tenreiro Aranha, localizada no centro histórico em feira popular de artesanato indígena. De todas as peças confeccionadas uma chama atenção pela simbologia e aparência tribal, usadas em rituais mágicos: a ‘Carranca’ que para os artesãos possui uma simbologia mágica de repelir maus espíritos e proteger os lares onde é exposta. É indicado a quem compra colocar a carranca na parte de fora da casa para não permitir a entrada de espíritos ou energias negativas. Fonte: Silva (2011) 67 Segundo Marconi e Presotto: Em algumas sociedades, principalmente de clima tropical, o adorno nem sempre está associado à vestimenta, podendo até ser mais importante do que ela [...]. Usam enfeites nos cabelos, brincos nas orelhas, colares e braceletes [...]. Alguns adornos têm apenas a finalidade de enfeitar, outros possuem caráter mágico. (MARCONI; PRESOTTO, 2007, p. 176). Apesar de a comunidade ser antiga, as atividades artesanais foram iniciadas a pouco menos de 30 anos aproximadamente. Na época a empresa S., pioneira em realizar pacotes turísticos para o Lago de Janauari, sugeriu que fosse oferecido aos turistas peças artesanais como souvenir. A sugestão foi tão bem aceita por turistas e comunitários que a produção começou e desde então tem tomado conta de cerca de 70% das atividades laborativas. Conforme o líder comunitário, as crianças são iniciadas espontaneamente no artesanato em formato de brincadeira, imitando seus parentes trabalhando e vão aprendendo aos poucos a confecção artesanal. Ao tornarem-se adolescentes já sabem a maioria das técnicas de confecção e passam a contribuir para a renda familiar. Por família, chega-se a ganhar com artesanato por volta de 1.500,00 a 1.800,00 reais mensais. E é com este ganho que as famílias conseguem comprar a matéria prima que a Vila não dispõe para a confecção de suas peças. Para Noronha (2008), as principais matérias-primas (vegetal e animal) utilizadas no artesanato estão dispostas juntamente com seus produtos finais na tabela abaixo: Caroço de açaí Caroço de Patuá Caroço de Buriti Caroço de Tucumã Caroço de Babaçu Caroço de Abacaba Tala de Pupunheira Caroço de Paxiúba Semente de Seringa Massa de Guaraná Artesanato em geral, marfim Anéis, colares e enfeites Colares, brincos e pulseiras Anéis, colares e enfeites Anéis, colares e enfeites Artesanato em geral, marfim Enfeites na marchetaria Colares, brincos e pulseiras Colares, brincos Artesanato, enfeites e arranjo 68 Fibra de Piaçava Tento preto Tento Vermelho/Seriúna Molongó da várzea Cipó titica Cipó Ambé Líber de tururi Arumâzinho Lágrimas de Nossa Senhora Morototó Puçá/Tento preto dos Sateré – Mawé Arumã Grande Pau Brasil Puçá Madeiras diversas Resíduos das Serrarias Penas artificiais ou de cativeiro Palha Cestaria, vassouras e artesanato Colares,pulseiras e arranjos Colares,pulseiras e arranjos Bonecas, bancos e arranjos Cestaria e artesanato em Geral Cestaria e artesanato em Geral Artesanato em Geral Peneiras, pulseiras e artesanato em geral Colares, pulseiras, tangas e arranjos Colares,pulseiras tangas e arranjos Colares e Pulseiras Peneiras, pulseiras e artesanato em geral Pulseiras, colares, bancos, enfeites, bonecos Colares, Pulseiras Marchetaria Brincos, cocares, braceletes, tornozeleiras, pau de cabelo, saiotes e tiaras. Cestos, caixas Fonte: Noronha, 2008, p. 87 Na comunidade, além dessas matérias primas, comumente para a confecção artesanal se usa a resina epóxi e a cola siliconada também chamada de cola quente. Esses materiais não são considerados matérias primas, contudo são fundamentais no acabamento dos trabalhos manuais. Uma das dificuldades encontradas pelos comunitários segundo seu líder é a descontinuidade das atividades de beneficiamento uma vez iniciadas na comunidade. Segundo seu relato, a empresa Magia Amazônica num período anterior de cerca de 10 anos havia treinado artesãos para o beneficiamento e instalado maquinário na comunidade em um galpão construído para o beneficiamento de sementes, contudo por falta de manutenção e motivação dos comunitários que afirmavam ser a confecção atividade mais rentável, abandonaram o ofício. E hoje as matérias primas são compradas já beneficiadas em Manaus. Todavia, a falta de organização quanto ao fornecimento das sementes e outros materiais de consumo para o beneficiamento também contribuíram para o enfraquecimento e diminuição significativa chegando ao término da atividade na comunidade. 69 As boas práticas estão voltadas ao processo de beneficiamento e melhoria da qualidade do artesanato que pode ser com sementes, fibras ou palhas. Algumas comunidades tradicionais em outras regiões da Amazônia têm realizado o manejo [...] respeitando algumas regras (boas práticas) que permitam uma produção de sementes contínua e duradoura, com retorno econômico e conservação e manutenção do ecossistema. (NORONHA, 2008, p. 91) Este tipo de fluxo poderia ter uma logística melhor se a matéria prima fosse beneficiada na própria comunidade ou em comunidades próximas, todavia os comunitários preferem adquirir matéria prima com preços módicos beneficiada em outro estado. Por não visualizar o beneficiamento de sementes como um potencial vocacional da comunidade, os artesãos compram muitas vezes matéria prima que segue o fluxo abaixo: 70 Segundo Noronha (2008), o valor agregado ao beneficiamento de sementes desde sua coleta até sua venda é enorme como podemos observar a seguir com o exemplo da semente de Jarina: A cadeia produtiva é grande e a agregação de valor é enorme, pois uma semente coletada sai no campo ao custo de R$ 0,02 e um pequeno chaveiro entalhado em uma única semente é comercializado, em Rio Branco, a R$ 17,00, ou seja, um fator de agregação superior a 500 vezes. (2008, 91) São também atingidos com a constante intervenção de terceiros não pertencentes à comunidade, mas que acabam ganhando de uma forma ou de outra com as belezas paradisíacas do Lago. Segundo o líder comunitário, é comum durante o ano, principalmente no período das férias escolares a presença de catraias, pequenos barcos, lanchas e até barcos maiores com atracados no lago que trazem pessoas para visitação. Ainda segundo o líder, os donos das embarcações cobram o passeio, mas a comunidade não é beneficiada e nem remunerada com a atividade. O líder comunitário informa que a Associação de Catraieiros de Manaus chega a cobrar 300,00 reais por passeio que inclui o Encontro das Águas, o Restaurante Flutuante e o Lago de Janauari onde param para tomar banho. Barbosa afirma que: Algumas comunidades garantem o controle de seus territórios a partir da criação de associações, sindicatos e cooperativas, formas de organização locais, tendo em vista a produção de políticas que atendam as necessidades locais, tendo em visa a produção de políticas que atendam as necessidades locais e o fortalecimento comunitário. Assim, as políticas do turismo comunitário revelam a existência do caráter solidário das comunidades, uma vez que as decisões são tomadas em conjunto e voltadas às melhorias da qualidade de vida local. (BARBOSA, 2011, p. 146). Em um fim de semana, a localidade chegou a receber 600 turistas no percurso que ia de Manaus ao flutuante segundo o próprio líder comunitário, contudo não temos conhecimento por parte dos órgãos competentes de algum estudo da capacidade de carga que o Lago comporta em finais de semana, meses de baixa ou de alta temporada. Com relação a sua organização social, a Vila de Janauari conta com duas 71 associações que são a Associação dos Moradores de Janauari e a Associação dos Artesãos de Janauari, ambas também em descontinuidade de ações. De acordo com PC, líder da associação dos artesãos e de DC líder da comunidade, as associações desenvolvem atividades ordinárias como: Associação dos Artesãos - reuniões, assembleias e planejamentos para o festival de artesanato, Associação dos Artesãos - reuniões, assembleias e planejamentos para conseguir mais recursos e para avaliar as obras em andamento na comunidade. Também nas reuniões levantam as necessidades da comunidade. Sampaio, Alves e Falk citam que: A importância das associações autogestionárias se evidencia pelas decisões ficarem sob a responsabilidade do grupo, no qual é preciso superar interesses individuais para decisões que priorizem melhores resultados para a coletividade, garantindo, desta forma, direitos iguais aos associados. No processo de produção compartilhado, ou mesmo individual, o fator que caracteriza a cooperação entre os membros dos grupos é a conexão entre eles, no qual o contato social estimula cada indivíduo a se realizar como pessoa e como agente social. (SAMPAIO, ALVES E FALK, 2008, p. 251). O líder comunitário sr. D.C, mesmo dentro de suas limitações busca melhorias para a Vila. Este líder, para conseguir as melhorias abaixo, reuniu-se com o prefeito, com outras lideranças dentro a prefeitura e com parceiros comerciais para a construção das obras, captação de recursos materiais, financeiros e para a agilidade na execução das obras. Dentre estas melhorias temos: • Escola Municipal Jovino Coelho, • Uma ambulância comunitária, • Um Posto de Saúde, • Duas mercearias; Existem duas obras do governo federal em andamento na comunidade que são: 72 • A construção da praça de Janauari • A Central de Artesanato da Comunidade de Janauari. No entanto de acordo com o líder comunitário e outros munícipes as obras estão em ritmo lento. Estas são de muita importância para a melhoria da qualidade de vida da comunidade, pois uma irá proporcionar o lazer e a segunda o trabalho em um ambiente próprio. Ao iniciar a presente análise é importante salientar que a mesma representa um recorte contextual de uma vivência construída na coletividade em um breve período de tempo. Uma comunidade como São Pedro do Janauari que já possui mais de 100 anos, e nessa trajetória vivenciou um sem número de eventos e fenômenos sociais, deve ser entendida como um organismo vivo, pois conforme Robbins, Thimothy e Sobral (2010) qualquer instituição que passa por tais fenômenos adquire vida própria, em outras palavras, qualquer aglomerado de indivíduos que demonstram cultura própria, podem ser considerados como tendo vida própria ou “se torna imortal” (2010, p. 506). Compreender tal vivência, investigar suas peculiaridades, e até certo ponto admitir como é difícil vislumbrar o diferente, vê-lo pelo seu próprio olhar, representou uma mudança de pensamentos, crenças e atitudes. Ao conviver com tanta simplicidade e exemplos de uma existência em equilíbrio com a natureza, nos faz refletir sobre o como vivemos e percebemos o mundo a nossa volta. Em cumprimento a nossa metodologia, as observações nos deram uma visualização mais esclarecida de tudo o que foi absorvido nas pesquisas bibliográficas e mais ainda, nos deram a percepção de uma necessidade pujante de mudança por parte da comunidade. De acordo com Lancman e Uchida (2003), a psicodinâmica laboral representará não a forma mais correta de agir diante dos fenômenos do trabalho, mas sim a forma como o indivíduo destrói, constrói e reconstrói seu labor. Para estes autores, o trabalho se torna um espaço social que permite a reposição as angústias e dificuldades vividas durante a caminhada do indivíduo em seu desenvolvimento. 73 De acordo com Dejours citado por Lancman e Uchida (2003) as angústias e os conflitos gerados pelo trabalho em uma ordem singular, tem como solução a coletividade. Para tanto a criação de espaços públicos, da fala e da escuta coletiva como observamos em comunidades é fundamental para que essas dificuldades laborais sejam solucionadas por todos. A rotina de trabalho onde as observações feitas, mostraram que apesar da rotina de trabalho ser intensa, não há desânimo ou impedimento emocional aparente para a realização das atividades rotineiras de trabalho. Ao contrário, o que observamos foi à satisfação na realização das rotinas diárias. Bleger diz que: “[...] a situação mais feliz é aquela em que o trabalho e o hobby coincidem, no sentido de que o trabalho seja, ao mesmo tempo, uma fonte de prazer” (1980, p. 113). E este prazer é o que move todo o trabalho envolvido no processo de retirada da matéria prima da natureza até a confecção das peças e sua venda em Manaus. Mesmo assim, os artesãos demonstram preocupação em relação às dificuldades enfrentadas pelas exigências de um mercado competitivo e exigente do artesanato. Segundo informações coletadas em entrevista, o sr. J. relatou que no início da confecção do artesanato, tudo era diferente. Ao ser questionado no que seria esse tudo, ele respondeu ter sido aquela época (por volta dos anos 70 e início dos anos 80), uma época farta em que não havia exigência de acabamento das peças, os turistas aceitavam pagar o que os artesãos pediam e não haviam prazos apertados para a entrega das mecadorias. Disse lembrar dessa época “com saudade” (SIC). Ao ser questionado sobre o agora, o sr. J disse que os tempos estão difíceis pois ele em questão não consegue fazer estoque de arcos e flechas. Toda a sua produção e de seu filho (que trabalha com o pai) vai para Manaus. Também a sra. T., nos disse que sua máquina de costura precisa de reformas e que já pensa em sair do artesanato e ficar no comércio dela e do marido. Ela nos respondeu que também no início não tinha máquina e fazia o artesanato à mão. Com o passar das décadas, foi paulatinamente deixando de confeccionar suas fantasias de pena de faisão para trabalhar na taberna do marido. 74 Segundo Bohoslavsky (2007) o jovem busca na profissão escolhida uma possibilidade de ser feliz. Estaria o adulto procurando também a sua felicidade pela escolha de um novo trabalho. A sra. G, em sua entrevista nos verbalizou preocupar-se com o destino de seus filhos pois dois já estavam empregados em Manaus e não sabiam a arte da confecção das flechas decorativas. Somente a filha caçula é que sabia confeccionar as flechas com a mãe, mas não sabia bordar (entalhar) os rostos nas cabaças. Bock comenta: O individuo é e não é ao mesmo tempo reflexo da sociedade; da mesma forma ele é e não é autônomo em relação à ela. [...] o individuo escolhe e não-escolhe - (sua profissão ou ocupação) - ao mesmo tempo. (1999, p. 16). Quando Bock, diz que o individuo escolhe e não escolhe sua profissão ao mesmo tempo, ele está tratando de sua liberdade de escolha. Em outras palavras, de acordo com a classe social de origem do individuo, ele tem mais ou menos liberdade para decidir, embora esta seja sempre multideterminada. Assim, os indivíduos têm a possibilidade de intervir sobre a sua trajetória, não havendo, portanto, determinação social absoluta. Ao ouvir os artesãos (Sr J. E Sra. G.) no momento em que confeccionavam as flechas foi possível notar o quanto eles tinham a consciência da exclusividade de seu trabalho e isso os fazia se dedicar mais em seu labor. A senhora G. foi quem ensinou e iniciou na comunidade o entalhe de rostos de índios nas cabaças das flechas e é ela quem ensina as artesãs iniciantes. Segundo a mesma o seu objeto de entalhe é uma faca de cortar peixe mais conhecida na região como “pexeira”. Mas um fato curioso é que a mesma não utiliza o termo entalhar (apesar de ser o mais aplicável em sua atividade), usualmente a artesã utiliza o termo “bordar”. Ao ser questionada sobre a origem do termo, a artesã nos relatou que por ser o formato do rosto “bordado” muito parecido com uma trama rendada, o termo era usado por fazer lembrar um bordado rendado. Disse reforçando sua 75 fala que tenta “imitar” tecidos rendados em seu “bordado”. Abaixo é possível visualizar seus chocalhos e flechas de cabaça e bambu de flecha e os detalhes que parecem ser uma renda: Fonte: Silva (2012) A segunda direção relaciona-se com a necessidade de mudança das condições e da forma de produzir artesanato. O sr. D. ao ser questionado, verbalizou que quando a empresa S turismo chegou à comunidade “impôs” aos comunitários o artesanato e que agora essa é a atividade mais rentável e da qual ele vive. O Sr. G, o Sr. P. e seu pai o sr. E, também confirmaram a fala do sr. D. Um deles disse: “Quando a S turismo veio aqui só tinha a plantação e a criação de galinhas e cabras. Eles perguntaram se nós queríamos fazer uns artesanatos pros turistas e nós aceitamos”. Contam que de lá pra cá a atividade se tornou parte da comunidade e muitos dos novos pensam, assim como os turistas, que essa sempre foi a atividade vocacional da comunidade. Bohoslavisky faz uma conceituação de identidade vocacional diferenciando-a da identidade profissional na qual podemos comparar com o vivenciado entre as gerações mais jovens e as mais experientes no Distrito que vem a seguir: a identidade vocacional expressa as variáveis de tipos afetivo- 76 motivacional, enquanto a identidade profissional mostra o produto da ação do contexto sociocultural sobre aquela [...] nenhum profissional, por mais capacitado que esteja tem o direito de interferir na escolha do sujeito. (2007, p. 61). Para Balbinotti, ...a maturidade vocacional é definida como a capacidade do indivíduo para enfrentar as tarefas de desenvolvimento com as quais ele é confrontado como conseqüência de seu desenvolvimento social e biológico, de uma parte, e das necessidades da sociedade em relação às outras pessoas que alcançam este estado de desenvolvimento, de outra parte. (2003, p. 463) Ainda com o mesmo, (2003) para aprofundarmos os modelos por ele citados anteriormente para elucidarmos os aspectos relacionados aos comunitários. Foram apresentados quatro modelos desenvolvidos para “explicar melhor a complexidade do comportamento vocacional do indivíduo” (idem, p. 462). O modelo 2 diz respeito as influências ambientais, tecnológicas e socioeconômicas descritas por Super apud Balbinotti (2003) como representadas pela família, amigos, comunidade, etc. Essa influência é bem clara no discurso do sr. PC quando verbalizou em entrevista que o artesanato de carrancas lhe foi ensinado por um artesão de fora da comunidade e com materiais não nativos para a confecção (goma epóxi, de nome comercial durepóxi). Verbalizou ainda que o formato da carranca, seus adereços de penas e sementes lhe fora passados por esse artesão e que posteriormente ele passou esse conhecimento aos outros comunitários. Em seu relato diz: “Quando o artesanato chegou aqui no Janauari eu era menino e quando eu comecei a fazer as carrancas foi o hippie que era guia da empresa S. turismo que me ensinou. De lá pra cá já se passaram mais de 20 anos”. A sra. E, que é moradora nova da comunidade não é artesã, verbalizou em sua entrevista: “Eu vou entrar nesse negócio de artesanato porque todo mundo faz isso aqui. Já conversei com as meninas lá de cima pra me ensinarem”. 77 Quando questionada sobre quem eram as moças de sua fala ela verbalizou: “A sra. T, me falou que as meninas daquela casa ali (apontou com o dedo para um imóvel do local) fazem artesanato e são boas. Que elas ensinam, mas eu ainda não fui lá e não sei o nome delas”. Mais uma vez perguntamos a ela como seria a sua aproximação para fazer o pedido e ela respondeu: “Eu digo que foi a sra. T que me mandou lá”. Na entrevista com o sr. J foi verbalizado por ele que tanto a confecção de arcos e flechas como a secagem de piranhas para ser empalhadas são atividades que ele aprendeu com seu pai e já ensinou ao filho. Este que não foi entrevistado por ter 17 anos estava no momento da entrevista cortando paxiúba para fazer as pontas das flechas do pai. Também verbalizou que o caminho fluvial para comunidade de Paciência foi aprendido com seu pai. Essa comunidade fornece a paxiúba para a confecção das pontas de flechas da família. Após esses diálogos fica claro como esses fragmentos de entrevista podem ser enquadrados como exemplo de influência exercida pelo ambiente e por condições sócio econômicas representados aqui por aqueles reconhecidos como autoridades informais na comunidade. Robbins, Thimothy e Sobral (2010) nos falam da influência exercida por aqueles dotados com poder de talento. Para esses autores esse tipo de conformidade ao poder ocorre pelo fato de os comunitários PC e E reconhecerem tanto no guia como na sra. T, ou na sra G, talento para confeccionar peças artesanais o que os torna referência e autoridade na área. O modelo 3 diz respeito ao desenvolvimento o qual Balbinotti afirma que “esta concepção propõe que o desenvolvimento vocacional é um processo contínuo desde a infância até a velhice” (2003, p. 462). E nesse aspecto, levando em conta todas as observações e entrevistas, ficou claro para nós de como a comunidade é tradicional. Os jovens desde criança são iniciados nas atividades laborais como que uma brincadeira de imitação dos pais. E ao passar a infância observando a rotina de trabalho de seus genitores chegam na adolescência em condições de demonstrar através de suas próprias confecções suas habilidades como aprendizes do artesanato. O próprio exemplo dado acima do sr. J e de seu filho, nos mostra essa tradição e 78 ofício sendo passado através das gerações. Outro que pode ser citado é o líder do artesanato PC que tem pai e mãe artesãos também. O desenvolvimento é, geralmente, ordenado e previsível, assim como dinâmico no sentido de que ele resulta da interação entre as características do indivíduo e as demandas da cultura, o que torna claro também o fato de tratar-se de um processo psicossocial. No decorrer deste processo, o indivíduo deve cumprir um certo número de tarefas de desenvolvimento. A natureza precisa destas tarefas e a maneira pela qual ele as cumpre revela sua maturidade vocacional. Dentro desta ótica, pode-se dizer de um indivíduo, que ele é maduro na medida em que ele está pronto para tomar as decisões e para assumir os comportamentos característicos de seu estado de desenvolvimento vital (idem, p. 463) O último modelo observado é o fenomenológico o qual relaciona a profissão do indivíduo com o conceito que este faz de si. Esta relação associa o trabalho assim: Se eu progrido em minha profissão, Então e progrido enquanto pessoa (idem, adaptado pela pesquisadora) Em entrevista com os artesãos, sempre ouvíamos as dificuldades colocadas por eles – muitas já citadas anteriormente – e ao final da entrevista ou até em momentos de observação sem que houvesse qualquer formalidade, ou em uma conversa informal, perguntávamos sobre as perspectivas futuras junto ao artesanato e se eles conseguiam ver no turismo uma alternativa de promoção e preservação da comunidade. A nossa resposta foi positiva em todos os comunitários questionados. Ouvíamos frases como o sr. J: “Nós vivemos do artesanato” . Outra do sr. PC: Seria muito bom se conseguíssemos implantar o turismo de base comunitária aqui no Janauari”. Este artesão tem colocações verbais muito bem articuladas, ele além de 79 artesão e líder comunitário, exerce papel de porta-voz da comunidade representando-a até no exterior em uma feira internacional de artesanato que ocorreu em Londres. Para Wagner III e Hollenbeck (2006) e Robbins, Thimothy e Sobral (2010) e Chiavenato (2006), satisfação no trabalho é um sentimento agradável que resulta não apenas da sensação, mas da percepção de que o trabalho realiza ou permite a realização de valores importantes relacionados ao próprio trabalho. Ainda esses autores concordam que ao se sentir satisfeito, trabalhador cria identidade e desenvolve maturidade profissional, pois estabelece um método próprio de realizar as atividades. Adquirir esta identidade torna o trabalhador mais comprometido e envolvido com seu artesanato. Para os autores Wagner III e Hollenbeck (2006) e Robbins, Thimothy e Sobral (2010) e Chiavenato (2006), envolver-se com o trabalho significa ter um alto grau de participação ativa na atividade laboral e em considerar que seu desempenho é um fator de valorização pessoal. Ainda com os mesmos comprometer-se com o trabalho significa ter o desejo de permanecer na atividade que já desenvolve. De acordo com a Sra. T., a relação de iniquidade entre compradores e artesãos está fazendo com que os jovens não se interessem pelo artesanato. Segundo ela, os jovens da comunidade até começam a trabalhar no artesanato, mas migram lentamente para o Polo Industrial de Manaus (PIM) mudando inclusive de cidade. Na visão da senhora T., essa migração tem sido segundo ela, espontânea, contudo, duradoura, pois os jovens que decidem trabalhar na capital, acabam por se estabelecer e fixar residência em Manaus. Os que preferem ficar na comunidade nem sempre vislumbram o artesanato ou o turismo como uma atividade desejada. Outro aspecto que a artesã cita é a necessidade de se agregar valor regional ao artesanato feito, bem como a necessidade de não deixar a técnica de confecção de flechas “se perder” pela falta de pessoas para confeccionar. Como afirma Ribeiro: Por diversos motivos o turismo de base comunitária possibilita 80 a inclusão da comunidade organizada em tomada de decisões, planejamento e execução da atividade turística, usufruindo também de seus benefícios em busca da inclusão socioeconômicas, dentre outros direito e deveres gerados pelo turismo em uma comunidade... (2008, p.02). O Turismo de Base Comunitária para tanto, se configura em uma alternativa aos artesãos mais antigos de perpetuarem suas técnicas, tanto por passa-las aos turistas que confeccionariam suas próprias peças quanto por servir de incentivo aos jovens a se debruçarem nas atividades laborativas da comunidade. Segundo Carvalho apud Ribeiro: ... esta sociedade deve estar madura, composta por indivíduos habilidosos para a formação sólida de uma comunidade e só então com seu amadurecimento e normalmente em formações associativas atingir o desenvolvimento comunitário. (2008, p.04) Com o Turismo de Base Comunitária, as dificuldades logísticas já citadas, por exemplo, poderiam ser transformadas em um ponto positivo, pois o tempo gasto com o deslocamento entre comunidades em busca de matéria prima, seria para os turistas, um momento de contemplação da natureza, onde informações sobre conservação e uso sustentável da floresta poderiam ser disseminadas aos mesmos. A comunidade vivencia uma realidade mercadológica que incita a mudança em sua cadeia produtiva do artesanato mesma proporção em que esta é rejeitada pelos comunitários mais antigos. Conforme Robbins, Thimothy e Sobral: A cultura se torna um passivo quando os valores compartilhados não estão em concordância com aqueles que poderiam melhorar a eficácia... Isso tem maior probabilidade de ocorrer quando... a cultura arraigada pode não ser mais adequada (ROBBINS, THIMOTHY e SOBRAL, 2010, p. 506). De acordo com o observado existe na comunidade uma tendência dos artesãos mais jovens de ceder ao assédio e às pressões comerciais dos compradores. Segundo os artesãos mais antigos, os jovens vendem suas peças por poucos reais não valorizando o artesanato. Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento social de Erikson 81 citado por Morgado (2001) o adolescente e o jovem adulto têm a necessidade de pertencer a um grupo e de ser reconhecidos por ele como iguais. Para tanto é explicável e até aceitável do ponto de vista dos artesãos mais jovens suas atitudes, contudo ainda com os autores, o adulto e o idoso apresentam uma maior maturidade bem como maior estabilidade financeira e familiar, o que os leva a um senso crítico e até a uma reação seletiva de como vender e para quem vender. O que se observou durante toda essa construção de saberes é que a comunidade chegou à conclusão e que para haver mudança, a união e organização social e institucional são importantes. Por uma iniciativa comunitária os trabalhos das associações retornam aos poucos a atividades cada vez mais inovadoras e ousadas no sentido de promover a comunidade. Nas fotografias visualizamos as melhorias conseguidas apenas com a força dos comunitários ao longo desses dois anos, assim como o interesse por pesquisadores de várias áreas interessados em conhecer e auxiliar a comunidade nas suas dificuldades. A essa mudança de atitude por parte dos comunitários em gerir seus potenciais turísticos de forma sustentável, Bock cita que “nossas atitudes podem ser modificadas a partir de novas informações, novos afetos ou novos comportamentos ou situações” (2001, p. 180). Também a presença de pesquisadores cada vez mais constante pode estar causando um mal estar positivo que gera ação e mudança ao questionar ou ao fazer os comunitários recordarem de suas dificuldades e dos possíveis melhoramentos que não dependem de poder público, mas apenas da boa vontade e pro-atividade dos comunitários. No decorrer desta pesquisa, tivemos a oportunidade de participar do IX Festival Cultural do Artesanato do Janauari. Nele observamos uma organização basicamente arquitetada pelo sr. PC que em sua iniciativa, contratou toda a estrutura necessária para receber os comunitários das 5 comunidades do Distrito, cidadãos irandubenses e manauaras. Contudo, como a produção dos artesãos é entregue aos sábados em Manaus para uma feira tradicional domingueira no centro da cidade, não havia artesanato em abundância no festival (como era o esperado tanto por nós 82 como pelo próprio líder do artesanato). Observamos sim, apenas barracas brancas de comida e bebidas e apenas uma de artesanato com cobertura de palha. Nesta havia o artesanato de comunidades próximas e até da cidade de Parintins. Ao ser questionado sobre quando iam chegar as peças o líder do artesanato verbalizou: “Eu nem quero falar sobre isso”. A sua fala soou para nós com um tom de descontentamento já que nossa espera, de uma forma ou de outra, gerou expectativas, mas que para ele gerou cobrança. Havia autoridades patrocinadoras como representantes da prefeitura e de um banco regional que financiou parte do festival. De acordo com Chiavenato (2007), Robbins, Thimothy e Sobral (2010), as percepções de iniqüidade criam emoções desagradáveis. As tensões associadas às emoções desagradáveis como culpa e raiva, motivam as pessoas a fazer algo que reduza a iniquidade e tanto na fala do comunitário quanto em sua saída de nossa roda de discussão pode caracterizar sua atitude como do tipo fuga da situação injusta. Por essa e por outras razões são importantes o planejamento, e o gerenciamento da atividade turística na comunidade visto que algumas localidades já habituadas a receber visitantes intensamente, se viram saturadas pela atividade turística e passaram a demonstrar aversão aos que chegavam à localidade na condição de turistas. Conforme Wagner III e Hollenbeck (2006) esse tipo de reação à injustiça pode ser conceituada como aquela em que quando todas as possibilidades de enfrentamento e negociação de um embate ou injustiças falham, só resta ao indivíduo que se sente injustiçado ou ameaçado retirar-se e procurar pessoas ou ambientes que lhes sejam mais confortáveis d ponto de vista psicológico. Após o início da festividade, o líder se distanciou de nós e respeitamos seu momento não insistindo mais na questão. Em discussão sobre o festival, levantamos alguns aspectos que poderiam ser considerados primordiais para o baixo número de peças em exposição no evento: • O excesso de demanda pelos compradores de Manaus, • Cansaço pelo dia de trabalho confeccionando peças já encomendadas, 83 • A falta de artesãos em quantidade suficiente para estocar produção; • A falta de acessibilidade ao Distrito e • A pouca sensibilização feita aos artesãos para um aumento de produção específica para o festival. Queremos ressaltar o fato de que nos baseamos em nossas reflexões e nas observações realizadas durante todo o dia de preparo e ornamentação do festival como aspectos contribuintes para a baixa quantidade de peças expostas e para o não comparecimento de muitos artesãos ao festival. Fonte: Silva (2012) 84 Fonte: Silva (2012) Fonte: Silva (2012) Fonte: Silva (2012) Os fatores: excesso de demanda e falta de artesãos suficientes, relacionam-se com o fato de que muitos jovens deixam o Distrito para arvorarse em uma carreira no PIM – Polo Industrial de Manaus já mencionado anteriormente. A falta de sensibilização e até mesmo de união entre os artesãos, associamos ao fato de que a liderança de PC pode estar sendo posta em questionamento pelos artesãos: De um lado o líder do artesanato afirma que seus associados se pulverizam em motivos pessoais sem chegar a um consenso para as decisões que dizem respeito às suas demandas; Do outro lado estão os artesãos que alegam não ter incentivos ou garantias de melhorias para seu ofício. 85 Mesmo com essas alegações os associados não demonstram disposição em assumir a liderança da associação. Cremos em algumas medidas propostas aqui em formato de sugestão, que podem elevar o ânimo em dar continuidade à produção de artesanato no Distrito bem como a aproximação do turismo de base comunitária ao Distrito de Janauari. Essas etapas não estão conectadas a Janauari. Nesse sentido ainda será necessário um período mais aprofundado de estudos sobre a temática par aí então se realizar uma sondagem junto a comunidade com um plano piloto para as primeiras incursões em Turismo de Base Comunitária na comunidade de São Pedro do Janauari. Seguindo o modelo da WWF (2003) que utiliza eixos de ação para uma proposta Turismo de Base Comunitária temos: 1. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 1.1. Planejamento que iniciará todo o planejamento para a preparação da comunidade para a implantação do TBC; 1.2. Levantamento do potencial turístico para o qual deverá constar uma metodologia adaptada à comunidade com pesquisas próprias e análises qualitativas e quantitativas do diagnóstico comunitário. 1.3. Confecção do produto turístico através de ferramentas de marketing que indicarão quais produtos poderão ser trabalhados pela comunidade; 1.4. Avaliação da viabilidade econômica, para a atividade do TBC. Questões como pesquisa orçamentária e econômicas são importantes para a saúde econômica da modalidade do TBC na comunidade. 2. IMPLEMENTAÇÃO RESPONSÁVEL 2.1. Infra-estrutura de apoio ao TBC: Aqui, as informações coletadas na fase do planejamento e implantação da infra-estrutura são reunidas. 2.2. Manejo do artesanato por meio do levantamento de quais peças artesanais seriam mais adequadas ao TBC. 2.3. Interpretação ambiental, na qual o processo da cadeia produtiva do 86 artesanato seria trabalhado junto ao turista em programas educativos e de sensibilização para a conservação da comunidade em seus aspectos ambientais e culturais. 2.4. Programas de Capacitação: Neste item, a participação comunitária se dá por seu aperfeiçoamento tanto em cursos mais básicos como corte e costura, marchetaria e contabilidade doméstica, quanto em cursos onde há maior refino de habilidades como inglês básico e avançado, hospitalidade, empreendedorismo etc. Aqui também há a captação de parceiros em centros de capacitação e ensino. 3. GESTÃO INTEGRADA 3.1. Monitoramento e controle dos impactos socioculturais da visitação e permanência dos turistas na comunidade. 3.2. Administração contábil de pequenos empreendimentos para auxiliar os comunitários em seus gastos, provisões para altas e baixas temporadas, conceitos de capital de giro e como investir e ampliar seus empreendimentos, etc. 3.3. Contribuição de voluntários nos projetos de TBC objetivando fortalecer o protagonismo dos atores sociais envolvidos com o TBC bem como organizar um programa de voluntariado comunitário. 3.4. Pesquisa de aperfeiçoamento do TBC. Aqui seriam estimuladas as pesquisas científicas para os constantes ajustes e melhoramentos desta modalidade de turismo na comunidade. Atualmente o Ministério do Turismo apresenta: Projetos de incubação de empreendimentos de tecnologia popular: •16 municípios nas seguintes Regiões: •Lençóis Maranhenses, Delta do Parnaíba, Serra da Capivara e Jericoacoara; •29 grupos produtivos trabalhados, cerca de 300membros Início de projetos em mais sete Estados (MG, SP, PE, RJ, PR, PA e BA). (2008, p. 04) E o Ministério espera os seguintes resultados: 87 – Fortalecimento das ações Desenvolvimento local comunitário; – Fomento a geração de trabalho e renda ligada de comunidades locais e/ou tradicionais. – Articulação de iniciativas do segmento “Turismo de Base Comunitária” em rede. – Articulação e parcerias entre as esferas públicas e privadas responsáveis. – Reconhecimento do turismo de base comunitária como um dos vetores de desenvolvimento local. (2008, p. 12) Desta pesquisa, outros desdobramentos serão possíveis sempre em consonância às necessidades e motivações da comunidade. A partir do discurso dos comunitários é que as ações de mudança poderão ser planejadas por todos os parceiros pesquisadores, comerciais e, sobretudo pelos comunitários que ao chegar à autogestão de seus recursos naturais, vocacionais e potenciais terão uma ferramenta para o crescimento e fortalecimento de suas raízes culturais, sociais e humanas. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessas palavras finais, gostaríamos de expressar nosso sentimento de continuidade. Sentimo-nos assim, por saber que a caminhada apenas começou e que há muito ainda para trilhar nos caminhos da ciência. Em resposta ao nosso tema, este passou por várias modificações que temos a certeza de ter sido para melhor. Estas adequações ocorreram devido a nossa miopia científica em definir nosso objeto de estudo e conseguir captá-lo enquanto fenômeno plástico e em constante mudança. Contudo as orientações nos focaram sempre na pesquisa e direcionaram nosso olhar para o outro procurando vê-lo despidos de nossos pré-julgamentos e verdades cristalizadas. Em resposta aos nossos objetivos, acreditamos tê-los alcançado parcialmente visto que a distância entre nós e nosso objeto de pesquisa, nossas dificuldades de administração do tempo e de comunicação tornaram o desafio maior e mais difícil de contemplar. Nossa metodologia se mostrou muito profunda por arvorar-se em mostrar pelas palavras o que somente os olhos e muitas vezes nossa psique poderia 88 absorver e compreender. Chamaremos, portanto esta dissertação de um pequeno “ensaio científico”, não por nos considerarmos pequenos no sentido de medíocres, mas por nos sentirmos iniciantes em pesquisa. Momentos difíceis foram inúmeros. As idas e vindas à balsa, a fila de mais de um quilômetro só para entrar na balsa, gravidez, conciliação de trabalho e mais trabalho, casa, filhas e mestrado, tornaram muitas vezes as noites mais curtas e os dias mais longos. Ao longo do período, muitas relações afetivas se atritaram, outras se desfizeram e muitas se fortaleceram por causa de uma única palavra: mestrado. Contudo o crescimento que esta experiência proporcionou foi ímpar em todos os aspectos de todos os atores envolvidos no processo. Lembramo-nos de estar em uma aula no módulo e ao mesmo tempo ter que ministrar aulas para aqueles que no dado momento julgamos precisar mais de nós. Ou ainda de estar na frente do ramal do Janauari sem poder entrar diante de um atoleiro. Tantas foram os textos repetidamente lidos para ampliar a assimilação, tantos foram os “co-orientadores”, os “co-pesquisadores” e “co-terapeutas” de plantão que estavam apostos a nos auxiliar e às vezes a só ouvir. Grande foi o nosso aprendizado e nossa certeza de sermos pequeninos diante da grandiosidade do outro, diante de nossa caminhada diante da ciência. Temos a concretude de nunca parar, mesmo quando margeados de lágrimas e incertezas. Mas no decorrer desses dois anos de atividades de campo o Distrito de Janauari, observamos e participamos da vida, da rotina, das dificuldades e de todo o resplendor da natureza a nossa volta. Durante os encontros na comunidade foi-nos possibilitado um nível de proximidade com os comunitários no sentido de partilharmos da mesma comida e da mesma bebida e da mesma dormida. Nossos anfitriões em todos os momentos demonstraram uma receptividade e um interesse por nós, não apenas por sermos pesquisadores, mas por que na medida em que os vínculos iam se estabelecendo, as histórias iam se misturando e cada vez mais nos sentíamos pertencentes à comunidade. Pudemos observar também as condições de observar também, que 89 apesar de hospitaleiros, para introduzir o Turismo de Base Comunitária, se este for o desejo da comunidade, será necessário que a mesma tenha o treinamento adequado para iniciar tal atividade. Percebemos que além das riquezas naturais, a comunidade também apresenta sua riqueza humana. Riqueza essa expressa em suas manifestações artísticas e artesanais: nos colares, pulseiras, brincos, carrancas, arcos e flechas. A comunidade de São Pedro do Janauari, hoje Distrito do Janauari compõe um grupo de famílias que vivem do artesanato e desejam profundamente mantê-lo vivo tanto em suas vidas como nas vidas dos visitantes. As atividades realizadas pelos comunitários, que vão desde as domésticas (como fazer farinha, tratar um peixe ou ordenhar uma cabra, por exemplo) até as atividades artesanais são alternativas criativas e ao mesmo tempo incomuns aos olhos daqueles que ainda não tiveram a oportunidade de partilhar de tal experiência. Por ser banhada pelo Rio Negro, o que diminui a incidência de mosquitos hematófagos, a comunidade possui as características ambientais adequadas à receptividade dos turistas. Além das belezas e atividades oferecidas pelo dia-a-dia dos comunitários, a própria floresta nos convida a parar um pouco da nossa rotina e contemplar o nascer ou pôr do sol na beira de um lago. Em Janauari, é possível ir de lancha ou de rabeta aos igapós, focar jacarés à noite, pescar seu próprio peixe, visitar pequenas ilhas e praias, caminhar em trilhas terrestres e alagadas por passarelas suspensas, assim como também é possível ir ao encontro das águas. E mais, na fotografia abaixo observamos o que todos os dias os comunitários avistam: uma sutil brincadeira das nuvens formando um encontro das águas no céu, mostrando o quão imprevisível e bela pode ser a natureza aos olhos daqueles que estão preparados para ver e reconhecer beleza onde outros só avistam o comum. 90 Fonte: Silva, 2012 91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4ª edição, São Paulo: Martins Fontes. 2000. ABERASTURY, A., KNOBEL M. Adolescência psicanalítico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988. Normal: Um enfoque ALMEIDA, Tamara; BORGES, Leilane; FIGUEIREDO, LIMA, Silvio. Turismo Cultural e Comunidades: Ação e Relação em uma Comunidade Amazônica. Revista Eletrônica de Turismo Cultural. Vol. 02 – Nº 01, 2008. ARAÚJO, Guilherme P., GHELBECK, Daniele Lima. TURISMO COMUNITÁRIO - Uma perspectiva ética e educativa de desenvolvimento. Revista Turismo Visão e Ação – Eletrônica, v. 10, nº 03. p. 357 – 378, set/dez. 2008 BARBOSA, Luciana Maciel. 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Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, rubrique todas as folhas e assine ao final deste documento, com as folhas rubricadas pelo pesquisador, e assinadas pelo mesmo, na última página. Este documento está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma. A presente pesquisa tem como tema “JANAUARI: A PSICODINÂMICA LABORAL DOS ARTESÃOS EM UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO COM O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA”. E tem como objetivo geral analisar a psicodinâmica laboral da população do Distrito de Janauari para a organização e autogestão de empreendimentos turísticos de base comunitária. Para conseguirmos os dados relativos a este objetivo precisaremos com o seu auxílio de: 1. Descrever a história da comunidade e do foco laboral artesanal de produção que sustenta economicamente as famílias da localidade; 2. Caracterizar o nível de organização comunitária [associações e cooperativas existentes] para a autogestão de empreendimentos turísticos de base comunitária; 3. Identificar as tendências, expectativas e possibilidades de serviços e 97 produtos turísticos [ligados a produção artesanal] que possam ser ofertados a turistas e visitantes; 4. Analisar se as expressões artesanais locais poderiam ser o foco chamativo de turistas e visitantes; No intuito de participar da pesquisa o senhor(a) ter alguns pré-requisitos como: Ser morador da comunidade de Janauari; Trabalhar diretamente com artesanato seja no beneficiamento de matéria prima, na confecção ou na venda do artesanato; Ter idade maior que 17 anos e querer participar da pesquisa. Caso a decisão seja positiva haverá com seu consentimento a possibilidade de registro fotográfico ou de gravação em áudio as entrevistas e visitas. Por ser uma pesquisa de cunho psicossocial, apresenta possibilidades baixas de provocar prejuízos psicossociais ao pesquisado visto que não busca investigar assuntos sigilosos ou de caráter polemizador do mesmo. Como benefícios decorrentes da participação, o senhor(a) estará contribuindo para o engrandecimento científico do tema da pesquisa bem como estará abrindo caminho para mais estudos na área e na comunidade os quais poderão trazer os melhoramentos que a comunidade por ventura possa vir a necessitar. Todos os participantes da pesquisa, sejam pessoas físicas ou empresas, terão suas individualidades resguardadas em todo o processo e após a pesquisa ser concluída. O período de participação incluirá apenas os dias das visitas técnicas que ocorrerão ordinariamente duas vezes por mês durante os meses de agosto a novembro de 2011 e fevereiro a abril de 2012. Os participantes da pesquisa são livres para retirar seu consentimento de participação em qualquer momento da pesquisa e sob forma alguma será prejudicado em qualquer aspecto. Nome do Pesquisador: Ana Paula Silva e Silva Assinatura do Pesquisador: 98 CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO Eu, , RG , CPF abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Local e data: Nome: Assinatura do Sujeito: Telefone para contato: Pesquisador Responsável: Ana Paula Silva e Silva Telefone para contato: (92) 84139782 Pesquisadores Participantes: Telefones para contato: 99 APÊNDICE 02 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM TURISMO E HOTELARIA – MESTRADO ACADÊMICO – MINTER / UNINORTE ROTEIRO DE ENTREVISTA, OBSERVAÇÃO E LEITURA DE DOCUMENTOS 1. Dados Relacionados aos Informantes: 1.1. Nome, 1.2. Idade, 1.3. Local de Residência, 1.4. Atividade Desenvolvida; 1.5. Dados Gerais sobre suas ações laborais e associativas na comunidade; 2. Dados oficiais do IBGE e outras instituições privadas e públicas sobre o desenvolvimento populacional econômico local; 3. Dados relacionados aos aspectos históricos e geográficos da comunidade; 3.1. A chegada dos primeiros moradores na comunidade 3.2. Moradores nascidos na comunidade ou de outras localidades. 3.3. Comunidades parceiras no fornecimento de matéria prima. 3.4. A logística para a busca de matéria prima em outras comunidades e no entorno de São Pedro do Janauari. 4. Dados relacionados às organizações comunitárias públicas e privados; 4.1. Associações comunitárias. 4.2. Serviços públicos e privados da comunidade. 4.3. Relacionamento e comunicação comunidade/Iranduba. 5. Dados relacionados à organização laboral da comunidade; 5.1. Divisão do trabalho por família. 5.2. Produtos confeccionados por família. 5.3. Idade de início das atividades laborais. 5.4. Quantidade de pessoas por família envolvidos com artesanato. 6. Dados relacionados às potencialidades turísticas locais. 6.1. A percepção de quais seriam outras atividades turísticas além da visitação espontânea na comunidade. 6.2. A percepção do turismo de base comunitária como alternativa para a comunidade de Janauari.