V Encontro Nacional das Licenciaturas - ENALIC e IV Seminário Nacional do Pibid Universidade Federal do Rio Grande do Norte - NATAL/RN. De 08 a 12 de dezembro de 2014 A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO “SOCIOLOGIA PARA JOVENS DO SÉCULO XXI”. Josiara Gurgel Tavares Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. Professora de Sociologia - Secretaria da Educação Básica do Ceará. Professora Supervisora do PIBID-Sociologia da Universidade Federal do Ceará – UFC. Profª. Drª. Danyelle Nilin Gonçalves (Orientadora) 2 A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO “SOCIOLOGIA PARA JOVENS DO SÉCULO XXI”. RESUMO Após a aprovação da lei 11.684/08 que assegura o retorno da Sociologia na educação básica, essa disciplina passou a figurar nas políticas voltadas para a produção de material didático no país. Em 2012, pela primeira vez o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) lançou dois livros de Sociologia para serem escolhidos e adotados nas escolas públicas brasileiras e para 2015 a disciplina apresenta um salto: seis livros aprovados com autoria de docentes dos ensinos médio e superior. Esse fato é uma identificação de que cada vez mais novos agentes se dedicam a pensar a prática e o ensino de Sociologia na educação básica. O presente trabalho tem como objetivo analisar uma dessas obras: “Sociologia para Jovens do Século XXI”. Sabe-se que o livro didático é uma importante ferramenta na construção do conhecimento determinando, em muitos casos, “o que se ensina” e “como se ensina o que se ensina”. O trabalho analisa a condução do processo de construção do conhecimento e pensamento sociológico oferecido pelo livro, sua proposta de mediação entre conhecimento científico e conhecimento escolar, de que forma conduz a articulação entre conceitos, teorias, temas e realidade social proposto pelas Orientações Curriculares para o ensino de Sociologia (OCN’s), quais são as linguagens e estratégias didático-pedagógicas usadas para realizar a mediação conhecimento científico-conhecimento escolar e como o material sugerido contribui para a prática pedagógica do professor. Palavras-chaves: livro didático, conhecimento, Sociologia. 1- Com “licença”: a Sociologia entra na sala de aula. A inclusão da Sociologia nos currículos do ensino médio do Brasil, a partir da lei 11.684, de 2 de junho de 2008, atende as reivindicações de numerosos cientistas sociais, mas também coloca-lhes o desafio de legitimar essa disciplina na escola e junto aos milhares de jovens brasileiros. Assim, “a vitória do movimento pela inserção da disciplina no currículo do ensino médio sucede agora o que Hannah Arendt considerava uma das fases mais cruciais de qualquer mudança – a sua efetiva institucionalização” (BOAS, 2009, p.5). A legitimação da Sociologia na Escola e junto aos estudantes passa por diferentes variáveis que envolvem, entre outros importantes aspectos, a configuração da disciplina: O que ensinar? Como ensinar? 3 No ano de 1998, surgiram os primeiros documentos oficiais, elaborados pelo Ministério da Educação, sinalizadores do retorno da Sociologia à educação básica: os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Estes defendem a articulação entre competências, habilidades, temas e conceitos da Sociologia, como contribuição ao estudante no processo de condução de certas práticas e condutas em sua realidade social, seja por meio da disciplina específica ou projetos e atividades interdisciplinares. Em 2002 o Ministério de Educação lança os Parâmetros Curriculares+. Nessa versão atualizada é possível encontrar de forma mais clara a articulação entre os eixos – competências, habilidades a temas e conceitos da Sociologia como cidadania, cultura e trabalho. ( MOREIRA, 2014, p.43). Em 2006 é elaborado outro importante documento: as Orientações Curriculares Nacionais (OCNs). Se nos documentos anteriores percebíamos pouca significação no que se refere à solidez do conhecimento e das práticas pedagógicas da Sociologia, encontraremos agora, importantes componentes e propostas de como se ensinar a disciplina no ensino médio. A partir dos princípios estranhamento e desnaturalização, orientam a pesquisa e o ensino em três recortes: conceitos, temas e teorias. As OCNs só vieram alcançar maior visibilidade nas escolas após 2008 com o retorno obrigatório da disciplina ao currículo do ensino médio, momento em que a disciplina ganha maior importância, garantida pela conquista do respaldo legal.A Sociologia passa a figurar nas políticas voltadas para o currículo, formação de professores e produção de material didático. Em 2012, a Sociologia teve, pela primeira vez, livros avaliados e distribuídos para os alunos do ensino médio da rede básica de ensino pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Outra importante conquista que vem se configurando é o número crescente de questões de cunho sociológico no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O efeito da lei 11.684/08 não se deu somente dentro das escolas. Nas universidades ocorreu o crescimento dos cursos de licenciatura, a criação do Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à Docência em Sociologia, ampliando-se o campo de discussão para se pensar a Sociologia na educação básica. Mencionamos aqui os eventos específicos das licenciaturas, que se fortalecem a cada ano e reúnem cada vez mais estudantes e professores universitários e da educação básica. 4 Consideramos fruto dessa dinamização, o crescimento no número de livros submetidos à avaliação pelo PNLD 2015. Enquanto em 2012, a Sociologia teve dois livros aprovados, em 2015 esse número subiu para seis. Isso impacta diretamente nas escolas, pelo salto na qualidade do material e possibilidade de análise de uma diversidade maior de títulos. Sabendo da importância do livro didático como ferramenta na construção do conhecimento determinando, em muitos casos, “o que se ensina” e “como se ensina o que se ensina”, analisaremos um título de Sociologia aprovado pelo PNLD 2015 “Sociologia para jovens do século XXI” - e selecionado pelos professores da Escola de Ensino Fundamental e Médio Doutor César Cals. Esta escola compõe a rede pública estadual de ensino da cidade de Fortaleza, no Ceará. A disciplina de Sociologia nesta escola integra a grade curricular dos três anos do ensino médio, com uma aula semanal de cinquenta minutos, totalizando 27 turmas, sendo lecionada por três professores com formação na área. A análise se dará a parir da proposta do livro, de como acontece: a condução do processo de construção do conhecimento e pensamento sociológico? a mediação entre conhecimento científico e conhecimento escolar? a articulação entre conceitos, teorias temas e realidade social? Quais são as linguagens e estratégias didático-pedagógicas pensadas para favorecer o conhecimento e aprendizagens? Como o material de apoio ao professor contribui no planejamento das aulas e na condução das práticas pedagógicas? 2- Os Manuais ou Livros Didáticos de Sociologia no Brasil. Consideramos importante ressaltar o percurso de produção dos manuais ou livros didáticos nos momentos de institucionalização da Sociologia no Brasil. Foi nos anos de 1930, com a inserção da Sociologia na estrutura curricular do ensino secundário, que se registra a presença dos primeiros livros de Sociologia nas escolas brasileiras. A estratégia encontrada para subsidiar professores dessa disciplina foi a importação de títulos, sendo a maior parte de autores franceses de forte influência positivista. Porém, em pouco tempo, já dispúnhamos de uma bibliografia nacional, produzida por intelectuais brasileiros, em sua maioria, professores das escolas secundárias. 5 Apesar do desaparecimento da Sociologia do currículo das escolas secundárias em 1942, as obras dos anos 1930 continuam conquistando leitores, com reimpressões de títulos até os anos de 1970, circulando principalmente nas Escolas Normais. É sob o calor do processo de redemocratização no Brasil e das demandas para retorno da Sociologia ao ensino médio que em 1980 surge um conjunto de livros de Sociologia pensados para essa modalidade de ensino. A inclusão da Sociologia no PNLD 2012 vem se configurando como fundamental para a legitimação da disciplina e crescimento da produção didática voltada para atender as demandas do ensino médio. É em MEUCCI (2013), que encontramos o histórico do percurso e análise da produção sociológica para essa etapa de ensino: “A julgar pelas análises já existentes dos livros didáticos de sociologia elaborados no Brasil desde os anos de 1930, podemos afirmar que esta produção do primeiro decênio do século XXI que atende à chamada do Edital do PNLD Ensino Médio 2012 constitui a terceira safra de livros escolares de sociologia desde a sua institucionalização na educação básica no Brasil. Com efeito, a produção de livros didáticos de sociologia no Brasil é bastante limitada, inibida pelas próprias circunstâncias da institucionalização da disciplina no sistema escolar”. (MEUCCI, 2013 , P. 5) O histórico de intermitências vivido pela Sociologia vem se refletir, entre outros, no campo da produção sociológica, causando distanciamento entre a produção acadêmica, intelectuais e o sistema escolar. Isso se manifesta na reprovação de grande parte de títulos submetidos a análise pelo PNLD nos dois anos. Esse fato está registrado no guia de escolha do livro didático deste programa de 2012: “Entendendo o livro didático de Sociologia como um artefato cultural que expressa escolhas sobre a seleção, a organização e o sentido do conhecimento sociológico na escola, podemos afirmar que o resultado desta avaliação, caracterizada por um enorme índice de exclusão de livros, denuncia algumas dificuldades relativas ao ensino da Sociologia. Possivelmente algumas dessas dificuldades estão relacionadas ao fato de que a Sociologia esteve ausente como disciplina obrigatória do sistema escolar brasileiro por quase sete décadas, período durante o qual as Ciências Sociais se consolidaram como uma carreira eminentemente acadêmica. Portanto, pode-se ao menos lançar a hipótese de que as dificuldades manifestas nos livros didáticos são, sobretudo, relativas à difícil conversão do conhecimento científico acumulado num saber escolar”.(BRASIL, 2012,p.11) 6 É recorrente nos debates a necessidade em reconstruir conteúdos, temas, linguagem, objetos das ciências sociais para a fase de aprendizagem dos jovens alunos do ensino médio. Nesse aspecto, podemos perceber o grande avanço que a Sociologia teve nos últimos três anos, considerando as criteriosas avaliações realizadas pelo PNLD em 2012 e em 2015, quando a disciplina apresentou, neste último, um salto de 200% na aprovação de obras. Os livros didáticos apresentam-se, não só para a Sociologia, mas para diferentes disciplinas, muitas vezes, como guias na organização e seleção dos conteúdos considerados relevantes a serem estudados a cada etapa de ensino, “... são entendidos como um veículo que, através do arranjo e dos sentidos do seu texto, expressa importantes aspectos do processo de rotinização de um campo de conhecimento no meio escolar.” (MEUCCI, 2013, p. 06). Daí a relevância desse recurso no meio escolar. 3- A construção do pensamento sociológico no ensino médio no livro Sociologia para Jovens do século XXI. Por não ter uma tradição pedagógica no que se refere ao planejamento, ensino, práticas e recursos didáticos, como tem outras disciplinas da educação básica, a Sociologia vivencia hoje um processo de construção do ensino, das práticas pedagógicas e dos recursos didáticos. No que se refere aos recursos didáticos e sua seleção de conteúdos, muitos ainda se apresentam dentro de uma estrutura pedagógica organizacional assim descrita por OLIVEIRA e CASTRO (2009): uma linguagem academicista e duas tendências: uma conceitual linear, marcada por informações que nem sempre priorizam o entendimento das relações sociais, a outra temática fragmentada, onde se elenca uma série de temas considerados básicos, cujas partes somadas originaria uma pretensa totalidade social. (OLIVEIRA e COSTA, 2009, p.162). É numa releitura das OCNs – Sociologia, que encontramos componentes importantes de propostas para se pensar o ensino de Sociologia na educação básica. Este documento indica a disposição necessária de orientar, a partir de duas perspectivas epistemológicas: estranhamento e desnaturalização, a pesquisa e o ensino em três recortes: conceitos, temas e teorias. É num diálogo com os princípios desse documento que MORAES e GUIMARÃES defendem que é propriedade das ciências sociais, e da 7 Sociologia no ensino médio, o provocar de um olhar para além da realidade imediata, propiciando nos jovens de ensino médio o exame de situações que fazem parte do seu dia a dia, imbuídos de uma postura crítica e atitude investigativa. ( MORAES e GUIMARÃES, 2009,p.48). Os processos de ensino-aprendizagem envolvem um complexo de fatores que reúne, entre outros, objetivos do ensino, seleção de conteúdos, técnicas pedagógicas e recursos didáticos. É sobre este último que iremos discutir, levantando questões e possibilidades em torno da disciplina de Sociologia. As escolas públicas do país vivenciaram, neste ano de 2014, o processo de escolha dos novos livros didáticos para o ensino médio, através do PNLD, que atende hoje a cerca de 8 milhões de estudantes. A Sociologia apresenta-se com seis livros aprovados pelo programa para análise dos professores, que na Escola de Ensino Fundamental e Médio Doutor César Cals são licenciados em Ciências Sociais, o que favoreceu o diálogo e análise da obra escolhida. É preciso mencionar, antes, que é perceptível o diferencial de aparato técnico e de divulgação das editoras. Enquanto algumas vão às escolas, antecipadamente, levando exemplares para cada professor; outras (as menores), não disponibilizaram divulgadores locais, sendo o livro conhecido pelo recurso digital. Consideramos um avanço os saltos na qualidade do material e na quantidade de livros disponibilizados para escolha, o que possibilitou a análise de uma diversidade maior de títulos com abordagens de temas pouco – ou não – contemplados nas obras apresentadas no PNLD 2012 . Após o contato individualizado com todas as obras, os professores, no encontro da área de humanas, apresentaram seus pareceres sobre os títulos. Foi consensual a escolha do livro “Sociologia para Jovens do Século XXI”, pela proposta que norteia a obra: a perspectiva dialógica – o que pode favorecer a mediação entre conhecimento científico e saber escolar; o exercício de problematizar as opiniões que predominam no “senso comum” e “desnaturalizar” a realidade social; pela linguagem jovial e diálogo com gêneros textuais e recursos visuais - e com isso a possibilidade de aproximação dos conteúdos, temas, conceitos das Ciências Sociais com a realidade do aluno; pelo uso de frases na abertura dos capítulos que pode contribuir para aproximar o debate sociológico das situações cotidianas e despertar um maior interesse do aluno pelos temas e conteúdos da área. Este conjunto de aspectos 8 apresentaram-se como relevantes na escolha deste livro e distintivo entre as demais obras analisadas. O livro “Sociologia para Jovens do Século XXI” é composto por volume único de 399 páginas, destinado ao uso nas três séries do ensino médio. Produzido pela editora Imperial Novo Milênio, do Rio de Janeiro, de autoria dos professores Luiz Fernandes de Oliveira e Ricardo Cesar Rocha da Costa, ambos com formação nas Ciências Sociais e com experiência nos ensinos médio e superior. No livro, os autores destacam o espírito que norteia a obra: abrir um diálogo com os jovens que favoreça a busca de uma visão, além do senso comum, problematizando opiniões e, ao mesmo tempo, desnaturalizando a realidade social. O título apresenta-se dividido em três unidades: “Sociedade e conhecimento sociológico”, composta de oito capítulos; “Trabalho, política e sociedade, dividido em sete capítulos e “Relações sociais contemporâneas”, compreendido em sete capítulos. Para uma análise um pouco mais minuciosa, (porém incompleta) desta obra, resolvemos selecionar dois capítulos, sendo o 1: “Sociologia: dialogando com você”, porque figura muito provavelmente, como o primeiro contato do aluno do ensino médio com a disciplina, e com seu recurso didático próprio; e o capítulo 14: “O Estado sou eu.” Estado e democracia, porque parte da sua abordagem já fora experienciado em sala. O intuito inicial deste trabalho foi perceber como a obra propõe a mediação entre conhecimento científico e conhecimento escolar, isto é, como realiza a transposição dos conhecimentos produzidos - e apropriados pelo docente - na universidade para o universo escolar ou a mediação entre o plano teórico e o mundo social do aluno. No capítulo 1, os autores, apropriados de experiências com a Sociologia na educação básica antecipam uma situação prática ou uma curiosidade da maioria dos estudantes: “sócio – o quê?”. Neste capítulo é apresentada a Sociologia enquanto ciência – que se contrapõe ao senso comum - e suas contribuições para a sociedade, de forma didática, favorecido pela linguagem, uso de recursos visuais e a conexão com situações reais. O capítulo 14“O Estado sou eu.” Estado e democracia, inicia com uma frase que estimula a discussão sobre as funções do Estado moderno e o caráter das democracias no mundo contemporâneo. Parte do material foi experienciado em sala de aula e produziu discussões acaloradas sobre política, ideologias e partidos políticos. Apesar de grande parte do capítulo ser marcado por uma abordagem histórica, esta é intercalada com conceitos, teorias e temas de debate da Sociologia e da Ciência Política. 9 Outro elemento considerado importante para a compreensão e envolvimento com o conteúdo é a proposta dialógica, o que facilita uma maior interlocução do aluno com o recurso. Citamos como exemplo a preocupação dos autores em esclarecer um conceito de Estado discutido por Weber, quando após a explanação, abre espaço no texto para um: “O que ele queria dizer com isso?”. A aproximação desse conhecimento com a realidade social é realizado também pela via de exemplos de situações cotidianas dos alunos. A utilização das estratégias mencionadas, apresentadas nos dois capítulos pode favorecer a apropriação do conhecimento científico, a compreensão de conceitos das ciências sociais. Percebemos também que abordagem desse título dialoga com a proposta das OCNs quando conceitos, temas e teorias são articulados para a construção do pensamento sociológico, se apropriando das perspectivas epistemológicas de estranhamento e desnaturalização. Nesse aspecto, mencionamos a experiência do trabalho com o capítulo 14: “O Estado sou eu.” Estado e democracia. Neste, os alunos são estimulados a pensar sobre a democracia brasileira, partidos político e a avaliação negativa que a população manifesta sobre o quadro político atual. Ao final, as visões de um quadro generalizado de corrupção e a pouca importância das funções e dos cargos políticos foram submetidos a análises e, portanto os alunos se lançaram a novos olhares, novas maneiras de perceber uma realidade. Manifesta-se nos capítulos o uso de recursos como imagens, charges, letras de músicas, boxes, quadros com textos que destacam conceitos e temas que aproximam a realidade social dos conceitos sociológicos. A obra ainda apresenta ao final de cada capítulo uma seção denominada “Interdisciplinaridade”, na qual as questões debatidas ao longo dos capítulos são pensadas a partir de outras disciplinas, como Artes, Biologia, Geografia, História, Literatura, Matemática e Química. Ao final dos capítulos, a obra apresenta uma seção denominada “Interatividade”, contendo exercícios a serem realizados individualmente e em grupo. As questões solicitam habilidades como: definir, explicar, citar exemplos, comparar conceitos. Há também questões para se pensar relações sociais e questões cotidianas a partir de uma perspectiva sociológica. Porém, sentimos ausência de recursos didáticos, audiovisuais ou gêneros textuais para enriquecer o diálogo neste momento tão importante que é a produção escrita. 10 Há ainda questões extraídas do Exame Nacional do Ensino Médio, referentes aos conteúdos tratados em cada capítulo, assim como indicação de livros, filmes, endereços na internet e músicas relacionadas com os temas discutidos, o que permite que a aula se estenda além da sala e oportuniza outros contatos com temas de maior interesse de cada aluno. Quanto ao “material do professor”, diferentemente dos manuais que frequentemente assumem a forma de “guia” de atividades, ou meros gabaritos comentados, este aprofunda os fundamentos teórico-pedagógicos sobre os quais se assentam a elaboração do livro e o orienta as possibilidades didáticas que ele encerra apresentando propostas enriquecedoras no campo da pesquisa sociológica. Descreve a proposta, os objetivos, a justificativa da atividade e sugestões de leituras complementares para o professor após cada capítulo, favorecendo a articulação dos conceitos entre si e a mediação da aprendizagem e da construção do pensamento sociológico. Enquanto outros títulos apresentam livros digitais que incluem diversos tipos de Objetos Educacionais Digitais (OEDs), como jogos, vídeos, gráficos, animação, slides, este título não apresentou este recurso tão importante para a construção de novas maneiras de aprender e de ensinar Sociologia. A escolha de uma obra didática se apresenta como uma grande aposta, e como tal, nem sempre dotada de total segurança. Há aspectos considerados relevantes que podem também se transformar em limitantes. Como exemplo, a perspectiva dialógica, que torna o capítulo mais vasto, e que numa primeira análise acreditamos favorecer a mediação dos conhecimentos científico-escolar, por outro lado, pode distanciar-se do que uma disciplina de cinquenta minutos exige. Analisar os manuais particularidades e contribui didáticos favorece o reconhecimento de suas para aprofundar estudos voltados para o ensino e a produção de novos recursos. A análise dessa obra não se encerra aqui, precisa para uma avaliação mais consistente, madura, passar pela experimentação no grande laboratório pedagógico: a sala de aula. As possibilidades de se alimentar o diálogo entre escola e a universidade, assim como, a escola ser apropriada também como lócus de pesquisa, e serem criados ou ampliados canais de comunicação entre docentes dos ensinos médio e superior, são componentes que podem contribuir para enriquecer o debate acerca da legitimidade da Sociologia na educação básica no Brasil. 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOAS, Glaucia Villas. Desafio e responsabilidade: o ensino de sociologia nas escolas.In: HANDFAS, Anita e OLIVEIRA, Luiz Fernandes de (Orgs). A Sociologia vai à escola: história, ensino e docência. Rio de Janeiro: Quatert: Faperj, 2009. BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Orientações Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília, DF: MEC, 2006. BRASIL. Guia de livros didáticos: PNLD 2012: Sociologia. – Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Básica, 2011 FRAGA, Alexandre Barbosa, BASTOS, Nadia Maria Moura. O ensino de sociologia na educação básica: análise e sugestões. . In: HANDFAS, Anita e OLIVEIRA, Luiz Fernandes de (Orgs). A Sociologia vai à escola: história, ensino e docência. Rio de Janeiro: Quatert: Faperj, 2009 MEUCCI, Simone. A institucionalização da sociologia no Brasil: os primeiros manuais e cursos. Dissertação (Mestrado em Sociologia), Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000. _______________. Pensamento social brasileiro nos livros didáticos de sociologia: balanço. Trabalho apresentado no XVI Congresso Brasileiro de Sociologia, SalvadorBA, 2013. MORAES,Amaury César(Coord.).Sociologia no Ensino Médio.Coleção Explorando o Ensino. Brasília: Ministério da Educação. Secretaria Nacional da Educação Básica.v.15,p.9-35,2010. NETO, Manoel Moreira de Sousa. Sociologia na escola ou sociologia da escola? A relação entre currículo, culturas escolares e conhecimento escolar de sociologia. Dissertação (Mestrado em Sociologia),Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2014. OLIVEIRA, Luiz Fernandes de, COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. In: HANDFAS, Anita e OLIVEIRA, Luiz Fernandes de (Orgs). A Sociologia vai à escola: história, ensino e docência. Rio de Janeiro: Quatert: Faperj, 2009. OLIVEIRA, Luiz Fernandes de, COSTA, Ricardo Cesar Rocha da. Sociologia para jovens do século XXI. 3 ed.Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2013.