X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 A PRÁTICA AVALIATIVA NAS AULAS DE MATEMÁTICA Maria Inês Sparrapan Muniz Universidade Estadual de Campinas [email protected] Miriam Sampiere Santinho Universidade Estadual de Campinas [email protected] Resumo: Este curso tem por objetivo promover a reflexão sobre a eficácia de determinadas ações docentes que visam possibilitar a inclusão do aluno como protagonista em seu processo avaliativo, nas aulas de matemática, para promover uma avaliação emancipatória. Para isso, se discutirá os aspectos que caracterizam a prática avaliativa dos professores de matemática e quais possibilidades se teria para tornar esse processo mais interativo com o aluno e a família. Essa discussão ocorrerá a partir de atividades centradas nas seguintes categorias: a ação docente, a cultura escolar e a concepção de educação, que emergiram através dos dados oriundos dos registros dos procedimentos de intervenção no processo avaliativo aplicado por elas. Análises sobre projetos já desenvolvidos por professores e a fundamentação teórica que envolve essa prática promoverão a possibilidade de se abrir espaços para discussões e interações. Espera-se ressaltar três aspectos: que as intervenções advindas da ação docente precisam ser significativas e capazes de promover transformações; como a cultura escolar colabora para uma avaliação emancipatória; as influências da concepção de educação das professoras no processo avaliativo. Palavras-chave: Educação matemática; Avaliação emancipatória; Ação docente; Inclusão; Compartilhamento de responsabilidades. Objetivo Desenvolver atividades para apresentar e refletir sobre uma prática avaliativa compartilhada entre professores, alunos e pais, que foi aplicada por professores do Ensino Fundamental II e Médio, cujas principais características são: ser transparente, formativa, integral e democrática. Discutir como a cultura escolar e as concepções de educação dos professores ajudam os envolvidos neste processo avaliativo a reinterpretar significados, expectativas e comportamentos, com a finalidade de promover uma avaliação emancipatória, visando a aprendizagem e o desenvolvimento integral do aluno. Público alvo: professores do Ensino Fundamental e Médio; alunos de licenciatura. Proposta de trabalho Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Minicurso 1 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Este trabalho é dedicado e dirigido aos professores do Ensino Fundamental e Médio e propõe-se a buscar uma prática que considere o aluno parte intrínseca e integrante do Processo de Avaliação, tendo como base a tese de mestrado com o mesmo título. Trata-se da aplicação de um processo avaliativo, que possibilita uma crescente responsabilidade do aluno em relação à sua aprendizagem, e que pretende “levar os alunos a ter consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades para que possam reorganizar suas atitudes diante do processo de aprendizagem” (PCN, p. 38), dando sentido e legitimidade a avaliação em sala de aula de acordo com as teorias formalizadas sobre esse assunto. Todos nós, professores, gostaríamos que nossos alunos atendessem os seguintes aspectos: Ter material escolar em sala; estar presente todos os dias (só faltar se necessário); Realizar as tarefas propostas para construir um conceito; fazer lição de casa; Empenhar-se para fazer os trabalhos de classe propostos pelo professor; Estudar em casa; participar dos diálogos e debates feitos em classe; Fazer a correção das avaliações e levá-las para serem assinadas por seus pais ou responsáveis; Ter os registros organizados no caderno; cumprir combinados; respeitar regras; cumprir prazos; ler e interpretar códigos (principalmente em Matemática); ler e interpretar textos; ter ritmo de trabalho; descobrir propriedades; generalizar; projetar; elaborar um trabalho com começo, meio e fim e com coerência, além de apresentá-lo com estética; Enfim, são esses alguns exemplos que expõe o perfil de um bom aluno que idealizamos, mas que nem sempre encontramos em nossas salas de aula. Esforçamo–nos para realizar um trabalho que busca a formação do aluno, colaborando para seu desenvolvimento integral, mas nem sempre atingimos esse objetivo. Por quê? Para responder esta questão procuramos analisar os aspectos acima relacionados, perguntando até que ponto cada um deles está relacionado com os conteúdos que fazem parte do processo de ensino, aprendizagem e avaliação, na nossa prática avaliativa. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Minicurso 2 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Segundo Zabala, O termo “conteúdos” normalmente foi utilizado para expressar aquilo que se deve aprender, mas em relação quase exclusiva aos conhecimentos das matérias ou disciplinas clássicas e, habitualmente, para aludir àqueles que se expressam no conhecimento de nomes, conceitos, princípios, enunciados e teoremas. [...] Devemos nos desprender dessa leitura restrita do termo “conteúdo” e “entendêlo como tudo quanto se tem que aprender para alcançar determinados objetivos que não apenas abrangem as capacidades cognitivas, como também incluem as demais capacidades”. [...] Portanto, também serão conteúdos de aprendizagem todos aqueles que possibilitem o desenvolvimento das capacidades motoras afetivas, de relação interpessoal e de inserção social (ZABALA, 1998, p. 30). Isto nos leva a inferir que todos os aspectos relacionados acima, não envolvem somente o desenvolvimento das capacidades cognitivas, mas, também de outras capacidades e que estes diferentes aspectos precisam ser aprendidos e, portanto, ensinados e avaliados. Para isto é preciso ampliarmos a leitura que temos de conteúdo, reconhecendo, de acordo com Zabala(1998), que os conteúdos conceituais estão relacionados com “o que se deve saber”, os conteúdos procedimentais com “o que se deve saber fazer” e os conteúdos atitudinais com o “como se deve ser”. O trabalho em sala de aula, portanto, deverá envolver os três conteúdos: Conceitual – Referem-se a abordagem de conceitos , fatos e princípios, envolvendo vivência de situações, construção de generalizações e compreensão de princípios Procedimentais – Expressam um saber fazer, envolvendo tomada de decisões, realização de uma série de ações de forma ordenada e não aleatória, alcançar uma meta e construir instrumentos para analisar processos e resultados obtidos. Atitudinais – São valores, normas e atitudes,que orientam ações, padrões de conduta e possibilitam juízo crítico e envolvem cognição (conhecimento e crenças), afeto (sentimentos e preferências) e condutas (ações e declarações). O quadro abaixo se propõe a relacionar as capacidades a serem desenvolvidas com os conteúdos necessários para promover este desenvolvimento e com o diagnóstico deste desenvolvimento. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Minicurso 3 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Precisa desenvolver Para promover desenvolvimento dessas o Como diagnosticar se este desenvolvi- capacidades mento está ocorrendo? usaremos capacidades cognitivas capacidades motoras Conteúdos conceituais Através da avaliação (saber) de cada um dos conteúdos trabalhados, capacidades de Conteúdos equilíbrio Indivíduo capacidades Procedimentais avaliações conceituais, (saber fazer) procedimentais de autonomia pessoal ou seja, através de e atitudinais Conteúdos Atitudinais (saber ser) capacidades de relação interpessoal capacidade de inserção social Ao analisarmos esse quadro podemos concluir que: se consideramos o aluno como um indivíduo que precisa não só desenvolver suas capacidades cognitivas, mas também as “capacidades motoras, de equilíbrio e de autonomia pessoal, de relação interpessoal e de inserção social” (ZABALA, 1998, p. 197), o trabalho pedagógico deverá promover a inclusão dos três conteúdos no ensino, aprendizagem e avaliação dos mesmos. Isso nos leva a repensar o processo de avaliação que deverá incluir diagnósticos do desenvolvimento integral do aluno, isto é do desenvolvimento de todas as suas capacidades. Segundo Luckesi, A avaliação pode ser caracterizada como uma forma de ajuizamento da qualidade do objeto avaliado, fator que implica uma tomada de posição a respeito do mesmo, para aceitá-lo ou para transformá-lo. A definição mais Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Minicurso 4 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 comum adequada, encontrada nos manuais, estipula que a avaliação é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão. [...] Juízo de valor significa uma afirmação qualitativa sobre um dado objeto, a partir de critérios pré-estabelecidos (LUCKESI, 1998, p.33). As considerações acima e a proposta de incluir o aluno como parte integrante do seu processo avaliativo, nos leva a pensar que o “juízo de valor” deve ser feito não somente pelo professor, mas também, pelo aluno, que terá então, a possibilidade de refletir, também, sobre a tomada de decisões para melhorar o desenvolvimento de suas capacidades. Para promover essa inclusão do aluno propomos uma ação docente que permita o desenvolvimento de um processo de avaliação com as seguintes características: 1. Transparente: toda a comunidade educativa tem condições de observar e compreender o desempenho de seus alunos. Constituiu-se através dos itens: contrato didático, registros do aluno e registros do professor. O contrato didático define o que será possível ou impossível fazer na aula, o que terá sentido para os alunos e para o professor de maneira compartilhada. Antes de serem eficazes, as técnicas didáticas têm que ser aceitáveis e significativas para os protagonistas do sistema didático (CHEVALLARD, 2001, p.192). 2. Formativo, o aluno toma consciência do seu próprio desempenho e passa a refletir sobre ele para promover o ajuizamento da qualidade de suas avaliações e propor interferências para transformar a qualidade de sua aprendizagem, reconhecendo que são as interferências contínuas no processo de aprendizagem que possibilitam o sucesso do conceito final. 3. Integral: não são avaliados apenas os conhecimentos dos alunos, mas, também, as atitudes e habilidades adquiridas e evidenciadas nas distintas produções e reflexões sobre elas. 4. Democrático: Utiliza a avaliação para diagnosticar, e não para classificar, promovendo a inclusão do aluno no processo avaliativo, pois, além da avaliação do professor, de seus pais e de seus companheiros, inclui ainda a sua própria avaliação. Os critérios são estabelecidos pela comunidade educativa e o aluno os utiliza para verificar seu próprio desempenho com autonomia para promover a gestão do seu processo avaliativo. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Minicurso 5 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 A avaliação na sala de aula passa então, de classificatória para diagnóstica (Luckesi,1998) e promove transformações no processo ensino-aprendizagem e nas pessoas que dele fazem parte, gerando compromissos para levar o aluno a tomar consciência da relevância de seu papel na construção de seu conhecimento e do seu desenvolvimento integral. Além disto, a avaliação informal que em geral é feita “de juízos gerais sobre o aluno, cujo processo de constituição está encoberto e aparentemente assistemático nem sempre acessível ao aluno” (Freitas, 2009, p.27) poderá tornar seus critérios, na medida do possível, mais claros e objetivos para este aluno, permitindo assim o juízo de valor sobre suas próprias ações. As transformações acima citadas ocorrem, também, no âmbito da cultura escolar no que diz respeito às responsabilidades compartilhadas com os envolvidos no processo avaliativo, ou seja, professores, pais e alunos; na estruturação do trabalho pedagógico do professor; no redimensionamento do tempo pedagógico em sala de aula e na relação com os pais. Uma outra transformação ocorre no âmbito da concepção de educação e é relativa ao significado da avaliação. O aluno passa a ter a percepção que o processo avaliativo deixa de ser um instrumento de poder, para se transformar em um processo que o ajuda a conhecer-se e a desenvolver-se. Desenvolvimento do minicurso Organizando um plano de ação para o desenvolvimento do trabalho, no primeiro dia do minicurso, apresentaremos o processo avaliativo através dos seguintes momentos: 1º momento – simular a organização do processo avaliativo proposto, incluindo os registros, o contrato didático, o caderno do aluno e a definição dos papéis dos envolvidos na gestão deste processo. 2º momento – através de um jogo vivenciaremos e estabeleceremos na prática um contato com os três conteúdos – conceitual, procedimental e atitudinal – e com suas respectivas avaliações . Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Minicurso 6 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 3º momento - simulações do preenchimento de registros de avaliações do caderno do aluno, para que se possa perceber a relevância do aspecto diagnóstico da avaliação, que ocorrerá durante todo o processo e ao seu final também. 4º momento - simulação do fechamento bimestral de um processo avaliativo, evidenciando que este processo auxilia o aluno na conscientização e na formação de referenciais para estabelecer um juízo de valor sobre suas ações, levando-o a tomar decisões pela compreensão e não pelo medo ou pela imposição, promovendo, assim, sua autonomia e a construção do sucesso escolar para combater o fracasso escolar. No segundo dia, vamos refletir e teorizar sobre o processo proposto, através dos seguintes momentos: 1º momento - Os participantes irão receber dados relativos ao trabalho realizado, em sala de aula, pelas três professoras que fizeram parte da tese de mestrado que fundamenta esse minicurso e a fundamentação teórica pertinente. Esses dados permitirão o desenvolvimento de trabalhos em grupo que tem como objetivo analisar: a ação docente das professoras; a cultura escolar que se estabeleceu no desenvolvimento dos trabalhos por elas realizados, as possíveis interferências das concepções de educação das professoras no processo de avaliação desenvolvido por elas e as transformações que ocorreram no “sentido da avaliação”. 2º momento - Haverá a apresentação em plenário das conclusões dos grupos o que se encaminhará para um fechamento geral do minicurso Os momentos acima destacados se integrarão, possibilitando uma interação com a prática avaliativa dos participantes. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Ensino Fundamental – Matemática: Terceiro e Quarto ciclos. Brasília: MEC/SEMTEC, 1998. CHEVALLARD, Y.; Bosch, M.; Gascon, J. Estudar matemáticas: o elo perdido entre o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Minicurso 7 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 FREITAS, L. C. et al. Avaliação educacional: caminhando pela contramão. Petrópolis, R.J.: Vozes, 2009. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1998. MUNIZ, M.I.S. A prática avaliativa nas aulas de matemática: uma ação compartilhada com os alunos 178 .p Dissertação (Mestrado) – Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2009. ZABALA, A. A prática educativa como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Minicurso 8