Interação Solo-Bloco de Fundação Estaqueado que Suporta Oito Pilares de um Edifício de 32 Pavimentos Antonio Oscar Cavalcanti. da Fonte Departamento de Engenharia e Arquitetura, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, Brasil Felipe Luna Freire da Fonte Companhia Hidroelétrica do São Francisco – CHESF, Recife, Brasil RESUMO: A consideração da interação solo-bloco de fundação estaqueado, em projeto de fundações, pode apresentar significativas diferenças na distribuição das cargas nas estacas e nos esforços no bloco. O objetivo deste trabalho é apresentar resultados de análises estruturais de um bloco de fundação composto por 65 estacas, que suporta oito colunas de um edifício de 32 andares. Foram considerados cinco casos de carregamentos, envolvendo cargas verticais permanentes, sobrecargas e ação vento. Para interação do bloco com o solo e com as estacas e destas com o solo de fundação, foram admitidas hipóteses que levaram em consideração a resistência de ponta e atrito lateral estaca-solo, bem como efeito do bloco trabalhando como sapata. Foram realizadas variações dos parâmetros do solo e obtidos seus efeitos na distribuição de cargas nas estacas. São apresentados resultados da distribuição de tensões no solo de fundação, bem como dos esforços nas estacas para as diversas hipóteses de carregamento e valores dos parâmetros do solo. Tais resultados mostraram a importância de análise destes blocos por métodos completos, que levem em consideração os diversos efeitos envolvidos. PALAVRAS-CHAVE: Fundação, Interação Solo-Bloco de Fundação. 1 INTRODUÇÃO As hipóteses estabelecidas para consideração do comportamento de blocos de fundação estaqueados podem alterar substancialmente a distribuição de esforços nas estacas. No problema aqui apresentado, o solo de fundação é constituído por areia fina siltosa pouco compacta com SPT de 8 golpes até a profundidade de 7 metros. Na profundidade 9 metros, apresenta-se uma areia siltosa medianamente compacta com 30 golpes. A partir de 11 metros ocorre uma areia ainda medianamente compacta com 20 golpes que se estende até 20 m de profundidade. Neste trabalho são apresentados resultados da análise estrutural de um bloco de fundação estaqueado com 65 estacas tipo Franki de diâmetro de 400 mm e comprimento médio de 9,0 metros. 2 OBJETIVO O objetivo central deste trabalho é apresentar resultados da análise de um bloco estaqueado composto por 65 estacas tipo Franki de 400 mm de diâmetro e comprimento médio de 9 m. 3 METODOLOGIA Trata-se da análise estrutural para obtenção dos esforços nas estacas do bloco de fundação mostrado na figura 1. O referido bloco de dimensões 15,20 m de comprimento, 6,00 m de largura e 2,40 m de altura, suporta 8 pilares de um edifício de 32 pavimentos, composto por 65 estacas tipo Franki de 400mm de diâmetro e comprimento médio de 9,0 m. Nos modelos estudados, o solo de fundação foi admitido com comportamento elástico linear. As estacas foram discretizadas como elementos barra de comportamento elástico linear com trabalho de ponta e lateral por atrito. O coeficiente de atrito lateral unitário foi tomado igual a 4,33 tf/m2. 0.40 1.20 1.20 1.20 Pilar Fx 1 2 4 5 7 8 9 10 0 0 0 0 0 0 0 0 Fy - 527,5 - 615,9 -1011,0 - 998.3,0 - 447,4 - 297.,4 -335.7 -309.2 Fz Mx -1,0 -1,2 -22,4 -20.6 -0,8 -23,8 -0.7 -23,8 -2,7 -2,9 -209,2 -202,2 -2,4 -204,7 -2,3 -202,.2 My 0 0 0 0 0 0 0 0 Mz 0 0 0 0 0 0 0 0 1.20 Tabela 3 Carga vertical total + ação do vento (+Z) - tf, m 1.20 1.20 15.20 1.20 1.20 Pilar Fx 1 2 4 5 7 8 9 10 0 0 0 0 0 0 0 0 Fy Fz Mx - 109,5 - 78,3 -761,0. -707,5 -305,6 - 665,7 -798,1 -571,1 1.0 1.2 22.4 20.6 0.8 23.0 0.7 23.8 2,7 2,9 209,.2 202,2 2,4 204,7 2,3 202,2 My 0 0 0 0 0 0 0 0 Mz 0 0 0 0 0 0 0 0 1.20 Tabela 4 Carga vertical total + ação do vento (+X) - tf, m 1.20 Pilar 1 2 4 5 7 81 9 10 1.20 1.20 0.40 0.40 1.35 1.35 1.35 1.35 0.40 6.20 Figura 1 – Bloco de 65 estacas e oito pilares Foram simuladas situações admitindo o bloco trabalhando também como sapata. Foram consideradas variações nos valores dos parâmetros do solo, dentro de determinadas faixas. As estacas foram supostas engastadas ao bloco. Como casos de carregamentos foram admitidos, além da carga vertical permanente e sobrecarga atuando isoladamente, as combinações desta com 4 hipóteses de atuação do vento segundo direções e sentidos mais desfavoráveis. Os valores das ações relativas aos cinco casos de carregamentos são mostrados nas tabelas 1 a 5. Tabela 1. Carga vertical total – unidades tf, m Pilar 1 2 4 5 7 8 9 10 Fx 0 0 0 0 0 0 0 0 Fy - 318.5 - 347.1 -886.2 - 852.9 - 376.5 - 481.5 -567.1 -440.3 Fz 0 0 0 0 0 0 0 0 Mx 0 0 0 0 0 0 0 0 My 0 0 0 0 0 0 0 0 Tabela 2.Carga vertical +ação do vento (–Z) - tf, m Mz 0 0 0 0 0 0 0 0 Fx 5,5 5,3 1,1 1,1 12,2 0,8 14,1 0,8 Fy -284,9 - 304,7 -827,1 -787,9 -369,8 - 429,4 -535,0 -512,8 Fz Mx My 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Mz -30,7 -30,4 -3,1 -3,1 -69,0 -1,6 -78,1 -1,5 Tabela 5 Carga vertical total + ação do vento (-X) - tf, m Pilar 1 2 4 5 7 81 9 10 Fx Fy -5,5 -5,3 -1,1 -1,1 -12,2 - 0,8 -14,1 -0,8 -352,1 - 304,7 -945,1 -787,9 -383,2 - 533,8 -599,2 -367,8 Fz Mx My 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Mz 30,7 30,4 3,1 3,1 69,0 1,6 78,1 1,5 Sendo, Fx = força segundo X, Fy = Força segundo Y, Fz= força segundo Z, Mx = momento em torno de X, My = momento em torno de Y, Mz = Momento em torno de Z. As ações atuantes nos pilares para cada um dos cinco casos de carregamento,estão referenciadas a um sistema tri-ortogonal direto XYZ, com origem no ponto de encontro da vertical que passa pelo centro de centro de gravidade do bloco com a face superior do mesmo. O eixo X é paralelo ao lado maior, o eixo Z ao lado menor, sendo Y o eixo vertical. Foi considerado como carregamento atuante, além dos transmitidos pelos pilares, o peso próprio do bloco. 4 RESULTADOS OBTIDOS Cargas (Tf) 120,00 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 6000 Caso 04 Kz=1700 - recalque 6mm Valores das cargas verticais Os resultados numéricos foram obtidos com o uso do Sistema Computacional Edifício – Módulo Interação Solo-Estrutura (Fonte, Fonte, Milfon 2000). Caso 05 - Kz= 3000 recalque 6 mm 5000 Caso 06 Kz=4500, recalque 6 mmm 4000 3000 2000 1000 0,00 CAR. 01 CAR. 02 CAR. 03 CAR. 04 CAR. 05 0 Ftotal Caso de Carregamento Fbloco Festacas Casos Figura 2 - Carga na cabeça da estaca E1 Figura 4 – Cargas absorvidas pelas estacas e pelo bloco/sapata com recalque 6mm. Caso 01 Kz=1700 tf/m3 6000 5000 4000 3000 2000 1000 0 A figura 4 mostra os valores das cargas verticais absorvidas pelas estacas e pelo bloco trabalhando como sapata, para três valores do coeficiente de reação vertical, admitindo o recalque da ponta das estacas e a deformação elástica das mesmas. Para Kz= 1700 tf/m3 as estacas absorveram 76% e o bloco 24%, para Kz = 3000 tf/m3 as estacas ficaram com 60% e o bloco com 40% e finalmente para Kz = 4500 tf /m3 as estacas absorveram 44% e o bloco 56% Caso 02 Kz= 3000 Tf/m3 Caso 03 Kz= 4500 tf/m3 F(total) F(bloco) F(estacas) Casos Figura 3 – Cargas absorvidas pelas estacas e pelo bloco/sapata com recalque nulo. A figura 3 apresenta, os valores das cargas verticais absorvidas pelas estacas e pelo bloco trabalhando como sapata, para três valores do coeficiente de reação vertical Kz, admitindo apenas a parcela de deformação elástica das estacas. Para Kz = 1700 tf/m3 as estacas absorvem 92% da carga vertical e o bloco trabalhando como sapata 8%, para Kz = 3000 tf/m3 as estacas absorvem 87% e o bloco 13% e finalmente para Kz = 4500 tf/m3 as estacas contribuem com 82% e o bloco 18%. Valores das cargas absorvidas (Tf) Valores da carga vertical A figura 2 mostra, para os cinco casos de carregamento e três modelos, o valor da carga na cabeça da estaca E1. No modelo 1 foi admitido apenas o trabalho de ponta das estacas. No modelo 2 , o trabalho de ponta e o bloco trabalhando como sapata. No modelo 03 é acrescentado ao anterior o trabalho lateral das estacas. Foi admitido como coeficiente de reação vertical Kz = 1700 tf/m3 3000 Caso 01 Kz=1700 2500 Caso 02 Kz = 3000 2000 Caso 03 Kz=4500 1500 1000 500 0 F(bloco) rec=0 Casos F(bloco) rec=6 Figura 5 – Influência do recalque no trabalho do bloco como sapata A figura 5 ilustra o trabalho do bloco como sapata para o modelo que considera apenas a deformação elástica das estacas e o que considera além desta deformação, o recalque vertical da ponta das estacas. Observa-se claramente a grande diferença de comportamento dos dois modelos. As tensões no solo de fundação no nível do plano inferior do bloco variaram de 20 tf/m2 a 15 tf/m2 , nos casos em que foi considerada a hipótese do bloco trabalhando como sapata. 5 CONCLUSÕES Os resultados apresentados mostraram a importância da análise de blocos de estacas, como o aqui apresentado, por modelos completos que levem em conta o trabalho de ponta e lateral das estacas, bem como o comportamento do bloco como sapata. No comportamento do bloco como sapata é fundamental levar em consideração além do encurtamento elástico das estacas, o recalque das mesmas. Para que esta reação seja mobilizada, é necessário uma cuidadosa execução que garanta a ligação do plano de fundo do bloco com o solo. Recomenda-se uma análise criteriosa do solo, com ensaios que permitam avaliar de forma mais realista possível os valores dos parâmetros do mesmo. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Universidade Católica de Pernambuco pelo apoio à pesquisa e às Empresas Tecncon – Tecnologia do Concreto e Engenharia Ltda e Concresolo&Copesolo – Geotécnia e Fundações pela cessão dos dados do projeto estrutural e de fundação. REFERÊNCIAS Antunes, Helena M.C e Iwamoto, Roberto K. (2000). Métodos Numéricos Aplicados a Engenharia de Estruturas, Simpósio Interação Estrutura-Solo e Edifícios, USP, São Carlos. Fonte, A. O. C. ; Fonte, Felipe L.F. e Milfont, Monica L. (2000). 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