Interface entre marketing e finanças: um levantamento sobre indicadores de desempenho e aproximação entre as essas áreas Autoria: Marta Olivia Rovedder de Oliveira, Matheus Santana Trombetta, Rodrigo Heldt Silveira, Jairo Laser Procianoy, Fernando Bins Luce RESUMO A área de marketing, assim como outras áreas da organização, é cada vez mais cobrada por demonstrar o retorno para a empresa dos investimentos/desembolsos realizados com suas atividades. Nesse contexto, várias funções da empresa começam a focar suas ações nesse objetivo, inclusive a área de marketing. Acadêmicos e práticos visualizam o “new marketing paradigm” como algo relacionado à criação do valor ao acionista (Day & Fahey, 1988), declarando a importância de substituir as medidas de desempenho de tradicionais de mercado, tais como, market share ou vendas, para as medidas que capturam a capability das atividades de marketing para aprimorar o valor para o acionista (Jeong, 2004). Atualmente gestores e acadêmicos estão cada vez mais focados em relacionar os recursos empregados para desenvolver os ativos de marketings com a performance da empresa (Rust et al., 2004). Diante disso, faz-se interessante analisar os artigos que abordam desempenho empresarial, para compreender como a academia, nos que tange às áreas de marketing e finanças, vem tratando e utilizando este constructo e poder visualizar oportunidades de melhorias para futuros estudos. É crescente o número de trabalhos acadêmicos que tentam demonstrar a relação entre as ações de marketing e o desempenho empresarial, buscando responder a demanda dos práticos. Contudo, ainda falta maior consenso sobre o que efetivamente significa o desempenho empresarial e quais são os indicadores que de fato o mensuram corretamente. Dado os acontecimentos citados acima, este trabalho buscou fazer um levantamento sobre como a performance empresarial está sendo trabalhada, analisando artigos publicados nos últimos anos (2006, 2007, 2008 e 2009) nos principais periódicos de Finanças e Marketing. Analisaram-se essas duas áreas, devido à crescente pressão sofrida pela área de marketing para aproximar-se às questões financeiras e por esta última área historicamente ter trabalhado mais com esse construto. A análise focou-se no método utilizado para realizar as pesquisas e nos tipos de métricas utilizadas. Os resultados obtidos evidenciam a existência de uma grande variedade de medidas diferentes sendo utilizadas na área de perfomance empresarial. Os artigos das áreas de Marketing vêm utilizando cada vez mais métricas voltadas para o retorno para o acionista. Além disso, verificou-se dentre os estudos analisados a carência de medidas que procuram proporcionar a projeção de performance futura, uma vez que o que predomina é a análise de dados históricos/reais. Além de verificar os principais indicadores de desempenho, averiguando as similaridades e diferenças ao tratamento dado ao desempenho nos trabalhos, são indicados sugestões de pesquisas futuras. 1 Introdução Respondendo a pressões competitivas e a realidades financeiras familiares a outras funções gerenciais e acadêmicas, bem como as cobranças dos acionistas coorporativos, o Marketing Science Institute (MSI) tem identificado a mensuração do desempenho de marketing e o impacto das ações de marketing sobre a performance da firma como prioridades top de pesquisa (Morgan, Clark, & Gooner 2002). Dessa forma o Marketing vem ao longo dos anos, sendo exigido a aumentar sua interface com a área de finanças. Diante disso, gestores e acadêmicos estão cada vez mais focados em relacionar os recursos empregados para desenvolver os ativos de marketings com a performance financeira da empresa (Rust, Ambler, Carpenter, Kumar, & Srivastava, 2004). Isto se deve ao fato do Marketing ser a área que apresenta os maiores gastos discricionários na maioria das empresas (Sheth & Sisodia, 2002). “Bilhões de dólares são gastos cada ano em marketing. Enquanto as firmas buscam produzir lucros cada vez maiores em ambientes altamente competitivos, requisições por justificativas dos gastos são crescentes” (Rust et al., 2004, p. 85). Diversos autores têm apontado a necessidade de mensuração do retorno dos investimentos feitos em marketing e divulgação desses retornos para a legitimação da importância da própria área de marketing dentro das empresas, buscando relacionar ações de marketing com o desempenho da firma (Sheth & Sisodia, 1995a; Sheth & Sisodia, 1995b; Srivastava, Shervani, & Fahey, 1998; Doyle, 2000; Sheth & Sisodia, 2002; Rust et al., 2004). Por um longo tempo, a falta de explanações e relatórios financeiros por parte do marketing tem minado a sua credibilidade e, ainda, ameaçado a existência do marketing como uma distinta capability dentro da firma (Sheth & Sisodia, 1995a; Sheth & Sisodia, 1995b; Doyle, 2000; Rust et al., 2004; Mizik & Jacobson, 2006). Assim, “existe a necessidade de uma nova forma de pensar o marketing que relacione as atividades de marketing mais diretamente com a criação de valor” (Brodie, Glynn, & Durme, 2008, p. 5 e p. 6). Dessa forma, “a maior parte da perspectiva acadêmica sobre esse assunto foca-se em torno do marketing financeiramente mensurável ou em uma ponte sobre o gap entre as disciplinas de marketing e finanças” (Baker & Holt, 2004, p. 558). Atualmente, a mensuração do efeito do desempenho do marketing nas empresas tem sido intensificada, enquanto as empresas sentem aumentar a pressão para justificar os investimentos em marketing (Srivastava et al. 1998; Rust et al., 2004; Gupta & Zeithaml, 2005). Rust et al. (2004) afirmam que não só praticantes, mas também acadêmicos estão sob crescente pressão para explicar e mostrar de que forma as despesas de marketing impactam no desempenho da empresa. Desta forma, um número cada vez maior de acadêmicos da área tem se dedicado a desenvolver modelos e métricas que possam auxiliar os gestores de marketing a mensurar o retorno de suas ações e, conseqüentemente, fornecer-lhes suporte nas decisões de alocação de seus recursos. “Esforços para analisar o relacionamento da eficiência em marketing com o desempenho da empresa tem sido suportados nos últimos 5 anos” (Angulo & Rialp, 2007, p.15). É nesse contexto que o marketing aproxima-se das finanças, uma vez que gestores e acadêmicos estão cada vez mais focados em relacionar os recursos empregados para desenvolver os ativos de marketing com a performance financeira da empresa como uma forma de justificar a rentabilidade das ações de marketing (Rust et al., 2004). Já para Wiesel, Skiera e Villanueva (2008), existe ainda outra relação entre marketing e finanças, que surge da carência de informações intangíveis nas demonstrações financeiras, segundo o autor, para que as essas demonstrações consigam atingir seu objetivo principal, que é prover informações para ajudar atuais e potenciais investidores na tomada de decisão, é preciso existir outras informações que proporcionem uma análise mais apurada da empresa, como valor do cliente, 2 por exemplo. O marketing, nessa última visão complementa as informações e medidas financeiras tradicionais. Diante disso, a relação entre essas duas áreas da administração tornase necessária, justificando-se, então, os esforços tanto da área de finanças, quanto da área de marketing em procurar desenvolver métricas para mensurar desempenho de suas atividades. Apesar desses esforços com relação à mensuração das atividades de marketing, ainda falta maior consenso entre os profissionais sobre o que efetivamente significa o desempenho empresarial e quais são os indicadores que de fato o mensuram. Muitas vezes esse construto é enganosamente tido como já sedimentado. Também não há uma total padronização da forma de calculo dos indicadores de desempenho. Além disso, são poucos os trabalhos que buscam explorar a mensuração do desempenho empresarial mais a fundo ou, ainda, avançar a teoria relativa ao desempenho da firma (Santos, 2008), pois o desempenho empresarial é um conceito tido como comum, fazendo com que a grande maioria dos autores não justificam ou explicam os indicadores utilizados em suas pesquisas (March & Sutton, 1997; Richard, Devinney, Yip, & Johnson, 2009). A análise de como diversas variáveis atuam sobre a performance global das organizações já vem sendo objeto de estudo ao longo dos anos. Acadêmicos vêm analisando teórica e empiricamente como diversos aspectos das organizações, não apenas de marketing, impactam na performance das empresas. Contudo, vale destacar que o desempenho empresarial não é um construto simples e sua operacionalização ainda não tem um consenso na academia (Combs, Crook, & Shook, 2005; Brito, Brito, & Morganti, 2009). Os pesquisadores têm conceituado e medido essa dimensão de maneiras diferentes, dependendo das questões de pesquisa e disponibilidade de dados (Perin, Sampaio, Duhá, & Bitencourt, 2006). A definição de desempenho organizacional é uma pergunta em aberto, com poucos estudos utilizando definições e medidas consistentes (Kirby, 2005; Richard et al., 2009). Nesse ínterim, este estudo busca averiguar as distintas formas que a mensuração do desempenho empresarial tem sido tratada nos trabalhos acadêmicos mais recentes (de 2006 à 2009), realizando uma pesquisa do estilo desk research nos principais periódicos internacionais de marketing e finanças, objetivando verificar os principais indicadores de desempenho utilizados e suas características. Também foi analisado o método empregado nas pesquisas, assim como gerada uma classificação das métricas encontradas para melhor analisar os resultados obtidos. A pesquisa evidencia a forma com que as pesquisas relacionadas com desempenho empresarial estão sendo executadas, as principais métricas e demonstra que as métricas mais utilizadas atualmente relacionam-se com a criação de valor para o acionista. Para alcançar o objetivo deste artigo, primeiramente realizou-se uma revisão da literatura apresentada nos itens 1 e 2, onde são tratadas questões sobre desempenho empresarial e indicadores de desempenho. Na seção 3, o método da pesquisa é exposto. Os resultados e sua analise são demonstrados nas seções 4 e 5. E o artigo encerra-se com as considerações finais e sugestões de futuras pesquisas. 1. Desempenho Empresarial O desempenho empresarial é um assunto recorrente em finanças e um dos conceitos mais importantes em estratégia empresarial (Combs, Crook, & Shook, 2004; Venkatraman & Ramajunam, 1986; Santos, 2008; Richard et al., 2009). Já na área de marketing, um crescente número de estudos empíricos da área de marketing que buscam relacionar os ativos de marketing e desempenho da firma tem sido desenvolvido (Angulo & Rialp, 2007). A relevância do tema, provavelmente, deriva do fato do bom desempenho ser um dos objetivos finais de empresas. Dessa forma, a mensuração do desempenho empresarial é uma prática constantemente realizada pelos gestores. Indicadores de desempenho freqüentemente são 3 encontrados em livros didáticos e artigos acadêmicos, assim como em análises financeiras disponíveis no mercado. Kirby (2005) e Richard et al. (2009) apontam que a definição do desempenho organizacional é uma questão surpreendentemente antiga e aberta, e inclusive mencionam que são poucos estudos que utilizam definições e medidas coerentes. “O desempenho é tão comum na investigação de gestão que a sua estrutura e definição raramente são explicitamente justificadas” (Richard et al., 2009, p.719). Apesar de sua longa existência, o construto desempenho permanece extremamente atual nos dias de hoje, requerendo cada vez mais a atenção dos gestores. Mesmo que na década de 1980 tenham sido publicadas várias revisões sobre o tema e estudos sobre medidas de desempenho (ex.: Chakravarthy, 1986; Venkatraman & Ramanujam, 1986), nos últimos 20 anos ocorreu um aprimoramento dos estudos. Isso ocorreu, com o surgimento de um número maior de medidas de performance mais amplas e com um desenvolvimento empírico e metodológico, mas que ainda não foram completamente integrados (Richard et al., 2009). Além da falta de integração, nota-se que ainda é publicada uma quantidade limitada (se comparada à relevância do tema) de estudos que busquem aprimorar e desenvolver o construto per se. Ou seja, apesar da melhoria em pesquisas e análises, existem problemas na mensuração desse conceito (Glick, Muller, & Washburn, 2005), o que limita avanços teóricos. Além disso, destaca-se que os estudos existentes apresentam grande variabilidade de temáticas. Há trabalhos que tem como temática o desempenho e outros que utilizam índices de desempenho como fator adjacente de seu estudo. Há pesquisas que se focam em questões de desempenho financeiro, algumas se focam em desempenho de mercado, outras em desempenho de ações específicas da empresa (equipe de vendas, inovação, etc.) e há, ainda, artigos que buscam verificar o desempenho da firma como um todo. Em cada um desses tipos de desempenho existem sub-temas. Combs Crook e Shook (2005), por exemplo, avaliaram estudos da área de estratégia e identificaram diferentes dimensões dentro do construto de desempenho financeiro. “Medidas de lucratividade como retorno sobre ativos, investimentos ou patrimônio constituem a dimensão mais explorada. Medidas de crescimento constituem uma segunda dimensão e a noção de valor de mercado, a terceira dimensão do desempenho financeiro” (Brito, Brito, & Morganti, 2009). Na área de marketing, o desempenho da firma tem sido analisado via dois pontos de vista. O primeiro é a performance baseada em questões contábeis, que associa a resultados operacionais, tais como resultado, lucro e fluxo de caixa. E a segunda abordagem é baseada no mercado de capitais, relacionada ao retorno das ações, valor de mercado e Tobin’s Q, dentro outros indicadores (Angulo & Rialp, 2007). Neste contexto, pode-se dizer que há também discussões quanto à classificação e delimitação das fronteiras do construto desempenho empresarial. A representação apenas por aspectos financeiros é a forma mais tradicional e usada na avaliação do desempenho (Pace, Basso, & Da Silva, 2003). Entretanto, medidas não financeiras têm sido recomendadas recentemente por indicar aspectos importantes do ambiente competitivo (Pace, Basso, & Da Silva, 2003). Algumas medidas típicas de marketing são exemplos dessas métricas não financeiras, justificando-se assim a aproximação entre marketing e finanças na busca da mensuração do desempenho empresarial. Apesar disso, muitos pesquisadores representam o desempenho por um único construto, apesar de ser mais provável que ele seja multidimensional (Glick, Muller, & Washburn, 2005). Trazer, porém, uma única e exclusiva definição de desempenho da firma não é uma tarefa fácil, se não, arriscada Diante disso, destaca que, independente de em qual contexto (área de marketing ou finanças) os indicadores são utilizados, a inabilidade para compreender e caracterizar o desempenho consistentemente reduz o efeito e a relevância da pesquisa, pois podem gerar divergência nos resultados (Richard et al., 2009). Dessa forma, faz-se interessante entender como os pesquisadores vêm 4 atualmente compreendendo e utilizando o construto desempenho empresarial, a fim de auxiliar na busca do real significado do tema e de suas formas de mensuração. 2. Indicadores de desempenho Os indicadores utilizados para mensurar o desempenho das empresas impactam de maneira significativa, uma vez que as medidas de desempenho são sinais vitais da organização que qualificam e quantificam o modo como as atividades de um processo atingem suas metas. Além disso, a mensuração é essencial para permitir que pesquisadores e gestores avaliem as ações específicas da firma e dos gestores, onde as empresas estão em franca competição com seus rivais, visando compreender como as firmas desenvolvem-se e desempenham-se ao longo do tempo (Richard et al., 2009). No meio acadêmico tais indicadores possuem grande importância, dado que tal constructo é usado, na maior parte dos estudos, como uma variável dependente (ou proxy) afim de analisar como determinado acontecimento ou fenômeno impactam nas organizações. As medidas financeiras são convenientes ferramentas para analisar o desempenho da firma em um dado período (Smart, Megginson, & Gitman, 2004), tais como a proporção de liquidez, a proporção de atividade (turnover inventory, médias de vendas por dia, período médio de compras, período médio de pagamento, ...), debt ratios, profitabilities ratios (gross profit margin, operating profit margin, net profit margin, earnings per share, return on total assets, return on common equity) e market ratios (price/earnigs ratio, book value per share, market-to-book ratio). Contudo, deve-se ter o cuidado de que as medidas tradicionais do mundo dos negócios são focalizadas em controle, as quais podem dar algum sinal relacionado à performance atual e crescimento pontual da empresa, porém não explicitam resultados orientados para o futuro, visando melhorias à empresa. Sendo assim, tais medidas estão baseadas no retrospecto passado, não sendo preditoras do futuro da organização. Em contrapartida, os gestores e pesquisadores têm mensurado o desempenho econômico das mais diversas maneiras, utilizando desde a avaliação perceptual dos executivos até fontes secundárias de dados (Venkatraman & Ramanujam, 1986). Como ressaltado anteriormente, esses indicadores são utilizados não apenas para estudos de administração, gestão ou estratégia, como também para averiguar como as ações e atividades de áreas como marketing, inovação, finanças, governança corporativa, entre outras, afetam o desempenho da firma. Fato é que muitas das ações das diversas áreas da organização impactam o desempenho da firma como um todo e como o objetivo geral da empresa (ou da grande maioria delas) é maximizar a riqueza dos proprietários (Gitman, 1997), conseqüentemente há uma pressão em todas as áreas para “encontrar os números” (entregar desempenho financeiro superior) (Lehmann, 2004), inclusive na área de marketing. 3. Método Para alcançar o objetivo desta pesquisa, de verificar como a academia tem recentemente utilizado e trabalhado a questão do desempenho empresarial, foi realizada uma pesquisa do tipo desk research, buscando averiguar nos principais periódicos internacionais como os estudos de marketing e finanças abordam a performance da firma.Grande parte dos estudos anteriores relacionados a desempenho organizacional (ex., Combs, Crook, & Shook, 2004; Venkatraman & Ramajunam, 1986; Santos, 2008; Richard et al., 2009) revisam exclusivamente periódicos da área de gestão (management). Entretanto, percebe-se cada vez mais que distintas áreas da organização sofrem pressão para demonstrar o impacto de suas 5 ações no desempenho da organização como um todo. Tal fato é mais uma motivação para verificar as publicações vinculadas à área de finanças e marketing. Preferiu-se observar os últimos quatro anos (2006, 2007, 2008, 2009) de publicações dos periódicos analisados, almejando averiguar o que a literatura apresenta de mais recente sobre o assunto. Utilizou-se como critério de escolha dos períodos a serem analisados aqueles que apresentam maior índice de citação segundo os critérios da base de dados Web of Science. Nesse contexto, foram selecionados os periódicos com maior impacto e maior fator de impacto nos últimos 5 anos divulgados via o indicador “ISI Web of Knowledge”. Como ponto de corte, foram verificados apenas os 3 periódicos de maior escore na área Marketing e de Finanças/Contabilidade. Assim, foram selecionadas as seguintes revistas acadêmicas: Journal of Marketing, Journal of Retailing, Marketing Science, Journal of Finance, Journal of Financial Economics e Journal of Accounting & Economics. Após a definição dos periódicos a serem estudados, foram obtidos os artigos nas bases da EBSCO, Web of Science e Portal de Periódicos CAPES. Primeiramente, buscou-se nessas bases artigos que tratassem sobre o assunto “firm performance”. Depois, os títulos e resumos dos artigos publicados nos últimos quatro anos em cada um dos periódicos selecionados foram lidos, buscando-se encontrar assuntos relativos ao desempenho empresarial. Os artigos selecionados foram lidos e mantiveram-se na amostra somente aqueles que realmente apresentassem assuntos relacionados ao tema deste estudo, Dado que a ferramenta de pesquisa das bases de dados procura todo e qualquer artigo que apresente as palavras procuradas, tais filtragens se fizeram necessárias. Os periódicos estudados, seus respectivos impactos e fatores de impacto estão descritos na tabela 1: Tabela 1 Periódicos Analisados Periódicos incluídos na lista Impacto Fator de impacto nos Área específica últimos 5 anos Journal of Marketing Journal of Retailing Marketing Science Journal of Finance Journal of Financial Economics Journal of Accounting & Economics Fonte: ISI Web of Knowledge 3.598 4.095 3.309 4.018 3.542 2.851 7.092 4.978 3.868 5.863 5.203 4.405 Marketing Marketing Marketing Finanças e Contabilidade Finanças e Contabilidade Finanças e Contabilidade Depois da triagem de artigos, seus conteúdos foram novamente lidos e uma série de elementos relativos ao uso ou estudo do desempenho foi analisada. Primeiramente, verificou se o artigo tratava sobre teoria relativa ao desempenho empresarial ou se realizava um estudo empírico, utilizando medidas de desempenho. No caso das pesquisas de cunho empírico, verificou-se a forma como foi utilizada a medida de desempenho no estudo, ou seja, se foi como variável dependente, independente ou de controle. Observou-se se os dados utilizados no estudo provinham de fontes secundárias (banco de dados públicos, de empresas,...), de fonte primária (survey) ou de ambas as formas de coleta. Tal observação também impacta na classificação dos dados usados em subjetivos ou objetivos. Analisou-se também se os artigos utilizaram uma única medida de desempenho ou várias medidas. No caso de utilizarem mais de uma medida, avaliou-se se foram apropriadas de forma isoladas ou de forma agregada (média, fatorial, agrupamento, ...). Também foi verificado qual era o objetivo e os resultados dos estudos, bem como o método e amostragem empregadas nos artigos avaliados. Foi analisado se os estudos eram 6 transversais, longitudinais ou de dados em painel. Além disso, observaram-se principalmente as medidas de desempenho apontadas em cada artigo e foram verificadas as fórmulas e cálculos realizados para a mensuração do desempenho, quando disponíveis. 4. Resultados Nesta sessão são apresentados os principais resultados encontrados na pesquisa realizada nos periódicos de marketing e de finanças estudados (Journal of Marketing, Journal of Retailing, Marketing Science, Journal of Finance, Journal of Financial Economics e Journal of Accounting & Economics) com relação ao desempenho empresarial. A maior parte dos artigos publicados nos últimos anos sobre desempenho empresarial (96,26%) são de caráter quantitativo. Na grande maioria (92,45%), as variáveis analisadas são tratadas como dependentes, demonstrando a preocupação de associar as atividades de marketing e de finanças com o desempenho da firma. Apesar de trabalhos que utilizam survey (13,21%) e experimento (3,77%) terem sido diagnosticados, a maioria dos dados é proveniente de fonte de dados secundários (67,92%) ex.: COMPUSTAT, Center for Research in Security Prices (CRSP), Investor Responsibility Research Center (IRRC), American Customer Satisfaction Index (ACSI), entre outros. O que leva também a um maior uso de dados quantitativos e objetivos, que são o forte de tais bases de dados. Além disso, diagnosticou-se que muitos trabalhos utilizaram métricas baseadas nos resultados contábeis das organizações. Um fato importante a ser destacado é a baixa quantidade de indicadores de projeção de performance (11,32%), dado que grande parte dos estudos (79,25%) se baseiam em dados históricos. Ou seja, apesar da importância para scholars e para o mercado, são poucos os estudos que apresentam projeção de métricas de performance empresarial. Apenas um artigo da área de finanças e cinco da área de marketing analisaram o impacto que uma variável tem sobre a desempenho futuro da empresa. A maioria dos artigos analisados trabalharam com análise de períodos longitudinais (67,92%), baseados em períodos passados contínuos, mas em sua maioria não observaram indicadores performance nos períodos seguintes. Quanto ao tipo de análise desenvolvida, a grande maioria dos artigos analisados é de cunho empírico (92,45%). É baixa a preocupação em aprimorar teórica e conceitualmente questões atinentes ao desempenho empresarial. Além disso, chama a atenção que a grande maioria dos estudos empíricos analisou dados dos Estados Unidos. Tal fato, talvez seja devido à existência de grandes bancos de dados americanos, uma vez que a maioria dos estudos utilizou dados de fontes secundárias. Na tabela 2, são apresentados os dados referentes ao número de medidas (medida individual ou medidas múltiplas) utilizadas em cada uma das publicações analisadas, assim como a forma que foram utilizadas (separadamente ou agregadas). A partir dos dados disponíveis na tabela 2 pode-se evidenciar que a maioria dos artigos analisados (64,15%) apresentou mais de uma medida de desempenho. Contudo, embora a maioria dos artigos tenha trabalhado com mais de uma medida para medir performance, elas foram usadas separadamente quase na totalidade dos casos (96,22%). 7 Tabela 2 Número e uso das medidas Finanças Journal Journal of of Business Finance Fin & Acc. Papers Selecionados 11 Número de medidas Marketing Journal Journal Fin. of Subtotal Econ. MKT 4 11 0 0 26 (%) sobre Subtotal Total total de papers Journal Retailing MKT Science 20 3 4 27 53 Medida individual 2 1 4 7 9 2 1 12 19 35,85% Múltiplas medidas 9 3 7 19 11 1 3 15 34 64,15% 11 4 11 26 19 2 4 25 51 96,22% 0 0 2 1 3 3 5,66% Uso das medidas múltiplas Usadas separadamente Agregadas (escala de marketing) As tabelas 3, 4 e 5 apresentam as métricas de performance encontradas na pesquisa realizada. Conforme visto no referencial, os indicadores podem ser classificados de diversas maneiras. No presente artigo, classifica-se as métricas de desempenho em três grupos - de acordo com a natureza dos tópicos que elas abordam: Métricas de valor, retorno e produtividade da empresa; Métricas orientadas para o cliente; Métricas de custos e risco da empresa. O primeiro grupo analisado, de métricas de valor, retorno e produtividade da empresa, referem-se ao desempenho global da empresa, no que tange ao cumprimento de sua tarefa de gerar retorno para seus acionistas, agregar valor perante o mercado e seus stakeholders, assim como a sua produtividade operacional, essencial para gerar os dois primeiros objetivos citados. O segundo grupo trata das métricas orientadas para o cliente, assumidas como sendo essencialmente ligadas à área de marketing e que possuem uma característica bastante particular por, muitas vezes, apresentar métricas subjetivas ou não financeiras, como valor para o cliente. No entanto, esse grupo também pode apresentar métricas de cunho objetivo ou financeiro, como valor médio das transações dos consumidores. O último conjunto de indicadores de desempenho formulado foi o de métricas de custos e risco da empresa, caracterizado por gastos decorrentes da atividade da empresa e métricas que estão relacionadas ao risco atrelado à organização. Essa forma de classificação das métricas foi desenvolvida, pois se busca destacar a quantidade de artigos que trabalham com métricas do primeiro grupo. Fazendo isso, poderíamos analisar duas suposições iniciais. Primeiramente, o Marketing está cada vez mais fazendo uso de métricas orientadas para o retorno global da empresa, respondendo a demanda da práxis. Das 60 vezes que a área de Marketing métricas de desempenho, 43 dessas medidas pertenciam a esse grupo. Já em Finanças, para 71 das 76 vezes que as medidas foram utilizadas, os indicadores de desempenho pertenciam ao grupo de métricas de valor, retorno e produtividade da empresa, demonstrando que, para essa disciplina, a preocupação em comprovar o impacto sobre a performance global da empresa faz parte da essência das análises da área e as métricas são tidas como assunto consolidado. Vale destacar que a maioria dos autores não explica em detalhes os motivos da escolha dos indicadores de performance utilizados. Em grande parte, apenas cita-se a métrica utilizada sem uma apresentação de motivos para tal fato. Além disso, na grande maioria das vezes não se explicita a sua fórmula, além do inventor da métrica. Ou seja, muitos autores consideram o construto desempenho da firma tão sedimentado, que sequer merece maiores explicações. Além disso, detectaram-se que 53 artigos foram encontrados 68 métricas diferentes. Mesmo com métricas mais consolidadas, como o retorno sobre os ativos, utilizado em 28,30% 8 dos artigos, os autores fazem adaptações ou seguem alterações – retorno sobre os ativos, cash ROA, retorno sobre os ativos ajustado para a indústria (antes da depreciação), retorno sobre os ativos ajustado para a indústria (depois da depreciação) - sugeridas por outros autores, as quais consideram pertinentes aos objetivos de seu trabalho. No entanto, normalmente não são ofertadas definições das métricas utilizadas e há, inclusive, variação na forma de cálculo dessas. Na tabela 3 são apresentadas as métricas de valor, retorno e produtividade da empresa. Esse é o grupo que contém o maior número de indicadores de desempenho, pois trata de informações importantes e tradicionais para avaliação da performance da empresa. É formado por métricas como retorno sobre os ativos, que avalia o desempenho operacional, muito importante para avaliar a eficiência e lucratividade de uma empresa; Tobin’s Q e retorno das ações, que avaliam o valor de mercado de uma empresa; métricas sobre vendas, que avaliam o volume e evolução das vendas de uma empresa; entre outras. Diante disso, explica-se o porquê dessas métricas serem atualmente as mais valorizadas pela alta cúpula da organização, uma vez que estabelecem relação entre as variáveis analisadas e seu impacto no resultado da empresa. Tabela 3 Métricas de valor, retorno e produtividade da empresa Finanças Journal Journal Journal of of Business Fin. Finance Fin & Econ. Acc. Papers Selecionados 11 4 11 Marketing Subtotal 26 (%) Journal Journal MKT sobre of Subtotal Total Retailing Science total de MKT papers 20 3 4 27 53 1 4 15 Métricas de valor, retorno e produtividade da empresa Retorno sobre os ativos Retorno sobre os ativos ajustado para a indústria (depois da depreciação) Retorno sobre os ativos ajustado para a indústria (antes da depreciação) Cash ROA Acúmulos anormais (Ajustado com o retorno sobre os ativos) 5 1 5 11 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Retorno sobre o patrimônio líquido Retorno sobre os investimentos Taxa de rendimentos atrasados 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Retornos excessivos atrasados 1 1 1 Book-to-market 3 3 3 Book value asset 1 1 Market-to-book ratio 6 1 Market to sales ratio 1 Market value of equity Tempo para lançamento no mercado Ativo total Lucro operacional (antes das desp. financeiras)/Ativo total Crescimento total dos ativos 1 1 8 2 1 1 9 1 1 3 3 1 1 1 3 3 1 2 3 3 3 3 1 1 3 1 2 1 4 7 4 4 16,98% 1 2 Média ponderada do total de ativos Retorno das ações 1 2 1 28,30% 11 20,75% 9 Retornos anormais 4 1 5 1 Preços das ações 1 Receita de vendas 2 Vendas totais 2 3 5 Crescimento de vendas 3 1 4 Vendas anuais por funcionário Market share de competidores especializados 1 1 2 1 2 6 11,32% 4 8 15,09% 1 1 1 2 2 1 1 1 1 1 2 1 1 1 4 Space Productivity (Cronin and Skinner, 1984, Goodman, 1985, Ingene, 1982, 1984) 1 Fluxo de caixa operacional liquido 1 1 2 2 2 Retorno total para o acionista Lucratividade 1 1 4 4 1 1 1 1 1 1 2 Variabilidade do fluxo de caixa 1 1 1 Net promoter 1 1 1 Receita líquida 1 Margem bruta 1 1 1 1 2 2 Faturamento 2 2 2 Redução do lead-time Quantidade produzida (vendas dividido pelo preço dos produtos fabricados) Performance dos canais globais utilizados 1 1 1 1 1 Escala de Moorman and Rust’s (1999) 11,32% 1 1 1 1 2 1 1 Fluxo de caixa 6 1 1 Market share Taxa de payout de divindendos 1 1 Vendas por funcionário (eficiência) Lucro operacional antes das desp. financeiras sobre a taxa de vendas Retorno sobre as vendas 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 6 14 8 43 114 Tobin's Q 2 1 5 8 5 Totais 45 7 19 71 29 6 26,42% Os principais indicadores de desempenho empresarial encontrados nesta desk research foram Retorno sobre os ativos (15), Tobin's Q (14), Retorno das ações (11), market to book ratio (9), Crescimento de vendas (8), Retorno anormais (6), Vendas totais (6). Todas essas métricas fazem parte do grupo de Métricas de valor, retorno e produtividade da empresa (ver tabela 3). Na segunda classificação – métricas orientadas para o cliente – deve-se destacar a inexistência de artigos de finanças que trabalhem com esse tipo de medida. Contudo, tal fato contrasta com a opinião de Wiesel et. al. (2008), já citado anteriormente, que menciona que as informações financeiras por si só, não são suficientes para retratar a situação de uma empresa, sendo preciso haver a agregação de outras informações não financeiras para uma completa análise de desempenho. Já na área de Marketing, a preocupação em mensurar o impacto das ações da empresa sobre o cliente parece estar consolidada. A área de finanças poderia fazer o mesmo, visto que os clientes são a fonte de receitas da empresa e, assim, afetam o resultado dessas. 10 Tabela 4 Métricas orientadas para o cliente Finanças Journal Journal of of Business Finance Fin & Acc. Papers Selecionados 11 Marketing Journal Journal Fin. of Subtotal Econ. MKT 4 11 26 20 Journal Retailing MKT Science 3 4 (%) sobre Subtotal Total total de papers 27 53 Métricas orientadas para o cliente Identificação dos clientes lucrativos 1 1 1 Aquisição e renteção dos clientes lucrativos 1 1 1 Conversão dos clientes não lucrativos em lucrativos 1 1 1 Valor do cliente 1 1 1 Retenção de clientes 1 2 2 1 1 1 Valor médio das transações dos consumidores 1 Qualidade do relacionamento 1 1 1 Escala de Moorman and Rust’s (1999) 1 1 1 Reputação da empresa 1 1 1 10 10 Totais 0 0 0 0 8 1 1 Um aspecto que merece destaque é a inovação feita por alguns autores na criação de novas métricas, adequadas ao objetivo de seu trabalho. Isso pode ser evidenciado na tabela 4 pela quantidade de métricas que foram utilizadas apenas uma vez, pois apenas a métrica retenção de clientes foi usada mais de uma vez entre as nove métricas diferentes encontradas. O último conjunto de indicadores de desempenho analisados foi o de métricas de custos e risco da empresa, apresentado na tabela 5. Tabela 5 Métricas de custos e risco da empresa Finanças Journal Journal of of Business Finance Fin & Acc. Papers Selecionados 11 4 Marketing Journal Journal Fin. of Subtotal Econ. MKT 11 26 20 Journal Retailing MKT Science 3 4 (%) sobre Subtotal Total total de papers 27 53 1 2 Métricas de custos e risco da empresa Custos 1 1 Quantidade de insumos (Custos dividido pelo peço dos insumos) 1 1 1 1 Longevidade da empresa 1 1 1 Gastos com propaganda e promoção 1 1 1 Risco total da empresa 1 1 1 Investimentos em marketing 1 1 1 Invetimentos em Dispêndios com ativos fixos = Ativos fixos brutos 1 1 1 11 Dispêndios com ativos fixos sobre taxa de vendas 1 1 2 Gastos Totais 2 1 3 0 2 5 8 0 0 1 1 6 11 Este grupo de métricas forma mais utilizadas na área de marketing e, em sua maioria, são métricas tipicamente verificadas pelos práticos nas organizações. Por fim, vale citar que foram ainda encontradas mais quatro outras métricas de desempenho: taxa de ativo disponível sobre o ativo total, relação entre alavancagem, o ativo total e stock age (Dawson & Shaw, 1989) e a escala de Moorman e Rust’s (1999). A taxa de ativo disponível sobre o ativo total é um indicador de liquidez, permitindo concluir que essa métrica, particularmente, não se enquadra em nenhum dos três grupos classificados anteriormente. Já as outras duas métricas, não apresentaram claramente sua forma de cálculo nos artigos estudados, não permitindo, assim, enquadrá-las de forma segura em nenhum dos grupos existentes, assim como a escala construída pelos autores. Diante disso, essas quatro medidas de performance não puderam ser classificadas em nenhum dos grupos formados. 5. Comparação entre os dados de Marketing e de Finanças Esta seção tem o intuito de comparar os resultados encontrados nos periódicos de marketing e de finanças. Os periódicos de finanças, em sua totalidade, utilizam de medidas objetivas e quantitativas para medir a performance da firma, como questões de governança corporativa, questões de voto, efeitos da diversificação na criação de valor da firma, hedge, etc. Em sua maioria, os artigos apresentam uma preocupação com questões de governança (ex.: Chhaochharia & Grinstein, 2007; Core, Guay, & Rusticus, 2006). O objetivo principal dos artigos de finanças é aperfeiçoar ou testar medidas objetivas já existentes ou procurar criar novas perspectivas para medir performance diante dos resultados quantitativos obtidos pela firma. Já a área de marketing, devido às características de suas ações dentro da empresa, trata de variáveis como satisfação do cliente, inovação, portfólio de marcas, alianças e orientação de mercado. A partir disso, respondendo às cobranças anteriormente citadas, procura mensurar o impacto dessas varáveis sobre a performance da firma, medida via métricas de finanças ou contababilidade (Tobin’s Q e ROA, por exemplo) ou de marketing (customer equity e market orientation, por exemplo). Os principais indicadores utilizados nos artigos de finanças são ROA (11), Tobin's Q (8), Market-to-book ratio (8), retorno das ações (7), retornos excedentes (5), vendas totais (5), crescimento de vendas (4), book-to-market ratio (3). Enquanto os principais indicadores utilizados nos artigos de Marketing são Tobin's Q (6), ROA (4), crescimento de vendas (4), retorno das ações (3). Diante disso, torna-se evidente que uma das principais diferenças entre as áreas de finanças e marketing está na forma de mensuração do constructo performance. Enquanto os periódicos financeiros focam-se estreitamente em analisar a performance da firma a partir de métricas baseadas em valores contábeis e de mercado, os de marketing trabalham tanto com essas mesmas métricas, quanto outras específicas de sua área de atuação, como satisfação do cliente e vendas. No entanto, com freqüência, esses estudos apropriam-se de medidas financeiras e contábeis com o intuito principal de embasar os resultados das ações de marketing. Assim, a área de marketing apresenta uma gama maior de métricas utilizadas para mensurar o desempenho da empresa. Muitos trabalhos de finanças, por sua vez, analisam diversas medidas de performance em um mesmo artigo, para testar determinadas hipóteses. 12 A grande maioria dos estudos de finanças mede a performance da firma via medidas tradicionais (mais conhecidas): retorno das ações, retorno abnormal das ações, ROA, Tobins Q, market-to-book e vendas. Geralmente essas medidas são utilizadas individualmente. Não são realizadas combinações ou uniões dessas medidas. Nos estudos são repetidos os testes e aplicações dos modelos estatísticos com outra(s) medida(s) de desempenho, por exemplo, realiza primeiramente uma regressão utilizando como variável dependente o ROA e depois repete o cálculo com a mesma equação de regressão, substituindo apenas a variável dependente, utilizando nesta posição o Tobin’s Q ou retorno das ações, por exemplo. Em alguns estudos, algumas variáveis tidas como representativas do desempenho da firma (desempenho com vendas e Tobin’s Q, por exemplo) foram utilizadas como variáveis independentes que impactam em variáveis tidas pelos autores desses estudos em específicos como medidas de desempenho da firma, que então eram consideradas variáveis dependentes. Já os artigos publicados na área de marketing, extrapolam medidas de performance operacionais e financeiras, agregando indicadores de mercado e especificamente relacionados aos clientes: lealdade dos clientes, aquisição e retenção de clientes, customer equity, entre outras já citadas. Quanto a semelhanças entre as duas áreas estudadas, pode-se afirmar que ambas utilizam certas medidas de performance: como ROA, retorno das ações, Tobin’s Q, custos envolvidos no negócios e desempenho em vendas da empresa, seja relativo às vendas totais ou ao crescimento de vendas. Os estudos de marketing, em sua maioria, foram do tipo cross-section, observando uma série de períodos, com poucos estudos utilizando dados em painel. Já na área financeira, faz-se uso desse último, além de análises transversais e horizontais. O marketing poderia se inspirar na área de finanças para realizar mais estudos longitudinais, com dados em painel, para apresentar maior robustez e diminuir incertezas nos resultados de suas pesquisas. Quanto ao período ao qual os dados se referem, vale destacar, conforme já foi citado anteriormente, o pequeno número de estudos que procuram quantificar o efeito das variáveis estudadas sobre a performance futura da organização. O que ocorre quase na totalidade dos artigos das duas áreas é a utilização de dados reais/históricos, sem analisar como as variáveis se relacionam com a performance projetada. Diante disso, pode-se afirmar que os artigos demonstram que determinadas variáveis afetam a performance, mas não utilizam-se dessas métricas para projetar desempenho futuro. Assim, com a exceção do grande número de artigos que mencionam os crescimentos no retorno das ações ou das vendas, poucas medidas trabalham com questões de crescimento e de projeção. Essa constatação é bastante oportuna, uma vez que indica a carência de pesquisas atuais que busquem desenvolver medidas para projetar a performance da firma. Enquanto todos os artigos de finanças utilizaram técnicas quantitativas de coleta e de análise de dados, os trabalhos de marketing apresentaram mescla de ferramentas, devido à própria natureza dos estudos realizados na área. A grande maioria dos artigos das duas áreas utilizou fontes de dados secundários, no entanto, nos artigos dos journals de marketing utilizam-se conjuntamente outra técnica de coleta de dados, como surveys ou entrevistas. Quanto à forma de manipular as métricas usadas, muitos desses estudos fazem uso de regressões multivariadas, modelos econométricos e modelo já reconhecidos como o de Fama e French (1993), Fama e MacBeth (1973) e Berger e Ofek (1995). 6. Considerações finais Nesta última década, a área de marketing está sendo convocada a aproximar-se da área de finanças, com o objetivo de demonstrar o quanto suas atividades impactam no desempenho da empresa. Ao realizar o levantamento entre as principais publicações internacionais de 13 marketing e finanças nos anos de 2006 à 2009, efetivamente nota-se essa preocupação na área de Marketing. Percebe-se que existe um número considerável e crescente de artigos que utilizam métricas de retorno e valor da empresa para mensurar o desempenho das variáveis analisadas. Nos artigos analisados, o ROA, Tobins’Q, retorno das ações, market to book ratio, vendas e crescimento de vendas foram os indicadores de desempenho mais utilizados, todos eles são métricas de valor e retorno da empresa Além disso, esses estudos utilizam uma grande quantidade de indicadores para tentar mensurar o desempenho, sem, contudo, haver um consenso do que seria uma medida mais adequada de performance. Isto fica claro pelo fato de que em 53 artigos analisados foram encontrados 71 métricas diferentes. Há várias medidas que foram aplicadas de forma dispersa, ou seja, apareceram em apenas um trabalho, sendo que os autores dos estudos analisados a denominavam como indicador de performance. Dessa forma, crê-se que os acadêmicos de ambas as áreas podem aprofundar mais o conhecimento sobre os indicadores de desempenho empresarial, pois não há consenso entre eles sobre quais são os indicadores mais adequados. Percebe-se que, muitas vezes o constructo desempenho da firma foi enganosamente tratado como sedimentado, já que alguns acadêmicos sequer explicam os motivos da escolha dos indicadores utilizados em seus estudos. Esses fatos induzem a conclusão de que nestes artigos analisados é praticamente inexistente a preocupação em aprimorar teórica e conceitualmente questões atinentes ao desempenho empresarial A grande maioria dos artigos analisados - de ambas as áreas - é de cunho empírico. Além disso, chama a atenção que a grande maioria desses analisaram dados dos Estados Unidos, talvez devido a facilidade de acesso a grandes bancos de dados, uma vez que a maioria dos estudos necessitava utilizar de fonte secundárias de dados. Destaca-se que grande parte dos artigos utiliza apenas os indicares como balizadores de outras teorias, buscando averiguar se na prática as ações impactam na performance da firma. Ou seja, sua preocupação é no desenvolvimento de outras teorias ou na tentativa de demonstrar a importância de ações das áreas de marketing ou de finanças. Ainda com relação ao método utilizado nas pesquisas, julga-se que tanto o marketing pode aprender com finanças, quanto o contrário também é factível. O Marketing pode realizar mais estudos de cunho longitudinal, visando obter maior robustez nos resultados de suas pesquisas. Já Finanças podem apropriar-se de técnicas de coletas de dados mais utilizadas na área de marketing, com experimentos e surveys, para auxiliar em suas análises, assim como o uso de medidas subjetivas em suas pesquisas. A área de Marketing pode ainda re-testar suas equações e análises, via a substituição de variáveis relativas a desempenho no mesmo estudo, fato comum nas pesquisas de finanças. A partir dos resultados obtidos nesta pesquisa sugere-se que sejam analisadas em maior profundidade questões atinentes a teoria, conceituação e mensuração sobre o construto desempenho empresarial. Poderiam ser averiguadas maneiras de tornar as medidas mais eficazes e efetivas. Ainda, poderiam ser realizados esforços para a construção de novos indicadores. Além disso, fomenta-se que o presente levantamento seja estendido a outros periódicos da área de marketing e finanças, bem como a outras esferas da administração, realizando levantamentos em periódicos da área de gestão, estratégia, recursos humanos, etc. Pode-se também ampliar o período de publicação analisado, buscando realizar um levantamento histórico sobre o assunto. Compreende-se que uma das potenciais limitações deste estudo foi à escolha da classificação dos indicadores de desempenho (métricas de valor, retorno e produtividade da empresa; métricas orientadas para o cliente; métricas de custos e risco da empresa e outras métricas), que seguiu as percepções e interpretações dos pesquisadores sobre os artigos analisados. Contudo, dentre os objetivos principais deste estudo não se configurava construir 14 grandes categorias de agrupamentos de indicadores de performance, mesmo assim, sugere-se que em futuras pesquisas sejam averiguadas, mais especificamente, critérios de agregação das métricas analisadas. Por fim, ressalta-se que se pretendeu aqui fomentar a reflexão sobre o tema, demonstrando um panorama dos indicadores utilizados nos principais periódicos, sem almejar trazer respostas definitivas para as questões levantadas para essa linha de pesquisa. Referências Angulo, L. F.; Rialp, J. (2007). The interplay between cumulative customer satisfaction and brand value: its effect on cash flow, ROI and tobin’s q. [Working paper]. Autonomous university of Barcelona, Barcelona, Espanha. Baker, S.; & Holt, S. (2004). Making marketers accountable: a failure of marketing education? Marketing Intelligence & Planning, v. 22, n.5, p.557-567. Brito, E. P. Z., Brito, L. A. L., & Morganti, F. (2009). 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