Anais do 6º Encontro Celsul - Círculo de Estudos Lingüísticos do Sul
ANÁLISE DO USO DO OBJETO DIRETO EM TEXTOS INFANTIS
Caroline TORTATO
Caroline VENDRAME
César Augusto RUFATTO
Eulenir Ramos Pereira da SILVA
(Pontifícia Universidade Católica do Paraná)
ABSTRACT: This paper will present preliminary conclusions of a research done in relationship to the analysis of the use of
the direct object to refer to objects previously mentioned. In this paper it was evidenced that the children from the 5th grades
preferred to refer to the lexical item than to use the standard form or the null object, suggested by the researches carried out by
Bagno.
KEYWORDS: direct object; personal pronouns.
1.
Introdução
Este trabalho procurará analisar como crianças de 5ª série fazem o uso e a retomada dos objetos diretos de 3ª
pessoa, se usam ou não os pronomes oblíquos ou pessoais para fazer referência a algo já citado, para substituir o objeto direto,
se usam “objetos nulos”, ou ainda, se usam a repetição de palavras.Com isso, poderá ser analisado se crianças das faixas etárias
entre 10 a 12 anos fazem ou não o uso de uma coesão por referência, seja ela pronominal ou lexical, uma vez que elas
estão em fase de aprendizagem, podendo ou não usar adequadamente a norma padrão. Se não usam, pode-se analisar
porque crianças da 5ª série ainda não utilizam esse recurso em seus textos.
2. Fundamentação Teórica
Para que seja feita uma boa análise do material coletado, fazendo um paralelo das variedades encontradas nos
textos com o “ideal” discutindo nas gramáticas normativas, é necessário conhecer a respeito dos fatores sintáticos que serão
analisadas.
Para isso, irá se definir os seguintes termos:
a) Coesão referencial (anáfora)
b) Norma culta e padrão
c) Heterogeneidade dialetal
d) Objeto da Sociolingüística Variacionista
e) Objeto direto
f) Pronomes pessoais (retos e oblíquos)
h) Função do pronome oblíquo
- Coesão referencial (anáfora)
A coesão entende-se pelas relações de sentido que se estabelecem entre os enunciados que compõe o texto, a
interpretação de um elemento depende da interpretação do outro.A coesão referencial anafórica é a função na qual um signo
lingüístico se relaciona, e é anafórica quando retoma signos já existentes no texto.
- Norma culta e padrão
A variabilidade da língua deve-se às diferenças socioeconômicas e regionais do país, entretanto, existe a
necessidade de se estabelecer uma língua padrão acima de todas as variantes do português, para ser usada no ensino básico e na
produção cultural.
As convenções que regem essa língua padrão a tornam distante da língua popular.
A variedade culta, sob a perspectiva da lingüística, não é melhor nem pior do que as demais variantes do
português. No entanto, é esta variante que é utilizada pelas escolas, pela literatura etc...
- Heterogeneidade dialetal
Cada falante, além de ter seu próprio sistema lingüístico, também possui estilos diferentes que emprega em
circunstâncias diversas. Portanto, cada dialeto possui traços distintos dentro de uma mesma língua.
- Objeto da Sociolingüística Variacionista
A Sociolingüística Va riacionista procura descrever como a estrutura da língua se relaciona com aspectos
sociais, relacionando a diferença de natureza social com as variações existentes na expressão verbal, mostrando que a variação
na fala faz um uso sistemático e regular inerente aos sistemas lingüísticos.
2.1 Evanildo Bechara
Sentido do Objeto Direto:
Quanto ao sentido, o objeto direto tenta caracterizar:
- Pessoa ou coisa que recebe a ação verbal.
O soldado prendeu o ladrão.
- O produto da ação.
O poeta compôs um belíssimo soneto.
- A pessoa ou coisa para onde se dirige um sentimento.
Maria ama a José.
- Com os verbos de movimento, o espaço percorrido ou objeto final.
Viver bons momentos, passar o dia no campo, dormir a noite inteira...
Pronomes pessoais
Os Pronomes abrangem três pessoas no discurso;
1ª pessoa – eu, nós
2ª pessoa – tu, vós
3ª pessoa – ele, ela, eles, elas.
As formas eu, tu, ele, ela, nós, vós eles, elas, funcionam como sujeito, e se dizem retas. A cada um desses
pronomes pessoais retos, correspondem a um pronome pessoal obliquo, que funciona como complemento e pode apresentar-se
em forma átona ou tônica.
Pronomes Pessoais Retos
Singular: eu, tu, ele, ela.
Plural: nós, vós, eles, elas
Pronomes Pessoais Obliquo
Átonos: me, te, lhe, o, a, se
Tônicos: mim, ti, ele, ela, si.
Átonos: nos, vos, lhes, os, as, se.
Tônicos: nós, vós, eles, elas, si.
Oblíquo ÀTONO: “A melhor companhia acha-se em uma escolhida livraria”.
Oblíquo Tônico: “As virtudes se harmonizam, os vícios discordam entre si”.
Objeto Direto Preposicionado: Neste caso o objeto aparece iniciado por preposição.
Amar a Deus sobre todas as coisas.
A preposição aparece para evidenciar o contraste entre o sujeito e o complemento.
O objeto direto ocorre nos seguintes casos:
- Quando se trata de pronome oblíquo tônico.
“Nem ele entende a nós, nem nós a ele”.
- Nos verbos que exprimem sentimentos, se deseja encarecer a pessoa a quem a ação verbal se dirige.
Amar a Deus sobre todas as coisas.
- Quando deseja evitar confusão de sentido.
A Abel matou Caim (o objeto direto vem antes do sujeito)
- Na expressão de reciprocidade.
Conhecem-se uns aos outros.
- Com o pronome relativo quem.
Conheci a pessoa a quem admiras
- Nas construções de objeto direto pleonástico.
“Ao ingrato, ou não o sirvo, porque (para que) me não magoe”.
Objeto Direto interno:
Chama-se de objeto interno ao complemento que, acompanhado de uma expressão qualificativa, serve para
repetir a idéia contida no verbo, que é geralmente intransitivo.
“Morrerá morte infame de peão criminoso”.
Concorrência de complementos diferentes:
Um verbo transitivo pode acompanhar-se de dois objetos, podendo daí surgir as três principais possibilidades.
- Objeto direto de pessoa e objeto direto de coisa.
- Objeto direto de pessoa e um complemento de relação.
- Objeto direto de pessoa e complemento de relação (a que NGB chama de objeto indireto).
Emprego do Pronome:
Ele como objeto direto: O pronome ele, só aparece como objeto direto quando precedido de todo ou só (adjetivo)
ou se dotado de acentuação enfática, em prosa ou verso.
Função do Pronome Átono em Dou-me ao trabalho:
Em gera l, o pronome átono da forma verbal reflexiva, funciona como objeto direto: dou-me (objeto direto) ao
trabalho (objeto indireto) de fazer.
Cunha & Cintra
Objeto direto
É o termo que completa o sentido de um verbo transitivo direto, normalmente não vem ligado de preposição.
Podem ser representado por substantivo, pronome, numeral, palavra ou expressão substantiva, oração substantiva. Quando o
objeto direto vir regido de preposição ele recebe o nome de objeto direto de preposicionado. Ele se torna OBJETO DIRETO é
obrigatoriamente preposicionado, quando o objeto direto for expresso por um pronome pessoal obliquo tônico. OBJETO
DIRETO PLEONÁSTICO – “Quando se quer chamar atenção para o objeto direto que procede ao verbo, costuma repeti-lo”,
quando deseja destacar a idéia expressa pelo objeto direto, pode repeti-lo.
Pronome pessoal reto
Os pronomes pessoais se caracterizam por indicar as três pessoas gramaticais:
1ª pessoa – quem fala
2ª pessoa – com quem se fala
3ª pessoa – de quem se fala
Podem representar algo já pronunciado quando em 3ª pessoa, variam de forma de acordo com a função que estou
desempenhando na oração.
Pronome pessoal oblíquo
Eles podem ter FORMAS TÔNICAS e FORMAS ÁTONAS. O pronome pessoal de forma tônica vem sempre
acompanhado de preposição. E podem desempenhar as seguintes funções:
- Complemento nominal
- Objeto indireto
- Objeto direto
- Agente da passiva
- Adjunto adverbial.
Emprego enfático do pronome oblíquo tônico “Para se ressaltar o objeto (direto ou indireto), usa acompanhado
um pronome átono, a sua forma tônica regida da preposição a”.
FORMAS ÀTONAS
São formas próprias de objeto direto, indireto. Emprego enfático do pronome oblíquo átono. Para dar destaque
ao objeto direto, “pode reiterar o objeto indireto colocado no inicio da frase”, podem ser usados com sentido possessivo.
2.3 Rocha lima
Objeto direto
Na voz ativa, o objeto direto é um complemento que representa o paciente da ação verbal. Ele pode ser o sujeito
da voz passiva; pode corresponder, na 3ª pessoa, às formas pronominais o, a, os, as; indica o resultado, o conteúdo ou sobre
quem recai a ação.
Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais possuem formas retas e obliquas.
As formas retas também podem ser chamadas de subjetivas e desempenham função de sujeito, predicativo, e
ainda t u e vós podem ser vocativos.
1ª Pessoa
2ªPessoa
3ª Pessoa
eu
tu, você
ele, ela
nós
vós vocês
eles, elas.
“O pronome você pertence realmente à 2ª pessoa, isto é, aquela com quem se fala, posto que o verbo com ele
concorde na forma da 3ª pessoa. Tal ocorre em virtude da origem remota do pronome (vossa mercê). A concordância faz-se
com o substantivo mercê, como nos tratamento de reverência; é com os substantivos e não como o possessivo (vossa) que se
estabelece à concordância “. (LIMA, 2002. p.316)”.
As formas oblíquas podem ser objetivas diretas ou indiretas.
Objetivas diretas:
1º Pessoa
2º Pessoa
3º Pessoa
me
te
o, a
nos
você, o, a
os, as
vos
se (exclusivamente reflexivo)
se (exclusivamente
reflexivo)
Exemplos:
Chamaram-me. Convidaram-nos. (1ª pessoa)
Estimo -te. Respeito-vos. (2ª pessoa)
Acompanho você (s): acompanho-os (s) se contradiz (em). (2ª pessoa).
Diga-lhe que irei v isitá-la(s). Eles se enganam. (3ª pessoa).
As gramáticas, ao falarem do objeto direto, não mencionam, no caso de retomada, o uso da repetição da palavra,
do pronome pessoal reto e da categoria vazia, considerando como norma culta apenas o uso do pronome obliquo. Somente
Evanildo Bechara considera o pronome ele como objeto direto quando procedido de todo ou só, ou dotado de acentuação
enfática.
Porém, como observa Bagno, as investigarmos a língua falada pelos brasileiros, até mesmo os que utilizam o
padrão culto, (isto é, pessoas com escolaridade superior completa, nascidas e criadas em grandes centros urbanos) foi de 100%
com o uso de objeto apagado, categoria vazia.
Os gramáticos ainda não aceitam essa mudança na língua falada aqui no Brasil. É importante notarmos que as
formas usadas, atendendo às necessidades comunicativas e expressivas, estão corretas.
Devemos admitir que, neste ponto, a gramática está em declínio, à língua mudou e contra a mudança lingüística
nada se pode fazer.
3. Metodologia
Com o intuito de analisar como as crianças de 5ª série fazem o uso da coesão referencial, seja ela pronominal,
lexical ou vazia, planejamos duas propostas nas quais pensamos que as estimularia ao uso da coesão.
As propostas foram as seguintes:
“1 – Lembra aquele presente que você adorou? Faça um texto falando a respeito do melhor presente que você já ganhou”.
“2 – Faça um texto falando a respeito do seu melhor amigo ou amiga, contando as aventuras que vocês já viveram juntos”.
Escolhemos essas propostas, pois queríamos observar se, ao fazerem a retomada de algo já citado, utilizariam a
repetição da palavra, o pronome pessoal reto, a categoria vazia ou o pronome pessoal obliquo que é o considerado
gramaticalmente correto.
Para nossa surpresa, ao observarmos o objeto direto nos textos, vimos que a incidência de uma coesão
referencial é pequena, e que quando a utilizam tendem a usar a repetição da palavra.
Essa incidência é pequena, pois quase não fazem referência a algo já citado, sempre vão falando de coisas novas,
inviabilizando o uso de uma coesão referencial.
Observamos, ao analisar o objeto direto, os seguintes aspectos:
1ª A ocorrência do objeto direto oracional.
Exemplos:
“Continuamos brincando todos os dias”.
“Meu pai mandou reformar a bicicleta”.
“Eu queria bater numa menina”.
2ª A ocorrência do objeto direto em si.
Exemplos:
“Meus convidados levaram os presentes ”.
“Minha mãe comprou uma rifa ”.
“Eu ganhei um cachorro”.
3ª A ocorrência do objeto direto por coesão referencial com a repetição do item lexical.
Exemplos:
“(...) foi uma bicicleta (...) eu tenho ainda a bicicleta”.
“Eu ganhei um videogame (...). Meu pai escondeu o videogame”.
4ª A ocorrência do objeto direto com o uso do pronome pessoal reto.
Exemplos:
“Eu tenho ele.”
“Ganhei ele.”
“Eu vendi ele para o meu colega”.
5ª A ocorrência do objeto direto com o uso do pronome pessoal oblíquo.
Exemplos:
“Eles tomam uma vacina que os protegem”.
“Eu sempre a considerei como minha melhor amiga”.
6ª A ocorrência do objeto direto como categoria vazia.
Exemplos:
“Quando ganhei Ø fazia muito frio”.
“Eu queria um radio TV, mas nós não achamos Ø”.
“Até hoje eu espero Ø e não ganho”.
Depois de feita a análise, chegamos aos seguintes resultados:
Número de textos masculinos a respeito do texto do presente: 20
Número de textos femininos a respeito do texto presente: 18
Número de textos masculinos a respeito do amigo: 19
Número de textos femininos a respeito do amigo: 18
4. ANÁLISE
Estratégias de pronominalização.
Ao fazer a retomada de um objeto de 3ª pessoa, o falante, segundo Bagno, pode usar três estratégias:
- usando o pronome obliquo, que é a única forma considerada correta pela gramática tradicional:
“Eles tomam uma vacina que os protegem.”
- usando o pronome reto, forma condenada pelas gramáticas norma tivas:
“Eu tenho ele.”
- usando o objeto nulo, categoria vazia, que não aparecem nem citação em nenhuma gramática nos capítulos a respeito de
pronomes oblíquos e análise sintática dos objetos:
“Quando ganhei fazia muito frio”.
Porém, na análise dos textos, a forma mais usada não foi nenhuma das três citadas por Bagno.
Ao fazerem a retomada, as crianças preferiram repetir a palavra que estavam retomando e quase nenhuma usou o
pronome obliquo: apenas quatro ocorrências num total de 412 objetos diretos.
São as crianças e adultos analfabetos ou semi-analfabetos, que não sofrem a influência da escola, que mostram as
regras gramaticais que realmente são usadas pela maioria da população falante da língua materna. Dessa forma, o pronome
oblíquo está quase totalmente morto, visto que nos textos analisados as crianças escreveram da maneira como falam, sem se
prender às regras gramaticais.
Com relação ao uso da retomada usando o pronome reto, apesar de não ser permitida pela gramática, é
encontrada em textos da literatura clássica. Esse recurso é usado, na maioria das vezes, para se relacionar com o traço
semântico [+ animado].
“Eu vendi ele para o meu colega”.
Esta forma, também não padrão, não prejudica a compreensão do texto, mas mesmo assim é condenada.
Assim, o caráter conservador da língua fica evidenciado, pois o que é considerado padrão, quase nunca é usado.
Porém, formas não-padrão, que também são compreensíveis, não são aceitas.
Relativas Copiadoras.
Segundo Bagno, as orações relativas (produto de uma síntese) constituem um corpo estranho na língua, ou seja,
um sistema derivado de declinações do latim clássico. Desta forma, os falantes dessa língua tendem a eliminar esse corpo
estranho.
Marcos Bagno, descreve a origem grega da palavra análise, a qual significa quebra, ou seja, a palavra tem as
suas funções divididas.
As preposições atenuam as estranhezas na língua, ocupando lugares estabelecidos na sintaxe do português (elas
se posicionam sempre antes do termo que estão regendo). Considerando a norma padrão, percebemos um contraste com o que é
dito como correto e o que é realmente utilizado pelos falantes, assim em orações relativas padrão, as preposições deslocam-se
nesta ordem: (ANTECEDENTE – PREPOSIÇÃO- CONSEQUENTE).
Na língua Portuguesa uma preposição não pode vir desacompanhada, ou seja, uma construção não pode ser
finalizada com uma preposição. No entanto, a função do conseqüente é preenchida por um pronome cópia, o qual tem por
função a retomada do objeto direto.
Nos textos analisados, percebemos que o uso do objeto direto com o pronome pessoal reto, é freqüentemente
utilizado pelas crianças, no que diz respeito à retomada de um fato já descrito. “Eu ganhei uma bicicleta, ganhei ela do meu
pai”.
Relativa cortadora
As relativas cortadoras são mais faladas entre os falantes mais cultos, para eles representa uma maneira de fugir
de dois problemas, ou seja, parecer cansativo demais ao usar o relativo padrão, ou parecer pouco instruído ao usar relativa
copiadora. A relativa cortadora é freqüentemente usada, pois o ouvinte ou leitor consegue entender a preposição mesmo ela
não sendo lida ou ouvida. O Português do Brasil é uma língua de categorias vazias, sempre o falante acredita na capacidade do
interlocutor entender o que foi falado.
“A restrição semântica do verbo o que permite a ocorrência da sintaxe cortadora e a obtenção dos efeitos
pragmáticos visados pelo falante”.Sendo que o ouvinte entende o contexto verbal e não verbal adequadamente os lugares
deixados vazios pelos processos de apagamento não havendo ambigüidade no entendimento.
Nos textos das crianças de 5ª série que analisamos percebermos que as crianças deixam o uso da cortadora
em terceiro plano, ou seja, primeiro eles preferem repetir, depois uso pronome reto, é só depois elas utilizam a cortadora: de um
total de 412 objetos direto, só 14 formas às categorias vazias.
A vitória da cortadora
A relativa cortadora veio para ficar. Até mesmo na língua escrita mais monitorada que, em geral, observa mais a
norma-padrão, esse tipo de estratégia de revitalização, já mostra sua força.
Na literatura a relativa cortadora aparece com possibilidade de recurso estilístico, apoiado na capacidade de
interpretação adequado das elipses por parte dos leitores e ouvintes do português brasileiro. Veríssimo é o escritor que mais faz
uso, na literatura, das regras gramaticais que caracterizam o português culto no Brasil. Porém, os professores não se dão conta
que essas regras não são “erros”, e continuam reprovando o uso delas. Alguns professores justificam essa correção,
argumentando que o autor tem licença para escrever desta forma, porque ele conhece bem a língua culta. Isso supervaloriza o
escritor, mas superdesvaloriza o falante da língua, como se existisse uma barreira imensa entre os dois. Existe uma contradição
nisso, os falantes aprendem a norma culta, porém quando algum escritor a transgride, eles não tem direito de reclamar.
A tradição gramatical se baseia em uma escrita “pura”, que deve excluir a interferência da fala na escrita,
entretanto, quando esta aparece em alguma obra, recebe o nome de “estilização”. Esse argumento não tem fundamento, pois,
baseiam-se num preconceito muito grande contra a língua falada, como se ela fosse caótica, confusa, sem regras etc. É preciso
acabar com este preconceito, pois a língua escrita e língua falada convivem juntas, ao contrário do que a gramática tradicional
admite.
GRÁFICO 1
TEXTO - PRESENTE
O.D. oracional
O.D. como item lexical
O.D. - item lexical - coesão referencial
O.D. com o pronome pessoal reto
O.D. com o pronome oblíquo
Categoria Vazia
5%
MASCULINO
10
75
15
1
0
4
Texto sobre o presente
TOTAL
22
148
27
10
2
12
O.D. oracional
O.D. como item lexical
1%
5%
FEMININO
11
73
12
9
2
8
10%
O.D. - item lexical - coesão
referencial
12%
O.D. com o pronome pessoal reto
O.D. com o pronome oblíquo
67%
Categoria Vazia
No gráfico acima percebe-se que o objeto direto item lexical é o que mais ocorre com 67% do total, seguindo do
objeto direto item lexical – coesão referencial com 12% de ocorrência. Tem-se o objeto direto oracional com 10%, com uma
mínima diferença, a categoria vazia com 12 ocorrências e o objeto direto com o pronome pessoal reto com 10 ocorrências,
aparece empatado em 5%, seguindo do objeto direto com o pronome oblíquo com um percentual de 1% de ocorrência.
GRÁFICO 2
TEXTO – AMIGO
O.D. oracional
O.D. como item lexical
O.D. - item lexical - coesão referencial
O.D. com o pronome pessoal reto
O.D. com o pronome oblíquo
Categoria Vazia
MASCULINO
12
61
6
4
1
0
FEMININO
18
77
6
4
1
2
TOTAL
30
138
12
8
2
2
1%
Texto sobre o amigo
1%
O.D. oracional
4%
16%
6%
O.D. como item lexical
O.D. - item lexical - coesão
referencial
O.D. com o pronome
pessoal reto
O.D. com o pronome
oblíquo
72%
Categoria Vazia
No gráfico acima o objeto direto com item lexical é o que mais ocorre com 72%, seguindo do objeto direto
oracional com 16%. Com 6% o objeto direto item lexical – coesão referencial é o terceiro que mais ocorre, o objeto direto com
o pronome pessoal reto aparece com 4% de ocorrência. Empatados ambos com duas ocorrências, aparecem o objeto direto com
o pronome obliquo e a categoria vazia com 1% de ocorrência.
GRÁFICO 3
TEXTO – AMIGO + PRESENTE
MASCULINO
FEMININO
TOTAL
O.D. oracional
22
29
52
O.D. como item lexical
136
150
286
O.D. - item lexical - coesão referencial
21
18
39
O.D. com o pronome pessoal reto
5
13
18
O.D. com o pronome oblíquo
1
3
4
Categoria Vazia
4
10
14
3% Texto sobre o amigo e o presente
1%
4%
O.D. oracional
O.D. como item lexical
13%
O.D. - item lexical - coesão
referencial
9%
O.D. com o pronome pessoal
reto
O.D. com o pronome oblíquo
70%
Categoria Vazia
No gráfico acima o objeto direto com item lexical aparece com 72% de ocorrência, o objeto direto oracional com
13%, o objeto direto item lexical- coesão referencial aparece com 9%, o objeto direto com pronome pessoal reto tem 4% de
ocorrência, com 3% a categoria vazia e com 1% de ocorrência aparece o objeto direto com pronome obliquo.
GRÁFICO 4
TOTAL
OBJETOS DIRETOS
MASCULINO
FEMININO
189
TOTAL
223
412
TOTAL DE OBJETOS DIRETOS
189
223
MASCULINO
FEMININO
O gráfico acima mostra que o objeto direto é mais utilizado pelo sexo feminino com uma ocorrência de 54%, sendo
que o sexo masculino aparece com 46%.
5. CONCLUSÃO
Ao desenvolvermos este trabalho concluímos que os textos das crianças de 5ª série quando fazem a retomada do
objeto direto, tendem a usar a repetição lexical e o pronome pessoal reto mais do que a considerada norma padrão, ou seja, o
uso do objeto direto como pronome pessoal obliquo é quase nulo.
Relacionando o nosso trabalho com o que Bagno conclui com sua pesquisa, não podemos considerar que os
resultados foram semelhantes. Bagno considera que os falantes utilizam a categoria vazia e o pronome pessoal reto. Seria
importante que essas crianças percebessem que na escrita é necessário seguir a norma culta, sem, contudo desconsiderar a
variedade.
O trabalho nos fez refletir a situação da escola, e a necessidade de mudanças no curso do Português e que se
tenha um ensino mais eficiente, que não apenas indique um único modelo como padrão, mas também, aceite as demais
variantes como formas.
É importante lembrar que a coleta de dados é um objeto de investigação com relação às mudanças no Português
Brasileiro e não deve ser utilizada para rotular ninguém.
Agradecemos a colaboração de todas as crianças do Colégio Estadual Padre Cláudio Morelli, do bairro de
Umbará, Curitiba/Pr, que gentilmente dispuseram-se a escrever os textos para que pudéssemos coletar os dados e fazer esta
investigação.
RESUMO: Apresentar-se-á conclusões preliminares de um trabalho feito com relação à análise da retomada do objeto direto.
Neste trabalho evidenciou-se que as crianças de 5º série preferiram retomar o item lexical a usar a norma padrão ou o objeto
nulo, sugerido pelas pesquisas feitas por Bagno.
PALAVRAS-CHAVE: objeto direto; pronomes pessoais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BA GNO, Marcos. Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola, 2001. p.69-108
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional, 1985. 2 ed.
CUNHA, Celso. CINTRA, Lindley. Nova gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. 2ed.
LIMA, Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1986.
FAVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1995.
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