Universidade Federal de Minas Gerais
Joyce Patrícia de Oliveira
Limnologia aplicada à Aquacultura
Professor: Ricardo Motta Pinto Coelho
2˚ Semestre/2014
-Introdução
-Desenvolvimento
-Conclusão
-Referências Bibliográficas
Introdução
• A crescente introdução de espécies não nativas, de forma acidental ou deliberada,
é uma das grandes mudanças globais causadas pelo homem nos últimos séculos,
sendo tão ou mais preocupante que o aquecimento global.
• A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) define espécie exótica como
“toda espécie, subespécie ou menor táxon, introduzida fora de sua área de
distribuição natural, presente ou passada, incluindo qualquer parte, gameta,
sementes, ovos, ou propágulos da espécie que possa sobreviver e,
subsequentemente, se reproduzir”.
•Assim, uma introdução pode ocorrer de um continente para outro,de uma região
biogeográfica, e/ou bioma,para outro (dentro de um mesmo país ou estado) e, no
caso específico de peixes de água doce, de uma bacia ou sub-bacia hidrográfica para
outra.
•É importante, ainda, distinguir as expressões espécie não nativa, de espécie
invasora. Conforme a The World Conservation Union, uma espécie introduzida é
considerada invasora, quando “se estabelece em um ecossistema ou habitat natural
ou seminatural, sendo um agente de mudança, ameaçando a diversidade biológica
nativa” (IUCN,2006).
Desenvolvimento
• A aquicultura é, mundialmente, uma importante fonte de produção de proteína na
área da nutrição; na área econômica,é fonte de renda e a principal responsável pela
introdução de peixes,principalmente em países em desenvolvimento.
• Atualmente,cerca de 90% da produção nacional tem base em espécies provindas
de outros países ou continentes, o que torna o Brasil, proporcionalmente, o maior
produtor mundial de espécies introduzidas (Casal, 2006).
•As informações sobre problemas causados por invasões biológicas estão crescendo
no país, mas ainda são poucas e dispersas, em relação à amplitude do problema. Por
isso, a compilação de dados, o entendimento dos impactos antigos e a descoberta de
novos impactos são vitais para a abordagem do problema. Nesse sentido,é crucial
lembrar que, além dos problemas ecológicos de curto prazo,as introduções de
peixes não nativos podem atuar em diferentes níveis ou dimensões ecológicas
(desde o indivíduo até o ecossistema).
Desenvolvimento
Fonte: http://www.projetopacu.com.br
Acesso: 27/09/2014
Fonte: http://www.grupoaguasclaras.com.br
Acesso: 27/09/2014
Mecanismos
• Na piscicultura intensiva as espécies podem alcançar os ambientes aquáticos
naturais através de:
a. escapes pela água efluente dos tanques;
b. acidentes por rompimento ou transbordamento de tanques;
c. soltura deliberada de indivíduos nos tanques durante seu esvaziamento;
d. descartes resultantes das atividades de manejo dos tanques
• Na piscicultura semi-intensiva e extensiva, geralmente são utilizados corpos
d’água por represamentos feitos ao longo dos rios, a opção por espécies exóticas
tornam as introduções mais prováveis.
O rompimento de barragens, decorrentes de picos de vazão não previstos, são fatos
frequentes neste tipo de atividade.
Mecanismos
Fonte: http://www.cpt.combr
Acesso:20/09/2014
Fonte: http://www.serra.es.gov.br
Acesso: 20/09/2014
Fonte: http://www.cpt.com.br
Acesso: 20/09/2014
Mecanismos
• A estocagem direta de espécies exóticas ou alóctones em cursos de água ou
reservatórios constitui em importante mecanismo de dispersão de peixes para novas
áreas. Realizados com a finalidade de “melhorar os estoques silvestres”, estes
procedimentos foram empregados por muito tempo pelo setor elétrico brasileiro.
Entre as razões apresentadas para estas introduções destacam-se:
a. Oferecimento de nova opção à pesca;
b. O desenvolvimento da pesca esportiva e turismo;
c. O preenchimento de “nichos vazios;”
d. A oferta de formas forrageiras;
e. O controle de outros organismos.
Mecanismos
• O papel da aquariofilia ou cultivo de peixes ornamentais na introdução de
espécies de água doce, no Brasil, ainda é menor, quando comparado ao de outras
formas de piscicultura, em termos de números e locais de cultivo,mas não em
número de espécies introduzidas.
• Assim, a aquariofilia também devem ser considerada como grave problema, pois
existem grandes centros de cultivo de peixes ornamentais não nativos e incontáveis
centros de comercialização, legais ou ilegais (estes são fontes contaminadoras e
dispersoras em potencial), em geral sem nenhum tipo de controle ou restrição.
Mecanismos
• Com o advento nacional dos pesque-pagues (estabelecimentos constituídos de
tanques com peixes introduzidos,que, na grande maioria dos casos,
exploram comercialmente a pesca amadora), ocorreu um avanço indiscriminado
na construção de tanques ilegais, sem nenhum tipo de aparato de contenção e muito
próximos aos leitos de rios, espalhados ao longo de grandes áreas geográficas. Este
fator, facilita a dispersão das espécies e dificulta o controle e a fiscalização dos
focos de contaminação.
Fonte: http://www.pesquepaguegiaretta.com.br
Acesso: 29/09/2014
Mecanismos
• O mexilhão dourado ( Limnoperna fortunei) é um molusco bivalve originário da
Ásia. A espécie chegou à América do Sul provavelmente de modo acidental na
água de lastro de navios cargueiros, tendo sido a República Argentina o ponto de
entrada. Do país vizinho chegou ao Brasil. Hoje a espécie já foi detectada em
quase toda a região Sul e em vários pontos do Sudeste e Centro-Oeste.
• Estudos mostram que o mesmo é capaz de produzir alterações relevantes no
sistema hídricos naturais ou artificiais, uma vez que apresenta grande capacidade
reprodutiva e ampla tolerância ambiental. Além disso, por ser um bivalve filtrador
pode provocar profundas alterações nos ecossistemas aquáticos.
Mecanismos
• A incrustação deste molusco em telas de tanques-rede dificulta a atividade de
piscicultura, uma vez que afeta a circulação da água dentro da estrutura e na
sustentação das mesmas, acarretando em manejos mais frequentes, aumentando
dessa forma, o custo de produção e valor final do produto.
Fonte: http://www.cemig.com.br
Acesso: 28/09/2014
Limnoperna fortunei
Fonte: http://www.vex.com.br
Acesso: 28/09/2014
Mecanismos
• Por não apresentar inimigos naturais conhecidos, o mexilhão dourado pode fazer
parte da alimentação de uma ou mais espécies de peixes.
• Dentre os prejuízos causados pelo mexilhão dourado que podemos citar:
a. destruição da vegetação aquática;
b. ocupação do espaço e disputa por alimento com moluscos nativos;
c. prejuízos à pesca, com a diminuição dos moluscos nativos, diminui também o
alimento dos peixes;
d. entupimento de sistemas para a geração de energia elétrica;
e. prejuízos à navegação com o comprometimento de motores e estruturas das
embarcações.
Impactos causados
• Predação de espécies nativas:
A predação é um dos impactos mais comuns da introdução de espécies exóticas,
frequentemente resultando no deslocamento das espécies nativas para outro habitat e
na extinção de espécies endêmicas.
• Competição:
A competição por recursos alimentares é o principal meio pelo qual uma espécie
introduzida afeta as nativas. Além de existir também a competição por local de
desova e por espaço, esta irá depender da estratégia reprodutiva da espécie
introduzida e de seu comportamento territorial.
Impactos causados
• Introdução de patógenos:
Todos os peixes contém, como complemento normal, uma variada gama de
organismos(vírus, bactérias, fungos e grandes parasitas) que obviamente estão
envolvidos no processo de introdução.
Quando o hospedeiro fica debilitado, estes patógenos oportunistas proliferam e
podem causar mortandade massiva.
Os tanques de cultivo constituem os focos potenciais para a disseminação de
doenças em águas naturais.
Impactos causados
• Hibridação:
A presença de híbridos em ambientes aquáticos pode representar uma grande
ameaça para a conservação de espécies nativas. O genoma modificado destas
espécies poderá causar a chamada contaminação gênica dos estoques naturais, além
de alguns poder apresentar fertilidade resultando na capacidade de retrocruzar com
espécies parentais resultando em nenhum híbrido, ou estes serem estéreis ou
debilitados.
Estudo de casos
Introdução da perca-do-Nilo ( Lates niloticus) no lago Vitória, na África Oriental
- Originária do Nilo, essa espécie foi introduzida no lago em 1954 com o objetivo de
incrementar a pesca local.
- Impacto direto: aniquilação das populações de ciclídeos, levando muitas espécies
únicas à extinção e redução severa do seu próprio suprimento de comida.
- A introdução da perca teve consequências secundárias para os ecossistemas
terrestres no entorno do lago também. A carne da perca tem alto teor de gordura e
precisava ser preservada pela defumação em vez de secagem ao sol, e isto levou a
uma devastação das florestas da região.
- O desaparecimento dos peixes locais do gênero (Haplochromis) teve efeito sobre o
estado trófico do lago. Grande parte destes peixes alimentava-se de algas e detritos e
como consequência ocorreram um “bloom” de algas,acúmulo de detritos e anoxia
em vastas extensões do lago.
Estudo de casos
Introdução da perca-do-Nilo ( Lates niloticus) no lago Vitória, na África Oriental
Fonte: http://www.fishbase.org
Acesso: 28/09/2014
Lates niloticus(perca-do-Nilo)
Estudos de casos
Impactos da introdução de peixes no distrito de lagos do médio rio Doce,MG
-A introdução dos predadores Pygocentrus nattereri(piranha-vermelha) e Cichla cf.
ocelaris (tucunaré) provocaram uma diminuição não só nas espécies nativas, mas
também nos níveis tróficos inferiores.
-Após a introdução das espécies, os lagos apresentaram alterações na comunidade
fitoplantônica, tais como o aparecimento e dominância de Cyanophyceae.
-A comunidade zooplanctônica perdeu diversas espécies, além de ocorrer o
desaparecimento de todas as espécies de cladóceros limnéticos, como é o caso da
lagoa Carioca.
-Nos lagos que apresentaram maiores densidades de peixes exóticos, floresceram os
dípteros( predadores invertebrados pertencentes à família
Chaoboridae),provavelmente como resultado da “liberação ecológica”.
-Esses impactos alteraram o ecossistema em efeito cascata.
Estudos de casos
Impactos da introdução de peixes no distrito de lagos do médio rio Doce,MG
Fonte: http://www.fishbase.com
Acesso: 29/09/2014
Fonte: http;// www.piranhas-fr.net
Acesso: 29/09/2014
Pygocentrus nattereri (piranha-vermelha)
Cichla cf. ocelaris (tucunaré)
Estudos de casos
Impactos da introdução de peixes no distrito de lagos do médio rio Doce,MG
Fonte: Brazilian Journal of Biology- Novembro, 2008
Volume 68- número 4, pág.1034
Legislação Ambiental
IBAMA
Portaria n˚145/98, de 29 de Outubro de 1998
“Art. 1º - Estabelecer normas para a introdução, reintrodução e transferência de
peixes, crustáceos, moluscos, e macrófitas aquáticas para fins de aqüicultura,
excluindo-se as espécies animais ornamentais.”
“Art. 3º - Fica proibida a introdução de espécies de peixes de água doce, bem
como de macrófitas de água doce.”
Legislação Ambiental
IBAMA
Portaria n˚145/98, de 29 Outubro de 1998
“Art. 4º - Para introdução de espécies aquáticas dos grupos dos crustáceos,
moluscos, macroalgas e peixes marinhos, o interessado encaminhará ao IBAMA o
pedido de Introdução e Cultivo Experimental com as seguintes informações:
a. identificação do requerente com o respectivo número do Registro de
Aqüicultor junto ao IBAMA e cópia do documento comprovante de pagamento da
respectiva taxa, salvo nos casos de introduções realizadas por universidades e
centros de pesquisa;
b. espécie a ser introduzida (nome científico e vulgar), sua classificação
taxonômica e local de origem do lote a ser importado;
c. principais características biológicas, ecológicas e zootécnicas ou
agronômicas;
d. número de indivíduos a serem importados e estágio evolutivo (ovo, póslarva, etc), bem como indicação da infra estrutura disponível para cultivo;
Legislação Ambiental
IBAMA
Portaria n˚145/98, de 29 Outubro de 1998
Continuação...
e. distribuição mundial e importância econômica da espécie;
f. mercado potencial interno e para exportação;
g. indicação da entidade responsável pelo recebimento dos exemplares,
quarentena e pesquisas visando a liberação da espécie para cultivo comercial;
h. local e metodologia para o cultivo experimental, cuja duração deverá
permitir aos indivíduos atingirem o tamanho normalmente aceito para abate ou
colheita.”
Parágrafo Único – Os períodos e procedimentos de quarentena obedecerão as
normas emitidas pelo MAA – Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
Conclusão
Na prática, a invisibilidade das espécies de peixes introduzidas só será
anulada quando as consequências da introdução começarem a alterar a vida das
pessoas ou a causar prejuízos econômicos e socioambientais.
Entre os grandes problemas para o combate às introduções de peixes de água
doce no país estão a falta de fiscalização,o cumprimento ou a adequação da
legislação brasileira e de dados precisos, além de pacotes tecnológicos para a
produção de espécies nativas.
Referências Bibliográficas
- SANTOS, G.B.; FORMAGIO, P.S. Estrutura da ictiofauna das represas do rio
Grande, com ênfase no estabelecimento de peixes piscívoros exóticos. Informe
Agropecuário, v.21, n.203, p.98-106, 2000. Acesso: 20/09/2014
- CASAL, C.M.V. 2006. Global documentation of fish introductions: The growing
crisis and recommendations for action. Biological Invasions,8:3-11.
Acesso: 20/09/2014
- VITULE, Jean Ricardo Simões. Introdução de peixes em ecossistemas
continentais brasileiros: revisão,comentários e sugestões de ações contra o inimigo
invisível. Neotropical Biology anda conservation,São Leopoldo ,4(2) p.111-122.
Acesso: 20/09/2014
- COSTA, Juliana Mara; MANSKE, Cleiton; SIGNOR, Arcângelo Augusto;
LUCHESI, Júnior Dasoler; FEIDEN, Aldi; BOSCOLO, Wilson Rogério.
Incrustação de mexilhão dourado(Limnoperna fortunei) em tanques-rede.
Cultivando o saber. Cascavel,v.5.n.2,p.37-46,2012. Acesso: 24/09/2014
Referências Bibliográficas
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RESK,R.; SANTOS, A.M.; BARBOSA, P.M.Maia; MELLO, N.A.S.T.;
MARQUES, M.M.; CAMPOS, M.O.; BARBOSA, F.A.R. The inverted trophic
cascade in tropical plankton communities: Impacts of exotic fish in the Middle Rio
Doce lake district, Minas Gerais, Brazil. Brazilian Journal of Biology. Biodiversity
in the Neotropics, v.68, n.4, p.125-137, november 2008. Acesso: 29/09/2014
-IUCN. 2006. The World Conservation Union –IUCN.
Disponível em: www.iucn.org.; Acesso:20/09/2014
- http://www.projetopacu.com.br. Acesso 27/09/2014
- http://www.grupoaguasclaras.com.br/. Acesso: 27/09/2014
- http://www.serra.es.gov.br/.Acesso: 20/09/2014
Referências Bibliográficas
- http://www.cpt.com.br. Acesso: 20/09/2014
- http://www.pesquepaguegiaretta.com.br. Acesso: 29/09/2014
- http://www.cemig.com.br. Acesso: 28/09/2014
- http://www.vex.com.br. Acesso: 28/09/2014
-http://www.fishbase.org. Acesso: 28/09/2014
-http:// www.piranhas-fr.net. Acesso: 29/09/2014
-http://www.fishbase.org. Acesso: 29/09/2014
- http://www.al.to.gov.br/arquivo/24137. Acesso:29/09/2014
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Joyce Patrícia de Oliveira Limnologia aplicada à Aquacultura