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REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE PROFISSIONAIS DA ÁREA DA SAÚDE SOBRE
GRUPOS DE CONVIVÊNCIA DE IDOSOS
Denise de Sousa Soares1
Joana de Sousa Braga2
Shyrlleen Christieny Assunção Alves3
RESUMO:
Este estudo teve como objetivo analisar a representação social que profissionais da
área da saúde têm em relação aos grupos de convivência de idosos. Para tal, foram
realizadas entrevistas semi-estruturadas com sete profissionais da área da saúde,
que atuam ou atuaram com grupos de convivência de idosos. Os dados coletados
foram analisados e discutidos a partir da análise de conteúdo. Segundo os
profissionais entrevistados, a participação dos idosos em grupos de convivência é de
grande importância, ao possibilitar o compartilhar de suas vivências, medos e
desejos; desenvolver e ampliar os relacionamentos interpessoais; e resgatar sua
história de vida. Ressalta-se a importância de um trabalho multidisciplinar para se
alcançar o bem estar do idoso, sendo necessário a formação e preparação dos
profissionais da área da saúde.
Palavras-chave: Representação Social. Terceira idade, Grupo de Convivência de
Idosos.
ABSTRACT:
The objective of the study here presented is to analyse the social representations
that health care providers have with regards to elder care centres. Therefore, seven
Graduando do curso de Psicologia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste.
Graduando do curso de Psicologia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste.
3
Psicóloga, Mestre em Psicologia Social pela UFMG, Doutoranda em Psicologia Social e do Trabalho na
1
2
Universidade de São Paulo – USP, Professora do curso de Psicologia do Unileste.
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health professionals of different, who work or have worked with elder care centres,
have been interviewed. The collected data was analysed and discussed based on
the Contents Analysis disseminated by Laurence Bardin. To the professionals
interviewed, the participation of the elderly in elder care centres is of great relevance
as they have the possibility of sharing their experiences, fears and desires apart from
meeting and dealing with people from out of their family circle and recovering their
own life history.The importance of people from different background working together
is highlighted in order to achieve senior citizens’ welfare. It’s necessary to train and
prepare professionals in the health field.
Keywords: Social Representations. Old Age. Elder Care Centres.
Introdução
Paschoal citado em Soares et all (2009), diz que a Organização das Nações Unidas
(ONU) adota, para países desenvolvidos, a idade de 65 anos como ponto de
transição para que se possa considerar um indivíduo como idoso. Já para aqueles
países que se encontram em desenvolvimento, este ponto de transição encontra-se
nos 60 anos. Também segundo Paschoal (2002) a Assembléia Mundial sobre
envelhecimento, datada de 1982, determinou que a população idosa fosse
constituída pelo grupo de pessoas a partir de 60 anos de idade.
A OMS – Organização Mundial de Saúde – então, considera como idosa toda
pessoa que apresenta idade igual ou maior que 60 anos em países em
desenvolvimento; e que possui idade igual ou maior que 65 anos em países
desenvolvidos (MAZO, LOPES; BENEDETTI, 2001).
Esta população, anteriormente com número bastante reduzido, ao observar o
cenário mundial como um todo, tornou-se hoje bastante significativa. Segundo Vitola
(2004) este aumento exige uma maior atenção, ao considerar que possuem direito
de assumir um lugar na sociedade, principalmente sendo tratados com devido
respeito.
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Concomitante ao crescimento da população idosa encontra-se o aumento do
interesse de profissionais da área da saúde voltado para esta fase do
desenvolvimento humano. Uma das metodologias utilizadas na atuação destes
profissionais, que vem aumentando significantemente, é o trabalho voltado a grupos
de convivência de idosos, nos quais seus integrantes, espontaneamente, realizam
diversas atividades e se relacionam com outros que, muitas vezes, compartilham
suas vivências e experiências de vida.
De acordo com Zimerman e Osório (1997) os grupos direcionados à terceira idade
possibilitam uma vasta gama de técnicas e táticas operativas. Mesmo assim, em
todas elas estão presentes elementos em comum, que servem como fatores
terapêuticos, dentre os quais alguns se destacam: abertura de um novo espaço para
que as emoções possam emergir; constituição do grupo como meio de comunicação
entre o idoso e seus familiares; e resgate, a partir do grupo, da ressocialização, já
que o idoso se sente reconhecido e compreendido, formando até mesmo
verdadeiras e sólidas amizades entre alguns deles.
Devido ao tema da terceira idade e seu relevante aumento estarem em foco na
atualidade, vários estudos a respeito são realizados. Assim, este artigo tem como
objetivo analisar a representação social que profissionais da área da saúde têm em
relação aos grupos de convivência de idosos e verificar junto aos mesmos, qual sua
percepção sobre tais grupos, além de seu papel frente ao trabalho com idosos.
A história das representações sociais insere-se na inter-relação entre atores sociais,
o fenômeno e o contexto que os rodeia. Dessa forma, as representações sociais são
constituídas por processos sociocognitivos nas interações sociais, o que significa
dizer que elas têm implicações na vida cotidiana e que a comunicação e os
comportamentos adotados por um grupo de indivíduos acerca de um objeto são
resultantes do modo como os atores sociais representam socialmente esse objeto e
do significado que este adquire em suas vidas.
Segundo Coutinho (2001), todos os fenômenos que emergem do contexto social são
investidos simbolicamente, ou seja, recebem nomes e significados que os avaliam,
explicam e lhes dão sentido. Assim, a representação social da velhice, que faz parte
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do cotidiano social, recebe significados desde o mais longínquos tempos, fazendo
parte dos aspectos socioculturais e históricos dos idosos de grupos de convivência.
Esses significados, à medida que circulam, transformam-se e assumem formas
diferentes de acordo com os modelos vigentes em uma determinada época e
formação social.
2 – Velhice e envelhecimento
Nas
últimas
décadas
observou-se
um
nítido
aumento
no
processo
de
envelhecimento demográfico. O envelhecimento da população é tido como um
fenômeno mundial iniciado, a priori, nos países desenvolvidos devido à queda da
mortalidade, a grandes avanços no conhecimento científico, melhores condições de
urbanização nas cidades, melhoria nutricional, promoção de maiores níveis de
higiene, tanto pessoal quanto ambiental, e, finalmente, como resultado dos avanços
tecnológicos.
Envelhecer constitui-se um processo visto como natural e característico de uma
etapa da vida humana. Este se dá tanto por mudanças físicas quanto psicológicas;
além de mudanças sociais que possuem a mesma importância.
Para Fratczak (1993, citado em Paschoal, 2002) envelhecimento é definido como um
estágio da vida humana que é determinado de diferentes maneiras, sendo relativo
ao campo de pesquisa e ao objeto de interesse. Segundo ele, os biologistas
conceituam este processo como “um conjunto de alterações experimentadas por um
organismo vivo, do nascimento à morte”. Já sociólogos e psicólogos atentam para o
fato de que, além de haver alterações no âmbito biológico, observam-se também
mudanças nos processos de desenvolvimento social e psicológico.
Segundo Serro Azul (1981) o envelhecimento humano ocorre devido às alterações
inerentes ao organismo, estruturais e funcionais, progressivas e irreversíveis. Este
pode ser definido como um processo dinâmico e progressivo, no qual há
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modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas; todas em
decorrência da ação do tempo.
Em contraponto, Zimerman e Osório (1997) consideram que outros critérios, além do
tempo cronológico, devem ser adotados para se definir o que se considera como
idoso. Estes critérios devem levar em conta as condições físicas, mentais, sociais e
existenciais, assim como a capacidade e a vitalidade para o trabalho útil, lazer, sexo,
dentre outros.
Ao vislumbrar toda essa variedade de conceitos e definições, se faz importante
ressaltar que não há uma definição aceita por todas as áreas do saber, ou possível
de ser utilizada em toda e qualquer situação, local ou período histórico. Cada uma
delas adota a definição que melhor lhe convier e que mais se adequar às
necessidades e campo de atuação.
No presente trabalho será considerado então como idoso todo aquele indivíduo com
idade igual ou superior a 60 anos. A velhice aqui será entendida como uma etapa da
vida humana em que ocorrem mudanças físicas, psicológicas e sociais. Nesta etapa
muitas vezes se fazem presentes prejuízos nas funções físicas, funcionais, mentais
e
de
saúde;
não estando diretamente
ligada
à
idade cronológica.
Por
envelhecimento entender-se-á um processo gradativo pelo qual todos os seres
humanos passarão e no qual se apresentam involuções de diferentes níveis, sendo
que algumas funções poderão sofrer maiores prejuízos que outras.
3 - Grupos de convivência
A vida cotidiana encontra-se organizada em grupos (família, grupos de amigos,
religiosos, no trabalho, dentre outros). Nestes é possibilitado aos sujeitos se
reconhecerem como participantes da sociedade, na qual se encontram inseridos
numa rede de relações sociais a partir das quais podem construir suas vidas.
De acordo com Zimerman e Osório (1997) o ser humano necessita se agregar a
outros seres humanos naturalmente, ou seja, é uma necessidade intrínseca ao
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homem. Este somente existe, ou subsiste, a partir de seus inter-relacionamentos em
grupo. Tal fato se remete à busca pela identidade individual, juntamente com a
formação de uma identidade grupal e social.
O primeiro grupo natural evidenciado em todas as culturas existentes se detém à
família nuclear. O bebê inicialmente convive com os pais, tios, avós, irmãos e,
somente posteriormente passa a conviver em outros ambientes como creches,
escolas, etc. Nesse processo o indivíduo estabelece vínculos que serão renovados a
cada momento constituindo assim sua existência.
Afonso (2006) afirma que o grupo consiste em um conjunto de pessoas, unidas entre
si, a partir de objetivos e/ou ideais comuns; e que são capazes de se reconhecerem
interligadas entre si pelos membros do grupo. Porém, para se enquadrar nessa
definição, o grupo deve se relacionar “face a face”, ou seja, todos os membros
devem conhecer-se mutuamente e se reconhecerem como unidos ao grupo.
Segundo Osório (2003), apesar de estar em grupo, estes indivíduos podem se
reconhecer em sua singularidade, em outras palavras, continuam tendo sua
individualidade.
Ao analisar a formação de grupos a partir de uma ótica mais ampla, pode-se afirmar
que a essência dos fenômenos grupais consiste em si mesma, independente do tipo
de grupo. O ponto que vem distingui-los entre si encontra-se relacionado à finalidade
para a qual estes grupos foram criados. Os indivíduos, para poder fazer parte de um
determinado grupo, se adequam então à finalidade do mesmo. Um exemplo disso
seria a formação de um grupo para idosos depressivos. Neste caso, estariam
presentes pessoas acima de certa faixa etária que apresentam o diagnóstico de
depressão.
Segundo Zimerman e Osório (1997), um atendimento voltado às pessoas que
vivenciam a terceira idade adquire grande importância no sentido que possibilita a
reconstrução da identidade, que, no processo de envelhecer, pode encontrar-se
confusa ou até mesmo perdida. A partir disso, proporciona que vínculos familiares
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sejam resgatados, além de reencontrar capacidades existentes, mas que se
encontravam aposentadas.
A dinâmica grupal abrange um grande leque de possibilidades, porém, no presente
estudo o foco foi voltado para grupos direcionados à terceira idade. Bulsing et all
(2007) entende que os grupos de convivência da terceira idade possibilitam aos
componentes uma troca e interação com pessoas de geração similar. Sendo assim,
o ingresso em tais grupos é considerado como um marco em suas vidas, já que vem
substituir o período de solidão e abandono por um outro de novas amizades, festas,
encontros e passeios.
Os grupos de convivência têm como objetivo manter o idoso ativo em seu grupo
social; possibilitar o exercício de sua cidadania ao lutar por melhores condições de
vida; permite a troca de experiências entre os membros que compartilham, em sua
maioria, os mesmos anseios e medos; permite a integração entre vários grupos
similares presentes numa mesma região e criados com o mesmo intuito;
principalmente contribui para evitar o isolamento e exclusão, tão presentes durante
esta fase da vida.
Assim,
o
indivíduo
idoso
no
grupo
de
convivência
estará
trabalhando,
compartilhando, aprendendo e se divertindo com as atividades propostas neste
ambiente, além de ter a oportunidade de criar novos vínculos com os demais
participantes do grupo.
4 – Representações sociais da velhice
De acordo com Moscovici (1994, citado em Oliveira e Werba, 1998), o conceito de
representação social tem suas raízes na Sociologia e na Antropologia, através dos
estudos de Durkheim e Lévi-Bruhl. A teoria da linguagem de Saussure, a teoria das
representações infantis de Piaget e a teoria do desenvolvimento cultural de Vygotsky
também contribuiram na construção da teoria das representações sociais.
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Durkheim, através da ótica sociológica, foi o primeiro a se utilizar do conceito de
representações ao considerar que para se poder estudar representações,
primeiramente se faz necessário reconhecer a existência de uma oposição entre o
individual e o coletivo. Isso se deve ao fato de o autor considerar como essência da
representação individual, a consciência própria de cada um, sendo, portanto,
“subjetiva, flutuante e perigosa à ordem social”. Por outro lado, a representação
coletiva estava fundamentada na sociedade como um todo, sendo então impessoal
e permanente, ao permitir uma ligação entre os indivíduos, o que garante uma
sociedade harmônica (COSTA & ALMEIDA, 1999).
Apesar de vários outros teóricos terem abordado em seus estudos o conceito de
representações, foi Serge Moscovici, na década de 1960, quem o fez voltar à tona,
com o intuito de renovar e reafirmar a especificidade da Psicologia Social. Isto se
deu a partir de estudos feitos pelo autor, no intuito de explicar como se dá a
mediação entre o individual e o social, negando, portanto, as explicações
fundamentalmente sociais como em Durkheim, ou cognitivistas como em Piaget
(COSTA & ALMEIDA,1999).
Moscovici realiza este estudo a fim de compreender como a psicanálise adquire
nova significação pelos grupos populares, ao sair dos grupos fechados (OLIVEIRA &
WERBA, 1998).
Moscovici situa o conceito de Representações sociais da seguinte forma:
por Representações sociais entendemos um conjunto de conceitos,
proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de
comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade,
aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem
também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum
(Moscovici, 1981, citado em OLIVEIRA E WERBA, 1998, p. 106).
Segundo Costa e Almeida (1999) a representação social é expressa como uma
forma de conhecimento socialmente elaborada e compartilhada, com um alcance
prático que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto
social. Nesta, o sujeito da pesquisa dá sentido a um objeto partindo da sua própria
realidade e/ou experiência.
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Segundo Beauvoir (1990, citado em Lopes e Park, 2007) as representações sociais
do idoso e da velhice, que estão refletidas na forma como estes são tratados, são
resultantes das circunstâncias materiais de cada sociedade e de seu sistema de
valores e crenças, passando por mudanças em diferentes sociedades e/ou no
decorrer dos anos numa mesma sociedade.
Ao analisar a realidade brasileira, Lopes e Park (2007) trazem que durante o século
XIX o velho era considerado como o detentor da sabedoria. Já no século XX, há
uma coação para que a velhice seja negada e passa-se a valorizar aqueles capazes
de disfarçá-la, dando à mesma um aspecto jovial, isto tanto física quanto
psicologicamente.
Nos dias atuais, a imagem da velhice relacionada a inúmeras perdas é substituída
por uma velhice em que se encontra espaço para o prazer, conquistas e realizações,
podendo nesta etapa fazer o que se havia deixado de lado em outros períodos da
vida. Os velhos vão em busca de uma relativa juventude, permanecendo ativos e
dispostos a atuar ativamente na vida social.
Oliveira e Werba (1998) acreditam que Jodelet (1989) é quem apresenta o melhor e
mais detalhado conceito do termo. Esta entende representações sociais como uma
forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática
e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Por
se achar mais pertinente, é esta a definição adotada no presente trabalho.
5 - Metodologia
O presente estudo consistiu numa pesquisa descritiva. Dentro desta, optou-se pela
forma de estudo exploratório, num trabalho de pesquisa de campo, o qual visou
familiarizar-se com o problema ou adquirir uma nova ótica do mesmo e possibilitar o
surgimento de novas idéias. (CERVO & BERVIAN, 1983). Utilizou-se de entrevista
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semi-estruturada. A análise dos dados coletados, foi realizada através da análise de
conteúdo proposta por Bardin (1979, citado em Minayo 2004).
Os sujeitos que compuseram a amostra foram escolhidos de forma aleatória, via
indicação (informação fornecida por profissionais que conheciam outros que
atuavam junto aos grupos de convivência de idosos), sendo sete profissionais, um
de
cada
área
da
saúde
(Educação
Física,
Enfermagem,
Fisioterapia,
Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição e Psicologia), que são graduados em um dos
cursos da área, ativos no mercado de trabalho, que atuam ou já atuaram com
grupos de convivência de idosos e que residem na região metropolitana do Vale do
Aço-MG.
Realizou-se um contato prévio com os profissionais participantes via telefone, e-mail
e, quando possível, pessoalmente; para o agendamento de um horário disponível
para a realização das entrevistas. Estas foram realizadas no local de melhor
conveniência aos entrevistados, sendo em uma sala reservada, possibilitando o
sigilo, na qual se teve alguns recursos materiais como: cadeiras, mesa, gravador,
papel e lápis para eventuais anotações.
O Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais
(CEP/UNILESTEMG), analisou e aprovou o projeto do presente trabalho, protocolo
de pesquisa nº. 23.137.08.
6 - Resultados e Discussão
Desde os primórdios da civilização, o ser humano se organiza em grupos, fato que
se apresenta como algo essencial ao mesmo, visto que, se agregar a outros seres
humanos é algo inerente ao homem. Em todas as áreas da vida coletiva, os grupos
se fazem presentes, permitindo ao sujeito se reconhecer como participante do meio
em que está inserido. Esta organização é indispensável à vida em sociedade, já que,
em todos os âmbitos e faixas etárias os grupos são encontrados.
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Osório (2003) traz a idéia de que um grupo se constitui a partir de um objetivo
compartilhado; e é neste que ocorrem interações de indivíduos que buscam alcançar
um objetivo comum.
“São grupos formados por pessoas idosas, maiores de 60 anos, que os
procuram com o mesmo objetivo de encontrar pessoas com as mesmas
“necessidades”, para viver, conviver e dividir necessidades” (S.3).
Um grupo apenas se constitui como tal, a partir do momento em que, as pessoas
dele participantes, se reconhecem como integrantes do mesmo e compartilham
entre si objetivos comuns, que são responsáveis por unir os integrantes, visto que,
ao buscá-los em conjunto, os membros se aproximam e unem suas forças em prol
de um bem comum.
Na visão dos profissionais da saúde entrevistados, o grupo de convivência que tem
como público alvo a terceira idade, traz consigo grandes possibilidades de
convivência que, por sua vez, permitem aos participantes compartilharem entre si
medos, anseios, valores e vivências presentes em sua existência.
Nos grupos de convivência os participantes encontram espaço para se redescobrir,
trocar experiências, vivenciar novas situações, sonhar em conjunto e ajudarem-se
mutuamente, já que lhes é permitido compartilhar todos os aspectos presentes na
terceira idade (FERRARI, 2002).
“[...] ajuda a dar uma força ao outro juntamente nesse encontro [...] uma
ajuda mesmo ao idoso... a enfrentar a terceira idade [...]”. (S.1)
“[...] possibilitam trocas de todos os tipos: de sentimentos, de sensações, de
experiências. Diminuir os sentimentos de solidão [...] fazê-los perceber que
sentimentos que são sentidos por eles em relação à velhice, são comuns
aos outros também.” (S.3)
“[...] troca de experiência e convívio [...]” (S.7)
O compartilhamento das vivências proporciona então um resgate, por parte do
sujeito, daquilo que provavelmente se perdeu com o tempo (FERRARI, 2002). Com
o passar dos anos, vários detalhes da história de vida do próprio sujeito se perdem
e, muitas vezes ficam esquecidas apenas em vagas lembranças. Para os
profissionais da saúde entrevistados, ao ouvir e falar de suas vivências, os
integrantes do grupo têm a oportunidade de reorganizar e resgatar sua própria
história.
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“[...] procurando resgatar valores que são importantes na vida deles [...]”.
(S.6)
Além de possibilitar aos idosos participantes o resgate de sua história de vida, o
grupo de convivência, segundo os profissionais da área da saúde, permite que os
mesmos sejam introduzidos em um novo círculo de amizades.
De acordo com Ferrari (2002), nos grupos de convivência voltados à terceira idade,
as pessoas que o integram têm a possibilidade de conhecer e se relacionar com
novas e diferentes pessoas.
“[...] têm objetivo de tirar o idoso de casa [...] saindo de casa pra poder...
conviver com pessoas diferentes da família”. (S.2)
“[...] motivar a convivência com outras pessoas [..].” (S.6)
Pode-se observar, ao longo das entrevistas, que a possibilidade de conviver com
outras pessoas fora da esfera familiar, estando num grupo de iguais, é considerado
como um ponto positivo:
“[...] é muito bom para eles, porque eles saem de casa [...]” (S.2)
“[...] essa oportunidade de estar com/em um grupo [...]” (S.6)
Entretanto, um ponto negativo apresentado pelos entrevistados da pesquisa, em
relação a este aspecto, é a dificuldade do idoso se deslocar de sua residência até o
local dos encontros do grupo, o que interfere na frequência às reuniões e até mesmo
na adesão do idoso a esse grupo.
“[...] muitas vezes ele não tem deslocamento, ele não tem como chegar lá
[...]” (S.1)
“[...] dificuldade de adesão do idoso [...]” (S.7)
Em geral, ao adentrar na terceira idade, o indivíduo se depara com várias alterações
em sua vida, permeando tanto a área biológica, quanto psicológica e,
consequentemente, social. Em muitos dos casos, a rotina do idoso fica concentrada
no núcleo familiar, o que faz com que ele não participe tão ativamente da vida em
sociedade quanto antes, o que acaba por provocar um isolamento social. Já ao fazer
parte de um grupo de convivência, o idoso encontra a possibilidade de se relacionar
com outros que vivenciam o mesmo período. Com isso, no grupo ele encontra
suporte e acolhimento, pois neste, ao compartilhar suas experiências, lhe é
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permitido se identificar com as dos demais e, consequentemente enxergar sua vida
a partir de outras perspectivas.
Comumente, os profissionais da área da saúde vêem no grupo de convivência de
idosos um importante suporte para que os participantes tenham o devido apoio que
o auxilie a lidar e vivenciar seu processo de envelhecimento.
De acordo com Veras e Caldas (2004), as pessoas têm capacidade de
permanecerem ativas e independentes por tanto tempo quanto for possível se
receberem um devido apoio. É necessário um serviço que apóie os idosos em
virtude das conseqüências do processo de envelhecimento, que acaba por torná-los
vulneráveis e incapazes.
Nas entrevistas realizadas com os profissionais da área da saúde, percebe-se que
os idosos têm necessidade de um apoio.
“[...] muitos ficam isolados, sozinhos, não conhecem outra pessoa da
mesma idade pra tá trocando informações sobre questões de família, saúde
[...]” (S.1)
“[...] ele normalmente se sente isolado pelos familiares, às vezes eles não
têm muitas amizades, não sabe comportar ali naquela idade [...]” (S.2)
Para Motta (citado em Bulsing et all, 2007), os grupos de terceira idade são
possibilidades de troca e interação com pessoas da mesma geração, sendo o
ingresso nesses grupos um marco em suas vidas, porque substituem o período de
solidão e abandono, para o de novas amizades, festas, encontros e passeios.
“[...] quando o idoso começa a participar daquele grupo, aí a pessoa se
transforma, a pessoa se abre, eh... passa a falar mais, a se abrir mais,
contar os problemas, contar sobre a vida deles e começa a fazer amizade
ali um com o outro [...]” (S.2)
“[...] eles têm ânsia, sabe, de aprender, de fazer alguma coisa, e de não
desperdiçar o tempo... eles chegam aqui realmente muito dispostos [...]”
(S.5)
Ao fazer parte do grupo de convivência o idoso inicia um movimento de mudança em
vários aspectos de sua vida. Este, com a convivência no grupo, deixa de estar
isolado, pois passa a participar das atividades de seu interesse propostas no grupo,
se relacionando com os demais participantes.
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Para os profissionais entrevistados, as atividades propostas para o grupo devem ser
planejadas e desenvolvidas de acordo com demanda apresentada pelos integrantes.
Para isso, a atuação no grupo não pode se restringir a apenas um aspecto ou ser
pré-moldada e trazida pronta para o grupo. Pelo contrário, a atuação deve ser
pensada juntamente com o grupo, ouvindo destes os desejos e interesses.
Segundo Marques e Carlos (2006), o trabalho com o idoso deve ser repensado para
que se tenha uma atenção real quanto às potencialidades e necessidades do idoso.
Levando em consideração também os aspectos psicológicos e sociais do sujeito. É
necessário que se crie novos espaços, para além da atividade física, possibilitando
ao idoso viver melhor o envelhecimento.
“Então eu vejo que o que não falta é mercado de trabalho, porque a
demanda é muito grande. Agora depende dos profissionais também serem
criativos e falar 'Opa, eu posso ajudar dessa maneira'.” (S.6)
“[...] vai desde do aspecto psicológico, né, do físico [...] .a questão da
família, de trabalhar a relação do idoso com a família, social, né, essa
convivência social e outros [...]” (S.1)
A atuação dos profissionais da área da saúde no trabalho com grupos de
convivência voltados aos idosos é contemplada por uma vasta gama de
possibilidades, cabendo a estes profissionais se prepararem para serem capazes de
aproveitar as oportunidades que surgem. Além disso, cabe a estes serem
cautelosos, observadores para que possam perceber demandas e criatividade para
desenvolver trabalhos de qualidade para supri-las. Embora isto seja algo
imprescindível, nem todos os profissionais que voltam sua atuação para esta área,
se propõem a se capacitar devidamente, para que seu trabalho seja de qualidade.
Segundo Montanholi et all (2006), alguns profissionais da área de saúde não
diferenciam o idoso dos demais adultos, eles apresentam uma visão igualitária das
necessidades desses indivíduos. Isso pode prejudica a atuação do profissional, pois
na maioria dos casos os conhecimentos específicos relacionados à gerontologia não
são utilizados, não dando assim uma assistência devida ao sujeito.
“Acho que hoje a atuação da área da saúde no idoso ainda é fragmentada;
tendo em vista as necessidades do idoso. [...] Então repetição de ação é
comum, mesmo... profissionais diferentes fazem a mesma coisa [...]” (S.4)
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Tavares et all (2004), nos traz a idéia de que o trabalho do profissional da saúde não
pode ser tratado de forma fragmentada, correndo risco de não ser compreendido,
pois a vida em si é complexa e para que esses profissionais possam cuidar melhor
dos indivíduos, é necessário ver tudo que o envolve.
O que se percebeu com as entrevistas realizadas é que há um entendimento por
parte destes profissionais frente ao trabalho de outros profissionais com os idosos.
Eles reconhecem o valor e a importância da atuação de outras áreas, o que só gera
ganhos para os idosos participantes dos grupos, visto que assim não serão tratados
por uma ótica isolada, mas como um todo observado por várias visões diferentes
que se completam.
“Outros profissionais, por exemplo, tem uma enfermeira que ela trabalha a
questão da motricidade [...] Outros, tem psicólogos que trabalham a
questão... do, da convivência, né, em grupo, a convivência familiar, eles
tentam mostrar o que é a vida hoje [...] Tem outros profissionais...da terapia
ocupacional. Eles trabalham também com [...] atividades manuais e também
teatro, parte teatral... onde eles têm a oportunidade de se expressar de uma
maneira mais divertida, dentro da parte teatral.” (S.5)
Shinkai e Cury (2000), falam que é fundamental uma atuação interdisciplinar no
trabalho com idosos, pois estas áreas irão analisar e integrar conhecimentos
específicos de cada uma delas para promover e manter a saúde do idoso.
Na visão dos profissionais da saúde entrevistados, o trabalho interdisciplinar é visto
como uma necessidade, pois somente a partir dele é que se podem atender as reais
demandas do idoso que participa dos grupos de convivência.
“[...] eu acho que são muitas possibilidade de atuação né, eu acho que são
muitos outros profissionais que poderiam tá atuando nos grupos né, seria
um trabalho excelente, um trabalho assim, multidisciplinar [...] acho que
ainda tem pouco, pouca interação das equipes, dos profissionais. Então, as
ações são muito pontais.” (S.4)
“[...] eu acho que são muitas possibilidade de atuação né, eu acho que são
muitos outros profissionais que poderiam tá atuando nos grupos né, seria
um trabalho excelente, um trabalho assim, multidisciplinar[...]” (S.2)
Apesar de cada uma das áreas do conhecimento apresentar uma visão sobre o
idoso, a gerontologia é considerada intrinsecamente interdisciplinar, pois o
envelhecer passa por vários aspectos da vida. Uma atuação interdisciplinar irá
capacitar
tais
profissionais
para
realizarem
seus
trabalhos
perante
as
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imprevisibilidades e diversidades de situações que podem ocorrer ao longo do
processo do envelhecimento. Desta forma, a competência dos profissionais da área
de saúde se deve à atuação conjunta de todas as áreas do conhecimento (medicina,
enfermagem, psicologia, nutrição, etc.), buscando alcançar um único objetivo: o bem
estar do idoso participante.
Considerações Finais
Os dados obtidos nesta pesquisa revelaram a importância que os grupos de
convivência têm para os profissionais da área da saúde, caracterizando-se como
espaços onde o indivíduo idoso pode utilizar suas potencialidades, efetivar laços de
amizade e momentos de lazer, contribuindo assim para o idoso sair do isolamento
social, uma vez que, em geral, o ambiente familiar não o favorece em todos estes
aspectos.
Constatou-se que os profissionais da saúde valorizam e recomendam a participação
do idoso em grupos de convivência, pois esta se torna favorável ao sujeito,
permitindo-lhe viver riquíssimas trocas e resgatar pontos de sua história de vida.
Acredita-se que a partir do encontro entre os integrantes do grupo ao apresentarem
suas histórias de vida e se ouvirem mutuamente possibilita o repensar e refletir
sobre si e suas vivências. Além disso, os grupos de convivência oferecem ao idoso
meios para sair do isolamento social, já que nestes o idoso tem a oportunidade de
conhecer e se relacionar com novas pessoas.
Em relação à atuação dos profissionais da área da saúde junto aos grupos de
convivência,
constatou-se
que
esta
se
torna
mais
rica
quando
feita
multidisciplinarmente. Os vários olhares, um de cada campo do conhecimento que
compõe a área da saúde, quando se unem em prol de um ideal comum, se
completam e permitem que o sujeito tenha suas necessidades atendidas de forma
plena.
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A partir de uma visão holística, que aqui é composta de todos os olhares
específicos, o bem estar do idoso é alcançado. Mas, para que esta atuação alcance
de fato seu objetivo, se faz necessário que os profissionais busquem se capacitar
devidamente, o que garante uma atuação mais satisfatória. Para que o trabalho
interdisciplinar alcance êxito, os profissionais devem estar cientes de suas
possibilidades e com sua formação e competências bem assimiladas, decorrentes
de uma formação minuciosa e de qualidade.
Dessa forma, ressalta-se a presença de uma crescente necessidade de manutenção
dos grupos de convivência já existentes e da implantação de novos grupos, para que
se consiga atingir um número maior de idosos. Ao identificar que as estatísticas
demográficas apontam um progressivo e gradual aumento da população idosa, tanto
a nível nacional quanto internacional, a demanda de participantes desses grupos irá
aumentar, tendo em vista a propagação de representações positivas acerca dos
benefícios proporcionados nesse espaço de trocas sociais.
Acredita-se que o presente trabalho possui grande relevância científica ao
apresentar a possibilidade de contribuir com os de estudos a respeito do papel do
profissional da área da saúde que trabalha com idosos. Além de servir como ponto
de partida para futuros trabalhos. Além disso, contribuirá na formação de
profissionais da área e, consequentemente na forma de atuar dos mesmos,
acrescentando significativamente conteúdos em todos os cursos de graduação da
área da saúde, além de promover uma abertura pela busca da inclusão da disciplina
de gerontologia no currículo dos cursos de graduação da área da saúde.
Socialmente contribuirá para alargar a divulgação do tema e ampliar a oferta, não só
de postos de trabalho, mas melhorar as políticas públicas voltadas à terceira idade,
além de, como dito, aprimorar a atuação dos profissionais da área da saúde junto a
este público.
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