GERAL 6 JORNAL n Segunda-feira, 27 de junho de 2005 n DO POVO t HISTÓRIA Cachoeira é modelo na preservação da memória Governo vai criar laboratório para recuperar registros LUIS BACEDONI Cachoeira do Sul foi o quinto município criado no Rio Grande do Sul e completará, no próximo dia 5 de agosto, 185 anos de emancipação de Rio Pardo. Toda essa memória está muito bem preservada por meio de registros, que constantemente passam por um processo de restauração, que transformou a cidade em modelo na preservação de documentos históricos. Centros importantes como Santa Cruz do Sul e Santa Maria já pediram ajuda no sentido de desenvolver o mesmo knowhow para preservar suas memórias. Apesar de ser referência na restauração de documentos históricos, Cachoeira do Sul ainda não possui a infraestrutura adequada para evitar a deterioração dos documentos. O Governo Marlon, por meio do Arquivo Histórico Municipal, já planeja criar um laboratório de restauração, ambiente Importante Além de ganhar um setor adequado para restaurar os registros, o Arquivo Histórico Municipal se prepara para receber novos documentos, que serão transferidos do arquivo morto da Prefeitura, informou a responsável pela organização do acervo, professora Maria Goreti Cerentini. Parte dessa documentação encontra-se no velho prédio do Paço Municipal em péssimo estado de conservação. A direção do arquivo não tem idéia da importância histórica dos registros, mas são documentos da administração municipal, informou a diretora Rosinha Cunha. Arquivo também recupera registros O Arquivo Histórico Municipal, que completará 18 anos no próximo dia 5 de agosto, opera com 10 professores. Além de restaurar a memória, o órgão recupera documentos, alguns utilizados como fonte de pesquisa. É o que revela o mural do arquivo, onde encontram-se mensagens enviadas por pessoas que utilizaram o acervo do órgão para descobrir detalhes de suas próprias raízes. Foi o caso do morador de Canoas Cláudio Forgearini, que resgatou parte da história de sua família, originária de Cachoeira do Sul, com aju- da do Arquivo Histórico. Ao pesquisar nas coleções do Jornal do Povo, ele conseguiu até elucidar as circunstâncias da morte de um parente, narrada pelo jornal. Para o historiador de Porto Alegre René Gutz, o Arquivo Municipal teve importância capital no desafio de desvendar detalhes de Cachoeira do Sul na época da Segunda Guerra Mundial. Apesar de não ser um órgão de pesquisa, o arquivo, cuja função é preservar a documentação histórica, tem ajudado na recuperação da memória, destacou a professora e escritora Ione Sanmartin Carlos. FOTOS LUIS BACEDONI HISTÓRIA RECUPERADA: Ione Carlos e Mirian (acima) e Iara Valentin, Josiane Fardin e Carmen Carneiro (abaixo) dedicam tempo à preservação da nossa memória climatizado especialmente e dotado de equipamentos para retardar a ação do tempo e das traças nos documentos raros. A diretora do órgão, professora Rosinha Cunha, considera importante essa estrutura para um município que tem a fama de conseguir como nenhum outro tornar perene sua própria história. Por trás de todo esse cartaz, no entanto, se desenrola uma batalha silenciosa, que envolve paciência e criatividade, para evitar que peças importantes de nossa memória se acabem. É o caso do comprovante de venda de uma escrava, de 1807, primeiro documento avulso de que se tem notícia e que remonta à época em que Cachoeira do Sul não passava de um vilarejo pertencente ao município de Rio Pardo. O registro está bem preservado, assegurou a professora Iara Valentin, que atestou que a qualidade do papel e da impressão do século retrasado favorece a manutenção da memória. JAPONÊS - O processo de restauração de uma peça histórica é caro. Para se ter idéia, ele envolve até material importado, como o papel japonês, utilizado para revestir os documentos. Iara revelou que a primeira edição do Jornal do Povo, datada de 30 de junho de 1929, já foi xerocada, porque a original se transformou em registro histórico, que não pode ser manuseado. As primeiras atas das sessões da Câmara Municipal, que foi instalada por ocasião da emancipação, são os primeiros documentos encadernados pelo Arquivo Histórico, revelou Iara. Por não contar com um laboratório para restaurar documentos, nem sempre a equipe do arquivo pode entrar em ação. “Depende do clima”, explicou a professora Iara. Até mesmo o excesso de luminosidade pode comprometer um documento. A luz do aparelho de xerox representa um veneno para uma peça histórica, contou. O setor de restauração possui outras duas funcionárias. As professoras Josiane Knebel Fardin e Carmen Alves Carneiro também dedicam tempo e paciência na conservação da memória municipal. Elas acreditam que com o laboratório, a tarefa de preservar os documentos históricos se tornará bem mais fácil. MULTIMÍDIA Confira no site www.jornaldopovo.com.br um vídeo com o trabalho de restauração feito na primeira edição do Jornal do Povo, de 1929.