XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
ANÁLISE COMPARATIVA DE FUNGOS ASSOCIADOS A
FLORES DE BYRSONIMA SERICEAE NINHOS DE ABELHAS
SOLITÁRIAS DA TRIBO CENTRIDINI
Victor O. Pinto - Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC),Programa de Iniciação Cientifica da FTC.
Denise Nóbrega - Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional
em Bioenergia da FTC.
Maise Silva - Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em
Bioenergia da FTC.
Introdução
Dentre as mais de 16 mil espécies de abelhas descritas e conhecidas no mundo (Micherner 2000) existem cerca de
330 espécies que coletam lipídio floral e utilizam esse recurso para alimentar as larvas e revestir as células de cria
(ROIG-ALSINA & MICHENER,1993). Essas abelhas especializadas na coleta de óleo pertencem às tribos
Macropidini, Redivivini, Ctenoplectrini, Centridini, Tapinostapidini e Tetrapedini. As abelhas Centridini, com
cerca de 250 espécies, são as coletoras de óleo vegetal mais diversificada e restrita das Américas (SIMPSON &
NEFF, 1981), restritas às regiões tropicais. As fêmeas coletam óleo nas flores de plantas como Krameriaceae e
Malpighiaceae (p.ex. BUCHMANN, 1987). Mas este grupo é bem conhecido nos Neotrópicos pelas interações com
flores produtoras de óleo da família Malpighiaceae (p. ex. ALVES-DOS-SANTOS et al. 2007) e sua ação como
polinizadores de flores de pólen e néctar(GAGLIANONE et al,2010). Alguns estudos indicam que as fêmeas
fundadoras utilizam lipídio floral para revestir a parede interna das células de cria e no fechamento do ninho, esta
substância atua na impermeabilização,evita a entrada da água(ALVES-DOS-SANTOS et al. 2007) e deve atuar
como proteção contra microrganismos invasores. Existem poucos estudos da riqueza de fungos associados ao pólen
e em ninhos de abelhas solitárias (VILLALOBOS et al., 2010; GONZÁLEZ, 2005; SILVA & NÓBREGA, no
prelo). Este trabalho teve como objetivo analisar comparativamente a riqueza de fungosassociados a flores de
Byrsonima sericea DC (Malpighiaceae).e ninhos de abelhas solitárias da tribo Centridini. Como as flores desta
planta representam importante fonte de recurso (pólen e óleo) alimentar para as larvas dessas abelhas na Costa
Atlântica do Brasil (RAMALHO & SILVA, 2002), as fêmeas devem ter o corpo “contaminado” comesporos de
fungos presente nas flores de B. sericea, e de flores de outras plantas,durante acoleta de recurso, ou misturam os
esporos com pólen,na escopa,e levam para ointerior do ninho. Logo, é esperado que riqueza de fungos no ninho de
abelhas Centridini seja maior do que em flores de B. sericea.
Material e Métodos
As amostras de material para análise dos fungos foram obtidas em dezembro de 2014 e foram provenientes de
ninhos-armadilhas instalados na borda de fragmento de Mata Atlântica, nos limites do Campus da Faculdade de
Tecnologia e Ciências, Salvador-Bahia (12°56’10.2’’S 38°23’32.9’’W) em dezembro de 2013 e estão sendo
mantidos até o presente. Os ninhos foram acompanhados quinzenalmente para observação de ocupação das
cavidades. Cada ninho-armadilha ocupado por abelha Centridini foi retirado e acondicionado em tubo de ensaio
estéril, devidamente etiquetado, e levado ao laboratório para cultivo e análise. As amostras de flores de B. sericea
foram coletadas durante o período de floração da planta e nidificação das abelhas, em dezembro de 2014, em três
áreas (A): A1 - Parque Metropolitano de Pituaçu (12º25'27.50"S 38°25'14.08"W); A2: Av. Orlando Gomes (S12°
56.1’62” W38° 23.1’15”) e A3: Av. Luiz Viana - Paralela(12°56'12"S 38°23'42"W). Estes fragmentos estão
próximos ao local de instalação dos ninhos-armadilha. O cultivo dos fungos presente nas flores de Malpighiaceae e
ninhos de Centridini foram realizados através da técnica de diluição seriada em concentração de 10-1 a 10-3. O
meio utilizado para semeadura e isolamento dos fungos foi Agar Sabouroud. Após o cultivo, as placas foram
incubadas por sete dias em temperatura constante de 25ºC (SILVA et al, 2007).
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Resultadose Discussão
Nas amostras de flores de Byrsonima sericea foram isoladas quatroze morfoespécies de fungos: Candida sp.,
Mucor sp., Aspergillus flavus, A.niger, Aspergillus sp, Fusarium oxysporum, Fusarium sp., Penicillium
chrysogenum, Penicillium sp., Alteraria sp., Curvularia sp., Bipolaris sp., Chrysosporium sp. e rodotorula sp.
Destas oito morfoespécies estiveram presentes nas amostras dos ninhos de abelhas da tribo Centridini (Aspergillus
flavus, A.niger, Aspergillus sp, Fusarium sp., Penicillium sp, Alteraria sp, Mucor sp e Rhodotorula sp). Os ninhos
de abelhas Centridini apresentaram maior quantidade de Unidades Formadoras de Colônias (UFC), cerca de oito
mil, em comparação com as flores de Byrsonima sericea (Malpighiaceae) que apresentaram cerca de três mil UFC.
As amostras de flores apresentaram maior total de UFC (1.278 UFC) na concentração 10-³e a menor na
concentração 10-² (924 UFC). Nas amostras de ninhos a abundância de UFC foi observada na concentração 10-¹
(3.611 UFC) e menor na concentração 10-² (1.749 UFC). Contrariamente ao esperado, as amostras de flores
apresentaram maior riqueza de fungos dos que as amostras de ninhos. Mas, sob condições adequadas os fungos
associados ao ninho apresentaram rápido desenvolvimento e puderam elevar sua abundância local em pouco tempo.
Durante os experimentos, foi observado que as placas que apresentaram maior número de morfoespécies de fungos
tinham menor quantidade de UFC. É possível que algumas das espécies presentes nas flores, ou nos ninhos,
produzam toxinas inibitórias a atividade de outros fungos. Ou ainda, como a placa de cultivo é um local restrito,
alguns fungos podem ser mais eficientes na competição por espaço o que implicaria na diminuição da quantidade
total de UFC por placa.
Considerações finais
Nos ninhos de abelhas solitárias Centridini foram observados um percentual de 36% das morfoespécies isoladas de
fungos das flores de B. sericea o que corrobora a hipótese de que estas abelhas ao coletarem recurso floral (óleo ou
pólen) também são retiram esporos de fungos que são depositados nas células de cria. Mas, se os ninhos de abelhas
solitárias da tribo Centridini apresentam riqueza considerável de fungos porque os trabalhos de biologia de
nidificação deste grupo de abelhas apresentam poucos dados sobre taxas de mortalidade, ou contaminação do
alimento larval, por este grupo de microrganismo? Uma explicação plausível é que o óleo floral de B. sericea seja
uma substância inibidora eficiente no crescimento dos fungos no interior dos ninhos e diminua a proliferação de
Unidades Formadoras de Colônia. (Agradecimentos: A FAPESB pela bolsa de Iniciação Científica concedida
(BOL1069/2014) a V.O.P; ao CNPq pela bolsa de Iniciação Científica a D.N.; aos técnicos e a equipe do
laboratório de microbiologia da FTC).
Referências Bibliográficas
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