Resumos escritos: os obstáculos para se ter acesso à competência infantil Ana María Kaufman Flora Perelman “Se querem um discurso longo, posso fazê-lo já. Mas, se disponho somente de alguns minutos para falar, necessito de uma semana de preparação”. Winston Churchill Resumo O objetivo central desta pesquisa é elaborar e pôr à prova uma seqüência didática para ensinar a produzir resumos escritos, que leve em conta tanto a concepção de resumo por parte dos docentes como os processos construtivos das crianças. Neste trabalho são apresentados dados coletados em oficinas com professores e resultados obtidos em entrevistas com alunos, com a intenção de elaborar um instrumento para conhecer sua competência para elaborar resumos escritos. Duas representações docentes condicionam as produções das crianças: o valor instrumental outorgado ao resumo, considerado somente como uma ferramenta prévia ao estudo, e a exigência da substituição lexical. A análise das produções de 180 crianças de classes sociais média e baixa, que cursavam a 5ª série da escola primária, apresenta porcentagens alarmantes, especialmente no setores mais carentes. Palavras-chave: Resumo escrito, representações docentes, avaliação, competência infantil. Introdução 1 Na oficina realizada com docentes durante a pesquisa que apresentaremos neste artigo, solicitamos a produção de um resumo escrito. Transcreveremos um dos intercâmbios registrados em um grupo de professoras da primeira, terceira, quinta e sétima séries. Graciela (7ª): Bem, vamos fazer um resumo em forma de um quadro? Marta (7ª): Primeiro o quadro e depois o resumo. Cristina (1ª): Na verdade, primeiro se sublinha... Graciela (7ª): Primeiro sublinhar e depois fazer o esquema. Cristina (1ª): O que fazemos? Liliana (3ª): Vamos sublinhar primeiro. Ana (1ª): O fato é a Revolução de Maio. Começa com uma primeira explicação. Cristina (1ª): Vamos ler? (Todas concordam e Cristina começa a ler. Vão explicando o texto entre elas, contribuindo com seus conhecimentos prévios. Depois, decidem fazer uma “quadro sinóptico” e, finalmente, escrevem o resumo. Cristina (1ª): Acho que ficou longo... Marta (7ª): Parece uma monografia. Graciela (7ª): (mostrando o quadro) Essas são as idéias principais. Se tenho de estudar, posso fazê-lo por aqui. Eu as mostro sublinhando. Liliana (3ª): O manual já é resumido... Marta (7ª): O resumo é o quadro, aquilo que você interpretou. O de baixo (mostra o texto de seu resumo) é a explicação, se quiser desenvolvê-lo... 2 Cristina (1ª): Para mim, este (texto resumido) é um resumo. Lembrem-se do que nos ensinaram no curso para professores: a criança tem de sublinhar e... Graciela (7ª): (interrompendo) E redigir com seu vocabulário o que está no texto. O resumo é escrever o que entendeu com suas próprias palavras. Eu sublinho antes. Liliana (3ª): No quadro, eu sublinho e faço um esquema. No resumo, passo aquilo que sublinhei. Grabriela (5ª): Este (mostra o quadro) seria um esquema do conteúdo, uma sinopse. Aqui (mostra o texto) está mais longo. Acho que temos de agrupar mais as idéias... Vamos fazer de outra maneira, menor e melhor redigido. (Elaboram um resumo mais curto). Graciela (7ª): (surpresa) Eu já o conheço de memória! Já não preciso estudálo...Quando fazemos tudo isso...nós já ficamos sabendo. Como podemos observar, aconteceu com as docentes o mesmo que com Winston Churchill: necessitaram de mais tempo e trabalho para elaborar o resumo mais curto que para escrever a produção mais longa... Analisando o registro, podemos perceber dois aspectos muito interessantes manifestados pelas professoras. Por um lado, a concepção do resumo como um instrumento que deve ser construído antes do estudo. Dentro dessa idéia, ensinam seus alunos a sublinhar o que é importante, copiar o que foi selecionado e, somente depois, começar a estudar (memorizar?) o novo texto. Muitos docentes compartilham essa postura, sem perceber que resumir é estudar, pois para realizar um bom resumo é fundamental efetuar várias leituras que possibilitarão uma 3 compreensão adequada do texto, imprescindível para a construção da macroestrutura. Isabel Solé (1994) ressalta que “ler para aprender implica um trabalho contínuo, em um contexto que permita o avanço e o retrocesso, a possibilidade de parar, pensar, relacionar o que se lê com o que já se sabe, efetuar sucessivas recapitulações, estabelecer relações entre as diferentes idéias em um processo progressivo de atribuição de significados. É uma leitura lenta, precisa e, sobretudo, constante”. Nesse sentido, cabe ressaltar a surpresa de uma das participantes do grupo quando, depois de ler várias vezes o texto, ao construir um quadro com os dados mais importantes e redigir duas versões do resumo – porque a primeira havia sido desqualificada por ser muito longa – percebeu que já tinha “aprendido” o conteúdo em questão!.. Outro aspecto interessante que surge da análise da observação está relacionado à certeza de que o resumo deve ser realizado a partir de uma transformação quase que total do texto-fonte, apagando praticamente todo seu vestígio. A expressão usada por Graciela “escrever o que entendeu com suas próprias palavras” pode levar a uma encruzilhada complexa, pois reforça dificuldades que surgem da própria definição do resumo. Charolles (1991) assinala que resumir consiste em produzir, a partir de um texto de origem, um texto que deve cumprir a obrigação de ser mais curto, fiel em relação à informação e formalmente diferente do texto-fonte. Outros autores que trabalharam essa questão, como Vigner (1991) e Fayol (1992), concordam com Charolles nessas três exigências. A coexistência desses três requisitos apresenta alguns 4 transtornos. Não é fácil eliminar de um texto os elementos considerados secundários, conservar o núcleo de sentido e, ao mesmo tempo, reformulá-lo de maneira parafraseada fazendo com que seu resultado seja um produto coerente e coeso... Então, o que significa “formalmente diferentes”? Certamente é algo distinto daquilo que os docentes pensam quando dizem “você tem de fazer o resumo com suas próprias palavras”. Se formos resumir um texto de Jean Piaget, não seria viável substituir certos termos que têm uma significação unívoca dentro da teoria psicogenética (tais como “esquema”, “adaptação” ou “equilibração”, por exemplo) sem cair em distorções indesejáveis. Melina, uma menina da 4ª série, que participou da primeira fase de nossa pesquisa, querendo respeitar o preceito de “dizer com as próprias palavras”, tenta com muito empenho substituir lexicalmente a maior quantidade possível de palavras. Assim, ao resumir um texto sobre a Conquista Espanhola, substitui “aborígenes” por “índios”, “pacíficos” por “calmos”, “subjugados” por “dominados”, “conquistadores” por “espanhóis”, “especialmente” por “principalmente”, “lutaram” por “brigaram”, “enviados” por “mandados”... O problema surgiu quando não soube substituir o termo “rebelião”. Primeiro comentou que poderia ser por “guerra”, mas parecia não estar muito de acordo. Decidiu, então, apelar para um amigo aparentemente servil e inofensivo: o dicionário, texto muito complexo que pode apresentar armadilhas difíceis de driblar. Melina caiu em uma delas. 5 Quando começou a procurar a palavra, confundiu sua ortografia e, por isso, foi explorando a página que correspondia à sílaba RE seguida de V 1. Em determinado momento, fez uma confusão, já que ela “leu” a palavra procurada onde dizia “revelação”, definida pelo dicionário como “manifestação da verdade”. Assim, o parágrafo do texto-fonte que dizia “muitos aborígenes do Noroeste, especialmente os calchaquíes, lutaram e se mantiveram em estado de rebelião por mais de cem anos” sofreu a seguinte transformação no resumo de Melina: “muitos índios do noroeste, principalmente os calchaquíes, brigaram e se mantiveram em estado de manifestação da verdade por mais de cem anos”!!! Melina pôde revisar e corrigir seu texto uma semana depois. Leu-o atentamente, disse não estar de acordo com ele e perguntou se podia refazêlo. Depois de receber uma resposta positiva, comentou de maneira enfática: “desta vez, nem penso em usar o dicionário...” Não resta dúvida de que a reformulação necessária para obter a diferença formal a que se refere Charolles consiste em outros tipos de transformações ligadas à compreensão global do significado do texto e não a uma substituição lexical dos vocábulos isolados. De uma perspectiva didática, poderíamos interpretar o que foi exposto até aqui a partir do âmbito elaborado por Yves Chevallard (1991), em termos da transposição didática que se realiza a partir do “saber sabido” ou científico (Charolles, Vigner e Fayol) ao “saber ensinado” que se manifesta nas representações que os docentes fazem da tarefa e nas produções de Melina. 1 Talvez a confusão seja pelo fato de que em espanhol o “b” e o “v” têm o som muito parecido. N. de T. 6 Na Argentina, tivemos inúmeras oportunidades de comprovar que docentes de diferentes instituições escolares costumam pedir a seus alunos que escrevam resumos “com suas próprias palavras”. É possível que essa insistência se deva a uma demanda imposta aos professores de maneira permanente e indiscriminada: a avaliação. Muitos educadores disseram que utilizam os resumos para avaliar a compreensão leitora das crianças e que, nos casos em que seus alunos não respeitam a literalidade do texto-fonte, não têm certeza se efetivamente o compreenderam. Paradoxalmente, essa incumbência de escrever “com as próprias palavras” não só pode levar a distorcer o sentido do texto, mas também poderia estar contrariando uma tendência natural das crianças vinculada ao respeito pela literalidade do texto-fonte. Ana Teberosky, em sua tese de doutorado (1987), inclui um estudo sobre a construção de resumos como um tipo particular de reescrita de textos. Essa autora diz que, nos resumos das crianças entrevistadas, elas conservavam não só as idéias principais, mas também as palavras do texto original. A autora esclarece que não só preservavam o léxico mas também conservavam a organização gramatical, concluindo que essa “cópia” deve ser entendida em relação à noção de intertextualidade. Em seu trabalho não foram utilizadas consignas que pedissem originalidade (para com o estilo de “escrever com as próprias palavras”) e Teberosky sugere que, se isso fosse feito, estaria contrariando a tendência espontânea da criança de recorrer ao intertextual, porque a cópia, a citação e as frases feitas são maneiras de construir os textos. 7 A esse respeito, a autora enfatiza: “A passagem pela cópia nos parece prévia e necessária para a produção de textos pessoais. Do ponto de vista pedagógico, nós nos colocamos a favor das atividades de resumir, não só como método para selecionar e reter as informações centrais, mas também como método para aprender a maneira de “dizer o dito”, de acordo com Ducrot (1986). Dessa espécie de polifonia, em que as palavras do outro se cruzam com as nossas, é que podem surgir as “próprias palavras.” Neste artigo, partiremos de uma breve caracterização de alguns estudos realizados sobre o resumo, tanto de uma perspectiva psicolingüística como didática para, em seguida, expor mais detalhadamente os resultados relevantes de nossa pesquisa, cujo objetivo central é elaborar e pôr à prova uma seqüência didática para ensinar a produzir resumos escritos, que leve em conta tanto a concepção de resumo por parte dos docentes como os processos construtivos das crianças. O resumo: caracterização e abordagens O resumo é um discurso que enuncia a estrutura conceitual que organiza hierarquicamente a informação das seqüências do texto base, representando assim sua coerência global. O conceito teórico proposto por Van Dijk para descrever tal coerência é o de macroestrutura semântica (1983). Inúmeros resultados de pesquisas psicolingüísticas evidenciaram que na produção de resumos intervêm as macrorregras (supressão, seleção, generalização e construção, Van Dijk, 1983). Por essa razão, várias pesquisas de caráter psicológico se dedicaram a constatar se as crianças as utilizavam de maneira efetiva. Ao comprovar que até uma certa idade muitos alunos só utilizavam a 8 regra de supressão em um “processo linear de leitura” (Brown e Day, 1983) e, além disso, apresentavam dificuldades para selecionar as idéias principais de um texto (Winograd, 1985), vários autores elaboraram seqüências instrucionais nas quais as macrorregras são ensinadas em um trabalho de “instrução direta” ou por intermédio do “ensino recíproco” (Baunmann, 1990; Palincsar e Brown, 1996). Consideramos que a construção do resumo propõe ao sujeito a resolução de um problema muito mais complexo, já que exige dele um processo de atribuição de significados no qual é necessário que sejam colocados simultaneamente em ação: a) O conhecimento letrado, isto é, seu saber sobre os gêneros e as marcas lingüísticas que os caracterizam (Teberosky, 1995); b) O saber conceitual que corresponde ao domínio específico do conhecimento tratado no texto; c) Um saber fazer vinculado aos procedimentos colocados em jogo ao resumir um texto. Os estudos sobre procedimentos desenvolvidos pela Psicologia Genética permitiram a análise da relação dialética estabelecida nos processos de resolução de problemas, entre esse “saber fazer” e os diferentes conhecimentos que um sujeito vai construindo ao longo de sua vida (Inhelder e Caprona, 1992). No caso da produção de resumos escritos, a tarefa exige não só a construção da macroestrutura, mediante o ato leitor, mas também a escrita de um novo texto coerente e coeso. 9 NOSSA PESQUISA Como nosso objetivo central estava voltado para a formulação de uma seqüência didática de elaboração de resumos escritos a partir do estudo dos processos construtivos das crianças, era necessário conhecer tanto os problemas que os alunos enfrentam diante da tarefa como sua competência real para realizá-los. Nessa pesquisa pudemos comprovar que não é fácil conhecer essa competência, razão pela qual foi necessário pôr à prova vários projetos para elaborar um instrumento de avaliação que fosse confiável. Até o momento, três etapas foram percorridas1. Analisaremos neste trabalho os resultados da última (Kaufman e Perelman, 1998) e descreveremos, de maneira muito sintética, os caminhos e descaminhos do processo de pesquisa percorridos nas etapas anteriores (Perelman 1995, Kaufman e Perelman 1996 e 1997). Na primeira etapa, utilizamos um projeto experimental com grau máximo de abertura e que denominamos “projeto aberto”, no qual solicitávamos às crianças que simplesmente resumissem um texto de Ciências Sociais habitualmente utilizado na escola, sem restrições procedimentais, temporais ou espaciais. Realizamos um estudo de casos de crianças que cursavam a 4ª e 6ª séries de escolas públicas, com as quais efetuamos um acompanhamento longitudinal durante dois anos. Assim, também pudemos ter acesso a um revezamento transversal da 4ª à 7ª séries. O critério de seleção da amostragem também levou em conta o rendimento das crianças, determinado pelo docente, em relação à área de Ciências Sociais (domínio dos textos fonte que foram 10 propostos). A tarefa foi realizada em sala de aula e coordenada pelo docente. Explicamos que os resumos teriam como destinatários colegas da mesma série. Durante o trabalho, o texto esteve ao alcance dos alunos e eles tiveram oportunidade de reler o resumo e corrigi-lo uma semana depois. Analisando os produtos obtidos nessa etapa, pudemos comprovar que muitas crianças distorceram o sentido do texto, alguns suprimindo elementos nucleares e outros, como Melina, pressionados pela exigência de substituir o léxico original. Também comprovamos que outras crianças elaboraram textos que não eram propriamente resumos, pois conservavam muitos elementos supérfluos. Supomos que isso pode estar relacionado a uma circunstância habitual no âmbito escolar, em que é pouco freqüente que haja restrições ao tamanho dos resumos, restrições que normalmente são apresentadas nos contextos extra-escolares (por exemplo, resumos de diferentes tamanhos para várias publicações etc). Por outro lado, quando observamos os procedimentos utilizados no decorrer da produção dos resumos, comprovamos que muitos alunos acionavam uma estratégia que consistia em escrevê-los à medida que iam lendo o texto-fonte. Esse “processo linear de leitura”, analisado por Brown e Day, poderia estar sendo reforçado pela concepção escolar do resumo como um instrumento que deve ser construído de maneira prévia ao estudo. Sem dúvida, se a criança deve fazer seu resumo para depois estudar, isto é, deixando para esse momento a compreensão da macroestrutura do texto, é lógico que não se insista que ela construa o significado global antes de começar a escrever. 11 Resolvemos, então, pôr à prova outro projeto para verificarmos se a alteração do contexto de produção dos resumos influenciaria os resultados, tanto nos casos de produções que distorciam a informação como naqueles que evidenciavam o excesso de conteúdo. Nós já contávamos com a informação dos trabalhos de Sylvia Bueno Terzi, da Universidade de Campinas (1984), que partem da hipótese de que muitos dos resultados encontrados na análise da produção de resumos infantis podem estar relacionados a aspectos contextuais da tarefa, ou seja, com determinadas condições que levam os alunos a determinados desempenhos. Analisavam, especificamente, como a presença do texto para consulta durante a elaboração de resumos condiciona um apoio total em sua ordem seqüencial, dificultando as possibilidades do aluno para interpretar a coerência do texto como um todo pela ênfase dada às suas partes. Nos grupos experimentais, em que o texto era retirado, os alunos consideravam o quadro referencial total do autor, o que fazia com que integrassem e organizassem as informações, evitando a justaposição de seqüências sem relação e a redundância de dados. Em nossa pesquisa, decidimos pôr à prova esse projeto em uma segunda etapa, na qual solicitamos às crianças a produção de resumos tirando deles o texto-fonte, depois de assegurarem que tinham completado sua leitura. Porém, permitimos que tomassem notas quando achassem necessário. Pudemos constatar que os resumos dos alunos com melhor rendimento na área temática não evidenciavam diferenças consideráveis diante da variável presença-ausência do texto-fonte apesar de que, logicamente, quando o 12 tinham ao alcance das mãos, os resumos estavam mais literalmente próximos à fidelidade léxica. Em compensação, as crianças com um baixo rendimento, quando retirávamos o texto-fonte, realizavam distorções do conteúdo devido à introdução de informação extratextual não adequada e, estritamente em relação à produção escrita, seus textos tendiam a ter menor coesão do que quando trabalhavam com o texto presente. Com esses dados, era muito difícil determinar se não estava ocorrendo impedimentos ligados à memória, que pudessem obstaculizar a tarefa. O resumo para aprender não é uma atividade de lembrança: “o autor deve poder voltar a todo momento ao texto original, relê-lo total ou parcialmente e controlar, passo a passo, as decisões tomadas quando opta por eliminar ou reformular de maneira condensada essa ou aquela passagem” (Charolles, 1991). Por essa razão, esse projeto foi deixado de lado e começamos a pôr à prova uma nova situação experimental que propunha outro contexto de produção, propiciando um contato direto com o texto e impondo restrições em relação ao tamanho total permitido. Na terceira etapa, os dados foram coletados em entrevistas individuais, nas quais se combinava uma entrevista clínica com um projeto experimental muito bem pautado em termos procedimentais (“projeto guiado”). Nessas entrevistas, utilizamos duas instâncias alternativas denominadas “situação concessiva” e “situação restritiva”, que foram rigorosamente comparadas. a) Descrição do instrumento de avaliação O instrumento utilizado para se ter acesso à competência dos alunos em produzir resumos escritos exigia colocar em andamento os seguintes passos: 13 Sublinhar: O texto-fonte é apresentado à criança e lhe entregamos um lápis para que sublinhe tudo que achar importante para fazer o resumo. Apagar: Quando termina de sublinhar, oferecemos a ela um “liquid paper” e ela é informada que deverá apagar tudo aquilo que não deve constar em seu resumo. Esclarecemos que, se quiser, pode fazer modificações, ressaltando mais texto ou ainda eliminando texto já sublinhado. Textualizar: Entregamos a ela meia página (13 linhas) informando que deverá escrever seu resumo utilizando esse espaço como limite máximo e que não se levará em conta aquilo que exceder esse tamanho. A proposta de apagar (utilizada por B. J. F. Meyer, 1975) leva os sujeitos a ratificarem ou retificarem aquilo que sublinharam, focalizando sua atenção na supressão. A inclusão de um material irreversível (o que foi apagado desaparece definitivamente, já que o “liquid paper” não pode ser tirado) poderia contribuir para que as crianças se vissem compelidas a reler o texto antes de apagar. Por outro lado, a rigorosa delimitação do espaço proposta, quando se exige que o resumo seja feito em 13 linhas, faz com que uma parte considerável do texto seja suprimida. Como com esse projeto aberto não pudemos comprovar o que teria acontecido às crianças que produziam resumos com um excesso de informação, se tivéssemos imposto como obrigatório que elas diminuíssem o tamanho do texto, consideramos que a limitação espacial permitiria detectar se essas crianças estavam efetivamente capacitadas para realizar uma seleção macroestrutural estrita ou se descartavam elementos textuais sem poder discriminar o nuclear do supérfluo. 14 Conforme já mencionamos anteriormente, essa etapa da pesquisa era anterior a uma experiência didática, razão pela qual era imprescindível contar com um instrumento que não só permitisse conhecer a competência real dos alunos, mas que, ao mesmo tempo, fosse de fácil aplicação no âmbito escolar. Por isso resolvemos pôr à prova duas situações diferentes, “concessiva” e “restritiva”, nas quais algumas variáveis eram modificadas: Na situação concessiva, o dado referente ao tamanho total permitido para o resumo é conhecido logo após terminar de apagar, não existe limite de tempo para a realização da tarefa e a criança pode fazer todas as tentativas que considere necessárias, em diferentes folhas de papel. O tempo ilimitado e a alternativa de produzir vários rascunhos estão relacionados à decisão de oferecer ao aluno todas as possibilidades para que realize o melhor resumo que tenha em condições de elaborar. Na situação restritiva, a informação sobre o tamanho do resumo é dada antes que comecem a sublinhar, comunica-se que o trabalho deve ser realizado em uma hora e não se dá a possibilidade de usar mais que uma folha. Essa situação exige que o aluno coloque em jogo, desde o início, uma grande quantidade de recursos. O fato de conhecer antecipadamente o tamanho limitado do produto final exige uma antecipação das ações de seleção e supressão que deverão ser realizadas. Também pede-se que controle ao máximo suas possibilidades de antecipar, para administrar o tempo disponível e organizar sua escrita sabendo que não poderá utilizar mais que uma folha. a) Amostragem e coleta de dados 15 Foram entrevistas 180 crianças da 5ª série de duas amostras socioculturais contrastantes: uma de classe média de uma instituição privada e outra de classe baixa de escolas públicas. Além disso, os alunos foram selecionados, como nas etapas anteriores, em função de seu rendimento em Ciências Sociais: alto, regular e baixo, determinado pelo docente. A amostra foi dividida em dois grupos equivalentes, um deles participou da situação concessiva e o outro da restritiva. Com todos eles, foi realizada uma entrevista que incluía três fases: um pré-teste, a atividade de resumo em pauta e um pós-teste. O pré-teste consistia em perguntas sobre como a concepção do resumo era entendida pelas crianças e seu conhecimento sobre a temática do texto-fonte. No pós-teste, voltávamos a perguntar sobre tal conhecimento após o término da tarefa de resumir. As perguntas eram conduzidas de acordo com as linhas traçadas pelo método clínico-crítico, característico dos estudos piagetianos. Ao iniciar a segunda fase (atividade de resumo), as crianças eram informadas que estávamos coletando resumos infantis com o propósito de publicá-los. Esclarecíamos que não sabíamos quem seria o leitor, mas que, certamente, seria alguém que tivesse interesse no assunto e que, claro, não teria acesso ao texto-fonte. b) Resultados Os produtos obtidos foram analisados levando-se em conta a competência das crianças, tanto para incluir a informação nuclear como para eliminar a informação supérflua. As categorias resultantes foram três: 16 Os resumos propriamente ditos: seus autores incluem a informação nuclear e eliminam os dados supérfluos. Resumos semi-completos: os alunos incluem a informação nuclear, mas não eliminam os dados supérfluos. Resumos incompletos: as crianças distorcem a informação nuclear ou suprimem dois ou mais núcleos essenciais. Análise comparativa entre a seleção inicial e a elaboração final Em primeiro lugar, compararemos o texto que as crianças sublinharam no primeiro passo do projeto (seleção inicial) com a versão definitiva escrita na folha de 13 linhas (elaboração final) na amostragem total. (Inserir tabela I (?) Os resultados demonstraram que na seleção inicial as crianças realizaram 55% de produtos semi-completos. Essa porcentagem é interessante porque reproduz, de alguma maneira, os resultados obtidos com o projeto aberto no que se refere à tendência em conservar uma quantidade excessiva de informação. Na elaboração final, somente 3% dos alunos continuou realizando textos desse tipo, dado que mostra a efetividade do projeto para obrigar as crianças a tomarem decisões que nos permitam ter acesso à sua competência. O restante das produções está distribuído da seguinte maneira: 38% consegue resumos propriamente ditos, enquanto que 59% obtém produtos incompletos. Análise comparativa entre os produtos finais das crianças de classes média e baixa Vejamos agora como os resultados da elaboração final das crianças de classes média e baixa podem ser separados. 17 (Inserir tabela II?) A análise da tabela II apresenta uma informação que já era prevista: as crianças de classe baixa obtêm resultados de menor qualidade que as de classe média. Os dados são contundentes: 50% dos resumos propriamente ditos na classe média contra 25% na classe baixa. Essa diferença é estatisticamente significativa (t: 3.58). Esse dado pode ser interessante pois, mais que expressar algo que já sabíamos antes de começar a pesquisa, é uma interpretação possível que exige uma atitude firme da escola. Em primeiro lugar, chama a atenção que somente metade das crianças de classe média possa realizar a tarefa com sucesso. Esse dado evidencia que o fato de dar possibilidade a várias leituras não garante uma seleção adequada devido a uma hierarquização das idéias contidas no texto-fonte. Conforme mencionamos anteriormente, ler para aprender implica um trabalho contínuo sobre o texto. Isso significa que as releituras são uma condição necessária para a realização de um bom resumo. No entanto, muitos docentes acreditam que esses sucessivos contatos com o texto não são só condição necessária, mas também suficiente, pois é nesse momento que o processo de ensino pode ser dado como finalizado. Os dados demonstram que essa confusão pode se tornar extremamente infeliz e perigosa, principalmente nas crianças de setores mais carentes que, geralmente, possuem menos conhecimentos prévios para elaborar esquemas interpretativos mais adequados. Em compensação, as crianças de classe média costumam contar com inúmeras contribuições extra-escolares 18 oferecidas por informantes letrados, dado que aumenta ainda mais a distância entre elas. Análise comparativa entre os resultados da situação concessiva e da restritiva. Conforme dissemos no item anterior, nessa pesquisa pusemos à prova duas variáveis do projeto guiado, que eram diferentes em relação aos parâmetros ligados ao conhecimento prévio da limitação espacial do produto final, em relação ao tempo disponível para realizar a tarefa e à quantidade de tentativas de escrita permitidas: a situação concessiva (SC) e a situação restritiva (SR). Analisaremos os produtos obtidos para avaliarmos se SR, cuja aplicação é mais viável no âmbito escolar, é tão confiável como a SC. Vejamos os dados da amostragem total. (Inserir tabela III?) Os resumos indeterminados não apresentam diferenças em ambas situações. Em relação ao restante dos produtos finais, ainda que os dados da SC evidenciem uma porcentagem pouco superior aos resumos propriamente ditos e ligeiramente inferior às produções incompletas, é importante ressaltar que essa diferença não é estatisticamente significativa. Essa tendência se apresenta tanto na classe média (53% de resumos em SC e 47% em SR) como na classe baixa (27% de resumos em SC e 22% em SR). Esse dado nos permite considerar que as duas situações são igualmente confiáveis para avaliar a competência real dos alunos. 19 Análise da correlação entre os produtos obtidos e o rendimento escolar Tentaremos comprovar se existe uma correlação positiva entre a quantidade dos resumos produzidos pelas crianças e seu rendimento escolar na área de Ciências Sociais que, neste caso, é determinado pelo docente. (Inserir tabela IV?) Na tabela IV aparece a distribuição dos resumos propriamente ditos e os produtos incompletos obtidos na elaboração final. Estatisticamente, pudemos comprovar uma correlação significativa entre o rendimento detectado pelos professores na área de Ciências Sociais e a qualidade dos resumos efetuados (chi quadrado=21,43 p<0,01). Se separarmos a informação por classe social, esse dado se repete: na classe média e na classe baixa volta a haver uma correlação significativa entre as duas variáveis. Mas o dado importante, quase dramático, surge da comparação de outros parâmetros. (Inserir Tabela V e VI?) Em primeiro lugar, comparando as duas classes, podemos observar que os produtos obtidos pelas crianças de classe baixa com um rendimento maior são distribuídos praticamente da mesma maneira que os dos alunos de classe média com rendimento regular. Por outro lado, se nos centrarmos na análise dos resumos do restante das crianças de classe baixa, vemos que a qualidade das produções elaboradas pelos alunos com rendimento regular não difere dos textos dos colegas de rendimento baixo. 20 Além disso, podemos perceber que a qualidade dos produtos incompletos, tanto nas crianças com rendimento baixo como nas com rendimento regular, é assustadoramente mais alta, ultrapassando 80% em ambos os casos. Conclusões O objetivo central dessa pesquisa é elaborar e pôr à prova uma seqüência didática para ensinar a produzir resumos escritos, que leve em conta: 1) a concepção de resumo por parte dos docentes; 2) os processos construtivos das crianças. Um grupo de professores, em uma oficina desenvolvida no âmbito dessa pesquisa, apresentou uma representação da tarefa de resumir na qual predominam duas idéias importantes: a) a concepção de que o resumo é um instrumento que deve ser construído antes de se começar a estudar e b) a certeza de que o resumo deve ser realizado a partir de uma transformação quase que total do texto-fonte, apresentando como exigência que seja escrito “com as próprias palavras”. Em relação ao primeiro ponto: como durante muitos anos, no ambiente pedagógico, foi muito difundida uma concepção de leitura na qual a primeira fase consistia em um ato puramente mecânico (“leitura mecânica”) para logo depois chegar à compreensão (“leitura compreensiva”), daria a impressão de que com o resumo acontece a mesma coisa: primeiro resumir e depois estudar. Ou seja, o isomorfismo entre essa concepção de leitura e a de resumo que circula socialmente, evidenciada na oficina, seria apresentada da seguinte maneira: o primeiro passo da leitura, que consiste na sonorização expressiva 21 do texto, seria equivalente ao primeiro passo do resumo que consiste em um procedimento mecânico de sublinhar e depois copiar seu resultado, enquanto que a segunda instância do ato leitor (compreensão) corresponderia ao segundo momento do resumo, proposto pelos professores como a apropriação do significado do texto-fonte a partir do estudo daquilo que foi sublinhado. O mais lamentável dessa situação é que, em muitos casos, o texto original fica irremediavelmente perdido. É importante que os docentes compreendam que resumir é estudar, porque pressupõe ler para aprender, o que implica a construção da macroestrutura, construção à qual somente temos acesso mediante uma interação dialética e prolongada entre o leitor e o texto. Em relação ao segundo aspecto: é possível que a insistência de que os alunos escrevam o resumo “com suas próprias palavras” se deva a uma exigência imposta aos professores de maneira permanente e indiscriminada: a avaliação. Muitos educadores disseram que utilizam os resumos para avaliar a compreensão leitora das crianças e que, no caso de seus alunos respeitarem a literalidade do texto-fonte, não têm certeza de que o tenham efetivamente compreendido. Seria interessante que esses educadores refletissem sobre as conseqüências desse tipo de ação pedagógica que, por um lado, não garante uma avaliação adequada daquilo que o aluno compreendeu e, por outro, propõe uma tarefa diferente (a substituição lexical) que pode obstaculizar e distorcer o processo de construção do resumo. 22 Em relação aos processos construtivos das crianças: na última etapa de nossa pesquisa, pusemos à prova um instrumento de avaliação que nos tornou aptos a conhecer sua competência para produzir resumos escritos. Esse instrumento contém instruções que obrigam a efetuar várias leituras e restringir o tamanho do resumo. Pede-se à criança que sublinhe, releia e reduza o tamanho, mas é ela quem decidirá a seleção e a reformulação do texto, isto é, trabalha-se sobre o procedimental, mas as decisões sobre o conteúdo e a forma lingüística deverão ser tomadas por cada um dos alunos. Essa pesquisa nos permitiu pôr à prova duas instâncias alternativas nas quais algumas variáveis correspondentes à fase de produção do resumo eram modificadas (conhecimento prévio da limitação espacial do produto final, tempo disponível para realizar a tarefa e quantidade permitida de tentativas de escrita) mantendo constantes o pré-teste e o pós-teste. A comparação rigorosa dos resultados obtidos nos permitiram verificar que as duas situações eram igualmente confiáveis para detectar a competência real dos alunos. Esse dado é extremamente valioso para abordar nossa futura indagação didática, porque uma das situações faz parte de um instrumento diagnóstico mais econômico que a outra, razão pela qual torna-se mais fácil de ser aplicada na realidade escolar. O tempo da aula é finito e qualquer situação que o altere corre o risco de perder seus potenciais privilégios. De qualquer maneira, é importante reafirmar que o tempo cronológico utilizado em uma entrevista individual de laboratório não é equivalente ao tempo escolar, razão pela qual o tempo da entrevista deverá ser adaptado quando se realizar na classe uma avaliação em grupo. 23 Os resultados evidenciaram que, no grupo estudado de 5ª série da escola primária, 38% consegue realizar resumos propriamente ditos e 59% obtém produtos incompletos (o 3% restante corresponde às produções semicompletas, ou seja, que continham a informação nuclear mas conservavam elementos supérfluos). Ao separar essa porcentagem por classe social, comprovamos que 50% dos alunos de classe média chega a realizar resumos propriamente ditos, porcentagem que cai para 25% na classe baixa. Se cruzarmos esses dados com a informação proveniente do rendimento dos alunos na área de Ciências Sociais, rendimento este determinado pelo docente, podemos perceber que os resumos dos alunos de classe baixa com um rendimento alto eram distribuídos praticamente da mesma maneira que as crianças de classe média com rendimento regular. Por outro lado, quando nos centramos na análise dos resumos das outras crianças de classe baixa, vemos que a qualidade das produções elaboradas pelos alunos com rendimento regular não difere dos textos dos colegas com rendimento baixo, ultrapassando, em ambos os casos, 80% das produções incompletas. Esses são os dados correspondentes às conquistas das crianças submetidas ao ensino habitual. A porcentagem de resumos na classe média deixa muito a desejar, mas, se nos centrarmos nas produções dos alunos que vêm de setores mais carentes, mesmo encarando a situação com a maior boa vontade, os dados são dramáticos. As avaliações do nível de leitura e escrita de nossas crianças, realizadas nos últimos anos em âmbito nacional, confirmam os números de nossa pesquisa. 24 Ler e escrever são processos complexos. Ler e escrever para aprender apresenta uma dificuldade complementar ligada à exigência de realizar um percurso intenso por conteúdos específicos que pertencem às diferentes disciplinas. Então, qual o caminho a seguir? Consideramos que a pesquisa didática nesse terreno se impõe de maneira natural. É imprescindível pôr à prova seqüências de ensino que incluam, desde idades menores, diversidade de leitura e de escrita em determinados contextos comunicativos, com propósitos definidos, nos quais os conteúdos a serem estudados sejam trabalhados a fundo. Nota 1 A primeira etapa da pesquisa foi realizada no contexto de um projeto subsidiado pela UBACyT, relativo ao período 1992-1994, intitulado “Processos cognitivos na produção escrita do caderno de classe. Processos de aprendizagem e perspectiva didática”, na qual participaram como co-diretores Ana María Kaufman e Flora Perelman e como pesquisadora principal Alicia Devalle de Rendo. A equipe de assistentes de pesquisa foi constituída por: Liliana Alegre, Viviana Fidel, Ana Marina Iparraguire, Silvia Landaburu, Silvia Patrich, Mabel Tarrío e Mariana Wassner. A assessora lingüística foi María Elena Rodríguez. O trabalho foi desenvolvido nas escolas nº 55 e 60 de Morón e na nº 17, D.E do Município de Buenos Aires. A segunda etapa da pesquisa faz parte do projeto subsidiado por UBACyT, relativo ao período de 19951997, “A produção de resumos escritos: aspectos cognitivos, lingüísticos e didáticos”, dirigido pelos mesmos co-diretores da primeira etapa e com a mesma assessoria lingüística. Os dados foram coletados no Colegio “Alas” de Palomar, município de Buenos Aires, pela docente Patricia Jalluf. A terceira etapa faz parte do projeto “O resumo: projeto e análise de situações didáticas para os mais novos”, subsidiado por ABACyT, relativo ao período 1998-2000, dirigido por Ana María Kaufman no qual participaram como pesquisadora Flora Perelman e como pesquisadores de apoio Alicia Devalle de Rendo, Silvia Landaduru, Silvia Patrich, Débora Bialostozky, María del Carmen Campos, María Tucci, Patricia Fautario, Alejandra Pataro e Gabriela Solarz. Ana Teberosky (Universidade de Barcelona) foi assessora de pesquisa. As escolas privadas de onde os dados foram coletados são: Colegio Alas de El Palomar, Escuela para el Hombre Nuevo, Escuela Numen, Escuela Mary Graham, Escuela Platerillo. As escolas públicas são a nº 1, 8, 16, 42 e 43 de Avellaneda. 25