Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 2 ISBN 92-9223-032-8 © UNESCO 2004 Publicado por UNESCO Asia and Pacific Regional Bureau for Education 920 Sukhumvit Rd., Prakanong Bangkok 10110, Thailand Impresso na Tailândia As designações utilizadas e a apresentação do material ao longo da publicação não implicam, de modo algum, a expressão de qualquer opinião por parte da UNESCO sobre o estatuto jurídico de qualquer país, território, cidade ou área ou das suas autoridades ou sobre as suas fronteiras ou limites. Texto traduzido do Inglês pela aluna Sophie Bento ([email protected]) do Curso de Tradução e Interpretação Multimédia Universidade do Algarve Revisão da tradução de Ana Maria Benard da Costa, Dinah Mendonça e José Vaz Pinto Capa de Valdemar Lopes Arranjo gráfico de José Vaz Pinto Associação Cidadãos do Mundo - Portugal Ano de 2009 e 2010 – Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 3 GUIA DE FERRAMENTA O Manual de Apoio 2 descreve como pode ajudar os pais e outros membros da comunidade e organizações em termos de participação no desenvolvimento e na manutenção de um AIAA. Dá-lhe ideias para saber como interessar a comunidade na escola e os alunos na comunidade. Ajudá-lo-á a identificar como isto acontece e dar-lhe-á ideias para interessar as famílias e as comunidades ÍNDICE OS RELACIONAMENTOS ENTRE PROFESSOR, PAIS E COMUNIDADE ........................................ 4 Quem é a “comunidade”? ........................................................................................................................ 4 Porque deveríamos interessar as comunidades? ...................................................................................... 5 Qual o nosso papel e responsabilidades? ................................................................................................. 8 INFORMAÇÃO E DEFESA DE UM AIAA NAS FAMÍLIAS E NAS COMUNIDADES ......................10 Entrar em contacto com as famílias e com as comunidades ...................................................................10 Manter contactos frequentes ...................................................................................................................12 Motivar o apoio para um AIAA .............................................................................................................17 A COMUNIDADE E O CURRÍCULO ..................................................................................................... 20 A comunidade na turma......................................................................................................................... 20 A turma e a comunidade ........................................................................................................................ 22 O QUE VIMOS NESTE MANUAL DE APOIO? .................................................................................... 25 MAIS LEITURAS ..................................................................................................................................... 26 Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 4 Ferramenta 2.1 OS RELACIONAMENTOS ENTRE PROFESSOR, PAIS E COMUNIDADE Quem é a “comunidade”? A comunidade inclui pais e tutores dos nossos alunos, outros membros das suas famílias, assim como a vizinhança da escola. Também inclui responsáveis pedagógicos reformados, avós e qualquer pessoa que more na área administrativa da escola. Se a escola se encontra numa área urbana, a comunidade deve ser definida de forma diferente e inclui comerciantes, lojistas, funcionários públicos e outros. Todas estas pessoas podem contribuir significativamente para melhorar a aprendizagem das crianças num AIAA. Num AIAA, responsabilizamo-nos por criar um ambiente de aprendizagem onde TODAS as crianças – meninas e rapazes – podem aprender e sentir-se incluídas num ambiente “amigo da aprendizagem”. Os pais e os membros da comunidade trabalham para o apoio do desenvolvimento de um AIAA nas escolas e nas turmas também. Por exemplo, têm de trabalhar connosco para garantir que se encontrem crianças fora da escola, que estejam inscritas e que continuem a aprender também. Infelizmente, apesar da contribuição da comunidade ser crucial para o desenvolvimento de um AIAA, em realidade, vemos muitas vezes uma distância entre a escola e a comunidade. Podemos verificar a distância por várias razões. Podem existir conflitos entre os horários da escola e os dos pais, sobretudo quando os pais (muitas vezes pais solteiros) não podem participar nas actividades escolares porque o trabalho ocupa-lhes muito tempo. Por vezes, nós, professores, somos colocados em escolas onde não estamos familiarizados. Não podemos viver na comunidade onde ensinamos ou viver na escola e regressar aos fins-de-semana para visitar as nossas famílias nas comunidades distantes. Por estas e outras razões, a comunicação funciona num só sentido, de escola para pais ou de escola para comunidade e, muito raramente, de pais para escolas ou comunidade para escolas. No entanto, podemos ultrapassar estes obstáculos quando uma escola começa a interessar as famílias e a comunidade em criar um AIAA Comunidades locais empenhadas na escola? Alguns educadores em Chennai na Índia foram desafiados pela declaração, “Todas as comunidades locais estão empenhadas na escola.” Embora se considerem eles próprios como a maior parte da comunidade, têm pouco contacto com indivíduos ou outras organizações na comunidade. As únicas interacções que tiveram foram com outras instituições de educação. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 5 Sentiam-se postos de lados na vizinhança. Não sabiam nada sobre os outros e os outros não sabiam nada sobre eles, nem o que faziam. Em geral, os educadores queriam trabalhar com mais alunos e pais para conhecer a sua visão sobre a escola. No entanto, começaram a trabalhar com os pais em grupos para incentivar mais debates activos com os professores. Também convidaram os membros da comunidade local a irem à escola e interagir com os alunos. Booth T and Black-Hawkins K. (2001) Developing Learning and Participation in Countries of the South: The Role of an Index for Inclusion. UNESCO: Paris. Porque deveríamos interessar as comunidades? As comunidades são o contexto global em que as crianças vivem e aprendem e onde aplicam o que lhes foi ensinado. Os valores e o interesse das famílias, dos representantes da comunidade e de outros membros da comunidade são importantes para colocar as crianças na escola e ajudá-las a aprender com sucesso. Por exemplo, se as famílias e as comunidades valorizam a educação que demos aos filhos (e valorizam-nos como professores também), então as crianças também vão valorizar as suas oportunidades em aprender. Incentivam-nas a respeitar-nos e a respeitar os colegas de turma – sobretudo as de origens e capacidades diferentes e incentivam-nas a aplicar o que aprenderam no dia-a-dia. As comunidades fornecem também informações valiosas e conhecimento prático que podemos usar para melhorar o ensino e promover a aprendizagem das crianças. Por exemplo, podemos incorporar histórias tradicionais ou músicas nas nossas aulas de línguas ou usar técnicas diferentes para cultivar plantas locais ou criar animais nas nossas aulas científicas. Além disso, se queremos mobilizar os recursos necessários para melhorar a aprendizagem para TODAS as crianças, para melhorar a qualidade das nossas escolas e conseguir uma mudança sustentada e duradoura, então temos de trabalhar juntos! As escolas filipinas que participaram nas reformas educativas observaram o seguinte: As intervenções independentes e as soluções rápidas nunca deram resultados. É a interacção entre as diferentes intervenções e as maneiras pelas quais os professores, os directores e os supervisores, os pais e os membros da comunidade e as próprias crianças participaram no processo da mudança [que faz com que a mudança dure]. Feny de los Angeles-Bautista with Marissa J. Pascual, Marjorie S. Javier, Lillian Mercado-Carreon and Cristina H. Abad. (2001). Reinventing Philippine Education: Building Schools Filipino Children Deserve. The Ford Foundation, Philippines. As comunidades têm sido um recurso valioso para as escolas que começaram a desenvolver um AIAA. As escolas BRAC no Bangladesh são exemplo disso. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 6 Um modelo prévio de apoio da comunidade para um AIAA. Em 1979, a primeira escola BRAC abriu no Bangladesh em resposta aos pedidos de mulheres em aulas de alfabetização funcional que queriam uma educação básica para os filhos. BRAC corresponde a Bangladesh Rural Advancement Committee. BRAC, uma ONG já empenhada nas comunidades rurais do Bangladesh, ajudou mães a formar um grupo escolar, a encontrar um local para a escola, a procurar um professor e a gerir a escola. A BRAC identifica as crianças pobres, sobretudo meninas, através de pesquisas domiciliares. As escolas devem inscrever uma maioria de meninas, ter um currículo ajustado, ter ensino focalizado na criança e proibir os castigos corporais. Quando os alunos concluem o currículo de educação básica BRAC, podem ingressar na escola pública. Muitas crianças fizeram isto com êxito. Os funcionários da escola são normalmente residentes da comunidade e mantêm contactos frequentes com os pais. Os pais decidem as horas específicas para o horário escolar e podem trocar as horas ao longo do ano para coincidir com as férias e as épocas agrícolas. Os pais verificam e controlam informalmente as faltas dos professores, que são muito poucas. Cada escola tem um Grupo de Gestão Escolar composto por três pais, um representante de comunidade e o professor. Juntos, são responsáveis pela gerência da escola. Os funcionários da BRAC organizam reuniões mensais para pais e professores em alturas mais convenientes para os pais. Uma vez que são realizadas durante o dia, a maioria da assistência a estas reuniões são mulheres. Um dos indicadores de qualidade da BRAC é que pelos menos 70% das crianças devem de assistir às reuniões dos pais. Uma média de 80% das crianças tem um dos pais presente. Os pais podem falar das suas preocupações sobre a escola, mas a BRAC abordou as principais preocupações sobre as propinas, outros custos, sobre a distância, sobre a disciplina e os horários, desse modo existe pouca insatisfação. Adaptado de Rugh A and Bossert H. (1998) Involving Communities: Participation in the Delivery of Education Programs. Washington, DC: Creative Associates International, Inc. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 7 Actividade de reflexão: como as comunidades apoiam o AIAA De que forma a comunidade está empenhada no desenvolvimento de um AIAA nas escolas BRAC? 1. ______________________________________________________________ 2. ______________________________________________________________ 3. ______________________________________________________________ De que forma a sua comunidade já ajuda a escola a manter um AIAA? 1. ______________________________________________________________ 2. ______________________________________________________________ 3. ______________________________________________________________ De que outras formais a sua comunidade pode ajudar a escola a manter um AIAA? 1. ______________________________________________________________ 2. ______________________________________________________________ 3. ______________________________________________________________ Quem da comunidade pode ser representante para criar e manter um AIAA? 1. ______________________________________________________________ 2. ______________________________________________________________ 3. ______________________________________________________________ O que é que você pode fazer para incentivar a sua comunidade a ajudar a manter um AIAA na sua escola? 1. ______________________________________________________________ 2. ______________________________________________________________ 3. ______________________________________________________________ Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 8 Qual o nosso papel e responsabilidades? Como professores, qual o nosso papel e responsabilidades ao trabalhar com os pais e os membros da comunidade para que possam ajudar num AIAA? Todos os professores têm a responsabilidade de… 1. Comunicar regularmente com o lar – isto é, pais ou tutores – sobre os progressos dos filhos na aprendizagem e na realização; 2. Trabalhar com os representantes da comunidade para descobrir que as crianças não vão à escola e porquê, e arranjar maneira para que elas frequentem a escola; 3. Explicar o valor e o objectivo de um AIAA aos pais dos alunos nas aulas; 4. Preparar os alunos a interagir com a comunidade como parte do currículo, como por exemplo através de visitas de estudo ou actividades especiais e eventos: 5. Convidar os pais e membros da comunidade a participar na turma. Alguns professores também serão responsáveis por… 6. Trabalhar com outros professores e com o director para falar sobre o AIAA com as organizações parentais e comunitárias (Grupo de Gestão Escolar, Grupo de Educação Rural, Associação de Pais) 7. Incentivar e colaborar com os pais para defenderem o conceito de AIAA com os outros pais e dentro da comunidade. Actividade prática: Como podemos trabalhar com as nossas comunidades Comece por fazer uma lista das actividades escolares de que tem conhecimento que inclua famílias e comunidades – como por exemplo visitas de estudo, reuniões de pais, desfiles – e que juntem professores, alunos, famílas e comunidades.1 Depois de cada actividade, aponte: 1 Esta actividade foi adaptada do Multigrade Teacher’s Handbook (1994) Bureau of Elementary Education, Departamento de Educação, Cultura e Desportos em cooperação com a UNICEF Philippines e UNICEF em http://www.unicef.org/teachers/environment/families.htm Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 9 • se participou nesta actividade ou não; se sim, em que qualidade (como “organizador” ou “hospedeiro”), • os bons resultados da actividade, • os maus ou resultados inesperados e como podem ser evitados no futuro (por exemplo, se poucos pais participaram, o que pode ser evitado pelos vários anúncios do evento feitos com antecedência, em vez de só um). Sublinhe as actividades que pensa serem mais importantes. Faça um círculo à volta das actividades que estão directamente relacionadas com a sua turma ou com os seus métodos de ensino. Quais as actividades que sublinhou e marcou com um círculo? Para as que foram apenas sublinhadas, pense sobre como pode incorporá-las nas suas actividades. Veja também quais são as actividades mais importantes para tornar a turma ou a escola inclusiva e amiga da aprendizagem? Que actividades são favoráveis para promover uma melhor compreensão de um AIAA nas famílias e nas comunidades? Resuma brevemente o relacionamento que se desenvolveu entre si, a escola e a comunidade com cada actividade. Por exemplo, “Com a organização de uma reunião de pais no início do ano lectivo, será que desenvolvi uma melhor compreensão por parte das famílias dos meus alunos e será que haverá mais pais voluntários para ajudar nas actividades da turma?” Por fim, olhe novamente para as actividades positivas e os relacionamentos entre a escola e a comunidade e identifique então como podem crescer: por exemplo, organizar um Dia de Escola Aberta no início e no fim de cada ano, em vez de um só dia. O Dia de Escola Aberta organizado no início do ano pode falar principalmente sobre o que as crianças vão aprender e como as famílias podem ajudar, enquanto no fim do ano pode apresentar o trabalho das crianças e louvar a realização de cada uma delas por terem trabalhado juntas e criado um AIAA. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 10 Ferramenta 2.2 INFORMAÇÃO E DEFESA DE UM AIAA NAS FAMÍLIAS E NAS COMUNIDADES Para obtermos um verdadeiro impacto com as intervenções educativas, a comunidade tem de apoiá-las totalmente e empenhar-se activamente nelas. Temos de contactar, informar e incentivar a comunidade para que esta esteja a par das coisas e agir. Entrar em contacto com as famílias e com as comunidades Uma das maiores responsabilidades enquanto professores é de comunicar com as famílias e com outros membros da comunidade. As crianças aprendem melhor quando os pais e outros familiares se interessam e se empenham na escola e na educação. Quando envolvemos as famílias na aprendizagem, aumentamos o potencial para aprender nas nossas turmas e conseguimos apoio para o nosso método de ensino de várias maneiras. Consequentemente, entrar em contacto com as famílias e com membros importantes da comunidade dos nossos alunos é muito importante para criar um ambiente inclusivo e amigo da aprendizagem.2 Existem várias maneiras eficazes de entrar em contacto com as famílias. Abaixo encontra-se uma lista de algumas delas. Tente um método que lhe pareça melhor e mais adequado e, em seguida, experimente os outros. • Organize reuniões com grupos de famílias e comunidades onde se apresenta a si próprio, descreve os seus objectivos para o ensino e para a aprendizagem das crianças, o valor da diversidade numa turma inclusiva e amiga da aprendizagem e fale sobre como as famílias e os membros da comunidade podem participar nas actividades da turma. • Uma vez ou duas por ano, marque reuniões informais com os pais a fim de avaliar a aprendizagem dos filhos. Mostre-lhes exemplos dos trabalhos efectuados por eles. Realce o facto de os alunos terem talento e obterá bons resultados e verá como cada um deles pode aprender ainda mais ao superar certos obstáculos. 2 Esta secção e esta actividade foram adaptadas do Multigrade Teacher’s Handbook (1994) Bureau of Elementary Education, Departamento de Educação, Cultura e Desportos em cooperação com a UNICEF Philippines e UNICEF em http://www.unicef.org/teachers/environment/families.htm Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 11 • Mande os trabalhos dos seus alunos para casa dos pais para lhes mostrar os resultados positivos dos filhos. Peça-lhes opiniões sobre os trabalhos que receberam e o que os filhos poderiam aprender a seguir. • Incentive as crianças a falar, em casa, sobre o que aprendem e use as informações nas suas aulas. Converse também com os pais sobre como o que as crianças aprendem nas aulas se relaciona com as suas vidas em casa. Por outras palavras, mostre-lhes como os seus conhecimentos das aulas podem ser usados, ou estão a ser usados em casa. • Organize visitas de estudo na comunidade ou peça às crianças para entrevistarem pais ou avós sobre a infância deles na comunidade e, em seguida, para escreverem histórias ou ensaios sobre “A vida da comunidade no Passado.” • Incentive os familiares a participar nas actividades da turma e convide especialistas da comunidade a partilhar os seus conhecimentos com a turma. Actividade prática: Entrar em Contacto com famílias e com as comunidades Comece por resumir como é que as famílias e as comunidades dos alunos estão empenhadas actualmente. Como foi o primeiro contacto com eles e em que medidas se empenharam na aprendizagem dos filhos? Olhe novamente para as diferentes maneiras mencionadas acima sobre como entrar em contacto com as familías e as comunidades. Escolha duas ou três (ou mais) destes diferentes métodos de proceder, anote-os, e para cada um deles aponte: • que materiais deveria preparar (se houver); • como entrará em contacto com a família ou com os membros da comunidade; • a data e a duração aproximada da actividade e outras datas importantes, como por exemplo ocasiões especiais. A seguir, veja se estes métodos podem se relacionam. Por exemplo, pode querer organizar um encontro no início do ano ou período lectivo. Nesta reunião, pode incentivar ou recrutar familiares como assistentes de turma e pedir à comunidade especialistas voluntários para falar de temas específicos com os alunos. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 12 Anote as datas de início e outras informações importantes e eventos na sua agenda para criar um simples “plano de envolvimento da família e da comunidade.” Manter contactos frequentes Informar os pais sobre os progressos dos filhos Enquanto professor num AIAA, temos de entrar em contacto com os pais regularmente para falar sobre os filhos. Devemos visitá-los em casa, mandar recados às crianças sobre o progresso que têm feito ou convidar os pais à escola. Consequentemente, é fundamental criar um ambiente acolhedor para todos os pais e membros da comunidade. Encontrar-se com os pais ou os tutores logo no início do ano é importante. Desta forma, os professores e os pais podem desenvolver um relacionamento e uma parceria para a aprendizagem das crianças. No entanto, se os pais pensam que as nossas visitas domiciliárias ou convites à escola apenas acontecem quando uma criança está a ser castigada, você terá de confirmar claramente no início da sua visita ou no convite aos pais que esta conversa será diferente. Diga-lhes que deseja saber mais acerca do filho para que possa ensinar de forma adequada. Diga-lhes também que deseja informá-los sobre as capacidades do filho para que possam ajudá-lo em casa e reforçar o que aprende na escola. Comunicação entre o Professor e Casa Nas escolas tailandesas amigas da criança, os pais e os membros da comunidade responderam a esta pergunta sobre uma forma de avaliação: “O que é mais importante para a nossa escola e porquê?” Um tema que foi mencionado como sendo de alta prioridade foi o da comunicação entre o professor e a casa. Disseram: “Os professores e pais de todos os alunos escolhem um período para ver o comportamento e a aprendizagem dos alunos. É importante pois pode resolver problemas entre os membros do Conselho Escolar, membros importantes da comunidade e a escola; aumenta o envio de informações e a comunicação da escola com a comunidade e os pais e os professores conseguem entender-se.” Hopkins J and Chaimuangdee K. (2000) School Self-Assessment: Participatory Learning and Action for Child-Friendly Schools. Chiang Mai, Thailand: The Life Skills Development Foundation, in collaboration with the UNICEF Office for Thailand, Bangkok. É importante informar os pais frequentemente do progresso das crianças na aprendizagem. Ou seja, usar métodos de avaliação que ajudem professores, alunos e pais a tomar conhecimento das competências que foram desenvolvidas pelas crianças em termos de alfabetização, capacidades ou aptidões aritméticas, competências para a vida e outros temas. Os pais têm de saber o que o seu filho assimilou e o que lhe falta aprender. Uma das formas de fazer isso criativamente é através dos gráficos codificados por cores que são Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 13 particularmente eficazes com os pais que não sabem ler. Por exemplo, no Gráfico 1 mencionado abaixo, uma cor corresponde às capacidades requeridas para o terceiro ano de Matemáticas. Gráfico 1. Gráfico codificado por cores do conteúdo e das tarefas do terceiro ano de Matemáticas (8 sobre 10 para proceder ao próximo nível) Nível • Valores monetários VERMELHO • Numeração escrita • Subtracções – números de um dígito; somas – números de um ou de dois dígitos • Cálculo mental (soma, subtracção) Laranja • Divisão – números de um dígito • Leitura de problemas matemáticos • Multiplicação Amarelo • Subtracções e somas de números de dois dígitos • Medidas (distância, volume) • Identificação dos números até 700 Verde • Subtracção e soma com reagrupamento • Subtrair um número de três dígitos por um número de dois dígitos • Identificar um número de três dígitos • Multiplicação – números de dois e de um dígito Azul • Divisão – números de dois e de um dígito • Leitura de problemas com palavras • Multiplicação – números de três e de um dígito Roxo • Medidas (distância, massa) • Leitura de problemas com palavras Adaptado de duPlessis J. (2003) Rainbow Charts and C-O-C-O-N-U-T-S: Teacher Development for Continuous Assessment in Malawi Classrooms. Washington, DC: American Institutes for Research. Usando o Gráfico 1, os “Gráficos Arco-Íris” codificados por cores são então efectuados para mostrar os progressos dos alunos e garantir que os professores, os alunos e os pais acompanhem juntos a aprendizagem das crianças. No Gráfico Arco-Íris (Gráfico 2), cada aluno tem um marcador “ícone feliz” com o seu nome. À medida que vão progredindo nas matemáticas, como indicado no gráfico codificado por cores, move-se o marcador para a cor que corresponde ao seu nível de competência. Se um professor vê que alguns dos alunos ficam num nível durante muito tempo, pode arranjar maneira de ajudá-los a aprender o que falta para passar para o próximo nível. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 14 VERMELHO LARANJA AMARELO VERDE AZUL ROXO Gráfico 2. Gráfico Arco-Íris do Progresso do Aluno Embora os professores usem o Gráfico Arco-Íris, uma lista de competências ou uma carta com um relatório de progressos para mandar para casa, é importante informar os pais sobre os progressos dos filhos para a criação e a manutenção da comunicação entre a escola e o lar. Informar os pais sobre um AIAA Ao falar com os pais ou com os tutores sobre a aprendizagem da criança, é importante explicar como a sua turma e a sua escola estão a tornar-se inclusivas e amigas da aprendizagem. Pode querer uma brochura da escola ou um documento assinado pelo director para ajudar a explicar o que está a tentar melhorar. Explique também que por “amigo da aprendizagem” entende-se que todos – professores, pais e membros da comunidade – ajudarão na aprendizagem das crianças e estarão a aprender com as crianças também. Pode mostrar-lhes alguns dos trabalhos efectuados pelos alunos e descrever o que fazem num ambiente centrado na criança e activo na aprendizagem, o que há de diferente da escola que os pais, os seus irmãos ou até filhos mais velhos frequentaram. Vai precisar de explicar cuidadosamente o que entende por “inclusivo”, como vimos no primeiro Manual de Apoio neste Guia de Ferramentas e use alguns dos casos de estudo como exemplos de uma aprendizagem inclusiva onde TODAS as crianças têm benefícios. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 15 Actividade prática: brincar com os preferidos Na reunião com os pais, terá provavelmente de ajudá-los a entender o que significa “incluir os excluídos.” Uma actividade valiosa para isso é “brincar com os preferidos”. Nesta actividade, prepare distintivos de duas cores diferentes – como vermelho e azul – para que as pessoas os prendam à roupa com fita ou com um alfinete. Cada pessoa tem de ter um distintivo, dando alguns vermelhos às mulheres e outros aos homens. Explique que nesta actividade alguns deles serão considerados como privilegiados enquanto outros serão considerados excluídos. Diga às pessoas com distintivos vermelhos para se sentarem no fundo da sala ou todos num só lado da sala. Depois, mantenha uma conversa agradável com as pessoas dos distintivos azuis. Ignore o grupo dos distintivos vermelhos; olhe severamente de vez em quando para ele e mande-o sentar-se calmamente, estar quieto ou diga-lhe para deixar de sorrir. Continue a conversar com o grupo dos distintivos azuis. Continue durante cinco a dez minutos. Até pode querer pedir a uma pessoa com distintivo azul para dizer ao grupo dos distintivos vermelhos para se acalmar No fim dos dez minutos, diga a todos para retirarem os distintivos e para se sentarem juntos outra vez. Faça as seguintes perguntas: • Como foi ter um distintivo azul? Como foi ter um distintivo vermelho? Se tinha um distintivo vermelho, queria ter tido um distintivo azul? Poderia fazer alguma coisa para ter um distintivo azul? O que significa ser excluído? Quem fez a exclusão? Quais foram (ou podem ter sido) os mais vulneráveis? Relembre que os que costumam ser excluídos (como as pessoas com deficiências físicas) podem sentir-se envergonhados ou castigados por terem um filho com deficiência; estão a ser duplamente excluídos. Além disso, as mais vulneráveis são as crianças pobres com deficiências, provenientes de um grupo minoritário com deficiências, e que não falam a língua dominante e, em particular, as meninas. Estas crianças podem ser excluídas por várias razões ao mesmo tempo (por exemplo, por serem pobres, por fazer parte de uma minoria de meninas com deficiência que não conseguem perceber o que se diz nas aulas). Estas são as crianças que procuramos para incluir no nosso AIAA. Agora aplique as aulas acima para explicar melhor o que entendemos por “inclusivo” e “amigo da aprendizagem.” Fale dos benefícios de “amigo da aprendizagem” e como “um ambiente inclusivo e amigo da aprendizagem” pode ser criado através de parcerias entre professores e pais. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 16 IDEIA: Esta actividade pode também ser usada para ajudar as crianças a perceberem o significado de “excluído” e a importância em valorizar a variedade de origens e de capacidades. Informar a comunidade sobre um AIAA Para além de falar com os pais, alguns professores podem trabalhar com o director e com as equipas de escolas AIAA ou o grupo de coordenação para explicar o desenvolvimento de um AIAA a grupos maiores incluindo os membros da comunidade. Se for uma destas pessoas, eis algumas formas de explicar um AIAA que inclui o seguinte. 1. Informações impressas. Distribua brochuras da escola ou boletins informativos. Convide jornalistas de jornais locais para visitar a escola e incentive a imprensa local a escrever sobre os AIAA. Mostre aos jornalistas os benefícios de uma escola AIAA e explique o plano escolar para proporcionar uma educação de qualidade para todas as crianças. 2. Anúncios de Rádio e TV onde as escolas usam a rádio e a televisão para mostrar e dizer aos pais as razões para escolarizar os filhos. 3. Reuniões de grupos ou comunitárias. Pense em organizar um workshop de um a três dias ou sessões de formação. Estas sessões ajudam muito na apresentação da escola a novas pessoas, especialmente a famílias cujos filhos não frequentam a escola. As sessões podem explicar a missão da escola em dar educação a todas as crianças e falar do ambiente participativo, activo e amigo da aprendizagem da escola. Também é importante ouvir e responder às preocupações e perguntas dos pais durante esta primeira reunião e nas reuniões seguintes, assim como obter as opiniões deles sobre como a educação de qualidade pode ser melhorada na escola. 4. Envolver os serviços sociais. Uma vez que os serviços sociais podem estar envolvidos na escola à medida que esta se torna mais inclusiva, mantenha o contacto com eles como uma das estratégias mais importantes. Podem proporcionar-lhe recursos essenciais e ajudar a proteger os direitos das crianças. 5. Relacione-se (trabalho em rede) com outras escolas. Em alguns países, um mínimo de três escolas trabalha em conjunto a fim de se inter-ajudarem no caminho da inclusão. Os professores partilham ideias sobre novos métodos de ensino que estão a utilizar ou sobre formas de interessar os membros da comunidade nas salas de aulas. Estas escolas fazem workshops para actualizar o conhecimento dos professores. Organizam, juntas, eventos comunitários a fim de reunir todas as crianças na escola ou organizam visitas de estudos para que as crianças possam aprender com outras comunidades que não a sua. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 17 Motivar o apoio para um AIAA Pais Defensores Pais defensores da mudança. Em algumas comunidades, os próprios pais serão os defensores de um AIAA a nível escolar, mesmo antes dos professores e dos directores. Numa província do Norte da Papua Nova Guine, por exemplo, alguns pais exigiram a escolarização dos filhos na língua nativa. O governo provincial colaborou com a universidade e com uma organização não-governamental para proporcionar uma educação de baixo custo na língua nativa das crianças. Nas escolas BRAC do Bangladesh, algumas mães pediram uma educação básica para os filhos que tinham sido excluídos da escola devido ao custo elevado e à distância. Pais resistentes à mudança. Noutras comunidades, alguns pais podem opor-se à mudança. Alguns pais, reflectindo os valores da sociedade, podem não querer que crianças diferentes das suas frequentem a escola com elas. Estas pessoas deveriam de ser alvo das actividades de defesa debatidas abaixo. Pais como voluntários na mudança. Noutras comunidades, os pais podem empenhar-se de forma voluntaria na escola – se lhes pedir e explicar o que é um AIAA. Se os pais não participaram tradicionalmente na educação dos filhos, terão de ser convidados, bem recebidos e novamente convidados. Estratégias de Defesa A defesa implica educação, publicidade, a obtenção de ajudas e de outras pessoas para passar a mensagem. Como podem os pais e os membros da comunidade tornar-se defensores de um AIAA? 1. Incentivar os pais a falar com outros sobre a sua escola AIAA. Os pais defensores podem querer usar algumas das informações que você utilizou para explicar-lhes o significado de AIAA, como por exemplo brochuras, boletins informativos ou trabalhos efectuados por alunos. Podem ser especialmente convincentes na conversa com os pais que se opõem à mudança, explicando-lhes o valor da diversidade na escola e na turma através de experiências próprias ou as de outras pessoas e convencendo-os de que a educação de qualidade vem primeiro numa escola AIAA. 2. Envolver pais na turma para ajudar crianças tradicionalmente excluídas. À medida que os pais vêem que são bem-vindos na escola e na sua turma, podem voluntariar-se para aparecerem mais vezes e ajudá-lo. Se não for caso disso, organize tarefas para os pais e os membros da comunidade e convide-os a ajudá-lo. Por exemplo, pais e membros da comunidade podem ser voluntários no ensino da Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 18 língua ou a ajudar alunos com deficiências. Podem ler para as crianças ou ouvir as crianças a lerem. Podem também supervisionar actividades de grupo e deixar o professor trabalhar com cada criança ou em pequenos grupos que precisam de mais atenção. Veremos outras formas de envolver os pais e os membros da comunidade na ferramenta seguinte. 3. Envolver os pais nas actividades de procura de crianças tradicionalmente excluídas da escola. Por exemplo, organize uma feira de inscrições escolares na escola antes do início do ano lectivo para atrair todas as famílias da comunidade a servir e inscrever então todas as crianças na escola. Os comerciantes locais e as empresas podem querer contribuir com prendinhas para uma lotaria e pais e professores podem doar alimentos nutritivos e organizar jogos. Até podem dançar e cantar. Todas as actividades concentram-se na importância de uma educação de qualidade e como a escola e a comunidade podem trabalhar juntas para educar as crianças. Uma feira de inscrições escolares na Guatemala que tinha palhaços, alimentos nutritivos, jogos, sorteios, conseguiu obter tantas inscrições que a escola não pôde receber todos os novos alunos e teve de começar a fazer plantas para construir uma nova escola! Pode encontrar muitas outras ideias para envolver os pais e as comunidades nas actividades de procura de crianças no Manual de Apoio deste Guia de Ferramentas sobre como conseguir ter todas as crianças na escola e na aprendizagem! 4. Relacionar comunidades de gestão escolar com AIAA. Associações de pais e professores (APP) ou Grupos de Gestão Escolar (GGE) são maneiras de envolver os pais num relacionamento com as escolas a longo prazo. Ajudam a proporcionar supervisionamento no local, assim como a melhorar a qualidade e a responsabilidade. Grupos de Educação Rural O Programa de Apoio da Comunidade no estado paquistanês de Baluchistão apoiou o estabelecimento de grupos de educação rural de mulheres. Hoje em dia, contamos com mais de 1000 grupos deste género, cada um com cinco membros, modelados de acordo com os grupos de educação dos homens. Tem sido difícil integrar os sexos num só grupo nas áreas conservadoras; no entanto, as mulheres mostraram-se mais presentes e mais participativas nas actividades em todas as escolas de meninas. Para mais informação sobre este programa, visite http://www.worldbank.org e pesquise “Balochistan”. 5. Alcance através de visitas domiciliárias. Entrar em contacto com famílias cujas crianças foram tradicionalmente excluídas não é tarefa fácil. Existe uma forma de explicar o que é um AIAA: a escola pede a alguém de um grupo tradicionalmente excluído, como por exemplo uma pessoa com deficiência ou oriunda de uma minoria Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 19 étnica, para ser uma pessoa ao alcance da escola. Uma reunião de grupo com esta pessoa ou visitas domiciliárias individuais podem ser eficazes para explicar a abordagem da escola ao AIAA. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 20 Ferramenta 2.3 A COMUNIDADE E O CURRÍCULO A comunidade na turma As contribuiçoes práticas por parte dos pais e das comunidades são importantes para o desenvolvimento de um AIAA. As contribuiçoes financeiras e em espécie são formas concretas pelas quais os pais podem ajudar na aprendizagem dos filhos. Por exemplo, as organizaçoes comunitárias, as associações de pais e os grupos de gestão escolar contribuem, muitas vezes, para melhorar as instalações da escola. Isto é muito importante, especialmente para as escolas que possam ter barreiras físicas que impedem as crianças com deficiências de entrar no edifício. Se houver escadas, os membros da comunidade podem ajudar a colocar rampas em vez de escadas. Em vários países, as organizações comunitárias são também activas na melhoria do abastecimento das águas e o saneamento. Se não houver sanitas separadas para as meninas, constroem-nas. Os pais de uma comunidade Malawi souberam que os professores não tinham um sítio seguro para guardar os materiais escolares que desenvolveram para incentivar a participação dos alunos. Por isso, a comunidade comprou portas para as salas de aulas da escola e para o escritório do director. Os pais desta comunidade, mais 20 outras comunidades no mesmo distrito, começaram a fornecer caixas usadas, sapatos de borracha e outros materiais para que os professores pudessem fabricar materiais pedagógicos e utilizá-los com os alunos nas aulas de alfabetização e de matemáticas. Houve um professor que reparou que esta experiência da contribuição parental para com as escolas a nível curricular contribui também para o aumento da conclusão e do sucesso escolar dos alunos. Miske SJ. (2003) Proud Pioneers: Improving Teaching and Learning in Malawi through Continuous Assessment. Washington, DC: American Institutes for Research. Nas Filipinas, um educador contou que se esforçaram muito em fazer com que os pais se sentissem parte da escola e os alunos como parte da comunidade. Os pais ajudaram a construir um centro de recursos que alberga os 100 livros da biblioteca doados pela UNICEF, enquanto os materiais escolares foram fabricados pelos professores e pelos alunos ou doados pela ONG. Os alunos também fabricaram móveis e acessórios, como por exemplo prateleiras para o centro de recursos. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 21 Feny de los Angeles-Bautista with Marissa J. Pascual, Marjorie S. Javier, Lillian Mercado-Carreon and Cristina H. Abad. (2001). Reinventing Philippine Education: Building Schools Filipino Children Deserve. The Ford Foundation, Manila. Notámos na última Ferramenta que uma maneira de envolver directamente os pais (mães e pais) é convidá-los a visitar a sala de aulas. Existem várias formas pelas quais os pais, os avós e os tutores podem contribuir na educação, o que favorecerá a natureza do AIAA na turma. Temos aqui algumas ideias. • Os pais ou outros familiares podem voluntariar-se para ajudar os professores nas actividades de turma, como a leitura ou a preparação dos materiais escolares, ajudar nas actividades extra-curriculares como o desporto ou as visitas de estudo, ou organizar actividades especiais como os festivais. • Os pais podem ser oradores convidados que partilham informações sobre o trabalho que fazem e sobre o mundo do trabalho. Podem falar sobre como a educação contribui para as competências profissionais. Os pais que não sabem nem ler nem escrever podem falar da história da comunidade, partilhar histórias populares ou demonstrar como fazer artesanato tradicional. • Podem contribuir e participar nas reuniões de Associações de Pais e outras reuniões escolares para estarem informados, assim como participar em eventos especiais da turma. Neste tipo de eventos, podem conhecer os professores dos filhos, ficar a saber mais sobre o currículo e como contribuir nas actividades. • Podem doar materiais necessários à escola ou ajudar a encontrar contribuições financeiras para responder às necessidades da escola e da turma. • Podem conhecer outros pais de crianças que não frequentam a escola, ou que estão a pensar em desistir, para incentivá-los a completar a educação dos filhos. • Podem reunir esforços para manter as escolas dos filhos ou centros de assistência infantil seguros e limpos. • Podem ajudar a escola a organizar um Dia de Escola Aberta. Nesse dia, os pais, os membros da comunidade e os funcionários são convidados à escola. Apresenta-se o trabalho representativo de TODOS os alunos juntamente com os novos materiais escolares; os professores demonstram as suas novas competências de avaliação e de ensino; e os alunos de habilidades e de origens diferentes demonstram o que aprenderam. • Os pais e os membros da comunidade podem ajudar a avaliar a concretização da aprendizagem das crianças. Podem dar notas aos trabalhos de casa dos alunos e dar então entrada na aprendizagem dos filhos. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 22 • Alguns pais licenciados e dedicados podem servir de modelos, especialmente os de origens e capacidades diferentes. Organize um dia das profissões por ano. Convide estes homens e mulheres a falar das suas profissões e informar como as meninas e os rapazes podem preparar-se para estas profissões. Modelo feminino Nas escolas onde não há professoras, as mulheres da comunidade podem contribuir nos programas modelos. Pais ou outros parentes dos alunos, assim como religiosos, artistas, atletas ou políticos da comunidade estão geralmente dispostas a contribuir com a escola ou a turma para tentar dar exemplos positivos sobre meninas. Se as mulheres da localidade estão disponíveis para o fazer, faça com que venham várias vezes durante o ano lectivo. Peça-lhes para falar sobre como trabalharam com homens e mulheres, como a equidade de géneros afectou as suas escolhas, sucessos e fracassos. Além dos discursos, as demonstrações dos seus trabalhos e as reuniões com alunos individuais, podem ajudar a orientar e a comentar os papéis desempenhados com os alunos. Tente que uma professora ou a um grupo de alunas que conseguiram chegar ao 6º ano ou ao 11º ano com sucesso visitem escolas rurais onde as meninas desistem habitualmente no 5º ano ou mais cedo. Todas as meninas deveriam de se reunir para conversar sobre as suas necessidades para continuar a aprender e ser boas alunas. Faça com que as professoras que estão a visitar e meninas mais velhas se encontrem com as meninas e os pais para discutir formas de ajudar as meninas a ficarem na escola e a completar a educação. The Gender-Fair Teacher (2003) UNICEF/Eritrea A turma e a comunidade Para além de convidar os pais e os membros da comunidade para uma escola AIAA, um currículo importante requer que as crianças estejam na comunidade, aprendendo tanto quanto puderem sobre vários temas. Por exemplo: • Os alunos podem encontrar artigos ou obter informações em casa ou sobre a comunidade que se relacione com uma aula na escola. • Os alunos podem entrevistar os pais ou os avós sobre a infância que tiveram. • Podem encontrar plantas ou outros materiais relacionados com uma aula. • Podem trazer materiais (como papelão usado) para que os professores os possam usar, assim como fabricar materiais pedagógicos e de aprendizagem. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 23 • Os alunos podem participar na remodelação da sala de aulas ou avaliar e melhorar a escola para serem mais “amigas da aprendizagem” (especialmente para as crianças com deficiências), seguras (reduzir os conflitos) e sensíveis ao género. Melhorar a escola pode também levar a organizar mais aulas ao ar livre.3 • Os alunos podem cartografar a comunidade e ajudar a encontrar crianças que não frequentam a escola, mas que deveriam. • Os alunos podem participar nas actividades de serviço da comunidade. No projecto CHILD, na Tailândia, as crianças voluntariavam-se com frequência para limpar as casas de pessoas idosas que viviam sozinhas. Ao fim do dia, partilhavam a refeição e a pessoa idosa falava da história e da cultura da comunidade. Apesar das diferenças de idade, todos desenvolviam relações próximas e melhores práticas ao nível dos cuidados. Além disso, as crianças também trabalhavam para manter as estradas e os caminhos limpos para evitar acidentes.4 Actividades da turma centradas na comunidade. Existem outras formas para que os alunos possam aprender a partir da comunidade e partilhar as actividades desta última. Por exemplo, no norte da Tailândia, um grupo de cinco alunos do quinto ano estudaram, ao longo do ano, o ambiente da comunidade em que viviam para a aula de ciência. Documentaram sinais de desflorestação e entrevistaram membros da comunidade sobre a história da floresta na comunidade. Também discutiram maneiras de plantar árvores na comunidade. No fim do ano, os alunos apresentaram o estudo realizado a todos os pais. Estes pais aprenderam realmente sobre a comunidade graças aos alunos! Ficaram impressionados com o que os alunos aprenderam e a forma como apresentaram as informações. Pais e alunos juntaram-se para encontrar soluções para os problemas ambientais na comunidade. Participação dos alunos em reuniões. Os alunos podem também alargar as suas experiências do mundo real assistindo e participando em reuniões de pais, reuniões da comunidade ou outros eventos cívicos. Você pode pôr em cena as reuniões, com antecedência, com os alunos na sala de aulas e praticar quando os alunos desejam participar e como. Os alunos organizam actividades e projectos a partir das aulas que lhes são dadas e mostram-nas numa feira escolar ou então um grupinho de alunos pode apresentar uma peça dramática, uma música ou um poema. Neste tipo de actividades, os alunos explicam aos pais 3 UNICEF. Children as Community Researchers. http://www.unicef.org/teachers 4 Para mais ideias sobre a participação dos alunos, veja http://www,inmu.mahidol.ac.th/CHILD Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 24 ou as tutores o que aprendem. Isto melhora a comunicação entre a escola e os pais e reforça o que a criança tem vindo a aprender. Para preparar uma reunião de pais sobre a aprendizagem do aluno, é preciso dar especial atenção à língua ou às línguas que as pessoas vão usar na reunião. Os alunos e os professores decidem como vão comunicar com os pais que não falam a língua comum ou que têm problemas auditivos. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 25 Ferramenta 2.4 O QUE VIMOS NESTE MANUAL DE APOIO? Este Manual de Apoio mostrou-lhe várias ferramentas que pode usar para fazer com que os pais e as comunidades contribuam para um AIAA. Pode completar as seguintes actividades? 1. Faça uma lista das responsabilidades dos professores de um AIAA relacionando com a comunidade 2. Como é que fala com os pais sobre as capacidades de aprendizagem dos filhos? 3. Liste duas maneiras pelas quais os pais podem ajudar a incluir crianças tradicionalmente excluídas (a) na escola e (b) fora da escola. 4. Nomeie várias formas da comunidade poder entrar na sala de aulas. 5. Liste várias maneiras de como os alunos podem contribuir mais na comunidade ou ao usar materiais de casa ou da comunidade. Envolver a comunidade é fundamental para o êxito de um AIAA. Existem várias maneiras de poder preparar o empenho dos alunos em aprender na comunidade e com o ambiente local. Existem também várias maneiras de os professores poderem trabalhar com os pais ou tutores de alunos para informar sobre o AIAA e incentivá-los a tornarem-se defensores da escola na comunidade. Este Manual de Apoio enumerou várias ideias para isso. Agora pergunte-se: “O que posso fazer para começar a trabalhar mais estreitamente com as famílias e as comunidades dos alunos?” Alcance três objectivos pessoais, compare-os e debata-os com os seus colegas, alunos e famílias. Uma ou duas semanas depois, veja como as coisas estão a correr e que próximas acções pode tomar. Colaborar com as famílias e com as comunidades para criar um AIAA - 26 MAIS LEITURAS As seguintes publicações e os Websites também são valiosos recursos para incentivar relacionamentos mais próximos entre escola, família e comunidade. Publicações Bureau of Elementary Education, Department of Education, Culture and Sports in cooperation with UNICEF Philippines (1994) The Multigrade Teacher’s Handbook, Manila. duPlessis J. (2003) Rainbow Charts and C-O-C-O-N-U-T-S: Teacher Development for Continuous Assessment in Malawi Classrooms. Washington, DC: American Institutes for Research. Miske SJ. (2003) Proud Pioneers: Improving Teaching and Learning in Malawi through Continuous Assessment. Washington, DC: American Institutes for Research. Rugh A and Bossert H. (1998) Involving communities: Participation in the delivery of education programs. Washington, DC: Creative Associates International, Inc. The Gender-Fair Teacher (2003) UNICEF/Eritrea. Websites Children as Community Researchers. Trata-se de uma excelente publicação para promover a aprendizagem das crianças através da comunidade. Pode descarregá-lo em: http://www.unicef.org/teachers/researchers/index.html or http://www.unicef.org/teachers/researchers/childresearch.pdf Children’s Integrated Learning and Development Project. http://www.inmu.mahidol.ac.th/CHILD Community School Alliances. http://www.edc.org/CSA Supporting Home-School Collaboration by Sandra L. Christenson. http://www.cyfc.umn.edu/schoolage/resources/supporting.html UNICEF Teachers Talking about Learning. http://www.unicef.org/teachers/environment/commun.htm. Trata-se de um excelente website que dá informações sobre: a aprendizagem e a comunidade; os professores e as comunidades, empenho das famílias na aprendizagem; as comunidades ajudam as escolas; vida da comunidade, e sugestões para melhorar as escolas.