ESCOLAS: RELAÇÕES DE PODER X PRÁTICAS EDUCATIVAS ARAÚJO, Héllida Alcântara – UFPB [email protected] Eixo Temático: Políticas Públicas e Gestão da Educação Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo O artigo foi motivado pelas experiências enquanto Supervisora Escolar num pequeno município localizado no cariri paraibano. Trago reflexões, anseios, inquietações e contribuições referentes as relações de poder que se estabelecem no interior dessas escolas de modo a discutir até que ponto repercutem na prática educativa daqueles que estão mergulhados no espaço escolar e diretamente ligados com o processo educativo, como diretores, coordenadores e professores. Foi percebido que a Secretaria Municipal de Educação é comprometida com o funcionamento das instituições escolares da cidade, porém, na maioria das vezes, se insere abusivamente nas decisões da escola, o que isenta e reprime diretores, coordenadores e professores a assumirem suas posições enquanto agentes educativos que estão de fato presentes no cotidiano escolar. Referente a questão da aprovação e reprovação final dos alunos, os professores sentem que são retiradas de si a autonomia e liberdade de avaliá-los; os encontros pedagógicos que deveriam ser o momento onde todos se reunissem para estudar e refletir as suas práticas, discutir as dificuldades na escola e na sala de aula e buscar soluções, acaba sendo um espaço em que as instâncias superiores debatem assuntos burocráticos e políticos desnecessários. Outro aspecto é a construção do Projeto Político Pedagógico. As escolas rurais não o possuem, e a da urbana não foi construído pelos sujeitos que as compõe, o que reforça a idéia de uma realidade, cujo trabalho não tem a participação de todos, mas de uma pequena minoria que pensa e impõe para que outros executem. Diretores e coordenadores contratados se inserem no jogo político e outros são pressionados solicitando destituição do cargo, fatores estes que interferem nas práticas educativas e na aprendizagem dos alunos. Conforme teóricos estudados, é preciso que a escola desenvolva os princípios educativos autonomia, participação e diálogo para construir uma nova escola e repensar seu próprio caminho. Palavras-Chave: Relações de poder. Práticas educativas. Autonomia. Participação Introdução A descrição deste relato foi motivada pelas experiências vivenciadas enquanto Supervisora Escolar num pequeno município localizado no cariri paraibano de nome fictício Sansaruê. A partir da minha vivência nas instituições escolares dessa cidade, trago reflexões, 5794 anseios, inquietações e contribuições referentes as relações de poder que se estabelecem no interior dessas escolas de modo a discutir até que ponto estas relações repercutem na prática educativa daqueles que estão mergulhados no espaço escolar. No âmbito escolar, apesar das atribuições apontadas para diretores, coordenadores pedagógicos e professores, sujeitos alvos nessa discussão, será que estas tarefas concedidas a cada um são realizadas com liberdade e autonomia? Muitas decisões são tomadas sem a colaboração dos mesmos, restringindo-se, por vezes, a Secretaria Municipal de Educação, de modo a chegarem prontas e acabadas para os agentes educativos? A própria Secretaria Municipal de Educação junto a direção e a coordenação paralisam o pensamento dos professores coibindo-os de assumirem autonomamente suas práticas? Há dificuldades no consenso e o autoritarismo se exerce entre estas classes? Estes são questionamentos que versam o presente trabalho que são de fundamental importância para a discussão, reflexão e mudanças de atitudes para nós que estamos inseridos na educação escolar, preocupados com uma escola de qualidade e responsáveis pelo sucesso do aluno em suas atividades escolares. Desenvolvimento A começar, é importante traçarmos o perfil da educação e das escolas de Sansaruê em virtude de nos situarmos na realidade local. No que se refere à educação desse município, têm-se consideráveis investimentos que estão disponíveis a toda comunidade distribuídos em espaços pedagógicos como a brinquedoteca e a biblioteca, atividades culturais que abrangem aulas de dança, capoeira, música e peças teatrais, órgãos públicos de apoio como os conselhos tutelar, escolar e de merenda e um suporte da assistência social e do psicólogo. A cidade abrange cinco escolas públicas municipais, sendo 04 rurais e 01 urbana. As modalidades de ensino oferecidas são Educação Infantil, Fundamental I e II e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Todos os professores que lecionam o Ensino Infantil, Fundamental I e EJA residem na cidade, já os que ensinam o Fundamental II advêm de outros municípios, o que muitas vezes traz obstáculos para a realização das aulas, pois quando há dificuldades de acesso à cidade por falta de transporte para os professores os alunos ficam sem aula. Assim acontece com os automóveis que transportam os alunos que residem na área rural e estudam na escola urbana, algumas vezes perdem aula por esse motivo também. Quanto à estrutura física, a escola urbana contém excelente parque com brinquedos diversos, cantina ampla, salas de aula cômodas, salas para a diretoria, a secretaria e 5795 professores, biblioteca com um expressivo número de livros e de boa qualidade, telecentro onde alunos e comunidade têm aulas de informática, centro educacional, aonde acontecem as reuniões de pais, os eventos da escola e da cidade e uma área extensa de corredores e pátios. Já as escolas rurais não apresentam toda essa estrutura física, resumindo-se em duas salas, um banheiro e uma cozinha, o que não impossibilita de alunos e professores do meio rural usufruírem dos elementos que há na escola urbana. Estas escolas se organizam em termos administrativos e pedagógicos. A direção tem a função de conhecer e resolver os problemas inclusive entre professores e alunos como também dirigir os demais funcionários responsáveis por tudo que acontece nas escolas rurais e urbana; a Coordenação Pedagógica (supervisão e orientação escolar) tem a função de acompanhar os professores e mediar o trabalho destes com seus alunos; os professores, o papel de educar e ensinar seus conhecimentos atendendo as necessidades de seus alunos; os secretários, fazem o trabalho burocrático da secretaria da escola e os Auxiliares de Serviços Gerais, que organizam a limpeza. A Secretaria Municipal de Educação desse município é comprometida com o funcionamento das instituições escolares da cidade, sempre preocupada em investir na estrutura física, na formação dos professores, em trazer inovações e em obter um ensino de qualidade, apesar de se preocupar muito com o elemento ‘’quantidade de aluno’’, devido às demandas advindas dos órgãos públicos acima da secretaria que repassam recursos financeiros a partir do número de alunos matriculados nas escolas, o que não vem a ser um grande problema na educação da cidade, mas que interfere de certa forma nas práticas educativas dos agentes das escolas que vamos debater mais adiante. Porém, há outro lado da Secretaria Municipal de Educação no âmbito escolar que é a sua forte presença nas decisões burocráticas e pedagógicas das escolas tornando-se muitas vezes o alvo para discursos e práticas políticas. Sabe-se, que é por meio da educação que se recriam os valores, as atitudes e oportuniza os conhecimentos. A escola é um dos espaços privilegiados no qual são elaborados os meios para desenvolver tais competências e imprescindível para o desenvolvimento profissional e pessoal dos sujeitos. Possibilita o diálogo, a reflexão, fomenta a dignidade, a relação do indivíduo com o seu semelhante, sem eliminar a sua individualidade, contribui na mudança de atitudes para a prática de emancipação humana e cidadã. Seu papel é extrair, 5796 fazer crescer, desenvolver toda potencialidade do sujeito, oportunizando-o a ser partícipe da criação e atuar sobre o ambiente que se encontra inserido. Na óptica de Moacir Gadotti (2004), a escola cidadã e democrática é aquela que há a participação da comunidade escolar nas decisões, autonomia dos professores, a independência da direção e coordenação, respeito ao aluno, aos seus saberes e culturas, espaço de diálogo, de lutas e reivindicações. Porém, torna-se difícil a idéia de construir uma escola nesta perspectiva, onde se prevalece a cultura de dominação, em que é tomada de professores, diretores e coordenadores o direito de pensar, criar e construir uma escola de acordo com as necessidades do povo. Lamentavelmente são esmagados, alienados e convertidos em espectadores pelas forças políticas, o que para Freire, os sujeitos, na maioria das vezes, sentem-se incapazes de pensar e de transformar a realidade, levando-os cada vez mais à passividade. Na obra “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire tece uma discussão relacionando opressor e oprimido. Faz-nos refletir um elemento básico quando vem nos dizer da imposição de uma consciência a outra que aliena o sujeito, em que o opressor mantém com o oprimido uma relação de dominação e controle, cujo primeiro insere sobre o segundo suas vontades, suas razões, seus interesses, roubando-lhe o direito de pensar, de ter suas próprias opiniões, de inserir-se no mundo para transformá-lo. Nesse processo de dominação do opressor e submissão do oprimido, o segundo tem sua consciência serviçal que vive o ''ser do outro'' e não o ''ser de si mesmo'', de modo a pensar o que o outro pensa e não o que ele mesmo pensa. As suas vontades, desejos, sonhos, opiniões, criatividades e pensamentos são engolidos por esta opressão. É o que acontece no interior de nossas escolas inclusive as de Sansaruê. Os sujeitos que a compõem se submetem aos mandos e desmandos do seu ''superior'' por medo ou falta de espaço de assumir sua autoria no processo educativo, preferindo adotar o papel de espectadores e calar-se, o que vem a reprimi-los, castrá-los, interferindo no seu poder de criar, recriar, transformar e construir uma nova escola. Como pode uma escola com todo o seu compromisso social, cultural, educacional e profissional admitir em seu interior essa relação? O professor se torna oprimido frente aos que impõem verticalmente, mas se torna opressor frente aos seus alunos que neste quadro tornam-se os oprimidos. Já a direção e a coordenação se sobrepõem aos professores, e a Secretaria Municipal de Educação se justapõe aos diretores, coordenadores e professores, cujo estes três últimos, vítimas desse sistema esmagador de 5797 consciências críticas, que coptam todos os seus direitos de planejar, pensar e criar, tornandose apenas meros executores de uma política hegemônica. No que se refere a relação professor-aluno a educação vigente é aquela explicitada por Paulo Freire (2005), a ‘’bancária’’, onde os educadores são narradores que monologam e os alunos ouvintes que se transformam em vasilhas cheias de informações desconectadas da realidade, que reprimem a criatividade, o pensamento crítico, o poder de argumentação e o ato de transformar a realidade. Nesta perspectiva de educação, o professor é quem detém o saber, enquanto o aluno será sempre o que não sabe. O educador é aquele que ensina com autoritarismo, que pensa e sabe sozinho, que determina os conteúdos programáticos que lhes já são impostos, enquanto os alunos são aqueles que escutam docilmente, encarados como meros objetos e não tem a liberdade de fazer parte da construção do processo educativo que ele mesmo está inserido. Embora, na maioria das vezes o aluno seja o oprimido e o professor o opressor, é fundamental discutir que o professor também é vítima desse sistema esmagador de consciências. É muitas vezes, submetido às imposições das instâncias hierárquicas – Secretaria Municipal de Educação, Direção e Coordenação - tornando-se mero executor de atividades que lhes são pensadas e impostas, que engole os seus pensamentos, a sua criticidade, a sua autonomia no pensar, no criar e no agir. Ainda nessa ‘’cadeia alimentar’’ de esmagação de consciências, cujos sujeitos vão, sucessivamente, em seqüência uns servindo de ‘’alimento’’ a outros, ou seja, impondo ao outro a sua consciência e seu modo de pensar e querer, pode-se dizer que a direção e a coordenação acabam também sendo vítimas desse processo, pois sofre com esse autoritarismo que vem de cima, imposto pela Secretaria Municipal de Educação. Há professores, das escolas de Sansaruê que se ressentem com as normas que são determinadas pela Secretaria Municipal de Educação. Afirmam que esta se insere com muita freqüência nas decisões da escola, o que isenta e reprime os demais (direção, coordenação e professores) a assumirem suas posições enquanto agentes educativos que estão, de fato, presentes no dia a dia escolar. À exemplo, temos uma situação mínima, porém fundamental que é a questão da aprovação e reprovação do alunos desse município. No processo de avaliação final, os professores sentem que são retiradas de si a autonomia e liberdade de avaliar seu próprio aluno, pois o que acontece é que em alguns casos há influências das instâncias superiores ao aprovar o aluno de uma série para a outra mesmo sabendo que este 5798 não se encontra apto para a série posterior. Esse fato ocorre devido a questões políticas, pois quando os alunos são reprovados, estes juntos com os pais não aceitam e ameaçam migrar da escola municipal para a estadual, o que preocupa a secretaria de educação que ao perder alunos também sofre perda de recursos financeiros, então a opção é aprová-los mesmo em condições inaptas para não perdê-los. Mediante esse fato, vê-se a falta de posição da direção e coordenação e a ausência da autonomia dos professores na avaliação do alunado. Outros elementos essenciais a serem expostos são os encontros pedagógicos e o Projeto Político Pedagógico. Estes encontros, que acontecem mensalmente com todos os professores das escolas, rurais e urbana, deveriam ser o momento onde todos os professores e também diretores e coordenadores se reunissem para estudar e refletir, no coletivo, as suas práticas a partir do Projeto Político Pedagógico, discutir as dificuldades na escola e em sala de aula, e buscar soluções a partir das dificuldades pedagógicas vivenciadas no cotidiano. No entanto, acaba sendo um espaço limitado para tais discussões já que sempre tem que haver um momento longo para a Secretaria de Educação debater assuntos burocráticos e desnecessários diante de outros aspectos pedagógicos mais relevantes que deveriam ser abordados com mais veemência. Outro aspecto que identificamos é referente a construção do Projeto PolíticoPedagógico. As escolas rurais não o possuem, regendo-se pelo próprio projeto da escola urbana, elemento este preocupante em virtude da realidade rural ter suas peculiaridades diferentes da urbana. Já o PPP da escola urbana não foi construído pelos sujeitos que as compõem, tendo sido elaborado pela Secretaria Municipal de Educação junto a duas professoras da universidade que foram convidadas, o que reforça a idéia de uma realidade escolar, cujo trabalho não tem a participação de todos, mas de uma pequena minoria que pensa e impõe para que outros executem. Nesse mesmo município alguns coordenadores contratados, por não mergulharem nas questões políticas partidárias da cidade se sentem pressionados diante da situação e acabam cumprindo as normas que lhes são estabelecidas de cima para baixo, o que resulta em levar decisões prontas e acabadas para os professores. Esse fato desmotiva a coordenação que termina solicitando destituição do cargo por não suportar as pressões políticas. Há também, outros coordenadores que ao se inserir no âmbito escolar de Sansaruê, ingressaram no jogo político da cidade e participaram de discursos em palanques, expondo seus pensamentos e opiniões contra as forças atuais que estão no poder, o que veio a prejudicar o seu trabalho na escola, pois acabaram sendo demitidos. Estas realidades apontadas acima, vem interferir 5799 inclusive na prática educativa dos professores, que segundo eles, se sentem invasivos quando as normas lhes determinadas e findadas, como também é complicado desenvolver um trabalho em conjunto com direção que além de estar também presa a questões políticas partidárias, muda-se a cada ano de coordenação, o que inviabiliza o trabalho dos professores e a aprendizagem dos alunos que precisam a cada dia se habituarem as novas metodologias de coordenação e recomeçar sem antes concluir um trabalho já iniciado pelos anteriores. Diante do exposto, percebe-se o quanto é preciso que os sujeitos inseridos nas escolas demonstrem voz e participação, se expressem livremente, pois é como dizia Paulo Freire (2004, p.90), ''não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão'' e isso não pode ser privilégio de alguns, mas direito de todos, o que nos faz desejar uma educação que ver o homem não como objeto, mas respeite a sua ‘’ontológica vocação de ser sujeito’’. Inserirem-se na escola não mais como espectadores, mas como autores partícipes do processo educativo. Em cidades de pequeno porte, como a que estamos relatando, a ideologia política partidária é predominante. A direção, coordenação e o professorado, na maioria das vezes não participam das decisões que são tomadas na escola, não se sentem atores do processo educativo, não constroem em conjunto a identidade de sua escola, o espaço é bastante limitado para se pensar no tipo de sujeito que quer formar ou pelo menos que tipo de sujeitos fazem parte dessa comunidade escolar. A organização e a gestão das escolas devem ir além de questões burocráticas e administrativas. Segundo Libâneo, elas são entendidas como dimensões educativas que interferem nas práticas dos sujeitos, pois passam valores, idéias e modos de agir que influenciam as aprendizagens de alunos e o exercício profissional de todos que trabalham na escola. O autor, ao afirmar que as práticas e os comportamentos manifestos entre as pessoas na convivência diária escolar influenciam as práticas daqueles que estão no dia a dia da escola, exemplifica essa tese ao anunciar que o estilo de gestão adotado pela direção influencia nas interações entre as pessoas; as reuniões pedagógicas que poderiam ser espaços de participação de todos, torna-se apenas de alguns como a secretaria de educação ou direção e coordenação, no qual manifestam nesses momentos seus interesses individuais. Conforme afirma Freire, o que se pensa e se faz, é o que está ‘’prescrito’’, é a vontade do outro, do ser opressor e não a vontade própria do sujeito. Essa realidade, é que nos faz perceber o tipo de escola que temos. As imposições que são verticalmente pré-estabelecidas impedem àqueles que estão atuando no chão da escola de inserirem-se no processo educativo, 5800 de pensar uma escola para os seus alunos e de criar proposições, pois os seus modos de pensar e agir são reprimidos. Desta forma, Gadotti (2004) vem contribuir na discussão quando declara que a escola está perdendo a sua autonomia e a sua capacidade de educar para a liberdade, pois esta educação bancária acaba levando o sujeito a ser do outro e não ‘’seres para si’’, arrancando sua própria identidade, tornando-os autômatos, o que os leva a agir como máquinas sem raciocínio e sem vontade própria. Paulo Freire (2004) tece uma discussão sobre os dois eixos integração e acomodação como atividade puramente humana. A primeira, o homem é valorizado como sujeito que se insere subversivamente na realidade tornando-se capaz de mobilizar-se e transformar a ordem política. Já a acomodação, o sujeito é considerado como objeto, vazio, no qual perde a sua capacidade de optar, de lutar sendo submetido as prescrições impostas que os minimizam enquanto sujeitos e afirmam-se como objetos nas relações que se estabelecem no e com o mundo. O homem existe no tempo. Existir é exclusivamente transcender, discernir, dialogar, comunicar e participar. Ancorando-se nessa idéia do autor, o homem está dentro do tempo, herda, incorpora, modifica, emerge, enfim pode interferir sobre a realidade para modificá-la. Desse modo, como viemos discutindo a participação dos agentes educativos no dia a dia da escola, para superar a acomodação, a adaptação, o ajustamento e contradição opressoroprimido, a dialógica de Paulo Freire (2004, p.79) se insere como essência da educação problematizadora que serve à libertação. Nesta perspectiva de educação, ‘’ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo’’. A educação como prática da liberdade subsidiada pelo diálogo busca a emersão das consciências, o que resulta a inserção crítica do sujeito na realidade. A conscientização das mentes é um dos elementos discutidos e defendidos por Freire no plano educacional na necessidade de compreender as estruturas sociais de dominação e violência para poder mobilizar-se democraticamente com as forças. Desse modo, faz-se necessário a conscientização dos que fazem a escola através de uma educação que os coloque numa postura de auto-reflexão e de reflexão sobre seu tempo e espaço, expulsando a opressão, a submissão, a massificação, a alienação, a manipulação através dessa conscientização. É nesse processo de organização de baixo para cima, nas lutas, vitórias e derrotas, que Ceccon (2002) vem nos dizer que está a semente de uma nova atitude e de uma nova maneira de agir, o que nos fará entender que não deverá mais esperar por soluções prontas vindas de 5801 cima, mas confiar nas próprias forças para encontrar as respostas e colocá-las em prática. Logo, Precisamos contribuir para criar a escola que é aventura, que marcha, que não tem medo do risco, por isso que recusa o imobilismo. A escola em que se pensa, em que se atua, em que se cria, em que se fala, em que se ama, se adivinha, a escola em que apaixonadamente diz sim à vida. (FREIRE, 2002, p. 36) Esta compreensão nos faz perceber a importância de realizar a integração entre escola e comunidade e fazer acontecer a democratização das relações de poder dentro deste espaço. Partindo da idéia de Libâneo (2004), os sujeitos das escolas devem está ancorados nas idéias das políticas educacionais e nas diretrizes curriculares impostas, até porque se torna impossível, conforme o autor, a escola se portar isoladamente do meio social, cultural, político e econômico da sociedade. Porém, não podem deixar de pensar nas peculiaridades e necessidades de sua realidade escolar. Precisamos ‘’gritar’’ por uma educação que promova o diálogo entre os sujeitos, proporcione a passagem da transitividade ingênua à transitividade crítica, como bem coloca Freire (1994) quando diz que precisamos de uma educação para a decisão e para a responsabilidade social e política. Considerações Finais É-nos necessário fazer educação e não domesticação; educar e não deformar, promover a emersão do indivíduo. Ganhar ingerência na escola, em que diretores, coordenadores e professores favoreçam a constante reflexão na e sobre a prática, repensando a organização escolar de modo a tornar este espaço um ambiente de aprendizagem, onde todos não executam decisões advindas de cima, mas reflitam e pensem juntos, analisem, criem, recriem essas demandas estabelecidas a partir de suas práticas, tornando-se sujeitos profissionais, o que Libâneo vem a chamar de críticos-reflexivos, que é aquele que domina uma prática refletida. É preciso, portanto, que a escola desenvolva os princípios educativos autonomia, participação e diálogo, onde os sujeitos que a compõem sintam-se partícipes do processo educativo, tomem decisões em conjunto, todos formulem o projeto político pedagógico, dividam com os colegas as preocupações, desenvolvam o espírito de solidariedade, pensem juntos uma escola melhor, digna, justa, solidária, autônoma, democrática, crítica, tendo em 5802 vista a sua realidade peculiar, contemple o respeito à vida e a diversidade cultural. Dessa forma, a escola terá um novo significado, cujos sujeitos, preocupar-se-ão com o seu papel e em conjunto hão de repensar seu próprio caminho. REFERÊNCIAS CECCON, Claudius; OLIVEIRA, Miguel Darcy de; OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. A vida na escola e a escola da vida. 36 ed. Petrópolis: Vozes, 2002 FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Porto Alegre, RS: Paz e Terra, 1994 _____________. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002 _____________. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005 GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. 10ª ed. São Paulo: Cortez, 2004, v. 24 LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da escola: teoria e prática. 5ª ed. Goiânia: Editora Alternativa, 2004