7 de Dezembro de 2012
flash
No. 61P
Departamento de Análise de Políticas Agrárias
Ministério da Agricultura – Direcção de Economia
Tel: (+258) 82 30 10 538, Fax: (+258 1) 21 41 47 01
Dinâmicas de Participação e Desempenho nos Mercados Agrícolas do Centro e Norte de Moçambique:
Evidência de um Inquérito-Painel a Famílias Rurais (2008-2011)
Rui Benfica e David Tschirley
Este flash examina tendências na participação no mercado por produtores rurais nas regiões centro e norte de
Moçambique entre 2008, quando os preços de muitos produtos alimentares subiram para níveis nunca antes vistos, e
2011. A análise usa dados de painel de inquéritos a agregados familiares realizados em 2008 e 2011, para avaliar a
dinâmica de participação no mercado – entrada, saída, e participação persistente, e tendências na intensidade e
desempenho associados com essas dinâmicas. De um modo geral, a participação no mercado aumentou para quase
todas a s culturas alimentares relevantes – milho, madioca, gergelim, girassol, soja, feijão boer, feijão manteiga e
amendoim. Contudo, como resultado de condições agro-ecológicas e de mercado diferenciadas, existe alguma variação
entre províncias e culturas. De um modo geral, o acesso a serviços de extensão e informação de mercado parece ter
melhorado durante o período (com alguma diferença entre províncias) e pode ter contribuído para um melhor acesso a
mercados. Em contraste, o acesso a crédito e à participação em associações de produtores, factores que podem
potencialmente contribuir para o aumento da produção e facilitar o aumento e desempenho na participação no mercado,
permaneceram relativamente limitados.
Introdução: Em Moçambique, a participação em
mercados agrícolas por famílias rurais tem sido
historicamente baixa. Embora muitas famílias
devotem muitos recursos para a produção agrícola e
derivem mais de dois terços do seu rendimento
desta produção de culturas, são quase que
exclusivamente orientadas para a subsistência.
Resultados de inquérito indicam que os 40% mais
pobres quase não vendem nenhuma de sua produção
(TIA,
2002-2008).
Em
anos
recentes,
particularmente desde de 2008, os preços de muitos
produtos agroalimentares subiram substancialmente
no mercado internacional. Diferentes fontes
sugerem que os preços recebidos por produtores
agrícolas em Moçambique também aumentaram
neste período. Estes aumentos deveram-se, pelo
menos em parte, ao aumento massivo na procura
local relacionada com o crescimento da população
urbana e a procura de produtos avícolas, carne e
outros, cuja produção usa produtos agrícolas
alimentares como ração.
Muitas das análises relacionadas com as
implicações deste “novo ambiente de preços” temse focalizado nas implicações para os
consumidores. Isto deve-se ao facto de muitas
famílias, tanto em zonas urbanas como rurais, serem
compradores líquidos de produtos alimentares. Não
obstante, preços altos de produtos agrícolas podem
também influenciar o comportamento de produtores
de forma positiva. A Universidade Estadual de
Michigan (MSU) e a Direcção de Economia do
Ministério da Agricultura estão a levar a cabo
pesquisas para responder a duas perguntas
fundamentais neste contexto: (a) Terão os preços
realmente
aumentado
nos
mercados
em
Moçambique? e (b) Se sim, qual foi a resposta dos
produtores? Estão neste momento em preparação
documentos detalhados focalizados nestas questões.
No entando, a equipa iniciou a discussão com a
elaboração de dois flashes. Flash #60, recentemente
publicado, analisa mudanças nos padrões de
produção e de uso de insumos por produtores rurais
entre 2008 e 2011. O presente flash avalia a
1 dimensão de mercado, mais precisamente se
expectativas de preços mais altos, resultantes do
aumento de preços de 2008, geraram uma maior
participação no mercado. O estudo é baseado num
inquérito de painel administrado a 1,186 famílias
rurais no centro e norte de Moçambique em 2008 e
2011. De modo a garantir o seguimento do
comportamento de produtores específicos durante o
período, a análise usa apenas famílias entrevistadas
com sucesso nos dois anos (painel balanceado).
a proporção de famílias que produzem apenas
cresceu substancialmente em Sofala (de 35% a
43%). A produção de soja concentra-se
principalmente em Tete, onde a proporção de
famílias que produzem cresceu de 17% a 19% (ver
flash #60).
De um modo geral, a proporção de famílias que
vendem a sua produção também aumentou entre
2008 e 2011. Na zona de inquérito como um todo, a
percentagem de famílias que vendem, baseada em
toda a amostra, cresceu de 28% a 33% para o milho;
9% a 22% para o feijão boer; 8% a 11% para o
feijão manteiga; 10% a 12% para a mandioca; 3% a
5% para a soja; 2% a 4% para a batata-doce
comum; e 0.3% a 1.2% para a batata-doce de polpa
alaranjada (Tabela 1).
Este flash começa por apresentar as taxas de
participação e os volumes de culturas vendidos no
mercado em 2008 e 2011. Subsequentemente, usa o
painel balanceado, para analisar a dinâmica de
participação no mercado identificando, para cada
cultura, as famílias que nunca participaram no
mercado (não participantes), as que participaram
em 2008 mas não em 2011 (desistentes), as que
entraram no mercado apenas em 2011 (novos
participantes), e os que participaram em ambos
anos (vendedores persistentes); e comparando os
níveis de vendas e a proporção da produção vendida
por esses grupos. Seguidamente, analiza-se as
recentes tendências no acesso à informação de
mercado, serviços de extensão agrícola e crédito, e
participação em associações de produtores; e como
esta se relaciona com o estatuto de participação no
mercado em cada ano. A secção final apresenta
conclusões.
Existem algumas diferenças importantes nas
mudanças na intensidade de participação no
mercado entre as províncias para culturas
especificas. Primeiro, a feijão boer parece ser a
história de sucesso na região. A cultura é
predominantemente cultivada na Zambézia, onde
cerca de 70% das famílias produziram em 2008. Em
2011, a cultura cresceu em importância em todas as
4 províncias, particularmente em Sofala e Manica
onde a quantidade vendida aumentou para 5 vezes
mais. Com a excepção de Tete, a participação no
mercado aumentou em todas as províncias, numa
média de 9-22% (taxa de participação no mercado),
e um aumento medio de volume de vendas de
aproximadamente 47%, de 2008 a 2011 (Figura 1a).
Tendências na Produção, e Participação no
Mercado: Entre 2008 e 2011, verificou-se, para
quase todas as culturas, um aumento na proporção
de
famílias
que
produzem.
Notou-se
particularmente a importância crescente de culturas
emergentes (gergelim, feijão bóer, girassol, e soja)
em algumas províncias. Conforme realçado no flash
#60, para a região como um todo, muito mais
famílias produziram feijão boer (de 20% a 36%),
feijão manteiga (23% a 26%), e amendoim (20% a
26%). O aumento na proporção de famílias que
cultivam todas as outras culturas foi relativamente
pequena: girassol (3.0% a 3.4%), gergelim (15.9% a
16.2%), soja (3.9% a 4.7%), e milho (93% a 95%).
Províncias individuais dominam as mudanças em
culturas especificas, a saber: feijão boer
(Zambézia), milho (Nampula e Zambézia), e feijão
manteiga (Manica e Tete). A produção de gergelim
é predominante em Sofala, Manica e Nampula, mas
Segundo, embora o milho seja amplamente
cultivado em todas as províncias, os maiores
aumentos nas taxas de participação no mercado
foram observadas nas províncias centrais de Tete
(14% a 21%), Manica (24% a 42%) e Sofala (26% a
34%), enquanto que a proporção de vendedores caiu
ligeiramente em Nampula e Zambézia (Tabela 1).
Os volumes médios vendidos pelos produtores
foram significativamente mais elevados na região
em 2011, particularmente nas províncias do centro.
Entrevistas realizadas a grupos de produtores em
2009 sugerem que este aumento na participação no
mercado no centro do país deveu-se, em parte, ao
surgimento de uma grande moageira (DECA) e à
expansão de operações avícolas (Abílio Antunes).
2 Ambas unidades de produção iniciaram em 2008
(continuando nos anos seguintes) campanhas
agressivas de aquisição cereais na região.
Figura 1. Volume de Vendas e Proporção da Produção
Vendida por Participantes no Mercado
2008 e 2011
(a) Volume de Vendas (Kg por Família)
Soja 2011 Gergelim 2008 Terceiro, a proporção de famílias que vendem
gergelim estagnou na região como um todo (10%)
mas manteve-se alta e em crescimento em Sofala
(de 28% a 33%). Em Manica, onde a proporção de
vendedores manteve-se estável em 9%, a
quantidade vendida aumentou em cerca de 40%.
Girasol Feijao Boer Feijao Manteiga Batata-­‐doce: Regular Batata-­‐doce: Alaranjada Mandioca Quarto, A proporção de vendedores de girassol
aumentou de 1% para 2% e a quantidade vendida
por família mais do que duplicou (Figure 1a). Em
Manica, onde a cultura é predominantemente
cultivada e crescendo em importância, a
participação no mercado aumentou de 3% a 5% e o
volume médio vendido por agregado familiar
triplicou.
Amendoim Mapira Arroz Milho 0 200 400 600 800 (b) Proporção da Produção Vendida (%)
Soja Gergelim Girasol Feijao Boer Quinto, a proporção de famílias vendendo soja é
baixa mas em crescimento (3% a 5%). Soja, foi
principalmente cultivada em Tete, onde a proporção
de produtores cresceu de 17% a 19%, e vendedores
de 13% a 17%. A quantidade vendida estagnou
durante o período.
Feijao Manteiga 2011 2008 Batata-­‐doce: Regular Batata-­‐doce: Alaranjada Mandioca Amendoim Mapira Arroz Milho 0 20 40 60 80 100 Fonte: Inquérito de Painel Parcial, 2008-2011.
Tabela 1. Proporção de Famílias que Participam no Mercado, por Cultura, Província e Ano (%)
2008
2011
Províncias e Ano de Inquérito (% entre todas as famílias inquiridas)
Nampula
Zambézia
Tete
Manica
Sofala
2008
2011
2008
2011 2008 2011 2008 2011 2008
2011
28.3
2.9
2.5
3.9
32.5
2.8
2.4
4.4
27.7
1.9
0.5
5.0
25.9
2.7
3.8
3.9
40.9
6.4
2.1
4.3
39.3
6.7
2.1
5.2
13.7
0.0
0.0
6.4
20.8
0.0
0.0
7.7
24.0
1.2
3.9
0.1
41.5
0.0
2.5
1.8
24.2
1.7
6.8
2.6
31.3
1.0
3.9
2.1
10.8
0.3
2.4
12.3
1.2
4.0
12.0
0.0
0.4
11.4
0.0
0.0
18.6
0.5
2.9
15.1
1.3
2.8
2.4
0.3
4.2
3.1
1.5
3.5
12.4
0.0
3.7
16.7
0.8
9.6
2.2
0.6
0.8
13.9
2.5
6.3
8.0
9.4
4.9
4.7
4.8
1.0
10.4
2.6
10.5
21.9
4.6
4.8
3.8
1.5
10.4
4.5
1.9
1.6
9.2
0.6
1.7
0.0
17.6
0.0
1.2
6.4
13.1
0.0
2.9
0.0
10.8
0.0
7.1
27.3
5.5
3.5
7.0
1.7
2.1
0.9
12.7
55.3
1.9
3.5
5.2
0.8
4.1
3.2
24.6
0.5
2.7
18.7
2.4
0.1
1.4
13.3
26.9
0.6
2.7
20.1
0.7
0.4
0.0
17.1
4.7
0.5
1.0
0.7
10.5
3.1
9.0
0.0
8.4
9.7
0.7
0.7
1.0
4.6
8.9
3.0
1.9
1.0
5.0
0.3
1.9
0.0
28.3
0.0
1.0
8.3
5.9
0.3
7.7
2.8
33.4
0.0
Toda Região
Cereais e Amendoim
Milho
Arroz
Mapira
Amendoim
Mandioca e Batata-doce
Mandioca
Batata-doce: Polpa Alaranjada
Batata-doce: Regular
Feijões e Culturas de Rendimento
Feijão Manteiga
Feijão Boer
Algodão
Tabaco
Cana-de-açúcar
Girassol
Gergelim
Soja
Fonte: Inquérito de Painel Parcial, 2008-2011.
3 Finalmente, com algumas excepções, em média, as
famílias que participaram no mercado em cada ano,
mantiveram ou aumentaram a proporção da
produção vendida (Figura 1b). Apesar de as
decisões de cultivo em 2007/08 não terem sido
baseadas na expectativa de preços altos, as famílias
terão provavelmente vendido mais do que
antecipavam porque os preços subiram durante e
depois da colheita em 2008. Deste modo, crê-se que
a proporção da produção vendida em 2008 foi
provavelmente maior do que o normal dados os
níveis de produção. Nos anos seguintes, com a
expectativa de preços mais altos, tanto as intenções
de produção como de vendas terão aumentado,
levando a que a proporção da produção vendida
tenha aumentado ou, pelo menos, permanecido alta.
Finalmente, produtores que não venderam em
nenhum dos anos são a categoria mais frequente
para todos os cereais e amendoim, mandioca/batatadoce e feijão manteiga. Estas culturas continuam a
ser produzidas primariamente para o auto consumo,
apesar do massivo aumento na participação no
mercado por produtores familiares revelada por esta
análise.
A análise dos resultados por província (não
mostrados na Tabela) revela alguns padrões
interessantes. Primeiro, para o milho, a Zambézia
sobressai com a maior proporção de vendedores
persistentes (29%). Manica teve a taxa mais alta de
novos participantes (28%). Houve ganhos líquidos
de participação no mercado de milho em todas as
províncias. Segundo, o feijão boer mostra um
padrão forte de crescente e sustentada participação
no mercado. Na Zambézia, a província com a maior
proporção de produtores, 32% dos vendedores em
2011 eram novos vendedores e 35% eram
vendedores persistentes; apenas 5% dos que
venderam em 2008 desistiram do mercado em 2011.
Participação no Mercado - Entrada, Saída e
Participação Persistente: Matrízes de transição de
participação no mercado (Tabela 2) mostram a
proporção de famílias que (a) não participaram no
mercado em nenhum dos anos (não-participantes),
(b) participaram em 2008, mas não em 2011
(desistentes), (c) entraram no mercado apenas em
2011 (novos participantes), e (d) aqueles que
participaram no mercado em ambos anos
(vendedores persistentes). Dado que as decisões de
cultivo em 2008 não foram influenciadas pelo
aumento dos preços de muitos produtos (visto estes
aumentos terem-se observado depois de tais
decisões), estas matrizes começam a captar as
respostas de produtores aos preços altos que se
iniciaram em 2008 e continuaram até 2011. Para
manter a consistência na análise de transição da
participação no mercado, esta análise focaliza-se
apenas em famílias que produziram cada cultura
especifica em ambos anos.
Desempenho de Vendedores por Estatuto de
Transição de Participação no Mercado: Até
agora, a análise indica que houve um aumento na
participação no mercado pelas famílias rurais. No
entanto, as tendências médias no volume de
produção comercializada (discutidas anteriormente
e apresentadas na Figura 1a) não revelam grande
variação. A Figura 2 endereça este assunto, através
da análise do volume de vendas por estatuto de
transição de participação no mercado, e revela
alguns resultados importantes. Primeiro, entre 2008
e 2011, os vendedores persistentes aumentaram o
volume de vendas em quase todas as culturas,
excepto soja, cujo volume caiu, e feijão manteiga,
que não variou (barras escuras nas Figuras 2a and
2b). Segundo, uma análise dos volumes de vendas
em 2008 revela que os vendedores persistentes (i.e.
os que mais tarde continuaram vendendo) venderam
muito mais (em 2008) do que os que desistiram em
2011, com excepção de gergelim, soja e mapira
(Figura 2a). Este padrão é particularmente notável
para soja: os produtores de soja que acabaram
desistindo em 2011, haviam produzido quase o
dobro que produziram aqueles que permaneceram
no mercado. Finalmente, para todas as culturas
nesta análise, os vendedores persistentes tem
São de realçar três resultados importantes. Primeiro,
das 10 culturas monitoradas aqui, a proporção de
novos participantes excede aquela de desistentes em
6, geralmente por uma grande margem. O Rácio de
novos participantes por desistente foi especialmente
grande para batata-doce (3.5:1), feijão boer (6:1), e
soja (4:1). Segundo, para as 4 culturas para as quais
a proporção de desistentes excede a de novos
participantes, a diferença é apenas grande para o
gergelim: aproximadamente 20% dos vendedores de
2008 saíram em 2011, enquanto apenas 11% dos
vendedores em 2011 eram novos vendedores.
4 acesso à informação de mercado (36% a 57%) e
serviços de extensão (10% a 17%).
maiores volumes de vendas em 2011 quando
comparados com agregados que entraram no
mercado apenas em 2011 (Figura 2b). Isto explica,
em parte, o crescimento relativamente lento nos
volumes de vendas para algumas culturas (Figura
1a). Com o tempo, à medida que os novos
vendedores que continuem a vender estabeleçam a
sua posição de mercado, espera-se um crescimento
mais rápido e sustentável.
Existe algumas diferenças entre as províncias. O
acesso a serviços de extensão duplicou em Nampula
e Sofala e triplicou em Manica. À excepção de
Sofala, uma maior proporção de famílias que
participaram no mercado (comparada com as que
não participaram no mercado) receberam serviços
de extensão. Em termos de informação de mercado,
o acesso em Nampula foi alto, mas estagnante
(50%). Em todas as outras províncias verificou-se
um aumento no acesso à informação de mercado.
Na Zambézia, onde o acesso quase triplicou (21% a
59%), os participantes no mercado, em cada ano,
tiveram muito maior acesso do que os nãoparticipantes. Em outras províncias este padrão é
apenas observado em 2011. Acesso ao crédito
permanece relativamente limitado. Apesar de
melhorias em anos recentes em algumas províncias,
a participação em associações de produtores é ainda
limitada na região (Tabela 3).
Acesso à Informação de Mercado, Serviços de
Extensão, Crédito e Participação em Associações
de Produtores: Esta análise não tenta de forma
alguma explorar formalmente os determinantes de
participação e desempenho nos mercados. Trata, no
entanto, de começar a explorar se existem algumas
tendências no acesso à informação de mercado,
serviços de extensão, crédito, e participação em
associações de produtores. Estes são, em princípio,
factores chave que podem facilitar o aumento da
participação de famílias rurais nos mercados
agrícolas e ajudar a melhorar o seu desempenho na
comercialização.
Outros factores, não discutidos aqui, que também
podem afectar as condições de acesso a mercados
pelas famílias inclui infraestrutura física e rede de
tele-comunicações.
Os resultados mostram que, de um modo geral,
houve um aumento na proporção de famílias com
Tabela 2. Análise de Transição de Participação no Mercado para Culturas Seleccionadas, 2008-2011 (%)
Culturas Vendidas
Agregados Familiares
que Produziram em
ambos anos
(2008 e 2011)
(%)
Não Venderam
em Nenhum
dos Anos
Entre Famílias que Produziram em 2008 e 2011
Desistentes:
Novos Participantes no
Vendedores
Venderam Apenas
Mercado: Vendeu
Persistentes: Venderam
em 2008
Apenas em 2011
em Ambos Anos
(2008 e 2011)
Cereais e amendoim
Milho
87.6
50.5
13.6
17.5
18.4
Arroz
6.8
77.4
9.9
6.7
6.0
Mapira
24.3
90.0
4.3
3.1
2.6
Amendoim
7.1
56.6
14.3
17.4
11.7
Mandioca e Batata-doce
Mandioca
40.9
67.7
15.9
10.9
5.5
Batata-doce – Regular
4.2
57.2
6.9
24.1
11.8
Feijões e Culturas Alimentares de
Rendimento
Feijão Manteiga
12.3
40.1
16.0
22.9
21.0
Feijão Boer
22.4
30.7
5.1
30.0
34.2
Gergelim
6.5
2.2
19.9
11.2
66.7
Soja
1.8
5.6
4.6
16.3
73.5
Nota: Exclui culturas de rendimento tradicionais (algodão, caju, e cana-de-açúcar) e culturas com participação no mercado de menos de 2% em ambos anos (Tabela 1).
A análise apenas inclui famílias que produziram cada cultura em ambos anos.
Fonte: Inquérito de Painel Parcial, 2008-2011.
5 diferença entre províncias), e pode ter contribuído
para o melhor acesso aos mercados durante o
período. Contudo, o acesso a crédito e participação
em associações mantem-se relativamente limitado.
Melhorar e sustentar a provisão desses serviços e
oportunidades será crucial para melhorar e sustentar
a participação e desempenho nos mercados
agrícolas pelos produtores rurais.
Figura 2. Volume de Vendas por Estatuto de Transição de
Participação no Mercado, 2008 e 2011
(a) Volume de Vendas de Desistentes e Vendedores
Persistentes (2008)
Milho Mandioca Girasol Soja Feijao Manteiga Gergelim Feijao Boer Amendoim Mapira Persistent Sellers Drop Out Sellers 0 200 400 600 800 1000 De modo a ter-se uma ideia mais clara dos factores
que determinam a entrada e participação e
desempenho sustentáveis nos mercados agrícolas,
será necessário levar-se a cabo análises adicionais.
Será também importante entender-se a relação entre
a participação no mercado e a produtividade
agrícola, através da intensificação, para identificar
politicas que promovam um crescimento sustentável
dos rendimentos rurais e segurança alimentar.
1200 (b) Volume de Vendas de Novos Participantes e
Vendedores Persistentes (2011)
Milho Mandioca Mapira Amendoim Feijao Boer Gergelim Soja Feijao Manteiga Persistent Sellers New Entrants 0 200 400 600 800 1000 Quatro culturas deservam uma atenção especial.
Primeiro, o crescimento da produção de feijão boer
para a comercialização tem sido espectacular, mas
tem recebido pouca atenção. O mercado deste
produto precisa de ser melhor entendido para se
avaliar a sua sustentabilidade e perspectivas de
crescimento.
Segundo, o papel de grandes
comerciantes formais na compra de milho parece ter
sido crucial no desempenho da comercialização
deste produto no centro do país. Note-se que na
Zambézia, onde a comercialização de milho e
comum mas geralmente pequena, as tendências não
tem sido igualmente tão encorajadoras. Terceiro, a
soja apresenta resultados um tanto misturados e
surpreendentes:
um
aumento
notável
na
comercialização, mas ainda baixo, e reduções nos
volumes transaccionados. Um questão com relação
a esta cultura e de se a amostra captou de forma
adequada as áreas produtoras mais relevantes.
Finalmente, o gergelim continua a ser uma cultura
marginal em termos da proporção de famílias que
produzem e comercializam.
1200 Fonte: Inquérito de Painel Parcial, 2008-2011.
Conclusões: Este flash analisa tendências e
dinâmicas de participação e desempenho nos
mercados agrícolas por pequenos produtores no
contexto do ambiente de preços altos verificados em
anos recentes no centro e norte de Moçambique. Os
resultados indicam ter-se verificado um aumento na
participação no mercado para as principais culturas,
embora haja diferenças na intensidade e magnitude
entre províncias, culturas, e estatuto de transição na
participação no mercado. Estes padrões refletem
condições de base, agroecologia, e crescimento de
mercados diferenciados nas várias províncias em
anos recentes.
O acesso à informação de mercado e serviços de
extensão parece ter melhorado (com alguma
6 Tabela 3. Participação no Mercado e Acesso a Informação de Mercado, Serviços de Extensão, Crédito e
Participação em Associações de Produtores
Províncias
1. Acesso a Extensão
Nampula
Zambézia
Tete
Manica
Sofala
Total
2. Acesso a Informação de Mercado
Nampula
Zambézia
Tete
Manica
Sofala
Total
3. Participação em Associações
Nampula
Zambézia
Tete
Manica
Sofala
Total
4. Acesso a Crédito
Nampula
Zambézia
Tete
Manica
Sofala
Total
Fonte: Inquérito de Painel Parcial, 2008-2011.
Participantes no Mercado
(Vendeu pelo menos 1
cultura)
2008
2011
7.3
9.0
23.1
12.4
10.7
11.8
18.1
13.1
27.2
27.2
20.2
19.5
49.9
24.0
51.5
60.3
43.2
40.4
51.5
62.8
48.7
57.6
68.4
58.8
8.0
8.0
8.9
9.4
9.4
8.5
7.6
12.4
13.5
11.1
12.8
11.7
5.0
1.6
12.5
6.0
7.3
5.5
1.6
0.7
6.1
7.9
4.8
3.5
Não-Participantes no
Mercado
Todos Agregados Familiares
2008
2011
2008
----- Percentagem de Agregados Familiares ----4.9
4.8
7.7
1.6
11.1
18.3
4.8
21.0
8.2
20.9
7.7
11.9
----- Percentagem de Agregados Familiares ----51.7
45.9
12.8
44.4
20.0
39.7
45.0
66.5
18.6
71.5
29.6
52.0
----- Percentagem de Agregados Familiares ----3.0
0.0
6.4
4.5
1.5
2.0
8.7
15.7
1.2
7.9
4.3
5.2
----- Percentagem de Agregados Familiares ----4.1
5.5
0.0
2.9
0.0
2.7
0.4
15.3
0.7
2.5
1.0
5.3
2011
6.4
8.6
18.5
8.2
9.6
10.1
12.7
10.4
24.2
25.2
20.4
17.2
50.6
21.0
39.6
51.9
32.1
36.2
49.2
58.7
45.7
60.5
69.3
56.7
6.0
7.5
6.1
9.0
5.7
6.9
4.5
10.6
9.7
12.6
11.3
9.7
4.6
1.2
7.8
2.9
4.3
3.8
3.2
1.2
5.0
10.3
4.1
4.1
Apoio financeiro e de substância para a realização deste
estudo foi providenciado pela Agencia dos Estados
Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID)
em Maputo, e Technoserve. Agradecimentos especiais a
Duncan Boughton e Cynthia Donovan pelos seus
comentários e sugestões. As opiniões expressas neste
documento são da responsabilidade exclusiva dos
autores e não reflectem a posição oficial do MINAG ou
USAID.
Referências
Cunguara, B., J. Mudema, D. Mather, e D. Tschirley
(2012). Mudanças no Padrão de Cultivo e Uso de
Insumos pelos Pequenos Produtores no Centro e Norte
de Moçambique, 2008/2011. Flash #60P. Rui Benfica e David Tschirley são, respectivamente,
Professor Associado e Professor, Desenvolvimento
Internacional, Universidade Estadual de Michigan
(MSU).
Autor para Correspondência: Rui Benfica: [email protected] =================================== Contactos: MINAG/DE tel.: (+258) 82 30 10 538; Fax (+258 1) 21 41 47 01
Rua da Resistência, n° 1746, 6° Andar
Email: [email protected] Website: www.aec.msu.edu/agecon/fs2/mozambique ou www.minag.gov.mz
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Dinâmicas de Participação e Desempenho nos Mercados Agrícolas