Os desafios da implementação dos
projetos-piloto de smart grid no Brasil
Luiz Carlos Neves*, Alexandre Bagarolli
O conceito de smart grids (redes elétricas inteligentes) vem sendo amplamente discutido em âmbito
nacional e internacional nos últimos anos. No Brasil, encontram-se em execução vários projetos-piloto
nos quais aspectos relevantes das smart grids estão sendo avaliados. O objetivo deste trabalho é
apresentar, a partir de uma visão dos projetos-piloto que estão em execução no Brasil, uma análise dos
principais desafios referentes a tecnologias envolvidas, desenvolvimento de métricas para avaliação de
resultados, envolvimento do consumidor e regulamentação.
Palavras-chave: Smart grid. Rede elétrica inteligente. Rede de distribuição de energia. Medição
avançada.
Introdução
A ideia de smart grid (rede elétrica inteligente) foi
criada e introduzida a partir de um esforço para
superar as necessidades futuras do mercado de
energia elétrica. A smart grid é capaz de
transportar eletricidade dos fornecedores para os
consumidores,
agregando
tecnologia
de
comunicação digital bidirecional ao sistema
elétrico, para controlar efetivamente o consumo
de energia, reduzir o custo de geração e
transmissão dessa energia e, ainda, aumentar o
desempenho, a eficiência e a confiabilidade do
sistema elétrico. A implementação de smart grids
possibilita uma gama de novos serviços criando
possibilidades de novos mercados. Dessa forma,
smart grid se apresenta como uma das fortes
tendências de modernização do sistema elétrico
em vários países.
As principais funções de uma smart grid têm sido
até agora bem definidas. Muitos especialistas
concordam que uma rede inteligente tem que ser
capaz de ser autorregenerável, fornecer energia
com alta qualidade, acomodar geração
distribuída e opções de armazenamento, ser
mais eficiente e motivar os consumidores a
participar ativamente do controle da demanda.
Para realizar essas funções, investigações
avançadas estão sendo conduzidas por
diferentes universidades, entidades de pesquisa,
concessionárias e fabricantes de equipamentos.
Para cada nova função, a tecnologia de rede
inteligente enfrenta uma série de desafios que
estão sendo tratados por diferentes projetos de
P&D.
No Brasil, há projeções, em médio e longo
prazos, de que as redes elétricas inteligentes se
tornem realidade com a participação do
consumidor no gerenciamento e na produção de
energia elétrica (CGEE, 2012).
No plano nacional, as principais ações em smart
grid têm sido desenvolvidas através de parcerias
entre concessionárias, universidades, centros de
pesquisa e fabricantes, para a realização de
projetos de desenvolvimento de tecnologias e
projetos-piloto de teste.
1
Projetos-piloto
Um sistema elétrico de potência é formado por
uma complexa infraestrutura para garantir o
fornecimento de energia elétrica. Esse sistema é
composto essencialmente por: geração, sistema
de transmissão, rede de distribuição e usuários
de energia elétrica. A geração é frequentemente
centralizada em grandes usinas conectadas ao
sistema de transmissão, que por sua vez
abastecem as redes de distribuição que
alimentam consumidores industriais, comerciais
e residenciais. No sistema elétrico convencional,
o fluxo de energia é unidirecional e os
consumidores são meros agentes passivos na
cadeia produtiva da energia elétrica. Por razões
tecnológicas ou econômicas, a venda de energia
elétrica é feita por tarifas fixas e com interação
limitada
com
os
consumidores,
como
representado no diagrama da Figura 1.
Considerando que os segmentos da geração e
do sistema de transmissão possuem controle
centralizado, com um razoável nível de
comunicação de dados, os projetos de smart grid
têm
explorado
as
possibilidades
de
modernização da rede de distribuição e, em
menor amplitude, o envolvimento do consumidor.
O elemento fundamental na implementação do
projeto-piloto
é
uma
solução
de
telecomunicações que viabilize a comunicação
de dados, estando presente na estruturação de
todos os projetos-piloto. Outro elemento presente
na maioria desses projetos é a avaliação de pelo
menos uma tecnologia de medição eletrônica
avançada. Os demais elementos, como
reconfiguração
automatizada,
geração
distribuída, armazenamento de energia, gestão
pelo lado da demanda ou veículos elétricos,
variam de projeto para projeto.
*Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected].
Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 1, p. 15-22, jan./jun. 2013
Os desafios da implementação dos projetos-piloto de smart grid no Brasil
Nos projetos-piloto de teste, as concessionárias
têm dado preferência ao uso de padrões técnicos
e aos testes de soluções. Essa tendência é
balizada pelo cuidado que as concessionárias
têm para evitar a utilização de tecnologias e
padrões proprietários que dificultam as ações
essenciais de interoperabilidade nas smart grids.
Além dos objetivos relativos a modernização e
criação de novos serviços para as redes elétricas
das concessionárias, os projetos-piloto devem
promover a criação de diretivas para a
implantação de smart grid, o desenvolvimento de
arquiteturas conceituais e a comprovação prática
de interoperabilidade entre as tecnologias, bem
como a elaboração de estratégias de
manipulação segura das informações que
circulam nas redes elétricas inteligentes (CGEE,
2012). Consequentemente, os projetos-piloto
abordam desde testes de novas tecnologias,
novos produtos, novos sistemas para operação
da rede e novas funcionalidades dos sistemas
existentes até a interação com o consumidor de
energia elétrica.
Considerando
que
projetos-piloto
visam
avaliações em ambientes reais de fornecimento
de energia, os desafios referentes às tecnologias
são apenas uma parte do conjunto de desafios
relacionados
à
implementação
de
um
projeto-piloto de smart grid.
A seguir, os desafios, presentes nos projetos de
smart grid que o CPqD tem conduzido ou
participado, serão apresentados e discutidos
neste trabalho.
2
Os desafios dos projetos-piloto
Os
desafios
de
implementação
dos
projetos-piloto de smart grid são de diferentes
naturezas, podendo-se citar os desafios relativos
a:
a) tecnologias a serem usadas nos pilotos;
b) métricas para avaliação de benefícios;
c) envolvimento do consumidor e avaliação de
seu comportamento;
d) regulamentação do fornecimento de energia
elétrica e da execução de projetos de P&D
da ANEEL.
16
2.1 Desafios relativos às tecnologias
A avaliação de tecnologias é frequentemente um
dos principais objetivos dos testes-piloto.
Discutiremos a seguir os desafios observados
para as principais tecnologias que compõem os
projetos-piloto, a saber: telecomunicações,
infraestrutura avançada de medição (Advanced
Metering Infrastructure – AMI), automação
avançada, microgeração, armazenamento de
energia e veículos elétricos.
2.1.1
Telecomunicações
A rede de telecomunicações empregada para
atender às necessidades de um projeto-piloto
pode utilizar várias tecnologias, entre elas PLC
(Power Line Communication), fibra óptica,
micro-ondas ou outra tecnologia de comunicação
sem fio, como, por exemplo, WiMAX, RF Mesh,
ZigBee, Wi-Fi, entre outras.
As tecnologias de rede de comunicação devem
atender às restrições de tempo para a atuação
de elementos de proteção e também de
automação. As concessionárias podem dispor de
várias tecnologias de telecomunicações para
criar a sua própria rede de dados ou,
dependendo da localidade, utilizar as redes das
operadoras de telecomunicações que atuam na
localidade. A opção por uma rede própria ou
alugada depende de fatores estratégicos de cada
concessionária.
As localidades do piloto possuem características
próprias que devem ser consideradas durante as
fases de elaboração do projeto. Desse modo,
pode-se ter uma rede de comunicação que
empregue várias tecnologias, pois, dependendo
da localidade escolhida, pode ser necessária, em
uma parte da localidade, a utilização de fibra
óptica e, em outra parte, uma tecnologia sem fio,
devido à sua facilidade de implantação, quando o
relevo permitir uma grande cobertura de área.
Desse modo, cada localidade deve ser analisada
para que o projeto da rede de telecomunicações
seja o mais confiável e robusto possível para a
operação da rede elétrica, além de ter
implantação economicamente viável no projeto.
Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 1, p. 15-22, jan./jun. 2013
Os desafios da implementação dos projetos-piloto de smart grid no Brasil
2.1.2
AMI
As pesquisas com medidores inteligentes têm
mantido foco na interoperabilidade da solução e
nas funcionalidades, com o objetivo de melhorar
o nível de informação sobre o consumo, suportar
tarifas horárias diferenciadas e avaliar a
qualidade do fornecimento de energia.
A avaliação de soluções AMI tem estado
presente
em
praticamente
todos
os
projetos-piloto de smart grid, cuja grande
motivação tem sido a possibilidade de a
amortização do investimento ser obtida pela
economia com a potencial redução de perdas.
O principal desafio em relação aos projetos
refere-se à interoperabilidade plena do sistema
de medição e da disponibilidade de soluções
homologadas pelo Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). No
cenário atual de 2013, o mercado nacional não
dispõe de solução com interoperabilidade para
ser testada, sendo esse objetivo postergado na
maioria dos projetos.
Como os testes se desenvolvem utilizando
consumidores, os medidores precisam ser
homologados pelo Inmetro para possibilitar o
exercício
de
todas
as
funcionalidades
avançadas, como tarifação diferenciada, previsão
de gastos e fornecimento de energia por
microgeração. Caso isso não seja possível, o
teste deve ser conduzido com a instalação do
medidor
não
homologado,
mantendo-se,
contudo, o medidor convencional. Essa
alternativa permite avaliar o desempenho da
solução, mas limita os testes das funcionalidades
avançadas, além de exigir um grande esforço
necessário para a resolução das dificuldades
práticas de se instalar um segundo medidor.
Outro desafio em relação à participação de AMI
em projetos-piloto está relacionado ao Centro de
Medição. Existem basicamente duas situações:
um novo Centro de Medição é implantado para o
projeto ou o Centro de Medição é adaptado para
obter e armazenar as informações geradas pelos
medidores inteligentes e operacionalizar o seu
uso.
A implantação de um novo Centro de Medição
demanda esforço para a operacionalização e a
integração com outros sistemas existentes. No
caso de adaptação do Centro de Medição
existente, o desafio está em identificar todas as
funcionalidades necessárias para as soluções e
dispor de uma instância independente para teste
e validação das novas funcionalidades. Nos dois
casos, a coordenação de prazos para viabilizar
os testes é o grande desafio.
2.1.3
Automação avançada
informações do estado da rede de distribuição e
do consumidor, bem como possibilitar condições
de deslocar a demanda em situações de
emergência, possibilita estabelecer planos para
corrigir eventuais distúrbios na rede ou recuperar
o estado operacional em menor tempo,
ampliando os benefícios da automatização da
rede de distribuição de energia. Assim,
automação avançada é uma das áreas que
evoluirão com a rede inteligente para aumentar a
confiabilidade e disponibilidade da rede de
distribuição.
Assim como a AMI, a inclusão de automação
avançada
é
bastante
frequente
nos
projetos-piloto.
Basicamente, os projetos testam dois tipos de
arquitetura: centralizada ou descentralizada. Na
arquitetura
centralizada,
as
informações
adquiridas da rede elétrica convergem para um
ponto central de processamento, onde as
aplicações de localização de faltas e recuperação
da rede são executadas e as manobras são
enviadas para os equipamentos da rede via
sistema SCADA (Supervisory Control And Data
Acquisition). Na arquitetura descentralizada, a
reconfiguração é feita de forma dispersa na rede
através da execução de lógicas previamente
definidas.
Os principais desafios estão em adequar a rede
com equipamentos interoperáveis e dispor de
comunicação com tempo de resposta e
confiabilidade adequada para garantir que a
qualidade do fornecimento não seja degradada,
mesmo que a solução apresente desempenho
inferior ao esperado.
Caso o projeto desenvolva aplicações para
arquitetura centralizada, a integração com os
sistemas de operação legados é sempre um
desafio, dada sua criticidade.
Em caso de arquitetura descentralizada, o
desafio está no conhecimento do desempenho
dos equipamentos e na realização de estudos
prévios exaustivos sobre a mudança do
comportamento da rede antes da implantação da
solução de automação.
2.1.4
Microgeração
A microgeração distribuída1 poderá contribuir
com o sistema elétrico para que os aumentos de
carga
aconteçam
de
forma
otimizada,
reduzindo-se os picos de demanda, além de
favorecer a solução de alguns entraves para o
uso de novas tecnologias, como o abastecimento
de uma frota de veículos elétricos e o uso de
equipamentos inteligentes gerenciáveis via
Internet, criando serviços antes inexistentes e
impulsionando a eficiência energética.
A possibilidade de a rede inteligente coletar
________________________________
1
A microgeração distribuída é definida como central geradora de energia elétrica, com potência instalada menor ou igual a 100 kW
(ANEEL, 2012).
Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 1, p. 15-22, jan./jun. 2013
17
Os desafios da implementação dos projetos-piloto de smart grid no Brasil
Entretanto, esses potenciais benefícios somente
serão viabilizados com a implantação de redes
elétricas inteligentes.
A temática da “geração distribuída” tem estado
presente em um número significativo de projetos
de P&D relacionados a smart grid. Segundo
levantamento realizado pela CGEE (2012), foi o
tema que apresentou o maior investimento, o
maior número de projetos e os maiores valores
unitários de projeto num conjunto de 178 projetos
cadastrados na ANEEL. A participação da
microgeração distribuída deverá continuar sendo
frequente nos projetos de smart grid, em função
do estímulo à sua difusão, por meio da
publicação
da
Resolução
nº
482
da
ANEEL (2012).
O principal desafio para a implantação de
microgeração distribuída está relacionado à
participação dos consumidores, que possibilitará
a avaliação de benefícios e do comportamento
do consumidor. Considerando que a instalação
de um microgerador depende de o imóvel ter
localização e condições apropriadas para receber
a instalação, depende do interesse do
consumidor participar do teste e, o mais
importante, necessita equacionar a destinação
dos ativos ao final do projeto.
2.1.5
Armazenamento de energia
Quando se acrescentam fontes renováveis para
a geração de eletricidade, é essencial integrar
sistemas de armazenamento de energia a fim de
compensar a variabilidade e a disponibilidade de
geração solar e eólica. Os desafios relativos aos
sistemas de armazenamento de energia são os
seguintes:
a) sistemas de armazenamento de energia são
caros
e
pesquisas
adicionais
são
necessárias para reduzir o custo do uso
desses sistemas;
b) a adição de sistemas de armazenamento é
muitas vezes seguida de uma análise muito
complexa dos sistemas de potência. Cada
sistema de armazenamento tem de ser
personalizado para o ponto da rede a que
será ligado. Isso aumenta ainda mais o
custo desses dispositivos;
c) o sistema de armazenamento de energia é
projetado para uma configuração de rede
específica, não sendo facilmente adaptável
a mudanças na rede. Os sistemas de
armazenamento de energia são concebidos
para uma rede em particular e, portanto,
eles não são flexíveis (BEIDOU et al., 2010).
2.1.6
Veículos elétricos
A presença de veículos elétricos em
projetos-piloto de smart grid ainda é bastante
18
limitada, provavelmente devido às perspectivas
de, em curto prazo, utilizarmos no Brasil veículos
híbridos e não puramente elétricos. Dessa forma,
os desafios estão relacionados à disponibilidade
de veículos elétricos, que sejam homologados
para transitar no país e possuam características
que permitam testes em condições similares
àquelas de uso real.
Para avaliar de forma efetiva o impacto que a
recarga de veículos elétricos pode causar nas
redes, ou para pesquisar a possibilidade de os
veículos elétricos desempenharem a função de
armazenar energia de geração eólica ou solar,
além da dificuldade de obtenção de modelos de
veículos elétricos, há o desafio da falta de
padronização nacional de plugues e tomadas
para alimentação dos veículos.
2.2 Métricas para avaliação dos pilotos
A implantação de projetos de smart grid
representa uma oportunidade significativa de
coleta de informações de campo para que seja
possível determinar os benefícios de redes
elétricas inteligentes, comparar os benefícios
com os custos e construir casos de negócios
futuros. Entretanto, a avaliação ampla e
detalhada apresenta grandes desafios, dada a
inter-relação entre os elementos que compõem a
rede inteligente e os benefícios proporcionados
por esses elementos. O desafio de estabelecer
uma avaliação de um projeto pode ser mais bem
entendido pelo mapeamento realizado pelo EPRI,
no qual 13 funções de elementos-chave de redes
inteligentes foram associadas a 25 tipos de
benefícios, conforme quadro apresentado na
Figura 2, reproduzido do trabalho do
EPRI (2010). Na figura, pode-se verificar que
uma dada função pode gerar mais de um
benefício e este, por sua vez, pode ter a
contribuição de várias funções presentes em um
projeto-piloto.
As métricas de avaliação e de análise dos
benefícios de projetos-piloto de smart grid
apresentam alguns grandes desafios. Esses
desafios consistem em:
a) permitir uma comparação justa entre o
desempenho de uma smart grid e de uma
rede convencional de referência;
b) estruturar a coleta de dados adequados
quanto a frequência e granularidade;
c) determinar os benefícios sociais;
d) avaliar economicamente os benefícios;
e) extrapolar os resultados do piloto para
áreas maiores;
f) interpretar a resposta da rede inteligente
às perturbações elétricas;
g) ponderar as diferenças regionais em
relação a ambiente, consumidores e
concessionária.
Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 1, p. 15-22, jan./jun. 2013
Os desafios da implementação dos projetos-piloto de smart grid no Brasil
Fonte: EPRI (2010)
Figura 2 Mapeamento de funções x benefícios
e dificuldade em adaptar os sistemas para
fornecer informações dos gastos, ficando
limitados ao fornecimento dos dados
relativos à energia consumida.
2.3 Envolvimento do consumidor e avaliação
de seu comportamento
Uma função fundamental da implementação de
redes inteligentes é a participação ativa dos
consumidores. A rede inteligente pode incorporar
comunicação com os equipamentos dos
consumidores, monitorar e controlar o seu
comportamento de uso. Isso permite aos
consumidores um maior controle sobre a forma
de uso e o consumo de equipamentos
residenciais e comerciais. Todavia, para o
sucesso dessa medida, são necessárias a
aceitação, a participação e a colaboração do
consumidor. O envolvimento do consumidor nos
projetos de redes inteligentes apresenta,
portanto, os seguintes desafios:
a) falta de comunicação de duas vias entre
consumidores e concessionária;
b) falta de acesso dos consumidores à
Internet;
c) falta de equipamentos de micromedição
adaptados aos padrões da rede elétrica do
consumidor (tensão de operação, plugues
e tomadas);
d) manutenção da privacidade e da
segurança dos consumidores;
e) conscientização sobre o uso eficiente da
energia, o uso de aparelhos inteligentes e
o gerenciamento de energia;
f) complexidade do processo de faturamento
2.4 Desafios relativos à regulamentação
Projetos-piloto de smart grid têm o propósito de
avaliar tecnologias e soluções submetidas ao
comportamento real da rede e de seus
consumidores. Isso só é alcançado aplicando-se
as tecnologias e as soluções em condições
normais de fornecimento de energia, de forma
que toda a regulamentação para fornecimento de
energia elétrica seja exigida na rede-piloto. A
regulamentação existente não permite mudança
dos padrões de fornecimento de energia, mesmo
que temporária e com
anuência dos
consumidores. Essa condição constitui um
grande desafio para a inclusão, nos pilotos, de
avaliações que impliquem riscos à redução da
qualidade do fornecimento de energia.
Outra questão que oferece desafios aos projetospiloto está relacionada às regras de uso dos
recursos de P&D ANEEL, que são bastante
utilizados em projetos conduzidos pelas
concessionárias. As regras, elaboradas de forma
ajustada aos projetos de pesquisa e
desenvolvimento, apresentam desafios aos
projetos-piloto, a saber:
a) impossibilidade de iniciar o projeto com uma
fase de planejamento do teste, a ser
elaborada após uma fase de levantamento
Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 1, p. 15-22, jan./jun. 2013
19
Os desafios da implementação dos projetos-piloto de smart grid no Brasil
das condições detalhadas da rede onde se
desenvolverá o piloto, causando revisões e
atrasos no projeto;
b) necessidade de manter os ativos no
controle da concessionária ou da instituição
de pesquisa, mesmo quando instalados no
consumidor, o que cria dificuldade em
equacionar
a
participação
dos
consumidores nesses pilotos.
3
Análise e discussão dos resultados
O desafio inicial para a implantação dos
projetos-piloto é a definição de uma arquitetura
de comunicação que suporte as diversas
aplicações envolvidas nos projetos. Devido às
características de relevo e às diferentes
aplicações envolvidas em cada projeto, até o
momento não foi identificada uma única solução
de telecomunicações que atendesse às
características presentes nas diversas regiões do
Brasil. Outro aspecto relevante é a dificuldade de
encontrar, no mercado, soluções que garantam a
interoperabilidade dos sistemas de comunicação.
Os aspectos de interoperabilidade também estão
presentes nas soluções AMI hoje disponíveis no
mercado nacional, pois a grande maioria das
soluções ofertadas são proprietárias e não
permitem a interoperabilidade dos sistemas de
medição eletrônica.
A implantação dos campos de teste também
apresenta
grandes
desafios
para
os
projetos-piloto. Por se tratar de soluções
relativamente novas, há a necessidade de um
aculturamento das tecnologias e aplicações
envolvidas em todas as fases do processo, tais
como: elaboração de especificações de compra,
aceitação dos equipamentos, implantação em
campo, aceitação das soluções e avaliação de
resultados. Muitas vezes esses pontos impactam
o cronograma do projeto, levando a atrasos que,
por sua vez, acabam reduzindo o período de
avaliação das soluções em campo.
Além desses desafios, outro ponto que tem
merecido atenção, tanto em nível nacional como
internacional,
devido
às
diversidades
encontradas nas empresas de energia elétrica, é
a definição de um framework para análise e
definição dos benefícios do projeto.
Conclusão
Como se pôde observar neste trabalho, a
implantação em larga escala das redes elétricas
inteligentes envolve uma série de desafios para
as empresas de energia elétrica.
Do ponto de vista tecnológico, as questões de
automação
da
rede
de
distribuição,
interoperabilidade e padronização são pontos
importantes para o avanço das redes elétricas
inteligentes, sendo que uma atenção especial
deve ser dada à interoperabilidade dos sistemas
20
de comunicação, AMI e plugues para veículos
elétricos.
O envolvimento do consumidor também tem se
mostrado um fator importante para o sucesso
dos projetos-piloto, exigindo o desenvolvimento
de soluções adaptadas às necessidades dos
consumidores locais e possibilidade de
disponibilização de informações que permitam
aos consumidores um uso mais eficiente da
energia elétrica.
A definição de métricas que permitam a
avaliação
dos
benefícios,
levando
em
consideração as necessidades locais de cada
empresa de energia elétrica, se apresenta como
um dos fatores decisivos para o avanço das
implantações de redes elétricas inteligentes. O
estabelecimento de um framework para
qualificação e quantificação de benefícios dos
projetos-piloto e a designação de uma entidade
para captar e compartilhar estudos de caso, as
melhores práticas e lições aprendidas de
projetos-piloto, a exemplo do trabalho realizado
pelo Departamento de Energia dos Estados
Unidos (BOSSART; BEAN, 2011), são ações
fortemente recomendadas para que as
organizações aprendam com as diversas
experiências e possam apropriá-las em
implementações futuras de smart grid no Brasil.
A geração de subsídios para a evolução das
regulamentações por parte das agências
reguladoras também tem se revelado um
importante resultado da realização dos
projetos-piloto.
Considerando todos esses desafios, a realização
de projetos-piloto de maior escala é, e continuará
sendo por mais alguns anos, um importante
passo rumo à efetiva implantação das redes
elétricas inteligentes.
Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA
(ANEEL). Resolução Normativa n° 482.
Brasília, 17 de abril de 2012. Seção: Informações
Técnicas. Disponível em:
<http://www.aneel.gov.br/>. Acesso em: 08 abr.
2013.
BEIDOU, F. et al. Smart Grid: Challenges,
Research Directions and Possible Solutions. In:
IEEE INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON
POWER ELECTRONICS FOR DISTRIBUTED
GENERATION SYSTEMS, 2., 30-31 mar. 2010,
HeFei, P.R. China. Proceedings... HeFei: IEEE,
2010. p. 670-673.
BOSSART, J. S.; BEAN, J. E. Metrics and
Benefits Analysis and Challenges for Smart Grid
Field Projects. In: IEEE ENERGYTECH, 25-26
maio 2011, Cleveland. Proceedings... Cleveland:
IEEE, 2011. p. 1-5.
CENTRO
DE
GESTÃO
E
ESTUDOS
Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 1, p. 15-22, jan./jun. 2013
Os desafios da implementação dos projetos-piloto de smart grid no Brasil
ESTRATÉGICOS (CGEE). Redes Elétricas
Inteligentes: contexto nacional. Documento
técnico. n. 16, p. 176, dez. 2012. Disponível em:
<http://www.cgee.org.br/atividades/redirect/8050
>. Acesso em: 14 abr. 2013.
ELECTRIC POWER RESEARCH INSTITUTE
(EPRI).
Methodological
Approach
for
Estimating the Benefits and Costs of Smart
Grid Demonstration Projects. Product ID
1020342. 2010. Disponível em:
<http://my.epri.com/portal/server.pt?
Abstract_id=000000000001020342>. Acesso em:
15 abr. 2013.
Abstract
The Smart Grid concept has been broadly discussed recently both nationally and internationally. In Brazil,
several pilot projects are in progress, in which pertinent aspects related to Smart Grid are being
evaluated. The objective of this paper is to provide, based on the ongoing pilot projects in Brazil, an
analysis of the main challenges facing the technologies involved, the development of standards to
evaluate results, the consumer engagement, as well as the regulation.
Key words: Smart Grid. Distribution System. Advanced Metering. Distribution Automation.
Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 1, p. 15-22, jan./jun. 2013
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