LE CORBUSIER E PIERRE JEANNERET: O ESTÁDIO DE 1936 PARA A FRENTE POPULAR LE CORBUSIER’S AND PIERRE JEANNERET’S 1936 STADIUM FOR THE PEOPLE’S FRONT Jean-Louis Cohen ARQTEXTO 17 Tradução inglês-português: Equipe editorial 1 2 6 1, 2 Vista aérea do Centro Nacional de Festividades Populares. 1, 2 Aerial view of the National Centre for Popular Festivities. The “National Centre for Popular Festivities for 100000 participants” is among the projects of Le Corbusier and Pierre Jeanneret’s that have been the less investigated1. It was designed at a very specific time in the life of their partnership, as it appears to have been conceived mainly by Pierre Jeanneret who put significant efforts into it over three hundred fifty drawings, made between late 1936 and spring 1937. In fact, only a few of them bear evidence of a direct graphic input by Le Corbusier. In the context of the office’s production, the centre expanded research carried out in 1931 and 1932 for Moscow’s Palace of Soviets competition project, essentially continuing the work on crowd management and on the specific issues of the acoustics and the visibility patterns of large public facilities. The National Center also extended the reflection developed for the Palace’s suspended roof, as a cable structure was one of its main components2. The project was inscribed in an particular constellation of determinants. It belonged to the set of ideas and proposals made by Le Corbusier for the reorganization of Paris and within the framework of the Exposition internationale des arts et des techniques dans la vie moderne, planned for 1937, where he managed to build the Pavillon des Temps Nouveaux. The Center was also a response to the program of sporting facilities in rapid development in all of Paris since the aftermath first World War. But most importantly, it was an explicit response to the expectations of the People’s Front coalition running France since the general election of May 1936, with a government of socialist and radical socialist ministers, with the parliamentary support of the communists. Its mission of federating as it did sport, culture and politics is rather clearly exposed in a passage “there are many circumstances today where crowds gather in a unanimous communion that elicits the emotion given by art3”. As a sport complex, the project continued policies the Paris municipality had developed since the late 19th century for the creation of sports facilities, initiated with the cycle track in the Bois de Vincennes, designed by landscape architect Jean Claude Nicolas Forestier on the Eastern edge of the city. It was inaugurated in 1894 and used for the Olympic Games of 1900. The track was followed by the Parc des Princes, completed in 1897 at the porte de Saint-Cloud, in the West, and by the creation in 1903 of the Vélodrome d’Hiver (winter cycling track) at Grenelle, designed by Gaston Lambert. World War One marked a turning point, with the construction in 1919 of the Pershing stadium, also in the Bois de Vincennes. The following year, the Congrès des Sports called for the creation of two “sports parks each having a stadium for spectacles.” These facilities were to be located “preferably near 7 ARQTEXTO 17 O “Centro Nacional de Festividades populares para 100 mil participantes” está entre os projetos menos investigados de Le Corbusier e Pierre Jeanneret1. O Centro foi projetado em um momento bastante peculiar na trajetória dessa parceria, já que grande parte dele parece ter sido concebida por Pierre Jeanneret ao empregar significativos esforços nos mais de trezentos e cinqüenta desenhos, feitos entre o final de 1936 e a primavera de 1937. Na verdade, apenas alguns deles contêm evidências de uma interferência direta de Le Corbusier. No contexto da produção do escritório, a maior parte dos estudos acerca do Centro deu-se em 1931 e 1932 à ocasião do concurso do Palácio dos Sovietes de Moscou, essencialmente continuando o trabalho de gestão de multidões e de questões específicas da acústica e os padrões de visibilidade de grandes instalações públicas. O Centro Nacional também ampliou a reflexão gerada em torno do teto suspenso do Palácio, cujo principal componente era uma estrutura de cabos2. O projeto foi inscrito em uma constelação particular de determinantes. Ele pertencia ao conjunto de idéias e propostas apresentadas por Le Corbusier para a reorganização de Paris no âmbito da Exposition Internationale des arts et des techniques dans la vie moderne, prevista para 1937, onde ele construiu o Pavillon des Temps Nouveaux. O Centro também foi uma resposta ao programa de instalações esportivas em acelerado desenvolvimento por toda Paris desde o final da primeira Grande Guerra. Mais do que isso, foi uma resposta explícita às expectativas da coalizão da Frente Popular que governava a França desde a eleição geral de maio de 1936, com um governo de ministros e radicais socialistas, contando com o apoio parlamentar dos comunistas. Sua missão de governar fazendo cultura, esporte e política é claramente exposta em “hoje em dia há muitas circunstâncias em que as multidões se reúnem em uma comunhão unânime que provoca a emoção dada pela arte3”. Como um complexo esportivo, o projeto deu seqüência às políticas que o município de Paris vinha desenvolvendo desde o final do século XIX para a criação de instalações esportivas, iniciadas com a pista de ciclismo no Bois de Vincennes, projetado por Jean Claude Nicolas Forestier nos limites orientais da cidade. A pista abriu em 1894 e foi usada para os Jogos Olímpicos de 1900. Logo após foram criados o Parc des Princes, inaugurado em 1897 na Porte de Saint-Cloud, no Ocidente, e em 1903, o Vélodrome d’Hiver (pista de ciclismo de inverno) em Grenelle, projeto de Gaston Lambert. A Primeira Guerra Mundial marcou um ponto de inflexão, com a construção em 1919 do Estádio Pershing, também no Bois de Vincennes. No ano seguinte, o Congrès des Sports apelou à criação de ARQTEXTO 17 dois “parques esportivos, cada qual com um estádio para espetáculos.” Esses equipamentos deveriam situar-se “de preferência perto do Porte de Versailles e do Porte de Clignancourt”, como parte do projeto geral preparado por Forestier e Louis Bonnier para a transformação do terreno onde havia estado até 1919 uma muralha de 1845. Em 1924, as Olimpíadas foram realizadas em Colombes, noroeste de Paris, em um estádio construído em 1907 e reformado por Louis Faure-Dujarric. À mesma época, o estádio de rúgbi Jean Bouin, construído em 1908 perto do Parc des Princes, foi ampliado e inserido no plano geral dos terrenos das antigas edificações. Das janelas do seu apartamento na rua Nungesser-et-coli, Le Corbusier podia olhar para os campos do Jean Bouin, e também passear com seu cachorro nas proximidades do estádio de tênis Roland-Garros, inaugurado em 1928. Não era possível ignorar a pista de ciclismo coberta de Buffalo, construída em 1922 em Montrouge, uma prova da afinidade entre esportes e política, uma vez que foi lá que aconteceu a reunião de fundação da Frente Popular, no Dia da Bastilha de 1935, com a participação dos líderes da esquerda. Além disso, Le Corbusier e Pierre Jeanneret dificilmente poderiam ter deixado de ver os relatórios da imprensa e notícias que cobriam os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 e os espetaculares eventos esportivos realizados ao mesmo tempo em toda a Europa, da Rússia Soviética à Espanha. Durante sua viagem aos Estados Unidos, Le Corbusier também teve, em 1935, a oportunidade de conhecer as instalações desportivas de luxo dos campi americanos. E na cidade tcheca de Zlín, ele havia assistido, no mesmo ano, os desfiles de esportes encenados por Bat’a, o fabricante de sapatos que ele estava cortejando, e que lhe presenteou com um álbum de memórias do evento. Já Pierre Jeanneret teve uma experiência em primeira-mão da festa realizada anualmente pelo diário comunista L’Humanité, em Garches, zona oeste de Paris. O programa imaginado pelos arquitetos para o Centro, sobre o qual nunca receberam qualquer informação explícita de qualquer pessoa, não foi, sob nenhum aspecto, convencional. No entanto, ele atendeu precisamente às políticas promovidas pelo Sub-Secretário de Estado da Educação Física, Esporte e Lazer, Leo Lagrange, nomeado em 1936 pelo primeiro governo da Frente Popular. Muito mais que um mero estádio, o Centro foi feito, necessariamente, para “ser nacional”, em sintonia com o que Le Corbusier considerou “o despertar do país”, em sua apresentação do Pavillon des Temps Nouveaux na Exposição de 1937. Mais do que um recinto desportivo utilizado esporadicamente, ele propôs a idéia de uma arena que poderia “ser usada todos os dias, se o tempo permitir, para diversos fins.” Na sua opinião, a nova situa8 the porte de Versailles and the porte de Clignancourt”, as part of the project concocted by Forestier and Louis Bonnier for the transformation of the grounds where the fortified wall built in 1845 had stood until 1919. In 1924, the Olympics were held at Colombes in the Northwest of Paris, in a stadium built in 1907 and renovated by Louis Faure-Dujarric. At the same time, the Jean Bouin rugby stadium, built in 1908 near the Parc des Princes, was extended, and inserted into the general plan for the former fortifications grounds. From the windows of his apartment on rue Nungesser-et-Coli, Le Corbusier could look down at Jean Bouin’s playing fields, and he could also walk his dog to the nearby Roland-Garros tennis stadium, which had opened in 1928. He could not ignore the Buffalo indoor cycle track, built in 1922 in Montrouge, an evidence of the affinities between sports and politics, since it was there that the founding meeting of the People’s Front was held on Bastille Day 1935, with the participation of all the leaders of the Left. In addition Le Corbusier and Pierre Jeanneret could hardly have missed the press reports and newsreel footage covering the 1936 Olympics in Berlin and the spectacular sporting events held at the same time throughout Europe, from Soviet Russia to Spain. During his trip to the United States, Le Corbusier also had in 1935 the opportunity to discover the luxurious sporting facilities of American campuses. And in the Czechoslovak city of Zlín, he had attended that same year the sports parades staged by Bat’a, the industrial shoemaker he was then courting, and who presented him with an album recording the event. As for Pierre Jeanneret, he had a first-hand experience of the festival held each year by the communist daily L’Humanité, at Garches in the West of Paris. The program imagined by the architects for the Center, for which they never received any explicit brief by anyone, was in no way conventional. Yet, it responded closely to the policies promoted by the Under-Secretary of State for Physical education, sports and leisure Leo Lagrange, appointed in 1936 by the first People’s Front government. Much more than a mere stadium, the Center was meant necessarily to “be national,” in phase with what Le Corbusier considered as “the awakening of the country,” in his presentation for the Pavillon des Temps nouveaux at the 1937 Exposition. Rather than a sporadically used sporting venue, he proposed the idea of an arena that might “be used every day, weather permitting, for diverse purposes.” In his view, the new political situation “called for frequent meetings, festivities and work in common, theater, cinema for entertainment, education or propaganda, civic or political lectures. And finally, the spectators must also be able to become actors by taking part in mass parades4. In both the 1937 pavilion and the book published the following year to disseminate its exhibits, under the title Des canons? Des munitions? Merci ! Des logis. SVP, Le Corbusier insisted on the innovative character of this “civil tool for the modern times”. According to him, what was needed was to create “an entirely new type of venues for festivities that owes nothing to Antiquity or to any other period5”. The potential such a place promised was vast and it was affirmed in the Œuvre complète that “music, speech, theatre, mime, decorative and plastic effects will find here, in front of them, new unlimited perspectives,” to the point that, inevitably, “new creations will appear6”. The typed note that explained the project drawings lists its “many functions:” “- Covered amphitheatre with 100.000 seats, with disseminated access ways; - Stage for theatrical performances; - Arrangements for parades coming from the outside or from the amphitheatre; - Orator’s tribune; - Open air cinema; the screen retracting by means of on hydraulic pump; - Wide lawn areas for gymnastic exercises; - Artificial hill for Olympic tableaux vivants; - Large metal mast 100 meters high, behind the cinema screen, used to carry the cables of the velum in the version featuring a flexible roof; - Sound studios, camera turrets and radio broadcasting rooms built into the large mast7”. The site location of the project was by no means a minor question and the deployment of its components throughout the territory of the Paris region was considered in many of the office’s drawings. In fact, the site became a sort of nomadic entity, since no single location was ever decided on. Three locations were surveyed in detail. The first was in the Bois de Vincennes, attached to the East-West axis featured in all the plans Le Corbusier had proposed for Paris since 1925, close to the area he had suggested in 1932 for the 1937 Exposition. The second site was located at Gennevilliers, in a loop of the Seine to the Northwest of Paris, and the third one in the South, at Gentilly, near the Cité Universitaire. Coupled with the 19th century Parc Montsouris, it was meant to be linked to the southern motorway featured in the Paris regional plan submitted by Henri Prost in 1934. These three locations were mentioned in the public relations campaigns focused at promoting the project, but in a broader analysis of the potential sites, six other locations had came in for preliminary studies. They were, in turn, two pieces of land located South of the Bois de Boulogne, one of which being designated as “the Rothschild property8”, the military exercise 9 ARQTEXTO 17 ção política “chamava para encontros freqüentes, festas e trabalhos em comum, teatro, cinema, para entretenimento, educação ou propaganda, palestras cívicas ou políticas. E, finalmente, os espectadores também devem ser capazes de se tornar atores, participando de desfiles de massa4”. Tanto no pavilhão de 1937 como no livro publicado no ano seguinte para divulgar suas exposições, com o título Des canons? Des munitions? Merci! Des logis. SVP, Le Corbusier insistiu no caráter inovador desta “ferramenta civil para os tempos modernos”. Segundo ele, o necessário era criar “um novo tipo de espaços para festividades que não devesse nada à antigüidade, ou a qualquer outro período5”. O potencial que um lugar assim prometia era grande. A Œuvre complète afirmava que “música, fala, teatro, mímica e efeitos plásticos e decorativos encontrariam aqui novas e ilimitadas perspectivas”, a tal ponto que, inevitavelmente, “novas criações apareceriam6”. Uma nota explicativa lista suas “muitas funções”: “- Anfiteatro coberto com 100.000 assentos, com vias de acesso distribuídas; - Palco para espetáculos teatrais; - Apoio para desfiles vindos de fora ou do anfiteatro; - Tribuna do orador; - Cinema ao ar livre com tela retrátil; - Vastas áreas de gramado para ginástica; - Colina artificial para tableaux vivants Olímpicos; - Mastro metálico de 100m de altura, atrás da tela do cinema, usado para transportar os cabos da cobertura na versão com teto flexível; - Estúdios de som, suportes para câmeras e salas de radiodifusão embutidos no grande mastro7”. A localização do terreno do projeto não foi, de modo algum, uma questão menos importante, e a implantação de seus componentes em todo o território da região de Paris foi levada em consideração em muitos dos desenhos do escritório. Na verdade, o sítio se tornou uma espécie de entidade nômade, já que nenhum local em particular foi escolhido. Três terrenos foram examinados detalhadamente. O primeiro foi no Bois de Vincennes, ligado ao eixo leste-oeste, presente em todos os planos que Le Corbusier havia proposto para Paris desde 1925, perto da área que ele mesmo havia sugerido em 1932 para a Exposição de 1937. O segundo situava-se em Gennevilliers, em um loop do Sena, a noroeste de Paris, e um terceiro no sul, em Gentilly, perto da Cité Universitaire. Juntamente com o Parc Montsouris, do século XIX, ele estava destinado a ser conectado à auto-estrada do sul presente no plano regional de Paris apresentado por Henri Prost em 1934. Estes três locais foram mencionados nas campanhas focadas na promoção do projeto, mas em uma análise mais ampla dos locais em potencial, outros 3 Vista aérea. 3 Aerial view. 4 Planta-baixa. 4 Floor plan. 5 Solução da cobertura do estádio em um teto flexível. 5 Solution of the coverage of the stadium in a flexible roof. ARQTEXTO 17 6 Corte tranversal. 6 Cross section. 3 4 5 10 6 field at Issy-les-Moulineaux, sites in Nogent-sur-Marne. Meudon, the Parc de Sceaux, and a piece of land lying north of the railway yards at Villeneuve-Saint-Georges or Maisons-Alfort. The office devoted a great attention to the problem of transportation to and from the Center. While a link to the metro is mentioned, research focuses essentially on automobile access routes. An “autostrada for buses” was imagined and the design of motorway interchanges was looked at in detail. To a certain extent pedestrian flows were also channeled along “roads,” which were called “vomitoria” as in antique stadiums. The presentation documents insisted on the fact that “there is not a single step in all this immense construction, only gently sloping ramps.” In this regard, the Center clearly recycled the strategy defined for the Centrosoyuz in Moscow, also serviced by a system of ramps. The circulation diagram were paralleled by a careful analysis of sight-lines from the stands, which identified the seats that were “favorable” with regard to the access itinerary, and the others that were “uncomfortable” because of the sun’s glare. The detailed design investigations for the project included the comparative study of the cross-section of a number of existing stadiums in Paris, among which the Parc des Princes and the Colombes stadium; in Europe, such as the Mussolini stadium in Turin by Raffaello Fagnoni, the Florence stadium by Pier Luigi Nervi, the Olympic stadium in Rome - then still in the planning phase -, the Vienna stadium by Otto Ernst Schweizer, and the Berlin Olympic stadium by Werner March; and in the United States, with as the University of Denver stadium by William Ellsworth Fisher9. The sketches feature steel or concrete stands explicitly derived, as marginal notes make it clear, from the solutions found for the Palace of the Soviets10. A solution using a shell carried by brackets was explored, and also related to other sketches referring to the Moscow project11. The most interesting of the variants is a “semi-rigid” solution using two masts with cables stretched in the same plane. The conclusive solution was even more daring. It was based on the erection of a tubular pylon, tapered at its two ends, and leaning so as to redistribute the tensile stresses of a conical array of cables holding up the velum over the stands. It combined modern technical invention with solutions known since Antiquity to shelter spectators from direct sunlight. The principle of the leaning pylon stabilized by cables, in which a reference to the crane booms of freighter ships can be detected, was also used in the Pavillon des Temps Nouveaux pavilion, another design predominantly authored by Pierre Jeanneret12. The detailed definition of the project was obtained by means of many drawings, 11 ARQTEXTO 17 seis sítios surgiram para estudos preliminares. Eles eram, por sua vez, dois pedaços de terra localizados ao sul do Bois de Boulogne, um dos quais foi designado como “a propriedade de Rothschild8”; o campo de exercício militar em Issy-les-Moulineaux, situado em Nogent-sur-Marne Meudon; o Parc de Sceaux; e uma área de terra a norte dos estaleiros ferroviários em Villeneuve-Saint-Georges e Maisons Alfort. O escritório dedicou atenção especial ao problema do transporte de chegada e de saída do Centro. Ao passo que uma conexão com o metrô é apenas mencionada, o estudo concentra-se essencialmente nas vias de acesso de automóveis. Uma “auto-estrada de ônibus” foi projetada e o desenho das inter-relações da auto-estrada foi examinado detalhadamente. A um certo ponto, os fluxos de pedestres também foram canalizados ao longo das “estradas”, que eram chamados de “vomitoria”, como nos estádios antigos. Os documentos de apresentação enfatizaram o fato de que “não há um único degrau em toda essa imensa contrução, apenas rampas levemente inclinadas.” Nesse sentido, o Centro claramente reproduz a estratégia definida para o Centrosoyuz em Moscou, também servido por um sistema de rampas. Concomitante ao esquema de circulações, foi feita uma análise cuidadosa das linhas de vista das arquibancadas, a qual identificou as poltronas que encontravam-se em posição “favorável” no que diz respeito ao itinerário de acesso, e as outras que que encontravam-se “desconfortáveis”devido à claridade do sol. As investigações acerca do projeto incluiram o estudo comparativo da seção transversal de vários de estádios já existentes em Paris, entre os quais o Parc des Princes e o Estádio de Colombes; na Europa, o Estádio de Mussolini em Turim por Raffaello Fagnoni, o de Florença por Pier Luigi Nervi, o Estádio Olímpico, em Roma e em seguida, ainda em planejamento, o Estádio de Viena, de Otto Ernst Schweizer, e o Estádio Olímpico de Berlim, por Werner March; e nos Estados Unidos, o Estádio da Universidade de Denver, de William Ellsworth Fisher9. Os croquis mostram arquibancadas de aço ou concreto, derivadas explicitamente das soluções para o Palácio dos Sovietes10, como fica claro nas notas marginais. Foi explorada uma solução em que a concha das arquibancadas se apoiava em pilares inclinados, também relacionada com outros desenhos referentes ao projeto de Moscou11. A mais interessante dessas variantes é uma solução “semi-rígida” usando dois mastros com cabos esticados no mesmo plano. A solução final foi ainda mais ousada. Baseou-se na construção de uma torre tubular, afilada em suas duas extremidades, e inclinando-se de forma a redistribuir os esforços de tração de uma matriz cônica de cabos, segurando a cobertura sobre as arquibancadas. Combina- ARQTEXTO 17 va um invento técnico moderno com soluções de abrigo dos espectadores da luz solar direta conhecidas desde a Antiguidade. O princípio da torre inclinada estabilizada por cabos, cuja referência aos guindastes de navios cargueiros fica evidente, também foi utilizado no Pavillon des Temps Nouveaux, um outro projeto de autoria predominante de Pierre Jeanneret12. A resolução detalhada do projeto foi obtida por meio de inúmeros desenhos, desde os estudos cuidadosos das arquibancadas em seção até a simulação dos pontos de vista para o palco enquadrados pela cobertura. Configurações transformáveis permitiam a criação de relações inovadoras entre a área do palco e da platéia. As atividades mencionadas incluíram “ atletismo, futebol, rúgbi, reuniões esportivas, teatro, cinema, mostras de filmes, palestras, eventos e festas populares13”. Alguns dos desenhos mostram o estádio principal como uma grande concha aberta deitada na areia, e o caráter biomórfico do projeto é enfatizado por Le Corbusier em Des Canons? Des Munitions?, onde ele escreve que “em toda sua biologia, o trabalho parece novo14”. Em torno da “Arena Olímpica”, outras estruturas também foram propostas: “teatro, desfiles, tribuna de oradores, cinema, esplanada de ginástica” e um “tronco de pirâmide para espetáculos de massa15”. Os desenhos mais detalhados mostram uma “grande sala de tênis” com uma estrutura, em parte, tracionada e um “edifício de ginástica”, com um telhado parabólico16. Também foram exploradas as questões econômicas, calculando a metragem cúbica de concreto que seria necessária para a obra ser construída. A ação de Le Corbusier para promover e, em sua percepção esperançosa, construir um projeto que ele mesmo não havia projetado, seguiu vários canais. O primeiro passo foi mobilizar os principais responsáveis políticos franceses. No início de 1937, ele se aproximou de Sub-Secretário Léo Lagrange, que havia encontrado em 8 de fevereiro. Durante a conversa, Le Corbusier insistiu que um possível sítio para o projeto poderia ser no oeste, numa altura em que os trabalhos já haviam sido planejados para serem feitos nas terras do Estádio Pershing17. Ele também aproximou-se do primeiro-ministro Léon Blum, a quem enviou um dossiê em 17 de abril de 1937. Mais tarde, ele tentou marcar uma reunião com Georges Barthélémy, o vice-prefeito de Puteaux, um subúrbio de Paris, e um porta-voz para os esportes o encaminhou para os seus próprios arquitetos Jean e Niermans Edouard. Barthélémy estava, de fato, interessado em criar um “Stade de France”, nos moldes do Estádio Olímpico de Berlim18. O seu interesse e sua admiração pela Alemanha eram tão fortes, que ele foi levado a colaborar com os Nazistas. Por fim, ele foi executado pela Resistência em 1944. 12 from the careful studies of the stands in section to the simulation of the viewpoints the velum framed onto the stage. Transformable configurations enabled for the creation of innovative relations between the stage area and the audience. Activities mentioned included “athletics and sports; football, rugby; sports congresses; theatre; cinema, screenings, speakers, events and popular festivals13”. Some of the drawings show the main stadium as a large open shell lying on the sand, and the biomorphic character of the project is emphasized by Le Corbusier in Des Canons ? Des Munitions ?, where he writes that “in all its biology, the work appears new14”. All around the major component named “Olympic arena”, other structures were also proposed: “theatre, parades, tribune for speakers, cinema, gymnastic esplanade” and a “truncated pyramid for mass performances15”. The most elaborate drawings depict a “large tennis hall” with a partly tensile structure and a “gymnastics building” with a parabolic roof16. The office also explored economic issues, in particular by calculating how many cubic meters of concrete it would require to be built. Le Corbusier’s action to promote and, in his hopeful perception, to build a project he had not really designed himself followed several channels. The first move was to mobilize the main French political officials. Early in 1937, he approached Under-Secretary Léo Lagrange, who met with him on February 8. During their conversation, Le Corbusier insisted that a possible location of the project could be in the East, at a time when works had already been planned on the Pershing stadium lands17. He also approached Prime Minister Léon Blum, to whom he sent a dossier on April 17, 1937. Later, he tried hard to set up a meeting with Georges Barthélémy, the Deputy-Mayor of Puteaux, a Western suburb of Paris, and a spokesman for the sports budget at the Parliament, who referred him to his own architects Jean and Edouard Niermans... Barthélémy was in fact keen on creating a “Stade de France,” on the model of the Olympic stadium in Berlin18. So keen in fact, and his admiration for Germany so strong that it led him towards collaborating with the Nazis. Eventually, he was executed by the Resistance in 1944. A second channel was the presentation of a diorama devoted to the Center in the Pavillon des Temps Nouveaux at the 1937 Exposition. It combined a pin-up of the main drawings and a model, with a photomontage featuring a “celebration by night,” designed by Prévost19. Some views of this section of the pavilion are reproduced in Des Canons ? Des Munitions ? This remains as the only source allowing for the identification of the youthful members of the team that worked on the project, including their affiliation to the national branches of the CIAM – the International Congresses for Modern Architecture. Alongside Le Corbusier and Pierre Jeanneret there was [A.] Christen, presented as a collaborator of the CIAM France group. Kuyper, collaborator of the Dutch CIAM group, Novitzka, collaborator of the Polish CIAM group, Dakins, collaborator of the British CIAM group, and [Milorad] Pantowitch, simply characterized as a Yugoslav national20. According to the “cahier noir” – the black register where the authors of the main office drawings were listed, Christen had in fact made all the main finished drawings. As the project was clearly tainted by the rhetoric of the People’s Front in all the media that were used, it would be difficult for Le Corbusier to push the project further under the German Occupation of France during the years 1940 to 1944, even though it was in the domain of sports that the pro-German regime of Maréchal Pétain launched its most concrete schemes21. In particular, it was during the Occupation that Vichy’s General Commissary for National Education and Sports commissioned Auguste Perret to design a “national Olympic park.” Having in mind the model of the Berlin stadium, the engineers of the Service d’Aménagement de la Zone then planning the further transformation of the formerly fortified areas proposed six sites, among which both the Bois de Vincennes and Issy had been considered for the Center. Perret’s U-shaped design referenced the stadium that had been recreated at Athens in 1896, but had nothing of the inventiveness of the project devised by his one-time protégé22. Le Corbusier continued to reflect upon the project after the Second World War, at the outbreak of which he had parted way with Pierre Jeanneret. As late as 1961 he wrote a note to himself, in order to remember mentioning the stadium to André Malraux, then the Minister of Cultural Affairs in General De Gaulle’s government23. At a moment in which the creation of a new stadium for an audience of 100.000 was being discussed, he also contacted the influential municipal council member of Paris Alain Griotteray. Le Corbusier designed other projects for sports facilities in the later part of his life. The stadium for Chandigarh remained on paper, as well as the one he inserted in the large complex conceived, and partially built, in Baghdad. The only one he implemented is the Firminy stadium, where little is left of the technical and plastie boldness that characterized the architectural vision the short-lived optimism of the People’s Front summer of 1936 had inspired. 13 ARQTEXTO 17 Um segundo canal foi a apresentação de um diorama dedicado ao Centro no Pavillon des Temps Noveaux na Exposição de 1937. Ele fez um pin-up dos desenhos principais e uma maquete, com uma fotomontagem ilustrando uma “celebração à noite”, feito por Prévost19. Algumas visuais dessa parte do pavilhão são reproduzidas em Des Canons? Des Munitions? Este permanece como a única fonte de identificação dos membros jovens da equipe que trabalhou no projeto, incluindo a sua filiação aos capítulos nacionais do CIAM Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna. Juntamente com Le Corbusier e Pierre Jeanneret, estava [A.] Christen, colaborador do grupo francês, Kuyper, colaborador do grupo holandês, Novitzka, colaborador do grupo polonês, Dakins, colaborador do grupo britânico, e [Milorad] Pantowitch, caracterizado simplesmente como cidadão iugoslavo20. Segundo o “cahier noir” - o caderno negro onde os autores dos desenhos da sede do escritório eram listados - Christen tinha, de fato, feito todos os principais desenhos finais. Como o projeto estava manchado pela retórica da Frente Popular em todos os meios em que foi utilizado, seria difícil para Le Corbusier levá-lo adiante com a França ainda sob ocupação alemã de 1940 a 1944, apesar de ter sido no domínio dos esportes que o regime pró-alemão do Marechal Pétain elaborou seus programas mais concretos21. Em especial, foi durante a ocupação que o Comissário Geral para Educação e Esportes de Vichy encomendou a Auguste Perret o projeto para um “parque olímpico nacional”. Tendo em mente o modelo do estádio de Berlim, os engenheiros do Service d’Aménagement de la Zone, planejando a transformação suplementar de áreas anteriormente fortificadas, propuseram seis locais, entre os quais tanto o Bois de Vincennes quanto Issy tinham sido cogitados para abrigar o Centro. O desenho em forma de U de Perret fazia referencia ao estádio recriado em Atenas em 1896, mas não tinha nada da inventividade do projeto concebido por seu ex-pupilo22. Le Corbusier continuou estudando o projeto após a Segunda Guerra Mundial, no começo da qual ele tinha se separado de Pierre Jeanneret. No fim de 1961, ele escreveu uma nota para si mesmo, lembrando de mencionar o estádio a André Malraux, então ministro de Assuntos Culturais no governo do General de Gaulle23. Num momento em que a criação de um novo estádio para 100.000 pessoas estava sendo discutida, ele também entrou em contato com o influente vereador de Paris, Alain Griotteray. Le Corbusier fez outros projetos para instalações esportivas nos últimos anos de vida. O estádio de Chandigarh ficou no papel, bem como aquele inserido no seu amplo complexo em Bagdá, parcialmente construído. O único que ele implantou foi o estádio de Firminy, em que resta pouco da ousada visão arquitetônica que o otimismo da Fronte Popular tinha inspirado no verão de 1936. 7 Propsta para o Bois de Vincennes em conjunto com a remodelação do Estádio Pershing. 7 Proposal for the Bois de Vincennes along with the remodeling of Pershing Stadium. ARQTEXTO 17 8 Proposta para o Norte de Paris: Gennevilliers. 8 Proposal for the North of Paris: Gennevilliers. 7 8 14 NOTES O projeto foi discutido no artigo de um estudante: Catherine Touya e Philippe Tanier. Le Corbusier, Pierre Jeanneret, Centre national de réjouissances populaires de 100.000 participants, Strasbourg: École d’architecture, 1978. Uma breve menção pode ser encontrada em Danilo Udovicki-Selb. “Le Corbusier and the Paris Exhibition of 1937, The Temps Nouveaux Pavilion”, Journal of the Society of Architectural Historians (March 1997): 51-52. Também é evocado em Jean-Louis Cohen. Le Corbusier and the Mystique of the USSR, Theories and Projects for Moscow 19281936 (Princeton: Princeton University Press, 1992). 2 Uma versão anterior do texto foi incluída na introdução aos desenhos reproduzidos em Le Corbusier, Plans, Set of 16 DVD. Paris: Fondation Le Corbusier, Echelle 1, 2005-2009. 3 Oeuvre complète, 1934–1938. Zurich: Girsberger, 1939, p. 94. 4 Le Corbusier. Des Canons? Des munitions? Merci ! Des logis, SVP, Boulogne, Éditions de l’Architecture d’aujourd’hui, 1938), 98. Em relação a um breve escrito do escritório, ver: “Note concernant la construction d’un grand Centre de réjouissances populaires”, n.d., FLC I1(19)30 and “Centre de réjouissances populaires”, n.d., FLC I1(19)33. 5 Ibid. 6 Max Bill, op. cit., 95. 7 Le Corbusier et Pierre Jeanneret. “Note concernant la construction d’un grand Centre de réjouissances populaires,” cit. 8 FLC, desenho 21348. 9 FLC, desenhos 24830 e 24828. 10 FLC, desenho 21157 e 21237. É estranho que Alexander Nikolsky, o ex-líder do construtivismo em Leningrado, escreva a ele pedindo a sua opinião sobre os estádios: Alexander Nikolsky, carta a Le Corbusier, March 8, 1936, FLC I1(19)92. 11 FLC, desenhos 21286 e 21288. Essa solução foi publicada por Max Bill, op. cit., p. 97. 12 Ver Ivan Rumenov Shumkov. “Architecture and Revolution: Pavilion des Temps Nouveaux by Le Corbusier and Pierre Jeannerert at the International Exposition of 1937 in Paris.” tese de doutorado, Barcelona: Universitat Politécnica de Catalunya, 2010. 13 FLC, desenhos 21153. 14 Le Corbusier, Des Canons? Des munitions?, op. cit., 100. Sobre o tema da cobertura no trabalho de Le Corbusier, ver: Niklas Maak. Das Architekt am Strand. Le Corbusier und das Geheimnis der Seeschnecke. Munich: Carl Hanser Verlag, 2010. 15 Le Corbusier, Des Canons? Des munitions?, op. cit., p. 98. 16 FLC, desenhos 21356 e 21386. 17 Le Corbusier, carta a Léo Lagrange, March 6, 1937, FLC I1(19)2. 18 Georges Barthélémy. “Paris étouffe; quand aurons-nous comme Berlin notre parc des sports”?, Paris-midi, March 28, 1938. Le Corbusier menciona o artigo na carta ao Directeur général des Beaux-Arts Georges Huisman, em 31 de maio de 1938, FLC I1(19)27. 19 FLC, desenhos 21374 a 21383 e 29890. 20 Le Corbusier, Des Canons? Des munitions?, op. cit., p. 98. 21 O projeto não é mencionado na biografia inspirada em Le Corbusier publicada em 1944: Maximilien Gauthier. Le Corbusier, ou l’architecture au service de l’homme. Paris: Denoël, 1944. 22 Ver Agnès Delannoy, “L’Avant-projet de parc olympique national pour la région parisienne.” In Cohen, Jean-Louis, Joseph Abram, and Guy Lambert, eds. Encyclopédie Perret (Paris: Éditions du Patrimoine, Institut français d’architecture, Éditions Le Moniteur, 2002), 222-223. 23 Le Corbusier, 17 de fevereiro de 1961, FLC I1(19)81. 1 1 The project has been discussed in a student paper: Catherine Touya and Philippe Tanier. Le Corbusier, Pierre Jeanneret, Centre national de réjouissances populaires de 100.000 participants, Strasbourg: École d’architecture, 1978. A brief mention can be found in Danilo Udovicki-Selb. “Le Corbusier and the Paris Exhibition of 1937, The Temps Nouveaux Pavilion”, Journal of the Society of Architectural Historians (March 1997): 51-52. It is also evoked in Jean-Louis Cohen. Le Corbusier and the Mystique of the USSR, Theories and Projects for Moscow 1928-1936 (Princeton: Princeton University Press, 1992). 2 A previous version of this text was included as an introduction to the drawings reproduced in Le Corbusier, Plans, Set of 16 DVD. Paris: Fondation Le Corbusier, Echelle 1, 2005-2009. 3 Oeuvre complète, 1934–1938. Zurich: Girsberger, 1939, p. 94. 4 Le Corbusier. Des Canons? Des munitions? Merci ! Des logis, SVP, Boulogne, Éditions de l’Architecture d’aujourd’hui, 1938), 98. Concerning the brief written by the office, see: “Note concernant la construction d’un grand Centre de réjouissances populaires”, n.d., FLC I1(19)30 and “Centre de réjouissances populaires”, n.d., FLC I1(19)33. 5 Ibid. 6 Max Bill, op. cit., 95. 7 Le Corbusier et Pierre Jeanneret. “Note concernant la construction d’un grand Centre de réjouissances populaires,” cit. 8 FLC, drawing 21348. 9 FLC, drawings 24830 and 24828. 10 FLC, drawing 21157 and 21237. It is rather strange that Alexander Nikolsky, the former leader of constructivism in Leningrad, writes him to request his ideas about stadia: Alexander Nikolsky, letter to Le Corbusier, March 8, 1936, FLC I1(19)92. 11 FLC, drawings 21286 and 21288. This solution was published by Max Bill, op. cit., p. 97. 12 See Ivan Rumenov Shumkov. “Architecture and Revolution: Pavilion des Temps Nouveaux by Le Corbusier and Pierre Jeannerert at the International Exposition of 1937 in Paris.” Doctorate thesis, Barcelona: Universitat Politécnica de Catalunya, 2010. 13 FLC, drawing 21153. 14 Le Corbusier, Des Canons? Des munitions?, op. cit., 100. On the theme of the shell in Le Corbusier’s work, see: Niklas Maak. Das Architekt am Strand. Le Corbusier und das Geheimnis der Seeschnecke. Munich: Carl Hanser Verlag, 2010. 15 Le Corbusier, Des Canons? Des munitions?, op. cit., p. 98. 16 FLC, drawing 21356 and 21386. 17 Le Corbusier, letter to Léo Lagrange, March 6, 1937, FLC I1(19)2. 18 Georges Barthélémy. “Paris étouffe; quand aurons-nous comme Berlin notre parc des sports”?, Paris-midi, March 28, 1938. Le Corbusier mentions it in letter to the Directeur général des BeauxArts Georges Huisman, on March 31st, 1938, FLC I1(19)27. 19 FLC, Drawings 21374 to 21383 and 29890. 20 Le Corbusier, Des Canons? Des munitions?, op. cit., p. 98. 21 The project is not mentioned in the Le Corbusier-inspired biography published in 1944: Maximilien Gauthier. Le Corbusier, ou l’architecture au service de l’homme. Paris: Denoël, 1944. 22 See Agnès Delannoy, “L’Avant-projet de parc olympique national pour la région parisienne.” In Cohen, Jean-Louis, Joseph Abram, and Guy Lambert, eds. Encyclopédie Perret (Paris: Éditions du Patrimoine, Institut français d’architecture, Éditions Le Moniteur, 2002), 222-223. 23 Le Corbusier, February 17, 1961, FLC I1(19)81. 15 ARQTEXTO 17 NOTAS