SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
MEC – SETEC
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO MATO
GROSSO – CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA
DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MARIA EDILENE DO AMARAL SILVA SANTOS
INCLUSÃO DIGITAL: NAVEGANDO PELO
CONHECIMENTO
Cuiabá - MT
Outubro - 2009
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E
TECNOLOGIA DO MATO GROSSO – CAMPUS CUIABÁ –
OCTAYDE JORGE DA SILVA
CURSO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INCLUSIVA
MARIA EDILENE DO AMARAL SILVA SANTOS
INCLUSÃO DIGITAL: NAVEGANDO PELO
CONHECIMENTO
Cuiabá - MT
Outubro - 2009
Ficha Catalográfica
SANTOS, Maria Edilene do Amaral Silva
Inclusão Digital: Navegando pelo conhecimento
Cuiabá - MT, Outubro de 2009
Total de folhas: 117
Orientador: OLIVEIRA, Érico Anderson
Centro Federal de Educação Tecnológica do Mato Grosso
Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Educação Profissional e Tecnológica.
MARIA EDILENE DO AMARAL SILVA SANTOS
INCLUSÃO DIGITAL: NAVEGANDO PELO CONHECIMENTO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Departamento de Pesquisa
e Pós-Graduação da Especialização em
Educação Profissional e Tecnológica
Inclusiva, do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia do Mato Grosso –
Campus Cuiabá, como exigência para
obtenção do título de Especialista.
Orientador: Prof. MSc Érico Anderson de Oliveira
Cuiabá - MT
Outubro - 2009
MARIA EDILENE DO AMARAL SILVA SANTOS
INCLUSÃO DIGITAL: NAVEGANDO PELO CONHECIMENTO
Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Educação Profissional Tecnológica
Inclusiva, submetido à Banca Examinadora composta pelos Professores do Programa de
Pós-Graduação do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Mato Grosso –
Campus Cuiabá como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista.
Aprovado em: _______/_______/______
_____________________________________________________________________________________
Prof. MSc. Érico Anderson de Oliveira (Orientador)
_____________________________________________________________________________________
Profa. MSc Sandra Mara Mourão Cardinali (Membro da banca)
_____________________________________________________________________________________
Profa. MSc Rosália Caldas Sanábio de Oliveira (Membro da banca)
Cuiabá – MT
Outubro 2009
DEDICATÓRIA
Dedico à minha mãe Enedina, ao meu esposo
Giovane e aos meus filhos Raphael, Giovanna e
Heloísa.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por estar comigo em todos os momentos.
Aos meus familiares pela compreensão, carinho e incentivo, sempre tão importantes nas
horas de dificuldade.
Aos meus amigos da equipe de coordenação do projeto pela ajuda e incondicional
companheirismo.
Ao meu orientador Érico Anderson de Oliveira por ter acreditado neste projeto, sem
medir esforços para conclusão deste trabalho.
Aos meus colegas de curso e formadores da plataforma TELEDUC, minha eterna
gratidão pelos momentos de troca de experiências, além das expectativas e sonhos.
Enfim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para realização deste
trabalho.
RESUMO
A construção da cidadania, da inserção social e da valorização do indivíduo passa
necessariamente pelos meios de comunicação e de informação de um país. De acordo
com essa ótica, a inclusão digital, nos dias atuais, tem um papel fundamental. Estar
excluído do meio digital, ainda que em conhecimentos básicos, nos dias atuais é quase
tão grave quanto o analfabetismo no passado. O IFMG - Campus Congonhas - encontrase inserido em uma comunidade carente, para a qual foi proposta uma intervenção cuja
temática é a da inclusão digital, com a finalidade de cumprir parte do papel social da
Instituição.
O projeto abrangeu como objetivos, entre outros, a valorização do
indivíduo, sua inserção social e o aumento de sua empregabilidade. O público alvo foi
selecionado junto a Prefeitura Municipal de Congonhas, o qual passou a freqüentar o
curso. Os alunos foram cadastrados no projeto e a partir de suas informações, foi
traçado o perfil sócio-econômico do grupo. O material didático foi elaborado para
atender às necessidades específicas do curso e contou com inserção de temas
transversais (saúde, cuidados com a família, datas comemorativas e outros). A
comunidade atendida entendeu que a informática não é apenas mais um diferencial, mas
sim, uma exigência dos novos tempos em busca de oportunidades de emprego, de uma
evolução na vida acadêmica e uma melhor interação com o modelo social vigente. O
projeto contribuiu para o crescimento sócio-econômico da comunidade.
Palavras-chave: cidadania, inclusão digital, empregabilidade.
ABSTRACT
The development of citizenship, social inclusion and the individual worth is necessarily
linked to the media and information of a country. According to this view, digital
inclusion has a fundamental importance. Being excluded from the digital media, even
from the basic knowledge, is almost as bad as illiteracy in past times. The IFMG Campus Congonhas - is allocated in a poor community, for which there is a proposal for
intervention which is the theme of digital inclusion project, in order to fulfill the social
mission of the institution. The project covered objectives, in sort of many others,
valuing the individuality, their social integration and increase their employability.
The audience was selected with the Congonhas city Hall. The students were enrolled at
the project and from their information, was drawn the socio-economic group. The
courseware is designed to meet the specific needs of the course and had the insertion of
cross-cutting themes (health, family care, hollydays and other). The community served
understood that computer science is not just a gap, but a requirement of the new era in
search of jobs, a development in academic life and better interaction with the existing
social model. The project contributed to the socio-economic growth of the community.
Key-words: citizenship, inclusion, digital, individuality, employability.
101
0
SUMÁRIO
SUMÁRIO ......................................................................................................................10
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................11
2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................14
3 OBJETIVOS ...............................................................................................................15
3.1 OBJETIVO GERAL ..............................................................................................15
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...............................................................................15
4 REFERENCIAL TEÓRICO .....................................................................................16
5 METODOLOGIA.......................................................................................................19
6 RESULTADOS OBTIDOS ........................................................................................23
7 CONCLUSÃO.............................................................................................................26
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................27
9 ANEXOS.....................................................................................................................29
11
1 INTRODUÇÃO
O cenário atual, marcado por rápidas mudanças e grandes contrastes, traz em
evidência qual é o verdadeiro papel da escola. Por um lado, depara-se com a
globalização e os grandes avanços tecnológicos e, por outro, a exclusão, a pobreza e a
falta de conhecimento. Traz ainda a necessidade de fazer algo no sentido de preparar as
pessoas para o exercício da cidadania e para a qualificação profissional.
Assim, este projeto visa permitir que a escola abra suas portas para a
comunidade, com o objetivo de oferecer a todos, oportunidade de conhecer e usufruir de
todo o avanço tecnológico da inclusão digital.
A Comunidade do bairro Campinho está localizada na regional norte da cidade
de Congonhas, estado de Minas Gerais com uma população de 106 habitantes, numa
área total de terreno com 19.816,45 km2 em 33 imóveis edificados numa área de
1.129,42 km2. Uma comunidade que, a primeira vista, apresenta baixo nível sócioeconômico.
O bairro conta com duas entidades educacionais: Escola Municipal “Dona Maria
de Oliveira Castanheira” e o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de
Minas Gerais- IFMG- Campus Congonhas. A Escola Municipal “Dona Maria de
Oliveira Castanheira” oferece a educação infantil e a educação básica do primeiro ao
quinto ano, atendendo 181 alunos em horário integral. Já o Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais- IFMG- Campus Congonhas, que
oferece o ensino técnico na modalidade integrado, em três cursos: Edificações,
Mecânica e Mineração, com 120 alunos, no turno diurno e o ensino técnico, na
modalidade subseqüente, em três cursos: Edificações, Mecânica e Produção Industrial,
com 346 alunos, no turno noturno.
Em 2006, a Prefeitura Municipal de Congonhas arrecadou R$ 317,51 (trezentos
e dezessete reais e cinqüenta e um centavos) num lançamento de R$ 1.062,38 (um mil e
sessenta a dois reais e trinta e oito centavos) do IPTU (Imposto Predial e Territorial
Urbano) da comunidade.
Há também um posto de saúde e uma equipe do PSF (Programa de Saúde da
Família). Vale ressaltar que no bairro não há área de laser ou praça pública
(SEPLAN/DMAE- Congonhas/MG).
Em uma entrevista feita com a diretora da escola Maria de Oliveira Castanheira,
os resultados demonstraram que os moradores do bairro Campinho da cidade de
12
Congonhas, residentes próximos ao IFMG Campus Congonhas não têm acesso às
tecnologias de informação e comunicação (TIC’s).
Estes avanços tecnológicos ao mesmo tempo em que criam novas formas de
socialização trazem em contrapartida novas formas de exclusão, visto que nem todas as
pessoas têm acesso a elas.
É neste contexto que o IFMG - Campus Congonhas, através do seu compromisso
social e educacional, pretende realizar num primeiro momento, o projeto piloto de
Inclusão Digital que será ofertado à comunidade.
O público alvo da primeira turma deste projeto serão famílias inseridas no
Programa Bolsa Família e demais moradores do Bairro Campinho com idade entre 21 e
40 anos. A idéia surgiu pelo fato de se tratar, na maioria, de pessoas carentes, excluídas
do mercado de trabalho, e que terão na Inclusão Digital uma chance de crescimento
profissional e pessoal, com vistas a emancipação humana. (ANEXO A)
Com a colaboração da assistente social, foi realizado um levantamento de dados
para diagnosticar as famílias que eram beneficiárias do Programa. Estes dados foram
obtidos junto à prefeitura através de informações confidenciais da Secretaria Municipal
de Desenvolvimento e Assistência Social.
O Programa Bolsa Família baseia-se na promoção do alívio imediato da pobreza,
por meio da transferência direta de renda à família; reforço ao exercício de direitos
sociais nas áreas de Saúde e Educação, por meio dos cumprimentos das condições
básicas, o que contribui para que as famílias consigam romper o ciclo da pobreza entre
gerações; e coordenação de programas complementares, que têm por objetivo o
desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários do Programa Bolsa Família
consigam superar a situação de vulnerabilidade e pobreza, característicos do bairro em
que se situa o IFMG - Campus Congonhas.
Em todo o Brasil hoje em dia existem telecentros. Os telecentros são espaços
com computadores conectados à Internet banda larga e tem a orientação de monitores
capacitados para atender às demandas dos usuários, que tem como objetivos
“Combater a exclusão digital é o objetivo central dos telecentros.
Trata-se de uma iniciativa fundamental para capacitar a população
brasileira e inseri-la na sociedade da informação, para assegurar a
preservação de nossa cultura com a construção de sites de língua
portuguesa e de temáticas vinculadas ao nosso cotidiano, qualificar
profissionalmente nossos trabalhadores, incentivar a criação de postos
13
de trabalho de maior qualidade, afirmar os direitos das mulheres e
crianças, para um desenvolvimento tecnológico sustentável e
ambientalmente correto, aprimorar a relação entre o cidadão e o poder
público, enfim, para a construção da cidadania digital e ativa 1.”
(http://www.idbrasil.gov.br/docs_telecentro/docs_telecentr
o/o_que_e. Acesso em 02 de setembro de 2009).
Nestes ambientes, são oferecidos cursos de informática básica com o uso livre de
computadores. A própria comunidade elege um conselho diretor para fiscalizar a
utilização do espaço. Na cidade de Congonhas (MG) existem alguns telecentros.
Recentemente foram inauguradas mais três unidades, objetivando novos conhecimentos
de informática, vídeo e literatura aos usuários, combatendo a exclusão digital.
1
<http://www.idbrasil.gov.br/docs_telecentro/docs_telecentro/o_que_e > Acesso em 02 de setembro de
2009.
14
2 JUSTIFICATIVA
Nos últimos anos, têm se comentado no Brasil sobre a necessidade de se fazer a
inclusão sócio-econômica e humana das pessoas, procurando a igualdade de
oportunidades e direitos, independentemente da condição social, sexo, idade e condição
física ou mental, religião, etc. O tema “Educação Inclusiva no Brasil” começou a ser
debatido na década de 90 (BEYER, 2006), portanto antes do primeiro documento
internacional, que tratou especificamente do tema - a Declaração de Salamanca e Linhas
de Ação sobre Educação para Necessidades Especiais (aprovada em junho de 1994, em
Salamanca, Espanha). Desde então, muito tem se debatido sobre a inclusão, e em
especial, a inclusão digital. (ANEXO B)
A inclusão digital é a democratização do acesso às tecnologias da Informação,
um modo de educação não formal que visa permitir a inserção de todos na sociedade da
informação. Um indivíduo incluído, digitalmente, não é aquele que apenas utiliza essa
nova linguagem, que é o mundo digital, para trocar e-mails; mas, aquele que usufrui
desse suporte para melhorar as suas condições de vida.
Considerando a situação sócio-econômica da comunidade do bairro Campinho a
missão educacional da Escola2 e as condições disponíveis, justifica-se a implantação de
um curso de inclusão digital para os moradores deste bairro.
É nesse contexto que o projeto encontra sua justificativa social, ao cumprir
objetivos sociais da área tecnológica, através da inclusão digital da comunidade
considerada e contribuir para o resgate/construção da cidadania e da sustentabilidade de
seus membros.
Considerando que em linhas gerais, o grupo a ser atendido não apresenta
portadores de necessidades especiais, faz-se necessário, num segundo momento,
analisar a necessidade de adaptações para atender a outros membros da comunidade que
as apresente.
2
É missão do IFMG:
Formar profissionais qualificados, competentes, criativos e atentos às necessidades de adaptação e às
mudanças ambientais da sociedade em transformação. Formar cidadãos conscientes de sua ética
profissional nos diversos setores da economia para o bem-estar social, aproximando os homens entre si e
respeitando o ser individual. Promover o ensino, a pesquisa e a extensão de sua prática curricular
produzindo conhecimentos científicos, tecnológicos e humanísticos na busca séria e permanente do saber
ser, pensar e fazer para uma educação consciente. Em suas ações pedagógicas, tecer o fio que une todas
essas disposições que tornam a instituição, de fato, um centro de educação.
15
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
 Elaborar um projeto de inclusão digital para a comunidade do entorno do IFMGCampus Congonhas;
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
 Promover a inclusão social da comunidade através da inclusão digital;

Elevar em nível de empregabilidade o indivíduo atendido;

Elevar a auto-estima da população atendida.
16
4 REFERENCIAL TEÓRICO
A inclusão digital significa democratizar as tecnologias de informação. A
expressão nasceu do termo “digital divide”, que em inglês significa algo como
“divisória digital”. Existem inclusive expressões similares como democratização da
informação ou universalização da tecnologia.
A inclusão digital a que nos referimos destina-se às pessoas que não têm acesso
às tecnologias de informação e comunicação ou simplesmente TIC’s, como são mais
conhecidas. As TIC’s têm causado mudanças significativas em toda a sociedade.
Para SILVA FILHO (2003), três pilares formam um tripé fundamental para que
a inclusão digital aconteça: TIC’s, renda e educação. Sem qualquer um desses pilares,
não importa qual combinação seja feita, qualquer ação está fadada ao insucesso. O
mesmo autor destaca que a exclusão sócio-econômica desencadeia a exclusão digital, ao
mesmo tempo em que a exclusão digital aprofunda a exclusão sócio-econômica. A
inclusão digital, portanto, deveria ser fruto de uma política pública com destinação
orçamentária, a fim de que ações promovam a inclusão e a equiparação de
oportunidades a todos os cidadãos.
De acordo com VALENTE (2005), a exclusão digital não afeta somente os mais
carentes, do ponto de vista sócio-econômico, mas os trabalhadores das empresas, os
indivíduos com necessidades especiais, muitos alunos e educadores que ainda não têm a
oportunidade de trabalhar com esses recursos tecnológicos.
Para SILVINO & ABRAHÃO (2003), uma das dimensões da inclusão digital
pode ser apreciada pela disponibilização do acesso às informações e serviços prestados,
via internet à maioria de uma população. Neste sentido, trata-se de uma democratização
da informática, que pressupõe diferentes níveis de ação, por parte do governo, de
instituições de ensino, empresas privadas e terceiro setor.
De acordo com MOTA (2008), a questão da construção da cidadania passa,
necessariamente, pela questão da informação e dos meios de comunicação de um país.
Para um indivíduo se transformar em um cidadão ativo ele tem que estar informado.
Os estudos modernos da linguagem, especialmente os de BAKHTIN (2001),
concebem as relações sociais como constituintes do ser enquanto aquele capaz de
produzir/receber as mais variadas informações e transformar essas informações em
conhecimento.
17
Considerando-se, que atualmente a escola precisa ser um espaço de convivência
entre as pessoas da comunidade, abrindo seu leque de atuação, este projeto se justifica
pela necessidade de incluir pessoas:
Art 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. (Constituição Federal -1988)
Além disso, DEMO (1996) afirma que a educação e o conhecimento são cruciais
para o desenvolvimento humano. Nesse sentido, este projeto é de relevante
significância, uma vez, que ao permitir a inclusão digital na região de Congonhas,
possibilita que mais uma parte da população possa se desenvolver não só em
capacitação profissional, mas em conhecimento e auto-estima, essencial ao crescimento
humano.
Para que uma pessoa seja digitalmente incluída, não basta colocá-la diante de um
computador oferecendo-lhe aulas de informática básica. Necessário se faz ampliar seu
quadro de atuação na sociedade, ou seja, mostrar como é possível que esta pessoa possa
utilizar o caixa eletrônico de um banco, a urna eletrônica em uma eleição ou até mesmo
como é possível ganhar dinheiro e melhorar de vida, enfim, possibilitar que as pessoas
menos favorecidas possam usufruir dos variados recursos digitais.
E isto se dá com professores qualificados para o trabalho e obviamente com
equipamentos adequados. Isto sim é incluir digitalmente uma pessoa, e não apenas
apresentá-la à informática.
Para Paulo Rabêlo (2005), “Somente colocar um
computador na mão das pessoas ou vendê–lo a um preço menor não é, definitivamente,
inclusão digital. É preciso ensiná–las a utilizá–lo em benefício próprio e coletivo”.
Em oposição ao conceito de inclusão digital temos o de exclusão digital. A
exclusão digital é um conceito que diz respeito às camadas da sociedade que fica à
margem do fenômeno da sociedade da informação e da expansão das redes digitais. São
as comunidades carentes, os mais pobres e pessoas com uma situação sócio-econômica
de risco social.
Entendemos então que se trata de uma via de mão dupla, um ciclo vicioso: a
exclusão sócio-econômica desencadeia a exclusão digital e a exclusão digital aprofunda
a exclusão sócio-econômica.
18
Por esta razão a educação é parceira importante à inclusão digital, possibilitando
uma transformação sócio-econômica.
As escolas são componentes essenciais à inclusão digital uma vez que
professores, alunos, especialistas e membros da comunidade podem se reunir e atuar em
prol do processo de construção de conhecimento.
Existem autores que dizem que em países como o Brasil, a inclusão digital
precisa ser acentuada com mais prática e menos teoria. Por esta razão procuramos
desenvolver este projeto de inclusão digital em uma comunidade da periferia, onde as
pessoas consultadas revelaram não possuir conhecimentos de informática. Tal revelação
nos foi feita através de visita de campo, nas casas dos moradores do Bairro Campinho.
19
5 METODOLOGIA
A partir do momento que se definiu pela formatação de um curso de informática
básica para a comunidade do Campinho, passamos a identificar melhor as características
da comunidade. Para tanto, foram feitos levantamentos de dados junto à Prefeitura
Municipal de Congonhas (PMC), entrevistas informais na Escola Municipal Dona
Maria de Oliveira Castanheira e com moradores. (ANEXO C)
Após esses levantamentos preliminares, foi identificado junto à Secretaria
Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social (SEDAS) da PMC um grupo
potencial de moradores do bairro Campinho, para participarem do projeto de inclusão
digital e tomadas as seguintes providências a partir do Núcleo de Atendimento as
Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE):
 Proposta de utilização dos laboratórios de informática que estavam
ociosos durante o período diurno, para implementação de um curso de
inclusão digital com a comunidade local (ANEXO D);
 Entrega de carta-convite aos moradores do Bairro Campinho,
acompanhada de consulta para identificar a disponibilidade dos mesmos
em participar do curso de inclusão digital (ANEXO E);
 Abertura de inscrições com cadastramento dos interessados; (ANEXO F)
 Seleção e preparação dos instrutores;
No ato das inscrições, os alunos interessados no curso, preencheram uma ficha
cadastral, denominada Cadastro Sócio-Econômico, a qual permitiu, após processamento
e análise das respostas, obter o seguinte perfil dos alunos (ANEXO G):

38% das famílias apresentam membros com idade entre 0 e 11 anos.

56% dos membros das famílias possuem Ensino Fundamental incompleto.

44% das famílias apresentam renda familiar entre dois e quatro salários
mínimos.

A renda per capta é de até R$ 200,00 (duzentos reais) em 40% dos casos.

71% das pessoas não recebem nenhum tipo de benefício.

48% das famílias apresentam poucos conflitos familiares.

Não há casos de gravidez na adolescência em 70% das mulheres.

91% relatam não haver história de aborto na família.
20

97% dos membros não são portadores de necessidades especiais (PNE), 2% são
PNE com deficiência físico-motora e 1% são PNE com deficiência mental.

84% moram em casa própria. Destas, 55% estão acabadas, 61% têm sua
cobertura com telhas, 64% piso de cerâmica, 52% possuem rede de esgoto, 94%
com banheiro e 100% com água e luz elétrica.

73% declararam não terem dependência química, os 27% dependentes,
declararam não fazer nenhum tratamento para se livrar da dependência.

70% dos alunos inscritos no projeto, não realizaram qualquer curso de
informática, os demais (30%), fizerem algum tipo de curso, porém não o
concluíram.
Conclui-se que, a partir das informações obtidas no cadastramento dos alunos, a
fragilidade sócio-econômica da população alvo do projeto.
Como o grupo de inscritos foi de 24 alunos para 20 vagas, todos foram
acolhidos.
Em debates da equipe de coordenação do curso, foi proposto que além das aulas
de informática, houvesse a abordagem de temas como: educação, saúde, meio ambiente,
relações interpessoais e datas comemorativas por serem temas amplamente trabalhados
na perspectiva educacional contemporânea como temas transversais.
Os exercícios de informática eram trabalhados de forma contextualizada de
acordo com o tema da aula, como por exemplo, no dia das comunicações foi realizada
uma dinâmica de grupo mostrando a utilidade prática e teórica das noticias com o
intuito de valorizar a comunicação. Neste dia foram distribuídos aos alunos: cola, folha
branca, tesoura, jornais e revistas. Eles foram instruídos a recortar notícias que
representavam sinais de vida e sinais de morte. Depois de colaram as notícias na folha
branca escreveram o que aquelas notícias lhes transmitiam. Logo em seguida, a
psicóloga e a assistente social fizeram o processamento da dinâmica com um debate
dando a eles a oportunidade de expressarem seus pensamentos em relação à atividade
realizada. Após o processamento os alunos digitaram o texto dado.
Temos ainda como exemplo a data comemorativa do dia dos pais. Logo após a
exibição de um vídeo sobre o assunto, foram distribuídas mensagens que os alunos
digitaram e formataram de acordo com a indicação dos monitores: digitar o texto,
colocar algumas palavras em negrito e mudar a cor da fonte de algumas expressões.
21
Foi estabelecido o parâmetro para aprovação no curso: freqüência a 75% das
aulas, as quais foram distribuídas em dois módulos, a saber:
MÓDULO
1º
2º
CONTEÚDO
Noções básicas de Windows, Word e Excel
Introdução à internet e criação de e-mails
H/A
60
16
Em prosseguimento, houve a elaboração do material didático como: plano de
ensino, apostilas, mensagens, exercícios e folders, os quais foram confeccionados na
própria Escola. A infra-estrutura disponível no Campus (equipamentos, corpo técnico,
laboratórios, sala de aulas, auditório) foi ajustada e finalmente começaram as aulas em
28 de abril de 2008. (ANEXO H)
Durante todo o processo, desde a inscrição até a conclusão do curso, foram
envolvidos vários profissionais da Escola (professores, técnicos administrativos,
pedagoga, odontólogo, psicóloga e assistente social) para envolvimento com as aulas,
dinâmicas de grupo, palestras, passeio e gincana. (ANEXO I)
Como se tratava de um projeto piloto, as reuniões com a equipe de trabalho para
levantamento e resolução de problemas ao longo do curso foram constantes. Surgiram
problemas tais como: falta de professor, de material didático, ou ainda, passes e lanches
(que ficaram sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal).
Durante o curso foram realizadas reuniões da equipe de coordenação e também
conversas informais com os alunos, monitores e professores para avaliar todo o
andamento do processo de aprendizagem.
Ao final do 1º módulo, em reuniões pedagógicas de planejamento do módulo
seguinte, foram levantados alguns problemas que surgiram ao longo do processo até
então. O principal destaque ficou por conta da rotatividade professores, quando cada
tópico do programa de curso foi ministrado por um professor diferente, em virtude da
redistribuição das aulas para os docentes do quadro permanente do IFMG. Tal prática
fez com que alguns alunos demorassem a estabelecer um relacionamento mais próximo com
os professores, o que dificultou um pouco o processo de aprendizagem.
O material didático confeccionado para o curso, apostilas, textos, folders,
distribuído gratuitamente, foi aprovado, porém algumas adaptações terão que ser realizadas,
pois novas turmas irão utilizá-lo e dificilmente possuirão o mesmo perfil de aprendizagem e
aproveitamento.
22
Durante todo o processo, houve avaliação da aprendizagem, realizada através de
exercícios aplicados e corrigidos pelos monitores e com o preenchimento de uma ficha
onde o desenvolvimento de cada um era registrado no histórico evolutivo do aluno.
Ao final do curso foi realizada uma cerimônia de formatura com a entrega dos
certificados de conclusão aos alunos que cumpriram a carga horária mínima exigida.
(ANEXO J)
23
6 RESULTADOS OBTIDOS
Sabemos que a inclusão digital busca melhorar as condições de vida das pessoas
através da tecnologia.
As mudanças tecnológicas estão acontecendo muito rapidamente e, os excluídos
sociais ficam cada vez mais longe das tecnologias de informação e conhecimento
(TICs).
Criar meios para que os benefícios das TICs estejam ao alcance de todos, é um
dos desafios do mundo moderno procurando expandir a cultura digital, com a intenção
de proporcionar ao ser humano a ampliação de conceitos, com vistas à sua emancipação
criando assim uma sociedade justa.
Este projeto representou para o público atendido, o início de uma visão
sistêmica, onde a pessoa tem a oportunidade de entender o quanto este tipo de
conhecimento é essencial à vida moderna.
Sendo assim, os resultados obtidos a partir da primeira turma mostraram que o
projeto foi válido.
Os moradores do Bairro Campinho entenderam que a informática não é apenas
mais um diferencial, mas sim, uma exigência dos novos tempos em busca de
oportunidades de emprego, de uma evolução na vida acadêmica e uma melhor interação
com o modelo social vigente.
Iniciamos a turma com vinte e quatro alunos e concluímos com dezenove. A
desistência de cinco alunos se deu por razões de mudança na escala de trabalho onde o
horário das aulas não era mais compatível com o turno de serviço.
Ao final do 1º módulo foi realizada uma pesquisa de satisfação entre os
cursistas. (ANEXO K)
72% acharam o curso muito bom. Quanto à transmissão dos conteúdos pelos
professores, 50% avaliou como bom. Os monitores receberam 67% de avaliação como
muito bons. Foi avaliada em muito boa, com 78%, a equipe de coordenação. As
apostilas, os folhetos informativos e as dinâmicas foram avaliados como muito bons em
61% dos alunos pesquisados. Quanto ao lanche os alunos estavam divididos em 50% de
suas opiniões entre muito bom e bom. (ANEXO L)
Diante das respostas obtidas, ficou demonstrado que, em um primeiro momento,
o que foi planejado para o curso estava atendendo às expectativas da maioria dos
24
alunos, mas que poderiam ocorrer ajustes para contribuir com a melhoria dos aspectos
que obtiveram menor índice de satisfação.
Posteriormente, 6 meses após a conclusão do curso, foi efetuado uma pesquisa
de acompanhamento de egressos (ANEXO M). Dos 19 alunos concluintes, 16 alunos
responderam ao questionário. Resultados mais concretos foram obtidos, em relação aos
empregos obtidos, em relação à volta aos estudos, relacionamento interpessoal e projetos de
vida.
Uma análise das respostas obtidas, nos permitiu concluir que o curso representou
mudanças nas vidas dos alunos de alguma forma, demonstrando que os objetivos iniciais
foram alcançados, ainda que se considere um curso piloto, conforme demonstrado a seguir:
VOCÊ GOSTOU DO CURSO?
16
14
12
10
8
6
4
2
0
SIM
NÃO
FONTE: Questionário de pesquisa de egressos – maio/2009.
25
VOCÊ CONTINUA TENDO ACESSO A
COMPUTADORES?
31%
38%
Sim
31%
Não
Às vezes
FONTE: Questionário de pesquisa de egressos – maio/2009.
HOUVE MUDANÇA SIGNIFICATIVA EM SUA VIDA?
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Projeto de vida
Relações Interpessoais
Nos estudos
Outros
FONTE: Questionário de pesquisa de egressos – maio/2009.
No trabalho
26
7 CONCLUSÃO
O objetivo principal desse trabalho foi proporcionar não só a inclusão digital,
mas, promover também a inclusão social, melhorar o nível de empregabilidade, além de
elevar a auto-estima das pessoas atendidas pelo nosso projeto.
Conforme os dados das avaliações, questionários e entrevistas ao longo do curso
e no acompanhamento de egressos, realizado seis meses após o término do mesmo, o
projeto “Inclusão Digital: Navegando pelo Conhecimento” obteve êxito em seus
objetivos, promovendo tanto a melhoria sócio-econômica do público atendido como
alterações no modo de vida e expectativa de mundo (busca por novos cursos, retorno
aos estudos, melhoria nas relações interpessoais e novos projetos de vida)
Portanto, recomendam-se ajustes neste projeto em relação aos problemas já
apontados, a continuidade do mesmo, bem como sua ampliação, para prover o
atendimento à comunidade do município de Congonhas.
27
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
ALMEIDA, S.G.M.; RODRIGUES, C.L.C. Proposta de treinamento em
Informática. CODAFIN – Coordenadoria de Informática Industrial, 2006.
2.
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
3.
BEYER, H. O. Inclusão e avaliação na escola de alunos com necessidades
educacionais especiais. 2 ed. Porto Alegre : Mediação, 2006. 56 p
4.
BRASIL. Bolsa Família. Edição do Ministério de Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, 2004.
5.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/con1988/CON1988_19.12.2006/index.htm>
Acesso
em: 06 de agosto de 2008.
6.
DECLARAÇÃO
DE
SALAMANCA.
Disponível
em
<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf> Acesso em: 11 de
setembro de 2009
7.
DELORS, J. Educação um tesouro a descobrir. 10 ed. São Paulo: 2006. 66p.
8.
DEMO, P. Combate à pobreza: desenvolvimento como oportunidade.
Campinas, 1996. 212 p.
9.
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO,
EXTERIOS.
INDÚSTRIA
E COMÉRCIO
Disponível
em:
<http://www.telecentros.desenvolvimento.gov.br/sitio/sobre/apresentacao/>.
Acesso em: 02 de setembro de 2009.
10. MOTA apud ANDRADE, S.; REZENDE, R. Inclusão Digital na era do
conhecimento: parcerias público-privadas alavancam a construção do Capital
Social. Disponível em: <http://www.cdi.org.br/manual/inclusao.pdf> Acesso em
janeiro de 2008.
11. NASCIMENTO, Gislaine Elisandra. Em “Pesquisa de egressos”-2009
12. O QUE É UM TELECENTRO E PARA QUE SERVE? Disponível em:
<http://www.idbrasil.gov.br/docs_telecentro/docs_telecentro/o_que_e>. Acesso em
02 de setembro de 2009.
13. RABÊLO, P. Inclusão Digital: o que é e a quem se destina. Disponível em: <
http://webinsider.uol.com.br/index.php/2005/05/12/inclusao-digital-o-que-e-e-aquem-se-destina/> Acesso em: 31 de agosto de 2009.
28
14. RAMOS, Ana Flávia Melillo. Em: “Pesquisa - Cadastro sócio-conômico”- 2008
15. SANTOS, Maria Edilene do Amaral Silva. Em “Pesquisa de satisfação”-2008
16. SASSAKI, R. K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. 7 ed. Rio de
Janeiro. WVA 2006. 23, 24 p.
17. SAVIANI, D. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara,
onze teses sobre educação e política. 32 ed. Campinas: Autores Associados, v. 5,
1999.
18. SILVA FILHO, A. M. Os três pilares da inclusão digital. Revista Espaço
Acadêmico. n. 24, ano III, maio, 2003.
19. TELECENTROS SÃO INAUGURADOS EM CONGONHAS. Disponível em:
<http://www.congonhas.mg.gov.br/index.php?pg=noticia_ver&noticia_cod=767>
Acesso em: 02 de setembro de 2009.
20. VALENTE apud HERMAN, M. R.; ALMEIDA, M. P.; SILVA, R. P. Inclusão
social através da inovação tecnológica aplicada na educação. São Paulo, 2006,
63f. Monografia (Especialização em Conhecimento, Tecnologia e Inovação) Fundação Instituto de Administração.
29
ANEXOS
Download

Inclusão digital: Navegando pelo conhecimento