Recordar é Viver
Laços de família
O coronel Gérson Borges foi campeão paulista e brasileiro de salto
e adestramento e professor no CHSA a partir de 1959. Sua esposa,
Dora Borges, relembra neste texto os dias maravilhosos que
passavam no Clube e cujos amigos eram parte de uma grande família
D
ora de Oliveira Borges é viúva de Gérson Borges, aposentado como coronel da Brigada Militar do Rio Grande do
Sul, campeão paulista e brasileiro de salto e adestramento,
professor no CHSA a partir de 1959. Antes de vir para São Paulo, em
1952 Gérson integrou a equipe brasileira na Olimpíada de Helsinque, na Finlândia, com o cavalo Fiori de Rose, e nesse mesmo ano
se destacou em uma competição em Vicky, na França, vencendo a
prova de seis barras e estabelecendo a marca de 1,90 m, considerada
excepcional para esse tipo de competição. Dora, que hoje está com
84 anos, completados em dezembro, relembra os tempos em que
ela e seu marido eram peças fundamentais no dia a dia do Clube.
No 40° aniversário do Clube, o Renyldo sugeriu que fizéssemos
uma apresentação com as alunas de adestramento e o Gérson
organizou um carrossel – que é um grupo de amazonas ou cavaleiros
que fazem figuras de adestramento dentro de um picadeiro, e o
adestramento é considerado a parte de elite do hipismo porque são
movimentos estudados, comandados pelo cavaleiro. É lindo! Essa
equipe de amazonas se apresentava nas festas daqui e recebíamos
convites de outros lugares.
O Gérson foi diretor de esportes muitas vezes, em diversas
diretorias. Tanto que foi homenageado pelo presidente Thomas
Barth (1991-1992) que batizou o picadeiro fechado com seu nome.
Gérson Borges: campeão, professor e diretor de esporte
Uma paixão por cavalos
Viemos de Porto Alegre, meu marido Gérson Borges, eu e meus
filhos, em 1959, depois do Gérson receber um convite do Clube para
ser professor. Ele havia participado da Olimpíada de Helsinque, na
categoria salto, e o hipismo no Rio Grande do Sul naquela época
não era muito desenvolvido devido à distância das grandes capitais.
Então, nós pegamos a bagagem e viemos para São Paulo, porque o
ideal do meu marido sempre foi fortalecer o hipismo em todos os
lugares. E aqui encontramos a família que deixamos no Sul.
O Gérson sempre foi campeão de salto, mas começou a fazer
adestramento quando se reformou no Exército. Na Olimpíada de
Helsinque, ele fez parte da equipe brasileira formada pelo coronel
Renyldo Ferreira e pelo general Franco Pontes. Também participou
de Jogos Pan-americanos pela equipe brasileira de adestramento, foi
campeão paulista, campeão brasileiro diversas vezes. Sua vida foi o
hipismo, que amou até falecer em 1990.
Ele ministrou aula de adestramento para meninas por muito
tempo. Havia uma equipe grande de adestramento no Clube e foi
ótimo porque ele era um pouco sisudo e as aulas o deixaram mais
expansivo com as crianças, com os filhos e com a vida. Mesmo
depois de nos associarmos, o Gérson permaneceu como professor
por vários anos e participava sempre dos concursos – nós íamos
para todos os lugares.
O Gérson foi capitão da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, daí sua
paixão pelo hipismo. Ainda em Porto Alegre, fazíamos a caça à raposa e, por isso, acredito que já nascemos com esta paixão. Meu pai era
da Infantaria, e desde pequena convivi com cavalos – e os adoro. Minha casa é cheia de troféus e todos os meus quadros retratam cavalos.
Inclusive, fui juíza de adestramento! O hábito de assistir às provas do
meu marido me ensinou os regulamentos e, então, fiz cursos com
juízes que o Clube trazia da Europa. Eu era juíza da Confederação até
há quase três anos.
Assistência social aos funcionários
Comecei a desenvolver trabalhos sociais com os funcionários porque
eu acompanhava o Gérson na cocheira e, conversando com eles, fui
descobrindo suas necessidades. A assistência médica foi uma delas,
que consistia em consultas e os remédios nós comprávamos para
eles. Para não onerar o Clube, promovíamos bazares e jantares. O
Renyldo nos dava todo o apoio. Também realizávamos o Natal dos
empregados e montamos um coral com eles, que se apresentava nas
festas natalinas, dávamos presentes e, no inverno, cobertores. Eu
gostava muito dessas atividades sociais e participava de todas. Trabalhamos esse apoio aos funcionários do Clube por quase 20 anos.
Como na época havia muitos analfabetos, entramos em contato
Fotos Arquivo Pessoal
A turma do CHSA, acima, da época: a segunda família de
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Acima, Dora e Gérson na época em que
ainda namoravam, no Rio Grande do Sul,
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Santo Amaro a Galope
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Foto Arquivo Cel. Renyldo Ferreira
À esquerda, Gérson
Borges, montando
Fiori de Rose, vence
a prova de seis
barras em Vicky, na
França, e estabelece
a extraordinária
marca de 1,90 m!
com a Secretaria de Educação para que montassem uma sala do
Mobral – hoje chamada de Educação de Jovens e Adultos. Eu cheguei
a ser professora de alfabetização e o Gérson deu aulas para os
tratadores com as técnicas da profissão. O resultado de tudo isso foi
uma melhor assistência aos cavalos.
Laços fortes
Os laços de amizade eram muito fortes e o Clube era uma família.
Nós realizávamos muitas festas e o Casarão era quase uma sede de
cultura. Nós fazíamos saraus com pianistas, tínhamos exposições...
enfim, era um Clube sócio-cultural-esportivo, e tinha até uma boate
para jovens, que funcionava para duas faixas etárias. E como o Clube é essencialmente hípico, todas as atividades sociais eram voltadas
para o hipismo, mesmo as festas de aniversários.
Havia também muito intercâmbio com equipes nos campeonatos
nacionais e internacionais, como com as do Chile, Paraguai e
Argentina. Era uma tradição já da época do salto e depois continuou
com a do adestramento.
filhos e netos; juízes internacionais; o ex-presidente João Figueiredo,
que era apaixonado por hipismo e com quem convivíamos muito
bem... Muita gente importante passou por aqui.
Eu conheci a Dulcinha, esposa do Renyldo, em Porto Alegre, na
época em que ele competia e nossa amizade continuou no Clube. Ela
continua a mesma, cheia de vida e de energia. A Dulcinha quando
torcia para o Renyldo chamava a atenção da plateia inteira com seu
grande entusiasmo!
E também não me esqueço do general Portinho, uma pessoa
exemplar! Foi ele e o meu marido que fizeram o picadeiro de
adestramento externo, porque naquela época os concursos eram
em pista de grama – hoje não é mais. Nós passávamos por lá e
víamos aqueles dois homens enormes agachados, plantando
graminha por graminha.
Resumindo esses 60 anos, para mim o Clube foi o prosseguimento da família que deixei em Porto Alegre. Atualmente,
minha vida é fazer caminhadas todos os dias aqui, tomar um
cafezinho e rever os amigos.
Fotos Acervo CHSA
Os Capacetes Brancos: uma boa lembrança
Fazíamos exteriores junto com os Capacetes Brancos e suas mulheres. Íamos até a Hípica Paulista (ainda não existia a Marginal), nos
juntávamos aos cavaleiros de lá e fazíamos esse exterior por todo o
Morumbi, indo até Itapecerica da Serra. Passeávamos pela manhã e
à noite. Na volta, ficávamos na sede, preparávamos um churrasco,
cantávamos e celebrávamos até tarde. Os Capacetes Brancos são uma
boa lembrança.
Os homens faziam também passeios pelo litoral, iam até São
Sebastião a cavalo, e levavam uma equipe de apoio de caminhão.
Recordo-me de nomes como Ubirajara Guimarães, Pedro Mari, Kiko,
Pillon. Tinha bastante gente, eram uns vinte e tantos cavaleiros.
Fatos marcantes
Tudo que vivi no Clube marcou minha vida. Os concursos lindos,
as festas maravilhosas. Como a sede antiga era muito pequenininha, a gente cobria a piscina para fazer os aniversários. Recordo
com carinho das amizades que fizemos e também da Ordem dos
Capacetes Brancos.
Lembro-me de algumas personalidades que frequentavam o
Clube, como o Paulo Maluf, que vinha todos os domingos com os
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Santo Amaro a Galope
Acima, o picadeiro coberto de
adestramento do CHSA faz uma
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- Clube Hípico de Santo Amaro