A Poesia Imagética de Edmar Guimarães
Maryah de Oliveira Luiz Pereira1; Daniela Borba Ribeiro2; Maria Severina Batista Guimarães³
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Bolsista PBIC/UEG, graduanda do Curso de Letras – Português/Inglês, UnU São Luís de
Montes Belos - UEG.
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Voluntária PVIC/UEG, graduanda do Curso de Letras – Português/Inglês, UnU São Luís de
Montes Belos - UEG.
³ Orientadora, docente e Coordenadora do Curso de Curso de Letras – Português/Inglês, UnU
São Luís de Montes Belos - UEG.
RESUMO
O projeto A Poesia Imagética de Edmar Guimarães analisou a poética do escritor goiano,
enfocando, principalmente, as imagens surrealistas e os apelos visuais que compõem a força
expressiva de sua poesia, tornando-se um dos aspectos fundantes de sua obra. Em geral, a
leitura de poesia é pouco exercitada nas escolas e isso acontece em decorrência, na maioria
das vezes, das dificuldades que esse tipo de texto propicia. Esse estudo visou ampliar o
sentido do texto poético à luz de teorias apropriadas para a maior compreensão da poesia na
contemporaneidade; formar bons leitores de poesia e desenvolvendo o gosto para essa forma
de expressão da linguagem humana, tanto entre os acadêmicos dos cursos de Letras da
Universidade Estadual de Goiás quanto entre os estudantes da educação básica da região.
Além disso, procurou fazer jus e dar visibilidade à literatura produzida em Goiás, desvelando
essa relevante face do nosso Estado ao público leitor.
Palavras-chave: poesia lírica; imagem, memória.
INTRODUÇÃO
Em geral, os escritores goianos são lidos com mais intensidade quando suas obras são
recomendadas para os vestibulares das Universidades do Estado. Passadas essas
oportunidades, retornam ao quase esquecimento, principalmente aqueles que se dedicam à
poesia, gênero pouco apreciado nas escolas por apresentar uma exigência maior de
sensibilidade para a fruição artística. Foi o que aconteceu com Edmar Guimarães. Solicitada
no vestibular alguns anos atrás, seu livro Desenhos de sol foi lido por milhares de alunos das
escolas públicas e privadas de todo o Estado e, em seguida, retornou ao quase esquecimento,
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já que a leitura de poesia em tempos de avanço tecnológico está restrita ao pragmatismo e não
ao prazer gratuito.
Levando isso em conta, o presente projeto visou contribuir com a divulgação da
produção goiana de poesia na atualidade, bem como desenvolver o gosto pela leitura de
poesia nas escolas de educação básica. Para tanto, pretendeu lançar mão de teóricos que
facilitam a leitura e a tornam, ao mesmo tempo, mais proficiente por ampliar seu sentido.
Nesse sentido, o projeto constou de duas etapas: na primeira, os pesquisadores se debruçarão
sobre a obra de Edmar Guimarães e de teóricos da lírica contemporânea a fim de analisar e
interpretar os poemas mais significativos à luz de teorias que ajudem a compreender a
irrupção das imagens como expressão mais genuína da poeticidade.
O objetivo deste projeto foi estudar a poética do escritor Edmar Guimarães, que
nasceu em Goiânia, formou-se em Letras Neolatinas pela Universidade Federal de Goiás –
UFG, tem pós-graduação em Língua Portuguesa pela Universidade Salgado de Oliveira –
UNIVERSO e possui várias premiações. Enfocando, principalmente, as imagens surrealistas e
os apelos visuais que compõem a força expressiva de sua poesia, tornando-se um dos aspectos
fundantes de sua obra.
MATERIAL E MÉTODOS:
A natureza metodológica do estudo enfocado no projeto de pesquisa é analítica e
interpretativa, com base em pesquisa bibliográfica. Os pressupostos foram buscados no que
tange à crítica de linhagem estética, como também não se perderam de vista as abordagens da
crítica que privilegia o contexto histórico-cultural. Assim, poder-se-á recorrer à crítica
contextual de Adorno, Benjamim, que deram uma noção do panorama geral em que se insere
a poesia lírica contemporânea de Edmar Guimarães. Em relação à teoria da imagem poética,
serão considerados os artigos de Ítalo Calvino em Seis propostas para o novo milênio, a visão
de Alfredo Bosi em O ser e o tempo da poesia, a abordagem de Octavio em obras como O
arco e a lira e Filhos do barro. Esse estudo sobre a imagem poética foi redimensionado pela
importância do aspecto na lírica contemporânea e especialmente na poética do autor em foco.
Assim, foram lidos e apreciados textos teóricos como os de Jean Cohen, Nortrope Frye e
Mikel Dufrenne para uma melhor apreciação da linguagem poética de Edmar Guimarães.
Acrescente-se ainda a leitura e discussão de obras e textos teóricos de poetas tidos como
fundadores da modernidade como Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, entre outros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
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Para Elliot (1972), a poesia não tem valor de função, a sua própria existência no social
já reflete uma função que difere do passado para os tempos de hoje, em cada época na sua
função social e artística, na função particular e geral é sempre divergente. Não existe
realmente uma finalidade para sua existência, pois a poesia veio da expressão ou imitação do
homem, é claro que no passado a poesia tinha uma ideologia e agora na atualidade tem outra,
o que não delimita a sua expansão na cultura, política e no interior de cada indivíduo que a
procura como uma forma de transcender-se para outra realidade.
A poesia é um produto que não se pode guardar nem tão pouco pegar, mas fixar na
mente e na alma, na essência, nos valores e memórias da infância ou da construção do
amanhã. Pode-se comprar e vender um livro, mas não a poesia. A sua utilidade é apenas a
contemplação e inspiração na vida de qualquer leitor, em qualquer circunstância de
experiência mundana ou intelectual, com isso Desenhos de Sol, simboliza o trabalho da
construção da palavra, da linguagem, criando poemas, que se iniciam em desenhos na
imaginação e vão transformando em manuscritos, rasuras e rascunhos para concretizar no
caderno que o leitor possa pegar e sonhar como uma volta à infância bem devagarinho, nos
pensamentos e memórias que são retomadas e que ficaram na “sombra” e só descobertos ou
violados na lembrança simbolizada pela palavra poética.
CONCLUSÕES:
Talvez seja este o verdadeiro propósito de Edmar Guimarães, o de promover uma volta
às lembranças da infância ou lembranças guardadas no inconsciente humano e só retomado ou
desabrochado nos sonhos, onde luz e sombra compõem seus desenhos. Dessa forma,
Desenhos de sol é a valorização da poética, da escrita, da palavra, a linguagem como o sol,
que durante o dia pode ter vários aspectos, lados que refletem na vida de um ser, que seria o
poeta e o seu trabalho com a morfologia da imagética, proporcionando um pouco de claridade
às sombras.
Portanto, foram analisados alguns poemas deste renomado poeta que, apesar de pouco
conhecido, tem grande talento e “bico-de-pena” em cores mágicas, uma vez que a “perseguem
traços essenciais de variadas complexidades da alma humana”, palavras de Moema de Castro
e Silva Olival, escritora e crítica literária. Sua poesia, como extravazamento da alma, com
base na memória, insere-se na categoria da lírica, no sentido apontado por Emil Staiger, e para
entendê-la melhor faz-se necessário teorizar um pouco sobre esse gênero.
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Assim sendo que Edmar Guimarães usufruiu de uma linguagem simples, mas cativante
e principalmente pegou a temática da recordação, da lembrança, da memória para construir
uma poética imagética, ou seja, a linguagem que utilizou resultou na produção simbólica da
poesia. Pois “a linguagem é significado: sentido disto ou daquilo” (PAZ, 1982, p.129), a
palavra é a fantasia do irreal, do surreal, do imaginário, da ilusão, uma flor pode simbolizar
muitas coisas, dependendo do contexto que se emprega, assim como em cada poema deste
livro, os desenhos são projeções imagéticas que podem ter diferentes significados a cada
leitura. Por isso, cada vez que se lê um poema, novas verdades se estampam à nossa frente
como um sol iluminando nossa vida
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