PERFIL DE PLANTAS MEDICINAIS E SEU USO DIVERSIFICADO NA TERAPIA DE PREVENÇÃO E CURA DE DOENÇAS, COMUNIDADE DO SÍTIO POCINHOS, BREJO SANTO, CEARÁ. Autor: Nara Nyedja de figueiredo de oliveira Orientador: João Tavares Calixto Junior Coautor(es): Maria Alacyr Justino Teles, Raquel Lime de Menezes, Nara Nyedja Figueiredo de Oliveira, Francielda Geremias da Costa Luz Modalidade: poster Área: Saúde PERFIL DE PLANTAS MEDICINAIS E SEU USO DIVERSIFICADO NA TERAPIA DE PREVENÇÃO E CURA DE DOENÇAS, COMUNIDADE DO SÍTIO POCINHOS, BREJO SANTO, CEARÁ. Autores: MSc. João Tavares Calixto Júnior (Profº Orientador); Francielda Geremias da Costa Luz; Maria Alacyr Justino Teles; Nara Nyedja de Fiqueredo de Oliveira; Raquel Lino de Menezes. INTRODUÇÃO: O homem foi um instrumento que desde a pré-história faz uso do meio botânico para a sua sobrevivência, manipulando-o não somente para suprir as necessidades mais urgentes, mas também na magia e medicina, no uso empírico ou simbólico, nos ritos gerenciadores da vida e mantenedores da ordem social (Albuquerque, 2005). No Brasil, antes mesmo do seu descobrimento, os índios já possuíam uma intensa relação com as plantas, utilizando-as para a cura de doenças e rituais religiosos, onde tais conhecimentos eram transmitidos de geração a geração (Lorenzi & Matos, 2002). Neste contexto, a etnobotânica busca captar as diferentes dimensões da relação de grupos humanos com as plantas, incluindo aspectos objetivos como o manejo do ambiente, a utilização e domesticação de plantas, e os aspectos mais subjetivos, como a forma como as pessoas pensam e percebem o ambiente (Amorozo, 2002). Desta forma, muitas comunidades possuem sistemas próprios de manejo, resultado da experiência acumulada historicamente da sua relação com os recursos naturais, o que viabiliza a subsistência com um prejuízo ambiental mínimo (Albuquerque & Andrade, 2002). Na caatinga do Nordeste brasileiro as plantas medicinais são amplamente utilizadas na medicina popular pelas comunidades locais. Estas comunidades possuem uma vasta farmacopeia natural, boa parte provenientes dos recursos vegetais encontrados nos ambientes naturais ocupados por estas populações, ou cultivados em ambientes de cultivo antrópicos. É importante enfatiza fatores que norteiam este estudo etnobotânico, com o reconhecimento dos locais de aquisição, parte utilizada das plantas e principalmente o modo de preparo das espécies nativas, resgatando as técnicas terapêuticas, no registro do modo informal de aplicação dos saberes para a valorização da medicina popular. Assim foi observado na comunidade do sítio Pocinhos, no município de Brejo Santo, Ceará a cultura do uso empírico de plantas fitoterápicas da biodiversidade de plantas da caatinga, para a prevenção e cura de uma infinidade de doenças geralmente comuns acometidas no dia-a-dia do homem, como gripes, cólicas gastrointestinais, cicatrizações, inflamações gerais, etc. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo fazer o levantamento das principais plantas medicinais e suas práticas terapêuticas na comunidade de sítio Pocinhos, na zona rural do município de Brejo Santo, Ceará. MATERIAL E MÉTODOS O estudo teve como público alvo moradores do sítio Pocinhos, da zona rural do município de Brejo Santo, situado a 5 Km da zona urbana (7º 29’ 36’’ S; 38º 59' 07"WGr) no Sul do Ceará do nordeste brasileiro. O município contempla uma população de 45.193 habitantes (IBGE, 2010), apresentando uma vegetação predominante de caatinga, de floresta caducifólia espinhosa e floresta subcaducifólia tropical pluvial, localizada na bacia hidrográfica do Salgado, de clima semi-árido e temperatura média (C°) 24º a 26º de janeiro a abril (FUNCEME/IPECE). A coleta de dados foi obtida através de uma amostra representativa de 162 pessoas, no período de 10 de abril a 20 de maio de 2013, a partir de uma entrevista estruturada do tipo formulário e aplicação de um termo de compromisso para cada participante. O tamanho da amostra considera um intervalo de 5% reproduzido segundo Bernard (1988). Neste formulário abordaram-se perguntas objetivas e subjetivas de dados básicos identificativos dos informantes (idade, sexo, escolaridade, se possui doenças crônicas), uso de plantas medicinais com a identificação por nomes vulgares regionais e famílias botânicas destas, suas finalidades de aplicação, partes utilizadas e seu preparo. A partir desses dados foi possível traçar o perfil de plantas medicinais e seu uso diversificado na terapia de prevenção e cura de doenças da comunidade. RESULTADO E DISCUSSÃO Os moradores da comunidade rural entrevistada, citaram cerca de 38 espécies de plantas medicinais com finalidades distintas. As famílias com maior representatividade e média de citações foram Anacardiacea (nome vulgar regional, Aroeira): 18 (dezoito vezes citada); Chenopodeacea (Mastruz): 17; Phyllantaceae (Quebra-pedra): 15; Malvaceae (Malvabranca): 15; Lamiaceae (Boldo): 14; Anacardeacea (Cajueiro): 12; Liliaceae (Alho): 12; Liliaceae (Babosa): 9; Olacaceae (Ameixa): 8; bem como várias outras espécies terapêuticas, podendo portanto definir o perfil básico das principais plantas medicinais e seus diversos tipos de usos na comunidade estudada. O público entrevistado enquadrava-se em uma faixa etária acima de 35 anos de idade, com baixo índice de escolaridade, de classe baixa e média econômica, que vivem da agricultura e pecuária. O uso de plantas medicinais é afirmado pelos informantes, devido ao fato de ser um meio prático e barato, a maioria alegam, não fazer mal e/ou não trazer prejuízo à saúde. As plantas utilizadas por esta comunidade são oriundas do cultivo domésticos em seus quintais e redondezas da região. Os dados levantados também nos remeteram a observância que as doenças mais tratadas são as gripes com as espécies das famílias Lamiaceae, Zingiberaceae, Leguminosae e Malvaceae, e nos tratamentos gastrointestinais, inflamação e cicatrização, com as famílias Sapotaceae, Chenopodiacea, Anacardiacea, Olacaceae e Leguminosae, geralmente utilizando a casca e folhas. Cabe aqui salientar, que no Nordeste brasileiro, os estudos etnobotânicos são ainda escassos, apesar de haverem esforços nesse sentido especialmente a partir do final do século XX e principalmente já no século XXI, destacando-se, no cenário nacional, dentre os estados nordestinos, Pernambuco com a realização de estudos que vêm enfocando principalmente a utilização de plantas medicinais e/ou ritualísticas, sobremaneira em áreas de caatinga. Dentre os trabalhos realizados para os Estados, podemos salientar os conduzidos por: Albuquerque (2000, 2002), Almeida & Albuquerque (2002), Albuquerque & Andrade (2002a, 2002b), Silva & Albuquerque (2005), Albuquerque et al. (2005), Monteiro et al. (2006) e Almeida et al. (2006). Outro ponto importante nos mostrou o fato do desconhecimento relativo aos princípios químicos, terapêuticos e tóxicos das plantas citadas, sendo este um agravante do seu uso nos diversos preparos, sendo este aprendizado baseado apenas nos conhecimentos empíricos, culturais e de seus antecedentes populacionais. Logo se faz necessário, estudos mais aprofundados e comprovacionais da eficácia das plantas medicinais usadas por populações rurais, de maneira que haja a aplicação de trabalhos e projetos que associem essa prática milenar da fitoterapia aos estudos acadêmicos da área da etnobotânica. CONCLUSÃO De acordo com os resultados foi possível analisar que doenças mais tratadas com plantas medicinais na comunidade analisada são as destinadas para o uso antigripal, antiinflamatória e cicatrizante. Também podemos inferir que as pessoas não dispõem do conhecimento dos princípios de toxicidade das plantas medicinais, necessitando, portanto de um acompanhamento educacional por parte dos profissionais da saúde e demais áreas afins. Trabalhos como estes são de fundamental importância para levantamentos etnobotânicos, nos remetendo que a função acadêmica de extensão poderá nortear problemas aqui relatados, bem como a elucidação de tratamentos, a descoberta de novos princípios ativos e consequentemente novos fármacos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, U. P. (Ed.). 2002. Etnobotânica para a conservação e uso sustentável da biodiversidade. In: CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA, 53., 2002, Recife. Anais... Recife. p. 244-246, 2002. Albuquerque, U. P.; Andrade, L. H. C. (2002). 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