UNISALESIANO
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Terapia Ocupacional: Uma Visão
Dinâmica em Neurologia
RAQUEL AGUIAR MOREIRA DE OLIVEIRA
USO DO GMFCS POR TERAPEUTAS OCUPACIONAIS:
REVISÃO DE LITERATURA
Lins – SP
2013
RAQUEL AGUIAR MOREIRA DE OLIVEIRA
USO DO GMFCS POR TERAPEUTAS OCUPACIONAIS:
REVISÃO DE LITERATURA
Monografia
apresentada
a
Banca
Examinadora do Centro Universitário
Católico Salesiano Auxilium, como
requisito parcial para obtenção do título de
especialista em Terapia Ocupacional: uma
visão dinâmica em neurologia, sob a
orientação da Professora Doutora Ana
Amélia Cardoso Rodrigues.
Lins – SP
2013
O51u
Oliveira, Raquel Aguiar Moreira de
Uso do GMFCS por terapeutas ocupacionais: revisão de literatura /
Raquel Aguiar Moreira de Oliveira. -- Lins, 2013.
28p. il. 31cm.
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano
Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para Pós-Graduação “Lato
Sensu” em Terapia Ocupacional: uma visão dinâmica em neurologia,
2013.
Orientador: Ana Amélia Cardoso Rodrigues
1..Classificação em Paralisia Cerebral. 2.GMFCS. 3.Terapeuta
Ocupacional. I Título.
CDU 615.851.3
AGRADECIMENTOS
Não há como iniciar os agradecimentos, se não for primeiramente à Deus. Ele
que me permitiu chegar onde estou, dar forças para nunca desistir e que se
anda sempre para frente. Ele me proporcionou sabedoria, perseverança,
capacidade, inteligência e força de vontade, além de esperança que sempre
consigo e dará tudo certo no final. Obrigada Pai Amado. Este é mais uma
conquista abençoada pelo Senhor!
À Professora Doutora Ana Amélia Cardoso, minha orientadora, que mesmo
durante a vivência da maternidade, dedicou alguns de seus momentos a
colaborar e me orientar neste estudo. Obrigada por estes momentos, pela sua
paciência e dedicação.
À Madá e a Rosana, que se dedicaram e disponibilizaram a mais um ano em
oportunizar
esta
pós-graduação,
que
me
ensinou,
clareou
ideias
e
complementou minha prática clínica e atuação profissional.
À minha mãe Cibele e meu irmão Rodrigo, sempre me apoiando e acreditando
na minha capacidade. Estão sempre comigo na minha fraqueza e minhas
vitórias.
À minha amiga Karina e família. Ela por ter confiado em mim e me incentivado
a iniciar esta formação e que, junto a sua família me acolheram e cuidaram de
mim.
À equipe Lumen Et Fides, mães e usuárias da instituição. Com vocês aprendi e
hoje me tornei a profissional que sou, com um conhecimento grande de
atuação, mas de vida e convivência também.
E como teria muito mais pessoas a citar e especificar, agradeço a família e
amigos que confiam em mim e em minha capacidade. Estão torcendo sempre
por mim em qualquer que seja minha luta. A minha força também vem de
vocês! Obrigada sempre!
RESUMO
A Paralisia Cerebral (PC) é uma patologia de ordem
neurológica caracterizada por desordens motoras que podem limitar ou
incapacitar as crianças portadoras desse quadro patológico em suas
habilidades, seus desempenhos funcionais e sociais. Esta patologia possui
classificações que são subjetivas considerando diferentes profissionais em um
processo reabilitador. Baseando nisso, foi criado, testado e universalizado um
sistema de classificação que considera o nível motor em que a criança se
encontra, o Gross Motor Function System (GMFCS). Esta classificação é um
roteiro em que estão descritas, detalhadamente, as características motoras
globais da criança necessárias para ser classificada naquele nível, conforme a
faixa etária que ela se enquadra, aplica-se a qual nível a criança pertence
através de observação de suas ações. Esse sistema para consulta tem
publicado os cinco níveis de comprometimento motor, sendo o nível I o de
melhor potencial para independência na locomoção e o nível V o de maiores
limitações funcionais, em cinco faixas etárias diferentes Como o terapeuta
ocupacional possui um papel vital no processo de reabilitação, o conhecimento
desta classificação por este profissional é de extrema importância e de grande
contribuição, principalmente ao direcionar quais objetivos poderão ser traçados
e permitir uma visão e linguagem comum entre os diferentes profissionais
reabilitadores. Este estudo, através de uma revisão crítica de literatura
brasileira em base de dados, teve como objetivo verificar se há aplicação do
GMFCS por terapeutas ocupacionais. Um escasso número de artigos atuais foi
encontrado para tal pesquisa o que nos leva a refletir sobre a importância dos
terapeutas ocupacionais se atualizarem numa terminologia comum para
valorização do seu papel e continuar com mais pesquisas referente ao assunto
para maior conhecimento do tema.
Palavras - chave: Classificação em Paralisia Cerebral; GMFCS; Terapeuta
Ocupacional.
ABSTRACT
Cerebral Palsy (CP) is a neurological pathology characterized
by motor disorders which may limit or impair children with this condition,
regarding their skills and their social and functional performances. This
pathology has classifications that are subjective, considering different
professionals in a rehabilitation process. Basing on it, a rating system that takes
into consideration the child’s motor level - the Gross Motor Function System
Classification (GMFCS) - was created, tested and universalized. This
classification is a script where the children's global motor characteristics
necessary to be classified at that level, according to her age, are described in
details. It also applies to what level the child belongs to by observing her
actions. This system has published five motor impairment levels for
consultation, where level I is the one with the best potential for motion
autonomy, and level V with greater functional limitations, in five ages range. As
the occupational therapist has a vital role in the rehabilitation process, it is
extremely important and a great contribution for this professional to be
acquainted to this classification, especially when defining the goals, allowing the
thought and common language between different rehabilitation professionals.
This study, through a critical review in the database of Brazilian literature, aimed
to check for the application of GMFCS by occupational therapists. A reduced
number of recent articles were found for this research which leads us to reflect
on the importance for occupational therapists to improve in a common
terminology to enhance their role and to continue with more researches
concerning the subject, for greater knowledge.
Keywords: Classification in Cerebral Palsy; GMFCS; Occupational Therapy.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BVS - Biblioteca Virtual em Saúde
CIF- Classificação Internacional de Funcionalidade
GMFCS - Gross Motor Function Classification System ( Sistema de
Classificação da Função Motora Grossa)
LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
MACS- Manual Abilites Classification System ( Sistema de Classificação das
Habilidades Manuais)
MEDLINE - Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Sistema
Online de Busca e Análise de Literatura Médica)
ODTBASE- Occupational Therapy Journal Literature Search Service
PC – Paralisia Cerebral
PUBMED- Públicações Médicas
SCIELO - Scientific Electronic Library Online
SNC – Sistema Nervoso Central
PEDI – Pediatric Evaluation of Disability Inventory (Inventário de Avaliação
Pediátrica de Incapacidade)
GMFM- Gross Motor Function Measure (Medida da Função Motora)
LISTA DE QUADROS
Quadro 1:...........................................................................................................20
Quadro2:.............................................................................................................
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ..................................................................................... 09
2
OBJETIVOS ......................................................................................... 14
2.1
2.2
Objetivo geral
Objetivos específicos
3
MÉTODO ............................................................................................. 15
3.1
3.2
Critério de inclusão
Critério de exclusão
4
ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................... 16
5
DISCUSSÃO ........................................................................................ 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 24
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 25
9
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, muitas pesquisas baseiam-se na investigação de
diversos assuntos envolvendo a patologia neurológica paralisia cerebral (PC),
pelo seu comprometimento motor, sua mutabilidade devido à variação de
quadro clínico, fatores cronológicos e comprometimentos secundários à lesão
cerebral e diferentes formas de intervenções e evoluções. Há diferentes formas
de classificações e avaliações, algumas mais gerais e outras mais específicas,
algumas direcionadas a uma área de atuação e outras descritas em linguagem
universal,
proporcionando
interação
entre
diferentes
profissionais
(ZERBINATO; MAKITA; ZERLOTI, 2003).
Paralisia Cerebral é definida como uma lesão cerebral não
progressiva que afeta o Sistema Nervoso Central (SNC) imaturo durante seu
desenvolvimento fetal ou infantil, o que provoca desordens variáveis no
desenvolvimento motor, resultando em incapacidade da criança em manter
posturas e realizar movimentos normais, associadas a problemas de fala, visão
e audição (BOBATH,1990).
Outras alterações também relacionadas são déficits perceptuais,
cognitivos, comportamentais, problemas musculoesqueléticos secundários e
algumas podem apresentar convulsões ocasionais ou frequentes. (MACIEL,
2011).
Algumas crianças com este quadro patológico, ao apresentar
algumas desordens citadas acima, poderão apresentar ainda os reflexos
primitivos, alteração de aprendizagem e comprometimento no processo de
aquisição de habilidades. Este complexo de sintomas pode limitar a realização
de atividades, dificultando o desempenho e função de tarefas cotidianas,
tornando essas crianças incapacitadas. (MANCINI et al, 2002).
A PC pode ser classificada quanto os sinais clínicos apresentados
(espástica, atetósica, hipotônica, atáxica e mista); quanto à localização do
corpo comprometida (tetraplegia, diplegia, hemiplegia e monoplegia); e também
quanto a gravidade de seu comprometimento (leve, moderada ou severa)
(BOBATH,1990).
As desordens motoras desta patologia apresentam variações em
relação as suas manifestações clínicas, gravidades, aspectos etiológicos que,
10
associadas a fatores pessoais e ambientais, interferem na evolução motora da
criança e, consequentemente, em seu prognóstico. O desafio dos profissionais
reabilitadores está em traçar um prognóstico individualizado de cada paciente,
conhecer quais as limitações e quais funções foram afetadas e, a partir daí,
traçar planos de tratamentos e métodos para alcançar o objetivo. Assim, esses
profissionais são considerados agentes incentivadores e facilitadores do
desenvolvimento das funções do indivíduo (GIANNI, 2003; ZERBINATO;
MAKITA; ZERLOTI, 2003).
O sucesso do processo de reabilitação dá-se através de um conjunto
que inclui uma avaliação minuciosa, objetiva, porém multidimensional do
paciente; o diagnóstico precoce e apropriado para a determinação de seu
prognóstico global de forma mais objetiva possível; e pela ação de uma equipe
multidisciplinar capacitada e entrosada, que ao conhecer bem a criança que
receberá as intervenções, serão mais capazes de trocar ideias e terão mais
capacidade em trabalhar em conjunto (GIANNI, 2003).
A formação do Terapeuta Ocupacional oferece condições para o
estabelecimento e efetivação de programas de tratamento que visam promover
a realização e facilitação do movimento, propiciar o desenvolvimento dessa
aprendizagem motora em diferentes atividades, estimular e explorar as
diferentes funções cognitivas e sensoriais, como também auxiliar na execução
e adaptação das atividades a serem realizadas de forma mais independente
possível, incentivando a realização das atividades de vida diária, o brincar e o
lazer, enfim, propiciando o “fazer”, considerando idade cronológica e nível
funcional da criança (ZERBINATO; MAKITA; ZERLOTI, 2003).
O processo de avaliação, ponto inicial da reabilitação, deve conter
informações da criança quanto a seu aspecto motor, sensorial e cognitivo, se
apresenta alguma comorbidade como convulsões, que podem influenciar em
sua participação. É de vital importância que a avaliação contenha dados sobre
o contexto em que a criança está inserida, quais seus interesses e sua rotina.
Esses itens podem ser coletados por observação, como também através de
entrevistas com a família, aspecto importante, pois além de fazer parte da vida
da criança, a família poderá expor suas expectativas e reproduzir sua interação
com a criança. Esse primeiro passo, permitirá uma visão mais detalhada e
precisa da criança, seus interesses e suas limitações, ajudando na elaboração
11
de um plano de tratamento efetivo e direcionado (PRADO, 2007; ZERBINATO;
MAKITA; ZERLOTI, 2003).
A avaliação específica de cada profissional da equipe, em sua área
de atuação, permite direcionar o raciocínio clínico na escolha da melhor técnica
ou métodos que poderiam ser mais eficazes na reabilitação daquele caso em
questão e, a partir disso, traçar objetivos pré-determinados tanto para
intervenções individuais daquela área profissional, quanto para as intervenções
conjuntas, em equipe. O item essencial comum à avaliação de todos os
integrantes da equipe de reabilitação, como parte dos dados pessoais do
paciente, é a classificação do tipo clínico de paralisia cerebral e o nível motor
conforme o GMFCS (Gross Motor Function Classification System- Sistema de
Classificação da Função Motora Grossa) (PALISANO et al, 2007).
O GMFCS é uma ferramenta mundialmente utilizada e também
considerada como um sistema padronizado para classificar a severidade do
acometimento do movimento, direcionando as metas funcionais e o nível motor
que a criança se encontra, uma vez que o nível de gravidade é subjetivo,
variando
conforme
considerações
de
cada
profissional
(KANASHIRO;
ARAÚJO; FAVO, 2011; NARUMIA; OZU; GALVÃO, 2010).
Os autores Dorren et al (2010) dizem do objetivo do GMFCS como
uniformizar conceitos e , assim, utilizar uma linguagem padrão que permite a
comunicação
entre
pesquisadores,
gestores,
profissionais
da
saúde,
organizações da sociedade civil e usuários em geral, além contribuir para um
melhor entendimento sobre o prognóstico.
A literatura aponta que este sistema de classificação apresenta
confiabilidade e validação em diferentes países, já tendo passado pelo
processo de adaptação transcultural e testagem para população brasileira,
sendo que uma das pesquisadoras é terapeuta ocupacional. Há equivalência
entre a adaptação da versão brasileira com a original tanto na semântica e
conceitos
quanto
em
sua
aplicabilidade
por
diferentes
profissionais
(HIRATUKA; MATSUKURA; PFEIFER, 2010).
Sabendo que GMFCS é bastante usado nas práticas clínicas e em
pesquisas, as autoras Hiratuka, Matsukura e Pfeifer (2010) consideraram
importante o processo de adaptação transcultural desta classificação. Esse
processo teve que ser rigoroso, pois alguns pesquisadores não consideram a
12
adaptação como não sendo apenas uma simples tradução de idiomas, mas
também incluir avaliações semânticas, considerar aspectos culturais e os
estilos de vida da população que utilizará o instrumento em estudo
O processo de adaptação transcultural contou com dois tipos de
procedimentos, um tradução e adaptação de instrumentos, composto por seis
etapas e análise semântica e de conteúdo. As diferenças maiores entre a
linguagem original e a tradução para linguagem brasileira estava nas
terminologias ou a conteúdos específicos da área de neuropediatria.
(HIRATUKA; MATSUKURA; PFEIFER, 2010).
Ainda sobre essa adaptação transcultural, essas autoras citadas
acima coletaram uma população de crianças PCs e profissionais para
reaplicação da classificação após traduzida, havendo excelente correlação
entre os examinadores, garantindo a adequação da versão final traduzida do
GMFCS.
O GMFCS é um roteiro em que estão descritas, detalhadamente, as
características motoras globais da criança necessárias para ser classificada
naquele nível, conforme a faixa etária que ela se enquadra (PALISANO et al,
2007).
Esse sistema para consulta tem publicado os cinco níveis de
comprometimento motor, sendo o nível I o de melhor potencial para
independência na locomoção e o nível V o de maiores limitações funcionais,
em cinco faixas etárias diferentes (antes dos 2 anos, de 2 a 4 anos, de 4 a 6
anos, de 6 a 12 anos e de 12 a 18 anos). É um sistema simples, que não
requer um treinamento para sua aplicação, podendo ser utilizado por todos os
profissionais da equipe através de observações da criança em ação
(PALISANO et al, 2007).
Essa ação da criança engloba atividades funcionais em que realizará
diferentes funções motoras grossas de forma independente como as
habilidades motoras sentar e andar com base no conceito de deficiência e de
limitação funcional global de crianças com paralisia cerebral. (OLIVEIRA;
GOLIN; CUNHA, 2010).
O GMFCS enfatiza conceitos inerentes à Classificação Internacional
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) da Organização Mundial da
Saúde (FARIAS; BUCHALLA, 2005).
13
Um desses conceitos envolve a “performance” usual, ou seja, o que
a criança realmente faz, e não a “capacidade”, o que é conhecido ser capaz de
fazer de melhor. Essa classificação também alerta para a influência que os
fatores ambientais e pessoais podem exercem na criança ao observá-la
(PALISANO et al, 2007).
Dorren et al (2010) explicam essa performance como sendo a
condição de saúde, paralisia cerebral, afetando o movimento, incluindo mas
não limitando , podendo ser observada na maneira como o indivíduo realmente
se movimenta em seu ambiente natural. Ou seja, a criança pode apresentar
diferentes métodos de mobilidade conforme demanda ambiental, atividades
adequadas para a idade bem como capacidades inerentes a estrutura corporal
e funcional.
A habilidade motora grossa engloba movimentos amplos como
sentar, subir escadas, andar, manter equilíbrio, tônus adequado e ocorre no
sentido cefalocaudal, direção próximo distal, de primitivo e reflexo para
voluntário e controlado. Por exemplo, a estabilidade e mobilidade do tronco, da
cintura escapular e do cotovelo são necessárias antes que o controle das mãos
seja alcançado. (ZERBINATO; MAKITA; ZERLOTI, 2003).
Segundo Meyerhof (1999 apud ZERBINATO; MAKITA; ZERLOTI,
2003, p.515) “as habilidades dos membros superiores desenvolvem-se
inicialmente durante as atividades de tomada de peso em prono”. A autora
afirma ainda que é a partir do desenvolvimento motor grosso que se consegue
alcance preciso, manipulação adequada e preensão fina desenvolvida.
A criança com PC, como já citado anteriormente, poderá apresentar
limitações em suas atividades, seja pela permanência de reflexos primitivos ou
por desordens motoras e sensoriais, que interferiram na aquisição das
primeiras atividades motoras provocando mudanças neste comportamento. O
desenvolvimento motor grosso é fundamental para independência do indivíduo,
tanto para locomover-se, quanto para posicionar-se ou se movimentar, além de
ser fundamental para o desenvolvimento das habilidades dos membros
superiores e funcionalidade das mãos (NARUMIA; OZU; GALVÃO, 2010).
A alteração da aquisição motora tem influência direta e importante
no desempenho das atividades de vida diária, no contexto escolar da criança e
no social. O indivíduo que apresenta dificuldades em manter-se em pé, sentar
14
ou equilibrar-se sobre os membros inferiores, por exemplo, apresentará
dificuldades no vestir (KILLINGSWORTH; PEDRETTI, 2005).
NARUMIA; OZU; GALVÃO (2010) demonstra que baseando no
GMFCS, podemos prever qual a capacidade da criança para exigirmos uma
postura na realização das AVD’s. Os autores descrevem as metas funcionais
segundo os níveis do GMFCS. Para exemplificar essa relação de aquisição
motora grossa com funcionalidade e independência, consideremos o nível I em
idade de 2-4 anos.
A meta funcional esperada é andar sem restrições limitações em
habilidades motoras grossas mais avançadas como correr e pular. Os aspectos
primários a serem trabalhados focarão tônus, força muscular e amplitude de
movimento e os aspectos secundários serão alinhamento, coordenação,
transferência de peso, dissociação de movimentos e estabilidade. Assim é
esperado que a criança nesta idade aprimore a postura sentada para melhor
manipulação de objetos, aprimore o assumir e o sair da postura sentada,
assuma a postura em pé com apoio e tenha marcha domiciliar. Com essas
aquisições, a criança pode iniciar um vestir e despir independentemente, pode
escovar os dentes em pé, ao menos com apoio e até mesmo sente com
segurança para manipulação de objetos como colher ao comer um alimento.
(NARUMIA; OZU; GALVÃO, 2010).
O terapeuta ocupacional pode contribuir na estimulação da criança
para desenvolver o aprendizado motor global através de exploração do
ambiente e do objeto, incentivar exploração, observação e interesse,
principalmente através do brincar, meio que também expressará seus
sentimentos, vontades, pensamentos. Também, junto ao fisioterapeuta, o
profissional poderá explorar atividades globais somadas a ordens mais
precisas, exigindo mais organização e destreza da criança, que poderá adquirir
mais coordenação e funcionalidade (PRADO, 2007).
Então, considera-se de suma importância o conhecimento e a
utilização do GMFCS por terapeutas ocupacionais, uma vez que este sistema
de classificação apresenta linguagem universal, está sendo amplamente usada
por fisioterapeutas e por importantes centros de reabilitação, e por idealizar
quais prováveis habilidades e evoluções que uma criança pode ter seguindo o
15
tratamento e se não houver intercorrências maiores que afetem seu quadro
motor.
Por prever um prognóstico motor da criança, o conhecimento desta
classificação por terapeutas ocupacionais permite que o profissional trace
metas e oriente os pais baseado no que é esperado da criança, se ela
consegue ser independente ou sempre necessitará de auxílio devido condições
máximas motoras que ela poderá alcançar. A falta dessa informação faz com
que até os próprios terapeutas ocupacionais criem expectativas num objetivo
que não poderá ser alcançado e ocupa um tempo de terapia gastos em tentar
alcançar novas aquisições, que não seriam possíveis, ao invés de direcionar ou
trabalhar questões que devem permanecer estimuladas para criança não
diminuir o que já conquistou.
Portanto, este trabalho pretende investigar se e como o GMFCS está
sendo utilizado por terapeutas ocupacionais no Brasil, mesmo participando de
trabalhos de outros profissionais da equipe, baseando-se em algumas
publicações em sites de busca de artigos científicos, considerando que essas
são fontes importantes para maior divulgação, reconhecimento e valorização
da profissão e quais os temas abordados nessas publicações.
16
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Verificar se há aplicação do Sistema da Classificação da Função
Motora Grossa (GMFCS) por terapeutas ocupacionais, no Brasil.
2.2 Objetivos específicos
 Verificar quantos desses artigos foram escritos e publicados por
terapeutas ocupacionais e quantos tiveram participação de algum terapeuta
ocupacional em seu desenvolvimento.
 Discutir quais os temas abordados nessas publicações.
17
3 MÉTODO
A pesquisa baseou-se na análise dos artigos científicos realizada
através da revisão crítica de literatura pela busca eletrônica de artigos, de
literatura brasileira, na língua portuguesa, indexados nas bases de dados
Biblioteca Virtual da Saúde (BVS):
Scielo, Lilacs, OTDBase, PUBMED e
Medline com a palavra - chave GMFCS ou Gross Motor Function Classification
System.
Os artigos encontrados na busca foram selecionados a partir do
sistema de “varredura”, em que cada item encontrado foi aberto e verificado se
o autor ou autores da pesquisa tinham a descrição de formação em Terapia
Ocupacional ou se o próprio título do texto fazia referência a essa profissão.
Com essas considerações, o artigo foi selecionado para leitura e análise.
Em seguida, foi realizada a leitura desses artigos, identificando os
objetivos, a metodologia utilizada, os procedimentos de intervenção e os
principais resultados.
As informações dos artigos foram organizadas em um quadro,
descrevendo as informações que envolvem autor, ano, objetivo da pesquisa,
metodologia e resultados.
3.1 Critério de inclusão
Foram incluídos artigos escritos e publicados em língua portuguesa,
no período de 2004 a 2013, e que tenham sido escritos por pelo menos um
terapeuta ocupacional ou que tiveram, no mínimo, a participação de um
terapeuta ocupacional como um dos autores desta publicação.
3.2 Critérios de exclusão
Foram excluídos artigos que
não
estivessem em língua
portuguesa ou aqueles publicados em anos anteriores a 2004. Também não
foram selecionados os artigos que não trouxessem a participação de, pelo
menos, um terapeuta ocupacional.
18
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A partir da sigla GMFCS e seu significado Gross Motor Function
Classification System, iniciou-se a pesquisa nas bases de dados selecionadas
para a identificação dos estudos que seriam incluídos na presente revisão.
Como descrito anteriormente, foram critérios de inclusão artigos em
literatura brasileira e que tenha sido escrito ou tenha participação de pelo
menos um terapeuta ocupacional.
A busca nas bases de dados via Biblioteca Virtual da Saúde,
resultou em 20 artigos. Ao serem analisados, quatro deles satisfaziam os
critérios de inclusão estabelecidos. Três destes artigos foram encontrados em
mais de uma base de dados, Scielo e Lilacs. Um foi encontrado apenas na
base de dados Lilacs. Nas demais bases de dados descritas no método não
foram localizados artigos que satisfaziam os critérios propostos.
A seguir, no quadro 1, estará exposto os artigos encontrados ao ser
realizada a pesquisa, apresentados segundo autor/ano e formação desses
autores. No quadro 2, foi reunido e sintetizado as informações obtidas do
material bibliográfico encontrado. Os dados foram organizados neste quadro
categorizando autor, ano, objetivo, método e resultados
selecionados.
dos artigos
19
QUADRO 01. Descrição dos artigos encontrados na busca em base de dados.
Autor (es) / Ano
Formação do autor (es)
BELLA G. [et al] (2012)
Todas as autoras são fisioterapeutas
SANTOS, L.H.C. [et al] (2011)
Todas as autoras são médicas
TORTATO, S. [et al] (2010)
Todas as autoras são médicas
MARGRE, A.L.M.;REIS, M.G.L.;
Todas as autoras são fisioterapeutas
MORAIS R.L.S. (2010)
VASCONCELOS, R.L.M. [et al] (2009)
Todas as autoras são fisioterapeutas
HIRATUKA,E.; MATSUKURA,T.S. ;
Todas as autoras são Terapeutas
PFEIFER,L.I (2010)
Ocupacionais
DIAS, A.C.B. [et al] (2010)
Todos os autores são fisioterapeutas
CHAGAS [et al] (2008)
Quatro autores são fisioterapeutas e
uma autora é terapeuta ocupacional
ALVES, A.P.V; FORMIGA,C.K.M.R;
Todas as autoras são fisioterapeutas
VIANA, F.P. (2012)
BRIANEZE,A.C.G.S.. [et al] (2009)
Todas as autoras são fisioterapeutas
OLIVEIRA, A.I.A; GOLIN,M.O.;
Todas as autoras são fisioterapeutas
CUNHA, M.C.B. (2010)
PAIVA, M.S. [et al] (2010)
Dois autores são fisioterapeutas, um é
educador físico e um é médico.
SANTOS, J. [et al] (2009)
Todas as autoras são fisioterapeutas
CUNHA, A.B. [et al] (2008)
Todas as autoras são fisioterapeutas
LOPES, D.V. ; ZAMPIERI, L.M. (2008) Todas as autoras são fisioterapeutas
MANCINI,M.C. [et al] (2004)
Três são terapeutas ocupacionais e
três fisioterapeutas.
ALVES, A.C.J. ; MATSUKURA,T.S.
As autoras são terapeutas
(2011)
ocupacionais.
CAMARGOS, A.C.R. [et al] (2007)
Todas as autoras são fisioterapeutas
CARVALHO,J.T.M. [et al] (2010)
Todas as autoras são fisioterapeutas
ROCHA, A. P.; AFONSO,D.R.V;
Todas as autoras são fisioterapeutas
MORAIS, R.L.S. (2008)
20
QUADRO 02. Descrição dos artigos selecionados a partir dos resultados da pesquisa em
base de dados.
AUTOR/ANO
OBJETIVOS
METODOLOGIA
MANCINI [et al] Avaliar o impacto Participaram
(2004)
do
grau
36 As
crianças
de crianças portadoras consideradas
comprometimento
neuromotor
RESULTADOS
de
Paralisia graves
no Cerebral
possuem
com habilidades
perfil de crianças diagnóstico médico funcionais
portadoras
de confirmado,
paralisia cerebral.
não inferiores em todas
apresentando
as
áreas
de
distúrbios
desempenho
associados (retardo funcional e maior
mental,
déficit ajuda do cuidador
sensorial
ou em todas as três
epilepsia). Possuem áreas(
auto-
idade entre quatro e cuidado,
função
sete anos e foram social
e
divididas
A
em
três mobilidade).
grupos de acordo criança
com
nível
de gravidade
gravidade
da moderada
doença
classificando
com
possui
independência
com funcional
base no GMFCS.
e
desempenho
funcional
menor
que crianças com
grau
leve,
mas
assemelham- se a
elas
em
auto-
cuidado e função
social.
21
Continuação
AUTOR/ANO
OBJETIVOS
METODOLOGIA
ALVES,
Identificar, a partir
Participaram cinco
As
MATSUKURA
do ponto de vista
alunos
das
(2011)
do
paralisia
aluno
com
RESULTADOS
com
cerebral,
crianças
foram relevantes e
paralisia cerebral,
dois
as
como nível IV e três
capazes
como
apontar demandas
contribuições,
dificuldades
e
classificados
percepções
nível
V,
mostraram-se
de
cotidiano
segundo o GMFCS.
e
implicada no uso
Considerou-se
quando e como os
de
nível de cognição
recursos
preservado
ser
recursos
de
tecnologia
e
assistiva
no
avaliado
contexto
da
professoras, idade
escolarização
no
de 8 a 12 anos, que
ensino regular.
pelas
frequentavam
do
terceiro ao quinto
ano
do
ensino
fundamental
regular
e
que
faziam
uso
de
recurso
de
tecnologia assistiva
há,
pelo
seis meses.
menos,
dentro
contexto.
identificar
podem
limitantes
do
22
Continuação
AUTOR/ANO
CHAGAS
[et
(2008)
OBJETIVOS
O
al]
METODOLOGIA
objetivo
principal
Participaram
RESULTADOS
30
foi crianças
com
classificar crianças paralisia
cerebral
com
paralisia espástica, de idade
Verificou-se que o
GMFCS
e
o
MACS,
classificações que
cerebral espástica entre um a 14 anos,
também
utilizando
complementam,
o com capacidade de
sistema
de compreender
são
classificação
de ordens
indicadores
mobilidade
(GMFCS)
função
(MACS).
simples;
faziam
e
uso
de
de anticonvulsivantes,
manual mas
sem
crises
se
bons
da
função manual e
da mobilidade de
crianças
com
convulsivas há pelo
paralisia cerebral,
menos seis meses.
podendo ser úteis
Foram classificadas
na caracterização
pelo GMFCS e pelo
funcional da PC e
Manual
no direcionamento
Abilites
Classification
para a escolha de
System
(MACS)
avaliação
divididas
grupos,
e
no
em três
planejamento
de
conforme
intervenções
classificação,
em:
leve, moderada e
grave.
clínicas.
23
Continuação
AUTOR/ANO
OBJETIVOS
METODOLOGIA
RESULTADOS
HIRATUKA;
Realizar
Estudo
MATSUKUR
adaptação
em duas etapas.
tradução
A; PFEIFER
transcultural para
A
primeira
retrotradução sem
(2010)
o
do
consistiu
em
dificuldades e a
Sistema
de
adaptação
Classificação
da
transultural
Brasil
Função
Motora
dividido
que
As
etapas
de
e
equivalência
em
semântica
e
foram
conceitual
foram
Grossa (GMFCS)
realizadas
obtidas.
para
tradução,
confiabilidade
cerebral e verificar
retrotradução,
entre
a
análise semântica
examinadores
e
demonstrou
a paralisia
confiabilidade
entre
observadores
do
instrumento
adaptado
de
conteúdo,
retrotradução
versão
com
da
final
aprovação
crianças
autores
brasileiras.
instrumento.
e
que
avaliações
quase
não
pelos
diferiam, havendo
do
correlação forte e
A
segunda
etapa
consistiu
em
testagem com 40
crianças
com
paralisia cerebral,
avaliadas por dois
examinadores
para
as
A
verificar
confiabilidade
entre
observadores.
a
significante.
24
5. DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi verificar se há aplicação do GMFCS por
terapeutas ocupacionais, no Brasil, com base em publicações em sites de
busca de artigos científicos, Os artigos encontrados, selecionados e analisados
são publicações recentes, dos anos de 2004, 2008, 2010 e 2011.
O artigo mais antigo, publicado em 2004 (MANCINI et al,2004), já
demonstra a importância do GMFCS para classificação da gravidade da
paralisia cerebral e comprova sua validação como linguagem universal, mesmo
baseando na sua versão mais antiga (de 1997). Essa primeira versão da
classificação não possuía o item de faixa etária “dos 12 aos 18 anos” e, mesmo
incompleta, comparada com a versão revisada e atualizada, não deixou de
apontar as descrições referentes à gravidade e idade, sendo ainda precisa e
indicada (PALISANO, 2007).
Mancini et al (2004), além do GMFCS, utiliza em sua pesquisa uma
avaliação que indica o desempenho funcional da criança em sua atividade de
rotina diária. A avaliação é o PEDI (Inventário de Avaliação Pediátrica de
Incapacidade) e informa esse desempenho dividindo em três áreas: autocuidado, mobilidade e função social, através de uma entrevista com o pai ou
cuidador responsável pela criança.
Em sua pesquisa, Mancini et al (2004) observaram que as crianças
com PC, consideradas com quadro grave, apresentam desempenho funcional
inferior em todas as áreas quando comparadas a uma criança com PC de
quadro leve. Comparadas a uma criança com PC de quadro moderado, as
habilidades funcionais mais comprometidas estão nas áreas de auto-cuidado e
mobilidade. As crianças com PC com quadro moderado apresentam
desempenho semelhante às crianças leves, exceto na habilidade funcional de
mobilidade, em qual apresentam habilidade inferior.
O estudo ainda descreve sobre a independência destas crianças
portadoras de PC, a criança com quadro moderado é mais dependente do
cuidador em áreas de auto cuidado e mobilidade do que uma criança com
quadro leve, enquanto uma criança grave é totalmente dependente em todas
as áreas.
25
As autoras citadas acima concluiram que a gravidade do
comprometimento motor das crianças com PC tem grande impacto no
desempenho funcional, interferindo na capacidade funcional, ritmo, ordem e
situações desvantajosas para desempenhar atividades e rotinas diárias, além
de Independência. Além disso, os fatores ambientais (fatores limitantes
extrínsecos) proporcionam maior impacto funcional do que fatores intrínsecos,
pois um cuidador (ambiente social) pode interferir na iniciativa ou habilidade da
criança enquanto ela tenta desempenhar certa atividade através de seus
próprios recursos.
Outra pesquisa analisada que discutiu a relação comprometimento
motor com desempenho funcional foi a escrita por Chagas et al (2008). No
estudo, também concluiu-se que crianças com comprometimento moderado
apresentam habilidades funcionais e assistência ao cuidador semelhantes às
crianças com comprometimento leve e habilidades manuais semelhantes a
crianças graves.
Nesta pesquisa, além do uso da classificação GMFCS, foram
utilizadas a classificação MACS (Manual Abilities Classification System) e as
avaliações PEDI e GMFM-66, este último avalia o desenvolvimento da função
motora grossa. Com estes instrumentos, os autores puderam concluir o quanto
o comprometimento motor influencia no desempenho das atividades e que
fatores do contexto podem minimizar essa relação, como equipamentos
adaptativos de mobilidade.
Chagas et al. (2008) apontam que essas classificações e avaliações
são bons representantes para caracterizar a funcionalidade de crianças com
PC, principalmente as classificações GMFCS e MACS, que descrevem a
mobilidade e função manual, respectivamente. São indicadores de fácil
administração, exigindo um treinamento mínimo para aplicação e utilização e
auxiliam na prática clínica ao nortearem avaliações e intervenções mais
adequadas para as diferentes gravidades.
Alves
e
Matsukura
(2011)
consideraram
crianças
de
comprometimento motor grave, classificadas como nível IV e nível V baseandose no GMFCS, e com aspectos cognitivos relevantes para participação neste
estudo, também analisado. Esse grau de comprometimento motor foi
selecionado pela maior limitação em desempenho motor e pela possibilidade
26
de necessitarem de recursos adaptados para interação em seu meio, como na
escola.
Este foi um dos critérios propostos para participação do estudo,
utilização de recursos de tecnologia assistiva em escola regular, e os recursos
considerados e utilizados pelas crianças com PC nesta pesquisa foram lápis
engrossado, tarefas adaptadas, cadeiras de rodas, mesa adaptada, tarefa
xerocada, escriba, pulseira de chumbo, molde vazado, tesoura adaptada, letras
móveis e tabuleiro e prancha de comunicação (ALVES; MATSUKURA, 2011).
Ainda no estudo dessas autoras, as crianças demonstraram boa
percepção da necessidade desses equipamentos para acompanhar as
demandas. Há crianças que consideram auxiliadores apenas os recursos que
usam com mais frequência, reconhecem a importância desses instrumentos
para execução das atividades, seja no ambiente escolar ou fora dele e
percebem que, apesar dos recursos, nem sempre são compreendidos pelas
professoras, necessitando de ajuda de colegas de sala. Um fator importante
apontado pelas autoras foi a falta de participação destas crianças na escolha
dos recursos, em que das cinco participantes, apenas duas treinaram o uso
antes de iniciá-lo, o que pode gerar desmotivação e desinteresse. Todas as
participantes não consideram o recurso como um estigma.
As autoras Alves e Matsukura (2011) conseguiram demonstrar que
apesar do comprometimento motor e das dificuldades físicas provocadas pelo
seu quadro, há alternativas que permitem a participação da criança com
paralisia cerebral e que, muitas delas possuem um nível cognitivo apropriado
para entender suas limitações e necessidades e são capazes de indicar quais
recursos seriam importantes para o contexto que vivem.
Diferente das publicações analisadas acima, que utilizaram o
GMFCS como método das pesquisas para indicador de gravidade das crianças
com paralisia cerebral, o trabalho de Hiratuka, Matsukura e Pfeifer (2010)
preocupou-se com a validade e aplicação da classificação GMFCS no Brasil.
Dedicaram-se à adaptação transcultural e tinham como um dos objetivos
verificar a confiabilidade deste instrumento, comparado à versão original,
quando aplicado em crianças brasileiras com paralisia cerebral.
Com o estudo, constatou-se que o GMFCS é de fácil aplicação, pois
graduandos também conseguiram aplicar sem dificuldades. As autoras
27
verificaram que é de extrema importância a utilização por profissionais que
atuam junto a crianças com paralisia cerebral, pois direciona o raciocínio a
objetivos adequados para o nível motor e idade, além de prever um prognóstico
para a função motora grossa.
As autoras citadas acima observaram permanência estável, por
longo tempo, do nível motor da criança classificada. Consideram que o
processo transcultural realizado foi de extrema importância, pois equivale a
versão original, contribui na conduta de diferentes profissionais sobre o quadro
da criança, e com isso, traz diversos benefícios para a população alvo, como
uma reabilitação mais direcionada e objetiva.
Com a análise destes estudos, notou-se que houve uma melhor
visualização dos quadros motores ou gravidades escolhidas para participação
nas pesquisas quando os autores classificavam os participantes pelo nível
motor do GMFCS.
Mancini et al (2004) e Chagas et al (2008) se interessaram em
estudar a relação entre comprometimento motor e desempenho funcional,
porém utilizaram recursos diferentes para atingirem seus objetivos. O primeiro,
além de classificação das crianças com PC pelo GMFCS utilizou-se do PEDI
para alcançar resultados, enquanto o segundo utilizou como recurso, após
classificar os níveis motores, as classificações MACS, GMFM-66 e o
instrumento de avaliação PEDI.
Alves e Matsukura (2011) voltaram mais ao comprometimento motor
com maiores limitações e a necessidade do uso de adaptações para
desempenhar ou participar de atividades escolares.
Hiratuka, Matsukura e Pfeifer (2010) tiveram como objetivo final a
validação da classificação GMFCS no Brasil, preocupando-se apenas com a
mesma classificação das crianças por diferentes profissionais e não relacionar
nível com desempenho, habilidades ou necessidades.
Com este trabalho, nota-se que é limitada a quantidade de
publicações em que há participação de um terapeuta ocupacional no que se
refere ao GMFCS. Por ser uma classificação universal e de importância
relevante e pelo terapeuta ocupacional ser um dos profissionais importantes na
reabilitação de uma criança com paralisia cerebral, o uso, participação ou
28
conhecimento do GMFCS deve ser mais estudado, explorado e divulgado por
estes profissionais.
29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da classificação GMFCS ser uma das classificações mais
utilizadas ou nomeadas atualmente, proporcionando uma linguagem universal
diante de diferentes profissionais, este estudo mostrou uma escassez no
número de artigos encontrados para tal pesquisa e que envolvessem
terapeutas ocupacionais em qualquer momento da redação, seja como autor
ou como um participante no desenvolvimento.
Observou-se
que
os artigos encontrados permitiram
melhor
visualização do quadro da criança quando se referiam ao nível motor em que
se encontravam os participantes das pesquisas. Isso demonstra que com o uso
frequente desta classificação poderá proporcionar ao profissional reabilitador
uma agilidade em entender as limitações motoras, o prognóstico e o raciocínio
clínico.
Outro item notado foi que a linguagem universal desta classificação
também permite uma troca mais clara de informações entre profissionais de
diferentes áreas sem interferência dos termos específicos para explicar alguma
dificuldade.
Considerando estas características sobre o GMFCS e sabendo que
o terapeuta ocupacional é um profissional de extrema importância no processo
reabilitador, aumenta a importância deste profissional em acompanhar as
atualizações de instrumentos de avaliação e classificação para interação com
diferentes profissionais.
Portanto, é importante pensar na valorização do papel do terapeuta
ocupacional e continuar com mais pesquisas referente ao assunto para um
maior conhecimento e aprofundamento do tema.
30
REFERÊNCIAS
ALVES, A. C. J.; MATSUKURA, T. S. Percepção de alunos com paralisia
cerebral sobre o uso de recursos de tecnologia assistiva na escola regular.
Rev. bras. educ. espec., Marília, v. 17, n. 2, p. 287-304, ago 2011. Disponível
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141365382011000200008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 28 fev. 2013.
BOBATH, Karel. Uma base neurofisiológica para o tratamento da paralisia
cerebral. 2. ed. São Paulo: Editora Manole, 1990.
CHAGAS, P.S.C. [et al] . Classificação da função motora e do desempenho
funcional de crianças com paralisia cerebral. Rev. bras. fisioter., São Carlos,
v.
12,
n.
5,
p.409-416,
out.
2008.
Disponível
em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141335552008000500011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 01 mar. 2013.
DORREN [et al]. Correlates of decline in gross motor capacity in adolescents
with cerebral palsy in Gross Motor Function Classification System levels III to V:
an exploratory study.Developmental Medicine & Child Neurology, Ontario, v.
52, issue 7, e155-e160, July 2010.
FARIAS, N.; BUCHALLA, C.M. A Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial da Saúde:
Conceitos, Usos e Perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia, São
Paulo, v. 8, n. 2, p. 187-93, 2005.
GIANNI, M. A. Paralisia cerebral. In: TEIXEIRA, E. [et al]. Terapia ocupacional
na reabilitação física. São Paulo: Editora Roca, 2003. p. 89-100
HIRATUKA, Erika ; MATSUKURA, Thelma S. ; PFEIFER, Luzia I. . Adaptação
transcultural para o Brasil do Sistema de Classificação da Função Motora
Grossa (GMFCS). Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, v. 14, n.6,
p.
537-544,
nov/dez
2010.
Disponível
em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141335552010000600013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 19 jan. 2013.
KANASHIRO, M. S.; ARAÚJO, B. A.; FAVA, F. G. G. Fisioterapia Aquática
Funcional em Pacientes com Paralisia Cerebral. In: SILVA, J. B.; BRANCO, F.
R. Fisioterapia aquática funcional. São Paulo: Editora Artes Médicas, 2011.
p. 29-50.
KILLINGSWORTH, A.P.; PEDRETTI, L. W. Avaliação Funcional Motora. In:
PEDRETTI, L. W; EARLY, M. B. Terapia Ocupacional: capacidades práticas
para as disfunções físicas. São Paulo: Editora Roca, 2005. p.299-304.
MACIEL, S. C. Paralisia Cerebral. In: SILVA, J. B.; BRANCO, F. R.
Fisioterapia aquática funcional. São Paulo: Editora Artes Médicas, 2011. p.
23-27.
MANCINI, M. C. [et al]. Comparação do Desempenho de Atividades Funcionais
em Crianças com Desenvolvimento Normal e Crianças com Paralisia Cerebral.
31
Arquivos de Neuropsiquiatria, Belo Horizonte, v. 60, n. 2B, p. 446 – 452,
2002.
MANCINI, M. C. [et a]. Gravidade da Paralisia Cerebral e desempenho
funcional. Rev. bras. fisioter., Belo Horizonte, v. 08, n. 3, p. 253- 260, 2004.
NARUMIA, L. C.; OZU, M. H. U.; GALVÃO, M. C. S. In: MOURA, E.W. [et al]
Fisioterapia: aspectos clínicos e práticos da reabilitação. 2. ed. São Paulo:
Editora Artes Médicas, 2010. p. 27- 62.
OLIVEIRA, A. I. A.; GOLIN, M. O.; CUNHA, M. C. B. Aplicabilidade do Sistema
de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS) na Paralisia Cerebral:
revisão da literatura. Arquivos Brasileiros de Ciências da Saúde, Santo
André, v. 35, n. 3, p. 220-224, set/dez 2010. Disponível em: <
http://www.nepas.org.br/abcs/v35n3/35abcs220.pdf>. Acesso em: 04 set. 2012.
PALISANO, R. [et al]. Gross Motor Function Classification System – Expanded
and Revised. Dev Med Child Neurol, Canada; v.39, p.214-223, 2007.
Disponível em <www.canchild.ca>. Acesso em: 09 out 2012.
PRADO, T.F.A. Apostila de terapia ocupacional para o Curso Básico
Neuroevolutivo Bobath. São Paulo: [s.n.], 2007.
ZERBINATO, L.; MAKITA, L. M.; ZERLOTI, P. Paralisia Cerebral. In:
TEIXEIRA, E. [et al]. Terapia ocupacional na reabilitação física. São Paulo:
Editora Roca, 2003. p. 503-534.
Download

UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium