Não deixe a
peteca
cair
Paulo Renato Souza é
economista e doutor de
destaque internacional, com
grande parte de sua carreira
dedicada à educação, atuando
como professor, empresário e
estrategista político.
Ocupou numerosos cargos
públicos e executivos no Brasil
e no Exterior e foi Ministro da
Educação na gestão de Fernando
Henrique Cardoso.
No “Com a Palavra...” desta
edição da Revista Atividades &
Experiências, o professor Paulo
Renato Souza faz um balanço do
sistema de educação no país nos
últimos anos.
48 ATIVIDADES & EXPERIÊNCIAS
E
m 1995, quando assumimos
o Ministério da Educação,
o Brasil tinha apenas 87%
das crianças de 7 a 14
anos freqüentando a escola. Uma
de cada quatro crianças das famílias
pertencentes aos 20% mais pobres
da sociedade brasileira estava fora
da escola. O problema não era apenas de cobertura do sistema, mas
também a sua qualidade. Mais de
30% dos alunos repetiam o ano no
Ensino Fundamental e mais de 5% se
evadiam da escola. Ao chegarem ao
terceiro ano do Ensino Médio, apenas 40% do total de alunos tinham
a idade correta, ou seja, 17 anos. Em
função disso, o fluxo escolar apresentava deficiências enormes. Menos da
metade dos alunos que começavam
a primeira série do Ensino Fundamental concluíam as oito séries
desse nível de ensino. Aqueles que
o concluíam tomavam em média
mais de 12 anos para fazê-lo.
Nos últimos oito anos, nosso
país foi capaz de implementar um
amplo e bem-sucedido processo de
reforma educacional que envolveu
aspectos pedagógicos, financeiros e
administrativos. Apesar do pouco
tempo transcorrido e do caráter de
longa maturidade dos investimentos em educação, os indicadores já
hoje disponíveis revelam avanços
muito significativos. Os aspectos
quantitativos dessas melhorias são
bem conhecidos: entre outras coisas, universalizamos o acesso ao
Ensino Fundamental e dobramos
a abrangência do Ensino Médio.
Igualmente importantes foram os
progressos na qualidade da educação
em todos os níveis de ensino.
No Ensino Básico, a qualificação
de nossos professores é hoje muito
melhor do que era há oito anos, os
livros que nossos alunos recebem
são de melhor qualidade e chegam
pontualmente às suas mãos, nossas
escolas estão mais bem equipadas e
têm melhores bibliotecas. A evolução
do desempenho dos alunos nos testes de avaliação do Saeb é melhor do
que se poderia esperar, dado o grande
processo de incorporação de novos
segmentos da população ao sistema
de ensino que ocorreu no período.
Esse é o filme. Ele é muito bom,
pois revela uma evolução quantitativa e qualitativa que vem causando
viva impressão nos especialistas
em educação do mundo todo. Entretanto, a fotografia, ou seja, os
instantâneos tomados do sistema
em qualquer ponto do tempo ainda
são ruins. Um exemplo: temos ainda
40% de professores sem curso superior atuando no Ensino Básico.
É verdade, mas em 1995 eles representavam 53% do total e o número
de professores cresceu muito desde
então.
Todos os fatores que influenciam
positivamente no desempenho dos
alunos, como a formação de professores, os programas de aceleração
da aprendizagem, a leitura como
instrumento de trabalho em sala
de aula, a participação dos pais na
escola, entre outros, foram objeto
de políticas específicas e tiveram
evolução extremamente favorável
em nosso país nos últimos anos.
Fazer a educação brasileira avançar é essencialmente um exercício de
liderança por parte do Ministério da
Educação. Os resultados positivos
“Em 1995, mais de
30% dos alunos
repetiam o ano no
Ensino Fundamental,
e mais de 5% se
evadiam da escola.
E, ao chegarem
ao Ensino Médio,
apenas 40% do total
de alunos tinham
a idade correta, ou
seja, 17 anos. Em
função disso, o fluxo
escolar apresentava
deficiências enormes”
dependem da contribuição da
equipe dirigente e executiva do
próprio ministério, das dezenas de
autoridades de nível estadual, dos
milhares de dirigentes municipais e,
sobretudo, dos milhões de professores. Para todos eles, é preciso apontar o caminho e mostrar que, com
esforço e dedicação, os resultados
positivos podem ser alcançados. Por
isso, na minha gestão no Ministério
procurei sempre mostrar, juntos, a
fotografia e o filme – e este com suas
legendas.
ATIVIDADES & EXPERIÊNCIAS
49
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Paulo Renato Souza é economista e doutor de destaque