PAINEL DO LEITOR POR PAULO PARA A RETOMADA DO PRESTÍGIO DOS ADVOGADOS PÚBLICOS RENATO GONZÁLEZ NARDELLI É muito comum ouvir experientes advogados públicos conversando com saudosismo a respeito de uma época, não tão distante, em que a categoria (caso da Procuradoria da Fazenda Nacional) percebia uma remuneração digna, superior, inclusive, aos subsídios dos colegas juízes e promotores. É evidente que juízes e promotores, figuras tão essenciais à administração da justiça, fazem jus ao que percebem e deveriam ter seus subsídios inclusive incrementados, em virtude da especificidade do trabalho que realizam e do tempo dedicado a árduos estudos visando o disputado concurso em que foram aprovados, o que lhes possibilitou o ingresso nas respectivas carreiras. Disto não discordamos, evidentemente. Todavia, a disparidade que se inaugurou no final dos anos 1990, em detrimento das carreiras da AGU, desafia os limites da compreensão, seja jurídica ou política, e por isso merece os devidos reparos. Se pinçarmos, por exemplo, a Procura doria da Fazenda Nacional, órgão de extrema importância para a saúde financeira do Estado, responsável pela recente economia de 288 bilhões de reais aos cofres públicos, fruto de vitória obtida no STF (extinção do crédito-prêmio do IPI) – carreira cujos vencimentos obedeciam, até os idos de 1993, a relação exposta no primeiro parágrafo deste artigo –, houve injustificada desvalorização remuneratória, tanto que, nos primeiros anos do século XXI, um PFN recebia pouco mais de quatro mil reais, ao passo que as demais carreiras jurídicas seguiam aprovando aumentos substanciais em seus subsídios, distanciando-se muito da cada vez mais esquecida advocacia pública. Posteriormente, em 2007, houve uma melhoria na remuneração das carreiras da AGU, que deixaram de receber honorários “Não há motivos para continuarmos permissivos, acostumados ao movimento exógeno de advogados públicos para outras carreiras, sobretudo membros da AGU. Basta utilizarmos os instrumentos que temos hoje para que, em médio prazo, seja restabelecido o status dos advogados públicos, dando-se à carreira a devida visibilidade.” advocatícios (caso da PFN), porém conseguiram, exercendo a devida pressão no Congresso Nacional, subsídios que hoje giram em torno de 15.000 reais mensais. Todavia, para se recuperar a relação de igualdade que antes existia – e que tem sede na Constituição Federal, que não privilegia a Magistratura ou o Ministério Público em detrimento das carreiras da AGU – mas que, sem qualquer razão lógica, foi sofrendo injustificável desequilíbrio ao longo dos últimos anos, é necessário muito trabalho político. Especificamente a esse respeito, há que se render elogios ao trabalho de convencimento feito pelas associações de juízes e promotores dentro do Congresso Nacional. Não há outro caminho democrático e civilizado de se conseguir a valorização de uma carreira que não uma respeitosa pressão, por parte das associações que a representam, junto às lideranças partidárias e a cada parlamentar, seja na Câmara dos Deputados, seja no Senado Federal. Digno de registro, também, é o trabalho que vem sendo realizado pelas associações representativas da Polícia Federal. É comum caminhar pelos corredores da Câmara dos Deputados e deparar com integrantes de comissões e associações que representam a classe, usando bottons do movimento, em visitas aos gabinetes dos parlamentares, enfim, exercendo respeitosa pressão para que seus pleitos sejam notados e reconhecidos pelos representantes do povo. Tudo isso para chamar a atenção sobre um movimento notável que só agora começa a tomar corpo, composto pelo Fórum Nacional da Advocacia Pública, pela Frente Parlamentar dos Advogados (presidida pelo incansável Deputado Federal Marcelo Ortiz) e por inúmeros novos pro- curadores – inclusive comissões de recémaprovados em concursos, como o da PFN, atentos à necessidade de mudança – os quais têm se unido em torno da luta pela revalorização dessas carreiras tão essenciais ao Estado. Importante ressaltar, nesse particular, o trabalho que vem sendo realizado pelo Presidente do Conselho Federal da OAB, César Britto, e pelo Presidente do Fórum Nacional da Advocacia Pública, João Carlos Souto, cujas presenças nas audiências promovidas pela Frente Parlamentar dos Advogados buscam estreitar os laços entre a OAB, os Advogados Públicos e o Congresso Nacional, na defesa dos principais pleitos da advocacia pública. Em outras palavras, a revalorização das carreiras da advocacia pública só acontecerá de fato (!) se esse movimento for fortalecido agora. Não há razões para que não busquemos o imediato engajamento nesta causa; pelo contrário, o momento nunca foi tão propício! Participar das reuniões e audiências públicas, dando a sua colaboração e buscando apoio parlamentar, é fácil, prazeroso, civilizado e rende frutos não atingíveis por outros meios. Por fim, não há objetivo que não se possa atingir democraticamente. Não há motivos para continuarmos permissivos, acostumados ao movimento exógeno de advogados públicos para outras carreiras, sobretudo membros da AGU. Temos hoje todos os instrumentos para, em médio prazo, restabelecermos a importância, o status, o prestígio e a qualidade de vida dos advogados públicos; basta utilizá-los para dar à advocacia pública a devida visibilidade. O caminho é o que expusemos acima. Só isso... Apenas isso... Sem mistérios. NOTA DO AUTOR: Interessados em colaborar com o Movimento, encaminhar e-mail para o seguinte endereço: [email protected] PAULO RENATO GONZÁLEZ NARDELLI é Advogado e Membro da Comissão de Aprovados do último concurso para o cargo de Procurador da Fazenda Nacional. Pós-Graduado em Processo Civil, Processo Trabalhista e Direito Público. Ex-Consultor Jurídico da ANVISA. 14 REVISTA JURÍDICA CONSULEX - ANO XIII - Nº 308 - 15 DE NOVEMBRO/2009