UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA CARACTERIZAÇÃO DE CAPRINOS DA RAÇA MAROTA NO BRASIL MARCOS JACOB DE OLIVEIRA ALMEIDA Biólogo AREIA - PARAÍBA FEVEREIRO - 2007 i UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA CARACTERIZAÇÃO DE CAPRINOS DA RAÇA MAROTA NO BRASIL MARCOS JACOB DE OLIVEIRA ALMEIDA AREIA - PARAÍBA FEVEREIRO - 2007 ii MARCOS JACOB DE OLIVEIRA ALMEIDA CARACTERIZAÇÃO DE CAPRINOS DA RAÇA MAROTA NO BRASIL Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, da Universidade Federal da Paraíba, do qual participam a Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Zootecnia. Área de Concentração: Produção Animal Comitê de Orientação: Prof. Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho Profa. Dra. Maria Norma Ribeiro AREIA - PARAÍBA FEVEREIRO - 2007 i A447c Ficha catalográfica elaborada na seção de Processos Técnicos, da Biblioteca Setorial de Areia, CCA/UFPB. Bibliotecária: Elisabete Sirino da Silva CRB4/905 Almeida, Marcos Jacob de Oliveira. Caracterização de caprinos da raça Marota no Brasil/ Marcos Jacob de Oliveira Almeida – Areia – PB: CCA/UFPB, 2007. 150 f.: il. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2007. Bibliografia Orientadores: Edgard Cavalcanti Pimenta Filho Maria Norma Ribeiro 1. Marota. 2. Caprinos - Raças nativas. 3. Morfometria. 4. Caprinos. I. Pimenta Filho, Edgard Cavalcanti Pimenta, (Orientador) II. Ribeiro, Maria Norma, (Orientadora) III. Título. Palavras chave: Caprinocultura CDU: 635.39 (043.2) iii MARCOS JACOB DE OLIVEIRA ALMEIDA CARACTERIZAÇÃO DE CAPRINOS DA RAÇA MAROTA NO BRASIL Tese defendida e aprovada pela Comissão Examinadora em 26 de fevereiro de 2007 Comissão Examinadora: ________________________________________ Prof. Dr. Geraldo Magela Cortes Carvalho Embrapa Meio-Norte ________________________________________ Profa. Dra. Ana Célia Rodrigues Athayde Universidade Federal de Campina Grande Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária/CSTR __________________________________________ Prof. Dr. Wandrick Hauss de Sousa Empresa de Pesquisa Agropecuária da Paraíba - EMEPA ___________________________________________ Profa. Dra. Maria Norma Ribeiro Universidade Federal Rural de Pernambuco Departamento de Zootecnia/CCA ________________________________________ Prof. Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho Universidade Federal da Paraíba Departamento de Zootecnia/CCA Orientador-Presidente AREIA - PARAÍBA FEVEREIRO - 2007 iv BIOGRAFIA DO AUTOR Nascido em 1964, na cidade de Teresina-Piauí, filho de Maria Graça de Oliveira Almeida e José de Almeida Costa. Em 1978, aos 14 anos de idade iniciou sua vida profissional, trabalhando como auxiliar no Sindicato de Publicidade de Brasília. Aos 15 anos foi trabalhar como contínuo no Ministério da Agricultura, em Brasília. Aos 17 ingressou no Colégio Agrícola de Brasília. Terminando o curso de Técnico em Agropecuária em 1983, começou a trabalhar como gerente rural de uma fazenda de criação de bovinos no Distrito Federal. Em 1984, ingressou como Técnico em Agropecuária, nível médio, na então UEPAE, hoje Embrapa Meio-Norte. Esteve trabalhando inicialmente no Campo Experimental na cidade de Eliseu Martins-PI, onde permaneceu por sete anos, até 1991. Neste mesmo ano, foi designado para o Campo Experimental de São João do Piauí (Gado Pé-Duro), onde se casou em 1986. Em 1991, aos 27 anos, por insistência de sua esposa, preparou-se para o primeiro vestibular desde que terminou o ensino médio (7 anos depois). Tendo sido aprovado para o Curso de Ciências Biológicas, foi transferido para Teresina, onde iniciou o curso no mesmo ano, tendo concluído em 1996. No período 1997 a 1998 fez especialização em Nutrição de Ruminantes, na Universidade Federal de Lavras - MG. Entre 2000 e 2002 cursou mestrado em Ciência Animal, pela Universidade Federal do Piauí. Em 2003, já com uma forte ligação com os recursos genéticos locais, adquirida através do Dr. José Herculano de Carvalho, concorreu ao Doutorado em Zootecnia, na Universidade Federal da Paraíba, pelo fato dessa instituição ter como característica a pesquisa dos recursos genéticos locais. Em fevereiro de 2004 teve a oportunidade de passar um ano do doutorado na Espanha, onde fez o curso de especialização em Conservação de Recursos Genéticos de Animais Domésticos. Nesse mesmo período, publicou a primeira parte da Teoria das Ilhas Genéticas, chamando a atenção para os riscos das perdas de variabilidade mesmo nos programas de conservação e que o mais importante que conservar raça, seria conservar genes. Cabe lembrar que os dezoito postulados sobre essa teoria nunca foram publicados, apesar de terem sido escritos. Retornando da Espanha, iniciou os trabalhos com caprinos da raça Marota, dando origem a presente tese. v AOS LEITORES As raças nativas de gado de uma região constituem uma forma de expressão do povo que a habita. Permitir seu desaparecimento seria o mesmo que permitir a destruição dos marcos físicos de sua civilização. Uma raça nativa de gado é um monumento tão necessário a ser preservado como qualquer monumento histórico, que identifique, caracterize ou dê relevo a uma tradição querida. OCTÁVIO DOMINGUES, 1956 FORMATO DO MUNDO Quando Deus criou o mundo, não o fez de forma plana, para que não houvesse pessoas em cima e outras embaixo. Em sua sabedoria, fez o mundo redondo, para que o centro seja onde cada um estiver. E fez mais, para evitar que alguns ficassem no dia e outros na noite, fez o mundo girar, para nos lembrar que sempre que for noite logo chegará o dia. Por isso, vale lembrar que o mundo é redondo e que sempre gira. A vida dura tanto quanto nossos sonhos. Eles, nossos sonhos, podem se tornar eternos. vi À DEUS À minha família À minha esposa, Isabel Marlúcia Lopes Moreira de Almeida À minha filha Ilana Moreira de Almeida À minha filha Rebeca Moreira de Oliveira Almeida Ao meu filho José de Almeida Costa Neto Aos amigos leais Às raças nativas Dedico vii AGRADECIMENTOS À minha família, em especial à minha esposa, Isabel Marlúcia Lopes Moreira de Almeida, por todo seu amor, que tudo suportou, no silêncio, com sabedoria, para que eu tivesse tranqüilidade nos momentos decisivos do curso. Às minhas filhas, Ilana Moreira de Almeida e Rebeca Moreira de Oliveira Almeida, à meu filho, José de Almeida Costa Neto, por todo sacrifício, paciência e apoio, para que eu realizasse o tão sonhado doutorado. Ao meu pai José de Almeida Costa e minha mãe Maria Graça de Oliveira Almeida, por todo apoio que sempre deram, mesmo para um filho que esteve tanto tempo distante e ausente. Ao Dr. José Herculano de Carvalho, um cientista, um amigo de quem pela primeira vez ouvi falar sobre a importância das raças nativas e do semi-árido, ajudou a descobrir minha vocação e tive o prazer de conviver por tantos anos. Ao Dr. José Luiz Machado Pimentel, por quem tenho profunda admiração, incentivou intensamente meus estudos, acreditou e me fez acreditar em um futuro profissional melhor. Ao Dr. Luiz Pinto Medeiros, mais que amigo, um verdadeiro pai nas horas mais necessárias, de um caráter invejável, meu eterno agradecimento. Sempre tive todo seu apoio para continuar os estudos, mesmo quando tudo parecia perdido, sempre tinha uma palavra amiga e uma forma só dele de fazer-me esquecer os problemas. Ao Dr. Francisco de Assis Vasconcelos Arruda, tudo que disser ainda será pouco diante de tudo que representou em meu crescimento como profissional e pessoal. Ao Dr. Hoston Tomás Santos do Nascimento, uma pessoa sem igual, sem complicações, valeu a pena cada conversa, escutar o que tinha a dizer fez de mim uma pessoa mais aberta às coisas que passavam ao meu redor. Ao Dr. João Batista Lopes, por toda ajuda e apoio que recebi desde o mestrado, seus sábios conselhos em momentos de decisão. À Geraldo Magela Cortes de Carvalho, que estendeu a mão muito antes de me conhecer, de um coração gigantesco, uma pessoa sem limites para conquistar amigos. À Dra. Adriana Mello de Araújo, pela compreensão durante todo o trabalho. viii À Francisco Teles da Luz, um colega de trabalho que se tornou também amigo, por toda ajuda durante as coletas de dados, tornando menos árduo todo esse tempo com sua amizade e apoio até nos momentos críticos. Ao Antonio Teles da Luz, sem ele, levaria o dobro do tempo para realizar tudo que foi realizado, meu amigo e auxiliar durante todo o ano de trabalho. Ao Dr. Edgard Pimenta Filho, com sua dedicação exemplar para com seus orientados. Mesmo que tão poucas palavras não possam expressar seu valor como profissional e pessoa humana, o mais importante é saber que muito mais que um professor, considero um verdadeiro amigo. À Dra. Maria Norma Ribeiro, grande defensora dos recursos genéticos nacionais, de incrível energia, uma pessoa determinada, sempre disposta a enfrentar novos desafios. Fico feliz em fazer parte de um mundo onde existe uma pessoa tão especial. Ao Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, sempre direto, sem meias palavras, agradeço todas nossas conversas, a maioria felizes, outras preocupantes, mas um ponto em comum em todas, a forma amiga e sincera de como foram ditas as palavras. Foi de uma importância ímpar no meu futuro profissional. Ao Dr. Wandrick Hauss de Sousa, pesquisador da Emepa, por sua importante contribuição nesse trabalho, principalmente durante o processo de qualificação. Meu mais sincero respeito pela determinação com que defende seus princípios. Ao Dr. Severino Gonzaga Neto, uma pessoa de valor humano impressionante, por suas palavras de apoio e amizade em momentos difíceis. Um grande profissional. Ao Dr. Valdemício Ferreira de Sousa, chefe geral da Embrapa Meio-Norte, por proporcionar as condições necessárias ao bom andamento deste trabalho. Devolveu à nossa instituição o verdadeiro sentido de liderança. A Valdomiro Aurélio Barbosa de Souza, meu muito obrigado. Considero uma pessoa de caráter forte, defende com firmeza os interesses da instituição e sempre está aberto a boas argumentações. A todos os colegas e amigos da Embrapa Meio-Norte, tanto aos mais queridos quanto aos que porventura não tenham entendido a natureza do meu ser. Aos queridos amigos, por todo apoio e desprendimento. Aos que possam ter dificultado, também meu ix muito obrigado, me ensinaram a ter mais paciência e a tirar o melhor de cada momento da vida. À Dona Carmiranda de Lima Pereira, que além de um cafezinho sempre à nossa disposição, esteve presente com uma palavra amiga todos os dias. Desempenha suas funções com um amor contagiante. À família Oliveira, da qual faço parte e me orgulho sempre, é uma família amorosa e que tem em seu maior valor o caráter acolhedor que faz com que seja uma família grande e uma grande família. À Márcia Teresa de Oliveira Almeida, minha irmã, que serviu e serve de exemplo em minha caminhada no mundo dos estudos. Uma pessoa extremamente dedicada ao que faz e de uma força interior impressionante, tenho muita sorte por tê-la como irmã. À Maria Esperanza Bermejo, de caráter forte, merece destaque como alguém que não se pode esquecer jamais, fez-me sentir como da família, e assim o faz até hoje, pois foram construídos laços de amizade e ternura com todos em nossa casa. Ao Dr. Juan Vicente Bermejo, deixei por último porque talvez difícil encontrar um adjetivo que possa dizer o quanto representou para meu crescimento profissional e principalmente humano. Se tivesse que escolher uma palavra para resumir o Dr. Juanvi, diria que é um agregador, de idéias, de ideais e de seres humanos. Considero um grande amigo, meu e de minha família. Sempre pensei ser uma pessoa de poucos amigos, mas, sinceramente, ao lembrar de todos esses nomes, mesmo com alguns nomes entre as linhas ou esquecidos no tempo, agora sei que sou um homem de muitos e verdadeiros amigos. x SUMÁRIO Página Lista de tabelas............................................................................................................ xii Lista de figuras............................................................................................................ xv Resumo geral............................................................................................................... xvii Abstract....................................................................................................................... xix Considerações iniciais................................................................................................. 1 Capítulo 1 – Referencial Teórico................................................................................ 3 Caracterização de Caprinos da Raça Marota no Brasil............................................... 4 Referências Bibliográficas.......................................................................................... 28 Capítulo 2 – Estado de Conservação do Rebanho de Caprinos da Raça Marota no Estado do Piauí.......................................................................................................... Resumo........................................................................................................................ Abstract....................................................................................................................... Introdução................................................................................................................... Material e Métodos..................................................................................................... 41 42 43 44 47 Resultados e Discussão............................................................................................... 49 Conclusões ................................................................................................................. 57 Recomendações........................................................................................................... Referências Bibliográficas.......................................................................................... 58 59 xi Capítulo 3 – Caracterização Morfométrica e Ponderal da Raça Marota..................... 61 Resumo........................................................................................................................ 62 Abstract....................................................................................................................... 64 Introdução................................................................................................................... 65 Material e Métodos..................................................................................................... 68 Resultados e Discussão............................................................................................... 77 Conclusões ................................................................................................................. 97 Referências Bibliográficas.......................................................................................... 98 Capítulo 4 – Resistência Genética de Caprinos da Raça Marota a Parasitas Gastrintestinais.......................................................................................................... Resumo........................................................................................................................ Abstract....................................................................................................................... Introdução................................................................................................................... Material e Métodos..................................................................................................... 103 104 105 106 108 Resultados e Discussão............................................................................................... 111 Conclusões................................................................................................................. 122 Referências Bibliográficas.......................................................................................... Considerações Finais................................................................................................... 123 128 xii LISTA DE TABELAS Capítulo 2 Página 1. Tamanho efetivo e taxa de consangüinidade do rebanho Marota em função de diferentes números de machos e fêmeas no período de 1982 a 2008........... 49 2. Composição do rebanho de caprinos da raça Marota, no núcleo de conservação da Embrapa Meio-Norte em Castelo do Piauí-PI......................... 51 3. Intervalo de gerações do rebanho...................................................................... 53 Capítulo 3 Página 4. Estatística descritiva da característica peso corporal para a raça Marota, por sexo e idade....................................................................................................... 77 5. Médias para as medidas morfométricas obtidas em caprinos adultos da raça Marota (cm)....................................................................................................... 78 6. Morfometria da cabeça de caprinos da raça Marota, para macho e fêmeas...... 78 7. Freqüência, por sexo, do tipo de chifre em caprinos da raça Marota (%)......... 79 8. Freqüência, por sexo, de barbas e de brincos em caprinos da raça Marota (%) 79 9. Comparação entre os dados de freqüência (%), por sexo, de barbas e de brincos em caprinos da raça Marota e resultados encontrados na literatura...... 80 10. Valores de altura anterior (AA), comprimento corporal (CC) e peso corporal (PC), entre raças caprinas nativas do Brasil...................................................... 81 xiii 11. Coeficiente de correlações de Pearson entre as características altura anterior (AA), altura posterior (AP), comprimento do corpo (CC), ísquio (ISQ), perímetro torácico (PT) e peso corporal (PC), para fêmeas da raça Marota..... 82 12. Correlações de Pearson entre as características altura anterior (AA), altura posterior (AP), comprimento do corpo (CC), ísquio (ISQ), perímetro torácico (PT) e peso corporal (PC), para machos da raça Marota................................... 82 13. Comparação entre índices corporais obtidos com os disponíveis na literatura. 84 14. Índice de compacidade (IC) de caprinos da raça Marota até os 8 anos de idade (kg/cm).................................................................................................... 85 15. Pesos de caprinos da raça Marota, do nascimento até 12 meses de idade........ 86 Capítulo 4 Página 16. Distribuição do número de animais e por classes resistência no rebanho de caprinos da raça Marota, em função da idade e sexo, naturalmente infectados por helmintos gastrintestinais........................................................................... 111 17. Distribuição do número de ovos por grama de fezes (OPG) por classe de resistência, no período seco e chuvoso............................................................ 112 18. Carga total de ovos (CTO) por classe de resistência e percentual sobre a carga total, nos períodos seco e chuvoso.......................................................... 114 19. Valores das medidas morfométrica por classe de resistência em caprinos da raça Marota com mais de 4 anos de idade........................................................ 115 20. Valores das medidas morfométrica por classe de resistência em caprinos da raça Marota de 2 a 3 anos de idade.................................................................. 116 xiv 21. Variação do peso corporal por classe de resistência de caprinos da raça Marota adultos e jovens, no período seco do ano..................................... 116 22. Variação do peso corporal por classe de resistência de caprinos da raça Marota adultos e jovens, no período chuvoso do ano...................................... 117 23. Número de ovos por grama de fezes (OPG) por classe de resistência, por sexo e por período do ano................................................................................. 118 24. Mortalidade de caprinos adultos, segundo a classe de resistência................... 119 25. Mortalidade das crias em relação com a classe de resistência da progenitora, em caprinos da raça Marota.............................................................................. 120 26. Projeção das perdas por classe de resistência sobre o efetivo de caprinos no Brasil................................................................................................................. 121 xv LISTA DE FIGURAS Capítulo 1 Página 1. Reprodutor da raça Marota............................................................................... 7 Capítulo 2 2. Tendência histórica do rebanho Marota............................................................ 50 3. Distribuição dos animais por categoria de sexo e idade................................... 51 4. Número efetivo da população estudada............................................................ 52 5. Coeficiente de endogamia ou taxa de consangüinidade................................... 53 6. Pirâmide de idades de machos e fêmeas Marotas nos anos de 2005 a 2007.... 54 7. Participação de cada reprodutor Marota sobre 347 registros de nascimentos... 55 8. Índice de Conservação Genética do rebanho estudado...................................... 56 9. Distribuição dos Índices de Conservação Genética do rebanho Marota........... 56 Capítulo 3 10. Representação geográfica e localização da cidade de Castelo do Piauí............ 68 11. Locais apropriados para tomadas das medidas AA, AP, CC, PT e ISQ........... 69 12. Locais apropriados para tomadas das medidas do Comprimento da orelha (A), Largura da orelha (B), Base do chifre (C), Largura da cara (D), Altura 70 da cara (E) e Comprimento da cara (F) e Arco do chifre (G)........................... 13. Conformação dos chifres: Caracol (CC), Lira frontal (LF), Arco em espiral (AE), Paralelo (D), Arco em espiral (AE) e Arco em “V” (AV)..................... 14. Relação entre perímetro torácico e peso, de acordo com a idade e sexo, no rebanho estudado.............................................................................................. 71 83 xvi 15. Curva de compacidade (kg/cm) de caprinos machos e fêmeas da raça Marota até 8 anos de idade............................................................................................ 86 16. Curva de crescimento do nascimento aos 12 meses de idade, de caprinos da raça Marota....................................................................................................... 88 17. Curva de desenvolvimento ponderal de caprinos machos e fêmeas, da raça Marota do nascimento até 6 anos de idade....................................................... 89 18. Curvas de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo de Von Bertalanffy........................................................................................................ 90 19. Curvas de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo de Brody.... 91 20. Curva de crescimento de caprinos da raça Modelo Gama Incompleto............ 92 21. Curva de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo Gompertz..... 93 22. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas de dois anos de idade, da raça Marota, durante o período seco (julho-novembro) e período 95 chuvoso (dezembro-junho)............................................................................... 23. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas de três anos de idade, da raça Marota, durante o períodos seco (julho-novembro) e período 95 chuvoso (dezembro-junho)............................................................................... 24. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas adultos, com mais de quatro anos de idade, da raça Marota, durante o períodos seco (julhonovembro) e período chuvoso (dezembro-junho)............................................. 96 Capítulo 4 Página 25. Relação entre precipitação e o número de ovos por grama de fezes (OPG) no rebanho de caprinos da raça Marota................................................................. 113 26. Relação entre precipitação e o número de ovos por grama de fezes (OPG) nas classes resistentes (RR) e susceptíveis (SS), em caprinos da raça Marota.. 114 xvii RESUMO GERAL Os objetivos do presente trabalho foram: determinar o estado de conservação de caprinos da raça Marota, a caracterização morfométricas, ponderal e a identificação dos níveis de resistência genética da raça a parasitas gastrintestinais. O trabalho foi desenvolvido no campo experimental da Embrapa Meio-Norte, com uma área de 300 ha, no município de Castelo do Piauí-PI, localizado na latitude 05º19'20" Sul, longitude 41º33'09" Oeste, área de 2.246,85 km2, altitude 239, inserido na região do semi-árido, situada a 190 km de Teresina - PI. Para o estudo do estado de conservação foram utilizadas informações contidas nos documentos de controle zootécnico do rebanho no período entre 1982 e 2007. Os resultaram demonstraram que o tamanho efetivo do rebanho Marota corresponde a 129 animais, bem acima do mínimo recomendado pela FAO (50). A taxa de endogamia foi considerada baixa (0,39%), o que coloca o rebanho em condição segura quanto à consangüinidade. O intervalo médio de gerações foi de 5,02 anos, sendo maior nas fêmeas (5,94) que nos machos (4,11). A pirâmide de idades demonstrou uma tendência de redução na taxa de natalidade em detrimento de um aumento na expectativa de vida. De acordo com os dados obtidos, o rebanho Marota encontra-se fora do perigo de extinção, mas com necessidade de se promover um plano estratégico de gestão genética para o rebanho, principalmente quanto ao controle de cobertura. Na caracterização morfométrica e ponderal das Marotas os valores morfométricos encontrados apresentaram diferenças significativas (p<0,05) entre machos e fêmeas para altura anterior (60,07 e 57,76), altura posterior (61,08 e 59,64), ísquio (18,50 e 17,13) e perímetro torácico (72,65 e 70,53), significando a existência de dimorfismo sexual, confirmado também pelas diferenças de peso corporal (31,53 e 28,89) e por diferenças encontradas quanto à distância entre as bases do chifre (1,1 e 2,4) e distancia entre os arcos dos chifres (42,4 e 12,9). Os valores para comprimento do corpo (CC), altura anterior (AA) e peso corporal, sugerem que pode ser considerada a menor entre as raças nativas do Brasil. Para tipo de chifre as maiores diferenças na freqüência entre machos e fêmeas foram no tipo caracol (1,0 e 5,3), arco espiral (99,0 e 5,3), lira frontal (0,0 e 7,0), paralelos (0,0 e 57,9) e arco em “V” (0,0 e 25,6). Quanto à presença de brincos, não houve diferença entre machos e fêmeas (34,5 e 35,0), os valores para essa característica parecem diferenciar bem a raça das demais. Houve diferença na presença de barba, onde a quase totalidade dos machos (94,5) xviii apresentaram essa estrutura, sendo 58,3% nas fêmeas. O tamanho de orelha, tanto machos (10,5 cm) quanto fêmeas (11,9 cm) apresentaram os menores valores em comparação com valores encontrados na literatura para raças africanas, européias e da América do sul. Houve alta correlação entre as medidas morfométricas de altura anterior (0,84), altura posterior (0,87), comprimento corporal (0,89), ísquio (0,83) e perímetro torácico (0,95), com o peso corporal. Os modelos de curva de crescimento Gompertz e von Bertalanffy foram os que melhor representaram o crescimento de cabritos Marota até 1 ano de idade. Para a identificação dos níveis de resistência genética da raça Marota a parasitas gastrintestinais foram utilizados 162 animais, sendo 108 fêmeas e 54 machos. As amostras foram coletadas no período de junho de 2005 a maio de 2006, a cada 30 dias em cada animal. Os animais foram classificados em susceptíveis (S) e resistentes (R), de acordo com o número de ovos por grama de fezes (OPG) e o período do ano (seco ou chuvoso). Os resultados indicaram que o rebanho constitui-se de 21,6 % de resistentes (RR), 48,8 % susceptíveis (SS), 22,2 % de resistentes-susceptíveis (RS) e 7,4 % de suceptíveisresistentes (SR). As maiores cargas parasitárias ocorreram no período chuvoso (2.200 OPG), sendo reduzidas para menos de 50% no período seco (1.006). Valores pluviométricos abaixo de 12 mm/mês foram favoráveis para manter os OPGs em níveis abaixo do risco do controle epidemiológico. Os animais da classe SS foram os responsáveis por mais de 70% da contaminação dos pastos. Não houve correlação entre medida morfométricas, peso corporal e nível de OPG. Em relação ao sexo, as fêmeas foram mais resistentes que os machos. A mortalidade dos adultos na classe SS foi maior (25,32%) que das RR (5,71%). As maiores taxas de mortalidade das crias foram das classes RS (66,67%), SR (42,86%), SS (41,38%) e RR (25,0%). A classe de maior eficiência reprodutiva foi a RR (57,14%), SR (50,0%), SS (36,95%) e RS (13,04%). Os resultados sugerem que a eficiência está relacionada à resistência genética da mãe, principalmente no efeito sobre a fertilidade e sobre sustento da cria até o desmame. De acordo com os resultados observados, a raça Marota apresentou características próprias que a diferencia das demais raças, o que reforça ainda mais a necessidade de conservação. Palavras-chave: Gestão genética, endogamia, tamanho efetivo, caracterização fenotípica, recursos genéticos, raças nativas, parasitas, stronguloídea, haemonchus. xix ABSTRACT The aims of this work were: determine conservation state of Marota breed goats, morphmetrical and ponderal characterization and identification levels of genetic resistance of breed to gastrointestinal parasites. The work was carried out at experimental field of Embrapa Meio-Norte, with an area of 300 ha, in the municipal district of Castelo of PiauíPI, placed at latitude 05º19'20" south, longitude 41º33'09" west, area of 2,246.85 km2, height 239, in the dry region, at 109 km of Teresina-PI. To conservation state were used information on documents of zoo-technical control of flock during 1982 and 2007. It resulted that effective size corresponds to 129 animals, high of recommended by FAO (50). Endogamy rate was low (0.39%), and puts in a safe condition to the inbreeding depression. Average was 5.02 years being best on females (5.94) than males (4.11). Pyramid showed a tendency of reduction of natality in detriment of life expectation. According to data, Marota found out of danger, but with needing to promote a strategical plan of genetic to flocks, mainly to reproduction control. In morph-metric featuring and controlling of Marota, values showed significant differences (p<0.05) between males and females to last height (60.07 and 57.76), next height (61.08 and 59.64), isquious (18.50 and 17.13) and thoracic perimeter (72.65 and 70.53), being as sexual dimorphism, also by differences of body height (31.53 and 28.89) and differences to distance horn base (1.1 and 2.4) and horn arc (42.4 and 12.9). Values to body length (BL), last height (LH) and body height, suggests that can be considered lower among native breeds of Brazil. To horn type, bigger differences among males and females were snail type (1.0 and 5.30), spiral arc (99.0 and 5.3), front lire (0.0 and 7.0), parallels (0.0 and 57.9) and arc in “V” (0.0 and 25.6), respectively. How much to the presence of earrings, did not have difference between males and females (34.5 and 35.0), these characteristics seem different of the other races. There was difference to beard, where almost all males 94.5% showed, being 58.3% on females. According to ears size, males (10.5 cm) and females (11.9cm) showed lower values comparing with found values on literature to African, European and South American breeds. There was high correlation to morph-metric measures of last height (0.84), next height (0.87), body length (0.89), isquious (0.83) and thoracic perimeter (0.95) with body weight. Gompertz and von Bertalanffy grouing curve models were best represented by goats until 1 year. To levels identification of genetic resistance of Marota breed to gastrointestinal parasites were used 162 animals, being 108 females and 54 males. Samples were collected during June xx 2005 to May 2006, each 30 days. Animals were classified in susceptible (S), and resistant (R), according to eggs number (EPG) and year period (dry or rainy). Results showed that the flock is constituted of 21.6% of resistant (RR), 48.8% of susceptible (SS), 22.2% of resistant-susceptible (RS) and 7.4% of susceptible-resistant (SR). Bigger parasite charge occurred during rainy period (2,200 EPG), being reduced to 50% in the dry period (1,006). Rainy values below of 12 mm/month had been favorable to keep the OPGs in levels below of the risk of the control epidemiologist. Animals of susceptible class (SS) were responsible to 70% of pasture contamination. There was no correlation between morphmetric measure, body height and EPG level. According to sex, females were more resistance than males. Adults mortality on susceptible class (SS) was bigger (25.32%) than resistance class (5.71%). The biggest taxes of mortality the kids were RS class (66.67%), SR class (42.86%), SS class (41.38%) and RR class (25.0%). The classroom of bigger reproductive efficiency was the RR (57.14%), SR. (50.0%), SS (36.95%) and RS (13.04%). Results suggest that efficiency is related to mother genetic resistance, mainly in the effect about fertility and sustainable way until milk blocking. According to results, Marota breed showed its own features that it is different from the others, and make reinforcement to needings`conservation. Keywords: genetic way, endogamy, effective size, phenotypic featuring, genetic resources, native breeds, parasites, strongiloídea, haemonchus contortus. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS No nordeste do Brasil, a criação de caprinos tem sido a principal fonte de renda e de proteína para os pequenos produtores. Dentre todas as atividades que envolvem a produção familiar, a caprinocultura é a que apresenta menor risco de perdas causadas pela oscilação climática da região. Nesse contexto, destaca-se, aqui, a importância da contribuição genética dos caprinos nativos. Apesar da importância econômica, social, cultural e como patrimônio genético nacional, poucos são os estudiosos que se dedicam ao tema da conservação de recursos genéticos caprinos. Assim como ocorreu nos países desenvolvidos, identificar os valores diferenciais e desenvolver raças nacionais através da seleção intra-rebanho é um dos maiores desafios para o Brasil, neste século. Qualquer trabalho que se proponha a realizar com raças nativas deve ter bem claro que o principal objetivo deve ser a preservação da própria raça. Caracterizar uma raça não é somente retratar sua aparência física - vai muito além disso: requer a árdua tarefa de promovê-la, mostrar sua capacidade de adaptação, suas potencialidades de vencer obstáculos e de tornar sustentável uma atividade econômica sob um determinado ambiente. As pesquisas com raças caprinas nativas no Brasil ainda são consideradas iniciais, conhecendo-se relativamente pouco sobre seus potenciais. Nesse sentido, ainda estão sendo realizados os censos, a definição do estado de risco dos grupos/raças, as estimativas dos índices produtivos, o custo de produção de acordo com o sistema de criação, entre outros conhecimentos. A maioria dos trabalhos tem se dedicado às caracterizações fenotípica e genética. No entanto, muitos grupos genéticos necessitam ser caracterizados, a exemplo da raça Marota. Até então, apenas um trabalho de caracterização genética e comparação desta raça com as demais foi realizado, o de Menezes et al. (2006). 2 O único e último rebanho de caprinos da raça Marota existente no mundo está localizado em uma fazenda experimental da Embrapa Meio-Norte, na cidade Castelo do Piauí-PI. O rebanho foi formado no ano de 1982 através da iniciativa dos conservacionistas Luís Pinto Medeiros e José Herculano de Carvalho, pesquisadores da Embrapa MeioNorte, que por mais de vinte anos concentraram seus esforços no sentido de manter a integridade do rebanho. Em 2004, não contando com projetos de pesquisa e sem fontes de recursos financeiros, o rebanho enfrentou seu maior risco de extinção. Naquele mesmo ano, por iniciativa conjunta da Universidade Federal da Paraíba e Embrapa Meio-Norte, foram iniciados os trabalhos com a caracterização da raça como tema de uma tese de doutorado. A decisão de dedicar uma tese ao estudo da raça Marota foi tomada pela extrema urgência de levar à luz da ciência informações que possam contribuir para evitar a extinção desse importante patrimônio genético brasileiro. Além de caracterizar a raça através dos métodos convencionais de morfometria e ponderal, teve também como objetivo a busca por valores diferenciais através do estudo da resistência genética a endoparasitas. O estado de conservação em que se encontra a raça também foi tema desta tese, uma vez que possibilitará propor um plano de gestão genética do rebanho para os próximos anos. 3 Capítulo 1 Referencial teórico Caracterização de Caprinos da Raça Marota no Brasil 4 Caracterização de Caprinos da raça Marota no Brasil RESUMO - Para desenvolver um programa de conservação se faz necessário o estudo demográfico da raça, bem como a caracterização fenotípica por meio das medidas morfométricas, ponderais e da avaliação da capacidade produtiva. Pesquisas apontam como principal causa de mortalidade de caprinos a elevada taxa de parasitas gastrintestinais. A determinação da variabilidade genética da resistência ou da susceptibilidade aos nematódeos gastrintestinais dentro de uma raça, é mais promissora para o delineamento de trabalhos futuros de seleção e melhoramento genético do que a simples identificação de uma raça resistente. Objetivou-se com esta revisão abordar informações para a caracterização da raça Marota, através do conhecimento dos parâmetros fenotípicos da morfometria, desenvolvimento ponderal e produtivo, assim como da avaliação de uma raça quanto à resistência genética a parasitas gastrintestinais. Também foi abordada a metodologia para caracterizar o estado de conservação de uma raça e a gestão genética de um rebanho de conservação. Palavras-Chave: Raça Marota, Gestão Genética, Resistência Genética, Morfometria 5 INTRODUÇÃO A caprinocultura é uma das atividades agropecuárias mais apropriadas para as regiões semi-áridas, especialmente quando são utilizadas raças bem adaptadas às condições de clima e vegetação, típicas dessas regiões. Apesar do reconhecido valor sócio-econômico dessa atividade para a região Nordeste do Brasil, há muito que fazer para que a caprinocultura seja viabilizada, quantitativa e qualitativamente. Isso é necessário para que ela se transforme, efetivamente, em um instrumento de melhoria das condições de vida do meio rural A atividade ainda mantém, de modo geral, um perfil de baixo nível tecnológico, com ofertas irregulares de carne, tendo pouca participação no mercado consumidor urbano. Segundo dados da FAO (2001), 66,8 % da população caprina localizam-se na Ásia, 25,2 % na África e 5,0 % na América do Sul. O Brasil possui um efetivo de 8,7 milhões de cabeças, sendo que 90 % desses animais encontram-se na região Nordeste (IBGE, 2003). Os primeiros caprinos que chegaram ao Brasil foram trazidos pelos portugueses na época da colonização e, segundo Domingues (1955), provavelmente as raças ou tipos étnicos introduzidos foram a Serrana e a Charnequeira. Criados à margem de práticas zootécnicas, sem seleção direcionada para produção, os caprinos de origem ibérica, se multiplicaram desordenadamente, passaram por um processo de seleção natural secular e deram origem aos vários tipos étnicos com caracteres raciais definidos. No passado, esses grupos constituíam quase a totalidade do rebanho caprino do Nordeste (DOMINGUES, 1968). Nos últimos anos, devido a pouca valorização das raças nativas, vem ocorrendo uma mudança rápida na composição racial da população caprina brasileira, conseqüência da expressiva introdução de raças exóticas, utilizadas intensivamente em cruzamentos (ARAÚJO, 1979; FIGUEIREDO, 1988). A população atual é constituída, na grande maioria, por animais sem padrões raciais definidos (SPRD), de grau de mestiçagem desconhecida, oriundos de cruzamentos desordenados e sem objetivos definidos, dos tipos nativos entre si e entre as várias raças introduzidas (FIGUEIREDO, 1988). Devido ao uso indiscriminado de cruzamento com raças exóticas, o rebanho caprino do Nordeste, que outrora era bem representado pelos tipos nativos com características raciais definidas, vem, progressivamente, sendo substituído por um rebanho de composição 6 genética desconhecida e por várias raças importadas, de qualidades pouco conhecidas para a realidade do Nordeste brasileiro, principalmente em condições de semi-árido. Apesar das inúmeras introduções de raças exóticas, visando a melhoria da produção de caprinos, os resultados têm sido pouco promissores, uma vez que o principal problema da caprinocultura no Brasil não está na capacidade produtiva das raças locais, mas na taxa de sobrevivência das crias, o que depende em maior parte do manejo e não somente da raça utilizada. Um outro fato importante na valorização das raças nativas é a crescente demanda por material genético com resistência à doenças, rusticidade, longevidade (dentre outras). Neste caso, a um programa sério de seleção e melhoramento levaria a patamares em seu valor econômico nunca antes alcançado. Tais aspectos tão importantes a cada dia têm mostrado a possibilidade de alcançar um grande êxito comercial tanto no Brasil como no exterior. Apesar de todo o potencial genético das raças nativas, seu estado de conservação é preocupante, o que tem gerado importantes estudos realizados na Universidade Federal de da Paraíba - UFPB e na Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, que resultou nesta tese de doutorado. Dentre os principais problemas a serem solucionados está a mortalidade das crias a elevada taxa de parasitas gastrintestinais em ovinos (REGE et al., 2002; NGUTI et al., 2003) e em caprinos (AUMONT et al., 1997; ALEXANDRE et al., 1999; GITHIGIA et al., 2001; MANDONNET et al., 2002; MANDONNET et al, 2003). Segundo Vieira e Ximenes (2001), apesar da maioria dos estudos estarem focados na variabilidade genética da resistência entre raças, também tem sido relatada em diversos trabalhos a existência de variabilidade genética dentro das raças. Nesse sentido, consideram que estudos de identificação de resistência intra-raça sejam mais importantes para o melhoramento genético do que a simples identificação de uma raça resistente. A raça Marota, objeto de pesquisa desta tese, também denominada de Curaçá, é descendente dos tipos raciais trazidos pelos colonizadores, mas não se tem dados concretos sobre sua origem. Trata-se, portanto, de uma raça formada sob forte pressão de seleção do ambiente semi-árido, sendo encontrada, principalmente, nos sertões da Bahia, Pernambuco e Piauí. A raça apresenta entre suas principais características a pelagem branca ou baia, presença de barba e brinco, orelhas de tamanho reduzido e com pontas arredondadas e 7 pequenas e presença de diminutas pintas pretas. A cabeça é ligeiramente grande, vigorosa; os chifres são bem desenvolvidos, divergentes desde a base e voltados levemente para trás e para fora, com as pontas reviradas quase sempre para frente, são grossos na base e afinando para as pontas. O pescoço é delgado, propiciando ao animal um aspecto elegante; a linha de dorso é reta; a garupa é levemente inclinada; o corpo é ligeiramente alongado; os membros são alongados, fortes e bem aprumados, terminando em cascos claros; a pele e as mucosas são claras, com pigmentação na cauda e face interna das orelhas; o úbere é bem conformado, embora pouco desenvolvido, com tetas claras. As principais aptidões da raça são a produção de carne, leite e pele (DOMINGUES, 1955; MEDEIROS et al., 1994). Figura 1. Reprodutor da raça Marota O objetivo dessa revisão visa subsidiar através de informações a caracterização da raça Marota, através dos parâmetros fenotípicos, morfométricos, resistência genética a parasitas gastrintestinais e da gestão genética do rebanho de conservação da raça. 8 II. GESTÃO GENÉTICA DE PEQUENAS POPULAÇÕES Quando se trata de pequenas populações, o risco de extinção se torna mais freqüente. Nestes casos, a estabilidade quanto às freqüências gênicas e genotípicas, que é admitida para uma população infinitamente grande, não se mantém, e as freqüências estão sujeitas a flutuações aleatórias. Essa oscilação genética é a mudança ao acaso da freqüência gênica e ocorrerá se não sofrer oposição de nenhum dos processos sistemáticos (FALCONER, 1981). A mudança na freqüência gênica resultante da amostragem ocorre ao acaso, e seu efeito é uma dispersão das freqüências gênicas entre as linhas, ou seja, as linhas tornam-se diferentes em freqüências gênicas. No caso de pequenas populações fechadas, a consangüinidade, necessariamente, aumenta a cada geração uma vez que os reprodutores possuem ascendentes comuns, em uma população fechada tende necessariamente a aumentar (GAMA, 2002). Essa taxa de consangüinidade, se apresentar valores superiores a 12,0% pode ser considerada perigosa, colocando a população em sérios riscos em relação à conservação de recursos genéticos (CARDELINO e ROVIRA, 1987). II. 1. Definição do status de uma raça Segundo critérios da FAO (1998), as raças são classificadas em sete categorias: extinta, crítica, em risco, crítica-mantida, em risco-mantida, sem risco e em estado desconhecido, conforme os critérios a seguir: • Extinta: Quando não é mais possível recriar a população. Essa situação ocorre quando não há machos (ou sêmen), nem fêmeas reprodutoras (ou ovócitos) e nem embriões. • Crítica: Quando o número de fêmeas reprodutoras não supera 100, e/ou o número de machos reprodutores é igual ou inferior a 5; O tamanho da população é próximo ou ligeiramente superior 100 e esteja decrescendo e a porcentagem de fêmeas puras seja inferior a 80 por cento. 9 • Em Risco - O número total de fêmeas reprodutoras estiver entre 100 e 1000 e o número de machos for inferior ou igual a 20 e superior a 5; - Tamanho total da população estiver próximo de 100 e crescente e a porcentagem de fêmeas puras seja inferior a 80 por cento; - Tamanho total da população estiver ligeiramente superior a 1000 e decrescente e a porcentagem de fêmeas puras seja inferior a 80 por cento; As raças podem ser classificadas como Crítica-Mantida ou em Risco-Mantida. Essas duas categorias identificam populações críticas ou em risco para as quais existem programas de conservação ativos ou essas populações são mantidas por campanhas comerciais ou institutos de pesquisa (Embrapa, Universidades ou Empresas de Pesquisa Estaduais). • Sem Risco O número de fêmeas e machos em reprodução for superior a 1000 e 20, respectivamente; Se o tamanho da população é próximo de 1000, a porcentagem de fêmeas puras for próximo de 100 por cento e se a população total for crescente. Essa classificação está baseada no tamanho total da população, no número de fêmeas reprodutoras e na tendência de evolução do número de indivíduos (crescente, decrescente ou estável). Se uma raça está no limite de duas categorias, devem ser considerados outros fatores, como o número de machos usados em inseminação artificial, o número de doses de sêmen ou o número de embriões acumulados e o número de rebanhos. Outro fator a ser considerado é a existência de um programa de conservação para a raça e se esse programa está dentro das diretrizes mínimas para manter a variabilidade da raça. II. 2. Manutenção da variabilidade genética em pequenas populações Outro parâmetro que está associado ao grau de ameaça é o coeficiente de consangüinidade ou endogamia que, junto com o número efetivo, podem indicar o grau de conservação de uma raça (FALCONER, 1987). 10 Esse processo é causado principalmente pela o aumento da probabilidade de acasalamento entre indivíduos com elevado grau de parentesco. É o parâmetro mais usado para monitorar a variabilidade genética (alteração na freqüência genética), pois está relacionado diretamente aos parâmetros e probabilidade de fixação e à perda dos alelos. A endogamia afeta diversos caracteres do interesse econômico e a variação genética aditiva, isto é, a resposta à seleção. A endogamia é inevitável em pequenas populações e a taxa em que ocorre (ΔF) é usada como uma medida do risco da população. Esta taxa é descrita, frequentemente, como o tamanho efetivo da população definido por Ne=1/(2ΔF). Para calcular o tamanho efetivo da população, usa-se equação Ne=4MF/(M+F) (WRIGHT, 1931), onde M e F são número de reprodutores machos e fêmeas. Este índice dá mais peso ao número de machos do que ao número de fêmeas. O Ne afeta a variância na amostragem da freqüência alélica, seu aumento reduz a perda casual da variação genética (GILL e HARLAND, 1992). Apesar do objetivo principal de um programa de conservação ser a manutenção da variabilidade, para atingir tal objetivo deve-se lançar mão da seleção, ainda que os critérios seletivos sejam diferentes dos empregados nos programas de melhoramento genético, já que nesse caso o objetivo é manter a variabilidade da população. Os reprodutores mais valorizados serão aqueles que representem melhor os padrões genéticos da raça e aqueles que aportem menor repercussão sobre a endogamia média da próxima geração. Esses critérios são aplicados tanto para eleger animais para serem usados em monta natural, como para coleta de sêmen, óvulo e embriões para a formação do banco de germoplasma da raça. Esse processo deve seguir os seguintes passos: 1 – Calcular o coeficiente de consangüinidade de todos os indivíduos que compõem a pequena população, quando essa seja genealógica. 2 – Calcular o índice de conservação genética (efeito fundador) de todos os animais que compõem a população; 3 – Selecionar os reprodutores em função do máximo índice de conservação e o mínimo coeficiente de endogamia. 11 II. 3. Metodologia para conservação de pequenas populações Os métodos de conservação são: a) conservação in situ - manutenção de animais vivos em seu habitat natural; b) conservação ex situ - manutenção de animais vivos fora do seu habitat, criopreservação de sêmen, óvulo, embrião e DNA. A Convenção de Diversidade Biológica (WRI, IUCN & UNEP, 1992), FAO (1998) e a comunidade européia (HART, 1997) priorizam a conservação in situ. Segundo Bodó (1990), é muito difícil comparar a efetividade dos métodos supra citados devido à diversidade de condições, cujos objetivos são delineados por Gandini e Oldenbrock (1998). Bodó (1990) descreveu as principais regras de seleção em programas de conservação: -Evitar o impacto de machos de excepcional qualidade, a fim de manter a estrutura genética não mutável na população. Além disso, os machos devem ser mudados freqüentemente e a relação macho:fêmea deve ser maior do que a normalmente usada. No sistema de criação de caprinos, normalmente usa-se o mesmo número de machos e fêmeas. -Manter a maior variabilidade genética possível, sempre que o tamanho da população assim o permitir. O impacto da preferência do criador pode afetar toda a população. Como exemplo, no caso específico da raça Marota, há pelo menos dois tipos de chifre, em arco e paralelo, o que pode provocar um direcionamento por parte dos produtores para esse caráter; - No caso de se ter um número fixo de animais em reprodução, quando possível, cada fêmea poderia ser substituída por sua filha e cada macho por um filho; - Não é aconselhável selecionar sempre os produtos das melhores fêmeas para futuros reprodutores e sim mudar continuamente; - Quando uma população é grande o suficiente (acima de status vulnerável), pode ser usada a seleção para divergência. Ex.: numa subpopulação selecionam-se animais grandes e na outra, animais pequenos; -É importante manter a variabilidade genética; -Manter animais que apresentem algumas características qualitativas. Ex.: animais de determinada pelagem; 12 -Não usar de maneira exclusiva uma característica qualitativa (Mendeliana); -Valor biológico (condição) é um dos aspectos mais importantes dos animais, pois é a expressão da adaptação a determinadas condições e da resistência contra agentes nocivos com os quais convivem; -Longevidade dos animais é uma característica útil e valiosa. Portanto, para se conduzir a conservação e seleção da raça Marota, é de extrema importância conhecer o valor biológico da raça, o que pode ser feito através de registros de desempenho, tais como taxa de crescimento, produção de leite, avaliação da condição corporal, prolificidade, resistência às doenças e às condições de estresse ambientais (calor, trabalho, seca, cheia). II. 4. Situação atual da conservação das raças caprinas nativas no Brasil Não se conhece ao certo o atual tamanho efetivo das populações de caprinos de raças brasileiras. Porém, sua ocorrência, historicamente, se dá em toda a região Nordeste, não obstante existirem hoje, zonas onde não há mais populações desses animais em estado de pureza. Os cruzamentos absorventes com raças exóticas deram lugar a outras raças que, por serem potencialmente mais produtivas e melhoradas geneticamente, contribuíram para a redução substancial desses grupos nativos. Dessa forma, existem atualmente no semiárido nordestino apenas alguns rebanhos de raças consideradas autenticamente nativas, fruto da iniciativa de alguns criadores e pesquisadores da região. Tais iniciativas, apesar de importantes, pouco têm contribuído para potencializar a utilização das raças nativas dentro de uma perspectiva de modernização dos sistemas de produção. Essa circunstância deverá concorrer para o estrangulamento da interação dos recursos naturais com o genótipo das raças nativas (SILVA, 2001; RIBEIRO et al., 2004c). Além da sua importância como recurso biológico dotado de grande variabilidade genética e do seu valor histórico, os caprinos de raças nativas desempenham um papel importante para a região semi-árida do Nordeste do Brasil. Eles têm sido os responsáveis pela fixação do homem ao campo, por serem uma fonte de proteína animal de alto valor biológico disponível para as populações de baixa renda. No entanto, a degradação do ambiente natural, notadamente a Caatinga, e a utilização desordenada em cruzamentos com raças exóticas têm levado os caprinos nativos a um processo de erosão genética. Diante 13 dessa problemática, tem-se tentado reunir esforços e adotar medidas de proteção, evitando que estes animais sejam extintos (RIBEIRO, 1999). Apesar de apresentar porte reduzido em relação às raças exóticas, os animais da raça Marota apresentam características raciais bem definidas e, pela sua própria origem, são bem adaptados a ambientes de baixa oferta de alimentos, além de serem dotados de grande rusticidade. No processo de formação desta raça houve uma natural evolução do valor adaptativo em detrimento da diminuição do porte e da produção de leite, sendo tal fato interpretado, de maneira errônea, como desvantagem para a criação destes animais (DOMINGUES, 1968). Por falta de um conhecimento mais profundo sobre sua importância zootécnica e até mesmo histórico-cultural, essa raça está desde muitos anos seriamente ameaçada de extinção (DOMINGUES, 1955; ARAÚJO, 1979). Considerando-se os riscos de extinção a que estão submetidas as diversas raças de animais domésticos criadas no Nordeste, em 1982, os pesquisadores da Embrapa MeioNorte, Luis Pinto Medeiros e José Herculano de Carvalho empreenderam esforços no sentido de preservar esse importante recurso genético nacional, criando um núcleo de conservação no Campo Experimental da Embrapa, cidade de Castelo do Piauí. Hoje o rebanho conta com cerca de 180 animais. II. 5. Gestão genética ao longo das gerações. Para a manutenção da diversidade intra-racial deve-se utilizar machos e fêmeas não aparentados, através de cruzamento dirigido, pois a ausência desse controle pode afetar o sucesso do programa de conservação, uma vez que a progênie oriunda de acasalamento entre aparentados possui maior número de genes idênticos por descendência (maior homozigose) e como conseqüência, os animais possuem menor benefício oriundo da heterozigosidade, que é proporcionada pela presença de diferentes alelos e ação de diferentes combinações gênicas. Quanto menor o parentesco nos acasalamentos, menor o nível de endogamia na progênie, e diminuição da consangüinidade do rebanho. Como forma de minimizar as perdas de variabilidade, cada reprodutor e cada matriz deverá ser substituída por seu filho e sua filha, respectivamente, isso garante que o número de descendentes seja ao menos igual ao número de fundadores (BODÓ, 1990). 14 Uma outra forma de realizar a gestão genética foi proposta por Alderson (1990), através do Índice de conservação Genética (ICG), uma forma alternativa para avaliar indiretamente a taxa de consangüinidade. O ICG leva em conta a contribuição dos animais fundadores ao longo das gerações. Em outras palavras, O ICG é um índice que estima o número efetivo médio de fundadores presentes no pedigree de um determinado animal. Para uso do ICG, serão considerados fundadores, os animais existentes a partir de ponto em que se tem conhecimento da genealogia do rebanho ou população em estudo. O ICG dependerá da amplitude da genealogia disponível, contudo, se não houver informações suficientes sobre os progenitores até chegar aos fundadores, o IGC ocorre idêntico para todos os descendentes e se iguala a metade do tamanho efetivo da população. Desta maneira, assim como foi demonstrado por Wray e Thompson (1990), se não se conhece a maioria dos progenitores, o resultado será definido por ΔF = 1 / (4IGC). Esta equivalência de conceitos entre IGC e ΔF nos motiva a considerar somente o ΔF como o único parâmetro para descrever as populações de tamanho pequeno, sobretudo as não genealógicas. III. CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA E PONDERAL Entre as prioridades de um programa de conservação de uma raça, além do estudo demográfico dos rebanhos (localização, tamanho efetivo) e estado de conservação genética, é preciso também caracterizar os animais por meio das medidas morfométricas, dos caracteres raciais e da capacidade produtiva. Nesta revisão, serão descritos os trabalhos já realizados com aspectos fenotípicos e de crescimento de caprinos de raças nativas. Dentre as caracterizações fenotípicas, destaca-se a morfometria. O fenótipo de um animal é a expressão de sua capacidade genética sob uma condição ambiental. Portanto, a caracterização fenotípica é um valioso instrumento de apoio à conservação de uma espécie ou mesmo uma raça, como forma de estabelecer parâmetros de referência próprios da população estudada, fundamental para o planejamento de programas de conservação e para uso posterior em programas de melhoramento (GIANNONI, 1987; RIBEIRO et al., 2004a). A caracterização fenotípica constitui uma das principais etapas de um programa de conservação, pois além de ser útil para o uso em programas de seleção, serve como estratégia para a preservação de espécies 15 que estão em constante perigo de extinção (BODÓ, 1990; MACMANUS et al., 2001; SILVA, 2001). A Morfometria, como instrumento de caracterização fenotípica, permite caracterizar ou classificar indivíduos e raças de uma população. Tais parâmetros podem ser definidos como uma particularidade individual em destaque, que, em maior ou menor grau de variação, determina o tipo de raça ou tipo étnico a qual pertence (TEIXEIRA et al., 2000; RODERO et al., 2003). Assim, uma vez definidos os valores referentes a cada parâmetro, utilizam-se ferramentas estatísticas para comparar a variabilidade existente entre indivíduos ou entre populações e averiguar a possibilidade de pertencer ou não a uma raça ou grupo genético (RODERO et al., 1992; FERNÁNDEZ et al., 1998; ZEPEDA, 2000). Diversos estudos utilizaram aspectos qualitativos e/ou quantitativos de caracteres morfológicos e étnicos para analisar as relações existentes entre populações de caprinos. Almeida (1994) estudou o efeito do tipo de nascimento (partos simples ou duplos) e do sexo dos animais sobre as medidas corporais, de animais cruzados Gurguéia e Parda Alemã. Na índia, Darokhan e Tomar (1983) analisaram os efeitos do peso ao nascer sobre as medidas corporais em animais da raça Changthang e observaram que houve correlação entre o peso ao nascer e o perímetro torácico. No Brasil, os principais estudos foram realizados por Maria Norma Ribeiro, que desde 1998, vem realizando importantes estudos relacionados à caracterização fenotípica das raças nativas, morfometria, distribuição geográfica e caracterização genética das principais raças de caprinos nativos do Brasil. Calegari (1999) correlacionou as medidas corporais de perímetro torácico, altura de cernelha e comprimento abdominal com o peso vivo de caprinos da raça Saanen. Em todas as análises, o perímetro torácico foi a medida que teve a mais alta correlação com o peso vivo. Ribeiro et al. (2004b), em um estudo de correlações entre peso corporal e características fenotípicas das raças Moxotó, Canindé, Graúna e Azul, afirmaram que o perímetro torácico e comprimento do corpo são as variáveis que melhor expressam a correlação com o peso corporal. Podem-se mencionar importantes trabalhos realizados por Jordana e Pérez (1999), Zepeda (2000), Lima (2003) que também estudaram características fenotípicas visíveis e consideram o seu modo de herança. 16 IV. RESISTÊNCIA GENÉTICA A PARASITAS GASTRINTESTINAIS Os helmintos constituem um dos maiores entraves ao desenvolvimento da criação dos ruminantes nas zonas tropicais (FABIYI, 1987). As infecções por estes parasitas são muito freqüentes e induzem a perdas econômicas importantes por morbidade e mortalidade às quais se acrescenta o custo da luta química. Atualmente, os métodos de controle de verminoses se baseiam essencialmente na diminuição da contaminação do pasto pelo emprego de antihelmínticos e pelo uso rotacional das pastagens. Em zonas tropicais, esses métodos são de efeito limitado devido ao custo dos antihelmínticos, às dificuldades de abastecimento e ao aumento constante das resistências desses parasitas aos principais princípios ativos dos antiparasitários, em especial nos pequenos ruminantes. Uma das alternativas complementares aos métodos atuais de controle da verminose dos pequenos ruminantes é a identificação de raças, ou de indivíduos dentro de uma raça, que sejam geneticamente resistentes aos nematódeos gastrintestinais. Animais com esta característica toleram melhor os efeitos das infecções helmínticas e promovem menos contaminação da pastagem. Com isso, reduz-se o número de vermifugações anuais, retardando o aparecimento de resistência anti-helmíntica. Em decorrência da redução do número de vermifugações anuais, a presença de resíduos químicos nos produtos de origem animal também tende a reduzir. Este aspecto é de fundamental importância em virtude da pressão, cada vez maior por parte dos consumidores, por alimentos isentos ou com o mínimo de resíduos químicos. O uso reduzido desses produtos, por sua vez, implicará, também, na redução da contaminação do próprio ambiente, motivo de preocupação mundial (HALLEY et al., 1993). Nos últimos anos surgiram diversas evidências que sugerem a existência de uma base genética para resistência a parasitas gastrintestinais. Os estudos sugerem que existem diferenças de resposta às infecções, que podem ser de caráter inter ou intra-racial (MANDONNET, 1985; BARGER e SUTHERST, 1991). IV. 1. Fatores que afetam a resistência genética a Helmintos A resistência ou susceptibilidade a helmintos varia de acordo com a idade, estado fisiológico e raça. Nos primeiros meses de vida, os animais são considerados susceptíveis, 17 mas na idade adulta tornam-se mais resistentes. Pesquisas realizadas, principalmente com ovinos, demonstram diferenças marcantes entre as raças conhecidas, sendo mais resistentes a parasitas gastrintestinais aquelas mais adaptadas ao meio (BAKER et al., 1992 e 1994a; BAKER, 1995; SCHMIDT et al, 2000; MANDONNET et al., 2001; AMARANTE et al., 2004). Os helmintos não se distribuem de maneira uniforme em um rebanho, mesmo que os animais sejam de mesma raça e idade. Os parasitas apresentam distribuição binomial negativa, ou seja, a maioria dos hospedeiros alberga poucos parasitas, enquanto uns poucos animais pesadamente infectados albergam a maior proporção da população total de parasitas (BARGER et al., 1985; AMARANTE et al., 1998). Isto decorre do fato da resposta imunológica não ser uniforme nos animais de um rebanho. As estimativas dos valores de herdabilidade para resistência aos helmintos são muito consistentes, variando de 0,3 a 0,5 (BARGER, 1989). Estes valores são similares, em magnitude, ao da herdabilidade de caracteres de produção, tais como ganho de peso e produção de lã, características para as quais a seleção tem sido um sucesso (BARGER, 1989). Ovinos Merinos selecionados para resistência contra H. contortus também demonstraram resistência contra as infecções por T. colubriformis indicando que a seleção de animais para a resistência a determinada espécie de nematódeo resulta na melhora da resistência a outras espécies de nematódeos (SRÉTER et al., 1994). Além disso, até o momento não existem evidências de que os parasitas sejam capazes de se adaptar aos hospedeiros selecionados para resistência. Experimento conduzido com H. contortus, mantido em duas linhagens de ovinos Merino, uma resistente e outra susceptível à hemoncose, demonstrou que o parasita não apresentou qualquer alteração de comportamento após 14 gerações, indicando que não aconteceu nenhuma adaptação do parasita à resistência do hospedeiro (WOOLASTON et al., 1992). A criação de animais resistentes possibilita que as elevações sazonais da carga parasitária sejam grandemente reduzidas; como conseqüência desse fato, ocorre uma redução ainda mais acentuada da contaminação das pastagens por larvas infectantes (BARGER, 1989; BISHOP e STEAR, 1997 e 1999; BISSET et al., 1997). Com isso, a utilização de animais geneticamente resistentes pode permitir a redução na freqüência dos tratamentos com anti-helmínticos, que além de economia para o ovinocultor, permite 18 reduzir a velocidade no surgimento de populações de nematódeos resistentes aos antihelmínticos. IV. 2. Critérios de resistência, resiliência e de tolerância Clunies-Ross (1932) foi o primeiro autor a referir a necessidade de fazer uma distinção entre a "resistência a uma infecção" e a "resistência aos efeitos da infecção". Existe um amplo debate na literatura científica sobre a maneira de definir estas noções, mas as definições, o mais geralmente possível admitidas, são as seguintes (ALBERS et al., 1987 e ILCA, 1991): • Resistência: aptidão a instaurar, iniciar e manter respostas que limitam a instalação dos parasitas ou que provoca a sua eliminação. • Resiliência: capacidade que tem um animal de se recuperar quando é submetido às adversidades, ou seja, aptidão a manter a produção apesar de infecções parasíticas. • Tolerância: definida como a aptidão a sobreviver apesar de infecções parasíticas. Por numerosas razões, a resistência aparece como o critério mais importante. Com efeito, o aumento das aptidões de tolerância ou resiliência não permite um controle das populações parasíticas e, por conseguinte, uma diminuição da contaminação dos pastos porque a excreção fecal de ovos não é diminuída. Em contrapartida a utilização de animais resistentes permite uma diminuição progressiva da contaminação dos pastos (WINDON, 1990). No entanto, os resultados não indicam que a adaptação dos parasitas aos hóspedes resistentes constitua um problema essencial (BARGER E SUTHERST, 1991; WINDON, 1991; WOOLASTON et al., 1992). IV. 3. Resistência genética A aplicação em estudos relevantes baseados em infecções naturais implica uma estimativa da importância econômica dos diversos parasitas das diferentes zonas agroclimáticas. Quando a diversidade faunística dos parasitas é importante na investigação, a infecção natural é o método mais adequado, em especial para considerar as diferenças entre 19 raças. Ao contrário do método de infecção natural, para o estudo de variabilidade intra-raça ou para a estimativa de herdabilidade e de correlação genética, as infecções experimentais frequentemente são mais bem controladas (WOOLASTON et al., 1991; WOOLASTON e EADY, 1995). Isso permite uma minimização dos efeitos do meio. As infecções experimentais são frequentemente mono específicas (Haemonchus contortus ou Trichostrongylus colubriformis), embora infecções mistas já sejam praticadas. A aplicação de infecções experimentais necessita assegurar-se da sua pertinência para a estimativa da resistência para infecções naturais. No entanto, vários resultados mostram uma correlação genética positiva e elevada entre os dois modos de infecções (GRAY et al., 1991; BOUIX et al., 1995; WOOLASTON e EADY, 1995). Piper e Barger (1988) enfatizam que as infecções experimentais permitem eliminar o componente de "comportamento alimentar ao pasto" na expressão genética de uma resistência. Esses autores sugerem que a seleção para a resistência baseada em infecções naturais seja, por conseguinte, preferível porque este procedimento permite limitar as hipóteses sobre os fundamentos biológicos da resistência e sua estreita relação com a dinâmica do parasita, ambiente e hospedeiro. Contudo, em certas situações, quando existe uma grande variabilidade entre os anos e entre as estações na intensidade e a natureza da infecção parasítica ao pasto, pode ser necessário associar infecções experimentais às infecções naturais nos protocolos de avaliação do nível de resistência dos animais. IV. 4. Correlações entre contagens de ovos de Nematódeos por grama de fezes (OPG) e produtividade O número de ovos por grama de fezes (OPG) tem sido um dos marcadores mais utilizados, uma vez que ela se mostra diretamente proporcional ao grau de infecção do parasita no hospedeiro. Diferentes esquemas de seleção baseados na contagem de ovos por grama de fezes são propostos (ALBERS et al., 1987; WOOLASTON et al., 1990; SRÉTER et al., 1994; DOUCH et al., 1996; SOTOMAIOR e SOCCOL, 1997; SCHMIDT et al., 2000). Na Escócia, onde predominam as infecções por O. circumcincta em ovinos, Bishop et al. (1996) verificaram que as correlações fenotípicas entre as contagens de OPG e o ganho de peso são geralmente negativas, porém próximas de zero em cordeiros da raça 20 Scottish Blackface. Entretanto, a correlação genética entre OPG e o ganho de peso em cordeiros, com mais de três meses de idade, é próxima de -1, indicando que a resistência a parasitas gastrintestinais pode ser um fator genético determinante da taxa de crescimento dos animais. Os benefícios do ponto de vista epidemiológico que resultam da seleção para a resistência às infecções parasitárias têm como conseqüência a melhora na saúde e o aumento da produtividade dos animais. Esses resultados positivos não são obtidos quando a seleção para produtividade é realizada isoladamente. Portanto, programas de melhoramento animal deveriam levar em consideração esses aspectos (BISHOP e STEAR, 1999). Na Nova Zelândia, Bisset et al. (1992) verificaram que os coeficientes de correlação fenotípica entre as contagens de OPG e as características produtivas, em ovinos Romney, foram negativos, porém muito baixos (-0,01 a -0,05). As correlações genéticas correspondentes também foram negativas e variaram de -0,05 a -0,36. Correlação genética negativa (-0,61) também foi observada por Boiux et al. (1998) entre as contagens de OPG e o ganho de peso diário de cordeiros dos 70 dias aos sete meses de idade. Da mesma forma, Eady et al. (1998) observaram correlação negativa (-0,2) entre peso e contagem de OPG em ovinos da raça Merino. Entretanto, a correlação foi positiva (0,21) entre as contagens de OPG e a produção de lã. IV. 5. Herdabilidade da resistência à parasitas gastrintestinais Nos pequenos ruminantes, a maior parte das estimativas da herdabilidade da resistência à parasitas internos (calculados com base no OPG ou no hematócrito) foi obtida em ovinos Merinos ou Romney na Austrália e na Nova Zelândia. De acordo com uma revisão de Baker et al. (1992), a herdabilidade média para uma medida simples de OPG é de 0,32 enquanto que a do hematócrito é de 0,35. A herdabilidade para uma média de várias determinações de OPG (2 ou 3) pode atingir 0,5-0,6. Estes dados variam pouco com o modo de infecção (natural ou experimental) ou com os tipos de parasitas (infecção mono ou pluriespécifica). Na África, os dados de herdabilidade da resistência aos parasitas internos nos ovinos e os caprinos são comparáveis aos determinados na Austrália e na Nova Zelândia (BAKER et al., 1992 e 1994a; BAKER, 1995; MANDONNET et al., 2001). Já as estimativas australianas foram baixas; variando entre 0,06 e 0,14 (ALBERS et al., 1987; BISSET et al., 1994). 21 IV. 6. Seleção de animais para resistência a Nematódeos gastrintestinais Para esta seleção, é necessária a escolha de marcadores fenotípicos de resistência à parasitose. Esses marcadores são características geneticamente transmissíveis, que visam estimar indiretamente a carga parasitária do hospedeiro (marcadores parasitológicos) ou acessar a resposta do hospedeiro ao desafio parasitário (marcadores hematológicos e imunológicos). Pode-se optar pelo uso de um ou mais marcadores (SRÉTER et al., 1994; DOUCH et al., 1996), formando um índice ou matriz de seleção (BUDDLE et al., 1992; SOTOMAIOR e SOCCOL, 1997; SCHMIDT, 2000). Segundo Douch et al. (1996), o melhorista deverá escolher as características que melhor se adaptem em seu programa de seleção para um determinado rebanho. A característica ideal para ser utilizada como marcador deve apresentar alta herdabilidade, alta repetibilidade e uma análise automatizada; as amostras (de sangue ou fezes) devem ser de fácil obtenção e passíveis de serem estocadas o maior tempo possível. IV. 7. Parâmetros para avaliar a resistência genética O parâmetro mais frequentemente medido para avaliar a resistência aos estrongilóides gastrintestinais é a excreção fecal de ovos (expresso em número de ovos por grama ou OPG). Existe um elevado número de resultados experimentais que mostram, por um lado, a importância do uso do OPG na determinação do estado de resistência ou de sensibilidade em diferentes raças ou genótipos de ruminantes e, por outro lado, que este parâmetro é repetível e herdável. O OPG é não somente um bom indicador do nível de resistência aos estrongilóides gastrintestinais, mas é também um critério que, em si, permite considerar o nível de contaminação potencial dos pastos que representa cada animal pela sua excreção de ovos. O hematócrito (estimativa do volume de glóbulos vermelhos) permite quantificar a anemia e representa também um bom indicador do nível de resistência aos parasitas internos, em especial para os parasitas hematófagos como Haemonchus contortus (MORALES et al., 2001; VANIMISETTI et al., 2004). A determinação da dimensão da população de vermes é a melhor medida da resistência aos parasitas internos, mas implica no abate do animal. Esta determinação foi utilizada para estudos inter-raças, mas dificilmente pode ser levada a efeito para uma 22 seleção intra-raça. Finalmente, existem agora suficientemente resultados que mostram uma forte correlação fenotípica entre o OPG e a dimensão da população de vermes (MCKENNA, 1981; MORRIS et al., 1995). Resiliência é mais difícil de considerar porque a determinação dos desempenhos zootécnicos afetados pela infecção parasítica necessita medidas de produção sobre animais parasitados e não parasitados (ALBERS et al., 1987). IV. 8. Principais estudos sobre resistência genética a endoparasitas Desde os anos 1930, numerosos resultados apareceram que referem diferenças entre raças ovinas à resistência aos parasitas internos, em especial Haemonchus contortus, Ostertagia spp. e Trichostrongylus spp. Gray et al. (1991) fizeram a síntese de 23 publicações sobre este ponto, revisão que foi estendida por Baker et al. (1992) a 34 outros estudos. Numerosas raças locais não melhoradas da África (Red Massai, Djallonké e Sabi), Caribe (St Croix e Barbados Blackbelly), EUA (Florida Nativo e Navajo) e Índia (Garole) parecem ser relativamente resistentes ou tolerantes aos estrongilóides gastrintestinais. Nos caprinos, os dados são menos numerosos, contudo são mais convincentes. As raças locais como "Small East African" e "West African Dwarf" parecem ser relativamente resistentes (BAKER et al., 1992; BAKER, 1995; BAKER, 2001). Praticamente, a totalidade dos estudos analisados nas revisões de Gray et al. (1991), Baker et al. (1992) e de Gray et al. (1995) são caracterizados por esquemas experimentais pouco rigorosos, em termos de números de animais por raça, e falta informação sobre os protocolos de amostragem dos animais. Além disso, um número restrito desses trabalhos tem em conta as variações entre pais nas raças. A amplitude das variações entre pais é equivalente, ou mesmo às vezes superiores às variações inter-raças (GRAY et al., 1987). É por isso que numerosas diferenças entre raças devem ser interpretadas com precaução porque podem refletir uma simples diferença entre pais. Apesar das preocupações sobre os esquemas experimentais, é notório que certas raças foram identificadas como resistentes em numerosos estudos independentes. É o caso para as raças ovinas Florida Native, St Croix e Red Massai e, por conseguinte, muito provável que estas resistências aos estrongilóides gastrintestinais sejam reais (BAIN, 1993). É também importante notar que os ovinos St Croix são originários do Oeste da África e provavelmente procedentes dos ovinos Djallonké (BRADFORD e FITZHUGH, 1983), os quais são conhecidos pela sua resistência aos parasitas internos (OSINOWO e 23 ABUBAKAR, 1988; SMITH, 1988). A maior parte das raças conhecidas para resistência são raças locais ou procedentes de populações "geneticamente não melhoradas". Isto é provavelmente a conseqüência desses animais estarem sujeitos a uma pressão natural de seleção sobre uma longa duração sem estar protegidos por tratamentos com antihelmínticos. Vanimisetti (2003) avaliou a resistência genética ao H. contortus em 198 ovelhas e em 386 cordeiros de 50 % Dorset, de 25 % Rambouillet e de 25 % Finnsheep. Após a infecção, o peso de corpo (PC), as contagens de ovos por grama de fezes (OPG) e o volume celular (VC) foram medidos semanalmente por sete semanas nos cordeiros e por onze semanas nas ovelhas. Os resultados demonstraram que ovelhas mais novas eram mais suscetíveis à infecção do que as ovelhas mais velhas. Não houve diferenças do sexo na contagem de OPG nos cordeiros. Os valores de herdabilidade foram estimados usando análise de REML que incluía efeitos de sexo (para cordeiros) e da categoria da idade (para ovelhas). A resistência foi antagônica aos valores estimados para o crescimento nas ovelhas mas não nos cordeiros. A fertilidade e a prolificidade nas ovelhas não foram relacionados à resistência. As diferenças das raças na resistência ao H. contortus também foram estudadas por Vanimisetti et al. (2004), que avaliaram cordeiros Dorset e Dorper, mestiços Katahdin, e cordeiros Barbados Blackbelly x St. Croix., dos 4 aos 6 meses de idade. Os Dorpers não foram mais resistentes do que Dorsets, mas respondiam melhor, com o volume celular mais elevado e o peso corporal similar aos Dorsets durante a infecção. Cordeiros Katahdin e Barbados Blackbelly x St. Croix foram mais resistentes, com baixos valores de OPG. IV. 9. Estudos realizados no Brasil Após o primeiro relato de resistência a antihelmínticos em ovinos no Brasil (DOS SANTOS e GONÇALVES, 1967), não faltaram referências de nematóides resistentes a todos os fármacos comercialmente utilizados. Na região Sul, a resistência foi detectada no Paraná (CUNHA FILHO et al., 1999; THOMAZ-SOCCOL et al., 2004), Santa Catarina (RAMOS et al., 2004) e novamente no Rio Grande do Sul (ECHEVARRIA e TRINDADE, 1989; ECHEVARRIA et al., 1996). Na região Sudeste, foram observados relatos em São Paulo (FARIAS et al., 1997; VERÍSSIMO et al., 2002). No Nordeste, suspeitou-se de nematóides resistentes inicialmente em caprinos no Ceará (VIEIRA et al., 1989). Estudos 24 posteriores indicaram resistência em Pernambuco, Bahia e Alagoas (CHARLES et al., 1989; BARRETO e SILVA, 1999; BARRETO et al., 2002; BISPO et al., 2002). No Ceará, existem outros relatos de resistência em caprinos e ovinos (VIEIRA e CAVALCANTE, 1999; MELO et al., 1998; BEVILAQUA e MELO, 1999; MELO, 2001). Ainda no Ceará, foi observada a presença de H. contortus resistente ao vermífugo em ovinos provenientes do Paraná e Rio Grande do Sul (VIEIRA et al., 1992). Esses deslocamentos de raças entre regiões facilitou a disseminação da resistência dos parasitas aos antihelmínticos para todo o país. Apesar dos inúmeros estudos alertando para o aumento da resistência a antihelmínticos, a primeira investigação sobre resistência genética dos hospedeiros no Brasil só ocorreu 19 anos após, no trabalho conduzido por Costa et al. (1986), em ovinos deslanados das raças Santa Inês, Morada Nova e Somalis Brasileira, pertencentes ao rebanho experimental da Embrapa Caprinos, em Sobral, Ceará. Cordeiros dessas raças foram acompanhados na época seca e chuvosa, através da contagens de eritrócitos, leucócitos totais e eosinófilos, antes e 14 dias após terem sido medicados com antihelmíntico. Na época chuvosa, quando a contaminação ambiental por larvas infectantes é alta, a raça Santa Inês foi a que apresentou os maiores valores de eritrócitos e eosinófilos antes da medicação anti-helmíntica, enquanto que, a raça Somalis Brasileira, na mesma estação do ano, tinha os menores valores de eritrócitos. Após a vermifugação, a raça Santa Inês apresentou redução nas porcentagens de eosinófilos. Como nas infecções helmínticas ocorre um quadro de eosinofilia, a redução dessas células na raça Santa Inês sugere uma melhor resposta ao parasitismo. A variabilidade genética ao parasitismo por nematódeos gastrintestinais, em ovinos lanados, também vem sendo investigada por pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul em Bagé-RS, em parceria com o Instituto de Biologia e Centro de Biotecnologia, ambos na Universidade Federal de Pelotas-UFPEL e Universidade Federal do Rio Grande do SulUFRGS. O primeiro estudo, nesse sentido, foi realizado por Borba et al. (1997), que avaliaram ovinos das raças Corriedale e Crioula, naturalmente infectados. A raça Crioula apresentou uma melhor tolerância ao parasitismo, apresentando OPG significativamente inferior à raça Corriedale, já a partir da 3ª semana de coleta. Com relação aos níveis de hematócrito, foram observadas diferenças a partir da 11ª semana de observação. 25 Bricarello et al. (1999a), utilizando ovinos da raça Crioula e Corriedale na Embrapa Pecuária Sul, deram continuidade ao estudo iniciado por Borba et al. (1997), porém, incluíram ganho de peso e necrópsias de oito cordeiros de cada raça na 9ª semana de acompanhamento. A raça Crioula apresentou menores contagens de OPG, menor número de parasitos e maiores valores de volume globular que os cordeiros da raça Corriedale (P<0,05). Os ovinos da raça Corriedale apresentam maiores valores médios de peso corporal que os ovinos da raça Crioula, entretanto, esta apresentou um ganho de peso final significativamente superior (P<0,05) ao da raça Corriedale. Em cordeiros destas duas raças do mesmo rebanho, Bricarello et al. (1999b) confirmaram as observações anteriores em animais experimentalmente infectados com Haemonchus contortus, exceto no que tange ao ganho de peso, que não mostrou diferenças entre as duas raças (P>0,05), embora a Corriedale tenha apresentado peso final superior (P<0,05) à raça Crioula. Nunes et al. (1999) realizaram um trabalho com a raça Crioula do rebanho da Embrapa Pecuária Sul, com o objetivo de estudar a característica resistência dentro deste genótipo. Foram avaliados 118 cordeiros nascidos na primavera de 1997. Após o desmame, os animais foram vermifugados e expostos à infecção natural por larva de H. contortus. Os animais foram monitorados através de OPGs (GORDON, 1939), cultura de larvas e da coleta de sangue para obtenção de soro. Os animais foram classificados em resistentes; isto é, com OPG no máximo 20,0 % inferior à média do grupo, e susceptível, com OPG no mínimo 20,0 % acima da média. Foi extraído o DNA de cada indivíduo para o processo de busca de polimorfismo entre os dois grupos. Os animas resistentes e susceptíveis foram selecionados e acasalados entre si, na busca de uma população F1 heterozigótica, para estudo da característica. Segundo os autores, os resultados indicam que a seleção para resistência a nematódeos gastrintestinais em cordeiro do tipo Crioulo lanados não afeta negativamente as características de ganho de peso. Chiminazzo et al. (1998a, 1998b) desenvolveram um trabalho com o objetivo de avaliar a correlação do polimorfismo da hemoglobina com a resistência à verminose e o desenvolvimento produtivo na raça Corriedale, mantidos em condições extensivas. Foram acompanhadas 239 ovelhas, sendo 24 com HbA, 103 com HbAB e 112 com HbB. A contagem de OPG mostrou que ovinos com hemoglobina tipo HbB apresentaram maior (P<0,05) porcentagem de animais positivos para o OPG ao longo do experimento, quando 26 comparados com os animais dos tipos HbA e HbAB, sugerindo que os animais HbB eram mais suscetíveis à verminose. Com relação ao desempenho produtivo, não houve diferença significativa para a porcentagem de prenhês e o número de crias assinaladas, embora os animais com HbA tenham apresentado os maiores valores. Os animais com HbA e HbAB apresentaram a maior produção de lã. A busca de marcadores de resistência à verminose em ovinos também vem sendo conduzida no Estado do Paraná por professores da Universidade Federal do Paraná. O primeiro trabalho neste sentido foi realizado por Sotomaior e Soccol (1997). Estes pesquisadores acompanharam 64 ovelhas e 77 cordeiros por um período de quatro meses, através de contagens de OPG, eosinófilos, determinação de hematócrito, concentração e tipo de hemoglobina. As ovelhas foram avaliadas desde o parto até o final da lactação e os cordeiros a partir de um mês após o desmame. Baseado nos OPGs, 20,0% das ovelhas foram consideradas resistentes e 18,0 % susceptíveis. Entre os dois grupos, houve diferença significativa quanto aos valores de hematócrito, hemoglobina e ao número de eosinófilos, sempre com correlação negativa. Quanto aos cordeiros, 19,5 % foram considerados resistentes e 18,0 % susceptíveis. Também houve diferença significativa entre os grupos de cordeiros resistentes e susceptíveis, quanto ao hematócrito e concentração de hemoglobina. Os demais parâmetros não apresentam diferenças significativas. Schmidt et al. (1999a, 1999b) acompanharam 22 ovelhas e 26 cordeiros, com coletas de sangue e fezes, desde o desmame até um ano de idade. As ovelhas foram classificadas em dois grupos, o primeiro, de acordo com a média aritmética do OPG das coletas realizadas, como resistentes, com menos de 1000 OPG, o segundo, como susceptíveis, acima de 1000 OPG. Já os cordeiros foram classificados em três grupos: animais com média aritmética acima de 3000 OPG, susceptível: de 2000 a 3000, intermediários, e abaixo de 2000 resistentes. Registraram-se, entre as ovelhas, 82,0 % resistentes e 18,0 % susceptíveis e entre os cordeiros, 42,3 % resistentes, 23,1 % intermediários e 34,6 % susceptíveis. Em caprinos, os estudos conduzidos no Brasil, até o momento, também evidenciam a existência de variação genética quanto à susceptibilidade ao parasitismo por nematódeos gastrintestinais, mostrando uma relação muito próxima entre valores de hematócrito e eritrócito com os níveis de parasitismo. Costa e Pant (1983) realizaram um estudo 27 abordando este aspecto, utilizando cabritos de três meses de idade pertencentes às raças nativas Canindé, Marota e Moxotó e as raças exóticas Anglonubiana e Bhuj. Foram realizadas contagens de eritrócitos e contagens total e diferencial de leucócitos, 14 dias antes ou 17 dias após a medicação com anti-helmínticos. O estudo foi realizado nas épocas seca e chuvosa. Na época chuvosa, quando o nível de contaminação nas pastagens por larvas infectantes de nematódeos gastrintestinais é alto, os maiores valores de eritrócitos foram observados nos cabritos das raças Anglonubiana e Moxotó, quando comparados com os animais de raças Canindé, Marota e Bhuj, antes da vermifugação. Todos os animais foram mantidos na mesma pastagem durante todo o período experimental e, portanto, expostos ao mesmo nível de infecção natural por H. contortus. Após a vermifugação, os valores de eritrócitos aumentaram significativamente na raça Bhuj. A contagem de eosinófilos, antes do tratamento anti-helmíntico, foi mais baixa também na raça Bhuj. Os autores concluíram que esses achados indicam que a raça Anglonubiana foi a mais resistente a infecção, enquanto que, a raça Bhuj pareceu ser a mais susceptível. Cabe lembrar o uso de pequenas amostras no de estudos de resistência genética entre raças pode levar a resultados pouco representativos para comparação entre grupos e que deve então ser usados apenas para comparações entre os indivíduos estudados. Costa et al. (2000) acompanharam a variabilidade na resposta a infecção por nematódeos gastrintestinais, entre e dentro de um mesmo genótipo, em fêmeas jovens da raça Canindé, Anglonubiana e Bhuj, expostas a infecção natural, através de contagem de ovos nas fezes, determinação do hematócrito e hemoglobina. Todos os parâmetros avaliados variaram significativamente dentro de cada uma das raças. Quanto à variabilidade entre as raças, a Anglonubiana apresentou melhor resposta a infecção por nematódeos gastrintestinais que as demais. A pequena amostragem pode ter interferido nos resultados. 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERS, G.A.A.; GRAY, G..D.; PIPER, L.R.; BARKER, J.S.F.; LE JAMBRE, L.F.; BARGER. I.A. 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Facultad de Veterinaria, Córdoba-España. 41 Capítulo 2 Estado de Conservação do Rebanho de Caprinos da Raça Marota no Estado do Piauí 42 Estado de Conservação do Rebanho de Caprinos da Raça Marota no Estado do Piauí RESUMO - O objetivo desse trabalho foi descrever o estado de conservação da população de caprinos da raça Marota e propor uma estratégia de gestão da população de forma a garantir uma menor perda possível de variabilidade genética. Os animais em idade reprodutiva (acima de 2 anos) eram 91 fêmeas e 50 machos. O tamanho efetivo corresponde a 129 animais, bem acima do mínimo recomendado pela FAO (50). A taxa de endogamia foi considerada baixa (0,39%), o que coloca o rebanho em condição segura quanto à consangüinidade. O intervalo médio de gerações foi de 5,02 anos, sendo maior nas fêmeas (5,94) que nos machos (4,11). A pirâmide de idades demonstrou uma tendência de redução na taxa de natalidade em detrimento de um aumento na expectativa de vida. De acordo com os dados obtidos, o rebanho Marota, pertencente à Embrapa Meio-Norte, encontra-se fora do perigo de extinção, mas com necessidade de se promover um plano estratégico de gestão genética para o rebanho, principalmente quanto ao controle de cobertura. Um plano de difusão desse genótipo é urgente, tomando-se como base genética esse núcleo de forma a promover a raça e garantir o seu uso sustentado. Palavras-chave: Gestão genética, raça Marota, endogamia, tamanho efetivo. 43 Estado de Conservação do Rebanho de Caprinos da Raça Marota no Estado do Piauí ABSTRACT The aims of this was to describing the conservation state of Marota breed goats and propose a strategy of population way to guarantee a lower loss of genetic variability. Animals on reproductive period (up to 2 years the old) were 91 females and 50 males. The work was carried out at experimental field of Embrapa Meio-Norte, with an area of 300 ha, in the municipal district of Castelo of Piauí-PI, placed at latitude 05º19'20" south, longitude 41º33'09" west, area of 2,246.85 km2, height 239, in the dry region, at 109 km of Teresina-PI. Effective size is 129 animals, a very rate recommended by FAO (50). Endogamy rate was low (0.39%), which puts in a safe condition to the inbreeding depression. The interval of generations average was 5.02 years being best on females (5.94) than males (4.11). Age pyramids showed a tendency of reduction of natality rate an increase of life expectation. According to data, Marota breed found out of danger, but with needing to promote a strategically plan of genetic to flocks, mainly to reproduction control. A diffusion plan of this genotype is urgency, based this core to promoting breed and guarantees its sustainable usage. Keywords: genetic way, native breeds, endogamy, effective size. 44 INTRODUÇÃO Segundo a FAO (1998), elementos importantes nos programas nacionais de conservação incluem o inventário, a caracterização e a documentação dos dados obtidos. Em termos de pesquisa, as prioridades devem ser dadas à caracterização e avaliação das populações nativas e a mensuração das diferenças entre e dentro das populações (FITZHUGH e STRAUSS, 1992). Barker (1994), no entanto, recomenda que representantes de raças comuns e economicamente importantes devam ser incluídas, em adição às raças raras, com o intuito de se obter uma visão geral da diversidade genética existente dentro de cada espécie. A manutenção da diversidade genética é um dos objetivos primários visando o manejo de populações pequenas, nas quais o declínio da variabilidade genética pode ser prelúdio da diminuição da capacidade de resposta à seleção natural e, consequentemente, de limitação de potencial evolucionário. As pequenas populações também estão mais sujeitas aos efeitos de deriva (oscilação) genética na freqüência de alelos (STOFER, 1996). Recentemente, diferentes trabalhos foram desenvolvidos visando o desenvolvimento de técnicas para análise de genealogia, com o propósito de monitorar e quantificar a diversidade genética (LACY, 1989; ALDERSON e BODÓ, 1992; BOICHARD et al., 1997). Caballero e Toro (2000), analisando: número efetivo de fundadores, genoma fundador equivalente e tamanho efetivo de população, relacionaram os conceitos e derivaram um novo parâmetro, intitulado número efetivo de não fundadores que descreve a relação entre o número efetivo de fundadores e o genoma fundador equivalente. Segundo Carvalho (2000), diversas tentativas para o estabelecimento de rebanhos de conservação não foram bem sucedidas. O rebanho pé-duro ou curraleiro implantado em Sobral, CE, na década de trinta, sob os esforços do engenheiro agrônomo Landulfo Alves, foi desativado. Não se tem notícia do pequeno núcleo de gado Malabar, que, de acordo com o relato de Domingues et al. (1955), existia na Fazenda Experimental de Riachos dos Cavalos, na Paraíba. No caso de animais criados em núcleos ou rebanhos de conservação, Bodó (1984) recomenda que se mantenha ou aperfeiçoe o valor biológico da raça, ou seja, sua fertilidade, vitalidade e longevidade. Ele considera que, nesses núcleos, o melhoramento de 45 atributos econômicos, como o peso vivo, é questionável. Em sua opinião, é necessário manter as características da raça. Outro importante parâmetro para o estudo de populações é o tamanho efetivo populacional (Ne). Wright (1931) definiu como sendo o número de indivíduos que acasalando ao acaso e com a mesma chance de deixarem filhos gerassem a mesma taxa de endogamia observada na população em estudo. De acordo com a FAO (1998), em pequenas populações, um número efetivo de 50 (machos e fêmeas de caprinos em reprodução) pode ser considerado bom. Este é um dos índices que pode indicar o grau de ameaça a que a raça está submetida e indica o grau de endogamia. Um conjunto de 25 animais machos e 25 fêmeas, não aparentados, escolhidos aleatoriamente e acasalados um a um, atenderia a esse critério. Manter essa proporção de um para um (1:1) é bem mais simples em animais de laboratório. Já em animais de grande porte, como bovinos, torna-se mais complicado, uma vez que os custos de manutenção são mais elevados e as áreas necessárias para atender a demanda nutricional do rebanho requer grandes investimentos. Outro parâmetro que está associado ao grau de ameaça é o coeficiente de consangüinidade ou taxa de endogamia, que junto com o número efetivo podem indicar o grau de conservação de uma raça (FALCONER, 1987). Entende-se por endogamia a probabilidade de um indivíduo ter em um locus dois genes idênticos vindos de um mesmo ancestral comum. Isso quer dizer que quando são acasalados dois indivíduos aparentados, a sua cria tem chance de ter dois genes idênticos: um vindo da mãe e outro do pai. O processo de endogamia, do ponto de vista genético e econômico é extremamente prejudicial. Do ponto de vista genético, resulta em perda de variabilidade que afeta de forma significativa características relacionadas à reprodução e viabilidade, afetando também características produtivas como produção de leite e crescimento. Por isso é comum animais filhos de pais muito aparentados apresentarem problemas de origem genética. Em pequenas populações fechadas, mesmo com acasalamento aleatório, a consangüinidade aumenta a cada geração uma vez que os reprodutores possuem ascendentes comuns (ALDERSON e BODÓ, 1998; GAMA, 2002). Nessas populações, o número de machos e de fêmeas em reprodução vai determinar o coeficiente de mudança de 46 endogamia por geração (perda de heterozigosidade ou ganho de homozigosidade), ou seja, o aumento de consangüinidade por geração (ΔF). O incremento na taxa de consangüinidade, quando ocorre de geração em geração, poderá acarretar grandes problemas em uma população, uma vez que alguns genes são perdidos quando se tem uma taxa de consangüinidade elevada. Esses genes são de extrema importância em programas de melhoramento genético animal (VUREN e HENDRICK, 1994). De acordo com Cardelino e Rovira (1987), valores superiores a 12,0% de consangüinidade pode ser considerada perigosa, colocando a população em sérios riscos. Alderson (1990) propôs o uso do Índice de conservação Genética (ICG), como uma forma alternativa para avaliar indiretamente a taxa de consangüinidade. O ICG leva em conta a contribuição dos animais fundadores ao longo das gerações. Em outras palavras, O ICG é um índice que estima o número efetivo médio de fundadores presentes no pedigree de um determinado animal. O ICG dependerá da amplitude da genealogia disponível, contudo, se não houver informações suficientes sobre os progenitores até chegar aos fundadores, o IGC ocorre idêntico para todos os descendentes e se iguala a metade do tamanho efetivo da população. Desta maneira, assim como foi demonstrado por Wray e Thompson (1990), se não se conhece a maioria dos progenitores, o resultado será definido por ΔF = 1 / (4IGC). Esta equivalência de conceitos entre IGC e ΔF nos motiva a considerar somente o ΔF como o único parâmetro para descrever as populações de tamanho pequeno, sobretudo as não genealógicas. De acordo com Frankel e Soulé (1981), a regra básica da genética de conservação, baseada na experiência do melhoramento genético animal, é que o coeficiente máximo de aumento de endogamia seja de 1% por geração, o que se obtém com um tamanho efetivo da população (Ne) igual a 50. No caso da raça Marota a conservação está sendo realizada in situ. Esse tipo de conservação é de extrema importância, uma vez que os animais são mantidos o mais próximo possível do seu ambiente natural. O objetivo desse trabalho foi descrever o estado de conservação dos caprinos da raça Marota e propor uma estratégia de gestão da população de forma a garantir uma menor perda possível de variabilidade. 47 MATERIAL E MÉTODOS Esse trabalho foi desenvolvido com base nas informações contidas nos documentos de controle zootécnico do rebanho de caprinos da raça Marota, pertencentes à Embrapa Meio-Norte, no período entre 1982 e 2007. O rebanho está localizado em uma propriedade de 300 hectares, pertencente a Embrapa Meio-Norte, no município de Castelo do Piauí-PI, latitude 05º19'20" Sul, longitude 41º33'09" Oeste, área de 2.246,85 km2, altitude 239, inserida na região do semiárido, situada a 190 km de Teresina-PI. II. 1. Estrutura da população Determinou-se a estrutura do rebanho por ano, desde 1982 a 2007, através das seguintes informações: • Composição do rebanho (Censo); • Distribuição por sexo; • Distribuição por idades; II. 2. Número efetivo da população O número efetivo (Ne) de animais do rebanho foi obtido utilizando-se a fórmula a seguir, descrita por Alderson e Bodó, (1992). Ne = 4 Nm x Nf Nm + Nf Onde: Ne = Número Efetivo; Nm = Número de machos em reprodução Nf = Número de fêmeas em reprodução 48 II. 3. Coeficiente de endogamia ou taxa de consangüinidade do rebanho A taxa de consangüinidade (ΔF) foi estimada pela fórmula de Alderson e Bodó, (1992): ΔF = 1/ 2 Ne Onde: ΔF = Taxa de Consangüinidade; Ne = Número efetivo. O ΔF pode ser apresentado na escala de 0 a 1 ou em percentagem, ex.: 0,1250 ou 12,50%; 0,0078 ou 0,78%. II. 4. Pirâmide de Idades A pirâmide de idades foi obtida pela distribuição da quantidade de animais por sexo e idade. Foi apresentada em forma de gráfico. II. 5. Intervalo de gerações Calculou-se o intervalo de gerações pela diferença da idade média dos machos reprodutores (IEGm) ao nascimento dos filhos que serão usados para substituí-los, da mesma forma vale para as matrizes (IEGf). Para o cálculo de Intervalo de gerações no rebanho foi usada a fórmula: IEG = ½ (IEGm + IEGf) II. 6. Índice de conservação genética Para calcular o número efetivo de fundares para um animal utilizou-se a seguinte fórmula: ICG = 1 / Σ Pi Onde Pi é a proporção dos genes do animal atual que provem do fundador i. 49 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 são apresentadas as composições do rebanho Marota ao longo dos vinte e cinco anos de existência. Foi iniciado com um baixo número efetivo de fundadores (36,36), chegando a níveis aceitáveis já no segundo ano de existência. Tabela 1. Tamanho efetivo e taxa de consangüinidade do rebanho Marota em função de diferentes números de machos e fêmeas no período de 1982 a 2008. Ano Número de machos Número de fêmeas Tamanho efetivo Taxa de Consangüinidade (%) 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008* 10 15 24 13 18 21 27 22 31 13 12 25 26 19 23 31 27 17 24 ***** ***** ***** 80 54 47 50 79 100 109 115 89 93 119 116 89 119 165 123 152 144 142 124 133 110 110 100 ***** ***** ***** 129 108 88 91 112 36,36 52,74 79,42 45,37 60,32 71,40 87,61 70,56 98,37 48,20 43,73 85,88 88,09 67,03 77,61 100,56 86,72 58,90 77,42 ***** ***** ***** 197,51 144,00 122,55 129,08 185,30 1,38 0,95 0,63 1,10 0,83 0,70 0,57 0,71 0,51 1,04 1,14 0,58 0,57 0,75 0,64 0,50 0,58 0,85 0,65 ***** ***** ***** 0,25 0,35 0,41 0,39 0,27 *Dados obtidos a partir da somatória do número de animais adultos e desmamados do ano anterior (2007). 50 Tendência histórica do rebanho Marota Uma etapa muito importante para assegurar a gestão de um rebanho para fins de conservação é o uso dos dados para estabelecer qual a tendência desse rebanho ao longo dos anos. Com isso, pode-se prever uma possível tendência futura (Figura 2). Plantel Ne Reprodutores Matrizes 175 150 125 100 75 50 25 0 82-86 87-91 92-96 97-00 04-07 2008 Figura 2. Tendência histórica do rebanho Marota. Apesar da redução no número de matrizes no período de 1992 a 2004, a tendência a partir daí tem sido um aumento gradual. Em se tratando de tamanho efetivo, os resultados são ainda mais animadores, com um forte incremento nesses valores a partir de 2001 e mantendo-se até os dias atuais com a mesma taxa de elevação. Tomando por base os valores de 2007, a projeção para o ano de 2008 também é de elevação tanto do número de animais quanto no tamanho efetivo. Na Tabela 2 pode-se observar que apesar do número de animais no rebanho não sofrer grandes alterações no período, a partir do ano de 2005 houve um considerável aumento no número de crias desmamadas, o que significa melhores índices reprodutivos e de sobrevivência de crias. Esse fato se deve ao desenvolvimento do trabalho de Tese de doutorado da UFPB, período em que foi implantado o manejo estratégico do rebanho, o que possibilitou um aumento considerável na taxa de sobrevivência das crias. 51 Tabela 2. Composição do rebanho de caprinos da raça Marota, no núcleo de conservação da Embrapa Meio-Norte em Castelo do Piauí-PI. ANO Categoria de Idade 2004 2005 2006 2007 80 54 47 50 129 108 88 91 Fêmeas desmamadas 0 8 22 21 Machos desmamados 0 6 28 22 Fêmeas mamando 8 30 20 20 Machos mamando 6 39 22 22 223 245 227 226 Reprodutores Matrizes Total rebanho Na Figura 3, encontra-se a distribuição por categoria de idades e sexo. A maioria do rebanho em idade reprodutiva é constituído por fêmeas (40%), seguido do número de machos (22%). Estes resultados devem ser em função da manutenção da relação do número de machos e fêmeas desde a formação do rebanho. Distribuição por sexo e idade (%) Machos mamando Fêmeas mamando Machos desmamados Fêmeas desmamadas 10 9 10 9 40 Matrizes Reprodutores 22 Figura 3. Distribuição dos animais por categoria de sexo e idade. A Figura 4 representa o histórico do número efetivo da população estudada no decorrer desde o ano da criação do núcleo (1982). De acordo com os resultados, apesar da 52 oscilação, a projeção indica que o número efetivo da população tende a aumentar. O motivo desse aumento está condicionado principalmente pelo aumento do número de machos em relação às fêmeas. 250 N. de animais 200 Tamanho efetivo Linha de tedência efetivo) Linear (Tamanho 150 100 y = 4,2281x + 35,262 50 0 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 0 4 5 6 7 8 Ano Figura 4. Número efetivo da população estudada. Na Figura 5 estão representados os valores históricos para o coeficiente de consangüinidade dos últimos vinte e cinco anos e a projeção para o ano de 2008. Conforme os resultados observados, a taxa de endogamia tende a baixar a cada ano, encontrando-se em valores abaixo de 1%, considerados ideais para fins de conservação dos genes da população em estudo. Isso é reflexo do aumento do número efetivo (Ne), como mostra a Figura 4. 53 Coeficiente de consanguinidade ao longo dos anos 1,6 Delta F 1,4 Linear (Delta F) Linha de tedência Delta F (%) 1,2 y = -0,0282x + 1,0332 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 0 4 5 6 7 8 Ano Figura 5. Coeficiente de endogamia ou taxa de consangüinidade Os valores para intervalo de gerações demonstram uma tendência estável mas a diferença entre os sexos é preocupante. Valores menores para machos significam menor participação ancestral masculina na composição futura do rebanho (Tabela 3). Tabela 3. Intervalo de gerações do rebanho. Ano Intervalo médio de Intervalo médio de geração Intervalo médio de geração geração das Matrizes dos Reprodutores do rebanho 2005 6,24 4,16 5,20 2006 5,60 4,04 4,82 2007 5,94 4,11 5,02 54 Na Figura 6 tem-se a pirâmide de idades do rebanho de cabras Marotas. Nos últimos dois anos, a redução progressiva das taxas de natalidade provocou uma diminuição da base enquanto que o aumento da expectativa de vida, um alargamento no topo e na parte central. FÊMEAS 2007 MACHOS 2007 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 5 10 15 20 0 25 5 MACHOS 2006 10 15 20 25 15 20 25 15 20 25 FÊMEAS 2006 12 12 11 11 10 10 9 9 8 8 7 7 6 6 5 5 4 4 3 3 2 2 1 1 0 5 10 15 20 25 0 5 MACHOS 2005 10 FÊMEAS 2005 12 12 11 11 10 10 9 9 8 8 7 7 6 6 5 5 4 4 3 3 2 2 1 1 0 5 10 15 20 25 0 5 10 Figura 6. Pirâmide de idades de machos e fêmeas Marotas nos anos de 2005 a 2007. 55 A participação dos reprodutores sobre o número de nascimentos ocorreu de forma desigual (Figura 7). Alguns animais estão pouco representados enquanto outros, foram extremamente usados nas coberturas. Tal condição é indicativa da necessidade de redistribuir as coberturas a favor dos animais que possuem menor número de descendentes. Em rebanhos comerciais, o uso privilegiado de poucos reprodutores pode e deve ser utilizado, mas no caso de rebanhos de conservação, essa é uma condição contra-indicada, uma vez que o objetivo é que se tenha uma representação igualitária dos progenitores na descendência. Figura 7. Participação de cada reprodutor Marota sobre 347 registros de nascimentos. O índice de conservação genética calculado para o rebanho Marota (Figura 8) demonstrou que contém, em sua maioria, genes de 2,63 fundadores. Seria importante manter o maior tempo possível, os animais que continham genes de quatro fundadores, como forma de manter por mais tempo o uso desses genes nas composições futura do rebanho. 56 Figura 8. Índice de Conservação Genética do rebanho estudado Pelos resultados observados na Figura 9 pode verificar que os genes de quatro fundadores estão contribuindo na constituição genética de quatro descendentes. 4,5 4,0 ICG 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 65 Anim al Figura 9. Distribuição dos Índices de Conservação Genética do rebanho Marota. Considerando que a população inicial de fundadores foi formada por 124 animais, e hoje temos no máximo ICG = 4, isto é, número médio de fundadores nos pedigrees atuais, isso representaria menos de 3% da variabilidade inicial estaria sendo mantida. 57 CONCLUSÕES A população estudada apresentou um nível de endogamia em níveis ideais (abaixo de 1%), tendo ocorrido uma redução na endogamia ao longo dos anos. Com isso, concluise que, sendo uma população fechada, a forma com que os acasalamentos são realizados tem permitido manter a variabilidade genética, condição positiva para um programa de conservação. O tamanho efetivo da população de Marotas mostrou um aumento, principalmente no último período estudado. O índice de conservação genética é baixo, mostrando uma reduzida representação dos fundadores no rebanho atual. Considerando a vida útil de um caprino em torno de oito anos, esse resultado deve ser esperado, pela própria ausência da geração anterior. 58 RECOMENDAÇÕES Devido ao reduzido tamanho desta população, o monitoramento dos parâmetros genéticos relacionados com a variabilidade deve ser constante. Para manter a variabilidade do rebanho faz-se necessário manter um programa de gestão da população com base nos seguintes pontos: • Monta controlada (preferencialmente usar um software de gestão genética); • Registro zootécnico (reprodutivo, produtivo, nascimentos, etc); • Criar um banco de germoplasma através da crioconservação de sêmen e embriões. Isso permitirá um aumento considerável no intervalo de gerações e o aumento do ICG, se considerar-se como fundadora a população atual. • Estabelecer os cruzamentos pelo mérito do menor grau de parentesco; • Promover a criação de outros rebanhos, de preferência entre os criadores, como forma de minimizar os riscos de se ter a raça em apenas uma população; • Manter os trabalhos de avaliação da resistência genética a endoparasitas com o objetivo de conhecer a herdabilidade e posterior do sêmen de reprodutores resistentes em fêmeas SPRD (sem padrão racial definido). De todas as recomendações, o registro reprodutivo talvez seja a mais importante, pois possibilita todas as ações posteriores. 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALDERSON, L. Genetic conservation of domestic livestock. Wallingford, U.K.: CAB International, 1990. 304 p. ALDERSON, L.; BODÓ, I. A system to maximize the maintenance of genetic variability in small population. In: ______Genetic conservation of domestic livestock. Wallingford: C.A.B International, 1992, v.2, p.18-29. ALDERSON, L.; BODÓ, I. Review of species and breed studies. In: ALDERSON, L.; ABREU, U. G. P. de; MARIANTE, A. S.; SANTOS, S. A. Conservação genética de raças naturalizadas do Pantanal. Biotecnologia, Ciência & Desenvolvimento, Brasília, v.1, n. 5, p.18-21, 1998. BARKER, J, S, F. A global protocol for determining genetic distances among domestic livestock breeds. In: WORLD CONGRESS ON GENETICS APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION, 5., 1994. Proceedings... Editora Guelph, 1994. p. 501-508. BODÓ, I. 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Genetics, v. 16, p. 97-159. 1931. 61 Capítulo 3 Caracterização Morfométrica e Ponderal da Raça Marota 62 Caracterização morfométrica e ponderal da raça Marota RESUMO - A necessidade de valorizar os recursos genéticos nacionais tem impulsionado os estudos voltados ao conhecimento desse patrimônio genético. A caracterização desse material genético tornou-se um dos pontos de maior relevância dentro das demandas de maior urgência, uma vez que ainda não são bem compreendidos. Os caprinos das raças nativas fazem parte desse patrimônio, compreendem importante papel no desenvolvimento e sustentabilidade dos sistemas de produção tradicionais, considerando o impacto econômico e social que exercem, bem como a capacidade de adaptação aos ambientes semi-áridos em que se desenvolveram, tornando-se um importante recurso genético. No presente estudo foi realizada a caracterização morfométrica e ponderal de caprinos da raça Marota. Os valores morfométricos encontrados apresentaram diferenças significativas (p<0,05) entre machos e fêmeas para altura anterior (60,07 e 57,76), altura posterior (61,08 e 59,64), ísquio (18,50 e 17,13) e perímetro torácico (72,65 e 70,53), significando a existência de dimorfismo sexual, confirmado também pelas diferenças de peso corporal (31,53 vs. 28,89) e por diferenças encontradas quanto a distância entre as bases do chifre (1,1 vs. 2,4) e distancia entre os arcos dos chifres (42,4 e 12,9). Os valores para comprimento do corpo (CC), altura anterior (AA) e peso corporal, sugerem que pode ser considerada a menor entre as raças nativas do Brasil. Para tipo de chifre as maiores diferenças na freqüência entre machos e fêmeas foram no tipo caracol (1,0 e 5,3), arco espiral (99,0 e 5,3), lira frontal (0,0 e 7,0), paralelos (0,0 e 57,9) e arco em “V” (0,0 e 25,6). Quanto à presença de brincos, não houve diferença entre machos e fêmeas (34,5 e 35,0), os valores para essa característica parecem diferenciar bem a raça das demais. Houve diferença na presença de barba, onde a quase totalidade dos machos (94,5) apresentaram essa estrutura, sendo 58,3% nas fêmeas. Quanto ao tamanho de orelha, tanto machos (10,5 cm) quanto fêmeas (11,9 cm) apresentaram os menores valores em comparação com valores encontrados na literatura para raças africanas, européias e da América do sul. Observaram-se alta correlação entre as medidas morfométricas de altura anterior (0,84), altura posterior (0,87), comprimento corporal (0,89), ísquio (0,83) e perímetro torácico (0,95), com o peso corporal. Os modelos de curva de crescimento Gompertz e von Bertalanffy foram os que melhor representaram o crescimento de cabritos Marota até 1 ano de idade. 63 De acordo com os resultados observados, a raça Marota apresentou características próprias que a diferencia das demais raças, o que reforça ainda mais a necessidade de conservação. Palavras-Chave: caracterização fenotípica, recursos genéticos, raça Marota, raças nativas. 64 Caracterização morfométrica e ponderal da raça Marota ABSTRACT Needing to guarantee national genetic resources gives studies on know ledge pf this genetic patrimony. Featuring of genetic material became one of the bigget points on demands of urgency, but yet not known. Goats of native breeds belongs to it, has an important development an sustainability of traditional production systems, according to social-economic impact as well as adaptation capacity to dry areas being important. In this work was carried out the morph-metrical and ponderal characterization the Marota breed goats. The work was carried out at experimental field of Embrapa Meio-Norte, with an area of 300 ha, in the municipal district of Castelo of Piauí-PI, placed at latitude 05º19'20" south, longitude 41º33'09" west, height 239, in the dry region. Found morph-metrical values showed significant differences (p<0.05) between males and females to last height (60.07 and 57.76), next height (61.08 and 59.64), isquious (18.50 and 17.13) and thoracic perimeter (72.65 and 70.53), being as well by differences of body height (31.53 and 28.89) and differences to distance horn base (1.1 and 2.4) and horn arc (42.4 and 12.9), with existence of sexual dimorphism. Values to body length (BL), last height (LH) and body height, suggests that can be considered lower among native breeds of Brazil. To horn type, bigger differences among males and females were snail type (1.0 and 5.30), spiral arc (99.0 and 5.3), front lire (0.0 and 7.0), parallels (0.0 and 57.9) and arc in “V” (0.0 and 25.6), respectively. How much to the presence of earrings, did not have difference between males and females (34.5 and 35.0), these characteristics seem different of the other races. There was difference to beard, where almost all males 94.5% showed, being 58.3% on females. According to ears size, males (10.5 cm) and females (11.9cm) showed lower values comparing with found values on literature to African, European and South American breeds. There was high correlation to morph-metric measures of last height (0.84), next height (0.87), body length (0.89), isquious (0.83) and thoracic perimeter (0.95) with body weight. Gompertz and von Bertalanffy growing curve models were best represented by goats until 1 year. According to results, Marota breed showed its own feature which makes difference of breed, with need of conservation. Keywords: genetic way, endogamy, effective size, phenotypic featuring, genetic resources, native breeds, parasites, strongiloídea, haemonchus contortus. 65 INTRODUÇÃO O fenótipo de um animal é a expressão de sua capacidade genética sob cada condição ambiental. Portanto, a caracterização fenotípica é um valioso instrumento de apoio à conservação de uma espécie, ou mesmo de uma raça, como forma de conhecer os efeitos da variabilidade genética, fundamental para o planejamento de programas de conservação e para uso posterior em programas de melhoramento (GIANNONI, 1987; SILVA, 2001). Para programas de conservação, a caracterização fenotípica constitui uma das principais etapas, pois, além de servir de base para os processos de seleção, serve como estratégia para a preservação de espécies que estão em constante perigo de extinção (BODÓ, 1990; MACMANUS et al., 2001; SILVA, 2001). Existem dois tipos de características fenotípicas, as qualitativas, como cor de pelagem, presença ou ausência de chifres, tipo de chifre, pigmentação da pele, classificadas visualmente, tendo-se como referência padrões previamente estabelecidos; e as quantitativas, como peso, altura, comprimento, circunferência escrotal, que precisam ser mensurados com o uso de instrumentos de medição. A mensuração de características fenotípicas morfométricas permite caracterizar ou classificar indivíduos e raças de uma população. Tais características podem ser definidas como uma particularidade individual em destaque que, em maior ou menor grau de variação, determina o tipo de raça ou tipo étnico a qual pertence (RODERO et al., 1992; BEDOTTI et al., 2004). Assim, uma vez definidos os valores referentes a cada característica, utilizam-se ferramentas estatísticas para comparar a variabilidade existente entre indivíduos ou entre populações e averiguar a possibilidade de pertencer ou não a uma raça ou grupo genético (RODERO et al., 1992; FERNÁNDEZ et al., 1998; ZEPEDA, 2000). Diversos estudos utilizaram aspectos qualitativos e/ou quantitativos de caracteres morfológicos e étnicos para analisar as relações existentes entre populações de caprinos. Darokhan e Tomar (1983) analisaram os efeitos do peso ao nascer sobre as medidas corporais em animais da raça Changthang, observando que houve correlação entre o peso ao nascer e o perímetro torácico. 66 No Brasil, os principais estudos foram realizados por Maria Norma Ribeiro e Edgard Cavalcanti Pimenta Filho, que desde 1998 realizaram importantes estudos relacionados à morfometria das principais raças de caprinos nativos do Brasil, dentre esses trabalhos podemos destacar o de caracterização fenotípica da raça Azul, caracterização fenotípica das raças nativas e os estudos das correlações fenotípicas e o peso corporal das raças nativas. Também vale ressaltar outros autores como Calegari (1999), que correlacionou medidas corporais de perímetro torácico, altura de cernelha e comprimento abdominal com o peso vivo de caprinos. Em todas as análises, o perímetro torácico foi a medida que teve a mais alta correlação com o peso vivo. Silva (2001), em um estudo de correlações entre peso corporal e características morfométricas das raças Moxotó, Canindé, Graúna e Azul, apontou o perímetro torácico e o comprimento do corpo como as medidas corporais que melhor expressava associação com o peso corporal. Outro aspecto importante no estudo e caracterização de uma raça é a determinação de sua curva de crescimento. Na maioria dos casos, o estudo de curvas de crescimento é realizado por meio de ajuste de modelos não-lineares aos dados de peso-idade dos animais, uma vez que estes modelos sintetizam um grande número de medidas, em apenas alguns parâmetros interpretáveis biologicamente (SILVA et al., 2002). Segundo Tedeschi et al. (2000), nos modelos não-lineares utilizados para descrever curvas de crescimento, os parâmetros com interpretação biológica são representados principalmente pelo peso assintótico superior, que representa o peso à maturidade, e pela taxa de maturidade, que é um indicador de velocidade de crescimento. Os demais parâmetros são considerados constantes matemáticas que auxiliam na determinação da forma da curva. Na literatura, são propostos vários modelos não-lineares para descrever curvas de crescimento e dentre estes, os mais citados, segundo Fitzhugh (1976), são: Brody, Von Bertalanffy, Gama incompleto e Gompertz. Algumas considerações estatísticas importantes, normalmente desprezadas na maioria dos estudos de curvas de crescimento, são as heterogeneidades de variância dos pesos no tempo, decorrentes do aumento da idade, e a existência de autocorrelação entre os resíduos do ajuste, tendo em vista que os dados são tomados longitudinalmente em cada animal. Se tais considerações são ignoradas no processo de ajuste, pode ocorrer, 67 respectivamente a esses fatos, a obtenção de estimativas viesadas (PASTERNAK e SHALEV, 1994) e a subestimação das variâncias dos parâmetros (SOUZA, 1998). O conhecimento e o controle dessas medidas de crescimento e desenvolvimento são de grande interesse para os pesquisadores, pois o seu domínio permite que o manejo nutricional dos animais possa ser conduzido eficientemente (WEBSTER et al., 1982), além de permitir critérios mensuráveis a ser utilizados nos programas de conservação e melhoramento animal através do conhecimento das características de crescimento inerentes a cada raça (FITZHUGH, 1976). O presente trabalho objetivou a caracterização morfométrica e ponderal da raça Marota. 68 MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido no campo experimental da Embrapa Meio-Norte, com área de 300 ha, no município de Castelo do Piauí-PI (Figura 4), latitude 05º19'20" Sul, longitude 41º33'09" Oeste, área de 2.246,85 km2, altitude 239, inserida na região do semiárido, situada a 190 km de Teresina-PI (Figura 10). Figura 10. Representação geográfica e localização da cidade de Castelo do Piauí. Foram utilizados caprinos da raça Marota, sendo 110 adultos e 98 cabritos de até 1 ano de idade, subdivididos em categorias por sexo e idade (do nascimento aos 12 anos). O rebanho foi mantido sob condições de criação extensiva, onde a base alimentar eram forrageiras nativas da região, caracterizada como semi-árido. As crias eram mantidas exclusivamente sob aleitamento até os sessenta dias de idade, quando passavam a ir a campo juntamente com as mães. Os pesos corporais (PC) dos adultos foram tomados em intervalos de 30 dias, durante 12 meses de duração do trabalho. Os cabritos foram pesados a cada 30 dias, após o nascimento. O peso ao nascer de cada animal foi anotado em fichas individuais, onde foram posteriormente inseridas todas as pesagens. A partir das fichas de controle de peso, foi editado um arquivo contendo o número de cada animal, sexo, data de nascimento, estação de nascimento, peso ao nascer, e pesos até completar 360 dias de idade. 69 II. 1. Medidas morfométrica As medidas morfométricas foram tomadas com o uso de uma fita métrica e bastão zoométrico graduados em centímetros, conforme metodologia utilizada por Rodriguez, (1990); Mohammed e Amin (1996), Rodero et al. (2003), Ribeiro et al. (2002, 2003 e 2004abc). Os pontos para tomada das medidas foram: • AA - Altura anterior - distância entre a região da cernelha e a extremidade distal do membro anterior; • AP - Altura posterior - distância entre a tuberosidade sacra e a extremidade distal do membro posterior; • CC - Comprimento do Corpo - diagonal do corpo com início na ponta inferior da espádua e término na ponta do ísquio; • PT - Perímetro Torácico - contorno do tórax tomando-se como base o esterno e a cernelha, passando a fita métrica detrás da paleta; • ISQ – Comprimento do ísquio – distância entre as extremidades laterais das tuberosidades isquiáticas direita (Figura 11). Figura 11. Locais apropriados para tomadas das medidas AA, AP, CC, PT e ISQ. 70 Para caracterização da cabeça foram tomadas as seguintes medidas e observações: • Comprimento da orelha (A): Medida que compreende a extensão desde a base de fixação ao crânio, seguindo a linha central até a ponta da extremidade livre; • Largura da orelha (B): Distância medida entre ambas as bordas na largura maior da orelha. Medida realizada com fita métrica; • Base do chifre (C): Compreende a distância interna no nível da fixação no crânio; • Largura da cara (D): Distância entre as faces externas das arcadas orbitárias; • Altura da cara (E): Compreende a distância entre a face superior do focinho e a vértice da cabeça; • Comprimento da cara (F): Distância entre a cavidade nasal e o vértice superior da arcada orbital; • Arco do chifre (G): Compreende a distância máxima entre as extremidades dos chifres (Figura 12). Figura 12. Locais apropriados para tomadas das medidas do Comprimento da orelha (A), Largura da orelha (B), Base do chifre (C), Largura da cara (D), Altura da cara (E) e Comprimento da cara (F) e Arco do chifre (G). 71 II. 2. Tipos de chifres A conformação e tipos de chifres compreendem as seguintes categorias: • Caracol (CA): Compreende formação para cima, para trás, para baixo e para frente, de forma paralela, rente e por trás das orelhas. • Lira frontal (LF): Apresenta crescimento para cima e com as pontas voltadas para frente; • Arco Espiral (AE): Crescimento para cima, para trás, para os lados, para baixo e para frente, formando uma espiral; • Paralelo (PL): Crescimento para cima e de forma paralela; • Arco em V (AV): Crescimento para cima, com inclinação para os lados, em formato de “V” (Figura 13). CA LF AE PL AE AV Figura 13. Conformação dos chifres: Caracol (CC), Lira frontal (LF), Arco em espiral (AE), Paralelo (D), Arco em espiral (AE) e Arco em “V” (AV). 72 II. 3. Índices Morfométricos Seguindo a metodologia descrita por MacMannus (2001), foram calculados os índices a partir de relações entre medidas morfométricas, índices zootécnicos rotineiramente usados no estudo funcional das espécies de interesse zootécnico, da seguinte forma: - Índice corporal (IC) – relação entre o comprimento do corpo e o perímetro torácico. Se o IC for superior a 0,90 indica animal longo, entre 0,85 e 0,90, tamanho médio e inferior a 0,85 o animal será classificado como curto. - Índice Corporal Relativo (ICR) – relação entre o comprimento do corpo e a altura da cernelha. Se ICR < 1 o animal pode ser considerado com grande desenvolvimento de pernas; se ICR > 1, considera-se de pequeno desenvolvimento de pernas. - Índice de Relação Perímetro Torácico (IRPT) – Razão entre o perímetro torácico e a altura anterior (PT/AA). É dado em valor percentual, o maior valor é indicativo do bom desenvolvimento torácico do animal. II. 4. Desenvolvimento ponderal e curva de crescimento Para o controle de pesagem e formação do arquivo os animais foram pesados a cada 30 dias, após o nascimento. O peso ao nascer de cada animal foi anotado em fichas individuais, onde foram posteriormente inseridos seus pesos a cada 30 dias, bem como todas as anotações referentes à sua vida produtiva. A partir das fichas de controle de peso, foi editado um arquivo contendo o número de cada animal, sexo, data de nascimento, estação de nascimento, peso ao nascer, e pesos até completar 360 dias de idade. Dados para a análise Após a coleta dos dados, selecionou-se dados de 67 animais, nascidos nos meses de abril a maio de 2005, sendo efetuadas 13 pesagens para cada animal totalizando 871 dados de pesos. Destes animais 36 nasceram na estação chuvosa e 31 na estação seca, sendo 37 machos e 30 fêmeas. 73 Após a seleção, elaborou-se a seguinte convenção: E1 = animais nascidos na estação chuvosa; E2 = animais nascidos na estação seca; S1 = machos; S2 = fêmeas; Funções utilizadas para o ajuste dos pesos. Foram usadas quatro funções matemáticas para ajustar os pesos dos animais utilizados neste estudo. Pesquisas com essas funções em caprinos são escassos no Brasil. Os parâmetros para os modelos utilizados foram estimados usando-se o método GAUSS-NEWTON, por meio de regressão não linear, utilizando o procedimento NLIN do SAS (1999). O método de Gauss-Newton, por ser indireto, necessita das derivadas parciais em relação aos parâmetros, e dos valores iniciais para iniciar o processo de minimização da soma de quadrados do erro (SOUZA, 1998). 1) Modelo de Von Bertalanffy. Usado por Souza (1992), o modelo a ser utilizado é descrito pela equação: Yt = A (1 – ße –kt) 3 + ε Em que: Yt = Peso na idade t; t = Tempo (idade do animal em dias, a partir do nascimento); A = Peso assintótico ou peso final; ß = Constante de integração (determina a interceptação com o eixo Y) ; k = Taxa de crescimento ou medida da variação da função exponencial. ε= erro aleatório. 74 2) Modelo de Brody. Usado por Doren et al. (1989) e Oliveira (1995), o modelo a ser utilizado é descrito pela equação: Yt = A (1 – ße –kt) + ε Em que: Yt = Peso na idade t; t = Tempo (idade do animal em dias a partir do nascimento); A = valor assintótico de yt; ße = Constante de integração relacionadas com os pesos iniciais; k = medida da taxa de variação da função exponencial. ε = erro aleatório. 3) Modelo Gama Incompleto A curva Gama proposta por Wood (1967) e utilizada por Souza (1992) e Lopes et al. (1999) é descrita pela seguinte equação: Yt = A t b e –c t + ε Em que: Yt = Peso na idade t; t = Tempo (idade do animal em dias, a partir do nascimento); A = Peso ao nascer; c b = Constantes da curva que determina a forma das mesmas. ε = erro aleatório. 75 4) Modelo Gompertz A curva Gompertz proposta por Laird (1965) e utilizada por Oliveira (1995) é descrita pela seguinte equação: Y= A e -b e (t k) + ε Em que : Yt = Peso na idade t; t = Tempo (idade do animal em dias, a partir do nascimento); A = Peso assintótico; B = índice de maturidade k = idade no ponto de inflexão da curva ε = erro aleatório. Estatísticas utilizadas para comparação das funções A escolha da melhor função foi realizada com base na associação entre o coeficiente de determinação ajustado e o gráfico de distribuição dos resíduos. Coeficiente de determinação ajustado Segundo Afifi e Clark (1984), quando se compara modelos com diferentes números de parâmetros, é adequado utilizar o coeficiente de determinação ajustado ao número de parâmetros de cada modelo, para que estes sejam comparados em iguais condições. De acordo com Draper e Smith (1981) a fórmula utilizada é : Ra2 = (n-1) R2 – p n–p-1 Em que: Ra2 = Coeficiente de determinação ajustado; p = número de parâmetros do modelo; n = número de observações; R2 = coeficiente de determinação; Ra2 = Soma dos quadrados de regressão corrigido Soma de quadrados total corrigido 76 Gráfico de distribuição dos resíduos Foi utilizado um gráfico de distribuição de resíduos para mostrar a qualidade do ajuste proporcionado para cada função. Este gráfico mostra a dispersão dos resíduos em função do tempo. Se os resíduos apresentam-se distribuídos aleatoriamente em relação a variável classificatória t, é indicativo de um bom ajuste. Caso estes se apresente em blocos de valores positivos ou negativos, é indicativo de alta correlação residual positiva ou negativa, o que indica que ocorreu um ajuste fraco. II. 5. Índice de Compacidade Corporal Conhecido como COMPAC, foi utilizado por Yáñez (2004) e tem o objetivo de determinar a conformação in vivo, obtido pela razão entre o peso corporal e o comprimento do corpo (COMPAC= PC/CC), ou seja, a quantidade de massa corporal para cada centímetro de comprimento, dado em kg/cm, Quanto maior a compacidade corporal, maior a proporção de músculos e gordura no animal. II. 6. Análise dos dados As informações foram anotadas em fichas de controle que continham os atributos e variáveis com suas respectivas codificações para uso na informatização e tratamento dos dados. Estes foram lançados em planilhas do Excell, em formato que permitiu exportar os dados para outros programas de tratamento estatístico, como SAS (1999) e SAEG (1999). Inicialmente, foram realizadas análises descritivas simples (média aritmética, desvio padrão, freqüência, coeficiente de variação, valores mínimos e máximos) para o total de cada sexo e idade. Posteriormente, foram realizadas análises de variância, correlações, regressão e prova de significância entre peso, sexo e idade para as medidas morfométricas encontradas. 77 RESULTADOS E DISCUSSÃO III. 1. Medidas morfométricas da raça Marota Na Tabela 4 encontram-se os resultados da estatística descritiva do peso corporal para a raça Marota, de um aos seis anos de idade. Tabela 4. Estatística descritiva da característica peso corporal para a raça Marota, por sexo e idade. Idade Média CV Mínimo Máximo Sexo (anos) N (kg) DP (%) (kg) (kg) F 1 7 13,3 2,3 17,3 11,0 18,0 M 1 9 14,0 2,9 20,7 9,2 18,0 F 2 13 16,9 2,9 17,2 14,0 22,0 M 2 9 20,7 4,3 20,8 13,0 27,4 F 3 11 23,5 1,7 7,2 21,0 26,5 M 3 10 25,1 5,9 23,5 17,7 35,6 F 4 13 26,7 4,3 16,1 21,0 37,5 M 4 13 28,0 4,7 16,8 17,8 33,7 F 5 15 27,5 2,0 7,3 24,0 30,6 M 5 10 34,5 6,4 18,6 21,5 41,2 F 6 8 28,3 5,3 18,7 20,0 33,5 M 6 3 36,0 3,4 9,4 32,3 39,0 F= fêmea; M = macho DP = Desvio padrão CV = Coeficiente de variação N = número de animais Os valores elevados dos coeficientes de variação (CV) observados para peso corporal em cada idade, demonstram grande variabilidade dentro do rebanho. Tais resultados são respaldados por Menezes (2006), que afirma que o rebanho Marota encontra-se em bom estado de conservação, com grande variabilidade genética. Considerando que os animais em estudo fazem parte de um rebanho de conservação, essa variabilidade deve ser considerada benéfica, pois cria possibilidades nos futuros trabalhos de melhoramento genético para fins de estabelecer linhagens dentro da raça, uma vez que atenda demandas na realidade de cada ambiente. Na Tabela 5 encontra-se as médias para as medidas morfométricas dos animais adultos (> 4 anos). Os resultados obtidos sugerem que não houve diferença para 78 comprimento corporal entre machos e fêmeas, para todas as demais medidas os machos foram maiores que as fêmeas, o que indica um elevado dimorfismo sexual na raça Marota. Tabela 5. Médias para as medidas morfométricas obtidas em caprinos adultos da raça Marota (cm). Sexo AA AP CC ISQ PT PC (kg) Machos 60,07a 61,08a 63,78a 18,50a 72,65a 31,53a Fêmeas 57,76b 59,64b 63,53a 17,13b 70,53b 28,89b Valores seguidos de letras diferentes na mesma coluna e parâmetro diferem entre si. ((P<0,05). Na Tabela 6 são apresentados os resultados das medidas morfométricas da cabeça. Os resultados demonstram um claro dimorfismo sexual, onde os valores para base do chifre, arco do chifre e comprimento de orelhas apresentaram diferenças significativas (P<0,001), não diferindo nas medidas da cara e largura de orelha. O tamanho do arco do chifre nos machos pode ser explicado pelo comportamento competitivo entre eles na disputa de fêmeas durante o período de acasalamento, um fator muito importante em sistemas de criação extensivos, onde a monta livre induz a formação de machos dominantes. Tabela 6. Morfometria da cabeça de caprinos da raça Marota, para macho e fêmeas. Parâmetro Base Chifres Arco do Chifre Comprimento da Cara Altura da Cara Largura da Cara Comprimento da Orelha Largura da Orelha Sexo Média (cm) DP (cm) CV (%) F M F M F M F M F M F M F M 2,4a 1,1b 12,9a 42,4b 15,9a 16,0a 14,9a 15,3a 11,0a 11,7a 11,9a 10,5a 6,0a 5,6a 0,4 0,4 6,2 7,4 0,8 0,5 0,7 0,6 0,7 0,5 1,0 1,0 0,5 0,5 16,7 36,4 48,1 17,5 5,0 3,1 4,7 3,9 6,4 4,3 8,4 9,5 8,3 8,9 Mínimo (cm) 1,2 0,4 1,0 25,0 14,2 15,2 13,0 14,4 8,8 10,8 10,2 8,2 5,0 4,8 Máximo (cm) 3,6 2,0 35,0 59,8 17,4 17,0 16,4 16,3 12,6 12,5 14,4 13,5 7,2 6,5 Valores seguidos de letras diferentes na mesma coluna e parâmetro diferem entre si. (P<0,001); F – Fêmeas (N=57); M – Machos (N=26); CV - Coeficiente de Variação. 79 Quanto ao tipo de chifre, os resultados (Tabela 7) demonstraram que a quase totalidade (99,0%) dos caprinos machos da raça Marota possuem o tipo Arco Espiral, estando presente em um pequeno número de fêmeas (5,3%). Estas possuem, em sua maioria, chifres do tipo paralelo (57,9%), seguido do tipo Arco em “V” (24,6%). Tabela 7. Freqüência, por sexo, do tipo de chifre em caprinos da raça Marota (%). Sexo Caracol Arco Espiral Lira Frontal Paralelos Arco em V Fêmeas 5,3 5,3 7,0 57,9 24,6 Machos 1,0 99,0 0,0 0,0 0,0 A presença de chifre do tipo Caracol em percentagem tão baixa nos machos (1,0 %) pode sugerir tratar-se de um caráter ligado ao sexo. Faz-se necessária uma verificação mais apurada no tocante aos descartes de animais considerados fora do padrão, se não ocorreu a inclusão desse tipo como passível de descarte ao longo dos 26 anos de existência do rebanho. A freqüência de barba (Tabela 8) foi maior nos machos (94,5%), que nas fêmeas (58,3%), não havendo diferença com relação à presença de brinco (35,0 e 34,5%). Contudo, a freqüência de fêmeas sem barba e sem brinco (25,2%) foi bem superior à dos machos (3,6%). Tabela 8. Freqüência, por sexo, de barbas e de brincos em caprinos da raça Marota (%). Sexo Distribuição por animal Presença Presença de Brinco de Barba Somente Somente Barba e Sem Barba e Brinco Barba Brinco sem brinco Fêmeas 35,0 58,3 16,5 39,8 18,4 25,2 Machos 34,5 94,5 1,8 61,8 32,7 3,6 Os resultados encontrados na Tabela 9 sugerem que em comparação com outras raças no Brasil e no exterior, a raça Marota apresentou menor tamanho de orelha. A freqüência de brincos, proporcional entre machos e fêmeas na raça Marota, foi encontrado em quase totalidade das raças. Para presença de barbas, houve dimorfismo sexual nas raças Marota e na maioria das raças africanas, mas não foi constatado para as demais raças sul americanas. 80 Tabela 9. Comparação entre os dados de freqüência (%), por sexo, de barbas e de brincos em caprinos da raça Marota e resultados encontrados na literatura. Região País Barba (%) Brinco (%) M M Orelha (cm) Raça F F M F Autor DP América DP Marota 94,5 58,3 34,5 35,0 10,5 1,0 11,9 1,0 SPRD *** 40,0 *** 9,0 *** *** *** *** Graúna *** *** *** *** 13,5 1,4 13,5 1,4 Canindé *** *** *** *** 12,8 1,2 12,8 1,2 Moxotó *** *** *** *** 12,7 0,8 12,7 0,8 Azul *** *** *** *** 12,6 0,9 12,6 0,9 SPRD 85,7 89,7 0,0 15,0 *** *** *** *** Colorada 96,22 83,12 11,32 21,87 *** *** *** *** Etiópia Núbian 100,0 100,0 0 0 19,7 3,9 20,1 3,6 Eritréia Barka 95,0 95,0 0 0 18,1 5,3 18,2 3,1 Eritréia Worre 88,2 18,4 5,9 6,6 15,1 7,3 13,9 2,8 Afar 79,0 *** 19,0 *** 12,4 0,7 12,3 1,8 Abergelle 94,0 *** 6,0 *** 13,0 0,8 12,7 0,8 Shoah Arsi-Bali 92,0 52,0 14,0 11,0 14,1 1,3 14,0 1,3 Etiópia Woyto-Guji 96,0 *** 10,0 *** 12,5 1,3 12,5 1,0 Hararghe Highland 72,0 *** 14,0 14,0 14,4 1,4 13,0 1,1 Short-eared Somali 79,0 14,0 5,0 5,0 12,1 2,2 12,8 1,8 Long-eared Somali 66,0 7,0 6,0 3,0 14,8 1,7 14,6 1,7 Central Highland 82,0 *** 6,0 *** 13,5 0,9 13,1 1,1 Wester Highland 84,0 *** 12,0 12,0 14,6 6,0 14,7 1,6 Western Lowland 70,0 *** 12,0 *** 14,1 1,6 13,8 3,6 Shoa Keffa 88,0 *** 12,0 12,0 13,3 1,1 13,0 1,0 Bulgária Sakhar 96,11 96,11 4,85 4,85 *** *** *** *** Djorbineva et al. (1986) Islândia Islândia 28,99 28,99 56,85 56,85 *** *** *** *** Gruppetta et al. (1986) Macedônia Macedônia 97,22 97,22 4,22 4,22 *** *** *** *** Boyazoglu et al. (1986) Oliveira et al. (2006) Brasil Argentina Silva et al. (2001) Bedotti (2004) Etiópia África FARM (1996) 81 Os valores encontrados na Tabela 10 sugerem que a raça Marota pode ser considerada a de menor comprimento corporal (CC), altura anterior (AA) e peso corporal (PC) entre as nativas, Ribeiro et al. (2002). Assim, considerando o conjunto de valores em relação ao porte, a raça Marota estaria mais adequada às condições em que a oferta de alimentos esteja abaixo da exigência das demais raças, principalmente em sistemas de criação tradicionais do semi-árido nordestino. Tabela 10. Valores de altura anterior (AA), comprimento corporal (CC) e peso corporal (PC), entre raças caprinas nativas do Brasil. Raça AA CC PC Marota 59,14 64,09 31,00 Moxotó* 61,93 71,07 35,11 Canindé* 60,79 69,02 31,32 Graúna* 61,28 68,16 40,32 Azul* 58,95 71,03 38,93 Anglonubiana** 75,78 76,21 54,51 *Ribeiro et al. (2002); ** Lima (2003). III. 2. Correlações entre as medida morfométricas e peso corporal Conforme apresentado nas Tabela 11, as correlações entre as medidas morfométricas foram bastante elevadas, com destaque para a maior correlação entre perímetro torácico (PT) e peso corporal (PC), corroborados pelos resultados obtidos por Calegari (1999), Rodriguez, (1990), Silva (2001), Lima (2003) e Ribeiro et al. (2004c). Pode-se observar que, para o conjunto de fêmeas, houve alta correlação para todas as medidas corporais sendo que a principal foi o PT, seguidas do CC, AP e AA. 82 Tabela 11. Coeficiente de correlações de Pearson entre as características altura anterior (AA), altura posterior (AP), comprimento do corpo (CC), ísquio (ISQ), perímetro torácico (PT) e peso corporal (PC), para fêmeas da raça Marota. Variáveis AP CC ISQ PT PC AA 0,92 0,81 0,66 0,82 0,82 0,80 0,71 0,85 0,83 0,63 0,82 0,86 0,72 0,78 AP CC ISQ PT 0,94 Os resultados de correlação para machos, Tabela 12, acompanharam a mesma tendência observada para fêmeas, sendo que e o PT resultou em maior correlação com o PC, seguidos dos valores de CC, AP e AA, concordando com os resultados obtidos por Valdez et al. (1982) e Mohammed e Amin (1996). Tabela 12. Correlações de Pearson entre as características altura anterior (AA), altura posterior (AP), comprimento do corpo (CC), ísquio (ISQ), perímetro torácico (PT) e peso corporal (PC), para machos da raça Marota. Variáveis AP CC ISQ PT PC AA 0,96 0,86 0,77 0,85 0,87 0,89 0,78 0,88 0.90 0,81 0,91 0,92 0,85 0,87 AP CC ISQ PT 0,97 O desenvolvimento do perímetro torácico, como evidenciado pela alta correlação, mostrou-se proporcional ao ganho de peso dos animais. Porém, há uma diminuição nessa relação com o decorrer da idade, iniciando uma proporção de quatro para um para encontrar o peso no primeiro ano, chegando a uma relação de dois para um, a partir do quinto ano (animal adulto), conforme se verifica na Figura 8. Esses resultados sugerem a 83 necessidade de usar fatores de correção para idade nas fórmulas de predição de peso a partir das medidas de perímetro torácico. Figura 8. Relação entre perímetro torácico e peso, de acordo com a idade e sexo, no rebanho estudado. III.3. Índices corporais Para os índices corporais (IC), os valores apresentados na Tabela 13 indicam que os animais estudados devem ser considerados de tamanho médio, pois se encontram entre 0,85 e 0,90. Cabe lembrar que essa mensuração aplica-se ao formato do corpo (longo, médio ou curto) e não ao tamanho ou a altura, o que poderia causar erro de interpretação. Por esse índice, em relação ao corpo, as raças Canindé, Moxotó e Azul, estudadas por Ribeiro et al. (2003) seriam consideradas curtas. Para os índices relativos entre perímetro torácico e altura anterior (IRPT/AA), os valores encontrados são indicativos do bom desenvolvimento torácico, o que significa uma boa capacidade respiratória, propiciando maior rendimento produtivo. Quanto ao índice corporal relativo (ICR), o valor encontrado para todas as idades foi maior do que 1, o que sugere animais com baixa estatura e pequeno desenvolvimento de pernas. Essa característica possibilita uma maior facilidade no deslocamento sob os arbustos entrelaçados e muitas vezes espinhosos, típicos da região semi-árida. Outro fator 84 muito importante é o fato de que a oferta de alimento na maior parte do ano limita-se a folhas secas e sementes, disponíveis ao longo do solo e que requer animais de pernas mais curtas, ou seja, de maior proximidade com o alimento para coletá-lo com maior facilidade. Segundo Mulder e Bijma (2005), seleções para redução de altura e pernas curtas ocorre como regra geral em todas as espécies (bovinos, ovinos, caprinos e eqüinos) adaptadas a ambientes com reduzida oferta de alimento. Tabela 13. Comparação entre índices corporais obtidos com os disponíveis na literatura. Índice Raça IC (CC/PT) ICR (CC/AA) IRPT/AA (PT/AA) Idade (anos) 1 2 3 4 Marota 0,89 0,92 0,91 0,90 Moxotó* 0,83 0,81 0,79 0,80 Canindé* 0,81 0,82 ... 0,83 Marota 1,03 1,06 1,09 1,08 Moxotó* 0,83 0,88 0,91 0,93 Canindé* 0,82 0,93 ... 0,97 Marota 1,16 1,15 1,19 1,21 Moxotó* 1,00 1,09 1,15 1,17 Canindé* 1,02 1,13 ... 1,17 IC - índice corporal; CC - comprimento do corpo; PT - perímetro torácico; ICR - Índice Corporal Relativo; AA – altura de anterior; IRPT/AA - Índice de Relação perímetro torácico e altura anterior. *Adaptado de Ribeiro et al. (2003). Os valores para os índices de compacidade nas diversas idades, demonstrados na Tabela 14, sugerem que caprinos apresentam compacidade crescente, proporcionais à idade, alcançando níveis máximos a partir dos 4 anos de idade. Isso condiz com as relações de formação de tecido em que animais mais jovens possuem pouca massa muscular, o que passa a ser aumentada com a idade e, posteriormente, na idade adulta, acrescida de uma maior proporção de deposição de gordura corporal, fazendo as relações de massa muscular e/ou gordura, atingir seus maiores níveis. 85 Tabela 14. Índice de compacidade (IC) de caprinos da raça Marota até os 8 anos de idade (kg/cm). Idade (anos) Sexo Fêmeas Machos 1 2 3 4 5 6 7 8 N 7 13 11 13 15 8 7 4 Média 0,27 0,31 0,40 0,43 0,43 0,44 0,47 0,46 DP 0,04 0,05 0,04 0,05 0,02 0,07 0,05 0,07 CV (%) 14,8 16,1 10,0 11,6 4,7 15,9 10,6 15,2 Mín. 0,23 0,25 0,35 0,34 0,39 0,33 0,41 0,38 Máx. 0,34 0,40 0,46 0,55 0,47 0,52 0,55 0,54 N 9 9 10 13 10 3 4 3 Média 0,29 0,36 0,41 0,45 0,52 0,53 0,52 0,51 DP 0,04 0,06 0,07 0,05 0,07 0,04 0,10 0,03 CV (%) 13,8 16,7 17,1 11,1 13,5 7,5 19,2 5,9 Mín. 0,23 0,25 0,32 0,35 0,39 0,50 0,35 0,49 Máx. 0,34 0,47 0,53 0,52 0,60 0,58 0,56 0,54 DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação. A curva de compacidade apresentada na Figura 15 sugere que a deposição máxima de músculo e/ou gordura na carcaça de caprinos da raça Marota deve ocorrer a partir dos 5 anos de idade, entrando em um estágio de depressão a partir dos 7 anos. Apesar do pico de deposição ocorrer aos cinco anos, a idade ideal para abate teria de atender a outros fatores, como o tipo de produto demandado pelo mercado e o tempo que cada animal leva para atender o peso pré-estabelecido. Contudo, a velocidade de crescimento em sistemas extensivos sofre influência sazonal, o que poderia gerar falsos resultados. Ao se verificar pesos por idade devem-se considerar as diferenças durante as estações seca e chuvosa. 86 0,55 0,50 0,45 2 y = -0,0074x + 0,0996x + 0,1877 2 R = 0,9823 2 kg/cm y = -0,0054x + 0,0759x + 0,1974 0,40 2 R = 0,965 0,35 Fêmeas 0,30 Machos Polinômio (Machos) 0,25 Polinômio (Fêmeas) 0,20 1 2 3 4 5 Idade (anos) 6 7 8 Figura 15. Curva de compacidade (kg/cm) de caprinos machos e fêmeas da raça Marota até 8 anos de idade. III. 4. Desenvolvimento ponderal e curva de crescimento Os valores para peso corporal dos caprinos da raça Marota (Tabela 15) apresentaram uma grande variação. Isso pode ser explicado por se tratar de um rebanho de conservação, onde não foi aplicado qualquer tipo de seleção para produção e a preocupação maior foi manter a sua variabilidade genética. Tabela 15. Pesos de caprinos da raça Marota, do nascimento até 12 meses de idade. Idades (meses) Ítem 0 1 2 3 4 5 Média (kg) 1,79 4,67 7,03 8,04 8,39 9,18 CV (%) 5,43 24,36 28,80 28,62 26,41 22,83 23,47 24,76 24,56 18,45 16,16 16,31 14,85 DP 0,10 1,14 2,03 2,30 2,22 2,10 2,33 2,55 2,49 1,90 1,78 1,87 1,75 Mínimo (kg) 1,60 3,00 3,50 3,80 4,00 5,50 5,70 5,40 5,10 7,00 7,70 7,50 7,70 Maximo (kg) 2,00 7,40 13,00 14,20 14,60 14,70 17,00 16,90 16,00 16,70 16,80 17,00 16,00 CV – Coeficiente de variação; DP – Desvio padrão. 6 7 8 9 10 11 12 9,93 10,30 10,12 10,29 11,02 11,46 11,76 87 A curva de crescimento dos caprinos da raça Marota até os doze meses de idade (Figura 16) teve um comportamento logarítmico, demonstrando um crescimento acelerado até os 60 dias de idade. Apesar dos diferentes potenciais genéticos individuais das crias, é notório que nos primeiros sessenta dias de idade, a quase totalidade da dieta provém da quantidade de leite disponível, sendo as diferenças de crescimento desse período proporcional ao potencial leiteiro de cada mãe. Esse período é utilizado na avaliação de matrizes para habilidade materna. Entre 60 e 90 dias de idade, os animais entraram em um platô de crescimento, provavelmente decorrente de uma maior necessidade do total de nutrientes proporcionado pelo aumento da massa corporal, juntamente com a gradual utilização de forragens como fonte nutricional. Após esse período, os efeitos ambientais tornam-se ainda mais determinantes sobre a taxa de crescimento. O ambiente a que foram submetidos os animais oferece, na maior parte do ano, alimentos de baixo valor nutricional e altamente lignificados, justificando a redução na velocidade de crescimento Esses resultados corroboram o princípio de que a curva de crescimento de mamíferos apresenta uma fase inicial de crescimento mais acelerado e um ponto de inflexão associado à puberdade e ao aumento na demanda nutricional (OWENS et al., 1993). Observando a curva de crescimento na Figura 16, nota-se que a função logarítmica subestimou e superestimou o peso máximo dos animais. Já nos valores para peso médio e mínimo os ajustes foram baixos. Resultados semelhantes foram encontrados bovinos (MAZZINI, 2001) e caprinos (CRUZ ,2000; MONTEIRO et al., 2004; FREITAS, 2005). Em tais experimentos, os modelos mais adequados para caprinos foram justamente os que não apresentaram aspectos sigmoidal, uma vez que não possuem pontos de inflexão, o que corrobora com o modelo proposto no presente trabalho. No caso do modelo proposto, o ajuste só não atendeu bem no caso dos indivíduos dentro dos limites dos valores máximos, uma vez que superestimam alguns pontos do crescimento, semelhante aos resultados encontrados com outros modelos por Cruz (2000), Monteiro et al. (2004) e Freitas (2005). Os valores de R2 para as três curvas, máxima, média e mínima, estavam em níveis aceitáveis e superiores aos demais modelos encontrados na literatura. Considerando que os animais estavam sob as mesmas condições ambientais, as variações encontradas podem ter origem na variabilidade genética do rebanho estudado. 88 Figura 16. Curva de crescimento do nascimento aos 12 meses de idade, de caprinos da raça Marota. A maioria dos modelos de curva de crescimento tem por objetivo a predição dos pesos dos animais através da aplicação de uma fórmula matemática. O modelo proposto neste trabalho, além de possuir a curva média, se diferencia por apresentar valores máximos e mínimos dos limites biológicos da população, ou seja, as expressões máximas e mínimas sob determinada condição ambiental. Nos programas de conservação de recursos genético serve como um “retrato” da amplitude de crescimento dos indivíduos de uma raça ou população, uma forma prática de visualizar as tendências na freqüência dos pesos. Para uso em rebanhos comerciais, permite estabelecer critérios de classificação e escolha de progenitores, avaliação de progênie e, principalmente, detecção de desvios da curva normal decorrentes de efeitos ambientais (alimentação, manejo, etc), possibilitando tomadas de decisão para corrigir e/ou melhorar o desempenho animal através das condições oferecidas. Pode-se considerar que as diferenças entre sexos é determinante nas relações de PC e Idade, sendo os machos mais pesados que as fêmeas em toda as idades estudadas (Figura 17). 89 40 y = 16,99Ln(x) + 1,9078 R2 = 0,9912 35 30 kg 25 y = 14,594Ln(x) + 2,2257 R2 = 0,9903 20 15 10 5 0 0 1 2 3 4 5 6 Idade (anos) F M Log. (M) Log. (F) Figura 17. Curva de desenvolvimento ponderal de caprinos machos e fêmeas, da raça Marota do nascimento até 6 anos de idade. III. 4. 1. Curva de crescimento utilizando modelos não lineares De acordo com as Figuras 18 a 21, percebe-se, de modo geral, que para todas os métodos considerados, os modelos Gama incompleto, Gompertz e Von Bertalanffy, apresentaram maiores percentuais de convergência, com menores valores residuais, resultados estes que estão de acordo com Oliveira (1995). Em relação as resíduos, nota-se que os modelos de von Bertalanffy e Gompertz apresentaram menores valores para o ajuste. Este resultado concorda com o obtido por Tedeschi et al. (2000) e, no que diz respeito à função de von Bertalanffy, está de acordo com Oliveira (1995). Conforme pode ser observado na Figura 18 a 21, todos os modelos, ajustados, apresentaram altos valores de coeficiente de determinação da regressão (R2). Entretanto, os ajustes ponderados mostraram uma tendência de maiores valores de coeficiente de determinação ajustado (R2a), concordando com Elias (1998) e Silva et al. (2002), que também observaram este fato. 90 Figura 18. Curvas de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo de Von Bertalanffy. 91 Figura 19. Curvas de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo de Brody. 92 Figura 20. Curva de crescimento de caprinos da raça Modelo Gama Incompleto 93 Figura 21. Curva de crescimento de caprinos da raça Marota pelo Modelo Gompertz. 94 Os modelos von Bertalanfly e Gompertz apresentaram melhor qualidade de ajuste. A utilização de ajustes ponderados com estruturas de erros auto-regressivos foi efetiva, pois além de apresentar bons resultados assegurou as pressuposições necessárias à validade do ajuste de modelos de regressão não-linear. III. 5. Desempenho de caprinos da raça Marota Conforme os resultados apresentados nas Figuras 22, 23 e 24, houve um ganho substancial de peso na época seca (julho a novembro) e uma perda de peso na época chuvosa (dezembro a junho). Deve-se considerar para tais resultados o fato de que a dieta predominantes de caprinos são árvores e arbustos, predominantes pastagens nativas do semi-árido. Esses vegetais apresentam maior concentração de nutrientes nos vegetais no final do período chuvoso, em decorrência do amadurecimento fisiológico, coincidindo também com o período de produção de sementes e vagens na maioria das espécies. Apesar do processo de lignificação natural também ocorrer neste período, isso não impede que animais bem adaptados façam um bom aproveitamento dos nutrientes. Como elemento adicional favorável, é de conhecimento geral que ocorre nesse mesmo período uma redução no nível de parasitas gastrintestinais. A perda de peso no período chuvoso teve seu início no mês de novembro, estendendo-se até o mês de fevereiro. Tais resultados seriam conseqüência de uma maior concentração de larvas infectantes (helmintos) nas pastagens, concomitantemente com a degradação do alimento seco, até então única fonte de alimento disponível no campo. A característica comportamental da espécie caprina de reduzir as horas de pastejo em dias chuvosos ou em pastagens muito molhadas também deve ser considerado como um fator adicional para esses resultados (Figuras 22, 23 e 24). Pode-se observar nas Figuras 22, 23 e 24, que os machos tiveram peso mais elevado que as fêmeas. Ainda assim, as curvas de peso sofrem conjuntamente os mesmos efeitos ambientais, ou seja, um incremento de peso durante os meses de junho a outubro, seguido de uma perda acentuada até o mês de março. 95 22 21 20 19 kg 18 17 16 15 14 13 12 JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI Fêmeas 13,2 15,4 15,3 15,2 16,4 15,3 15,2 14,5 14,2 13,9 15,1 14,5 Machos 14,2 17,9 19,0 19,2 20,5 21,1 20,6 20,3 18,7 19,3 20,2 19,9 Figura 22. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas de dois anos de idade, da raça Marota, durante o período seco (julho-novembro) e período chuvoso (dezembro-junho). 26 25 24 23 kg 22 21 20 19 18 JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI Fêmeas 19,1 21,3 20,6 21,5 22,6 21,8 21,6 21,0 20,1 20,5 21,5 20,7 Machos 19,8 23,1 23,4 23,5 25,1 25,4 25,0 24,5 22,7 23,1 23,3 23,7 Figura 23. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas de três anos de idade, da raça Marota, durante o períodos seco (julho-novembro) e período chuvoso (dezembro-junho). 96 33 32 31 30 29 kg 28 27 26 25 24 JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI Fêmeas 26,2 29,6 28,8 28,7 29,5 28,2 27,7 26,7 25,6 25,8 26,5 26,2 Machos 27,3 30,5 31,7 31,4 31,4 32,0 30,4 30,2 28,2 27,7 28,5 28,7 Figura 24. Comportamento ponderal de caprinos machos e fêmeas adultos, com mais de quatro anos de idade, da raça Marota, durante o períodos seco (julho-novembro) e período chuvoso (dezembro-junho). 97 CONCLUSÕES A raça Marota apresenta características morfométricas diferenciadas das demais raças brasileiras. Sua reduzida massa corporal e pequena altura permitem um adequado ajuste a ambientes com pouca oferta de alimento, sendo apropriadas à exploração na região semi-árida. A alta correlação entre as medidas morfométricas, principalmente a de perímetro torácico e o peso corporal tornam possível a predição do peso com o uso de fitas métricas de conversão ajustadas à raça. A curva de crescimento da raça até os doze meses de idade pode ser usada como referência para acompanhamento do desenvolvimento ponderal dos animais jovens. Os valores das curvas de máxima e de mínima podem ser muito importantes como registros dos valores de desenvolvimento que alguns animais alcançam ao longo do tempo. De acordo com os resultados, os melhores modelos para curva de crescimento foram os de von Bertalanffy e Gompertz. 98 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFIFI, A.A; CLARK, V. Computer aided multivariate analisis. Lifetime Learning Publication. Belmont, California, 458p. 1984. BEDOTTI, D.; CASTRO, A.G.G.; RODRÍGUEZ, M. S.; PEINADO, J. M. Caracterización morfológica y faneróptica de la cabra colorada Pampeana. Arch. Zootec. v. 53, p. 261271, 2004. BODÓ, I. 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Os resultados indicaram que o rebanho constitui-se de 21,6 % de resistentes (RR), 48,8 % susceptíveis (SS), 22,2 % de resistentes-susceptíveis (RS) e 7,4 % de suceptíveis-resistentes (SR). As maiores cargas parasitárias ocorreram no período chuvoso (2.200,2 OPG), sendo reduzidas para menos de 50% no período seco (1.006,5). Valores pluviométricos abaixo de 12 mm/mês foram favoráveis para manter os OPGs em níveis abaixo do risco do controle epidemiológico. Os animais da classe SS foram os responsáveis por mais de 70 % da contaminação dos pastos. Não houve correlação entre medida morfométricas, peso corporal e nível de OPG. Em relação ao sexo, as fêmeas foram mais resistentes que os machos. A mortalidade dos adultos na classe SS foi maior (25,32%) que das RR (5,71%). As maiores taxas de mortalidade das crias foram das classes RS (66,67%), SR (42,86%), SS (41,38%) e RR (25,0%). A classe de maior eficiência reprodutiva foi a RR (57,14%), SR (50,0%), SS (36,95%) e RS (13,04%). Os resultados sugerem que a eficiência está relacionada à resistência genética da mãe, principalmente no efeito sobre a fertilidade e sobre sustento da cria até o desmame. Palavras-Chave: Parasitas, stronguloídea, haemonchus, raças nativas. 105 Resistência Genética de Caprinos da Raça Marota a Parasitas Gastrintestinais ABSTRACT The research had the aim to identify levels of genetic resistance of Marota breed to gastrointestinal parasites. The work was carried out at experimental field of Embrapa Meio-Norte, with an area of 300 ha, in the municipal district of Castelo of Piauí-PI, placed at latitude 05º19'20" south, longitude 41º33'09" west, area of 2,246.85 km2, height 239, in the dry region, at 109 km of Teresina-PI. To levels identification of genetic resistance of Marota breed to gastrointestinal parasites were used 162 animals, being 108 females and 54 males. Samples were collected from June 2005 to May 2006, per animal, each 30 days. Animals were classified in susceptible (S), and resistant (R), according to eggs number (EPG) and year period (dry or rainy). Results showed that the flock is constituted of 21.6% of resistant (RR), 48.8% of susceptible (SS), 22.2% of resistant-susceptible (RS) and 7.4% of susceptible-resistant (SR). The biggest parasite charges occurred on rainy period (2,200 EPG), being reduced to 50% on dry period (1,006). Rainy values below of 12 mm/month had been favorable to keep the OPGs in levels below of the risk of the control epidemiologist. Animals of susceptible class (SS) were responsible to 70% of pasture contamination. There was no correlation between morph-metric measure, body height and EPG level. According to sex, females were more resistance than males. The adult mortality on susceptible class (SS) was bigger (25.32%) than resistance class (5.71%). The biggest taxes of mortality the kids were RS class (66.67%), SR class (42.86%), SS class (41.38%) and RR class (25.0%). The classroom of bigger reproductive efficiency was the RR (57.14%), SR. (50.0%), SS (36.95%) and RS (13.04%). Results suggests that efficiency is related to mother genetic resistance, mainly in the effect about fertility and sustainable in the pre-weaning. Keywords: native breeds, parasites, strongiloídea, haemonchus contortus. 106 INTRODUÇÃO A alta incidência de infecções por parasitas gastrintestinais em caprinos criados a pasto, geram severas perdas associadas à produção e provoca elevação dos custos, seja pelo uso de antihelmínticos ou pela morte dos animais (FAO, 1987 e 2003). As infecções por helmintos são consideradas como a principal causa das perdas econômicas na exploração de caprinos (ATHAYDE, 1996; FAO, 2003). Um claro exemplo disso está representado pelo gasto com importações de ivermectina para uso em ruminantes (sem considerar outros anti-helmínticos) na ordem de 16,5 milhões de dólares por ano (ABIQUIF, 2004). As razões para a ocorrência das infecções parasitárias são múltiplas e frequentemente interativas, sendo a grande maioria decorrente de pelo menos algumas das seguintes causas: aumento no número de animais infectantes, alteração da susceptibilidade dos hospedeiros, introdução do parasita na exploração (URQUHART et al., 1998). Em condições naturais, as infecções parasitárias são pluriespecíficas (MORALES et al., 1996), concentrando as maiores cargas parasitárias em uns poucos indivíduos da população hospedeira (MORENO et al., 1996; MORALES et al., 1998). A resistência à infecção por parasitas gastrintestinais tem sido definida como o início e a manutenção da resposta provocada no hospedeiro para impedir a implantação do parasita e eliminar ou reduzir a carga parasitária (CUNDIFF, 1985; GOGOLIN et al., 1992). Em caprinos, existem diversas publicações sobre resistência genética a parasitas gastrintestinais, as quais tem sido considerada como um importante componente de adaptação, resultante da pressão de seleção natural (CUNDIFF, 1985; NARI, 2003).. A variação genética da resistência à parasitas em ruminantes ocorre tanto inter quanto intra-raça. Considera-se que a diferença na resistência observada entre raças, na maioria das vezes, se deve ao efeito individual de um reprodutor (SANDOVAL et al., 1998; BAKER et al., 2001; FAO, 2003; BAKER e GRAY, 2004). Há casos em que a resistência à parasitas é considerada de efeito coletivo, como no caso dos bovinos de N´dama, que são capazes de sobreviver em regiões da África onde os riscos de infecção por Tripanossoma vivax são elevados (DWINGER et al., 1990). 107 Há evidências de que tais diferenças são mais acentuadas dentro de uma mesma raça e que tais respostas imunológicas têm se mantido ao longo das gerações, sendo considerada um caráter herdável (FERRER, 1983; MANDONNET, 1985; GRAY et al, 1995; AROSEMENA et al, 1999; BAKER et al., 1999; MORALES et al., 2001; AMARANTE et al., 2004). O presente trabalho teve como objetivo avaliar a resistência genética à infecções por estrongilóides gastrintestinais em caprinos da raça Marota e classificar a população quanto ao grau de resistência bem como, correlacionar a resistência às características de crescimento e morfométricas. 108 MATERIAL E MÉTODOS Esse trabalho foi desenvolvido no campo experimental da Embrapa Meio-Norte, com uma área de 300 ha, no município de Castelo do Piauí-PI, localizado na latitude 05º19'20" Sul, longitude 41º33'09" Oeste, área de 2.246,85 km2, altitude 239, inserido na região do semi-árido, situada a 190 km de Teresina-PI. Foram utilizados 162 caprinos da raça Marota, subdivididos em categorias por sexo e idade (dos 2 aos 12 anos de idade). O rebanho foi mantido sob condições de criação extensiva, onde a base alimentar consistia de forrageiras nativas da região caracterizada como semi-árida, com precipitação média anual em torno dos 800 mm, com período seco de julho a novembro e período chuvoso de dezembro a junho. II. 1. Carga parasitária e resistência a nematódeos gastrintestinais O protocolo experimental utilizado para verificação de resistência a parasitas gastrintestinais foi o mesmo adotado por Baker e Gray (2004), sendo utilizadas um total de 1.809 amostras. As análises foram realizadas no Laboratório de Parasitologia da Embrapa Meio-Norte. As amostras de fezes foram colhidas a cada 30 dias, durante 12 meses consecutivos (junho de 2005 a maio de 2006), diretamente na ampola retal e colocadas em sacos plásticos previamente identificados e conservadas sob refrigeração a 10 oC. A contagem de ovos por grama de fezes (OPG) de cada animal foi realizada pela técnica de Mac Master, modificada de Gordon e Whitlock (1939) e citada por Morales et al. (2001). Durante o desenvolvimento do experimento, para reduzir as perdas de animais por níveis letais de parasitose, os animais foram submetidos a tratamento antihelmíntico. Foi utilizado o controle estratégico proposto por Vieira et al. (1987), acrescentando mais uma vermifugação, ou seja, consistindo de cinco vermifugações (200 µg de Ivermectina/kg de peso vivo), sendo duas no período seco (junho e agosto) e três no período chuvoso (novembro, janeiro e abril). As amostras foram tomadas antes de cada vermifugação e o intervalo mínimo entre uma vermifugação e a coleta seguinte foi de pelo menos 30 dias, tempo suficiente para haver elevado grau de infecção. 109 II. 2. Análise dos dados Para estabelecer o nível de infecção de cada animal, foi considerado o número de ovos por grama de fezes (OPG) de estrongilóides. Os resultados foram classificados em dois níveis: Infecção Baixa (0-700 OPG) e Infecção Alta (acima de 700 OPG), adaptado de Morales et al. (2001) e Onyiah e Arslan (2005). Com as informações derivadas das análises parasitológicas, foi realizada a classificação dos animais segundo a contagem de OPG, mensalmente. Essa classificação foi feita nos dois períodos do ano, cinco meses do período seco (de julho a novembro de 2005) e sete meses do período chuvoso (dezembro de 2005 a junho de 2006). Cabe lembrar que foram considerados como período chuvoso, os meses que apresentaram precipitação acima de 10,0 mm, suficientes para estimular a elevação nos níveis de infecção parasitária. Os animais que apresentaram média de até 700 OPG dentro do período foram considerados resistentes (R), ou seja, indivíduos em que a resposta imunológica impede ou limita o número de vermes. Seguindo a metodologia de Morales (2001), os animais que apresentaram o número de ovos por grama de fezes acima de 700 foram considerados susceptíveis (S). Considerando que para cada período houve uma classificação independente, a determinação do “status” anual foi a agrupação dos dois períodos, classificando os animais em quatro categorias distintas, resistentes (RR), resistentessusceptíveis (RS), susceptíveis-resistentes (SR) e susceptíveis (SS), sendo que a primeira letra refere-se ao período seco e a segunda ao período chuvoso. Para estabelecer os efeitos dos perìodos seco e chuvoso, foi avaliada a variação no peso, considerando a diferença entre o peso médio anterior e peso médio posterior, de acordo com a seguinte fórmula: VP* = Peso anterior – peso posterior *VP = variação no peso Considerando que níveis elevados de parasitose mobilizam uma grande parte dos recursos nutricionais do animal e que isso poderia afetar a demanda nutricional para crescimento, foram estimadas as correlações entre as classes de resistência e o peso corporal (PC), bem como com as medidas morfométricas altura anterior (AA), altura posterior (AP), perímetro torácico (PT), comprimento do ísquio (ISQ) e comprimento corporal (CC). 110 A taxa de mortalidade foi calculada com base no número de animais mortos dividido pelo total de animais das classes de resistência, ou seja: Para análise das perdas provocadas por mortalidade de cada classe foram utilizadas as seguintes fórmulas: • Peso total dos animais mortos (kg) = PV (20kg) x No de animais mortos • Valor total das perdas = Peso total dos mortos x valor pago por kg PV (R$ 2,70) praticado no mercado. II. 3. Análise estatística As informações foram anotadas em fichas de controle que continham a identificação individual de cada animal, sexo, idade, peso, contagens de ovos por grama e medidas morfométricas, com suas respectivas codificações para uso na informatização e tratamento dos dados. Estes foram lançados em planilhas em formato que permitiu exportar os dados para outros programas de tratamento estatístico, como SAS (1999) e SAEG (1999). Inicialmente, foram realizadas análises descritivas simples (média aritmética, desvio padrão, freqüência, coeficiente de variação, valores mínimos e máximos) para o total de cada classe de resistência, por sexo e idade. Os valores referentes ao número de ovos por grama de fezes foram transformados em logarítimos para a realização das análises estatísticas. Posteriormente, foram realizadas análises de variância, correlações e regressão utilizando-se os procedimentos GLM, REG e CORR do SAS (1999). Utilizou-se o seguinte modelo estatístico: Yijkl = µ + Sexoi+Períodoj+Sexo*Período(ij)+erro(ijk) µ = média geral Sexoi = efeito do sexo i erro(ijk) = erro aleatório 111 RESULTADOS E DISCUSSÃO III. 1. Composição do rebanho e resposta das classes de resistência ao longo do ano. Na Tabela 16 encontra-se a distribuição do número de animais e freqüência quanto à classe de resistência no rebanho Marota. Tabela 16. Distribuição do número de animais e por classes resistência no rebanho de caprinos da raça Marota, em função da idade e sexo, naturalmente infectados por helmintos gastrintestinais. Adultos (>4 anos) N f (%) Jovens (2-3 anos) N f (%) RR 23 18,4 12 RS 28 22,4 SR 8 SS Total Classe de resistência Total Rebanho f (%) Macho Fêmeas 32,4 35 21,6 11 24 8 21,6 36 22,2 12 24 6,4 4 10,8 12 7,4 4 8 66 52,8 13 35,1 79 48,8 27 52 125 100 37 100 162 100 54 108 Pode-se observar na Tabela 16 que existe uma tendência de mudança nas freqüências no número de animais das classes de resistência RR e SS, quando comparados adultos (> 4 anos) e jovens (2 a 3 anos). Os dados demonstram um aumento na freqüência dos animais resistentes (RR) e uma redução na freqüência dos animais susceptíveis (SS) no grupo dos jovens em relação aos adultos, resultado interessante, uma vez que esses animais substituirão os mais velhos com o passar dos anos. Essa mudança de freqüência se deve, provavelmente, ao fato de que nos anos de 2001 a 2003 o rebanho esteve em monta livre e sem controle estratégico de verminoses, forçando uma mudança de freqüência através do aumento da taxa de mortalidade de animais jovens, filhos de pais da classe susceptível. Vale ressaltar que os animais pertencentes à classe susceptível (SS) que sobreviveram podem ser, na realidade, pertencentes a grupos resilientes e não de susceptíveis, o que requer estudos mais aprofundados nesse sentido futuramente. Os resultados observados na Tabela 17 demonstram uma estreita relação entre a precipitação pluviométrica e a contagem de ovos por grama de fezes (OPG) nos caprinos, 112 ressaltando que os meses de agosto e setembro tiveram os menores valores de ovos por grama (664/685), abaixo dos níveis críticos, não havendo necessidade de uso de antihelmínticos. Tabela 17. Distribuição do número de ovos por grama de fezes (OPG) por classe de resistência, no período seco e chuvoso. Precipitação mensal (mm) CLASSE de Resistência (ovos/g) Período seco Período chuvoso Jul Ago Set Out Nov 3 2 5 12 37 Média b Dez Jan Fev Mar 79 158 174 236 Abr 204 Mai Jun 62 10 167 748 Média 373b RR 371 162 338 405 490 353 RS 561 296 400 400 683 468b 2.265 1.452 1.587 1.822 1.917 2.235 1.113 1.770a SR 963 1.125 1.013 1.025 1.663 1.157 SS 1.704 1.078 1.104 2.067 1.785 1.548 4.728 2.604 3.257 3.522 3.717 4.237 2.870 3.562 1.173 1.102 1.006 2.587 1.409 1.752 1.860 1.984 2.258 1.824 2.201 a a Média 1.026 664 685 781 513 219 138 295 538 214 438 190 325 263 675 412b a Valores na mesma coluna sobrescritos com letras distintas diferem entre si (P<0,05) Para as classes de resistência sazonal (RS e SR), a quantidade ovos por grama de fezes (OPG) se comportou de forma diferente, são inversas. A classe resistente-susceptível (RS) pode ser considerada como de animais de média susceptibilidade, comportando-se como resistente quando o número de larvas no pasto é pequeno e tornando-se susceptível a partir do momento em que passa a sofrer maior pressão parasítica. Na Tabela 17, a classe susceptível-resistente apresentou um comportamento atípico sobre a oferta de larvas e período do ano, pois demonstrou susceptibilidade quando a quantidade de larvas esteve baixa (período seco) e tornando-se resistente quando essa quantidade foi consideravelmente aumentada (período chuvoso). Dentro de uma ótica puramente conceitual, poderia considerar os animais dessa classe como possuidores de um limiar de resposta imunológica mais elevada, ou seja, para ativar seu sistema de defesa ao parasita é necessário uma elevada carga parasitária. Para tal condição poderia considerar um caso clássico de hiposensibilidade humoral. O comportamento da curva dos valores de OPG apresentados durante os doze meses do ano para todo o rebanho teve a tendência de acompanhar a curva de precipitação 113 pluviométrica (Figura 25). Os resultados sugerem que precipitações mensais acima de dez milímetros induzem um aumento na carga de OPG. Resultados semelhantes foram obtidos por Githigia et al. (2001), com caprinos da raça East African, no Kênia, sob condições semelhantes ao do presente trabalho. A partir do mês de outubro, ocorre uma súbita elevação, seguida de queda repentina, até janeiro. Tal comportamento sugere um quadro típico de resposta imunológica à maior exposição às larvas dos parasitas. OPG 3000 250 Precipitação (mm) 2500 2000 OPG 150 1500 100 1000 Precipitação (mm) 200 50 500 0 0 jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun meses Figura 25. Relação entre precipitação e o número de ovos por grama de fezes (OPG) no rebanho de caprinos da raça Marota. Um outro aspecto a ser considerado é o fato de que o efeito do período chuvoso se estende além dos meses propriamente chuvosos, já que as condições de umidade favoráveis ao desenvolvimento das larvas ao estágio L3 (infectante) permanecem até o mês de junho, sofrendo posteriormente uma forte depressão nos valores de OPG a partir de julho até setembro, coincidindo com os menores valores de precipitação. Na Figura 26 a precipitação provocou um comportamento similar da curva de OPG tanto para caprinos resistentes (RR) quanto para susceptíveis (SS), no entanto o número de ovos por grama de fezes foram bem distintos.. Considerando as estações seca e chuvosa, os caprinos da classe resistente apresentaram valores médios de 374 e 446 ovos por grama de fezes, abaixo do nível crítico estabelecido para resistência (700 ovos por grama de fezes). 114 A classe dos animais susceptíveis (SS) apresentou valores médios, por estação, de 1.533 a 3.659 ovos por grama de fezes. OPG SS 4.500 OPG RR 250 Precipitação (mm) 200 4.000 3.500 150 OPG 3.000 2.500 100 2.000 1.500 Precipitação (mm) 5.000 50 1.000 500 0 0 jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun meses Figura 26. Relação entre precipitação e o número de ovos por grama de fezes (OPG) nas classes resistentes (RR) e susceptíveis (SS), em caprinos da raça Marota. Os resultados obtidos na avaliação das cargas parasitárias (Tabela 18) sugerem que a distribuição não é uniforme, sendo os animais da classe SS responsáveis por mais de 70% da carga total de ovos de parasitas. Esses indivíduos são denominados acumuladores de parasitas e são responsáveis pela maior parte da contaminação ambiental e da elevação da carga parasitária no restante do rebanho (BARGER, 1985; MORALES et al., 1998). Tabela 18. Carga total de ovos (CTO) por classe de resistência e percentual sobre a carga total, nos períodos seco e chuvoso. Classe CTO (período seco) % CTO (período chuvoso) % RR 7.420 7,5 7.843 3,6 RS 11.440 11,5 42.329 19,5 SR 9.260 9,3 3.300 1,5 SS 71.200 71,7 163.857 75,4 Total 99.320 100,0 217.329 100,0 115 III. 2. Efeito da classe de resistência sobre as medidas morfométricas: Não houve diferença significativa entre as medidas morfométricas em função das classes de resistência (Tabela 19). Tabela 19. Valores das medidas morfométrica por classe de resistência em caprinos da raça Marota com mais de 4 anos de idade. Sexo M F Classe de AA AP CC ISQUIO PT PC resistência (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (kg) RR 61,30 62,20 66,00 19,30 74,70 34,70 RS 58,79 60,14 64,36 18,36 74,00 32,07 SR 57,50 57,00 52,75 15,25 63,25 19,65 SS 60,53 61,62 64,18 18,70 72,59 31,76 RR 58,07 59,97 62,91 17,44 70,53 29,36 RS 58,41 60,31 63,91 16,25 70,31 28,07 SR 58,08 58,83 63,17 17,58 68,83 27,13 SS 57,18 59,25 63,75 17,34 70,98 29,42 M = machos; F = fêmeas; AA = Altura anterior; AP = Altura posterior; CC = Comprimento corporal; ÍSQUIO = Comprimento do Ísquio; PT = Perímetro torácico; PC = Peso corporal Se por um lado animais susceptíveis são prejudicados pela perda de nutrientes pela competição com os parasitas, animais resistentes possivelmente evoluíram à custa da produção. Em ambos os casos há perdas produtivas potenciais. Resultados similares foram obtidos em experimentos com ovinos Red Maasai, Barbados Blackbelly e Florida Native (DONALD, 1994; WOOLASTON e BAKER, 1996). Algumas evidências sugerem que a ativação da defesa imune usa os recursos que de outra maneira seriam investidas em alguma outra função (SVENSSON et al., 1998; ILMONEN et al., 2000; LOCHMILLER e DEERENBERG, 2000; NORRIS e EVANS, 2000). 116 Para animais jovens também não houve diferença significativa quanto às medidas morfométricas (Tabela 20) entre as classes de resistência e susceptibilidade. Tabela 20. Valores das medidas morfométrica por classe de resistência em caprinos da raça Marota de 2 a 3 anos de idade. Classe de resistência Machos RR RS SR SS AA (cm) 57,83 55,80 54,00 53,64 AP (cm) 58,00 57,20 56,50 56,44 CC (cm) 60,00 58,90 60,00 61,09 ISQUIO (cm) 16,33 13,50 14,00 14,76 PT (cm) 65,25 63,00 67,50 67,49 PC (kg) 23,90 22,90 24,45 24,78 Fêmeas RR RS SR SS 53,67 52,67 51,50 52,33 55,00 55,00 54,00 54,89 59,25 57,33 58,50 55,89 14,08 13,33 13,00 13,50 63,33 61,67 68,00 61,33 21,57 19,67 25,15 18,93 Sexo III. 3. Efeito da classe de resistência o peso corporal Os valores para ganho de peso de caprinos adultos e jovens no período seco (Tabela 21) revelaram que não houve diferença entre as classes de resistência. Tabela 21. Variação do peso corporal por classe de resistência de caprinos da raça Marota adultos e jovens, no período seco do ano. Classe de resitência Variação Média DP CV Mínimo Máximo (kg) (%) (kg) (kg) RR 21 21,43 3,90ª 2,32 59,5 -0,70 8,00 RS 23 23,47 3,71ª 2,93 79,0 -3,50 8,70 SR 8 8,16 4,03ª 2,10 52,1 1,20 7,80 SS 46 46,94 3,33ª 3,04 91,3 -3,40 10,40 Total 98 Média 3,74 RR 12 32,43 4,92ª 1,88 38,2 2,00 8,30 RS 8 21,62 5,14ª 1,88 36,6 3,40 8,50 SR 4 10,81 3,53ª 3,28 92,9 -1,30 5,90 SS 13 35,14 3,92ª 1,24 31,6 2,30 5,90 Total 37 Média 4,38 Valores na mesma categoria e coluna sobrescritos com letras distintas diferem entre si (P<0,05) Jovens = 2 a 3 anos de idade; Adultos = > 4 anos de idade Jovens Adultos Categoria N f (%) 117 Os resultados apresentados nas Tabelas 21 e 22 confirmam o princípio de que os mecanismos de defesa requerem boa parte das reservas nutricionais dos animais, semelhante às perdas causadas pela agressão larval em indivíduos parasitados. Tais observações também foram relatadas por diversos outros autores (SVENSSON et al., 1998; ILMONEN et al., 2000; COLTMAN et al., 2001). Tabela 22. Variação do peso corporal por classe de resistência de caprinos da raça Marota adultos e jovens, no período chuvoso do ano. Jovens Adultos Categoria Variação Média DP (kg) - 2,48ª 1,60 CV Mínimo Máximo (%) (kg) (kg) 64,5 - 0,09 - 5,85 CLASSE N f (%) RR 21 21,43 RS 23 23,47 - 2,69ª 1,30 48,3 + 0,56 - 4,94 SR 8 8,16 - 1,93ª 1,99 103,1 + 0,54 - 5,52 SS 46 46,94 - 2,75ª 1,86 67,6 + 2,60 - 7,12 Total 98 Média - 2,46 RR 12 32,43 - 1,19ª 0,90 75,6 + 0,04 - 2,84 RS 8 21,62 - 0,30ª 1,38 460,0 + 2,69 - 2,02 SR 4 10,81 - 0,05ª 1,25 2.500,0 + 1,47 -1,27 SS 13 35,14 -1,22ª 0,67 54,9 - 0,41 - 2,53 Total 37 Média - 0,69 Valores na mesma categoria e coluna sobrescritos com letras distintas diferem entre si (P<0,05) Jovens = 2 a 3 anos de idade; Adultos = >4 anos de idade Um aspecto considerado importante nesses resultados se refere ao fato de que a busca por vantagens ou desvantagens nos aspectos ligados a resistência não parecem estar ligado diretamente ao efeito individual de ganho de peso, uma vez que não houve diferença nessa medida, mas possivelmente a diferenças em relação a outros fatores, como reprodutivos e taxas de mortalidade. Cabe ressaltar que a variação de peso entre os dois períodos do ano (seco e chuvoso), ganho de peso no período seco (Tabela 21) e perda no período chuvoso (Tabela 22), indica a necessidade de manejos diferenciados nos respectivos períodos. As perdas de peso causadas pela ausência de um manejo diferenciado no período chuvoso justificam a necessidade da busca de novas alternativas. Uma das possibilidades seria o confinamento 118 dos animais durante uma parte do período chuvoso, usando-se para isso um programa de conservação de forragens ou uma outra forma que esteja dentro das possibilidades e dos recursos disponíveis no local. III. 4. Efeito do sexo sobre o número de ovos por grama de fezes (OPG) Foram encontradas diferenças significativas nos valores de OPG em relação ao sexo, as fêmeas apresentando maior resistência que os machos (Tabela 23). Resultados semelhantes também foram encontrados por Barger (1993), Morales et al. (1998). Tabela 23. Número de ovos por grama de fezes (OPG) por classe de resistência, por sexo e por período do ano. Classe de resistência RR RS SR SS SEXO OPG OPG Incremento no número de ovos (período seco) (período chuvoso) por grama de fezes (OPG) F 335Aª 351Aa 1,0 M 412Ba 446Ba 1,1 F 449Aa 1.703Ab 3,8 M 511 Aa Ab 3,8 F 1.163Aa 407Ab 0,3 M 1.140Aa 429Ab 0,4 F 1.581Aa 3.340Ab 2,1 M 1.485Aa 3.978Bb 2,7 Média geral 1.007 1.924 2.201 2,2 Valores na mesma coluna e classe, sobrescritos com letras maiúsculas distintas diferem entre si (P<0,01). Valores na mesma linha, sobrescritos com letras minúsculas distintas diferem entre si (P<0,01). Ansar et al. (1985), Urquhart et al. (1998) e Morales et al. (2001) justificam que essa diferença se deve ao fato de que os estrógenos presentes nas fêmeas induzem o sistema de defesa específico, representado principalmente pelas imunoglobulinas específicas (IgG, IgM, IgA e IgE), e também incrementam a habilidade dos monócitos macrófagos (Linfócitos T, macrófagos ativados, etc.), para fagocitar partículas antigênicas. 119 Os hormônios masculinos tendem a suprimir a resposta celular e humoral (FOLSTAD e WEDEKIND, 1994). Os animais da classe RR mantiveram níveis baixos de OPG durante os dois períodos do ano (Tabela 23). Os RS tiveram incremento mais elevados (3,8) que os SS (2,4), o que sugere maior susceptibilidade no período chuvoso para as duas classes. III. 5. Efeito da classe de resistência sobre reprodução e sobrevivência. Resultados obtidos na Tabela 24 sugerem que animais susceptíveis apresentam maior mortalidade que animais resistentes. Quando comparados esses resultados com os da Tabela 25, observa-se que os animais jovens foram mais susceptíveis às infecções que os adultos e houve um maior número de mortes no grupo dos animais jovens (2 a 3 anos de idade) do que naqueles acima de 4 anos de idade, corroborando resultados obtidos por Santa Rosa et al. (1986) e Mandonnet et al. (2003). Tabela 24. Mortalidade de caprinos adultos, segundo a classe de resistência. Classe de Nº. de Nº. de Mortalidade Mortalidade resistência animais mortes na classe (%) no rebanho (%) RR 35 2 5,71 1,23 RS 36 5 13,89 3,09 SR 12 0 0,00 0,00 SS 79 20 25,32 12,35 Total 162 27 ***** 16,67 Apesar dos inúmeros trabalhos desenvolvidos com o estudo de resistência genética a parasitas gastrintestinais, poucos têm discutido o impacto sobre a mortalidade das crias (Woolaston e Baker, 1996; Baker, 1997; Mandonnet et al., 2003). A pouca disponibilidade desse tipo de informação se deve, principalmente, à curta duração dos trabalhos com resistência genética, não permitindo registrar os reflexos da carga parasitária das mães na mortalidade ou mesmo no desenvolvimento das crias. 120 Os resultados apresentados na Tabela 25 sugerem que a taxa de concepção foi mais elevada na classe SR e RR do que nas classes SS e RS. Como a maior concentração de coberturas ocorre no início do período chuvoso, supõe-se que animais que apresentam resistência à parasitas neste período (RR e SR) sofrem menor impacto negativo sobre a fertilidade. Tabela 25. Mortalidade das crias em relação com a classe de resistência da progenitora, em caprinos da raça Marota. Nº. Matrizes Classe Taxa de Nº. expostas crias Mortalidade Mortalidade Sobrevivência Eficiência Concepção Nº. de de crias na no total de crias na classe na classe (%) Mortes classe (%) crias (%) (%) (%) RR 21 16 76,19 4 25,00 6,56 75,00 57,14 RS 23 9 39,13 6 66,67 9,84 33,33 13,04 SR 8 7 87,50 3 42,86 4,92 57,14 50,00 SS 46 29 63,04 12 41,38 19,67 58,62 36,95 Total 98 61 62,24 25 ****** 40,98 59,02 40,98 Mortalidade crias na classe = (Nº. mortes na classe x 100)/ Nº. crias na classe; Mortalidade no total de crias = (Nº. mortes na classe x 100)/ Nº. total de crias; Taxa de sobrevivência = 100 – Mortalidade na classe; Taxa de Eficiência = (Taxa de concepção x taxa de sobrevivência)/100. O aspecto determinante sobre as diferenças na mortalidade das classes está no fato de que o Haemonchus contortus (responsável por mais de 70% da carga parasitária) é considerado o principal causador de mortalidade nos rebanhos caprinos (GIRÃO et al., 1992; AUMONT et al., 1997; GITHIGIA et al., 2001; MANDONNET et al., 2003). Dos resultados da Tabela 25, um dos itens mais importantes foi a taxa de eficiência, onde foram mais eficientes as classes resistente (RR) e susceptível-resistente (SR). Valores mais elevados para taxa de concepção e taxa de sobrevivência definiram as classes mais eficientes. Os resultados sugerem que essa eficiência está relacionada à resistência genética da mãe, o que reflete sobre a eficiência no momento da cobertura e gestação. Com base nos dados obtidos no presente trabalho pode-se obter através de simulação, o impacto econômico de cada nível de resistência genética sobre o panorama da produção de caprinos no Brasil (Tabela 26). Podem-se observar claramente as diferenças 121 do impacto negativo de cada classe sobre o total da produção. O simples fato de identificar e eliminar a classe de susceptíveis (SS) reduziria a mortalidade das crias em 50%, isso sem contar com a redução nos gastos com antihelmínticos e os efeitos sobre o ambiente. Tabela 26. Projeção das perdas por classe de resistência sobre o efetivo de caprinos no Brasil. Efetivo *Peso total **Valor Total Valor Total Impacto no Classe de Matrizes Total de N. de dos mortos das perda das perdas total de crias resistência no Brasil crias Mortes (kg) R$ U$ nascidas (%) RR 942.857 718.363 179.591 3.591.814 9.697.898,6 4.408.135,7 6,7 RS 1.032.653 404.077 269.398 5.387.965 14.547.504,5 6.612.502,0 9,8 SR 359.184 314.286 134.703 2.694.057 7.273.954,3 3.306.342,9 4,9 2.065.306 1.301.969 538.755 10.775.095 29.092.757,2 13.223.980,6 19,7 4.400.000 2.738.695 1.122.447 22.448.931 60.612.114,6 27.550.961,2 41,0 SS Total Cálculos realizados com base na composição média de um rebanho no nordeste e com o efetivo de 8,7 milhões de cabeça (IBGE, 2003). * Valor obtido pela multiplicação do Peso vivo estimado para cada animal (20kg) pelo numero de animais mortos.. **Valor obtido multiplicando-se o Peso Total dos Mortos x Valor pago por kg PV (R$ 2,70) praticado no mercado. A projeção supra mencionada foi realizada tomando-se como base o efetivo do rebanho caprino do Brasil (IBGE, 2003) e uma composição de rebanho em que as matrizes representavam metade do total de animais. Os valores reprodutivos utilizados para a obtenção dos resultados foram os mesmo disponíveis na Tabela 25. 122 CONCLUSÕES Os resultados obtidos neste trabalho permitem concluir que os maiores impactos da ação dos parasitas sobre os caprinos da raça Marota não estão associados às características de desenvolvimento ponderal ou de morfometria, mas às características de sobrevivência e reprodução (mortalidade de matrizes, mortalidade das crias, taxa de concepção). O elevado impacto econômico da parasitose gastrintestinal sobre os caprinos indica ser importante o uso de reprodutores e matrizes que possuam resistência genética a parasitas gastrintestinais. 123 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIQUIF - Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica. Comércio exterior: Números da cadeia produtiva farmoquímica-farmacêutica relativos ao comércio exterior em 2004. Disponível em: <http://www.abiquif.org.br/data/Graficos.pdf > Acesso em: 23 de novembro de 2006. AMARANTE, A.F.T.; BRICARELLO, P.A.; ROCHA, R.A.; GENNARI, S.M. Resistance of Santa Ines, Suffolk and Ile de France lambs to naturally acquired gastrointestinal nematode infections. Veterinary Parasitology, v.120, p.91-106, 2004. ANSAR A. S; PENHALE W.J.; TALAL, N. Sex hormones, immune responses and autoimmune diseases. Am. J. Pathol., v. 121, p. 531-539, 1985. AROSEMENA, N. A. E.; BEVILAQUA, C. M. L.; MELO, A. C. F. L.; GIRÃO, M. D. Seasonal variations of gastrointestinal nematodes in sheep and goats from semi-arid areas in Brazil. Revue Médicine Véterinaire, v. 150, p. 873-876. 1999. ATHAYDE, A. C. R.; NUNES, R.; ARAÚJO, M. M.; SILVA, W. W. Surto epizoótico de haemoncose e strongiloidose caprina no semi-árido paraibano. 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Para isso, requer inicialmente o aumento do efetivo atual e posterior seleção para estabelecer linhagens que atenda a demanda dos criadores. Promover a raça de caprinos Marota como portadora de animais com resistência genética a parasitas gastrintestinais seria uma das formas de estabelecer uma forte demanda pela genética Marota e a saída da condição de raça em risco de extinção. Mesmo que uma raça nativa faça parte da cadeia produtiva e que esteja em condição numérica favorável, sempre haverá a necessidade de se manter rebanhos de conservação, onde o objetivo é manter a variabilidade genética para uso futuro. Finalmente, cabe-nos entender que o desenvolvimento animal ao longo do ano é resultado da interação genética e ambiente e que a melhor maneira de conduzir uma criação de caprinos de forma sustentável no semi-árido é entendendo os princípios que regem essa relação.