Fora da Caridade Não Há Salvação
Hamilton José
Caridade
Caridade é a mão terna e compassiva
Que ampara os bons e aos maus ama e perdoa,
Misericórdia, a qual para ser boa,
De bens paradisíacos se priva.
Mão radiosa, que traz a verde oliva
Da paz, que acaricia e que abençoa,
Voz da eterna verdade que ressoa
Por toda a parte, promissora e ativa.
A caridade é o símbolo da chave
Que abre as portas do céu claro e suave,
Das consciências libertas da impureza;
É a vibração do espírito divino,
Em seu labor fecundo e peregrino,
Manifestando as glórias da Beleza!...
Cruz e Souza,
Psicografia de Francisco Cândido Xavier in
Parnaso do Além Túmulo.
Fora da caridade não há salvação
O que é caridade
Para falarmos de caridade, faz-se mister compreendamos bem o seu sentido
etimológico, segundo o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa:
Caridade . [Do lat. caritate.] S. f. 1. Ét. No vocabulário cristão, o amor que move a
vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus;
ágape, amor-caridade. 2. Benevolência, complacência, compaixão. 3. Beneficência,
benefício; esmola. (...)
O significado atual da palavra "caridade" prescreve o altruísmo, a fraternidade, a
compaixão pelo sofrimento de nosso próximo.
Allan Kardec, por sua formação como "Bacharel em Letras", sempre esteve preocupado
com o sentido etimológico das palavras de que se serviria o corpo de doutrina que se
formava com o ensino dos espíritos. Neste ínterim, criou as palavras que conhecemos como
"Espírita" e "Espiritismo", assunto bem discutido em o livro "O que é o Espiritismo" e
também na obra "O Livro dos Espíritos" na Introdução. O sentido etimológico, contextual,
social e político das palavras sempre foi um problema nas interpretações de todos os textos
antigos e sobretudo, dos textos religiosos.
Pensando em como as gerações futuras poderiam compreender a palavra caridade, foi
que Kardec fez a seguinte pergunta, catalogada em "O Livro dos Espíritos":
886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
"Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das
ofensas."
E continua:
"O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça. pois amar o próximo é fazerlhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas
palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.
A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que
nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou
nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque da indulgência precisamos nós
mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se
costuma fazer. Apresente-se uma pessoa rica e todas as atenções e deferências lhe são
dispensadas. Se for pobre, toda gente como que entende que não precisa preocupar-se com
ela. No entanto, quanto mais lastimosa seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr
em lhe não aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem verdadeiramente bom
procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que
os separa".
Efetivamente o amor e a caridade estão de tal forma interligados, que é impossível falar
de um sem falar no outro, ou considerar um e ignorar o outro. A caridade verdadeira,
conforme nos ensina Jesus, é a realizada com o verdadeiro sentimento de piedade dos
padecimentos de nossos irmãos, de nosso próximo. É pensar nas necessidades de outrem,
antes de nossas próprias necessidades. É ser feliz pela felicidade proporcionada a outrem.
Aquele que pensa no bem estar de outrem e não pensa só em si mesmo, tem sempre
alguém que pensa no bem estar dele, gerando uma corrente de fraternidade infinita, que se
estende ao Criador.
Mas, se não amamos verdadeiramente, não há caridade, não há fraternidade, não há
altruísmo. Não há como esconder de Deus nossas verdadeiras intenções e sentimentos.
Fé e Obras. Amor e Caridade.
"Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos;
e então retribuirá a cada um segundo as suas obras". Mateus Cap 16 v v27.
O amor é o sentimento que nos move à caridade. A caridade é um instrumento do amor.
Compreendemos que o amor e a fé são relacionados, bem como a caridade e as obras. Fé e
obras, Amor e caridade, eis os caminhos para a salvação e para a felicidade.
Muitos companheiros nossos de outras crenças, asseveram que a fé tem primazia sobre
as obras, relegando-as ao segundo turno. Alegam estes que a salvação se dá pela fé e se
baseiam na epístola de Paulo aos Gálatas, cap. II, v v 16:
"... sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim, pela fé
em Cristo Jesus, temos também crido em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé
em Cristo, e não por obras da lei; pois por obras da lei nenhuma carne será justificada".
Nesta passagem Paulo é bem enfático em afirmar "obras da lei". Que lei era esta? A lei
judaica,
que
é
o
assunto
em
questão
neste
contexto.
O próprio Paulo esclarece melhor a questão, na 1ª Epístola aos Coríntios, cap. XIII, v v 1
a 7 e 13 (os grifos são nossos):
"Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos,
se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine;
-ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios,
e
tivesse
perfeita
ciência
de
todas
as
coisas;
ainda quando tivesse a fé possível, até o ponto de transportar montanhas,
se
não
tiver
caridade,
nada
sou.
- E, quando houver distribuído os meus bens para alimentar os pobres
e
houvesse
entregado
meu
corpo
para
ser
queimado,
se
não
tivesse
caridade,
tudo
isso
de
nada
me
serviria.
A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa;
não
é
temerária,
nem
precipitada;
não
se
enche
de
orgulho;
não
é
desdenhosa;
não
cuida
de
seus
interesses;
não
se
agasta,
nem
se
azeda
com
coisa
alguma;
não
suspeita
mal;
não
se
rejubila
com
a
injustiça,
mas
se
rejubila
com
a
verdade;
tudo
suporta,
tudo
crê,
tudo
espera,
tudo
sofre.
Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade
mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade". (1) Ver Nota
permanecem;
É de inestimável beleza esta passagem que resume tão bem as principais características
do sentimento de caridade e de seu valor espiritual, que vem corroborar os ensinamentos
espíritas que observamos no capítulo XV - "Fora da Caridade Não Há Salvação", no livro "O
Evangelho
Segundo
o
Espiritismo".
Com o intuito de esclarecermos ainda mais o assunto e darmos mais um testemunho,
transcrevemos o parecer de Tiago no cap. II vv 14 a 17 e 26 que diz:
"Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras?
Porventura
essa
fé
pode
salvá-lo?
Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano
e
algum
de
vós
lhes
disser:
Ide
em
paz,
aquentai-vos
e
fartai-vos;
e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?
Assim
também
a
fé,
se
não
tiver
obras,
é
morta
em
si
mesma.
Porque,
assim
como
o
corpo
sem
o
espírito
está
morto,
assim também a fé sem obras é morta."
A fé e a caridade
13. Disse-vos, não há muito, meus caros filhos, que a caridade, sem a fé, não basta para
manter entre os homens uma ordem social capaz de os tornar felizes. Pudera ter dito que a
caridade é impossível sem a fé. Na verdade, impulsos generosos se vos depararão, mesmo
entre os que nenhuma religião têm; porém, essa caridade austera, que só com abnegação se
pratica, com um constante sacrifício de todo interesse egoístico, somente a fé pode inspirála, porquanto só ela dá se possa carregar com coragem e perseverança a cruz da vida
terrena. (...) Espírito protetor. (Cracóvia, 1861.) (O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap.
XI, Amar o próximo como a si mesmo)
"Quem é o meu próximo?"
Muitos afirmam que o "próximo" é nosso irmão de crença religiosa; outros afirmam que
o próximo é o cristão, ou seja, aquele que crê em Jesus.
Os pensamentos acima querem dizer o seguinte: Somente devemos ajudar e considerar
como irmãos, aqueles que compartilham de nossa crença religiosa, ou somente devemos
ajudar e considerar como irmãos, os que crêem em Jesus.
Seja de uma forma ou de outra, compreendemos que estes pensamentos são a apologia
do egoísmo, das doutrinas separatistas, dos sentimentos de seita, da indiferença e do
elitismo...
Não é difícil esclarecer onde estão os erros dos pensamentos acima: Há um só Deus,
criador de tudo o que existe. Este mesmo Deus, os ingleses O chamam God, os muçulmanos
O chamam Ala, os indianos O chamam Brahma, outros O chamam Jeová e etc... São vários
nomes que se dirigem à mesma força soberana: Deus.
Todos nós, seres humanos fomos criados por Deus, ou seja, temos em Deus nosso Pai
comum. Logo, somos todos irmãos, não importando o credo, a cor, a raça ou qualquer outra
definição ou rótulo que venhamos adotar. Vejamos o que diz Jesus no registro de Lucas, cap.
X, v v 25 a 37 (os grifos são nossos):
"Então,
levantando-se,
disse-lhe
um
doutor
da
lei,
para
o
tentar:
Mestre,
que
preciso
fazer
para
possuir
a
vida
eterna?
- Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na lei? Que é o que lês nela?
- Ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma,
com todas as tuas forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo como a ti mesmo.
Disse-lhe
Jesus:
Respondeste
muito
bem;
faze
isso
e
viverás.
Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: Quem é o meu próximo?
Jesus,
tomando
a
palavra,
lhe
diz:
Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões,
que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto.
- Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou
adiante.
- Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante.
- Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o
visto,
foi
tocado
de
compaixão.
- Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou;
depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele.
- No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo:
Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando
regressar.
Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões?
- O doutor respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele.
- Então, vai, diz Jesus, e faze o mesmo.
Vejamos o que diz o cap XIII - "Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão
direita", Instruções dos Espíritos, Beneficência exclusiva, em "O Evangelho Segundo o
Espiritismo":
20. É acertada a beneficência, quando praticada exclusivamente entre pessoas
da mesma opinião, da mesma crença, ou do mesmo partido?
Não, porquanto precisamente o espírito de seita e de partido é que precisa ser abolido,
visto que são irmãos todos os homens. O verdadeiro cristão vê somente irmãos em seus
semelhantes e não procura saber, antes de socorrer o necessitado, qual a sua crença, ou a
sua opinião, seja sobre o que for. Obedeceria o cristão, porventura, ao preceito de JesusCristo, segundo o qual devemos amar os nossos inimigos, se repelisse o desgraçado, por
professar uma crença diferente da sua? Socorra-o, portanto, sem lhe pedir contas à
consciência, pois, se for um inimigo da religião, esse será o meio de conseguir que ele a
ame; repelindo-o, faria que a odiasse. - S. Luís. (Paris, l860.)
Aprendestes que foi dito: "Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos."
Eu, porém, vos digo: "Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam
e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai
que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus
e que chova sobre os justos e os injustos.
- Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa?
Não procedem assim também os publicanos?
Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros?
Não fazem outro tanto os pagãos?" (MATEUS, cap. V, v v 43 a 47.)
A salvação
Em todos os meios religiosos busca-se a salvação. Ouvimos aqui: "Fora da caridade não
há salvação!", e acolá: "busque a salvação!"... mas o que realmente quer dizer "ser salvo"?.
Em muitas religiões, "salvar-se" geralmente significa "livrar-se do inferno", o que
equivale para alguns, "ganhar os céus".
Tendo em vista a nossa compreensão espírita de que "céus" ou "infernos" são estados
mentais ou ainda, estados vibratórios onde nos situamos por sintonia, surge a pergunta:
como podemos, espíritas que somos, compreender a frase "Fora da Caridade não há
salvação"?.
Neste ponto pedimos ajuda ao nosso caro Chico Xavier para que nos esclareça a
respeito:
"...Creio que, tanto na palavra do apóstolo Paulo quanto na expressão de Allan Kardec, o
aforismo ‘Fora da caridade não há salvação’ ficará mais claramente colocado, em linguagem
de todos os tempos, nos termos: ‘Fora do amor não há salvação’. Nosso caro Emmanuel
muitas vezes nos diz que este conceito de ‘salvação’, na sentença mencionada, vale por
‘reparação’, ‘restauração’, ‘refazimento’... A propósito, habituamo-nos a dizer, com
referência a um navio que superou diversos riscos: ‘O barco foi salvo’... Ou de homem que
se livrou de um incêndio: ‘O companheiro foi salvo do fogo’... Salvos para que? Logicamente,
para continuarem trabalhando ou sendo úteis. Nesta interpretação justa e salutar,
reconhecemos que, fora da prática do amor uns pelos outros, não seremos salvos das
complicações e problemas criados por nós mesmos, a fim de prosseguirmos em paz,
servindo-nos reciprocamente na construção da felicidade que almejamos." In "O Evangelho
de Chico Xavier", item 23; Carlos A. Baccelli
Agora que já compreendemos o sentido da palavra "salvação" perguntamos: Como
podemos conquistar a salvação? Basta que pronunciemos determinadas fórmulas sagradas?
Basta que nos arrependamos de nossos pecados? Basta que doemos algumas centenas em
dinheiro? Basta que sejamos espíritas, ou evangélicos, ou católicos? Nada disto. Jesus
esclarece e não deixa dúvidas, na passagem registrada por Mateus, no Cap XXV, vv 31 a 46
(os grifos são nossos):
"Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos,
sentar-se-á no trono de sua glória; - reunidas diante dele todas as nações,
separará uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas,
- e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda.
Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai,
tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo;
- porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber;
careci de teto e me hospedastes; - estive nu e me vestistes;
achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver.
Então, responder-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome
e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber?
- Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos?
- E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te?
- O Rei lhes responderá: Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes
a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes.
Dirá em seguida aos que estiverem à sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos;
ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos;
- porquanto, tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber;
precisei de teto e não me agasalhastes; estive sem roupa e não me vestistes;
estive doente e no cárcere e não me visitastes.
Também eles replicarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e não te demos de
comer,
com sede e não te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e não te
assistimos?
- Ele então lhes responderá: Em verdade vos digo: todas a vezes que faltastes com a
assistência
a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo.
E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna."
Vejamos quais as condições que Jesus estabelece para ser um escolhido:
Por acaso Ele faz distinção de religião ou de credo, partido ou seita?
Inquire se rico ou pobre?
Ele questiona quem deu maior soma de dinheiro?
Não. Jesus fala de uma virtude que está ao alcance de todos: A caridade, a fraternidade,
o amor pelo semelhante.
Fora da igreja não há salvação. Fora da caridade não há salvação.
"Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus,
mas somente aqueles que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus."
Mateus, Cap 7, vv 21.
Todos nós, congregados na grande comunidade cristã ou não, não importando com que
rótulo nos apresentemos, cremos "possuir" a salvação.
A salvação estaria com todos: nós Espíritas, com os Judeus, os Protestantes, os
Católicos etc... mas o simples crer, como o compreendemos, não salvaria a nenhum de nós,
sejamos espíritas ou não.
Como podemos admitir nossa salvação com o simples proferir de nossa crença, com
todas as imperfeições que ainda persistem em nós?
Jesus assevera que "o reino de Deus não vem com aparência exterior, nem dirão: Ei-lo
aqui! ou: Eí-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós" (Lucas cap 17, vv 20 e 21). É a
sementinha a ser desenvolvida por nós, a ser cultivada com o nosso sacrifício diário, no
nosso aperfeiçoamento moral e intelectual. Se o reino de Deus viesse hoje, não nos
surpreenderia com nossos sentimentos de orgulho, de indiferença, de egoísmo, de inveja?
Não seria o "novo mundo" uma cópia do velho mundo, com todos os seus ransos e defeitos?
Lembremos sempre que o mundo é o espelho que reflete o interior de seus habitantes, nosso
interior!
A religião tem no mundo importante papel: a de nos fazer compreender nosso papel
frente aos nossos compromissos perante Deus, perante nós mesmos e perante a
comunidade que nos situamos, como prescreve o ensinamento de Jesus: Amar a Deus, sobre
todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo.
Todas as religiões são estradas que conduzem a Deus, cada qual com suas luzes e cada
qual transitando em determinado nível de compreensão sobre os mesmos temas.
Em todas as passagens de nosso Mestre Jesus, é evidenciada a necessidade da caridade,
da fraternidade, do perdão, do amor e da fé... a única garantia de nossa salvação.
Conclusão
"...Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu
espírito.
- Esse o maior e o primeiro mandamento. - E aqui está o segundo, que é semelhante ao
primeiro:
Amarás o teu próximo, como a ti mesmo.
- Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos".
MATEUS, cap. XXII, v v 34 a 40.
De muitas formas poderemos fazer a caridade:
Caridade por pensamentos: desejando sempre as bênçãos de Deus ao nosso próximo,
mas sobretudo aqueles que nos perseguem. Sempre pensar no bem, nas coisas positivas da
vida, olvidando os eventos infelizes.
Caridade por palavras: dirigindo palavras de consolo, de esperança e de afetuosidade.
Silenciando quando não puder ajudar ou quando intentar dirigir palavras que firam a
suscetibilidade de alguém.
Caridade por ações: ofertar uma esmola, quando não puder ajudar melhor e quando
realizada sem ferir os sentimentos de quem pede é válido. Chico Xavier contava que sempre
agradecia a Deus e a quem lhe dava um pedaço de pão porque lhe furtava a idéia do roubo.
O melhor é nos enquadrarmos em algum trabalho na sociedade em que nos situamos, onde
possamos ofertar um pouco de nós, de nosso tempo, de nossa dedicação em prol de nosso
semelhante e em prol de nós mesmos.
Caridade dentro de casa: porque há pessoas que são um poço de ternura fora de casa e
dentro de casa são verdadeiros tiranos ou tiranas. Antes de nos fazermos temidos, é melhor
que sejamos amados, queridos e respeitados, lembrando sempre que o lar é instituto
sagrado, primeiro posto de trabalho confiado por Deus a nós, onde devemos exercitar todos
os tipos de caridade: por pensamentos, palavras e ações.
Pergunta: Porque fazer a caridade, qual a sua real importância, em doando meu
tempo, meu suor e parte de minha vida?
Resposta: Poderíamos dizer muitas coisas, mas diremos simplesmente: porque daqui
nada se leva de material, mas levamos aquilo que distribuímos pelo caminho: flores ou
espinhos. O exercício da caridade nos burila, nos experimenta, nos dá nova perspectiva de
vida, nos dá nova noção de felicidade e de infelicidade. Vemos pessoas com problemas mais
tangíveis que os nossos vivendo mais felizes que nós. Aprendemos a enxergar melhor nossas
possibilidades e a reconhecer melhor a misericórdia de Deus. Furtamos nossos irmãos mais
necessitados da desesperança levando-lhes o conforto da fé em Deus e angariamos para nós
a proteção divina já que na roda da vida, não temos nada: tudo nós é cedido e emprestado
por Deus e da mesma forma que hoje somos beneficiados, amanhã poderemos estar em
situação diversa. "Ajudai para que Deus vos ajude" ou ainda "Ajuda, que o Céu te ajudará".
Para finalizar, vamos contar uma belíssima história oriental que, apesar de tratar
especificamente sobre o céu e o inferno, exprime um profundo pensamento a respeito da
caridade que deve nortear a vida de todos nós:
"Um dia um jovem aprendiz perguntou a seu mestre
qual a diferença entre o céu e o inferno, e o mestre respondeu:
- Amado aprendiz, o inferno é como um grupo de pessoas sentadas ao redor
de um monte de arroz delicioso, cada uma destas pessoas com talheres muito
longos
e por este motivo estas pessoas não conseguem colocar o arroz na própria boca,
e por seu egoísmo, todos morrem de fome.
- Já o céu, é um outro grupo de pessoas também sentadas ao redor
de um monte de arroz delicioso, também com talheres muito longos,
só que cada uma destas pessoas alimenta a outra e por este motivo
todos ficam satisfeitos e felizes."
Bibliografia
• O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec
• O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
• O Evangelho segundo Marcos, Mateus, João e Tiago na Bíblia; tradução de João Ferreira de
Almeida RC, King James (Inglês) e King James (Inglês/Grega)
• Alvorada Cristã: Capitulos 7, 9 e 18, Neio Lúcio / F.C.Xavier
• Caminho, verdade e vida: Capitulo 161, Emmanuel / F.C.Xavier
• Dicionário da Alma: item "Caridade", Espíritos diversos
• Jesus no Lar: Capitulos 20 e 29, Neio Lúcio / F.C.Xavier
• O Consolador: Pergunta 255 e 259, Emmanuel / F.C.Xavier
• Palavras de vida eterna: Capitulo 11, 37, 39, Emmanuel / F.C.Xavier
• Pontos e contos Capitulo 8, Irmão X / F.C.Xavier
• Religião dos Espiritos: Captilo 5, Emmanuel / F.C.Xavier
• Seara do Médiuns: Capitulo 35, Emmanuel / F.C.Xavier
• Sinal Verde: Capitulos 4 e 6, André Luis / F.C.Xavier
• O Evangelho de Chico Xavier, item 23, Carlos A. Baccelli
Nota: (1) Sobre esta passagem especificamente, temos que fazer uma observação no
mínimo curiosa: quase todas (se não todas) as palavras "caridade" nas Bíblias traduzidas
para o português, foram substituídas pela palavra "amor". Com que intuito esta alteração foi
feita? Não o sabemos. Preferimos crer que foram alteradas na compreensão de que não é
possível fazer caridade sem amor. Entretanto sem esta chave de conhecimento que a
Doutrina Espírita proporciona, este raciocínio torna-se prejudicado.
Para os companheiros que desejam pesquisar, consultamos as versões da bílbia em suas
versões João Ferreira de Almeida – Revista e Corrigida, consultamos a versão utilizada pelos
irmãos "Testemunhas de Jeová", a versão King James em Inglês, a versão King James
Ingês/Grega e a versão em Espanhol. Somente as versões em português foram alteradas, as
demais permanecem fieis à versão grega que é tida como a versão "base". Na tradução da
palavra "caridade", em grego encontramos a palavra "Agape, Agapen"; em inglês
encontramos a palavra "Charity" e em espanhol encontramos a palavra "Caridad" todas fiéis
ao original grego.
Aproveitando a incursão neste assunto, gostaríamos de esclarecer também que nas versões
em português da Bíblia, encontramos as palavras "espíritas", "médiuns" e "espiritismo" que
não existem em suas versões em inglês, espanhol e grego. Além do mais, todos nós
sabemos que estas palavras não existiam antes da era Allan Kardec (1857) pois foi ele o
criador destes termos conforme já mencionamos.
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