Sete Semanas para a Água
Água, Imagem do Deus da Vida
Elias Wolff *
Em nosso planeta, ainda existe água suficiente para uma vida digna de todo ser humano e
para a sobrevivência de todas as criaturas que dela necessitam. Mas, para isso, é preciso
garantir o acesso de todos à água potável. E o fazemos superando as dificuldades
causadas pelo descuido dos recursos naturais que poluem a água, a má gestão, os projetos
de privatização, entre outros.
Para mudar essa realidade, faz-se necessário um novo modelo de civilização, capaz de
superar as lógicas e estruturas de dominação que mercantilizam os recursos naturais
como a água e causam a depredação ambiental. O ser humano é capaz de encontrar
caminhos para uma vida sustentável e integrada com toda a criação. E para isso urge
abandonar o modo de viver capitalista, egoísta, depredador, adotando um modo de vida
simples, ético e justo, em harmonia com a natureza e zeloso dos seus recursos.
As Igrejas têm muito a colaborar para isso, ajudando na busca de sustentabilidade do
planeta. Em suas teologias, espiritualidades e projetos de missão, as igrejas podem muito
contribuir para a recuperação do sentido de uma vida vivida em relações de gratuidade
que combate a lógica capitalista; em relações de cuidado que supera a ambição
destruidora; em relações de justiça e solidariedade que contribui para que todos,
sobretudo os pobres, tenham o acesso à água necessária para viverem com saúde e
dignidade.
Proposta de um caminho
Muito ajuda para isso compreender a água como imagem de Deus e da salvação em
Deus. Deus atua através das águas, mostrando seu amor para o povo. No início, tudo era
água e da água Deus fez todas as coisas (Gn 1). E quando houve o desequilíbrio nas
relações entre os seres humanos, destes com a natureza e com Deus, Deus tudo recria
novamente a partir das águas (Noé).
Como dádiva de Deus para todos, a água torna-se imagem do Deus que dá a vida. Ela é
um instrumento pelo qual o plano de vida que Deus tem se realiza na terra. O próprio
Rede Ecumênica da Água
Red Ecuménica del Agua- Siete Semanas para el Agua 2015: www.oikoumene.org/7-semanas-para-el-agua
Nota: Las opiniones expresadas en esta reflexión bíblica no reflejan necesariamente las posiciones oficiales del
CMI y de la Red Ecuménica del Agua.
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Deus as vezes manifesta-se pela imagem da água fecunda dos céus: “serei para Israel
como o orvalho, ele florescerá como o lírio e lançará as suas raízes como o cedro do
Líbano” (Os 14,5). Deus é o pastor que conduz às fontes de águas vivas (Sl 23; Ez 34,
11-15) e se faz, Ele mesmo, a fonte de água (Jo 10,11). Sua sabedoria é como torrente
que transborda (Pr 18,4), e é dada como água a todos (Eclo 15,3). Os sedentos buscam a
Deus (Am 8,11) e todos poderão beber dos mananciais da salvação (Is 12,3-4). Isso é
claro em Jesus: “Se alguém tiver sede venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz
a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva” (Jo 7, 37-38). A fé cristã nasce das
águas do Batismo, no qual somos mergulhados nas águas da salvação em Cristo.
Infelizmente, desde os tempos bíblicos existe a tentação de se apropriar dessa fonte da
vida, a água, como mostra o conflito entre Isaac e o rei cananeu Abimelec pelo controle
dos poços (Gn 26, 15-33). A posse da terra incluía a posse da água (Jz 1,15), e as terras
férteis são concentradas nas mãos de senhores e reis. Essa dominação faz a “terra
maldita” (Gn 3,17). A bíblia mostra que o acúmulo é um engano e um pecado de
abandono do Deus verdadeiro: “Eles me abandonaram, a fonte de água viva, para cavar
para si cisternas, cisternas furadas que não podem reter água” (cf. Jr 2,13). E então as
águas, fontes de vida, podem ser também águas da destruição (Gn 6,-9). O povo de Israel
surge da resistência dos oprimidos contra os opressores no Egito e em Canaã (cf. Is 30,
14; Jr 14,3). O deserto ensinou que a água, como também o pão, é para todos, e somente
assim todos poderão viver “numa terra boa, terra com torrentes, fontes e lençóis d´água
subterrâneos que brotam nos vales e nos montes” (Dt 8,2). Vivendo na justiça, na paz e
fiéis ao seu Deus, todos serão conduzidos aos “mananciais de água” (Is 49,10).
Novas relações a partir da compreensão da água como imagem de Deus
Somos chamados, então, a termos novas relações entre os seres humanos, com a natureza
e com Deus, desenvolvendo:
- a hospitalidade, o cuidado e a generosidade para com o outro, a exemplo de Abraão que
oferece água aos seus hóspedes para que lavem os pés (Gn 18,1-5); do Bom Samaritando
que, com a água à beira da estrada, cuida e lava as feridas do que está machucado (Lc
10,30-17); da viúva de Sarepta que generosamente dá um copo de água a Elias (1Rs
17,10-11).
- a solidariedade, como Jacó que tira a pedra do poço para que Raquel possa dar de beber
ao seu rebanho (Gn 29-10). Todos os seres são interdependentes, necessitam uns dos
outros para sobreviverem. Somos seres de cooperação, e o princípio da solidariedade
impõe a ética da corresponsabilidade na manutenção da vida do planeta.
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Nota: Las opiniones expresadas en esta reflexión bíblica no reflejan necesariamente las posiciones oficiales del
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- a defesa do direito do outro, como Moisés que garante a água às filhas de Jetro (Ex
2,16-17). Todos estamos no mesmo tecido da vida planetária e vivemos de sua fonte
principal de vida, a água. Portanto, é da responsabilidade de todos garantir o acesso a
todos às condições de sobrevivência, sobretudo a água.
- a sabedoria de Eliseu, que torna a água potável para o uso do povo (2Rs 2, 19-21).
Precisamos conservar a água por um uso racional, resgatar a água desperdiçada e
regenerar a que foi poluída. A sabedoria humana desenvolve a ciências e as tecnologias
que podem colaborar para isso, apresentando soluções planetárias à crise da água que já é
planetária.
- a coragem de quem vai contra os dominadores para colocar-se ao lado dos que
defendem o povo sofrido, como Abdias que, contrariando o rei Acab, dá água para os
profetas (1Rs 18,4), ou de Judite que burla a vigilância dos soldados para pegar água para
o povo ( Jt 7, 13-14; 12, 7-9). É preciso adotar atitudes proféticas que lutam contra todas
as iniciativas de privatização da água.
Para pensar
1. Eu estou desenvolvendo essas atitudes nas minhas relações com os outros e com a
natureza, como expressão de justiça para com Deus e a sua criação¿
Para discutir
1. Quais leis do meu país precisam ser mudadas para promoverem novas relações éticas e
de justiça para com a natureza, sobretudo a água¿
2. Conheço as organizações que promovem a água como bem comum¿ Quais dos seus
projetos me chamam a atenção¿
Para agir
1. O que posso fazer, concretamente, para que a água seja acessível a todas as pessoas da
minha sociedade¿
2. Como posso colaborar com as organizações das Igrejas e da sociedade que promovem
a água como bem comum, lutando contra a sua privatização¿
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Nota: Las opiniones expresadas en esta reflexión bíblica no reflejan necesariamente las posiciones oficiales del
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* Elias Wolff é Doutor em Teologia, Mestre em Filosofia, Assessor da Comissão Episcopal
Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso, em Curitiba, Brasil.
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Nota: Las opiniones expresadas en esta reflexión bíblica no reflejan necesariamente las posiciones oficiales del
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