CORREIO DO POVO FOTOS AFP / CP Sábado, 18 de junho de 2005 EM HÚNGARO O escritor e músico Chico Buarque (foto à esquerda) lançou seu terceiro romance, “Budapeste”, em língua húngara, o que é interessante porque o personagem de seu livro é um ghost-writer que chega à cidade de Budapeste e tem seu primeiro contato com a língua húngara, que desconhece, mas que logo o cativa. BRAILE O Os 100 anos de Jean-Paul Sartre filósofo Jean-Paul Sartre (fotos acima) faria 100 anos no dia 21 de junho deste ano. Ele tem direito a uma cerimônia póstuma faustosa, o que é estranho para um homem que não queria deixar heranças nem herdeiros. Jornais e revistas lhe reservam espaço e livros de sua obra são reeditados. Será que isso significa que o pensamento de Sartre continua a reinar em 2005 como reinava antes de 1950? Na verdade, o inventor do existencialismo, autor de “O ser e o nada”, é admirado como um velho mestre fora de moda, como um personagem arcaico mais do que como um pensador de nosso tempo. Curiosa impressão com a leitura de artigos funerários: Sartre retroage com toda força por meio dos anos. Jornais franceses lhe dedicaram tributos de amor ou crítica. O jornal Le Figaro foi o mais amargo em recentes textos sobre o intelectual. Já não gostava dele quando vivia, preferindo o inimigo de Sartre, Raymon Aron. Para que as coisas ficassem claras, o Figaro intitulou o especial sobre Sartre, parodiando uma de suas obras: “Sartre, a náusea”. Nada além do normal, já que a obra de Sartre se caracterizava em parte pelo ódio que tinha da burguesia. O jornal Le Monde foi mais indulgente: fez um belo dossiê redigido em grande parte por discípulos de Sartre, como Michel Contat. E o Liberation foi o mais favorável, o que é normal, já que Sartre estava na origem do Liberation no período pós-1968. Então, o que resta de Sartre? Uma filosofia poderosa, mas datada e invadida pelo pensamento alemão. Textos literários incomparáveis, mas análises políticas falsas e velhas, como a Guerra Fria. Ao mesmo tempo, o personagem Sartre, esse homem pequeno e frágil, que guerreou durante quase meio século sobre todas as frentes e colocou fogo na vida intelectual, foi um magnífico sonhador. Sartre foi a febre e o perigo de sua época. LEI Foi assinada uma lei que permite que as empresas do mercado editorial que recolhem pelo lucro real usem créditos fiscais para pagar outros tributos e taxas. As empresas do mercado editorial beneficiadas em dezembro pela decisão do governo federal de acabar com todo tipo de imposto ou taxas sobre o livro no Brasil já tem outro motivo para comemorar. Uma nova lei assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva permite que as editoras, livrarias e distribuidoras de livros optantes pelo regime fiscal de lucro real realizem seus créditos de PIS/Cofins em outros tributos ou até mesmo recebê-los em dinheiro. As atividades do livro estimam que a medida, contida na lei 11.116, publicada no Diário Oficial da União no dia 19 de maio, pode significar uma injeção anual de R$ 40 milhões. A Editora Globo aposta, mais uma vez, na força das histórias em quadrinhos como instrumento de inclusão social. Entre as novidades, a Coleção “Conheça a turma”, que apresenta os personagens da Turma da Mônica em braile. A intenção é permitir que crianças cegas e com dificuldades sérias de visão também possam conhecer o maravilhoso universo criado por Maurício de Souza. Todo o trabalho foi realizado com a Fundação Dorina Nowil, uma referência na educação com qualidade para os deficientes visuais. UTILIZAÇÃO A dúvida nas empresas do mercado editorial sobre como utilizar os créditos fiscais que recebem nas compras feitas junto a fornecedores surgiu logo após a sansão da lei 11.033/2004, em 21 de dezembro de 2004, que desonerou o livro do PIS/Cofins, únicas taxas ainda incidentes sobre o produto no país. Desde então, editoras, livrarias e distribuidoras de livros deixaram de recolher impostos que variavam entre 3,65% e 9,25% de seu faturamento, dependendo do regime fiscal adotado (lucro presumido ou lucro real). A nova medida foi festejada pelas entidades do setor, que vinham discutindo uma solução, por intermédio do Ministério da Cultura, com o governo federal. Outras informações podem ser obtidas acessando-se o site www.vivaleitura.com.br. LIVRO DE HITLER GANHA NOVA EDIÇÃO NA LÍNGUA TURCA E VENDE BEM A nova reedição do livro de Hitler “Mein kampf” (“Minha luta”) se tornou um sucesso na Turquia, onde ganhou o título de “Kavgam”. Publicado pela primeira vez naquele país em 1939, a reedição é considerada um best-seller por causa de seu preço baixo e do nacionalismo, segundo especialistas. 200 ANOS Está sendo celebrada em 2005 a data dos 200 anos de nascimento do escritor Hans Christian Andersen, autor de fábulas infantis conhecidas em todo o mundo, entre elas “O patinho feio” e “A pequena sereia”. Em especial, as comemorações ocorreram na Dinamarca, cidade de Odense, onde ele nasceu e onde ganhou uma exposição (fotos ao lado). FÚRIA Um casal de escritores que escreve sobre comportamento se tornou responsável por sucessos editoriais nos EUA. Ela, Cathi Hanauer, reuniu 26 mulheres para criticar os homens no livro “Mulheres em fúria”. Ele, Daniel Jones, autor de “Homens em fúria”, reuniu 28 homens para dar o troco. O interessante é que os autores são casados há 13 anos, têm dois filhos pequenos, moram numa cidade do interior de Massachusetts e vivem muito bem. Eles têm colunas separadas em revistas e carreiras independentes, apesar da paixão pelo mesmo tema: a relação homem-mulher. O que muda é o ponto de vista de cada um. De acordo com o casal, é isso: as mulheres querem colaboração; os homens, autonomia e privacidade. E concordam que o diálogo franco sempre será difícil. 7 Um épico histórico sobre o Paraguai no século XIX, escrito por uma autora nascida em Paris, ganhou a última edição do National Book Award (Prêmio Nacional do Livro), um dos mais importantes prêmios literários dos Estados Unidos. ✿ “The news from Paraguay”, de Lily Tuck, ganhou o prêmio de ficção. A autora disse que morou na América do Sul, mas que nunca foi ao Paraguai. FILME A chamada fase mexicana do cineasta espanhol Luis Buñuel (1900-1983) totaliza 20 filmes entre 32 que rodou, alguns dos quais, como “Viridiana”, se tornaram clássicos. Desse período, compreendido entre os anos 40 e 60 do século passado, “Robison Crusoé” (1953) é uma das obras menos conhecidas. Ignorada por anos, a adaptação de Buñuel do romance clássico de Daniel Defoe, recentemente restaurada nos EUA, chegou ao mercado brasileiro pela Versátil Home Video. A aventura não pode ser incluída entre os filmes mais inventivos da fase mexicana – que tem obras como “Nazarin” –, mas está longe de ser uma produção convencional. O “Robinson Crusoé”, de Buñuel, recebeu, em 1955, indicação ao Oscar de Melhor Ator para Dan O’Herlihy, morto em fevereiro passado.