Artigo Florencia Ferrer – Diretora-presidente da FF/e-Stratégia Pública Fabiana D´Auria – Coordenadora de Gestão Pública da FF/e-Stratégia Pública Uma grande tarefa para os próximos anos: o inventário patrimonial público O Estado é um dos mais antigos proprietários imobiliário do mundo. No Brasil, a primeira referência oficial à escrituração dos bens públicos ocorreu por volta de 1809. Porém, operacionalmente, só foi implantada na cidade de São Carlos em 1906 para depois abranger o estado de São Paulo, estabelecendo um padrão brasileiro apenas com a criação da Contadoria Central da República em 1922. (Pigatto, 2010) Naquele momento, o objetivo inicial foi sistematizar as regras de controle. Hoje temos o desafio de somar gestão e uso eficiente dos ativos a esse controle. Pela enorme complexidade do tema, a gestão do patrimônio público ainda não apresenta grandes avanços, tanto operacionais quanto metodológicos. O Estado continua crescendo e ampliando suas necessidades de propiciar serviços públicos de qualidade, o que demanda mais e melhores espaços físicos e insumos para realizá-los. Esse crescimento muitas vezes é desorganizado, levando à existência de prédios abandonados e à invasão por terceiros, que se beneficiam do fornecimento de energia elétrica e água pagos pelo governo. Além disso, o Estado aluga imóveis enquanto tem ativos próprios à disposição, sem uso. Há outras irregularidades documentais, como a falta de Habite-se. Aqui, pode-se afirmar que a falta de gestão acarreta um multiplicador negativo, devido a externalidades negativas sociais, uma vez 64 que edifícios invadidos resultam na concentração de criminalidade e em desperdício de recursos públicos. Essa dificuldade existe no setor público de todo o mundo, justamente pela enorme quantidade de prédios históricos e pela ausência de uma sistematização de seu controle. Para impulsionar a resolução desta questão, o Tesouro Nacional liderou a formação do Grupo Técnico de Padronização de Procedimentos Contábeis – GTCON, que dispõe de metodologias e técnicas para auxiliar o administrador público a começar esse trabalho. Alguns estados, como Santa Catarina, Acre e Pernambuco, iniciaram esse processo de consolidação dos bens. Todavia, há entraves operacionais e metodológicos em evolução no contexto nacional. Quando olhamos a operacionalização da gestão patrimonial não vemos ainda a utilização de RFID – Sistema de Identificação de Radiofrequência. Ao contrário disso, o panorama nacional da operacionalização do controle e gestão patrimonial se realiza, em boa parte, por procedimentos manuais. Hoje, as discussões voltadas ao tombamento dos bens se dão por meio da utilização de plaquetas fixadas no patrimônio a que se destina. Na maioria dos estados ainda se utilizam plaquetas numeradas manualmente por meio de baixo relevo, utilizando ponteiras alfanuméricas e martelo. Com esse atraso, não é possível levantar o material permanente que já foi adquirido. Precisamos orientar a substituição de plaquetas preenchidas manualmente e de fácil adulteração por mecanismos com maiores desenvolvimentos tecnológicos. No processo de tombamento, em geral não há procedimentos predeterminados. Em muitos casos, o controle é realizado somente na saída do material para seu destino, quando de fato o tombamento deveria ser feito na entrada para ter um controle efetivo. O sistema arcaico com registro manual das plaquetas demora muito tempo e por isso deixa de ser realizado na recepção dos produtos. Alguns estados já utilizam plaquetas numeradas eletronicamente e algumas até com código de barras, o que possibilita futuros controles eletrônicos. Também é importante destacar que vários estados não utilizam um padrão estadual, ou seja, cada órgão utiliza procedimentos distintos, o que dificulta a gestão integrada dos ativos. No caso das frotas públicas o cenário é ainda mais devastador, uma vez que a ausência de controle leva à rápida perda de ativos de alto valor agregado. Um cenário inovador A prática atual na contabilidade pública brasileira é a de registrar os ativos do setor público no momento da aquisição, sem atualizar o histórico desses bens, 65 É necessário avaliar os bens periodicamente e atualizar seu status, com informações que reflitam as condições físicas e permitam mensurálos em tempo real. Com isso o inventário torna-se dinâmico. 66 o que torna a informação desatualizada. Dessa forma, os valores registrados não refletem a realidade e, nesse caso, pode-se dizer que os bens são avaliados de forma estática. Nossa sugestão é uma mudança metodológica, para analisar as modificações ocorridas no patrimônio, ou seja, avaliar periodicamente as condições dos bens, verificar se estão em boas condições de utilização ou totalmente desgastados (“servíveis” ou “não servíveis”). Sob essas condições, a análise é feita de forma dinâmica. Para isso, é necessário avaliar os bens periodicamente e atualizar seu status, com informações que reflitam as condições físicas e permitam mensurá-los em tempo real. Com isso o inventário torna-se dinâmico e essencial para a tomada de decisão. Avaliar os bens pela sua “vida útil econômica” tem base nos métodos IFRS (International Financial Reporting Standards), da contabilidade internacional. Conforme o Conselho Federal de Contabilidade, a mudança das normas de contabilidade do setor público para o padrão internacional terá a nomenclatura em inglês de IPSAS (International Public Sector Accounting Standards), Normas Internacionais de Contabilidade para o Setor Público, sendo que a adoção obrigatória das normas internacionais só começa em 2012 para a União e os estados e em 2013 para os municípios. Alguns entes federativos já estão em processo avançado de transição e podem antecipar parte do processo já em 2011, o que é permitido legalmente desde 2010. Na contabilidade do setor privado, a grande inovação foi a determinação do valor de vida útil econômica, uma vez que o método de avaliar o bem pela sua vida útil é substituído pelo critério de vida útil econômica (artigo 183º § 3º, Inciso II Lei 11.638/2007) e o valor residual esperado ao fim dessa vida. É o período de tempo definido ou estimado tecnicamente, durante o qual se espera obter fluxos de benefícios futuros de um ativo. A vida útil econômica deve ser definida com base em parâmetros e índices admitidos em normas ou laudo técnico específico (Resolução CFC nº 1.136/2008, itens 2 e 10). Isso significa que a busca do valor de vida útil econômica não está embasada no tempo de duração que o bem pode alcançar em suas atividades, mas sim no quanto economicamente retornará estimativamente em exercício das atividades ao que se propôs na data de sua aquisição, e no quanto ele poderá proporcionar futuramente. O setor público precisa se preparar para implantar um sistema patrimonial que possibilite avaliar as informações dos bens não apenas como um registro de bens, mas também possa gerenciar os bens inventariados. A questão principal é orientar os estados na criação de padrões estaduais de gestão e optar por novas ferramentas tecnológicas. Enfim uma revista para quem vê a gestão pública como a administração de uma empresa. Para sermos mais exatos, uma empresa com 185.712.713 clientes. A revista Dinâmica Pública foi criada para preencher uma lacuna no mercado editorial brasileiro. Uma publicação que veio contribuir para o debate de ideias e para divulgar políticas consistentes adotadas no setor, além de valorizar o serviço público e o desenvolvimento pessoal de seus colaboradores. A revista é voltada principalmente para gestores públicos e servidores em funções estratégicas em governos estaduais e federal, distribuída para a cúpula de mais de 250 órgãos e empresas estatais. Dinâmica Pública. Informação de poder. www.dinamicapublica.com.br