FORMAÇÃO DE EMPREENDEDORES: UMA ABORDAGEM USANDO O MODELO SOCIOCULTURAL DE VYGOTSKY NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS DE GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA OLIVEIRA, Janaina Mendes - UNIPAMPA [email protected] HENRIQUES, Cecília Machado - UFSM [email protected] PATIAS, Tiago Zardin – UNIPAMPA [email protected] Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo Segundo Oliveira (2003), a experiência em disciplinas sobre empreendedorismo fornece evidências de que é possível despertar o espírito empreendedor nos alunos. Para isso, os ambientes de formação de empreendedores devem considerar a interação e a reflexão como elementos principais para a aquisição e o aprimoramento de conhecimentos e habilidades essenciais para o exercício profissional, integrando teoria e prática. Vygotsky (REGO, 2000) propôs a necessidade de respeitar ritmos, valores, conhecimento e capacidades, sendo que para isso a ajuda mútua seria de extrema importância para promover avanços cognitivos. Assim, partindo do pressuposto de que é possível despertar o espírito empreendedor nos alunos e que a interação é elemento de fundamental importância para que isso aconteça, este trabalho teve como objetivo analisar como os alunos percebem o ensino de empreendedorismo na Universidade Federal do Pampa, após terem cursado uma disciplina sobre a temática, no curso de Administração. A pesquisa tem orientação metodológica qualiquantitativa e os dados foram coletados através de questionário semi estruturado (TRIVIÑOS, 1987). Buscou-se refletir sobre o aprendizado do empreendedorismo e a atuação docente como elemento de destaque na mediação entre os sujeitos para que a aprendizagem se efetive, por se acreditar que a interação social é um recurso fundamental na construção do conhecimento, pois são situações de comunicação que favorecem o desenvolvimento do espírito empreendedor. O empreendedorismo é considerado, muitas vezes, como vocação ou talento, enfim, algo intrínseco, porém, nesta pesquisa, verifica-se que a disciplina de empreendedorismo oferecida no curso de Administração possibilitou aos alunos um novo olhar sobre o processo de empreender, ressaltando, principalmente que as ferramentas da aprendizagem estão tanto no mundo, quanto na mente humana. 8113 Palavras-chave: Empreendedorismo. Formação de Empreendedores. Ensino de Empreendedorismo. Introdução Empreender é um fenômeno cultural que diz respeito aos valores da sociedade e não é uma questão exclusivamente de conhecimento, apesar de depender da capacidade de inovação e autoaprendizagem. Sua importância consiste em movimentar a economia com o objetivo de gerar mudanças, ampliar relações, provocando a destruição criadora (SCHUMPETER, 1982), ou seja, a dinâmica empresarial que implica o nascimento de novas empresas e o desaparecimento de outras. Para Ussman (1998), a criação de novas firmas está associada à existência de um estímulo ao empreendedorismo. A cultura local influencia o comportamento do empreendedor, logo, “se a criação de empresas é essencial para o desenvolvimento regional, e se para isso é importante a motivação para empreender, é fundamental que a universidade, uma instituição central dentro da sociedade, participe no incentivo ao empreendedorismo” (p. 8). Neste contexto é necessário formar empreendedores e a universidade tem um papel essencial, pois as Instituições de Ensino Superior (IES) podem criar um programa de formação empreendedora com disciplinas eletivas e/ou obrigatórias, cursos seqüenciais, seminários e oficinas (OLIVEIRA, 2006). Autores como Mortthy (2003), Etzkowitz (2001) e Gregolin (1998) comentam sobre a nova dinâmica do papel das IES num contexto de mudanças. A redução no nível de emprego e a necessidade de criação de novas oportunidades devem induzir as IES a estimular seus alunos de graduação e pós-graduação para, a partir de suas pesquisas, criarem negócios próprios. A universidade do futuro deverá adotar uma cultura empreendedora com intuito de unir conhecimento e tecnologia para gerar empreendimentos. Assim, "é importante que a universidade participe de atividades como formação e atualização de profissionais com um novo perfil empreendedor" (GREGOLIN, 1998, p. 197). E ainda, as IES podem estimular, por meio de seus professores, a educação empreendedora em todos os níveis, incluindo o ensino Fundamental e Médio, através de parcerias com as instituições que ofertam esses níveis de ensino (OLIVEIRA, 2005a). 8114 Ao refletir sobre um modelo de formação de empreendedores que se adéque as exigências do contexto atual, deve-se priorizar uma formação geral sólida que possibilite aos sujeitos deslizarem pelas diferentes áreas do conhecimento, aproveitando suas oportunidades e recriando possibilidades. Assim, este artigo se propõe a discutir a formação de empreendedores oferecida nas IES, tendo como espaço para coleta dos dados e discussão o curso de Administração da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA. Os dados foram coletados ao final do 1° semestre letivo de 2009 e o objetivo era avaliar a efetividade do processo formativo oferecido ao longo da disciplina de empreendedorismo, a qual foi ofertada ao quinto semestre do curso de Administração. O grupo total era de 35 alunos e a sondagem realizada no último dia de aula foi respondida pelos 21 alunos presentes. Enfim, pretende-se refletir sobre o aprendizado do empreendedorismo, privilegiando, para isso, a interação social como um recurso fundamental na construção do conhecimento, pois são situações de comunicação que favorecem o desenvolvimento do espírito empreendedor nos sujeitos, uma vez que são colocados “em situações de confronto, de troca, de interação, de decisão, que os forcem a explicar, a justificar, a argumentar, expor idéias, dar ou receber informações para tomar decisões, planear ou dividir o trabalho, obter recursos” (PERRENOUD, 1999, p. 99). O Modelo Sociocultural de Vygotsky e a Formação de Empreendedores Oliveira (1995), num estudo sobre a obra de Vygotsky, constata que ele trabalhou na área chamada "pedologia" (ciência que integra os aspectos biológicos, psicológicos e antropológicos da criança) e considerava uma síntese das diferentes disciplinas que estudam o desenvolvimento humano, operando com a mediação dos sistemas simbólicos na aprendizagem. Pôr isso os grupos culturais operam no sentido de moldar o modo psicológico do indivíduo. Assim, a cultura de um determinado grupo cria, em seus membros, significados através dos quais ele interpretará a realidade. Vygotsky trabalha explicita e constantemente com a idéia de reconstrução, de reelaboração, por parte do indivíduo, dos significados que lhe são transmitidos pelo grupo cultural. A consciência individual e os aspectos subjetivos que constituem cada pessoa são, para Vygotsky, elementos essenciais no desenvolvimento da psicologia humana, dos processos psicológicos superiores. A constante recriação da 8115 cultura por parte de cada um de seus membros é a base do processo histórico, sempre em transformação, das sociedades humanas (p. 63). Vygostsky tinha uma concepção interacionista que posicionava a força do organismo (biológico) com o meio (mundo) enquanto fatores que interferem e muito na aprendizagem. Assim, o Homem é um ser inacabado, o Mundo é passível de transformações e nada é estático, mas sim um processo contínuo de construção e reconstrução de saberes. Diante disso, em um modelo de educação organizado a partir das idéias de Vygostsky, os professores devem, nos diferentes níveis, ouvir mais seus alunos e criar formas de ensino que procurem valorizar o que já sabem, estabelecendo debates que ajudem a pensar e avançar nas suas próprias concepções. Vygotsky considerava que o processo de desenvolvimento humano passava por fases, a zona de desenvolvimento real (o que o indivíduo realiza sem a ajuda de ninguém), a zona de desenvolvimento potencial (o que ele poderá realizar sozinho ou com ajuda) e entre estas, a zona de desenvolvimento proximal, que é o caminho que o indivíduo percorre interagindo com outro(s) em momentos de troca, de conflito e/ou de mediação. Segundo Rego (2000), “zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas estão em estado embrionário” (p. 74). Considerando-se isso, percebe-se que o homem necessita de auxílio para se desenvolver. Assim, a zona de desenvolvimento proximal possibilita que se coloque fatores internos (eu) em conflito com os externos (social). Para tanto, a partir da abordagem sociocultural, um modelo de formação de empreendedores deverá estar vinculado ao conhecimento que os indivíduos possuem e os objetivos que se quer que atinjam. Assim, o mais importante é traçar um caminho entre esses dois pontos que promova conflitos de concepções, de idéias, de valores e de modelos mentais. Logo, um ambiente para formação de empreendedores deve considerar os momentos de formação como momentos de reflexão grupal, facilitando a troca de idéias e a superação de modelos mentais e refletindo sobre seus paradigmas. Assim, se "o homem transforma e é transformado nas relações que são produzidas constantemente [...] já que é na relação dialética com o mundo que o sujeito se constitui e se liberta” (REGO, 2000, p. 94), a formação de empreendedores requer problematização das mais diferentes situações, pois fará o indivíduo perceber por que é necessária uma mudança 8116 de postura, seja ela visando lucro ou a entrada no mercado de trabalho, uma vez que se sentirá motivado e esta promoverá o aprendizado dos sujeitos. Segundo Rego (2000), [ ..] para que exista apropriação de conhecimentos é preciso também que exista internalização, que implica na transformação dos processos externos (concretizado nas atividades entre as pessoas), em um processo intra psicológico (onde a atividade é reconstituída novamente). O longo caminho de desenvolvimento humano segue, portanto, a direção do social para o individual (p. 109). Portanto, se a forma com que cada um aprende é diferente, a visão de mundo é individual e a forma de desenvolver-se também, os momentos de aprendizagem devem usar estratégias e metodologias de ensino que possibilitem que cada um tenha percepção de suas dificuldades e sinta vontade de mudar. Considerando isso, as propostas de interação entre os sujeitos, segundo Vygotsky, devem respeitar ritmos, valores, conhecimento, capacidades e habilidades. Para isso, a ajuda mútua é de fundamental importância para promover avanços cognitivos (interação e troca com o outro). Segundo Penteado (1980), a aprendizagem é assegurada pelas situações de cooperação, trabalho coletivo e também quando os alunos compartilham entre si os conhecimentos adquiridos previamente. Segundo essa autora, “a aprendizagem pode ser definida como uma mudança relativamente permanente em uma tendência comportamental e/ou na vida mental do indivíduo, resultantes de uma prática reforçada” (p. 20). Logo, os espaços de formação de empreendedores devem se voltar para problemáticas da própria comunidade na qual os sujeitos estão inseridos. Ou seja, a concepção de formação em empreendedorismo inclui, de fato, os conhecimentos tácitos criados para os stakeholders do desenvolvimento local e do empreendedorismo. Estes conhecimentos ou as experiências e recursos constituem conteúdos de formação que fazem referência às habilidades e as atitudes que são integradas num contexto empresarial (BÉCHARD, 1996; DOLABELA, 1999). Além disso, esses ambientes, os quais, segundo Béchard (1996) e Vesper (1998), podem envolver conferências, leituras, apresentações de empresário-convidado, de protótipos, de diário de bordo, do patrocínio, dos estudos de caso, das simulações de administração, da animação através de vídeo, de práticas empresariais (estágios), dentre outros, constituem recursos essenciais para aplicação do conteúdo de formação, porque eles permitem a utilização de uma aproximação da geração de ensino da cultura empresarial, mais particularmente em um contexto de criação de empreendimentos. 8117 Assim, este modelo responde, não só às necessidades dos atores do empreendedorismo, mas se aplica também em qualquer região, independente de seu perfil sócioeconômico. Realmente, a flexibilidade deste modelo permite aos stakeholders do empreendedorismo poder desenvolver uma formação que integrará enfoques diferentes, mas que permitirá também beneficiar a criação de seus conhecimentos e experiências. O modelo é único em espécie porque parte dos caminhos tradicionais em termos pedagógicos e, responde sistematicamente a realidade socioeconômica do ambiente estudado. Assim, constitui uma ferramenta de desenvolvimento universal, mas bem focado. Os ambientes agem no perfil da relação pedagógica e nos atores desta trilogia, os professores e alunos. Assim, suas interrelações resultam na influência e nos benefícios dos ambientes de formação sobre os elementos que constituem a relação de ensino. Esta dinâmica pressupõe que o formador e o aluno são contaminados pela necessidade de compartilhar com o ambiente empresarial, para alcançar as suas respectivas metas. Esta lógica tem sentido em um contexto de formação em empreendedorismo, porque está baseada numa realidade sistemática, constituída no mundo acadêmico integrado ao mundo dos empreendimentos, no qual a produção e a transmissão do conhecimento explícito conjugaram à transmissão e a integração do conhecimento tácito como base de formação para o aluno. E como é a partir das interações que os indivíduos vão constituindo os significados de suas ações e experienciando diferentes sensações, pois o ser humano precisa se relacionar, partilhar idéias e pensamentos, isso influencia o desenvolvimento tanto pessoal, quanto social, uma vez que “o homem é um ser que necessita viver com outros. Por sua natureza vive com os semelhantes e sente prazer nisso” (WONSOVICZ, 2001, p. 31). Disso tudo, o grande desafio para a formação de empreendedores é conciliar a formação específica com práticas que desenvolvam nos profissionais a capacidade de moverse através dos diferentes caminhos teórico-práticos tanto de sua área de formação, quanto de áreas distintas. Cabe destacar também que a formação de empreendedores deve priorizar não só a aquisição de hábitos, habilidades e atitudes que estejam em consonância com as exigências do mercado, mas também a capacidade de reflexão e de pensar estrategicamente sobre o próprio caminho de aprendizagem, pois, segundo Claxton (2005, p. 18) “cada situação de aprendizagem é também uma oportunidade para fortalecer e elaborar o potencial de aprendizagem”. 8118 Por uma metodologia para formação de empreendedores na UNIPAMPA Partindo do entendimento sobre ensino formal, aliado às pesquisas sobre o empreendedorismo como cultura, pretendeu-se trabalhar a disciplina de empreendedorismo, como um laboratório onde se cria o ambiente empreendedor, utilizando o modelo representado na Ilustração 1. As aulas foram organizadas de forma a apresentar o contexto histórico do empreendedorismo e instigar os alunos a pensar sobre questões como: “Empreendedor nasce feito?”; “O empreendedor é educado desde pequeno para ser empreendedor?”; “As oportunidades ou necessidades econômicas é que fazem o empreendedor surgir?”; “As experiências de vida é que formam o empreendedor?”; “O empreendedor pode ser treinado?” e “Pode ser desenvolvido?”. Ilustração 1 - Relação do Ambiente como o empreendedorismo Fonte: Oliveira, 2006. Ao longo do semestre letivo, foram realizadas atividades como sensibilização inicial sobre o assunto abordado, preparação técnica, experimentação da prática de empreender e ação, a qual se configura pela vontade do aluno levar adiante o projeto criado na disciplina. Assim, na disciplina de empreendedorismo oferecida no curso de administração na UNIPAMPA foram utilizadas as seguintes práticas: • Aulas expositivas sobre contexto do empreendedorismo; • Aulas expositivas sobre Plano de Negócios (PN); • Preparação para a elaboração do PN, que é realizado em sala de aula ou no laboratório de informática. O PN é elaborado por partes, sendo cada parte em uma aula; • Palestras com empreendedores, os quais são convidados para contar suas histórias; • Esclarecimento sobre o que é uma incubadora de empresas, com visita a uma incubadora, a qual não foi possível nesse semestre; 8119 • Júri empreendedor, o qual consiste na apresentação dos Planos de Negócios elaborados pelos alunos a um júri formado por empresários, representantes de entidades como SEBRAE, Bancos, Associações, Consultores da área de negócios, Poder Público e Comunidade em geral; • Dinâmicas realizadas em sala aula (Testes sobre características, Fita de vídeo etc); • Leituras (livros e textos); • Esclarecimentos sobre fontes de financiamento/capital risco; • Exercício sobre busca de oportunidades. A coleta dos dados ora apresentada foi realizada após o encerramento das atividades. Os alunos foram convidados a participar de uma sondagem para que fosse possível captar qual o grau de contribuição das práticas adotadas ao longo do semestre na disciplina de Empreendedorismo, pois se buscava verificar se as situações vivenciadas em uma disciplina específica para formação de empreendedores possibilitariam criar um ambiente de reflexão sobre a temática e como os alunos percebiam esses momentos. A partir das respostas dos alunos é possível perceber, conforme a tabela 1, que dos 21 alunos que responderam, 20 consideraram que o júri empreendedor foi o que mais contribuiu; as aulas expositivas e apresentação de vídeo ficaram em segundo lugar, na opinião dos alunos. Interessante constatar que no júri, mesmo sendo um momento de estresse, devido a avaliação da comunidade, os alunos afirmam que foi possível experimentar momentos que se aproximaram da realidade empreendedora. Tabela 1 – Contribuição das técnicas utilizadas na disciplina para estimular o desenvolvimento do seu perfil empreendedor Contribuição das técnicas utilizadas na disciplina para estimular o Alunos desenvolvimento do seu perfil empreendedor Júri empreendedor 20 Aulas expositivas sobre contexto empreendedorismo 19 Fita de vídeo 19 Aulas expositivas sobre Plano Negócios 18 Dinâmicas realizadas em sala aula (testes Pfortes) 17 Exercício sobre busca de oportunidades 17 Elaboração do PN no laboratório de informática 17 Forma de elaboração do PN, a cada aula feito uma parte 16 Leituras (livros e textos) 15 Palestras realizadas 14 Esclarecimentos sobre fontes de financiamento/capital risco 13 Esclarecimento sobre incubadora de empresa 10 Visita a incubadora 5 8120 Quando questionados se a disciplina ajudou a pensar sobre o empreendedorismo, verifica-se, que 65% dos alunos afirmam “Sim, a disciplina me ajudou a pensar que posso ser um.”; 31% afirmaram “Não tinha idéia de ser empreendedor, mas a disciplina me ajudou a pensar que posso ser um.”; apenas 4% responderam que “Não tinha a idéia de ser empreendedor e a disciplina não me ajudou em nada”, e nenhum deles afirmou “Já tinha idéia de ser empreendedor, logo a disciplina não me ajudou em nada”. Perguntou-se aos alunos qual dos aspectos trabalhados na disciplina que mais ajudou ou ajudará a decidir ser um empreendedor ou melhorar o seu empreendedorismo. Conforme a tabela 2, a resposta mais indicada pelos alunos mostrou que foi o fato de saber quais as características do empreendedor; o segundo aspecto que mais o ajudará, segundo os dados obtidos, é o fato de saber que o empreendedor tem necessidade de auto-realização. As respostas menos apontadas pelos alunos mostram que os aspectos abordados na disciplina que menos os ajudarão são a conjuntura estrutural, como mercado de trabalho e auxílio governamental, bem como as incubadoras e parques. Esta última, talvez, por estes elementos ainda serem pouco presentes na universidade e na região. Tabela 2 – Qual dos conteúdos desenvolvidos na disciplina mais o ajudará na decisão de ser um empreendedor TÍTULO DA TABELA ALUNOS Saber quais as características do empreendedor 15 Saber que o empreendedor tem necessidade de auto-realização 8 A questão do mercado de trabalho ruim 3 Infraestrutura nacional estimulando o empreendedorismo 4 Incubadoras e parques 1 Quanto a elaboração do Plano de Negócios (PN), interessava saber quais as dificuldades que eles encontraram ao elaborá-lo e se tinham conseguido ‘experimentar’ as características empreendedoras, as quais já haviam sido estudadas na teoria. A grande maioria cita que exercitou, principalmente, habilidades como comprometimento, responsabilidade, busca de informações, persistência e auto-realização. Sobre as dificuldades encontradas, os alunos apontam: o trabalho em equipe, a falta de tempo, a dificuldade para obtenção de alguns dados sobre tributos, preços e questões legais de abertura de empresas. Alguns acharam que não colocaram em prática a questão do risco calculado, embora, outros afirmem que sim: 8121 Sim, todas as características com exceção de assumir riscos calculáveis, pois não colocamos em prática ainda nosso negócio” (A1); Senti o aumento da minha criatividade empreendedora; as dificuldades foram a falta de compromisso de alguns integrantes do grupo, assim como a busca de dados específicos para o trabalho (preços, taxas tributárias, etc.) (A2). Por outro lado, todos os alunos acreditam que a disciplina contribuiu para que eles entendessem que é possível o desenvolvimento do potencial empreendedor, pois 48% dos alunos que responderam a sondagem concordam plenamente e 52% concordam com essa possibilidade. Já quanto a avaliação de um Plano de Negócios, os alunos foram questionados sobre sua capacidade de realizá-lo sozinho. Dentre as respostas, 68% deles se acham capazes e 20% se acham totalmente capazes para essa atividade. Apenas 4% acham que não poderiam realizá-lo e 8% dos alunos não opinou. A colocação da maioria dos alunos sobre sentirem-se capazes em avaliar um Plano de Negócios reflete que, por mais que não seja possível ter certeza que a metodologia adotada é de todo adequada para essa atividade, os alunos, a partir de uma autoavaliação sobre seu desempenho, afirmam que realmente aprenderam. Ao serem questionados sobre os obstáculos existentes que influenciam a decisão de abrir um negócio, os alunos indicaram em ordem de importância: 1º) capital insuficiente; 2º) pouca ou nenhuma competência técnica; 3º) pouca ou nenhuma competência gerencial; 4º) o não aparecimento de uma boa oportunidade; 5º) a segurança de uma grande empresa versus o desafio que é enfrentar os riscos e as incertezas do mercado, e 6º) falta de autoconfiança. Dos alunos que responderam à pesquisa, 64% afirmam que a disciplina contribuiu para estimulá-los a abrir um negócio em longo prazo e 16% já pensa em fazê-lo no curto prazo. Outros 12% afirmam não estarem seguros ainda, mas mencionam essa possibilidade. Apenas 4% afirmam não terem se sentido estimulado a abrir o próprio negócio. Estas respostas refletem a satisfação dos alunos com seu aprendizado sobre a temática, uma vez que o domínio de alguns conceitos oferece maior segurança para atuação na área, assim, o fato de aperfeiçoarem a idéia de abrir o próprio negócio pode refletir, em certa medida, que se sentem preparados para tal atitude. Os alunos foram questionados ainda sobre o formato da disciplina. Segundo eles, esta deve ocorrer do 4o semestre em diante, em todos os cursos de graduação e deve ser uma disciplina obrigatória. Esta opinião reforça a importância da temática para as diferentes áreas do conhecimento, pois a criação da cultura empreendedora só será possível a partir do conhecimento sobre o que é o empreendedorismo, pois segundo Oliveira (2005), muitos alunos não conhecem o significado do termo, suas implicações, seu papel no desenvolvimento 8122 econômico, enfim, aspectos necessários para que o indivíduo tome consciência da existência do empreendedorismo e possa se motivar a ser um empreendedor. Considerações Finais Este estudo buscou fazer uma sondagem sobre como os alunos percebem o ensino do empreendedorismo e sobre a adoção de um modelo de ensino-aprendizagem que possa servir de orientação para a formação de empreendedores. Assim, buscou-se ampliar a discussão acerca da possibilidade de se oferecer metodologias para a formação de empreendedores, fugindo da possibilidade de que ser empreendedor é uma característica natural de alguns sujeitos. Os dados obtidos em sala de aula remetem à hipótese da possibilidade de se produzir um ambiente de reflexão, organizado a partir de situações reais vivenciadas nas experiências com disciplina específica para formação de empreendedores, o que pode resultar na conscientização dos estudantes para a necessidade de criarem seus próprios empreendimentos1. Sugere-se aqui a reflexão de um modelo a ser seguido para contextualizar estas experiências reais, tendo como alicerce as discussões de Vygotsky para criação de uma pedagogia do empreendedorismo a ser adotada nos cursos de formação, a qual tem como característica principal a interação entre os sujeitos. O empreendedorismo é considerado, muitas vezes, como vocação ou talento, enfim, algo intrínseco. Porém, nesta pesquisa verifica-se que a disciplina de empreendedorismo oferecida no curso de administração da UNIPAMPA possibilitou aos alunos um novo olhar sobre o processo de empreender, ressaltando, principalmente que as ferramentas da aprendizagem estão tanto no mundo – o que é tangível e o que resulta da interação com o meio e com os sujeitos, quanto na mente humana – o que resulta da interação com o meio e com os sujeitos, pois a habilidade para empreender pode ser estimulada. REFERÊNCIAS 1 Em outras instituições de ensino os estudantes têm a oportunidade de participar de uma Olimpíada de Empreendimentos e concorrer ao ingresso nas Incubadoras Tecnológicas vinculadas às Instituições (OLIVEIRA, 2005). 8123 BECHARD, J. P. Processus d’implantation des programmes d’enseignement en entrepreneurship: l’analyse du cas québécois. Chaire Maclean Hunter, n. 94-11-01, 55 pages, 1996. CLAXTON, G. O desafio de aprender ao longo da vida. Porto Alegre: Artmed, 2005. DOLABELA, F. Uma revolução no ensino universitário de empreendedorismo no Brasil: a metodologia da Oficina do Empreendedor. Minas Gerais: FUMSOFT, 1999. ETZKOWITZ, H. The Evolution of University-Industry Relations. In: Technology Access Report, New York, p.10-15, fev-mar, 2001. GREGOLIN, J. A. É possível aumentar a contribuição social da universidade via interação com as empresas? In: Interação Universidade Empresa. Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia IBICT, IEL, Brasília, 1998. MORTTHY, L. (org). Universidade em Questão. Brasília: UNB, 2003. OLIVEIRA, J. M. Modelo para a integração dos mecanismos de fomento ao empreendedorismo no âmbito das universidades: o caso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Tese) Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Florianópolis, 2006. __________. Reflexões Teóricas sobre o Ensino do Empreendedorismo: a Tentativa de Construção de um Modelo baseado na Integração das Áreas do Conhecimento. Revista de Administração, Contabilidade e Economia da UNOESC, 2005, vol 4, p. 7-20. __________. O Ensino do Empreendedorismo: um estudo nos Cursos de Administração e Ciência da Computação do Centro Universitário La Salle. In: Semana Científica Unilasalle – VIII SEFIC, Canoas, 2005a. __________; PEREIRA, Ed. P. C.; DORION, E. Uma Visão Pedagógica para o Ensino do Empreendedorismo dentro da Universidade. In: Congresso Internacional Lassalista de Educação, Canoas, 2003. OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1995. PENTEADO, W. M. A. Psicologia e ensino. São Paulo: Papelivros, 1980. PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens, entre duas lógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. REGO, T. C. Vygostky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 10 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. SHUMPETER, J. A. Teoria do Desenvolvimento Econômico. São Paulo: Vitor Civita, 1982. 8124 TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. USSMAN, A. M. University and Entrepreneurship Development. In: Anais da International Conference of Academy of Business & Administrative Science (ABAS), Budapeste, 1998. VESPER, K. University of Washington, Unfinished Business (Entrepreneurship) of the 20th Century, USASBE Address, January, San Diego, California, 16 pages, 1998. WONSOVICZ, S. Somos filhos da polis: investigando sobre política e estética. Florianópolis/SC: Sophos, 2001.